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Fadiga, perda de peso e anemia Prob 5 – “Anemia? Mas eu me alimento tão bem...” CARACTERIZAR CLINICAMENTE A SINDROME ANEMICA E SEUS CRITERIOS LABORATORIAIS A anemia é uma condição muito comum, especialmente em determinadas faixas etárias, sendo um problema de saúde pública nos países em desenvolvimento. Raramente é uma doença por si só, sendo, quase sempre, conseqüência de alguma anormalidade genética ou adquirida. A maioria das doenças encontradas na prática clínica pode cursar com anemia. A deficiência de ferro é a causa mais freqüente de anemia, seguida pela anemia de doenças crônicas. Na Figura 1 estão representadas as principais causas de anemia1 DEFINIÇÃO Os eritrócitos têm uma vida média de 100 a 120 dias. Aproximadamente, 1% da massa eritrocitária é produzida e destruída por dia. Os glóbulos vermelhos senis são retirados da circulação pelos macrófagos do fígado, do baço e da medula óssea. A anemia ocorre quando a massa de glóbulos vermelhos é insuficiente para oxigenar adequadamente os tecidos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define anemia como uma redução na concentração de hemoglobina1. Definir níveis normais de hemoglobina não é fácil, porque cada indivíduo tem a quantidade de hemoglobina adequada à sua massa muscular ou ao tecido metabolicamente ativo. Apesar disso, são necessários parâmetros para estudar populações e servir de referência na prática clínica. A OMS estabeleceu estes parâmetros, baseando-se em estudos de âmbito mundial. Anemia é um termo que se aplica, ao mesmo tempo, a uma síndrome clínica e a um quadro laboratorial caracterizado por diminuição do hematócrito, da concentração de hemoglobina no sangue, ou da concentração de hemácias por unidade de volume. Em indivíduos normais, os níveis de hemoglobina variam com a fase do desenvolvimento individual, a estimulação hormonal, a tensão de oxigênio no ambiente, a idade e o sexo. Considera-se portador de anemia o indivíduo cuja concentração de hemoglobina é inferior a: • 13 g/dL no homem adulto; • 12 g/dL na mulher adulta; • 11 g/dL na mulher grávida; • 11 g/dL em crianças entre seis meses e seis anos de idade; • 12 g/dL em crianças entre seis e 14 anos de idade. Esses valores aplicam-se para o nível do mar, alterando--se significativamente em grandes altitudes, mas não sofrem variações com a raça, a região geográfica ou a idade avançada. Em particular, não ocorrem níveis de hemoglobina “fisiologicamente” mais baixos em idosos. De fato, a presença de anemia está associada a risco aumentado de mortalidade em pacientes idosos, de modo que um baixo nível de hemoglobina nesses pacientes deve ser visto como sinal de doença. Teoricamente qualquer uma das 3 medidas de concentração que quantificam a série vermelha poderia ser usada para estabelecer a presença de anemia: a hemoglobina, o hematócrito ou o número de glóbulos vermelhos. No entanto, existem limitações para a consideração de todos estes parâmetros, sendo o pior o número de glóbulos vermelhos, cuja concentração depende do tamanho deles. Assim, em casos de microcitose, pode haver muitos glóbulos vermelhos por mm3, mas com pouca quantidade de hemoglobina e, assim, com menos transportador de oxigênio, e vice-versa em casos de macrocitose, nos quais pode haver menos glóbulos vermelhos por mm3, com concentração normal de hemoglobina e, portanto, sem anemia do ponto de vista funcional. Para propósitos práticos, tanto a concentração de hemoglobina como o hematócrito são úteis para diagnosticar anemia na maioria dos pacientes2. A concentração de hemoglobina e o hematócrito, no entanto, dependem do volume plasmático. Nas situações em que há aumento do volume plasmático, como na gravidez e na vigência de esplenomegalia, pode haver diluição da hemoglobina e redução do hematócrito, sem anemia verdadeira. Nas situações de diminuição do volume plasmático, como nas desidratações ou nos queimados (perda de plasma), existe hemoconcentração, podendo mascarar eventuais quedas da hemoglobina. Nas perdas agudas de sangue, a concentração inicial de hemoglobina está normal, só começando a cair após aproximadamente 6 horas e continuando a cair durante as próximas 48 a 72 horas2. Devemos distinguir: • anemia verdadeira, caracterizada pela redução da massa eritrocitária, ou seja, do volume total de hemácias no organismo; • anemia relativa ou por diluição, quando há aumento do volume plasmático, sem correspondente aumento das hemácias. o O exemplo mais comum de anemia relativa é a hemodiluição, que ocorre durante a gravidez. No entanto, como a hemodiluição não provoca quedas acentuadas da hemoglobina nem sintomatologia, níveis de hemoglobina inferiores a 11-10,5 g/dL devem ser causados por uma das formas de anemia desencadeadas ou agravadas pela gravidez, como carências de ferro ou folato, ou β-talassemia heterozigótica. Excluídas as raras situações de hemodiluição, a queda da concentração de hemoglobina reflete uma verdadeira redução da massa de eritrócitos. CLASSIFICAÇÕES • Morfológica = pela contagem de reticulócitos = hiper e hipoproliferativa • Fisiopatológica = pelo VCM = macro, normo e microcítica • Pelo HCM = hiper, normo e hipocromica (não é usado para classificação) • AS HIPOCROMICAS/ MICROCITICAS PODEM SER HIPERPROLIFERATIVAS? Existem muitos modos de classificar as anemias, mas, provavelmente, a maneira mais útil para uma abordagem clínica eficiente é a associação da classificação fisiopatológica e da morfológica, porque elas são facilmente aplicáveis a partir dos dados do hemograma e da contagem de reticulócitos. Fisiopatológica Do ponto de vista fisiopatológico, as anemias classificam-se em: 1. Anemias por falta de produção ou hiporregenerativas (hipoproliferativa) 2. Anemias por excesso de destruição ou regenerativas (hiperproliferativa) 3. Anemias por perdas sangüíneas Morfológica (alteração de tamanho) A classificação morfológica baseia-se nos índices hematimétricos, que atualmente são determinados por contadores eletrônicos de células. Assim, juntamente com as determinações da concentração de hemoglobina, do número de hemácias e do hematócrito, são fornecidos também o volume corpuscular médio (VCM), a hemoglobina corpuscular média (HCM), a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) e o red cell distribution width (RDW). De acordo com o VCM (medido em fentolitros – fl), as anemias podem ser classificadas do ponto de vista morfológico, conforme segue: • microcíticas (VCM < 80 fl) = Diminuição da Hb dentro do eritrócito, o que torna as hemácias hipocrômicas e microcíticas. Geralmente ocorre por diminuição da síntese do grupo heme por deficiência de Ferro. Também ocorre nas talassemias (redução da síntese de globina), nas anemias sideroblásticas (acúmulo de Fe nas mitocôndrias), hemoglobinopatia C (mutação no gene da cadeia globina beta). • macrocíticas (VCM > 100 fl) = Hemácias de grande volume e, geralmente, hipercrômicas. Não necessariamente indica anemia. Causada muitas vezes pelo consumo de álcool, quimioterapia ou anemia perniciosa. São divididas em megaloblásticas, decorrentes de deficiência de vit. B12 e/ou ácido fólico, e não megaloblásticas, podendo ser decorrente de reticulocitose ou reticulocitopenia associada à hipotireoidismo, hepatopatia e aplasia de série vermelha. • normocíticas (VCM 80 a 100 fl) = Também são normocrômicas. Corresponde a maioria das anemias de doenças crônicas (que, eventualmente, podem ser microcíticas). Se tiver uma resposta medular inadequada, com reticulócitos baixos na presença de anemia, existe uma doença de base que afeta medula óssea, direta ou indiretamente, porque o normal é esperar por aumento dos reticulócitos, caso a medula esteja funcionando corretamente. Assim, pesquisarpor doenças sistêmicas (IRC, doenças da tireoide, hepatopatias). Caso reticulopenia venha acompanhada de leucopenia e plaquetopenia, deve-se suspeitar de doença da medula óssea (aplasia ou infiltração medular). Solicitar mielografia e biópsia de medula. POR QUE A RETICULOCITOSE PODE LEVAR A GRANDES MACROCITOSES OU PODE SER NORMOCÍTICA? Porque os reticulócitos são maiores do que as hemácias maduras, mas isso só vai alterar o valor do VCM se a quantidade de reticulócitos no sangue periférico for suficiente para isso. A reticulocitose é como se fosse o mecanismo de compensação do corpo devido a hemólise. A reticulocitose é intensa em anemia hemolítica autoimune. Alteração na coloração (HCM) • Hipocromica = O termo hipocromia refere-se à presença de eritrócitos com coloração mais pálida que o normal. Quando existe redução do conteúdo de hemoglobina a área de palidez central aumenta. A hemoglobina é formada por quatro grupos heme, onde está localizado o ferro, e por quatro cadeias globínicas. Quando há redução da síntese de heme ou de cadeias globínicas existe diminuição na produção de hemoglobina e a hemácia torna-se hipocrômica. A causa mais comum de redução da síntese de heme é a deficiência de ferro. Uma causa muito menos comum é a anemia sideroblástica. As talassemias, que são doenças hereditárias, caracterizam-se pela redução ou ausência de produção de uma ou mais cadeias globínicas da molécula de hemoglobina. A mais comumente encontrada na prática clínica é a β-talassemia menor. Quando um paciente com anemia (Hb abaixo do valor padrão) se apresenta com o VCM e HCM diminuídos, denomina-se anemia microcítica e hipocrômica; se o VCM e HCM estiverem dentro dos valores da faixa de normalidade, a anemia é normocítica e normocrômica; e se o VCM estiver elevado (não há HCM elevado!) a anemia é do tipo macrocítica. QUADRO CLINICO Os sintomas de anemia devem-se à redução da capacidade de transportar oxigênio do sangue e à alteração do volume sangüíneo total, associadas à capacidade compensatória dos sistemas pulmonar e cardiovascular, visando minimizar a hipoxia tissular. As manifestações clínicas da anemia são variadas e dependem não apenas da anemia propriamente dita como também do mecanismo determinante. Igualmente variável é a intensidade dos sintomas, dependendo do grau da anemia (concentração de hemoglobina), idade do paciente, atividade física, e velocidade com que se estabeleceu a anemia. A velocidade de desenvolvimento das alterações é crucial para a intensidade dos sintomas. Quanto mais abrupta for a queda no volume sangüíneo e/ou nos níveis de hemoglobina, mais intensos serão os sintomas. Assim, nas hemorragias agudas ou nas crises hemolíticas, os pacientes apresentam sintomas mais intensos do que nos quadros de instalação lenta e de longa duração. São sintomas proeminentes, nesses casos, dispnéia, palpitações, tontura e fadiga extrema. Nas anemias crônicas, sejam constitucionais ou de instalação lenta como acontece, p. ex., na anemia ferropênica, o paciente pode permanecer assintomático ou pouco sintomático, mesmo com níveis muito baixos de hemoglobina. De modo geral, nas anemias crônicas, ocorre apenas dispnéia moderada ou palpitações, embora, em alguns pacientes, insuficiência cardíaca congestiva ou angina pectoris possa ser a primeira manifestação. A doença de base ou as doenças associadas, particularmente cardiopulmonares, também interferem na intensidade das manifestações clínicas e na adaptação do paciente à anemia. Outros sintomas de anemia são cefaléia, vertigem, hipotensão postural e fraqueza muscular. Palidez é um sinal de anemia, embora vários fatores além da hemoglobina interfiram na coloração da pele. A palidez relacionada à anemia é mais bem detectada nas mucosas da boca, das conjuntivas e do leito ungueal. A presença de palidez e icterícia sugere anemia hemolítica. Glossite e alterações das papilas linguais podem ocorrer nas anemias carenciais. Úlceras de perna podem ocorrer nas anemias hemolíticas constitucionais, especialmente na anemia falciforme. Sopros cardíacos são comuns, geralmente sistólicos, de intensidade moderada e mais audíveis no bordo esternal esquerdo3. Algumas anemias, especialmente as hemolíticas, podem cursar com esplenomegalia. Várias alterações oftalmológicas têm sido descritas, incluindo hemorragia em chama de vela, exsudatos e tortuosidade venosa afetando a retina. Os sinais e sintomas das anemias refletem, portanto: • a hipóxia não corrigida dos tecidos; • a participação dos mecanismos compensatórios Sintomas ocasionados pela hipóxia • Os sintomas principais são: cefaleia, vertigens, tonturas, lipotimia (sensação de desmaio sem perda de consciência), zumbidos, fraqueza muscular, cãibras, claudicação intermitente e angina. Além disso, anemias que se manifestam nos primeiros anos de vida e que cursam com níveis baixos de hemoglobina, como as anemias hereditárias, podem comprometer ou retardar o desenvolvimento somático, neuromotor e sexual. Sintomas ocasionados pelos mecanismos compensatórios As principais manifestações envolvem os aparelhos cardiovascular e respiratório, que são os responsáveis por tentar compensar a reduzida capacidade de transporte de oxigênio e, dessa forma, corrigir a hipóxia tissular. Os principais mecanismos compensatórios nas anemias envolvem: a) aumento do débito cardíaco; b) redução da resistência vascular sistêmica global; c) redistribuição do fluxo sanguíneo para os diferentes tecidos; d) diminuição da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio. Como resultado do aumento do débito cardíaco, da redistribuição do fluxo sanguíneo (privilegiando tecidos e órgãos mais sensíveis à hipóxia) e a redução da resistência periférica, ocorrem manifestações clínicas como palidez cutaneomucosa (vasoconstrição periférica), taquicardia, aumento da diferencial de pressão, sopros no precórdio, sopro arterial ou venoso no pescoço, choque da ponta impulsivo, e dispneia de esforço. O aparelho cardiovascular, e em especial o coração, podem sustentar por tempo prolongado os mecanismos compensatórios. No entanto, quando a capacidade de compensação é excedida, seja porque a anemia é acentuada ou estabelece-se rapidamente ou, ainda, em consequência de uma lesão cardíaca prévia, instala-se um quadro de insuficiência cardíaca com cardiomegalia, estase jugular, edema periférico, hepatomegalia, congestão pulmonar e dispneia de decúbito. Observe-se que a insuficiência cardíaca neste caso ocorre com o volume minuto cardíaco aumentado (acima do normal), embora ainda insuficiente para atender à demanda metabólica do organismo. A redução da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio é um importante mecanismo compensatório nas anemias, e deve- se ao aumento da concentração intraeritrocitária de 2,3- difosfoglicerato (2,3-DPG). Esse composto, formado durante metabolismo da glicose, fixa-se à molécula de hemoglobina desoxigenada, dificultando sua ligação com o oxigênio. A diminuição da afinidade (desvio da curva para a direita) não altera a saturação da hemoglobina nos pulmões (onde a PO2 é elevada), mas leva a maior liberação de oxigênio nos tecidos. A P50 média de sangue anêmico com hemoglobina de 8 g/dL é da ordem de 30 mmHg (comparada com 26 mmHg em normais), o que é suficiente para aumentar em 25% a quantidade de oxigênio liberada nos tecidos. Outras manifestações Algumas manifestações clínicas observadas em pacientes anêmicos são sinais e sintomas de uma doença subjacente que conduziu à anemia. Por exemplo, as principais queixas de um paciente que desenvolve anemia ferropriva em consequência da hemorragia crônica de uma úlcera péptica podem estar relacionados com a úlcera: dispepsia, pirose e dor epigástrica. Além disso, há manifestações que podem acompanharalguns tipos particulares de anemias, estando ausentes em outras, tais como: • manifestações hemorrágicas e infecções na anemia aplástica ou leucemias agudas; • esplenomegalia e linfonodomegalia em leucemias e linfomas; • icterícia e esplenomegalia nas anemias hemolíticas; • parestesias e outras manifestações neurológicas na anemia perniciosa; • dores ósseas, fraturas sob trauma mínimo, e síndrome de compressão de medula espinhal em mieloma múltiplo ou metástases carcinomatosa Esses sintomas adicionais, quando analisados cuidadosamente, permitem, na maioria dos casos, um diagnóstico muito aproximado da causa e do mecanismo da anemia, que podem, então, ser confirmados com base nos exames laboratoriais. Intoxicações • Na intoxicação pelo CO, que tem uma afinidade pela hemoglobina cerca de 210 vezes maior do que o CO2, a hemoglobina é convertida em carboxi- hemoglobina, que não transporta oxigênio. Em intoxicações pelas sulfonas e nitritos ocorre a oxidação da hemoglobina (Hb-Fe++), com formação de metemoglobina (Hb-Fe+++), também incapaz de transportar oxigênio. Essas alterações podem levar a manifestações de anoxia tissular semelhantes à anemia, embora os níveis de hemoglobina estejam normais. ANÁLISE DA OBSERVAÇÃO CLÍNICA Ao avaliar um paciente com anemia, vários aspectos devem ser rigorosamente questionados e observados, incluindo: sinais ou sintomas que permitem identificar a presença de anemia (consequentes à hipóxia dos tecidos ou aos mecanismos compensatórios), sinais ou sintomas adicionais, que permitem identificar o tipo e a etiologia da anemia, antecedentes pessoais e familiares, hábitos (incluindo alimentação, uso de medicamentos e contato com substâncias químicas), e identificação de condições que provocam ou facilitam o aparecimento de anemia. CRITERIOS LABORATORIAIS Ao suspeitarmos de anemia, a conduta a ser feita é a solicitação de alguns exames laboratoriais que serão cruciais no diagnóstico, na classificação do tipo de anemia e na etiologia para a definição da conduta a ser seguida. Assim, alguns conceitos devem estar em mente. Como mencionado inicialmente, três componentes principais do sangue são capazes de firmar o diagnóstico de anemia, são eles: 1 Hematócrito = sendo o volume, em porcentagem, ocupado pelas hemácias na circulação sanguínea; porcentagem de volume total do sangue que é composta por eritrócitos a. Homem = 40-52% b. Mulher = 36-48% 2 Hemoglobina = sendo a hemoglobina o pigmento presente no interior da hemácia responsável pelo transporte de oxigênio e gás carbônico; é dado por gramas de hemoglobina a cada 100ml de sangue; ➢ Homem < 13,5 ➢ Mulher < 12 3 Número de eritrócitos (glóbulos vermelhos) – nº de hemácias por litro de sangue a. Homem = 4,5-6,5 b. Mulher = 3,9-5,6 Para se avaliar a anemia, o hemograma completo é útil para a determinação de outros índices como número de plaquetas e leucócitos. Em caso de trombocitopenia associada ao quadro de anemia, pode-se pensar em doenças autoimunes; caso seja uma diminuição total das células sanguíneas – pancitopenia – pode-se pensar em doenças malignas. A partir disso, outras informações serão necessárias para a classificação da anemia, são elas os índices hematimétricos (VCM, HCM, CHCM e RDW) e a contagem de reticulócitos. Com eles, tem-se informações sobre tamanho, forma, coloração e uniformidade das hemácias. Os índices hematimétricos [Volume Corpuscular Medio (VCM), Hemoglobina Corpuscular Media (HCM), Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM) e Coeficiente de Distribuição das Hemácias (RDW)], permitem classificar as anemias decorrentes de diferentes causas em três classes: • anemia normocítica/normocrômica • anemia microcítica/hipocrômica • anemia macrocítica/normocrômica. Quando estão aumentados os valores de HEM, BH e HTC, temos um caso de Policitemia. Quando os valores estao diminuídos, temos um caso de anemia. 1 Volume corpuscular médio (VCM) = é o volume médio das hemácias expresso em fentolitros (fL). Esse índice permite avaliar o tamanho médio dos eritrócitos. Quando apresenta valores acima do valor de referência (80 a 100 fL) se diz que o tamanho predominante dos eritrócitos é macrocítico, quando está abaixo dos valores de referência é microcítico e nas situações em que valores estão dentro da faixa de referência denomina-se normocítico. 2 Hemoglobina corpuscular media (HCM) = quantidade de hemoglobina dentro da hemácia. É expressa em picograma por célula. Avalia o peso médio da hemoglobina dentro da hemácia. Quando os valores estão abaixo de 26 a 32pg significa que a maioria dos eritrócitos apresenta uma baixa quantidade de hemoglobina e por isso se diz eritrócitos hipocrômicos. Por outro lado, quando os resultados estão dentro do valor de referência se diz eritrócitos normocrômicos. 3 Concentração de hemoglobina corpuscular media (CHCM) = é o peso da hemoglobina dentro de determinado volume de hemácia, expresso em gramas por decilitro (dL). Permite avaliar a concentração média de hemoglobina dentro do eritrócito. A faixa de referência é 30 a 35 g/dL. Leva em conta o volume celular apenas e não o número de eritrócitos como o HCM. 4 Ampla distribuição de células vermelhas no sangue ou índice de anisocitose (RDW) = corresponde a medida da variação do tamanho das hemácias. O esperado é que se tenha um RDW baixo, ou seja, que as hemácias tenham pouca variação no tamanho. ➢ O RDW é um índice que avalia a diferença de tamanho entre as hemácias. Quando este índice está elevado significa que existem muitas hemácias de tamanhos diferentes na circulação. Na maioria das vezes esse índice indica hemácias com alteração na sua morfologia. É muito comum RDW elevado, por exemplo, na carência de ferro, onde a falta deste elemento impede a formação da hemoglobina normal, levando à formação de uma hemácia de tamanho reduzido. ➢ Embora não seja utilizado para a classificação das anemias, é importante ressaltar que, nas anemias adquiridas, ele se altera antes do VCM, quando começam a coexistir células de tamanho maior ou menor com as de tamanho normal, mas o número delas ainda não é suficiente para alterar a média e refletir-se no VCM. 5 Contagem de reticulócitos = são as células precursoras dos eritrócitos, sendo muito útil na classificação das anemias em hiper e hipoproliferativas. Mas para isso deve-se ter o valor corrigido pelo grau de anemia, já que, quando em valor percentual, o número de reticulócitos pode ser superestimado em um paciente anêmico. 40.000 – 100.000 ou 0,5 – 2%. ➢ ↑ reticulócitos = hiperproliferativa ➢ ↓ reticulócitos = hipoproliferativa ➢ Correção dos reticulócitos em pacientes com anemia = (% reticulócitos x Ht atual do paciente) / Ht normal para o individuo = pq o que vem no resultado do exame é com relação ao hematócrito anêmico ➢ Em casos de reticulocitose (aumento do número de reticulócitos), podemos pensar em hemólise ou em sangramento agudo. Na hemólise, além de reticulocitose, há aumento de DHL, aumento de bilirrubina indireta e diminuição da haptoglobina. ➢ Alto nível de reticulócitos = anemia hemolítica ➢ Baixo nível de reticulócitos = anemia carencial 6 Leucometria 7 Paquetometria Para a definição da possível etiologia, mais alguns parâmetros podem ser avaliados, são eles: a determinação do ferro sérico, transferrina sérica, capacidade total de ligação do ferro à transferrina (TIBC), ferritina sérica e esfregaço do sangue periférico. 1 Ferro sérico: A determinação do ferro sérico isoladamente é de valor limitado, devendo ser analisado em combinação com os outros parâmetros como a saturação da transferrina e ferritina sérica. Altas concentrações são encontradas na doença hepática, anemia hipoplásica,eritropoese ineficaz e sobrecarga de ferro. Baixas concentrações justificam uma anemia ferropriva. 2 Transferrina sérica: Proteína plasmática que realiza o transporte do ferro. 3 Capacidade total de ligação do ferro à transferrina (TIBC): É a medida indireta da transferrina circulante. Na deficiência de ferro há um aumento na síntese de transferrina, cuja capacidade de ligação estará elevada. Havendo diminuição da síntese de transferrina, como acontece na vigência de um processo inflamatório ou aumento do ferro circulante como na hemocromatose, o TIBC estará reduzido. A gravidez aumenta o TIBC. 4 Ferritina sérica: Embora grandes quantidades de ferritina estejam estocadas nos tecidos do fígado e baço, somente pequenas quantidades estão presentes no soro. Essa ferritina circulante é essencialmente livre de ferro. A importância da determinação da ferritina sérica é que a sua quantificação representa uma medida precisa do ferro total do compartimento de estoque. Pode estar elevada na vigência de processos inflamatórios. 5 Esfregaço do sangue periférico: importante para confirmar ou esclarecer os achados do hemograma. Pode revelar a presença de poiquilócitos, que são hemácias de morfologia alterada e inclusões citoplasmáticas. Avalia forma, cor, numero e inclusões citoplasmáticas Microcitose Macrocitose Hipocromia Esferocitos = Esferócitos são eritrócitos de forma esférica porque perderam porções de membrana. Como conservam o mesmo conteúdo com continente menor, como resultado, perdem a característica palidez central, e no esfregaço parecem ser células de menor diâmetro e mais intensamente coradas. Isso ocorre na esferocitose hereditária, onde existe um defeito no citoesqueleto da membrana eritrocitária, mas pode ocorrer também em condições adquiridas como nas anemias imuno-hemolíticas, nas quais porções de membrana com anticorpos ou complemento ligados a elas são removidas pelos macrófagos ou devido à ação de toxinas bacterianas. A fragmentação de eritrócitos presente nas anemias hemolíticas microangiopáticas pode originar microesferócitos, que são esferócitos que apresentam não apenas redução do diâmetro, mas também do volume eritrocitário. Esferoequinócitos (esferócitos “crenados”) podem estar presentes em esfregaço de sangue de pacientes que receberam transfusão de sangue armazenado Eliptocitos e ovalocitos = Embora muitas vezes eliptócitos e ovalócitos sejam usados como sinônimos, o termo eliptócito refere-se às células cujo maior eixo é pelo menos duas vezes o menor. Os ovalócitos são as células cujo maior eixo é inferior ao dobro do eixo menor. Os eliptócitos ou ovalócitos podem aparecer em várias condições hereditárias e adquiridas. Quando muito numerosos, geralmente são decorrentes de eliptocitose hereditária, uma doença causada por uma alteração hereditária da membrana do glóbulo vermelho. Estomatocitos = Os estomatócitos são células que apresentam uma fenda semelhante a uma boca na região central da célula. Podem ocorrer de forma esporádica em indivíduos normais, e em numerosas situações clínicas, sendo as mais comuns o abuso de álcool e a hepatopatia alcoólica. Os estomatócitos estão presentes também nas estomatocitoses hereditárias, que são doenças hereditárias da membrana do glóbulo vermelho associadas a distúrbios de regulação de volume (alteração na permeabilidade de cátions) existindo duas variantes: a hiperidratada, denominada hidrocitose hereditária, e a desidratada, denominada xerocitose hereditária Hemácias em lagrima (dacriocitos) = As hemácias em forma de lágrima ou dacriócitos aparecem quando existe fibrose da medula óssea ou diseritropoese grave. Podem ocorrer, também, em algumas anemias hemolíticas e nas anemias megaloblásticas. É característica da mielofibrose tanto idiopática quanto secundária às infiltrações da medula óssea Eritrócitos em alvo = Distribuição anormal de hemoglobina pode resultar na formação de uma célula com uma mancha central de hemoglobina rodeada por uma área de palidez, chamada célula em alvo. São formadas devido a um excesso de membrana em relação ao volume do citoplasma. Isso pode ocorrer quando existe excesso de lípides na membrana, como na icterícia obstrutiva e nas hepatopatias graves, ou quando existe redução do conteúdo citoplasmático sem redução da membrana como ocorre nas talassemias, na deficiência de ferro, e em algumas hemoglobinopatias Eritrócitos falciformes (dacriocitos) = Aparecem nas doenças falciformes (SS, SC, S-talassemia e outras combinações de hemoglobinas anormais com a hemoglobina S). A desoxi-hemoglobina S tende a formar polímeros que se alinham em fi bras paralelas, que tracionam a membrana do eritrócito que adquire a forma de foice ou crescente, característica dessas doenças Células espiculadas = Barbara Bein recomenda que as células espiculadas sejam denominadas utilizando os termos sugeridos por Bessis: equinócitos ou hemácias crenadas (dez a trinta pequenas espículas regulares), acantócitos (duas a vinte espículas de comprimento e distribuição irregulares), queratócitos (geralmente um par de espículas, às vezes quatro ou seis), e esquizócitos (fragmentos eritrocitários, muitos dos quais espiculados). • A causa mais comum de hemácias crenada é o artefato de estocagem, mas pode ocorrer em pacientes urêmicos e em pacientes em estado crítico. • Os acantócitos podem ser observados na abetalipoproteinemia, nas doenças hepáticas e pós-esplenectomia, e decorrem de alteração no conteúdo lipídico da membrana celular. • Os queratócitos e esquizócitos são células fragmentadas por trauma na microvasculatura, decorrente de depósito de fibrina ou trauma mecânico na circulação por anormalidades do coração e grandes vasos. O exame do esfregaço de sangue é o método mais prático para detectar esquizócitos. Eles são característicos das anemias hemolíticas microangiopáticas, mas podem ser encontrados em múltiplas situações que incluem anemia megaloblástica, coagulação intravascular disseminada, púrpura trombocitopênica trombótica, síndrome hemolítico-urêmica, carcinomas disseminados, eclâmpsia e pré- eclâmpsia, próteses valvares cardíacas e queimaduras graves Equinocitos Esquizocitos Corpúsculos de Howell-Jolly = Os corpúsculos de Howell- Jolly são remanescentes de material nuclear presentes no interior dos eritrócitos. Eles são pequenos, basofílicos e geralmente únicos. Normalmente são removidos pelo baço. Aparecem no sangue periférico após esplenectomia ou em situações de hipoesplenismo ou asplenia funcional, por exemplo, nas doenças falciformes Pontilhado basófilo = Consiste de pequenas e numerosas inclusões contendo RNA dispersas no citoplasma dos eritrócitos.1 Podem aparecer como pontilhado fino em diferentes condições clínicas, que incluem anemias hemolíticas, megaloblásticas e diseritropoéticas, mielofibrose idiopática, hepatopatias, e como pontilhado grosseiro nas talassemias, nas hemoglobinas instáveis, na deficiência de pirimidina 5’ nucleotidase, na intoxicação por chumbo e por outros metais pesados Corpúsculos de Pappenheimer = São inclusões basofílicas, pequenas, (Figura 84.17) compostas de hemossiderina, presentes na periferia da célula que correspondem aos grânulos sideróticos dos siderócitos. Estão presentes na sobrecarga de ferro e no hipoesplenismo Anéis de Cabot = Os anéis de Cabot15 (Figura 84.18) são restos nucleares semelhantes a anéis azulados que podem ser observados nas anemias megaloblásticas, nas anemias hemolíticas e após esplenectomia INTERPRETAR OS EXAMES LABORATORIAIS PARA O DIAGNOSTICO ETIOLÓGICO Normocíticas/normocrômica • VCM entre 80 – 100 • HCM entre 28 – 32 • Hipoproliferativa = ↓ reticulócitos • Hiperproliferativa= ↑ reticulócitos + ↓ hemácias ou sangramento • Indica problema na medula Microcíticas/hipocromicas • VCM < 80 • Hiperproliferativa = ↑ reticulócitos • Hipoprliferativa = ↓ reticulócitos O diagnóstico laboratorial das anemias microcíticas e hipocrômicas inicia-se com a avaliação do eritrograma. As avaliações específicas com a utilização de técnicas que dimensionam o “status” de ferro, as eletroforeses qualitativa e quantitativa de hemoglobinas e a contagem de reticulócitos, são capazes de diferenciar a grande maioria dos casos de anemia microcítica e hipocrômica. O “status” de ferro no processo da investigação laboratorial é composto por três dosagens bioquímicas (ferro sérico, ferritina e capacidade total de ligação do ferro á transferrina ou CTLF) e uma avaliação obtida por cálculo matemático que resulta na saturação de transferrina (Ferro sérico x 100/CTFL). Por meio do painel de avaliação de Ferro sérico, ferritina, CTLF e saturação da transferrina é possível supor as principais causas de anemia microcítica e hipocrômica. Muitas vezes, entretanto, os resultados da avaliação do ”status” de ferro não consegue identificar a causa da anemia microcítica e hipocrômica. Nessas situações as eletroforeses qualitativas e quantitativas de hemoglobinas podem auxiliar a definição do diagnóstico. Macrociticas/hipercromica • VCM > 100 Anemia ferropriva • ↓ Hb, Ht e VCM • Hipocromia e microcitose • Hemácias em alvo/lápis • ↑ RDW • ↓ reticulócitos • Plaquetas podem estar aumentadas, em casos de sangramento crônico • FERRITINA é o primeiro exame que se altera na anemia ferropriva, com redução do seu valor, uma vez que representa o estoque de ferro no organismo! • ↓ ferro sérico • ↓ transferrina • ↑ Capacidade total de ligação do ferro, devido ao aumento de transferrina tentando captar o ferro. Anemia megaloblástica • Hemácias macrocíticas • ↓ Reticulócitos diminuídos • Leucopenia/trombocitopenia • Neutrófilos hipersegmentados • ↓ B12 e ou folato • ↑ Homocisteína • Acúmulo de ácido metilmalônico, principalmente na deficiência de B12 • ↑ Bilirrubina indireta e DHL, devido à hemólise • Na medula óssea, é observado hipercelularidade, falta de maturação e presença de metamielócitos gigantes. Anemia de doença crônica • Hemácias normocíticas e normocrômicas, porém em até 1/3 desta anemia pode ser microcítica e hipocrômica • ↓ Reticulócitos • ↓ Fe sérico • ↓ Capacidade total de ligação do ferro • ↑ Ferro medular • ↑ marcadores inflamatórios – VHS, PCR aumentados • Ferritina está normal ou elevada ESTUDAR A FISIOPATOLOGIA DOS DIFERENTES TIPOS DE ANEMIA (HIPO E HIPERPROLIFERATIVA) PERDA SANGUINEA AGUDA São decorrentes de perdas agudas ou crônicas de sangue. As perdas agudas (anemias pós-hemorrágicas) podem representar uma situação de emergência e são compensadas pela medula óssea normal, desde que os estoques de ferro estejam preservados. Os sintomas dependem da intensidade da perda. Perdas agudas de 500 a 1.000 mL (10 a 20% do volume sangüíneo) podem ser assintomáticas ou pouco sintomáticas em indivíduos sem doenças associadas2. As perdas crônicas causam espoliação de ferro e, conseqüentemente, anemia por falta de produção (anemia ferropênica). As causas mais frequentes são: acidentes, cirurgias, hemorragias no tubo gastrointestinal, especialmente por úlcera péptica ou ruptura de varizes esofagianas, e hemorragia genital. A hemorragia aguda é uma emergência que exige intervenção imediata para cessá-la e repor, por meio de transfusões, o plasma e as hemácias perdidos, para evitar o choque hipovolêmico. Quando o volume de sangue perdido não é muito grande, o organismo dispõe de mecanismos fisiológicos que permitem a recuperação espontânea. Se a hemorragia não for tão intensa que cause choque hipovolêmico, o organismo recompõe o sangue perdido em duas a três semanas após a hemorragia. No entanto, em pacientes previamente anêmicos, ou em portadores de doenças crônicas ou de deficiências subclínicas de ferro ou folato, a perda hemorrágica pode não ser pronta ou completamente reposta, marcando o ponto inicial de instalação ou de exteriorização clínica de um processo de anemia crônica. Podem-se reconhecer vários períodos evolutivos da perda sanguínea aguda: • Nas primeiras horas após a hemorragia, a dosagem de hemoglobina ou o hematócrito não refletem o volume de sangue perdido, pois há perda proporcional de plasma e de hemácias. A avaliação da gravidade da anemia deve ser feita com base em sinais clínicos, como frequência cardíaca, pressão arterial, palidez cutaneomucosa, sudorese e temperatura das extremidades, estado de consciência e fluxo urinário. • Após a hemorragia, mecanismos hormonais (renina-aldosterona, hormônio antidiurético) provocam retenção de água e de eletrólitos, recompondo o volume circulante. Só então ocorre diluição das hemácias, e a dosagem de hemoglobina (ou o hematócrito) diminui progressivamente para estabilizar-se em novo nível 48 a 72 horas depois do episódio de hemorragia. • Como consequência da hipóxia renal, há aumento da eritropoetina, que estimula a medula óssea a aumentar sua produção nos dias subsequentes, até que a hemoglobina retorne aos níveis anteriores. No período de produção acelerada, a partir do 3º ao 5º dia, ocorre elevação do número de reticulócitos. • A síntese da hemoglobina para repor o sangue perdido é feita à custa de mobilização do ferro dos depósitos; para 100 mL de hemácias produzidas o organismo utiliza cerca de 100 mg de ferro dos depósitos. HIPOPROLIFERATIVAS (anemia por menor produção de hemácia) São caracterizadas por contagem absoluta de reticulócitos (porcentagem de reticulócitos vezes o número de eritrócitos) abaixo de 50.000/mm3. São sempre decorrentes de produção deficiente de glóbulos vermelhos por acometimento primário ou secundário da medula óssea ou falta de fator estimulante da eritropoese (eritropoetina) ou carência de elementos essenciais à eritropoese (ferro, vitamina B12 e ácido fólico). Podem também acompanhar doenças inflamatórias, infecciosas e neoplásicas (anemia de doenças crônicas). A maioria dos casos de anemia resulta da produção insuficiente de eritrócitos pela medula óssea. Nesses casos, a porcentagem de reticulócitos está diminuída ou normal; mesmo quando a porcentagem de reticulócitos está ligeiramente elevada (2 a 5%), o aumento é desproporcionalmente pequeno em relação à anemia (ou seja, não há aumento do índice de reticulócitos corrigido), e o número absoluto de reticulócitos está baixo. A menor produção de eritrócitos pode ser resultante de um distúrbio da diferenciação eritroide, da proliferação dos eritroblastos na medula óssea ou de sua maturação. 1. Distúrbios da diferenciação A infiltração ou substituição da medula óssea por um tecido anormal também pode comprometer a produção de outras células mieloides. Assim, nas leucemias agudas ocorre acúmulo de células neoplásicas do tecido hematopoético na medula óssea, com redução das células mieloides normais. De maneira similar aos casos de aplasia da medula óssea, as principais manifestações clínicas decorrem do comprometimento das três séries mieloides: anemia, infecções e manifestações hemorrágicas. Além disso, pode ocorrer infiltração de outros órgãos como baço, fígado, linfonodos, meninges, pele e testículos. Outras situações em que ocorre infiltração ou substituição da medula óssea são representadas pelas leucemias crônicas, mieloma múltiplo, mielofibrose e metástases carcinomatosas. As síndromes mielodisplásicas também se caracterizam por um defeito da eritropoese, com menor produção de hemácias; além da anemia, podem ocorrer outras citopenias,como leucopenia e trombocitopenia. O defeito pode afetar de maneira isolada ou predominantemente a série vermelha: a manifestação clínica principal será a anemia, como aplasia pura da série vermelha, as insuficiências endócrinas, como o hipotireoidismo e o hipopituitarismo, e a insuficiência renal, na qual ocorre menor produção de eritropoetina consequente à lesão do parênquima renal. As infecções, em especial as viroses, são causas frequentes de anemia; anemia é uma manifestação particularmente comum na infecção por HIV, e as hepatites estão associadas à ocorrência de anemia aplástica. 2. Distúrbios da multiplicação celular A diferenciação de células hematopoéticas primitivas em proeritroblastos é seguida de intensa proliferação celular, que proporciona a formação final de 8 a 32 eritrócitos a partir de cada proeritroblasto, que exige intensa atividade sintética por parte dos precursores. Os folatos e a vitamina B12 são essenciais para a síntese do DNA, e as deficiências desses nutrientes têm como consequência um retardo ou bloqueio da síntese de DNA, levando a um defeito da multiplicação celular e da maturação nuclear, enquanto a síntese de RNA e das proteínas não está comprometida. As anemias resultantes da carência de vitamina B12 ou de folatos são coletivamente conhecidas por anemias megaloblásticas, e caracterizam-se por acentuada hiperplasia eritroide da medula óssea, baixa liberação de reticulócitos, e hemácias de volume aumentado (macrocitose e hipercromia). 3. Distúrbios da maturação/hemoglobinização Cada eritrócito contém cerca de 30 pg de hemoglobina, que atinge uma concentração de 34 g/dL dentro da hemácia, representando mais de 95% do peso seco da célula. Por isso, quando a quantidade de hemoglobina sintetizada por célula é menor, formam-se hemácias com volume menor do que o normal. São, portanto, anemias microcíticas e hipocrômicas. Os principais defeitos que podem levar a uma hemoglobinização deficiente são: a) A carência de ferro; b) As talassemias; c) As anemias sideroblásticas. A maior parte do ferro corporal encontra-se nas hemácias como parte da hemoglobina. Na carência de ferro os depósitos esgotam-se, e o ritmo de síntese de hemoglobina é comprometido. Nos adultos normais, cerca de 97% da hemoglobina é do tipo HbA, uma proteína composta de dois pares de cadeias polipeptídicas denominadas α e β. A síntese dos dois tipos de globinas é codificada por genes independentes, e em condições normais é equilibrada, ou seja, são produzidas quantidades equivalentes de cadeias α e β. As talassemias são doenças hereditárias em que a síntese de globinas é desequilibrada; a redução do ritmo de síntese acarreta uma diminuição da quantidade total de moléculas completas de hemoglobina por hemácia (o que provoca hipocromia), e também um acúmulo da cadeia cuja síntese não está afetada, que causa a lesão e destruição das hemácias e eritroblastos. Por isso, as talassemias são anemias microcíticas hipocrômicas e, ao mesmo tempo, exibem um componente de eritropoese ineficaz e um componente hemolítico. 1. Redução do tecido hematopoetico normal Aplasias ou hipoplasia medular • São alterações caracterizadas pela redução do tecido hematopoético com substituição por tecido gorduroso (Figura 2). Podem ser idiopáticas ou induzidas por agentes químicos, físicos, toxinas ou medicamentos. Ao lado da anemia, existem graus variáveis de leucopenia e plaquetopenia porque, além dos precursores da série vermelha, estão comprometidos também os progenitores mais primitivos ou as stem cells pluripotentes. Aplasia pura da serie vermelha • A APSV pode ser considerada um subgrupo da aplasia medular, na qual o envolvimento é apenas da série eritrocítica. As causas do acometimento da série eritróide podem ser várias, desde doença auto-imune (freqüentemente associada à timoma), infecções virais, exposição a fármacos ou agentes tóxicos até uma anomalia congênito primária da stem cell (síndrome de Blackfan-Diamond). A forma adquirida pode ser aguda ou crônica. A forma aguda é tipicamente associada à infecção pelo parvovírus B19, mas pode ser associada a outros agentes infecciosos, como o citomegalovírus, o HIV e os vírus das hepatites. Nos indivíduos com anemias hemolíticas crônicas e nos imunossuprimidos, a APSV associada à infecção por parvovírus B19 é particularmente grave. As formas crônicas de APSV podem ocorrer em pacientes com doenças linfoproliferativas, timomas, doenças auto-imunes ou lúpus eritematoso sistêmico. Síndromes mielodisplásicas • As SMD são resultantes de um defeito clonal que afeta a celula troncol medular e se caracterizam por anemia refratária com pancitopenia no sangue periférico e maturação anormal (displasia) das 3 linhagens celulares, geralmente com medula óssea hipercelular e um grau aumentado de apoptose intramedular. No sangue periférico, existe tipicamente macrocitose, neutrófilos hipossegmentados e hipogranulares (Figura 3) e plaquetas hipogranulares e de tamanhos variados. As SMD freqüentemente evoluem para leucemia aguda, embora a morte possa ocorrer por insuficiência medular sem transformação leucêmica. Infiltrações da medula por tumores hematológicos ou metastáticos e substituições do tecido hematopoetico por fibrose • Tanto as infiltrações da medula óssea quanto a mielofibrose produzem um quadro de insuficiência medular e anemia por falta de produção. A infiltração da medula óssea por tumores, assim como a presença de fibrose, causa distúrbios na barreira medula/sangue com liberação de células imaturas na circulação e alteração morfológica dos eritrócitos, sendo a mais característica a presença de hemácias em lágrima (dacriócitos) no sangue periférico. 2. Falta de fatores estimulantes da eritropoese (eritropoetina) o A eritropoetina (Epo) é secretada pelos rins em resposta à hipóxia, agindo nas células precursoras da medula óssea, estimulando a eritropoese. Na insuficiência renal, a produção de Epo diminui gradativamente e a anemia hiporregenerativa se instala. Geralmente, os níveis de Epo permanecem adequados até o índice de depuração da creatinina tornar-se menor do que 30mL/min2. 3. Falta de fatores essenciais à produção dos eritrócitos como ferro, vitamina B12 e ácido fólico o Aproximadamente 200 bilhões de eritrócitos com mais ou menos 120 dias são degradados diariamente e substituídos por novas células produzidas na medula óssea em indivíduos adultos normais. o Em condições de hemólise aumentada, a eritropoese é acelerada pela eritropoetina, com substituição de até 1 trilhão de eritrócitos por dia. A alta atividade proliferativa torna a eritropoese muito sensível às deficiências de nutrientes essenciais como o ferro, a vitamina B12 e o ácido fólico. o As anemias carenciais são as anemias mais freqüentemente encontradas na prática clínica, sobretudo a deficiência de ferro. O fenótipo da anemia associada à deficiência de cobalamina e de folatos é diferente da anemia causada pela deficiência de ferro, a qual afeta primariamente a síntese de hemoglobina, levando a um fenótipo microcítico e hipocrômico. o A deficiência de folato e/ou vitamina B12, em contraste, causa a formação de precursores eritróides macrocíticos e megaloblásticos, devido à diminuição de síntese do DNA nos pró-eritroblastos em divisão. A deficiência de folato e/ou B12 afeta todas as células que se dividem, portanto, o restante da hematopoese também é acometido e a anemia megaloblástica se caracteriza por pancitopenia, macrocitose e presença de neutrófilos hipersegmentados no sangue periférico. 4. Anemia de doenças crônicas o Ocorre em associação com qualquer tipo de infecção (viral, bacteriana, parasitária e fúngica), em pacientes com câncer ou com doençasauto-imunes, como artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico e outras vasculites. o A inflamação crônica leva à anemia por 3 mecanismos: ▪ interferência no metabolismo do ferro ▪ interferência na produção e nos receptores de Epo ▪ interferência no nível dos precursores eritróides, diminuindo a produção de eritrócitos. o Na anemia associada com doenças crônicas, o nível de ferro do macrófago está normal ou aumentado, mas o fluxo para o plasma e para os eritroblastos da medula óssea está parcialmente bloqueado, devido à ação das citocinas inflamatórias. Assim, o ferro se acumula no macrófago, enquanto o nível plasmático cai e a medula óssea é deprivada de suprimentos adequados. A proliferação e a diferenciação dos precursores eritróides está diminuída e parece haver inibição do gene da Epo e dos receptores de Epo, com diminuição da proliferação e aumento da apoptose eritróide. Apesar do mecanismo complexo, a anemia de doenças crônicas é, geralmente, leve a moderada, com concentração de hemoglobina raramente abaixo de 8 g/dL. HIPERPROLIFERATIVAS (Anemias por excesso de destruição ou regenerativas) As hemácias humanas têm vida média de 120 dias a partir da saída do reticulócito da medula óssea para o sangue circulante. A redução da vida das hemácias em circulação produz uma síndrome hemolítica que pode levar à anemia. Em condições normais, as hemácias são destruídas no interior de macrófagos, em órgãos como o fígado, o baço e a medula óssea. Nas anemias hemolíticas, a hemólise exacerbada pode ser intravascular ou, mais frequentemente, hemólise extravascular. • A hemólise intravascular é devida a traumas diretos sobre as hemácias, fixação de complemento à membrana eritrocitária ou toxinas exógenas, ocorrendo liberação de hemoglobina no plasma. A hemoglobina pode ser excretada na urina, dando origem à hemoglobinúria, que é pois um sinal específico de hemólise intravascular. • Na hemólise extravascular, as células são captadas pelos macrófagos no baço, no fígado e na medula óssea (sistema mononuclear-fagocitário), destruídas intracelularmente e digeridas. Nas anemias hemolíticas a produção de hemácias pela medula óssea está aumentada, mas o aumento não é suficiente para compensar a acentuada redução de sua sobrevida. As principais manifestações clínicas e laboratoriais compreendem: • Consequências do aumento do catabolismo da hemoglobina, como elevação de bilirrubina indireta (não conjugada), icterícia, hepatomegalia e esplenomegalia, litíase biliar. • Consequências da hiperplasia mieloide e da produção aumentada de eritrócitos: número elevado de reticulócitos, presença de células imaturas (eritroblastos) em circulação, alterações esqueléticas. As anemias hemolíticas podem ser hereditárias ou adquiridas, crônicas ou de aparecimento abrupto. Têm expressão clínica muito variada, que depende da intensidade da hemólise, a rapidez com que se instalou o quadro, eficiência da compensação pela medula óssea, e causa da doença. Por exemplo, a queda brusca de hemoglobina associada a uma hemólise aguda pode resultar em sintomatologia muito intensa, com fraqueza, tontura e taquicardia, insuficiência renal aguda, enquanto que uma anemia hemolítica crônica pode ser oligossintomática. As anemias regenerativas são definidas como anemias com contagens elevadas de reticulócitos (acima de 100.000/mm3). Essa condição é típica das anemias hemolíticas, mas pode ocorrer também após perdas agudas de sangue. Sob estimulação máxima, a medula óssea pode aumentar sua produção em 6 a 8 vezes. Com compensação medular ideal, a sobrevida dos glóbulos vermelhos na circulação pode encurtar para 15 a 20 dias, sem o desenvolvimento de anemia, mas com a presença de reticulocitose (estado hemolítico compensado) Quando a taxa de destruição supera a capacidade de produção da medula óssea, instala-se o quadro de anemia hemolítica. A hemólise pode ocorrer predominantemente na circulação (intravascular) ou, na maioria das vezes, no interior dos macrófagos teciduais (extravascular). Laboratorialmente, as anemias hemolíticas se caracterizam por reticulocitose, aumento da bilirrubina indireta, aumento de desidrogenase lática (DHL), redução de haptoglobina e, muitas vezes, alterações características no sangue periférico. Elas podem ser causadas por defeitos intrínsecos dos eritrócitos ou podem ser secundárias a agressões dos glóbulos vermelhos por agentes extrínsecos. A maioria dos defeitos intrínsecos é hereditária, com exceção da hemoglobinúria paroxística noturna, que é causada por um defeito intrínseco adquirido. 1. Alterações intrínsecas dos eritrócitos o São anemias, geralmente hereditárias, que decorrem de anormalidades dos vários constituintes do glóbulo vermelho: proteínas da membrana; enzimas eritrocitárias; e hemoglobina. Uma exceção é a hemoglobinúria paroxística noturna, causada por um defeito adquirido. • Anemias hereditárias por defeito da membrana eritrocitária o As doenças hereditárias causadas por defeitos da membrana eritrocitária compreendem a esferocitose hereditária, a eliptocitose hereditária e a estomatocitose com suas variantes hiper- hidratada (hidrocitose) e desidratada (xerocitose) o A doença mais freqüente desse grupo é a esferocitose hereditária, que é uma doença familiar caracterizada por anemia, icterícia intermitente, esplenomegalia e resposta favorável a esplenectomia. A forma de herança é autossômica dominante em 75% dos casos. A anemia pode estar presente ou não; mas reticulocitose ocorre sempre, refletindo hemólise e tentativa de compensação medular. No esfregaço de sangue periférico, a presença de esferócitos (Figura 9) é característica da doença, embora não seja patognomônica24. o A eliptocitose hereditária compreende um grupo de doenças hereditárias no qual a morfologia das hemácias no sangue periférico é o principal elemento para a avaliação diagnóstica e da gravidade do quadro. o A estomatocitose hereditária compreende uma série de doenças raras do eritrócito, caracterizadas por anormalidades nos mecanismos de regulação do volume celular. Dependendo do tipo de defeito, as células podem ser hiper-hidratadas (hidrocitose hereditária) ou desidratadas (xerocitose hereditária). Os pacientes apresentam anemia hemolítica leve a moderada, reticulocitose, macrocitose e estomatócitos no sangue periférico • Eritroenzimopatias o As principais eritroenzimopatias de interesse clínico são as deficiências de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) e de piruvatoquinase (PK). o A G6PD protege a célula contra a ação de substâncias oxidantes. Na deficiência de G6PD, por bloqueio desse mecanismo protetor, a hemoglobina pode se tornar oxidada e se desnaturar, formando corpúsculos de Heinz, que lesam a membrana eritrocitária, causando a retirada precoce das hemácias da circulação pelo baço. É a deficiência enzimática mais comum, a herança é ligada ao cromossomo X e a maioria dos pacientes é assintomática, apresentando hemólise apenas durante a exposição a agentes oxidantes, em geral medicamentos. o A segunda deficiência mais comum, embora pouco freqüente, é a deficiência de PK, uma enzima do ciclo da glicólise. Na deficiência de PK, menos energia é formada, encurtando a vida média das hemácias, com conseqüente anemia hemolítica. Não existem alterações morfológicas eritrocitárias específicas na deficiência de PK e os pacientes apresentam quadro clínico de intensidades variáveis. • Defeitos da hemoglobina o As doenças da hemoglobina podem ser causadas por defeitos estruturais ou de síntese de uma ou mais cadeias globínicas. o A hemoglobinopatia mais freqüente em nosso meio é a anemia falciforme. Ela é causada por uma mutação no gene dacadeia globínica beta, que leva à substituição, na 6a posição, de ácido glutâmico por valina, com produção de hemoglobina S em vez de hemoglobina A. o Os defeitos de síntese das cadeias globínicas causam as talassemias. As talassemias são denominadas de acordo com a cadeia que está ausente ou diminuída: alfa-talassemia, quando há diminuição de síntese de cadeia alfa; beta- talassemia, quando há redução de síntese de cadeia beta; delta-talassemia; delta- beta-talassemia; e assim por diante. Ao contrário das hemoglobinopatias, que são geralmente causadas por uma mutação em um ponto determinado de uma das cadeias globínicas, as talassemias são causadas por diversas alterações gênicas. • Hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) o A HPN é uma doença clonal, adquirida, da stem cell hematopoética, que se caracteriza por anemia hemolítica intravascular, tendência à trombose e graus variáveis de insuficiência medular. É causada por uma mutação no cromossomo X (gene PIG-A) que leva à ausência ou diminuição de glicosilfosfatidilinositol (GPI), composto que ancora diferentes moléculas na superfície celular. o Entre as moléculas ancoradas estão as responsáveis por inibir a ativação do complemento (CD55 e CD59), que protegem as células da lise complemento- induzida. Na ausência de GPI, o complemento ativado não é inibido, havendo formação do complexo de ataque à membrana e lise celular35. 2. Agressão dos eritrócitos por fatores extrínsecos ➢ Os eritrócitos normais podem ser afetados por fatores extrínsecos, como exposição a venenos e toxinas (p. ex., picada de aranha, cobra, abelha e lagarta), parasitas (p. ex., malária), agentes infecciosos (p. ex., sepse por clostridium), agentes físicos (calor e radiação), traumas mecânicos (síndromes de fragmentação eritrocitária), hipofosfatemia, certos medicamentos e por anticorpos (anemias hemolíticas imunológicas) • Síndromes de fragmentação eritrocitária o As síndromes de fragmentação eritrocitária podem ser devidas a anormalidades do coração e grandes vasos ou de pequenos vasos (anemias hemolíticas microangiopáticas) e caracterizam-se por sinais de hemólise intravascular (aumento de DHL, hemoglobinemia, redução de haptoglobina e hemoglobinúria) e presença de eritrócitos fragmentados (esquizócitos) no sangue periférico o As anormalidades do coração e grandes vasos incluem próteses valvares, valvoplastias, ruptura de cordoalha tendínea, enxertos intracardíacos e doença valvar não operada (mais freqüentemente estenose aórtica). Nesses casos, o tratamento da doença de base leva ao desaparecimento da anemia. • Anemias hemolíticas imunológicas o As anemias hemolíticas imunológicas são causadas por anticorpos contra os eritrócitos que podem ser auto-anticorpos ou aloanticorpos1. Os primeiros causam as anemias hemolíticas auto-imunes (AHAI) que podem ocorrer como doenças primárias ou secundárias a doenças auto- imunes ou neoplásicas, principalmente leucemia linfóide crônica e linfomas bem diferenciados, assim como ao uso de medicamentos. Os aloanticorpos são dirigidos a hemácias que não são próprias do paciente e podem ocorrer na gravidez, após transfusão de sangue incompatível e após transplante de órgãos. O teste de Coombs (teste da antiglobulina) é o teste- chave para distinguir anemias hemolíticas imunológicas das anemias hemolíticas de outras etiologias1. o Ele fornece ainda algumas informações sobre a natureza (IgG, IgM) e a sensibilidade térmica do anticorpo (frio ou quente). O teste de Coombs direto revela a presença de anticorpos ligados à hemácia, e o indireto revela a presença de anticorpos no soro. Nas anemias hemolíticas auto-imunes, os anticorpos estão ligados às hemácias do paciente, portanto o teste de Coombs direto será positivo. ELENCAR OS FATORES DE RISCO PARA ANEMIA Anemia ferropriva • Idade (crianças, adolescentes e mulheres em idade fértil) • Gestantes • Lactantes • Pos cirurgia bariátrica • Vegetarianos com dieta muito restritiva Anemia hereditária • Combinação de ambos os pais (nem todas preciam de homozigose) Anemia por doença autoimune • Jovens adultos (mulher) • Quadros virais (HIV, Hepatite C) • Câncer Anemia megaloblástica • Idosos • Polimedicados • Pacientes em uso de inibidores de bomba de prótons crônica • Pacientes com gastrite crônica • Pacientes com ulcera crônica • Pós cirurgia bariátrica • Anemia perniciosa Anemia por doença crônica (doença inflamatória) • Toda doença crônica pode levar a anemia por desequilíbrio de IL • Infecções • Doenças autoimunes (desequilíbrio de IL) • Problemas renais • Diabetes descompensada cronicamente • Câncer Anemia por doença na medula • Radiação • Quimioterapia • Exposição á substancias químicas (agrotóxicos, inseticidas) • Medicamentos • Hereditariedade • HIV • Hepatite • Lúpus ENTENDER A FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLINICO, DIAGNOSTICO E COMPLICAÇÕES DA ANEMIA FALCIFORME O eritrócito tem estrutura e propriedades metabólicas extremamente complexas que ainda hoje são objeto de investigações. O perfeito equilíbrio entre seus diversos constituintes como a membrana celular, as enzimas e a hemoglobina, é extremamente precário e, na opinião de vários investigadores, um verdadeiro “convite ao desastre”. A hemoglobina representa importante fator do controle da integridade do eritrócito. Sua elevada concentração, próxima de 30 g/dL, faculta à hemácia operar com máxima eficiência, mas implica, em contrapartida, um potencial letal. A anemia falciforme é um exemplo clássico de uma alteração mínima na estrutura de hemoglobina capaz de provocar, sob determinadas circunstâncias, uma singular interação molecular e drástica redução na sua solubilidade. FISIOPATOLOGIA A alteração molecular primária na anemia falciforme é representada pela substituição de uma única base no códon 6 do gene da globina β, uma adenina (A) é substituída por uma timina (T) (GAG→GTC). Esta mutação resulta na substituição do resíduo glutamil na posição b6 por um resíduo valil (β6Glu→Val) e tem como consequência final a polimerização das moléculas dessa hemoglobina anormal (HbS) quando desoxigenadas. A substituição do ácido glutâmico por valina na posição β6 ocorre na superfície da molécula, sem provocar alterações significativas na sua conformação global. A hemoglobina S na conformação oxi é isomorfa à hemoglobina normal, sugerindo que a estrutura das duas moléculas (exceto pela substituição do aminoácido) é similares. As solubilidades das hemoglobinas oxigenadas A e S são semelhantes, embora pequenas diferenças tenham sido detectadas em tampão fosfato concentrado. Em soluções diluídas, as propriedades físicas das hemoglobinas desoxigenadas A e S são também parecidas. No entanto, soluções concentradas de desoxi-hemoglobina S e desoxihemoglobina A diferem grandemente, e este fato fornece as bases físico-químicas da gelificação e falcização. A hemoglobina S, quando desoxigenada in vitro, torna-se relativamente insolúvel e agrega-se em longos polímeros. Esses polímeros resultam do alinhamento de moléculas de hemoglobina S, unidas por ligações não covalentes e, na descrição desse fenômeno, os termos polimerização, agregação e gelificação são usados como sinônimos. A polimerização da desoxihemoglobina S depende de numerosas variáveis, como concentração de oxigênio, pH, concentração de hemoglobina S, temperatura, pressão, força iônica e presença de hemoglobinas normais. Somente a forma desoxigenada de hemoglobina S sofre polimerização; o fenômeno não ocorre, normalmente, com nenhuma das formas cuja conformação se assemelha à oxi- Hb S, como meta-Hb S, carboxi-Hb S ou cianometa-Hb S. A polimerização da hemoglobina S é o evento fundamental napatogenia da anemia falciforme, resultando na alteração da forma do eritrócito e na acentuada redução de sua deformabilidade (pois é mais rígida). A Hemoglobina Fetal (HbF) (n tem cadeia beta) inibe a polimerização, fenômeno responsável pela redução de sintomatologia clínica nos pacientes com elevados níveis de Hb fetal. Da mesma forma, a HbA participa pouco do polímero e esta é a razão para a quase ausência de anormalidades clínicas nos heterozigotos para o gene da hemoglobina S. Cinética da falcização Todas as hemácias contendo predominantemente hemoglobina S podem adquirir a forma falciforme clássica após desoxigenação, em decorrência da polimerização intracelular da desoxi-Hb S, processo normalmente reversível após a reoxigenação. No entanto, a repetição frequente desse fenômeno provoca lesão de membrana em algumas células, fazendo com que a rigidez e a configuração em forma de foice persistam mesmo após a reoxigenação. Assim, esses eritrócitos, denominados genericamente “células irreversivelmente falcizadas” ou células densas, retêm permanentemente a forma anormal, mesmo na ausência de polimerização intracelular de hemoglobina. Em decorrência de sua acentuada rigidez, as células irreversivelmente falcizadas têm vida-média reduzida e contribuem significativamente para a anemia hemolítica dos pacientes. No entanto, o quadro clínico da anemia falciforme, contrastando com as demais formas de anemia hemolítica, não dependem substancialmente dos sintomas causados pela anemia propriamente, mas, sim, da ocorrência de lesões orgânicas causadas pela inflamação e obstrução vascular e das chamadas “crises de falcização”. Nos períodos entre as crises, a “fase estável”, os pacientes evoluem praticamente assintomáticos, a despeito da anemia persistente, com níveis de hemoglobina variáveis, mas, em geral, ao redor de 8 g/dL. O processo vaso-oclusivo O fenômeno de vaso-oclusão ocorre geralmente na microcirculação. No entanto, grandes artérias, principalmente nos pulmões e cérebro, também podem ser afetadas. Atualmente, acredita-se que o fenômeno vaso- oclusivo compreende um processo com várias etapas que envolve interações de hemácias, leucócitos ativados, células endoteliais, plaquetas e proteínas do plasma. O contato direto das hemácias SS e a presença de hemólise intravascular levam à ativação das células endoteliais que revestem o vaso; a presença do heme livre na circulação tem efeito deletério no vaso e ainda consome o Óxido Nítrico (NO) sintetizado pelas células endoteliais. Juntamente com a presença de Espécies Reativas de Oxigênio (ROS), a hipóxia e os vasoconstritores como Endotelina-1 (ET-1), esses mecanismos contribuem para a ativação das células endoteliais. O estado de hipercoagulabilidade leva a níveis aumentados de Fator Tecidual (FT), Fator Ativador de Plaquetas (FAP), Fator de von Willebrand (FvW) e ativação plaquetária. A ativação do endotélio também conta com a presença das plaquetas ativadas no vaso sanguíneo e a sua adesão à parede vascular. Após sua ativação, as células endoteliais aumentam a expressão das moléculas de adesão (como ICAM-1, VCAM-1 e E-selectina) na superfície do vaso e também liberam mais citocinas e quimiocinas como o IL-8, IL-6 e IL-1β, que com o TNF-α, contribuem para a inflamação vascular e a ativação das células sanguíneas. Os leucócitos e as hemácias aderem à parede vascular devido à sua ativação e expressão de moléculas de adesão e, também, podem haver interações heterotípicas entre leucócitos aderidos e hemácias. A vasoconstrição elevada e a obstrução física do vaso ocasionam uma redução no fluxo sanguíneo com consequente hipóxia e falcização das hemácias, dificultando a passagem do sangue, e finalmente resultando na vaso- oclusão. A liberação intravascular de hemoglobina pelas hemácias fragilizadas, além da vaso-oclusão recorrente e dos processos de isquemia e reperfusão, leva a dano e ativação das células endoteliais da parede do vaso. Como consequência, há indução de uma resposta inflamatória vascular e a adesão de células brancas e vermelhas à parede dos vasos sanguíneos. Tal fato, associado a uma redução na biodisponibilidade de Óxido Nítrico (NO)(vasodilatador) no interior do vaso e ao estresse oxidativo, pode ocasionar, em alguns casos, uma redução no fluxo sanguíneo e, finalmente, a vaso-oclusão. • Vaso-oclusão e o endotélio. A falcização repetida de hemácias SS pode levar a dano da membrana dos eritrócitos com a exposição de proteínas na superfície celular e a produção de Espécies Reativas de Oxigênio (ROS). As células falcizadas, e a própria hemoglobina liberada no vaso pelo processo de hemólise, podem ocasionar danos às células endoteliais que revestem a parede vascular. A subsequente ativação das células endoteliais tem consequências significativas que incluem a expressão de moléculas de adesão, como VCAM-1 (molécula de adesão vascular -1), ICAM-1 (molécula de adesão intercelular-1) e E-selectina na superfície celular e a produção de citocinas e quimiocinas como Interleucina (IL)-8, IL-6 e GM-CSF (fator estimulador de colônias de granulócitos- macrófagos). O endotélio ativado ainda libera fatores procoagulantes e fatores vasoconstritores potentes, como as Endotelinas 1 e 2 (ET-1, ET-2). • A vaso-oclusão e a inflamação. A anemia falciforme está, geralmente, associada a um estado inflamatório crônico que exerce um papel fundamental na ativação das células endoteliais e células sanguíneas, em especial, dos leucócitos. Diversas moléculas inflamatórias se apresentam em níveis elevados na anemia falciforme, incluindo TNF-a (Fator de Necrose Tumoral- a), IL-1β, proteína C reativa (todos potentes ativadores do endotélio) além do M-CSF (fator estimulador de colônia de macrófagos), IL-3, GM-CSF, IL-8 e IL-6. Além disso, algumas proteínas anti-inflamatórias como a Heme-Oxigenase-1 (HO-1) e IL- 10 também estão aumentadas na anemia falciforme, possivelmente tentando limitar a produção de moléculas inflamatórias e a ativação endotelial na doença. • A vaso-oclusão e a adesão celular. A vaso-oclusão é o resultado de um mecanismo complexo que, aparentemente, culmina na adesão de células vermelhas, leucócitos e plaquetas ao endotélio e à parede vascular que pode causar diminuição no fluxo sanguíneo e, portanto, a vaso-oclusão. A expressão de moléculas como VCAM-1, ICAM-1, selectinas e CD36 na superfície das células endoteliais ativadas tem como consequência a captura das células brancas e vermelhas que, por sua vez, também apresentam propriedades adesivas aumentadas. As células vermelhas e, em especial, os reticulócitos de indivíduos com doenças falciformes apresentam maior capacidade adesiva devido ao grande número de moléculas de adesão como a integrina VLA-4 (integrina a4b1), CD36, ICAM-4 e BCAM/Lu, que estão altamente expressas nessas células e interagem com as moléculas subendoteliais da parede vascular (laminina, trombospondina, fibronectina etc.) ou com as moléculas das células endoteliais (CD36, VCAM-1, BCAM/Lu, P-selectina, entre outras). Os leucócitos, geralmente encontrados em estado ativado na circulação de indivíduos com AF, também aderem com mais facilidade ao endotélio vascular, particularmente na presença de um estímulo inflamatório. Acredita-se, atualmente, que o processo vaso-oclusivo é desencadeado pela adesão de leucócitos, em especial dos neutrófilos, já que são células grandes (12-15 μm) e relativamente rígidas, à parede da microvasculatura. Adicionalmente, os leucócitos aderidos podem intermediar a adesão secundária de hemácias à parede vascular, e a combinação desses episódios inicia o processo vaso-oclusivo, uma vez que ocorre a obstrução física dos pequenos vasos da microcirculação. A interação dos leucócitos com o endotélio é intermediada,na maior parte, pelas integrinas Mac-1 e LFA-1, além de algumas moléculas como a L-selectina, e ligantes da E-selectina na superfície dos leucócitos que, por sua vez, interagem com as moléculas ICAM-1, P- selectina e E-selectina presentes na superfície das células endoteliais. Ademais, há indícios de que um número elevado de granulócitos circulantes está associado à maior incidência de complicações na anemia falciforme. As plaquetas, também encontradas em estado ativado na AF, podem aderir ao endotélio vascular, exacerbando a inflamação local pela liberação de mediadores inflamatórios potentes. Assim sendo, as plaquetas também apresentam papel importante no mecanismo de vaso-oclusão. • A vaso-oclusão e o óxido nítrico. O NO é um gás sinalizador produzido constitutivamente pelas células endoteliais e é responsável pela regulação do tônus vasomotor. A biodisponibilidade do NO está reduzida na AF, principalmente devido ao seu consumo pela hemoglobina livre, liberada na circulação após a hemólise das hemácias. O resultado principal da redução da disponibilidade do NO é a inibição da vasodilatação dependente de NO na vasculatura, contribuindo assim com a vasoconstrição e, portanto, favorecendo potencialmente a vaso-oclusão e participando da fisopatogenia de algumas manifestações da AF como hipertensão pulmonar e priapismo. • Vaso-oclusão, plaquetas e a coagulação. A fisiopatologia da AF está associada a um estado de hipercoagulabilidade. Indivíduos com AF apresentam níveis elevados de marcadores de ativação de trombina, plaquetas e células endoteliais, tais como o dímero-D, Trombina- Antitrombina (TAT), ligante de CD40 solúvel (CD40L), Fator Tecidual (FT), Falebrand (FvW), entre outras moléculas. Há dados que indicam uma associação na AF entre a hemólise e a ativação da coagulação, bem como uma possível contribuição da ativação plaquetária para o AVC na doença. Contudo, é provável que a vaso-oclusão recorrente contribua com a hipercoagulabilidade por aumentar a ativação do endotélio e das plaquetas. • Vaso-oclusão e o estresse oxidativo. A produção de Espécies Reativas de Oxigênio (ROS) é neutralizada, sob condições fisiológicas normais, pela presença de antioxidantes que previnem os danos causados pelas ROS. Na anemia falciforme, múltiplos mecanismos são responsáveis por aumentar a produção de ROS na vasculatura, como, por exemplo, lesões por isquemia-reperfusão que ocorrem nos vasos sanguíneos devido à interrupção e subsequente reestabelecimento do fluxo sanguíneo. A presença de ROS no vaso sanguíneo e a baixa concentração de oxigênio apresentam um papel importante na ativação das células endoteliais, em que a produção de ROS é amplificada pela presença da enzima xantina oxidase ativada e o desacoplamento (ou inativação) da enzima sintase de óxido nítrico, a qual pode produzir ânions superóxidos. A atividade aumentada da NADPH oxidase (devido à leucocitose), a formação de Dimetilarginina Assimétrica (DMAA) e a auto-oxidação da própria hemoglobina S na presença de oxigênio também contribuem com a produção de ROS. Por outro lado, importantes mecanismos de defesa antioxidantes, como os níveis das vitaminas A, C e E e a atividade das enzimas glutationa peroxidase e superóxido dismutase, estão diminuídos na anemia falciforme. • O estresse oxidativo provavelmente apresenta um papel importante em vários mecanismos fisiopatológicos da anemia falciforme. Além da ativação do endotélio, facilitando a hemólise, aumentando as propriedades adesivas das células brancas e vermelhas, e elevando a oxidação dos lipídios presentes na membrana celular, o estresse oxidativo também participa do consumo intravascular de NO. • Hidroxiureia (HU) e a vaso-oclusão. A terapia com hidroxiureia está geralmente associada a um aumento nos níveis de Hemoglobina Fetal (HbF) nos pacientes com anemia falciforme, diminuindo, por sua vez, a falcização das hemácias e promovendo melhora significativa nos níveis de hemólise. Uma taxa menor de hemólise pode reduzir o consumo de NO intravascular, além de diminuir a ativação do endotélio. Evidências apontam que a HU pode agir como um doador de NO in vivo, possivelmente melhorando a biodisponibilidade desse vasodilatador na anemia falciforme. Outro efeito importante da terapia com HU é a redução na contagem de leucócitos, já que os leucócitos participam de forma significativa na inflamação e na oclusão física dos vasos. Indiretamente, a terapia com HU está associada a uma diminuição na expressão das moléculas de adesão na superfície das células brancas e vermelhas, além de melhorar parcialmente o estado inflamatório e reduzir o estado de hipercoagulabilidade dos pacientes. QUADRO CLINICO As manifestações clínicas nas doenças falciformes são extremamente variáveis, mas são derivadas primariamente da oclusão vascular e, em menor grau, da anemia. Praticamente todos os órgãos podem ser afetados pela oclusão vascular. Os recém-nascidos portadores de doenças falciformes possuem níveis elevados de HbF e, por essa razão, não apresentam manifestações clínicas significativas. De fato, apenas quando os níveis de HbF declinam significativamente aparecem os primeiros sinais e sintomas da doença, em geral após os seis meses de idade. Crises de falcização Os pacientes com doença falciforme apresentam períodos sem manifestações clínicas correspondentes à fase estável da doença, que pode ser interrompida por manifestações agudas, denominadas crises de falcização: classificadas em crises vaso-oclusivas ou episódios dolorosos, crises aplásticas, hemolíticas e de sequestro. Crises vaso-oclusivas • Os episódios dolorosos agudos representam as manifestações clínicas mais comuns e características das doenças falciformes. A frequência e a gravidade das crises variam consideravelmente de paciente para paciente, e em um mesmo paciente, modificando-se bastante em diferentes períodos da vida. Os fatores desencadeantes são variados e incluem infecção, desidratação e tensão emocional de qualquer natureza. As crises dolorosas são mais frequentes na terceira e quarta décadas de vida, e a taxa de mortalidade é mais alta em adultos que as apresentam com maior frequência. • A oclusão microvascular, sobretudo na medula óssea, é o fator inicial do episódio doloroso. Essa oclusão, secundária à falcização das hemácias, causa isquemia dos tecidos o que, por sua vez, provoca uma resposta inflamatória aguda. As crises dolorosas típicas atingem principalmente ossos longos, articulações e região lombar. Outras regiões podem também ser afetadas, como couro cabeludo, face, tórax e pelve. • Episódios agudos de dor e inchaço de mãos e pés (síndrome das mãos e pés ou dactilite) são frequentes em crianças entre seis meses e dois anos de idade, e extremamente raras após os sete anos de idade. Essas crises vaso-oclusivas são autolimitadas e, em geral, desaparecem após uma semana, embora possam ocorrer ataques recorrentes. O tratamento é sintomático e, se os sinais persistirem, é importante afastar o diagnóstico de osteomielite. • Uma crise dolorosa grave é definida como aquela que exige tratamento hospitalar com analgésico parenteral por mais de quatro horas. A ocorrência de mais de três episódios graves em um mesmo ano caracteriza doença falciforme com evolução clínica grave. Crises aplásticas (única que afeta a própria medula) • São caracterizadas por queda acentuada nos níveis de hemoglobina, acompanhada de níveis de reticulócitos reduzidos, caracterizando insuficiência transitória da eritropoese. Em geral, esse tipo de crise é desencadeado pela infecção por parvovírus B19 e ocorre, em 68% dos casos, em crianças. No entanto, em adultos a presença de imunização natural por exposição prévia ao vírus torna mais
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