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FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CURITIBA SOLANGE NEIVA CORBARI RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO DE PSICOLOGIA OPÇÃO I Caso do Paciente C. Psicossomática e o comer simbólico CURITIBA 2021 SOLANGE NEIVA CORBARI RELATÓRIO FINAL ESTÁGIO DE OPÇÃO I Relatório de Estágio apresentado como requisito parcial para conclusão de disciplina Estágio Supervisionado Opção I do curso de Psicologia, da FAE Centro Universitário Orientador Prof. A Dra. Maria do Desterro de Figueiredo. CURITIBA 2021 FAE Centro Universitário Franciscano do Paraná Curso de Psicologia - Estágios Curriculares DECLARAÇÃO de RESPONSABILIDADE DE PRODUÇÃO e de CORREÇÃO de RELATÓRIO ADAPTADO PARA CENÁRIO REMOTO 1º SEMESTRE DE 2021 ESTÁGIOS DE OPÇÃO Estágio: De Opção I Local: Plataforma Google Meet Aluno(s): Solange Neiva Corbari Supervisor: Dr. Maria do Desterro de Figueiredo DECLARAÇÃO Declaro, com ciência dos alunos e para os fins acadêmicos, que este relatório de estágio supervisionado foi por nós produzido, corrigido pelo professor supervisor e encontra-se de acordo com as normas de trabalhos acadêmicos estabelecidas por esta instituição, assim como contempla as horas mínimas exigidas para a conclusão do mesmo (125h), respeitando o caráter sigiloso que rege o código de ética da profissão do psicólogo. Solange Neiva Corbari RA: 1001560568 ______________________________ Dra. Maria do Desterro de Figueiredo CRP 08/08204 Supervisor de Estágio Curitiba, 16 de julho de 2021 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO..........................................................................................................1 2. OBJETIVOS……......................................................................................................2 2.1 OBJETIVO GERAL….............................................................................................2 2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO…….……………………………………………...…....2 3. CAMPO DE ESTÁGIO...........................................................................................3 4.ESTÁGIO SUPERVISIONADO…..........................................................................3 5. DESENVOLVIMENTO E DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES............................4 6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E ANÁLISE DO CASO C..............................5 7. CONCLUSÃO...........................................................................................................6 8.CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................6 9. REFERENCIAS.......................................................................................................7 RESUMO CORBARI, Solange Neiva. ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA ÁREA DE OPÇÃO I: Clínica - Psicologia Analítica. Trabalho de graduação do curso de Psicologia - Centro Universitário Franciscano do Paraná – FAE. Curitiba, 2021. Relatório produzido como parte das atividades desenvolvidas na disciplina de Estágio clínico de Opção I, do curso de Psicologia da FAE Centro Universitário do qual faz parte da grade curricular do 9ª período, o estágio foi realizado de março a junho de 2021. Os atendimentos aos pacientes ocorreram de maneira remota, utilizando-se da plataforma Google Meet, vinculados a PSICOFAE - Serviço Escola. O trabalho tem como objetivo apresentar a prática realizada nos atendimentos clínicos relacionados ao estudo de caso da paciente aqui intitulado de C. Por meio da escuta terapêutica e do método dialético, a prática foi baseada na demanda dos aspectos psicossomáticos observados pela paciente vinculando com a perspectiva da Psicologia Complexa de Carl Gustav Jung. Palavras Chaves: Simbolismo do comer, esofagite, gastrite, Psicologia Analítica, estudo de caso, estágio obrigatório, aspectos psicossomáticos. 1. INTRODUÇÃO Carl Gustav Jung desenvolveu a abordagem Junguiana com base na experiência psiquiátrica, onde passou a maior parte de sua vida se dedicando à exploração e aplicação das ciências humanas, como sociologia, antropologia, mitologia e religião. As comparações são feitas em revelações acadêmicas sobre cultura, descobertas históricas e arqueologia e ciência, campos relacionados, incluindo filosofia oriental e ocidental, alquimia e astrologia, e literatura e arte. Seu interesse por filosofia e ocultismo tem levado muitas pessoas a pensar que ele é um místico, o que o capacita a compreender a auto expressão da mente subconsciente em dispositivos e processos mentais. O processo clínico demanda do terapeuta uma postura ética diante do paciente, buscando ser um facilitador do processo terapêutico do sujeito, tendo como objetivo compreendê-lo na sua totalidade, onde o falar possibilita o encontro do sujeito com ele mesmo. Frente ao manejo clínico, o terapeuta é o iniciador do processo de psicoterapia, buscando sempre o estabelecimento de um vínculo entre o paciente e o terapeuta, onde valoriza a fala e a escuta do sujeito e promove o autoconhecimento favorável ao processo de individuação. O uso de técnicas provenientes do método de Jung proporciona o estudo de conteúdos inconscientes do sujeito, como a técnica de circumbulação que consiste em pontuar questões envolvidas no funcionamento psíquico do sujeito. Os atendimentos psicológicos online surgiram a partir das novas formas de comunicação da sociedade contemporânea devido a pandemia que tem assolado o mundo, causando impacto significativo na vida dos sujeitos através das perdas e isolamento social. Este relatório trata-se do estudo de caso da paciente intitulado “C.” e o processo psicossomático por ela vivenciado, o comer, engolir simbólico refletido através da gastrite e esofagite. 2. OBJETIVO 2.1 OBJETIVO GERAL O objetivo deste relatório baseado na teoria Analítica, visa prestar atendimentos psicológicos na modalidade remota, promovendo a escuta e a diminuição sofrimento psíquico, contribuindo com o aprendizado e a formação acadêmica, desenvolvendo habilidades associadas a escuta e ao exercício da prática dos atendimentos clínicos na Perspectiva da Clínica Junguiana. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ● Proporcionar ao indivíduo um espaço de escuta e acolhimento; ● Entender a importância da palavra e da escuta na prática do psicoterápica; ● Aplicar o método Analítico de Jung na prática clínica; ● Possibilitar um maior alcance de pessoas que necessitam de ajuda psicológica através dos atendimentos realizados na modalidade remota e gratuita. 3. CAMPO DE ESTÁGIO Por conta da pandemia do COVID-19 e das recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) acerca do isolamento social, foi necessário a ocorrência da adaptação nos atendimentos psicológicos da disciplina de Estágio Supervisionado em Área de Opção I, que até então eram realizados na FAE Centro Universitário, na PSICOFAE. As medidas de segurança estão previstas no Diário Oficial da União (2020, p. 62). § 3o No que se refere às práticas profissionais de estágios ou às práticas queexijam laboratórios especializados, a aplicação da substituição de que trata o caput deve obedecer às Diretrizes Nacionais Curriculares aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação - CNE, ficando vedada a substituição daqueles cursos que não estejam disciplinados pelo CNE. Em decorrência da situação, as práticas dos estágios do último período dos acadêmicos da FAE Centro Universitário passaram a ser realizados de maneira remota, através da plataforma do Google MEET, com o propósito de prevenção e segurança dos alunos, professores e pacientes. 4. ESTÁGIO SUPERVISIONADO O Estágio Supervisionado em Psicologia Clínica de Opção I, é previsto para o penúltimo semestre do quinto ano do curso de Psicologia e está vinculado ao Serviço-Escola PSICOFAE, situado na Rua 24 de maio 135, no Centro da Cidade de Curitiba. O Serviço-Escola PSICOFAE dá suporte para a formação acadêmica e profissional dos alunos do curso de Psicologia da Instituição, por meio de atendimentos à comunidade. É um espaço para o desenvolvimento de atividades específicas da prática profissional, vinculadas aos estágios curriculares, bem como aos projetos de extensão, ensino e pesquisa, supervisionados por professores capacitados em diferentes linhas de atuação. A PSICOFAE é referência e integra também as demais intervenções ligadas às disciplinas práticas previstas na matriz curricular do curso em áreas como Clínica, Social, Trabalho, Educacional, Saúde Hospitalar e Jurídica. Onde são realizados atendimentos individuais ou em grupos, realizado na modalidade remota neste momento, de forma gratuita de acordo com os horários e disponibilidades dos alunos e pacientes inscritos no programa de atendimento psicológico da PSICOFAE. A Clínica conta com uma infraestrutura ampla entre elas várias salas que promovem o atendimento dos pacientes, contribuindo com o aprendizado dos alunos, professores e supervisores. Neste estágio, o acadêmico realizará o total de 125 horas, sendo subdivididos 30 horas de supervisão e 40 horas de prática cabendo à parte concedente, o desenvolvimento do estágio, proporcionado meios que possibilitaram para o estudante realizar as atividades de observação e intervenção na área Psicologia Clínica no estágio de Opção I, restando ao estagiário, cumprir com empenho e interesse da programação estabelecida pelo Estágio. Para realização deste estágio, foi definido um grupo composto por quatro estagiárias que realizavam as supervisões semanais em grupo com a professora orientadora e os atendimentos eram realizados de forma individual, sempre utilizando como recurso tecnológico a plataforma (Google Meett), Os atendimentos aos pacientes ocorreram semanalmente, de forma on-line, com duração de 50 minutos cada sessão. Os recursos utilizados foram o método dialético; a escuta e a técnica de circumbulação; e equipamentos eletrônicos (notebook e celular).isso vai no item estágio supervisionado 5. DESENVOLVIMENTO E DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES Para a prática deste estágio foi realizado o atendimento de três pacientes, contudo, para o cumprimento deste relatório considerou-se apenas as análises do caso intitulado “C”. usando como metodologia a psicologia Analitica como abordagem clínica no atendimento e estudo de caso. Paciente C. sexo feminino, 60 anos, casada, dois filhos adotivos (um falecido e outro rompeu a relação) reside em Campo Largo PR, mora com o esposo, as sessões não tinham um dia fixo devido a ser atendida em dias em que o esposo não estivesse trabalhando. Segue abaixo tabela dos atendimentos com data e resumo da sessão. TABELA DE ATENDIMENTO PACIENTE ”C”. 26/03/2021 11:00h Via Whatsapp Apresentação do paciente, relata gastrite e esofagite crônica (23 anos) sente muitos golpes de dor, conta fatos marcantes de sua vida e relaciona a golpes da vida. 30/03/2021 17:00h. Via Whatsapp Perguntado como está se sentindo fala de comida, do que comeu e se fez mal,relata dificuldades de relacionamento com o esposo que não entende a doença dela e se sente oprimida. 07/04/2021 11:00h. Via Whatsapp Não passou bem a semana, teve bastante refluxo, vômito, dificuldade em se alimentar. Foi visitar familiares e durante a conversa o esposo disse que ela não tinha gastrite e estava de frescura, os familiares ficarem pressionando que C. comesse da mesa de café que haviam preparado. Reclama que ninguém lhe entende, se sentiu muito mal com a situação. Relata que o esposo a critica por tomar Rivotril. Diz que está cansada, o que a mantém viva é sua fé. Tem vontade de sair de casa e não voltar mais, vontade de sumir, de sair e andar sem rumo e não voltar mais pra casa, vontade de ficar num canto quietinha sem fazer nada até Deus a levar. Não pensa em se matar, só quer sair dessa situação. Feito encaminhamento para consulta Psiquiatra no CAPS de Campo Largo. 15/04/2021 13:00h. Via Estava estressada e com a pressão baixa. Acha que precisa tomar vitaminas para repor sua alimentação deficitária. Fala para o esposo que vai Meet usar o dinheiro que ele lhe deu para pagar o INSS para ir ao médico. O esposo se exaltou e começou a gritar com ela, a vizinha escutou e a orientou a pedir ajuda para os irmãos. Ela pede ajuda e é acolhida por eles que já conseguem marcar um médico para ela. Nesta sessão falou poucas vezes do refluxo e da alimentação como nas sessões anteriores, confirmando mais uma vez a ligação com seu estado emocional e psíquico. 19/04/2021 11:00h. Via Meet Reclama de muita fadiga, tristeza, cansaço físico e mental. Reclama do esposo que a critica por tomar remédio, não quer que ela vá na igreja sem ele, tem muito medo que ele descubra que vai no psiquiatra pois, ele não acredita em médico que só Deus vai curá-la. Se ela fala que não está se sentindo bem, se sente repreendida por ele. Perguntado qual o seu peso e altura, tem 1.51 cm de altura e pesa 40 quilos. Nas sessões anteriores C. sempre voltava no assunto da alimentação, relatando todo cardápio feito durante a semana e se fez mal. Nessas últimas duas sessões, sempre volta no assunto de que precisa tomar remédio para depressão e vitaminas. 23/04/2021 11:00h. Via Meet Estava mais sorridente, com uma aparência melhor. Comentou que diminuiu bastante o refluxo, que o esposo pesquisou sobre um suplemento alimentar sem lactose (Neslac), foi atrás e comprou para ela,estava feliz com a atitude dele, pois ultimamente ele só vinha criticando ela. comenta várias vezes que precisa cuidar dela, que só depende dela se esforçar, que ninguém vai fazer por ela, que quer se fortalecer e voltar a fazer as coisas, pois não aguenta mais essa vida parada. Começa a fazer planos de cuidar da casa, das plantinhas, de sair fazer caminhadas pelo parque com o esposo, algo que até então não tem conseguido fazer por se sentir muito fraca. 05/05/2021 11:00h. Via Meet Entrou na sala de atendimento com vinte minutos de atraso. Comentou que nem iria para terapia naquele dia, só foi por educação. Estava com um semblante muito triste, depressivo. Comentou que não tem vontade de falar com ninguém, que não aguenta mais as pessoas lhe perguntarem se está melhor, pois ela não está melhor e não quer mais ficar reclamando. Comenta que uma semana que não consegue se alimentar, voltou o refluxo, quase tudo o que come está voltando, disse estar passando fome e não consegue comer, não consegue engolir pois sua garganta está bastante ferida, também sente muita dor no esôfago. Foi na psiquiatra e ela receitou Razapina ODT, está tomando e sente que está fazendo bem para sua mente. O dia que foi na psiquiatra era seu aniversário e suas irmãs a levaram e após a consulta foram em uma panificadora e as irmãs a forçaram a comer alimentos que ela diz que não pode e isso fez muito mal, chegou em casa e vomitou tudo e desde então não conseguiu mais se alimentar. No final da sessão,quando combinamos o próximo encontro, disse que se estivesse viva, se estivesse em condições, nos encontraríamos de novo. 13/05/2021 12:30h. Via Meet Estava com aparência bem melhor que a última sessão. Comentou que no domingo passou mal após comer frango, teve bastante refluxo e vomitou, continuou tendo refluxo na segunda e terça feira, reclama de bastante dificuldade para engolir e que está parecendo um bebê que só come papinha e que o marido sugeriu que consulte um otorrinolaringologista. O esposo está com pressão alta, precisou ser internado, está tomando medicamentos e a pressão não regulariza, desde então, está mais compreensível com ela. Fala que o remédio que a psiquiatra passou está fazendo muito bem, que se sente melhor mentalmente. Comenta que as irmãs não lhe entendem, que acham que ela não se alimenta porque tem depressão e que não é curada porque falta fé, isso a deixa muito triste e se sente desrespeitada em sua fé. Deixa bem claro que não quer que as irmãs se envolvam em suas questões médicas, se precisar ir ao médico ela vai sozinha ou com o esposo. 17/05/2021 11:30h Via Meet Comenta que o refluxo tem diminuído, se sente com mais força de vontade e que o remédio que a psiquiatra passou está lhe fazendo muito bem. Contou para o marido que foi ao psiquiatra, e mostrou o remédio que está tomando. O marido teve boa aceitação e pesquisou na internet os valores para comprar. Combinou com o esposo que ele vai levá-la na próxima consulta com a psiquiatra. Se sentiu muito aliviada em contar para o esposo, tirou um peso das costas, isso estava lhe sufocando. Não estava se sentindo bem em pedir ajuda para as irmãs, depender delas para levá-la ao médico ou comprar medicamentos estava lhe causando mal, agora se sente aliviada. Percebe-se que C.R tem muitos altos e baixos, como uma montanha russa, em uma sessão está mal, sem forças para continuar a viver, em outra sessão está melhor e consegue dar passos em frente decidindo questões de sua vida. 6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E ANÁLISE DO CASO Baseando-se nos atendimentos realizados e discutidos em supervisão, foi possível observar que o quadro clínico com os sinais e sintomas da gastrite e esofaite da paciente C. apresentam na perspectiva junguiana uma faceta psicológica da identidade corpo-mente que pode ser melhor compreendida como aspectos psicossomáticos. Nesta relação também podemos observar sempre uma situação psicológica expressa pela força dos complexos. Isso fica claro já nas primeiras sessões onde ela fala da gastrite e os golpes de dor que sente e em seguida fala de acontecimentos em sua vida e relaciona cada um com golpes que a vida deu. Os golpes da vida representam alguns dos seus complexos. O não poder ter filhos, seria o primeiro golpe, adotar uma criança e depois descobrir que tinha microcefalia, segundo golpe, esse filho falecer com 19 anos, terceiro golpe, ter adotado uma filha que após a morte do irmão rompeu relação com ela e o esposo, o quarto golpe. Sobre os aspectos psicossomáticos Ramos traz que, O termo psicossomático para psicologia Analítica significa que vemos o ser humano de uma forma integrada, em que “um sintoma seria uma representação simbólica de uma desconexão ou perturbação, no eixo ego-Self, o qual pode ser corporal, doença orgânica, ou psíquico, doença mental”(Ramos, 1994, p. 47). De etimologia grega, a psicossomática (psyché = mente, alma; somatikós = corpo) é fator desencadeador e resultante entre interações emocionais e afecções físicas. A doença é causada pelo desequilíbrio entre o sujeito e o objeto, levando em consideração a história de vida pessoal, contexto social e cultural, morbidade e a dinâmica psíquica do indivíduo, incluindo manifestações inconscientes. Para Clark (2006), compreende-se a unidade psicossomática como totalidade, tendo em vista a nossa composição como seres emocionais, pensantes e físicos, isto é, manifestações representadas em uma única substância. Quando existe um desequilíbrio na psique tende a somatizar no corpo. Cerchiari (2000), entende que cada doença é psicossomática, uma vez que fatores emocionais influenciam todos os processos do corpo, através das vias nervosas humorais e que os fenômenos somáticos e psicológicos ocorrem no mesmo organismo e são apenas dois aspectos do mesmo processo (CERCHIARI, 2000, p. 65). Psicossomática é caracterizada, conforme Okumura (2020), por uma substância psicóide no sentido metafísico, pois estabelece dinamismo nas relações internas e interpessoais, não somente em nível intrapsíquico, mas em experiência simbólica com o mundo. Sendo que, ao longo da vida, ocorrem sucessivas desintegrações e reintegrações que promovem o desenvolvimento salutar do indivíduo, seja por influência de acontecimentos externos ou por gatilhos internos que desencadeiam e podem promover a manutenção do sintoma. Não existe uma única resposta sobre o adoecer, entretanto há o consenso de que essa adversidade pode estar acompanhada de uma fragmentação no fluxo energético entre o consciente e o inconsciente ou associada a uma malformação da estrutura egóica. “A psique é uma equação que não tem solução se faltar o fator do inconsciente, e que representa também uma totalidade (ou inteireza) que abrange tanto o eu empírico como o seu fundamento que transcende a consciência” (Jung, 2011a, p. 211, § 175). Sobre os aspectos simbólicos do caso, a paciente relata que muitas vezes não consegue comer alguns alimentos porque machuca sua garganta, tem refluxos e muitas vezes vomita em forma de jato. Ficou dois meses só se alimentando com mingau, porque não conseguia comer outra coisa. Conforme Moreno & Araujo (2015), “o estômago pode ser considerado como um símbolo do materno, tendo a função de receber, de acolher, de conter. Na gastrite e esofagite, há uma alteração dessas funções. Na esofagite, o alimento pode ser recusado e retornado (refluxo), e, na gastrite, o bolo alimentar que entra parece não encontrar “ambiente” adequado para seu processo de transformação e eliminação”. Dessa forma, é como se o que viesse de fora não fosse bem aceito e o alimento em vez de nutrir acaba machucando. “A auto- agressividade que aparece no excesso de ácidos, “corroendo” a mucosa gástrica, pode estar relacionada com as dificuldades de pôr para fora aspectos agressivos, destrutivos” e/ou como no caso de C. engolir situações e acontecimentos da vida e ficar ruminando tudo aquilo, que em muitas vezes fica entalado na garganta. “Quando um conteúdo não for integrado no consciente do indivíduo, ele passa a fazer parte da sombra, podendo ser expresso simbolicamente por algum sintoma orgânico”. Um funcionamento inadequado da psique pode causar tremendos prejuízos ao corpo, da mesma forma que, inversamente, um sofrimento corporal consegue afetar a alma, pois alma e corpo não são separados, mas animados por uma mesma vida. Assim sendo, é rara a doença do corpo, ainda que não seja de origem psíquica, que não tenha implicações na alma (JUNG 2011. §194,). Quando se casou, C. sonhava em ter vários filhos e após alguns anos de casados descobriu que não podia ter filhos, fez tratamento, engravidou e logo abortou isso a deixou bastante abalada pois havia investido um valor alto no tratamento e não deu certo, foi aí que decidiu adotar uma criança. Nesse tempo começou a gastrite. Adotou um bebê que a mãe por questões financeiras não tinha condições de criar o filho, dois meses depois que adotou descobriu que ele tinha microcefalia, isso deixou o casal bastante abalado, mas decidiram seguir em frente, quando a criança tinha quatro anos C. engravidou, o casal ficou muito feliz e cheio de planos, após três meses de gravidez teve um aborto espontâneo. O marido ficou extremamente revoltado e a culpava pela perda do bebê, C. ficou com muito medo do esposo e ficouse recuperando da curetagem por uma semana na casa de uma cunhada. Quando a criança tinha seis anos, novamente C. engravidou e após três meses teve um aborto espontâneo revivendo novamente todo trauma de não poder ser mãe, em todos esses momentos traumáticos C. sempre engolia a dor, engolia a acusação do esposo e se culpava por não conseguir ter um filho. “Digerir a vida nem sempre é tranquilo, exige escolhas, dispêndio de energia e capacidade adaptativa nos mundos interno e externo. O mecanismo psíquico do ato alimentar disfuncional pode ser, metaforicamente, explorado ao propiciar espaço para aqueles que comem em momentos de angústia, ao dizerem sobre os seus porquês e os significados atrelados à busca do alimento. O comer emocional, manifesto pelo Complexo do Comer, revela um inconsciente querendo agir e, por meio dos diferentes metabolismos psíquicos, estar buscando por tentativas de resolução dos conflitos ainda não percebidos ou compreendidos de outra forma”. (FIGUEIREDO, 2020). Uma doença para Moreno & Araujo (2015), pode indicar que há um complexo autônomo que necessita ter seus conteúdos reconhecidos pelo ego. Nossa totalidade expressa tudo o que acontece em nossa vida, desta forma, “o símbolo “depressão” encontra-se expresso em nosso corpo, assim como em nossas emoções, nossos relacionamentos e em nossa relação com o meio físico em que vivemos. A simbologia matriarcal pode ser expressada pelo nosso corpo por meio de alterações da nutrição, como os transtornos alimentares, de disfunções de nosso sistema digestivo ou respiratório. O estômago tem a capacidade de acolhimento e é o local de depósito de tudo que foi engolido. A satisfação da fome estaria associada ao sentimento de ser amado, de bem estar, de segurança. Sentimentos como temor, ira, raiva também podem ser expressos por meio de gastrite, refluxo, cólicas abdominais e diarréia em qualquer fase da vida”. Em relação à infância de C. tinha sete irmãos (seis mulheres e um homem), seu pai bebia muito e era extremamente agressivo em casa, a mãe não dialogava com os filhos, “estava sempre em seu mundo de cara fechada, batia muito nos filhos e nem sabíamos o porquê”(SIC). Relata que conheceu o afeto da mãe depois que casou, antes disso não sabia o que era receber carinho, receber um olhar da mãe. Os pais se separaram quando C. tinha 11 anos e teve que deixar de estudar para trabalhar como empregada na casa de uma prima para ajudar a sustentar a família. Para Neumann (1995), “uma criança que se vê privada de sua mãe e da relação primal, adoece. Esta doença não é primariamente física, mas psíquica, e reflete-se numa diminuição progressiva de seu interesse pela vida; não pode ser curada por alimentação material, mas unicamente pela restauração da relação primal que nutre sua totalidade”… “A relação primal com a mãe, o estado de imersão da criança no continente materno, constituem-se no fundamento não apenas da relação da criança com seu próprio corpo, mas também de sua relação com outras pessoas”… “Exatamente da mesma forma que o desenvolvimento geral do corpo da criança depende da alimentação fornecida pela mãe, assim também o desenvolvimento de sua psique depende da alimentação psíquica proporcionada pela figura materna”. Tal afirmação apenas expressa e ressalta as implicações de uma realidade simbólica, válida para todos os níveis da vida, a saber, que todas as coisas e seres individuais são nutridos pela Grande Mãe da Vida, sem cuja abundância fluente toda existência haveria de perecer. Uma vez que indigestão, digestão e excreção constituem as condições alquímicas fundamentais para todo crescimento e transformação da criança, então sugar e engolir, nesse estágio pré-genital, equivalem a conceber, enquanto que defecar passa a ser dar à luz. Por essa razão o simbolismo do uroboros alimentar amplia-se linguísticamente até atingir os mais altos níveis da vida espiritual. Os conceitos de assimilação, digestão e rejeição, de crescimento e de parto são, como inumeráveis outros símbolos ligados a essa zona, indispensáveis para a descrição do processo de criação e transformação. (NEUMANN, 1995. p 33). Woodman (1991), diz que “a vida não vivida dos pais pode se manifestar na filha mediante algum tipo de distúrbio de alimentação” (p. 130). Defende que uma mãe que nega a sua essência feminina, vinda do corpo, não terá condições plenas para transmitir à filha “o sentido de harmonia com o Self e com o universo, que é fundamental para o sentido ulterior de totalidade” ( p. 109). Essa criança vive uma difusa sensação de culpa, a personificação do desapontamento de sua mãe não tanto com seu filho mas, sim, consigo mesma. Essa criança cresce tentando justificar o próprio fato de existir já que sua existência, como realidade psíquica, nunca obteve reconhecimento. A mãe que não se sente à vontade em seu próprio corpo não consegue interagir com alegria com o filho que leva no ventre, assim como não sente como triunfo esse parto. Não consegue alimentá-lo com as ternas carícias que deveriam acompanhar as longas horas de amamentação. (WOODMAN, 2002, p. 16). Nas sessões de psicoterapia com C. sempre quando perguntado como estava se sentindo falava da comida relatando todo seu cardápio, o que comeu e não fez bem. Dizia que por vezes só conseguia comer mingau ou papinha que às vezes sentia que estava como o seu filho (falecido) que só se alimentava de papinha. Geralmente quando C. ficava dias sem conseguir se nutrir, estava relacionado a algum acontecimento, em suas relações afetivas, que ela não gostou, se ofendeu ou não se sentiu amada/nutrida, isso impactava diretamente em sua alimentação, onde tinha refluxos constantes, vômito, não conseguia engolir porque a garganta estava ferida pelo ácido gástrico. Analisando a relação de C. com sua mãe, pode-se entender que o processo que ela vive hoje de não conseguir se alimentar, tem raízes na relação primal onde faltou o alimento/afeto básico para que essa criança pudesse se desenvolver. A disponibilidade ou indisponibilidade da mãe para relacionar-se com a unidade biopsíquica do filho é de importância crucial não apenas para essa unidade mas também para a formação inicial do ego da criança, pois a consciência independente da criança e as formas positivas e negativas de suas reações egóicas estão diretamente conectadas com sua experiência corporal. Ternura, saciedade e prazer conferem um sentimento de segurança e de ser amado que é a base indispensável de um comportamento social positivo e de um sentimento de segurança em estar no mundo, e também de uma precoce e absolutamente indispensável confirmação da condição de vida independente da criança…A perda da mãe representa muitíssimo mais do que apenas a perda de uma fonte de alimentos. Para um recém- nascido, até quando continua sendo bem alimentado, equivale à perda da vida. (NEUMANN, 1995, p.34). Observa-se a necessidade de C.R. de realizar uma digestão psíquica, digerir as situações da vida que normalmente tem engolido e se engasgado gerando sofrimento físico e psíquico, precisa digerir a experiência psíquica para que se transforme em alimento para a alma. “As pessoas com anorexia nervosa vão ter dificuldades em experimentar seu corpo e o alimento em seu aspecto concreto, o que é importantíssimo para a sobrevivência. Por não se alimentarem adequadamente não conseguem transformar o alimento em nutriente. Consomem quantidades ínfimas de comida, gerando uma quantidade insuficiente de nutriente”. (CADOTTI, BORGES E SAMPAIO.Junguiana vol.35 no.2.2017). “O que se come, para Figueiredo (2019), e também o que se purga passam pela ordem do como, onde e para quê; ou seja, considera-se a influência de espaços, das relações, das impossibilidades psíquicas para uma digestão alimentar e dos motivos quevão além de questões puramente nutricionais”. Conforme Nasser (2020) o conceito de psique na psicologia Junguiana engloba todos os pensamentos, sentimentos e comportamentos conscientes ou inconscientes, a personalidade do indivíduo se apresenta através de sua psique. A consciência é orientada por quatro funções básicas: pensamento, sentimento, sensação e intuição e por atitude introvertida ou extrovertida. Jung entende o corpo-psique através dos processos considerados vitais, os processos fisiológicos e psíquicos fazem parte do mesmo aspecto da complexidade operacional. Os complexos constituem a psique humana e são fontes de emoções não sendo nem negativos nem positivos, desta forma, a estrutura psíquica é composta por forte carga afetiva fazendo ligações entre pensamentos, representações e lembranças. O complexo do eu deixa, por assim dizer, de constituir a totalidade da pessoa. Subsiste-lhe uma segunda essência que sobrevive a seu modo, impedindo e perturbando o desenvolvimento e o progresso do complexo do eu: Deste modo percebemos como a psique é influenciada por um complexo que adquiriu maior intensidade (Jung, 2011c, p. 58, § 102). Silveira (1968), diz que para Jung os complexos podem ser agrupados em categorias distintas; complexo de mãe, complexo de pai, complexo de inferioridade, complexo de poder. Por trás das características pessoais, os complexos possuem conexões com os arquétipos criando uma ponte entre as vivências individuais e as grandes experiências da humanidade na relação entre inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. “Uma pessoa não tem um complexo: o complexo que a tem”. (JUNG, 2011b, §200). Ou seja, os complexos agem inconscientemente e o indivíduo que é levado por eles. Sobre a identidade corpo-psique, Nasser (2020), entende que importa demonstrar que os arquétipos são todos, a priori, placóides, expressando a conexão substancialmente desconhecida entre a soma e a psique. Jung, vai além e descreve psicóide como um adjetivo que “é aplicável a qualquer tipo de arquétipo, expressando a conexão essencialmente desconhecida, mas passível de experiência, entre a psique e a matéria".(JUNG apoud SHARP, 1997, p. 129). Como a psique e a matéria estão encerradas em um só e mesmo mundo, e, além disso, se acham permanentemente em contato entre si, e em última análise, se assentam em fatores irrepresentáveis, há, não só a possibilidade, mas até mesmo uma certa probabilidade de que a matéria e a psique sejam dois aspectos diferentes de uma só e mesma coisa. (JUNG, 2011b, § 418). Jung, constatou que existem cinco grupos de fatores instintivos que caracterizam a humanidade. O primeiro instinto é o de autoconservação, relacionado a alimentação ligado ao estado físico nomeado fome, sendo este um dos fatores mais primitivos que influenciam o comportamento humano podendo assumir diversos aspectos metafóricos quando combinados com questões de ordem psico-emocional. (JUNG, 2011b, §236 e 237). Desta forma, entende-se que o quadro clínico de C.R ligados a dificuldade de engolir e vomitar podem estar ligados a esse instinto. Sendo assim, a fome passa a não estar associada somente à alimentação necessária para autopreservação e sim pode estar relacionada à psiquificação do instinto da fome reafirmando assim, a identidade corpo-psique. A alma e o corpo humanos estão unidos em uma unidade indivisível, por isso não é possível separar a psicologia dos pressupostos básicos da biologia e fisiologia. “Os fatores psíquicos que determinam o comportamento humano são, sobretudo, os instintos enquanto forças motivadoras do processo psíquico...Se achamos que a psique é idêntica ao estado de ser vivo, também devemos admitir a existência de funções psíquicas em organismos unicelulares. Neste caso, os instintos seriam uma espécie de órgãos psíquicos e a atividade glandular produtora de hormônios teria uma causalidade psíquica...O instinto é variável, e, por isso, passível de diferentes aplicações. Qualquer que seja a natureza da psique, ela é dotada de extraordinária capacidade de variação e transformação”. (JUNG, 2011b §233, §235). O Mito Do Barba Azul Usaremos o mito do Barba Azul para explicar as relações de C. com ela mesma, com o esposo e com outras pessoas. O mito do Barba Azul foi escrito por Charles Perrault, onde conta a história baseada na vida pós guerra de Gilles. O Barba Azul era um nobre mas muito feio além de possuir uma barba azul, ele havia casado 3 vezes, mas o paradeiro das suas esposas era desconhecido. Após conhecer a filha caçula de seus vizinhos, Barba Azul convence ela para se tornar sua quarta esposa, após tanta insistência ela acaba aceitando. Em um determinado período, Barba Azul precisa viajar e deixa aos cuidados de suas esposa todas as chaves de seu grande castelo, mas a proíbe de entrar em um pequeno quarto, mas a curiosidade dela é tão grande que ela acaba entrando nele e vê todas as outras 3 esposas de Barba mortas penduradas por toda a parede do pequeno quarto. Apavorada, a esposa sai do quarto, mas Barba Azul percebe o que aconteceu por causa do sangue na chave do quarto. Sedento de raiva, ele começa a ameaçar sua esposa que acaba se trancando em um dos quartos do castelo, quando Barba Azul estava prestes a derrubar a porta com uma espada, os irmãos da esposa aparecem e o matam. Ela fica com todo o dinheiro dando metade a sua família. (PERRAULT, Fábulas e Contos). Segundo os relatos de C. o esposo não a entende, acha que ela não tem gastrite, não aceita que ela tome medicação e consulte médicos porque Deus é quem vai cura-la. Percebe-se que a paciente tem a necessidade de sempre ter um carrasco em sua vida para atormentá-la projetando essa imagem de uma pessoa para outra, primeiro foi o médico que não validou a sua doença, depois o marido que não a entende e atualmente são as irmãs que em um momento foram as salvadoras levando-a no psiquiatra escondido do marido e agora são as vilãs. “Uma atividade psíquica só pode ser substituída por outra equivalente...Razão pela qual nunca acontece que a libido se desligue do sintoma sem que o mesmo seja substituído." (JUNG, 2012. §39) Pode-se observar que Barba Azul é um predador de mulheres, um aspecto negativo do masculino, em psicologia analítica é denominado animus negativo. Considerando que a mulher sofre abusos físicos, emocionais e psicológicos por parte dos homens, através do tempo, se formou no inconsciente coletivo a figura de um masculino negativo, um demônio que a quer somente para si mesmo e a seu modo sob seu poder. Essa figura arquetípica apresenta-se em todas as mulheres no seu dia a dia, sobre a forma de um sussurro, tentando torná-la fraca, isolada, despotencializar, enfim uma presa de seu veneno. Todavia, é ainda pior quando esse animus aparece projetado em forma de namorado, marido, amante ou companheiro. Desse modo a mulher fica à mercê desse arquétipo que ganhou corpo físico e pode sofrer o cativeiro por anos a fio sem conseguir se livrar da imensa dor e subjugação que ele vai lhe impor. (MORAES, 2018). Nos atendimentos realizados até hoje, percebe-se que C.R se anulou e perdeu a noção do que é viver, não suporta viver onde ela vive, hipótese de que ela esteja se matando aos poucos, de não estar se nutrindo nem corpo nem alma, a alma é nutrida com vida, vida essa que ela não vive. Trazendo o mito do Barba Azul, C. está presa nesse castelo que é sua vida, suas experiências negativas de perdas desde a infância, nesta relação com o marido que a oprime e lhe sufoca. É como se para se manter enclausurada não pudesse olhar a janela de possibilidades, se olhar a janela vai ter esperança e conflitos, então é preferível ficar no castelo sem conflitos, sem sonhos porque isso a protege dela mesma. No momento em que ela abre a janela e ora, pedeajuda, vem vizinhos, vêm recursos (apoio das irmãs), mas isso não se sustenta por muito tempo, porque ela ainda não está preparada psiquicamente para sair do castelo deixando-a aborrecida sem forças como se apresentou na quinta sessão. Ela fala que precisa tomar remédios para depressão e vitaminas para se recuperar. Simbolicamente, C. vai precisar matar o Barba Azul para conseguir se libertar e por isso precisa tomar vitaminas para ter forças, precisa de recursos psíquicos que têm sido projetados nos outros e em Deus. “ A alma não pode ficar retida aí, mas tem que continuar sua evolução, transformando as causas em meios para atingir um fim, ou seja, em expressões simbólicas para um caminho a ser percorrido”. ( JUNG, 2012 §46). Necessita reconhecer a sua força interior, o seu Self, só então encontrará a força necessária para sair do castelo. 7. CONCLUSÃO Conclui-se desta forma que o processo psicoterapêutico com a paciente C. é longo, cheio de altos e baixos sempre regulados pelo fato de receber afeto/alimento psíquico ou não. As sessões realizadas até aqui foram propostos um espaço de acolhimento onde a paciente podia “vomitar sua vida”, até mesmo porque observou-se uma grande necessidade de jogar para fora tudo o que estava aprisionado dentro dela, observando também que a paciente até então não estava medicada e muito fragilizada diante das questões de sua vida. Como num processo alquímico, o terapeuta aumenta e diminui o fogo conforme a psique do indivíduo se disponibiliza. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estágio clínico na abordagem Analítica proporcionou grande aprendizado na jornada acadêmica promovendo através da prática clínica grande conhecimento e bagagem a ser levada para a prática profissional. Os atendimentos clínicos durante o estágio possibilitaram uma reflexão que permitiu maior amplitude de conhecimento sobre os aspectos que envolvem o funcionamento psíquico de cada indivíduo. É oportuno considerar que a orientadora deste estágio, prof. Maria do Desterro foi de extrema importância, sempre acolhendo, orientando, compartilhando seu rico conhecimento na prática clínica que agregou muito em nosso aprendizado. Com esse estágio conseguimos visualizar a importância do atendimento clínico e o quanto essa prática profissional auxilia na vida dos indivíduos que buscam ajuda. 9. REFERÊNCIAS BOECHAT, Walter. O sonho em pacientes somáticos. Cadernos Junguianos. Revista anual da Associação Junguiana do Brasil, vol. 4, p.19 - 31. 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