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Psicossomática e o comer simbólico estudo de caso psicologia Junguiana

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FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CURITIBA 
 
SOLANGE NEIVA CORBARI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO DE PSICOLOGIA OPÇÃO I 
Caso do Paciente C. 
Psicossomática e o comer simbólico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 CURITIBA 
2021 
SOLANGE NEIVA CORBARI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELATÓRIO FINAL ESTÁGIO DE OPÇÃO I 
 
 
 
 
Relatório de Estágio apresentado 
como requisito parcial para 
conclusão de disciplina Estágio 
Supervisionado Opção I do curso 
de Psicologia, da FAE Centro 
Universitário Orientador Prof. A 
Dra. Maria do Desterro de 
Figueiredo. 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2021 
FAE Centro Universitário Franciscano do Paraná 
Curso de Psicologia - Estágios Curriculares 
 
DECLARAÇÃO de RESPONSABILIDADE DE PRODUÇÃO e de CORREÇÃO de 
RELATÓRIO ADAPTADO PARA CENÁRIO REMOTO 1º SEMESTRE DE 2021 ESTÁGIOS 
DE OPÇÃO 
 
 
 
 
Estágio: De Opção I 
Local: Plataforma Google Meet 
Aluno(s): Solange Neiva Corbari 
Supervisor: Dr. Maria do Desterro de Figueiredo 
 
 
DECLARAÇÃO 
 
 
Declaro, com ciência dos alunos e para os fins acadêmicos, 
que este relatório de estágio supervisionado foi por nós produzido, 
corrigido pelo professor supervisor e encontra-se de acordo com as 
normas de trabalhos acadêmicos estabelecidas por esta instituição, 
assim como contempla as horas mínimas exigidas para a 
conclusão do mesmo (125h), respeitando o caráter sigiloso que rege 
o código de ética da profissão do psicólogo. 
 
 
 
 
 Solange Neiva Corbari 
 RA: 1001560568 
 
 
 
 
______________________________ 
 Dra. Maria do Desterro de Figueiredo 
 CRP 08/08204 
 Supervisor de Estágio 
 
 
 
 
 
Curitiba, 16 de julho de 2021
 
SUMÁRIO 
1.INTRODUÇÃO..........................................................................................................1 
2. OBJETIVOS……......................................................................................................2 
2.1 OBJETIVO GERAL….............................................................................................2 
2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO…….……………………………………………...…....2 
3. CAMPO DE ESTÁGIO...........................................................................................3 
4.ESTÁGIO SUPERVISIONADO…..........................................................................3 
5. DESENVOLVIMENTO E DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES............................4 
6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E ANÁLISE DO CASO C..............................5 
7. CONCLUSÃO...........................................................................................................6 
8.CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................6 
9. REFERENCIAS.......................................................................................................7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
CORBARI, Solange Neiva. ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA ÁREA DE 
OPÇÃO I: Clínica - Psicologia Analítica. Trabalho de graduação do curso de 
Psicologia - Centro Universitário Franciscano do Paraná – FAE. Curitiba, 2021. 
 
 
Relatório produzido como parte das atividades desenvolvidas na disciplina de 
Estágio clínico de Opção I, do curso de Psicologia da FAE Centro Universitário 
do qual faz parte da grade curricular do 9ª período, o estágio foi realizado de 
março a junho de 2021. Os atendimentos aos pacientes ocorreram de maneira 
remota, utilizando-se da plataforma Google Meet, vinculados a PSICOFAE - 
Serviço Escola. O trabalho tem como objetivo apresentar a prática realizada nos 
atendimentos clínicos relacionados ao estudo de caso da paciente aqui intitulado 
de C. Por meio da escuta terapêutica e do método dialético, a prática foi baseada 
na demanda dos aspectos psicossomáticos observados pela paciente 
vinculando com a perspectiva da Psicologia Complexa de Carl Gustav Jung. 
Palavras Chaves: Simbolismo do comer, esofagite, gastrite, Psicologia 
Analítica, estudo de caso, estágio obrigatório, aspectos psicossomáticos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
Carl Gustav Jung desenvolveu a abordagem Junguiana com base na 
experiência psiquiátrica, onde passou a maior parte de sua vida se dedicando à 
exploração e aplicação das ciências humanas, como sociologia, antropologia, 
mitologia e religião. As comparações são feitas em revelações acadêmicas sobre 
cultura, descobertas históricas e arqueologia e ciência, campos relacionados, 
incluindo filosofia oriental e ocidental, alquimia e astrologia, e literatura e arte. 
Seu interesse por filosofia e ocultismo tem levado muitas pessoas a pensar que 
ele é um místico, o que o capacita a compreender a auto expressão da mente 
subconsciente em dispositivos e processos mentais. 
O processo clínico demanda do terapeuta uma postura ética diante do 
paciente, buscando ser um facilitador do processo terapêutico do sujeito, tendo 
como objetivo compreendê-lo na sua totalidade, onde o falar possibilita o 
encontro do sujeito com ele mesmo. Frente ao manejo clínico, o terapeuta é o 
iniciador do processo de psicoterapia, buscando sempre o estabelecimento de 
um vínculo entre o paciente e o terapeuta, onde valoriza a fala e a escuta do 
sujeito e promove o autoconhecimento favorável ao processo de individuação. O 
uso de técnicas provenientes do método de Jung proporciona o estudo de 
conteúdos inconscientes do sujeito, como a técnica de circumbulação que 
consiste em pontuar questões envolvidas no funcionamento psíquico do sujeito. 
Os atendimentos psicológicos online surgiram a partir das novas formas 
de comunicação da sociedade contemporânea devido a pandemia que tem 
assolado o mundo, causando impacto significativo na vida dos sujeitos através 
das perdas e isolamento social. 
Este relatório trata-se do estudo de caso da paciente intitulado “C.” e o 
processo psicossomático por ela vivenciado, o comer, engolir simbólico refletido 
através da gastrite e esofagite. 
 
 
 
2. OBJETIVO 
2.1 OBJETIVO GERAL 
 
O objetivo deste relatório baseado na teoria Analítica, visa prestar 
atendimentos psicológicos na modalidade remota, promovendo a escuta e a 
diminuição sofrimento psíquico, contribuindo com o aprendizado e a formação 
acadêmica, desenvolvendo habilidades associadas a escuta e ao exercício da 
prática dos atendimentos clínicos na Perspectiva da Clínica Junguiana. 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
● Proporcionar ao indivíduo um espaço de escuta e acolhimento; 
● Entender a importância da palavra e da escuta na prática do 
psicoterápica; 
● Aplicar o método Analítico de Jung na prática clínica; 
● Possibilitar um maior alcance de pessoas que necessitam de ajuda 
psicológica através dos atendimentos realizados na modalidade remota e 
gratuita. 
3. CAMPO DE ESTÁGIO 
Por conta da pandemia do COVID-19 e das recomendações da OMS 
(Organização Mundial da Saúde) acerca do isolamento social, foi necessário a 
ocorrência da adaptação nos atendimentos psicológicos da disciplina de Estágio 
Supervisionado em Área de Opção I, que até então eram realizados na FAE 
Centro Universitário, na PSICOFAE. As medidas de segurança estão previstas 
no Diário Oficial da União (2020, p. 62). 
 
§ 3o No que se refere às práticas profissionais de estágios ou às 
práticas queexijam laboratórios especializados, a aplicação da 
substituição de que trata o caput deve obedecer às Diretrizes Nacionais 
Curriculares aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação - CNE, 
ficando vedada a substituição daqueles cursos que não estejam 
disciplinados pelo CNE. 
 
Em decorrência da situação, as práticas dos estágios do último período 
dos acadêmicos da FAE Centro Universitário passaram a ser realizados de 
maneira remota, através da plataforma do Google MEET, com o propósito de 
prevenção e segurança dos alunos, professores e pacientes. 
 
 
4. ESTÁGIO SUPERVISIONADO 
O Estágio Supervisionado em Psicologia Clínica de Opção I, é previsto para 
o penúltimo semestre do quinto ano do curso de Psicologia e está vinculado ao 
Serviço-Escola PSICOFAE, situado na Rua 24 de maio 135, no Centro da Cidade 
de Curitiba. O Serviço-Escola PSICOFAE dá suporte para a formação acadêmica 
e profissional dos alunos do curso de Psicologia da Instituição, por meio de 
atendimentos à comunidade. 
É um espaço para o desenvolvimento de atividades específicas da prática 
profissional, vinculadas aos estágios curriculares, bem como aos projetos de 
extensão, ensino e pesquisa, supervisionados por professores capacitados em 
diferentes linhas de atuação. A PSICOFAE é referência e integra também as 
demais intervenções ligadas às disciplinas práticas previstas na matriz curricular 
do curso em áreas como Clínica, Social, Trabalho, Educacional, Saúde 
Hospitalar e Jurídica. Onde são realizados atendimentos individuais ou em 
grupos, realizado na modalidade remota neste momento, de forma gratuita de 
acordo com os horários e disponibilidades dos alunos e pacientes inscritos no 
programa de atendimento psicológico da PSICOFAE. 
A Clínica conta com uma infraestrutura ampla entre elas várias salas que 
promovem o atendimento dos pacientes, contribuindo com o aprendizado dos 
alunos, professores e supervisores. Neste estágio, o acadêmico realizará o total 
de 125 horas, sendo subdivididos 30 horas de supervisão e 40 horas de prática 
cabendo à parte concedente, o desenvolvimento do estágio, proporcionado 
meios que possibilitaram para o estudante realizar as atividades de observação 
e intervenção na área Psicologia Clínica no estágio de Opção I, restando ao 
estagiário, cumprir com empenho e interesse da programação estabelecida pelo 
Estágio. 
Para realização deste estágio, foi definido um grupo composto por quatro 
estagiárias que realizavam as supervisões semanais em grupo com a professora 
orientadora e os atendimentos eram realizados de forma individual, sempre 
utilizando como recurso tecnológico a plataforma (Google Meett), Os 
atendimentos aos pacientes ocorreram semanalmente, de forma on-line, com 
duração de 50 minutos cada sessão. Os recursos utilizados foram o método 
dialético; a escuta e a técnica de circumbulação; e equipamentos eletrônicos 
(notebook e celular).isso vai no item estágio supervisionado 
 
 
5. DESENVOLVIMENTO E DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES 
Para a prática deste estágio foi realizado o atendimento de três pacientes, 
contudo, para o cumprimento deste relatório considerou-se apenas as análises 
do caso intitulado “C”. usando como metodologia a psicologia Analitica como 
abordagem clínica no atendimento e estudo de caso. 
Paciente C. sexo feminino, 60 anos, casada, dois filhos adotivos (um 
falecido e outro rompeu a relação) reside em Campo Largo PR, mora com o 
esposo, as sessões não tinham um dia fixo devido a ser atendida em dias em 
que o esposo não estivesse trabalhando. 
Segue abaixo tabela dos atendimentos com data e resumo da sessão. 
 
TABELA DE ATENDIMENTO PACIENTE ”C”. 
26/03/2021 11:00h 
 
Via 
Whatsapp 
Apresentação do paciente, relata gastrite e 
esofagite crônica (23 anos) sente muitos golpes de 
dor, conta fatos marcantes de sua vida e relaciona 
a golpes da vida. 
30/03/2021 17:00h. 
 
Via 
Whatsapp 
Perguntado como está se sentindo fala de comida, 
do que comeu e se fez mal,relata dificuldades de 
relacionamento com o esposo que não entende a 
doença dela e se sente oprimida. 
07/04/2021 11:00h. 
 
Via 
Whatsapp 
Não passou bem a semana, teve bastante refluxo, 
vômito, dificuldade em se alimentar. Foi visitar 
familiares e durante a conversa o esposo disse que 
ela não tinha gastrite e estava de frescura, os 
familiares ficarem pressionando que C. comesse 
da mesa de café que haviam preparado. Reclama 
que ninguém lhe entende, se sentiu muito mal com 
a situação. Relata que o esposo a critica por tomar 
Rivotril. Diz que está cansada, o que a mantém 
viva é sua fé. Tem vontade de sair de casa e não 
voltar mais, vontade de sumir, de sair e andar sem 
rumo e não voltar mais pra casa, vontade de ficar 
num canto quietinha sem fazer nada até Deus a 
levar. Não pensa em se matar, só quer sair dessa 
situação. Feito encaminhamento para consulta 
Psiquiatra no CAPS de Campo Largo. 
15/04/2021 13:00h. 
 
Via 
Estava estressada e com a pressão baixa. Acha 
que precisa tomar vitaminas para repor sua 
alimentação deficitária. Fala para o esposo que vai 
 
Meet usar o dinheiro que ele lhe deu para pagar o INSS 
para ir ao médico. O esposo se exaltou e começou 
a gritar com ela, a vizinha escutou e a orientou a 
pedir ajuda para os irmãos. Ela pede ajuda e é 
acolhida por eles que já conseguem marcar um 
médico para ela. Nesta sessão falou poucas vezes 
do refluxo e da alimentação como nas sessões 
anteriores, confirmando mais uma vez a ligação 
com seu estado emocional e psíquico. 
19/04/2021 11:00h. 
 
Via 
Meet 
Reclama de muita fadiga, tristeza, cansaço físico e 
mental. Reclama do esposo que a critica por tomar 
remédio, não quer que ela vá na igreja sem ele, tem 
muito medo que ele descubra que vai no psiquiatra 
pois, ele não acredita em médico que só Deus vai 
curá-la. Se ela fala que não está se sentindo bem, 
se sente repreendida por ele. Perguntado qual o seu 
peso e altura, tem 1.51 cm de altura e pesa 40 
quilos. Nas sessões anteriores C. sempre voltava no 
assunto da alimentação, relatando todo cardápio 
feito durante a semana e se fez mal. Nessas últimas 
duas sessões, sempre volta no assunto de que 
precisa tomar remédio para depressão e vitaminas. 
23/04/2021 11:00h. 
 
Via 
Meet 
Estava mais sorridente, com uma aparência melhor. 
Comentou que diminuiu bastante o refluxo, que o 
esposo pesquisou sobre um suplemento alimentar 
sem lactose (Neslac), foi atrás e comprou para 
ela,estava feliz com a atitude dele, pois ultimamente 
ele só vinha criticando ela. comenta várias vezes 
que precisa cuidar dela, que só depende dela se 
esforçar, que ninguém vai fazer por ela, que quer se 
fortalecer e voltar a fazer as coisas, pois não 
aguenta mais essa vida parada. Começa a fazer 
planos de cuidar da casa, das plantinhas, de sair 
fazer caminhadas pelo parque com o esposo, algo 
que até então não tem conseguido fazer por se sentir 
muito fraca. 
05/05/2021 11:00h. 
 
Via 
Meet 
Entrou na sala de atendimento com vinte minutos de 
atraso. Comentou que nem iria para terapia naquele 
dia, só foi por educação. Estava com um semblante 
muito triste, depressivo. Comentou que não tem 
vontade de falar com ninguém, que não aguenta 
mais as pessoas lhe perguntarem se está melhor, 
pois ela não está melhor e não quer mais ficar 
reclamando. Comenta que uma semana que não 
consegue se alimentar, voltou o refluxo, quase tudo 
o que come está voltando, disse estar passando 
fome e não consegue comer, não consegue engolir 
 
pois sua garganta está bastante ferida, também 
sente muita dor no esôfago. Foi na psiquiatra e ela 
receitou Razapina ODT, está tomando e sente que 
está fazendo bem para sua mente. O dia que foi na 
psiquiatra era seu aniversário e suas irmãs a 
levaram e após a consulta foram em uma 
panificadora e as irmãs a forçaram a comer 
alimentos que ela diz que não pode e isso fez muito 
mal, chegou em casa e vomitou tudo e desde então 
não conseguiu mais se alimentar. No final da 
sessão,quando combinamos o próximo encontro, 
disse que se estivesse viva, se estivesse em 
condições, nos encontraríamos de novo. 
13/05/2021 12:30h. 
 
Via 
Meet 
Estava com aparência bem melhor que a última 
sessão. Comentou que no domingo passou mal 
após comer frango, teve bastante refluxo e vomitou, 
continuou tendo refluxo na segunda e terça feira, 
reclama de bastante dificuldade para engolir e que 
está parecendo um bebê que só come papinha e que 
o marido sugeriu que consulte um 
otorrinolaringologista. O esposo está com pressão 
alta, precisou ser internado, está tomando 
medicamentos e a pressão não regulariza, desde 
então, está mais compreensível com ela. Fala que o 
remédio que a psiquiatra passou está fazendo muito 
bem, que se sente melhor mentalmente. Comenta 
que as irmãs não lhe entendem, que acham que ela 
não se alimenta porque tem depressão e que não é 
curada porque falta fé, isso a deixa muito triste e se 
sente desrespeitada em sua fé. Deixa bem claro que 
não quer que as irmãs se envolvam em suas 
questões médicas, se precisar ir ao médico ela vai 
sozinha ou com o esposo. 
17/05/2021 11:30h 
 
Via 
Meet 
Comenta que o refluxo tem diminuído, se sente com 
mais força de vontade e que o remédio que a 
psiquiatra passou está lhe fazendo muito bem. 
Contou para o marido que foi ao psiquiatra, e 
mostrou o remédio que está tomando. O marido teve 
boa aceitação e pesquisou na internet os valores 
para comprar. Combinou com o esposo que ele vai 
levá-la na próxima consulta com a psiquiatra. Se 
sentiu muito aliviada em contar para o esposo, tirou 
um peso das costas, isso estava lhe sufocando. Não 
estava se sentindo bem em pedir ajuda para as 
irmãs, depender delas para levá-la ao médico ou 
comprar medicamentos estava lhe causando mal, 
agora se sente aliviada. Percebe-se que C.R tem 
muitos altos e baixos, como uma montanha russa, 
 
em uma sessão está mal, sem forças para continuar 
a viver, em outra sessão está melhor e consegue dar 
passos em frente decidindo questões de sua vida. 
 
 
6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E ANÁLISE DO CASO 
 
Baseando-se nos atendimentos realizados e discutidos em supervisão, foi 
possível observar que o quadro clínico com os sinais e sintomas da gastrite e 
esofaite da paciente C. apresentam na perspectiva junguiana uma faceta 
psicológica da identidade corpo-mente que pode ser melhor compreendida como 
aspectos psicossomáticos. Nesta relação também podemos observar sempre 
uma situação psicológica expressa pela força dos complexos. Isso fica claro já 
nas primeiras sessões onde ela fala da gastrite e os golpes de dor que sente e 
em seguida fala de acontecimentos em sua vida e relaciona cada um com golpes 
que a vida deu. Os golpes da vida representam alguns dos seus complexos. O 
não poder ter filhos, seria o primeiro golpe, adotar uma criança e depois descobrir 
que tinha microcefalia, segundo golpe, esse filho falecer com 19 anos, terceiro 
golpe, ter adotado uma filha que após a morte do irmão rompeu relação com ela 
e o esposo, o quarto golpe. Sobre os aspectos psicossomáticos Ramos traz que, 
 
O termo psicossomático para psicologia Analítica significa que vemos 
o ser humano de uma forma integrada, em que “um sintoma seria uma 
representação simbólica de uma desconexão ou perturbação, no eixo 
ego-Self, o qual pode ser corporal, doença orgânica, ou psíquico, 
doença mental”(Ramos, 1994, p. 47). 
 
De etimologia grega, a psicossomática (psyché = mente, alma; somatikós 
= corpo) é fator desencadeador e resultante entre interações emocionais e 
afecções físicas. A doença é causada pelo desequilíbrio entre o sujeito e o 
objeto, levando em consideração a história de vida pessoal, contexto social e 
cultural, morbidade e a dinâmica psíquica do indivíduo, incluindo manifestações 
inconscientes. Para Clark (2006), compreende-se a unidade psicossomática 
como totalidade, tendo em vista a nossa composição como seres emocionais, 
pensantes e físicos, isto é, manifestações representadas em uma única 
substância. 
 
Quando existe um desequilíbrio na psique tende a somatizar no corpo. 
Cerchiari (2000), entende que cada doença é psicossomática, uma vez que 
fatores emocionais influenciam todos os processos do corpo, através das vias 
nervosas humorais e que os fenômenos somáticos e psicológicos ocorrem no 
mesmo organismo e são apenas dois aspectos do mesmo processo 
(CERCHIARI, 2000, p. 65). 
Psicossomática é caracterizada, conforme Okumura (2020), por uma 
substância psicóide no sentido metafísico, pois estabelece dinamismo nas 
relações internas e interpessoais, não somente em nível intrapsíquico, mas em 
experiência simbólica com o mundo. Sendo que, ao longo da vida, ocorrem 
sucessivas desintegrações e reintegrações que promovem o desenvolvimento 
salutar do indivíduo, seja por influência de acontecimentos externos ou por 
gatilhos internos que desencadeiam e podem promover a manutenção do 
sintoma. Não existe uma única resposta sobre o adoecer, entretanto há o 
consenso de que essa adversidade pode estar acompanhada de uma 
fragmentação no fluxo energético entre o consciente e o inconsciente ou 
associada a uma malformação da estrutura egóica. 
“A psique é uma equação que não tem solução se faltar o fator do 
inconsciente, e que representa também uma totalidade (ou inteireza) 
que abrange tanto o eu empírico como o seu fundamento que 
transcende a consciência” (Jung, 2011a, p. 211, § 175). 
 
Sobre os aspectos simbólicos do caso, a paciente relata que muitas vezes 
não consegue comer alguns alimentos porque machuca sua garganta, tem 
refluxos e muitas vezes vomita em forma de jato. Ficou dois meses só se 
alimentando com mingau, porque não conseguia comer outra coisa. 
Conforme Moreno & Araujo (2015), “o estômago pode ser considerado 
como um símbolo do materno, tendo a função de receber, de acolher, de conter. 
Na gastrite e esofagite, há uma alteração dessas funções. Na esofagite, o 
alimento pode ser recusado e retornado (refluxo), e, na gastrite, o bolo alimentar 
que entra parece não encontrar “ambiente” adequado para seu processo de 
transformação e eliminação”. Dessa forma, é como se o que viesse de fora não 
fosse bem aceito e o alimento em vez de nutrir acaba machucando. “A auto-
agressividade que aparece no excesso de ácidos, “corroendo” a mucosa 
gástrica, pode estar relacionada com as dificuldades de pôr para fora aspectos 
 
agressivos, destrutivos” e/ou como no caso de C. engolir situações e 
acontecimentos da vida e ficar ruminando tudo aquilo, que em muitas vezes fica 
entalado na garganta. “Quando um conteúdo não for integrado no consciente do 
indivíduo, ele passa a fazer parte da sombra, podendo ser expresso 
simbolicamente por algum sintoma orgânico”. 
 
Um funcionamento inadequado da psique pode causar 
tremendos prejuízos ao corpo, da mesma forma que, 
inversamente, um sofrimento corporal consegue afetar a alma, 
pois alma e corpo não são separados, mas animados por uma 
mesma vida. Assim sendo, é rara a doença do corpo, ainda que 
não seja de origem psíquica, que não tenha implicações na alma 
(JUNG 2011. §194,). 
 
Quando se casou, C. sonhava em ter vários filhos e após alguns anos de 
casados descobriu que não podia ter filhos, fez tratamento, engravidou e logo 
abortou isso a deixou bastante abalada pois havia investido um valor alto no 
tratamento e não deu certo, foi aí que decidiu adotar uma criança. Nesse tempo 
começou a gastrite. Adotou um bebê que a mãe por questões financeiras não 
tinha condições de criar o filho, dois meses depois que adotou descobriu que 
ele tinha microcefalia, isso deixou o casal bastante abalado, mas decidiram 
seguir em frente, quando a criança tinha quatro anos C. engravidou, o casal ficou 
muito feliz e cheio de planos, após três meses de gravidez teve um aborto 
espontâneo. O marido ficou extremamente revoltado e a culpava pela perda do 
bebê, C. ficou com muito medo do esposo e ficouse recuperando da curetagem 
por uma semana na casa de uma cunhada. Quando a criança tinha seis anos, 
novamente C. engravidou e após três meses teve um aborto espontâneo 
revivendo novamente todo trauma de não poder ser mãe, em todos esses 
momentos traumáticos C. sempre engolia a dor, engolia a acusação do esposo 
e se culpava por não conseguir ter um filho. 
 
“Digerir a vida nem sempre é tranquilo, exige escolhas, dispêndio 
de energia e capacidade adaptativa nos mundos interno e 
externo. O mecanismo psíquico do ato alimentar disfuncional 
pode ser, metaforicamente, explorado ao propiciar espaço para 
aqueles que comem em momentos de angústia, ao dizerem 
 
sobre os seus porquês e os significados atrelados à busca do 
alimento. O comer emocional, manifesto pelo Complexo do 
Comer, revela um inconsciente querendo agir e, por meio dos 
diferentes metabolismos psíquicos, estar buscando por 
tentativas de resolução dos conflitos ainda não percebidos ou 
compreendidos de outra forma”. (FIGUEIREDO, 2020). 
 
Uma doença para Moreno & Araujo (2015), pode indicar que há um 
complexo autônomo que necessita ter seus conteúdos reconhecidos pelo ego. 
Nossa totalidade expressa tudo o que acontece em nossa vida, desta forma, “o 
símbolo “depressão” encontra-se expresso em nosso corpo, assim como em 
nossas emoções, nossos relacionamentos e em nossa relação com o meio físico 
em que vivemos. A simbologia matriarcal pode ser expressada pelo nosso corpo 
por meio de alterações da nutrição, como os transtornos alimentares, de 
disfunções de nosso sistema digestivo ou respiratório. O estômago tem a 
capacidade de acolhimento e é o local de depósito de tudo que foi engolido. A 
satisfação da fome estaria associada ao sentimento de ser amado, de bem estar, 
de segurança. Sentimentos como temor, ira, raiva também podem ser expressos 
por meio de gastrite, refluxo, cólicas abdominais e diarréia em qualquer fase da 
vida”. 
 Em relação à infância de C. tinha sete irmãos (seis mulheres e um 
homem), seu pai bebia muito e era extremamente agressivo em casa, a mãe não 
dialogava com os filhos, “estava sempre em seu mundo de cara fechada, batia 
muito nos filhos e nem sabíamos o porquê”(SIC). Relata que conheceu o afeto 
da mãe depois que casou, antes disso não sabia o que era receber carinho, 
receber um olhar da mãe. Os pais se separaram quando C. tinha 11 anos e teve 
que deixar de estudar para trabalhar como empregada na casa de uma prima 
para ajudar a sustentar a família. 
Para Neumann (1995), “uma criança que se vê privada de sua mãe e da 
relação primal, adoece. Esta doença não é primariamente física, mas psíquica, 
e reflete-se numa diminuição progressiva de seu interesse pela vida; não pode 
ser curada por alimentação material, mas unicamente pela restauração da 
relação primal que nutre sua totalidade”… “A relação primal com a mãe, o estado 
de imersão da criança no continente materno, constituem-se no fundamento não 
apenas da relação da criança com seu próprio corpo, mas também de sua 
 
relação com outras pessoas”… “Exatamente da mesma forma que o 
desenvolvimento geral do corpo da criança depende da alimentação fornecida 
pela mãe, assim também o desenvolvimento de sua psique depende da 
alimentação psíquica proporcionada pela figura materna”. 
 
Tal afirmação apenas expressa e ressalta as implicações de uma 
realidade simbólica, válida para todos os níveis da vida, a saber, 
que todas as coisas e seres individuais são nutridos pela Grande 
Mãe da Vida, sem cuja abundância fluente toda existência haveria 
de perecer. Uma vez que indigestão, digestão e excreção 
constituem as condições alquímicas fundamentais para todo 
crescimento e transformação da criança, então sugar e engolir, 
nesse estágio pré-genital, equivalem a conceber, enquanto que 
defecar passa a ser dar à luz. Por essa razão o simbolismo do 
uroboros alimentar amplia-se linguísticamente até atingir os mais 
altos níveis da vida espiritual. Os conceitos de assimilação, digestão 
e rejeição, de crescimento e de parto são, como inumeráveis outros 
símbolos ligados a essa zona, indispensáveis para a descrição do 
processo de criação e transformação. (NEUMANN, 1995. p 33). 
 
Woodman (1991), diz que “a vida não vivida dos pais pode se 
manifestar na filha mediante algum tipo de distúrbio de alimentação” (p. 130). 
Defende que uma mãe que nega a sua essência feminina, vinda do corpo, não 
terá condições plenas para transmitir à filha “o sentido de harmonia com o Self 
e com o universo, que é fundamental para o sentido ulterior de totalidade” ( p. 
109). 
Essa criança vive uma difusa sensação de culpa, a 
personificação do desapontamento de sua mãe não tanto com 
seu filho mas, sim, consigo mesma. Essa criança cresce 
tentando justificar o próprio fato de existir já que sua existência, 
como realidade psíquica, nunca obteve reconhecimento. A mãe 
que não se sente à vontade em seu próprio corpo não consegue 
interagir com alegria com o filho que leva no ventre, assim como 
não sente como triunfo esse parto. Não consegue alimentá-lo 
com as ternas carícias que deveriam acompanhar as longas 
horas de amamentação. (WOODMAN, 2002, p. 16). 
 
 
Nas sessões de psicoterapia com C. sempre quando perguntado como 
estava se sentindo falava da comida relatando todo seu cardápio, o que comeu 
e não fez bem. Dizia que por vezes só conseguia comer mingau ou papinha 
que às vezes sentia que estava como o seu filho (falecido) que só se alimentava 
de papinha. Geralmente quando C. ficava dias sem conseguir se nutrir, estava 
relacionado a algum acontecimento, em suas relações afetivas, que ela não 
gostou, se ofendeu ou não se sentiu amada/nutrida, isso impactava 
diretamente em sua alimentação, onde tinha refluxos constantes, vômito, não 
conseguia engolir porque a garganta estava ferida pelo ácido gástrico. 
Analisando a relação de C. com sua mãe, pode-se entender que o processo 
que ela vive hoje de não conseguir se alimentar, tem raízes na relação primal 
onde faltou o alimento/afeto básico para que essa criança pudesse se 
desenvolver. 
A disponibilidade ou indisponibilidade da mãe para relacionar-se com 
a unidade biopsíquica do filho é de importância crucial não apenas para 
essa unidade mas também para a formação inicial do ego da criança, 
pois a consciência independente da criança e as formas positivas e 
negativas de suas reações egóicas estão diretamente conectadas com 
sua experiência corporal. Ternura, saciedade e prazer conferem um 
sentimento de segurança e de ser amado que é a base indispensável 
de um comportamento social positivo e de um sentimento de 
segurança em estar no mundo, e também de uma precoce e 
absolutamente indispensável confirmação da condição de vida 
independente da criança…A perda da mãe representa muitíssimo mais 
do que apenas a perda de uma fonte de alimentos. Para um recém-
nascido, até quando continua sendo bem alimentado, equivale à perda 
da vida. (NEUMANN, 1995, p.34). 
 
Observa-se a necessidade de C.R. de realizar uma digestão psíquica, 
digerir as situações da vida que normalmente tem engolido e se engasgado 
gerando sofrimento físico e psíquico, precisa digerir a experiência psíquica para 
que se transforme em alimento para a alma. “As pessoas com anorexia nervosa 
vão ter dificuldades em experimentar seu corpo e o alimento em seu aspecto 
concreto, o que é importantíssimo para a sobrevivência. Por não se alimentarem 
adequadamente não conseguem transformar o alimento em nutriente. 
Consomem quantidades ínfimas de comida, gerando uma quantidade 
 
insuficiente de nutriente”. (CADOTTI, BORGES E SAMPAIO.Junguiana vol.35 
no.2.2017). 
“O que se come, para Figueiredo (2019), e também o que se purga passam 
pela ordem do como, onde e para quê; ou seja, considera-se a influência de 
espaços, das relações, das impossibilidades psíquicas para uma digestão 
alimentar e dos motivos quevão além de questões puramente nutricionais”. 
Conforme Nasser (2020) o conceito de psique na psicologia Junguiana 
engloba todos os pensamentos, sentimentos e comportamentos conscientes ou 
inconscientes, a personalidade do indivíduo se apresenta através de sua psique. 
A consciência é orientada por quatro funções básicas: pensamento, sentimento, 
sensação e intuição e por atitude introvertida ou extrovertida. 
Jung entende o corpo-psique através dos processos considerados vitais, 
os processos fisiológicos e psíquicos fazem parte do mesmo aspecto da 
complexidade operacional. Os complexos constituem a psique humana e são 
fontes de emoções não sendo nem negativos nem positivos, desta forma, a 
estrutura psíquica é composta por forte carga afetiva fazendo ligações entre 
pensamentos, representações e lembranças. 
 
O complexo do eu deixa, por assim dizer, de constituir a totalidade da 
pessoa. Subsiste-lhe uma segunda essência que sobrevive a seu 
modo, impedindo e perturbando o desenvolvimento e o progresso do 
complexo do eu: Deste modo percebemos como a psique é 
influenciada por um complexo que adquiriu maior intensidade (Jung, 
2011c, p. 58, § 102). 
 
Silveira (1968), diz que para Jung os complexos podem ser agrupados em 
categorias distintas; complexo de mãe, complexo de pai, complexo de 
inferioridade, complexo de poder. Por trás das características pessoais, os 
complexos possuem conexões com os arquétipos criando uma ponte entre as 
vivências individuais e as grandes experiências da humanidade na relação entre 
inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. “Uma pessoa não tem um complexo: 
o complexo que a tem”. (JUNG, 2011b, §200). Ou seja, os complexos agem 
inconscientemente e o indivíduo que é levado por eles. 
Sobre a identidade corpo-psique, Nasser (2020), entende que importa 
demonstrar que os arquétipos são todos, a priori, placóides, expressando a 
 
conexão substancialmente desconhecida entre a soma e a psique. Jung, vai além 
e descreve psicóide como um adjetivo que “é aplicável a qualquer tipo de 
arquétipo, expressando a conexão essencialmente desconhecida, mas passível 
de experiência, entre a psique e a matéria".(JUNG apoud SHARP, 1997, p. 129). 
 
Como a psique e a matéria estão encerradas em um só e mesmo mundo, 
e, além disso, se acham permanentemente em contato entre si, e em 
última análise, se assentam em fatores irrepresentáveis, há, não só a 
possibilidade, mas até mesmo uma certa probabilidade de que a matéria 
e a psique sejam dois aspectos diferentes de uma só e mesma coisa. 
(JUNG, 2011b, § 418). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jung, constatou que existem cinco grupos de fatores instintivos que caracterizam 
a humanidade. O primeiro instinto é o de autoconservação, relacionado a 
alimentação ligado ao estado físico nomeado fome, sendo este um dos fatores 
mais primitivos que influenciam o comportamento humano podendo assumir 
diversos aspectos metafóricos quando combinados com questões de ordem 
psico-emocional. (JUNG, 2011b, §236 e 237). Desta forma, entende-se que o 
quadro clínico de C.R ligados a dificuldade de engolir e vomitar podem estar 
ligados a esse instinto. Sendo assim, a fome passa a não estar associada 
somente à alimentação necessária para autopreservação e sim pode estar 
relacionada à psiquificação do instinto da fome reafirmando assim, a identidade 
corpo-psique. 
A alma e o corpo humanos estão unidos em uma unidade indivisível, por 
isso não é possível separar a psicologia dos pressupostos básicos da biologia e 
fisiologia. “Os fatores psíquicos que determinam o comportamento humano são, 
sobretudo, os instintos enquanto forças motivadoras do processo psíquico...Se 
 
achamos que a psique é idêntica ao estado de ser vivo, também devemos admitir 
a existência de funções psíquicas em organismos unicelulares. Neste caso, os 
instintos seriam uma espécie de órgãos psíquicos e a atividade glandular 
produtora de hormônios teria uma causalidade psíquica...O instinto é variável, e, 
por isso, passível de diferentes aplicações. Qualquer que seja a natureza da 
psique, ela é dotada de extraordinária capacidade de variação e transformação”. 
(JUNG, 2011b §233, §235). 
 
O Mito Do Barba Azul 
Usaremos o mito do Barba Azul para explicar as relações de C. com ela 
mesma, com o esposo e com outras pessoas. O mito do Barba Azul foi escrito por 
Charles Perrault, onde conta a história baseada na vida pós guerra de Gilles. O 
Barba Azul era um nobre mas muito feio além de possuir uma barba azul, ele 
havia casado 3 vezes, mas o paradeiro das suas esposas era desconhecido. Após 
conhecer a filha caçula de seus vizinhos, Barba Azul convence ela para se tornar 
sua quarta esposa, após tanta insistência ela acaba aceitando. Em um 
determinado período, Barba Azul precisa viajar e deixa aos cuidados de suas 
esposa todas as chaves de seu grande castelo, mas a proíbe de entrar em um 
pequeno quarto, mas a curiosidade dela é tão grande que ela acaba entrando nele 
e vê todas as outras 3 esposas de Barba mortas penduradas por toda a parede 
do pequeno quarto. Apavorada, a esposa sai do quarto, mas Barba Azul percebe 
o que aconteceu por causa do sangue na chave do quarto. Sedento de raiva, ele 
começa a ameaçar sua esposa que acaba se trancando em um dos quartos do 
castelo, quando Barba Azul estava prestes a derrubar a porta com uma espada, 
os irmãos da esposa aparecem e o matam. Ela fica com todo o dinheiro dando 
metade a sua família. (PERRAULT, Fábulas e Contos). 
Segundo os relatos de C. o esposo não a entende, acha que ela não tem 
gastrite, não aceita que ela tome medicação e consulte médicos porque Deus é 
quem vai cura-la. Percebe-se que a paciente tem a necessidade de sempre ter 
um carrasco em sua vida para atormentá-la projetando essa imagem de uma 
pessoa para outra, primeiro foi o médico que não validou a sua doença, depois o 
marido que não a entende e atualmente são as irmãs que em um momento foram 
as salvadoras levando-a no psiquiatra escondido do marido e agora são as vilãs. 
“Uma atividade psíquica só pode ser substituída por outra equivalente...Razão 
 
pela qual nunca acontece que a libido se desligue do sintoma sem que o mesmo 
seja substituído." (JUNG, 2012. §39) 
 
Pode-se observar que Barba Azul é um predador de mulheres, um 
aspecto negativo do masculino, em psicologia analítica é denominado 
animus negativo. Considerando que a mulher sofre abusos físicos, 
emocionais e psicológicos por parte dos homens, através do tempo, se 
formou no inconsciente coletivo a figura de um masculino negativo, um 
demônio que a quer somente para si mesmo e a seu modo sob seu 
poder. Essa figura arquetípica apresenta-se em todas as mulheres no 
seu dia a dia, sobre a forma de um sussurro, tentando torná-la fraca, 
isolada, despotencializar, enfim uma presa de seu veneno. Todavia, é 
ainda pior quando esse animus aparece projetado em forma de 
namorado, marido, amante ou companheiro. Desse modo a mulher fica 
à mercê desse arquétipo que ganhou corpo físico e pode sofrer o 
cativeiro por anos a fio sem conseguir se livrar da imensa dor e 
subjugação que ele vai lhe impor. (MORAES, 2018). 
 
Nos atendimentos realizados até hoje, percebe-se que C.R se anulou e 
perdeu a noção do que é viver, não suporta viver onde ela vive, hipótese de que 
ela esteja se matando aos poucos, de não estar se nutrindo nem corpo nem alma, 
a alma é nutrida com vida, vida essa que ela não vive. Trazendo o mito do Barba 
Azul, C. está presa nesse castelo que é sua vida, suas experiências negativas de 
perdas desde a infância, nesta relação com o marido que a oprime e lhe sufoca. 
É como se para se manter enclausurada não pudesse olhar a janela de 
possibilidades, se olhar a janela vai ter esperança e conflitos, então é preferível 
ficar no castelo sem conflitos, sem sonhos porque isso a protege dela mesma. No 
momento em que ela abre a janela e ora, pedeajuda, vem vizinhos, vêm recursos 
(apoio das irmãs), mas isso não se sustenta por muito tempo, porque ela ainda 
não está preparada psiquicamente para sair do castelo deixando-a aborrecida 
sem forças como se apresentou na quinta sessão. Ela fala que precisa tomar 
remédios para depressão e vitaminas para se recuperar. Simbolicamente, C. vai 
precisar matar o Barba Azul para conseguir se libertar e por isso precisa tomar 
vitaminas para ter forças, precisa de recursos psíquicos que têm sido projetados 
nos outros e em Deus. “ A alma não pode ficar retida aí, mas tem que continuar 
sua evolução, transformando as causas em meios para atingir um fim, ou seja, 
 
em expressões simbólicas para um caminho a ser percorrido”. ( JUNG, 2012 §46). 
Necessita reconhecer a sua força interior, o seu Self, só então encontrará a força 
necessária para sair do castelo. 
 
7. CONCLUSÃO 
Conclui-se desta forma que o processo psicoterapêutico com a paciente 
C. é longo, cheio de altos e baixos sempre regulados pelo fato de receber 
afeto/alimento psíquico ou não. As sessões realizadas até aqui foram propostos 
um espaço de acolhimento onde a paciente podia “vomitar sua vida”, até mesmo 
porque observou-se uma grande necessidade de jogar para fora tudo o que 
estava aprisionado dentro dela, observando também que a paciente até então 
não estava medicada e muito fragilizada diante das questões de sua vida. Como 
num processo alquímico, o terapeuta aumenta e diminui o fogo conforme a 
psique do indivíduo se disponibiliza. 
 
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O estágio clínico na abordagem Analítica proporcionou grande 
aprendizado na jornada acadêmica promovendo através da prática clínica 
grande conhecimento e bagagem a ser levada para a prática profissional. Os 
atendimentos clínicos durante o estágio possibilitaram uma reflexão que permitiu 
maior amplitude de conhecimento sobre os aspectos que envolvem o 
funcionamento psíquico de cada indivíduo. 
É oportuno considerar que a orientadora deste estágio, prof. Maria do 
Desterro foi de extrema importância, sempre acolhendo, orientando, 
compartilhando seu rico conhecimento na prática clínica que agregou muito em 
nosso aprendizado. 
Com esse estágio conseguimos visualizar a importância do atendimento 
clínico e o quanto essa prática profissional auxilia na vida dos indivíduos que 
buscam ajuda. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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