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Larissa Gusmão Guimarães| Tutoria (P6) 1 O termo “personalidade” pode ser definido como a totalidade relativamente estável e previsível de traços emocionais e comportamentais que caracterizam a pessoa na vida cotidiana, sob condições normais. Um transtorno de personalidade (TP) é uma variação desses traços de caráter que vai além da faixa encontrada na maioria das pessoas. São padrões crônicos de comportamento que têm um início precoce e insidioso e são evidentes no final da adolescência ou início da vida adulta. O diagnóstico preciso só pode ser dado após os 18 anos de idade. Etiopatogenia Fatores genéticos : entre os transtornos de personalidade, os que tiveram maior hereditariedade nos estudos foram o narcisista, o obsessivo-compulsivo, o borderline, o histriônico e o esquizotípico. Para a maioria dos transtornos de personalidade, as influências genéticas e ambientais são igualmente importantes, e não se pode ignorar nenhuma delas. Fatores biológicos : Anormalidades no sistema de serotonina, foram encontradas em indivíduos com transtornos de personalidade borderline e antissocial. A desregulação da serotonina tem sido associada à agressividade impulsiva. Há também uma disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, com aumento do cortisol, tanto o basal quanto em resposta ao teste de supressão da dexametasona, em indivíduos com transtorno de personalidade borderline. Uma disfunção no córtex orbitofrontal pode contribuir para muitas características do transtorno de personalidade borderline. O córtex orbitofrontal também está envolvido em comportamentos violentos e antissociais. Tem sido encontrada redução da substância cinzenta e hipoatividade da amígdala em indivíduos com TP antissocial. Fatores orgânicos têm sido investigados como complicações obstétricas, parto traumático ou prematuridade com baixo peso, a história de retardo no desenvolvimento psicomotor da infância, até a epilepsia ou a infecção cerebral. Foram registrados achados anormais em eletroencefalogramas (EEG) de indivíduos com transtorno de personalidade antissocial (TPAS) que apresentaram comportamento criminoso. Fatores ambientais: o ambiente familiar e a cultura tem grande importância na formação da personalidade. Fatores evolutivos : A timidez excessiva ou o comportamento submisso observados na criança podem persistir por todo o período de desenvolvimento. É possível prever que esses padrões persistam até o final da adolescência e o início da idade adulta, podendo continuar em alguns transtornos de personalidade, como os do tipo dependente ou evitativo. Epidemiologia Aproximadamente 15% de todos os adultos americanos têm, pelo menos, um transtorno de personalidade. A prevalência estimada para os diferentes grupos sugere 5,7% para o grupo A (paranoide, esquizoide e esquizotípico); 1,5% para o grupo B (histriônico, narcisista, antissocial e borderline) e 6% para o grupo C (evitativo, dependente e obsessivo-compulsivo). Aproximadamente metade de todos os pacientes psiquiátricos apresenta um transtorno de personalidade, o qual é frequentemente comórbido aos transtornos mentais. Classificação Os transtornos de personalidade são divididos em três grupos: Grupo A, indivíduos com características estranhas ou de afastamento – esquizotípico, esquizoide e paranoide; Grupo B, aqueles que apresentam características dramáticas, impulsivas ou erráticas – histriônico, narcisista, antissocial e borderline; Grupo C, aqueles com características de ansiedade e medo – evitativo, dependente, obsessivo- compulsivo. GRUPO A Transtorno da personalidade paranoide Caracteriza-se por suspeita e desconfiança arraigadas em relação a pessoas em geral. Ele recusa a responsabilidade por seus próprios sentimentos e a atribui a outros. Costuma ser hostil, irritável e irascível. Intolerantes, colecionadores de injustiças, cônjuges patologicamente ciumentos e mal- humorados, litigiosos com frequência têm transtorno da personalidade paranoide. Epidemiologia 2 a 4% da população em geral. Indivíduos com o transtorno raramente buscam terapia por si mesmos. Parentes de pacientes com esquizofrenia demonstram uma incidência mais elevada de transtorno da personalidade paranoide do que participantes de grupos-controle. Larissa Gusmão Guimarães| Tutoria (P6) 2 Mais em homens. Mais elevada entre grupos de minorias (exc. Homossexuais), imigrantes e surdos do que na população em geral. Características clínicas Suspeita e desconfiança excessivas em relação a outras pessoas expressas como uma tendência global de interpretar os atos dos outros como deliberadamente aviltantes, malévolos, ameaçadores, exploradores ou enganadores. Com frequência questionam, sem qualquer justificativa, a lealdade ou integridade de caráter de amigos ou sócios. Ciumentos patológicos e, sem algum motivo, questionam a fidelidade de seus cônjuges ou parceiros sexuais. Exteriorizam suas próprias emoções e usam o mecanismo de defesa de projeção; atribuem a outros os impulsos e pensamentos que não podem aceitar em si mesmos. Ideias de referência e ilusões defendidas com argumentos lógicos são comuns. Afeto restrito e parecem frias, sem emoção. Orgulham-se de sua racionalidade e objetividade, mas isso não corresponde à realidade. Demonstram ausência de afeição e impressionam-se e prestam bastante atenção a poder e nível hierárquico. Expressam desdém em relação a indivíduos que percebam como fracos, doentios, debilitados ou deficientes de alguma forma. Podem transmitir uma ideia de profissionalismo e eficiência, mas costumam gerar medo e conflito em outras pessoas. Curso e prognóstico Em alguns estudos, o transtorno é vitalício; em outros, um prenúncio de esquizofrenia. E, ainda em outros, traços paranoides cedem espaço para formação reativa, preocupação adequada com moralidade e preocupações altruísticas quando amadurecem ou quando há redução do estresse. Tratamento Psicoterapia: é o tratamento recomendado para indivíduos com transtorno da personalidade paranoide. Farmacoterapia: A farmacoterapia é útil para lidar com agitação e ansiedade. Ansiolítico como diazepam é o suficiente. Pode ser necessário, usar haloperidol. O fármaco antipsicótico pimozida também reduziu a ideação paranoide. Transtorno da personalidade esquizoide Padrão vitalício de retraimento social. Indivíduos com esse transtorno costumam ser vistos pelos outros como excêntricos, isolados ou solitários. Seu desconforto com a interação humana, sua introversão e seu afeto frio e constrito são destaques. Epidemiologia Pode afetar 5% da população em geral. H:M (2:1). Larissa Gusmão Guimarães| Tutoria (P6) 3 Características clínicas Parecem frias e indiferentes; exibem um retraimento distante e demonstram falta de envolvimento com eventos diários e com as preocupações de terceiros. Parecem caladas, distantes, isoladas e insociáveis. Podem viver suas vidas com extraordinariamente pouca necessidade ou vontade de formar laços afetivos. Interesses solitários e sucesso em empregos solitários e não competitivos que outras pessoas acham difíceis de tolerar. Sua vida sexual pode existir apenas na fantasia, e podem adiar indefinidamente o amadurecimento da sexualidade. Homens podem não se casar porque são incapazes de atingir intimidade; mulheres podem concordar de forma passiva a se casar com um homem agressivo que deseje o casamento. Incapacidade vitalícia de expressar diretamente a raiva. Podem investir quantidades enormes de energia afetiva a interesses não humanos, como matemática e astronomia, e podem ser muito ligados a animais. Modismos de saúde e alimentação, correntes filosóficas e esquemasde melhora social, em especial os que não exigem envolvimento pessoal, costumam absorver sua atenção. Apresentam capacidade normal de reconhecer a realidade. Atos agressivos são raros. Curso e prognóstico O início do transtorno da personalidade esquizoide em geral ocorre no começo da infância ou na adolescência. Assim como todos os transtornos da personalidade, este tem longa duração, mas não é necessariamente vitalício. A proporção da incidência de esquizofrenia nesses pacientes é desconhecida. Tratamento Psicoterapia. Farmacoterapia: A farmacoterapia com pequenas doses de antipsicóticos, antidepressivos e psicoestimulantes beneficia alguns pacientes. Agentes serotonérgicos podem deixar o paciente menos sensível a rejeição. Benzodiazepínicos podem ajudar a diminuir a ansiedade interpessoal. Transtorno da personalidade esquizotípica Exibem características estranhas ou excêntricas impressionantes, mesmo para leigos. Pensamento mágico, noções peculiares, ideias de referência, ilusões e desrealização são parte do mundo cotidiano de uma pessoa com o transtorno. Epidemiologia Ocorre em 3% da população. A proporção entre gêneros é desconhecida; no entanto, ele é diagnosticado com frequência em mulheres com síndrome do X frágil. O DSM-5 sugere que o transtorno possa ser ligeiramente mais comum no sexo masculino. Maior associação de casos entre parentes biológicos de pacientes com esquizofrenia e uma incidência maior entre gêmeos monozigóticos do que entre dizigóticos. Características clínicas Perturbação de pensamento e comunicação Fala pode ser distinta ou peculiar, pode fazer sentido apenas para eles mesmos. Pode desconhecer seus próprios sentimentos e ainda assim ter extrema sensibilidade e consciência a respeito dos sentimentos dos outros, sobretudo os negativos, como de raiva. Podem ser supersticiosos ou alegar poderes de clarividência e acreditar ser dotados de poderes especiais de pensamento e insight. Pode ter relacionamentos imaginários vívidos e temores e fantasias infantis. Podem admitir ilusões da percepção ou macropsia e confessar que outras pessoas parecem ser feitas de madeira e todas iguais. São isolados e têm poucos ou nenhum amigo. O paciente pode exibir características de transtorno da personalidade borderline, e, de fato, ambos os diagnósticos podem ser estabelecidos. Sob estresse, pacientes com transtorno da Larissa Gusmão Guimarães| Tutoria (P6) 4 personalidade esquizotípica podem sofrer descompensação e apresentar sintomas psicóticos, mas que costumam ser breves. Aqueles com casos graves do transtorno podem apresentar anedonia e depressão grave. Curso e prognóstico De acordo com o pensamento clínico atual, a personalidade pré-mórbida do paciente com esquizofrenia é a esquizotípica. Alguns, no entanto, mantêm uma personalidade esquizotípica durante toda a vida e se casam e trabalham, apesar de suas excentricidades. Tratamento Psicoterapia. Farmacoterapia: Medicamentos antipsicóticos podem ser úteis para lidar com ideias de referência, ilusões e outros sintomas do transtorno e ser usados em conjunto com psicoterapia. Antidepressivos são válidos quando houver um componente depressivo da personalidade. GRUPO B Transtorno da personalidade antissocial Incapacidade de se adequar às regras sociais que normalmente governam diversos aspectos do comportamento adolescente e adulto de um indivíduo. Embora se caracterize por atos contínuos de natureza antissocial ou criminosa, o transtorno não é sinônimo de criminalidade. Epidemiologia Prevalência de 12 meses encontram-se entre 0,2 e 3%. Mais comum em áreas urbanas pobres. Mais comum em homens do que em mulheres. Meninos com o transtorno vêm de famílias maiores do que meninas afetadas. O início do transtorno ocorre antes dos 15 anos de idade. Meninas normalmente apresentam sintomas antes da puberdade, e meninos, ainda mais cedo. Um padrão familiar está presente; o transtorno é cinco vezes mais comum entre parentes em primeiro grau de homens com o transtorno. Características clínicas Podem parecer normais e até mesmo simpáticos e lisonjeiro. Histórias revelam perturbação do funcionamento ou várias áreas da vida. Mentiras, vadiagem, fuga de casa, roubos, brigas, abuso de substância e atividades ilegais são experiências típicas. Impressionam clínicos do sexo oposto com os aspectos sedutores e pitorescos de sua personalidade, mas clínicos do mesmo sexo podem vê-los como manipuladores e exigentes. Não exibem ansiedade nem depressão, uma ausência que pode parecer amplamente incongruente com suas situações, embora ameaças de suicídio e preocupações somáticas possam ser comuns. Ausência de delírios e de outros sinais de pensamento irracional. Senso de realidade aguçado e costumam impressionar observadores com sua boa inteligência verbal. Não falam a verdade, e não se pode confiar neles para executar qualquer tipo de tarefa ou aderir a qualquer padrão convencional de moralidade. Promiscuidade, abuso conjugal, abuso infantil e condução de veículos em estado de embriaguez são eventos comuns. Ausência de remorso por atos. Curso e prognóstico Segue um curso ininterrupto, sendo que o auge do comportamento antissocial normalmente ocorre no fim da adolescência. O prognóstico varia. Há relatos que indicam a redução dos sintomas com a idade. Muitos pacientes apresentam transtorno de sintomas somáticos e diversas queixas físicas. Transtornos depressivos, transtornos por uso de álcool e abuso de outra substância são comuns. Tratamento Psicoterapia: Caso sejam confinados (p. ex., internados em um hospital), pacientes com transtorno da personalidade antissocial Larissa Gusmão Guimarães| Tutoria (P6) 5 frequentemente se tornam receptivos a psicoterapia. Farmacoterapia: A farmacoterapia é usada para lidar com sintomas incapacitantes como ansiedade, raiva e depressão, mas, como os pacientes com frequência abusam de substâncias, os fármacos devem ser usados de forma criteriosa. Caso um mostre evidências de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, psicoestimulantes como metilfenidato. Foram realizadas tentativas de alterar o metabolismo de catecolamina com fármacos e de controlar o comportamento impulsivo com antiepilépticos, como carbamazepina ou valproato. Antagonistas dos receptores β-adrenérgicos foram usados para reduzir agressividade. Transtorno da personalidade borderline Encontram-se no limiar entre neurose e psicose e têm por característica afeto, humor, comportamento, relações objetais e autoimagem extraordinariamente instáveis. Já foi chamado de esquizofrenia ambulatorial e o CID-10 usa a denominação de transtorno de personalidade emocionalmente instável. Epidemiologia Acredita-se que seja 1 a 2% da população e seja 2x mais comum em mulheres do que em homens. Diagnóstico Estudos biológicos podem auxiliar o diagnóstico; alguns pacientes com transtorno da personalidade borderline mostram redução da latência REM e perturbações na continuidade do sono, resultados anormais no TSD e no teste de hormônio liberador de tireotrofina. Características clínicas Parecem estar quase sempre em crise. Mudanças de humor são comuns. A pessoa pode estar inclinada a discussões em um momento, deprimida no momento seguinte e, mais tarde, se queixar de não ter sentimentos. Pode apresentar episódios psicóticos de curta duração (denominados episódios micropsicóticos) em vez de crises psicóticas totalmente manifestas, e seus sintomas psicóticos quase sempre são limitados, fugazes ou questionáveis. Comportamento imprevisivel, e é raro suas realizações estarem no mesmo nível de suas capacidades. Atos autodestrutivosrepetidos. Esse tipo de paciente pode cortar os pulsos e executar outras formas de automutilação para obter ajuda dos outros, para exprimir raiva ou para se anestesiar do afeto que o consome. Relacionamentos interpessoais tumultuosos. Podem ser dependentes das pessoas com quem têm intimidade e, quando se frustram, expressar uma grande raiva dirigida aos amigos mais íntimos. Não conseguem tolerar a ideia de ficar sozinhas e preferem uma busca frenética por companhia, sem importar o quanto ela lhe seja insatisfatória. Para mitigar a solidão, aceitam um estranho como amigo ou se comportam de forma promíscua. Costumam se queixar de sentimentos crônicos de vazio e tédio e da falta de um senso de identidade coerente Distorcem seus relacionamentos caracterizando cada pessoa como totalmente boa ou totalmente má. Curso e prognóstico Razoavelmente estável; o paciente sofre pouca mudança ao longo do tempo. Não há progressão para esquizofrenia, mas os pacientes têm uma incidência elevada de episódios de transtorno depressivo maior. O diagnóstico costuma ser estabelecido antes dos 40 anos, quando as pessoas tentam fazer escolhas profissionais, conjugais, entre outras, e são incapazes de lidar com os estágios normais do ciclo da vida. Tratamento Psicoterapia: A psicoterapia é difícil tanto para o paciente quanto para o terapeuta. O paciente regride com facilidade, age por impulso e demonstra transferências positivas ou negativas lábeis ou fixas, as quais são difíceis de analisar. Farmacoterapia: Usaram-se antipsicóticos para controlar raiva, hostilidade e episódios psicóticos breves. Antidepressivos melhoram o humor Larissa Gusmão Guimarães| Tutoria (P6) 6 deprimido. Inibidores da MAO (IMAOs) modularam com sucesso o comportamento impulsivo em alguns pacientes. Benzodiazepínicos, especialmente alprazolam, ajudam com ansiedade e depressão, mas alguns pacientes exibem desinibição com essa classe de fármacos. Anticonvulsivantes, como carbamazepina, podem melhorar o funcionamento global de algumas pessoas. Agentes serotonérgicos, como inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), foram úteis em alguns casos. Transtorno da personalidade histriônica Excitáveis e emotivas e comportam-se de forma dramática, florida e extrovertida. Epidemiologia Prevalência de cerca de 1 a 3%. Maior frequência em mulheres. Alguns estudos revelaram uma associação com transtorno de sintomas somáticos e transtornos por uso de álcool. Características clínicas Exibem um grau elevado de comportamento de busca por atenção. Tendem a exagerar seus pensamentos e sentimentos e fazem tudo soar mais importante do que realmente é. Exibem ataques de raiva, choro e acusações quando não são o centro das atenções ou não estão recebendo elogios ou aprovação. O comportamento sedutor é comum nos dois sexos. Fantasias sexuais envolvendo pessoas com as quais o paciente esteja envolvido são comuns. Podem apresentar uma disfunção psicossexual; mulheres podem ser anorgásmicas, e homens podem ser impotentes. Seus relacionamentos têm propensão a ser superficiais, e ele pode ser vaidoso, egocêntrico e volúvel. Sua forte necessidade de dependência torna-o crédulo e ingênuo. Curso e prognóstico Com a idade, pessoas com transtorno da personalidade histriônica mostram menos sintomas, mas, como não têm a energia de anos anteriores, a diferença na quantidade de sintomas pode ser mais aparente do que real. Indivíduos com esse transtorno buscam sensações e podem ter problemas legais, fazer abuso de substâncias e agir de forma promíscua. Tratamento Psicoterapia: Psicoterapia e orientação psicanalítica, em grupo ou individual, provavelmente seja o tratamento mais indicado para essas pessoas. Farmacoterapia: A farmacoterapia pode funcionar como tratamento adjunto quando direcionada aos sintomas (p. ex., uso de antidepressivos para depressão e queixas somáticas, agentes ansiolíticos para ansiedade, e antipsicóticos para desrealização e ilusões). Transtorno da personalidade narcisista Senso aguçado de autoimportância, ausência de empatia e sentimentos grandiosos de serem únicas. Contudo, por trás dessas características, existe uma autoestima frágil e vulnerável às menores críticas. Epidemiologia Prevalência variam de menos de 1 a 6%. Filhos, de pais com essas características podem apresentar um risco acima do normal de desenvolver, eles próprios, o transtorno. Larissa Gusmão Guimarães| Tutoria (P6) 7 Características clínicas Sentimento de autoimportância grandioso; consideram-se especiais e esperam tratamento especial. Lidam mal com críticas e podem ficar com raiva quando alguém ousa criticá-las, ou podem parecer completamente indiferentes a críticas. Querem que as coisas sejam do seu jeito e com frequência têm ambição de obter fama e fortuna. Relacionamentos são pouco importantes, e podem deixar os outros furiosos por sua recusa em obedecer às regras convencionais de comportamento. A exploração interpessoal é frequente. Não conseguem demonstrar empatia e fingem simpatia apenas para atingir seus próprios objetivos egoístas. Devido a sua frágil autoestima, são suscetíveis a depressão. Dificuldades interpessoais, problemas profissionais, rejeição e perda estão entre os estresses que os narcisistas normalmente produzem com seu comportamento – estresses com os quais são as pessoas menos capazes de lidar. São menos propensos a uma vida caótica e a tentativas de suicídio do que os de personalidade boderline Curso e prognóstico O transtorno da personalidade narcisista é crônico e difícil de tratar. Lidam mal com o processo de envelhecimento, já que valorizam beleza, força e atributos da juventude, à qual se apegam de forma inadequada. Podem ser mais vulneráveis, portanto, a crises de meia-idade do que outros grupos. Tratamento Psicoterapia: o tratamento do transtorno da personalidade narcisista é difícil. Farmacoterapia: Usou-se lítio em pacientes cujo quadro clínico incluía mudanças de humor. Uma vez que os pacientes com transtorno da personalidade narcisista têm baixa tolerância a rejeição e são suscetíveis a depressão, antidepressivos, especialmente fármacos serotonérgicos, também podem ser úteis. GRUPO C Transtorno da personalidade evitativa Sensibilidade extrema a rejeição e podem levar vidas socialmente retraídas. Embora sejam tímidos, não são associais e demonstram um grande desejo por companhia, mas precisam de garantias muito fortes de aceitação não crítica. Essas pessoas em geral são descritas com um complexo de inferioridade. Epidemiologia Prevalência entre 2 a 3% da população em geral. Não há informações disponíveis sobre a proporção entre sexos ou sobre o padrão familiar. Crianças pequenas que foram classificadas com um temperamento tímido podem ser mais suscetíveis. Características clínicas A hipersensibilidade à rejeição por outros. Expressam incerteza, demonstram falta de autoconfiança e podem falar de modo discreto. Temem falar em público ou fazer pedidos a outras pessoas. Têm inclinação a interpretar mal os comentários dos outros como depreciativos ou ridicularizadores. Raramente alcançam muito avanço pessoal ou exercem muita autoridade, mas parecem tímidos e ansiosos por agradar. Costumam não ter amigos íntimos nem confidentes. Curso e prognóstico Muitas pessoas são capazes de funcionar em um ambiente protegido. Algumas se casam, têm filhos e vivem suas vidas rodeadas apenas por membros da família. Caso seu sistema de apoio falhe, no entanto, ficam sujeitas a depressão, ansiedade e raiva. Larissa Gusmão Guimarães| Tutoria (P6) 8 Tratamento Psicoterapia: O tratamentopsicoterapêutico depende da solidificação de uma aliança com o paciente. Farmacoterapia: antagonistas de receptores β- adrenérgicos, como atenolol, para o manejo de hiperatividade do sistema nervoso autônomo. Agentes serotonérgicos podem ajudar com a sensibilidade a rejeição. Fármacos dopaminérgicos podem gerar comportamento de busca por novidades. Transtorno da personalidade dependente Subordinam suas próprias necessidades às necessidades de outros, fazem outra pessoas assumir responsabilidade por áreas importantes de suas vidas, não têm autoconfiança e podem experimentar desconforto intenso ao ficar sozinhas por mais do que breves períodos. Epidemiologia Mais comum em mulheres. Prevalência estimada em 0,6%. Cerca de 2,5% de todos os transtornos da personalidade como pertencendo a essa categoria. Mais comum em crianças pequenas. Pessoas com doenças físicas crônicas na infância podem ser mais suscetíveis ao transtorno. Características clínicas Padrão global de comportamento dependente e submisso. Não conseguem tomar decisões sem uma quantidade excessiva de aconselhamento e tranquilização dos outros. Evitam posições de responsabilidade e ficam ansiosas se precisam assumir um papel de liderança. Preferem ser submissas. Buscam outras pessoas de quem possam depender. Pessimismo, insegurança, passividade, temor de expressar sentimentos sexuais e agressivos. Um cônjuge abusivo, infiel ou alcoolista pode ser tolerado durante longos períodos de tempo para evitar a perturbação da sensação de apego. Curso e prognóstico Pouco se sabe sobre o curso do transtorno da personalidade dependente. Eles correm risco de desenvolver transtorno depressivo se perderem a pessoa de quem dependem, mas, com tratamento, o prognóstico é favorável. Tratamento Psicoterapia: O tratamento do transtorno da personalidade dependente costuma ser bem- sucedido. Farmacoterapia: Tem-se usado farmacoterapia para lidar com sintomas específicos, como ansiedade e depressão. Pacientes que experimentam ataques de pânico ou que têm níveis elevados de ansiedade de separação podem ser beneficiados do uso de imipramina. Benzodiazepínicos e agentes serotonérgicos também foram úteis. Caso a depressão de um paciente ou os sintomas de abstinência reajam a psicoestimulantes, eles podem ser usados. Larissa Gusmão Guimarães| Tutoria (P6) 9 Transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva Constrição emocional, organização, perseverança, teimosia e indecisão. Um padrão global de perfeccionismo e inflexibilidade. Epidemiologia Prevalência estimada de 2 a 8%. Mais comum em homens e é diagnosticado com maior frequência em irmãos mais velhos. Também é mais observado em parentes biológicos em primeiro grau. Pacientes costumam ter antecedentes caracterizados por disciplina rígida. Características clínicas Obcecadas por regras, regulamentos, método, limpeza, organização, detalhes e desejo de alcançar a perfeição. Não apresentam flexibilidade e são intolerantes. São capazes de trabalhar durante muito tempo, contanto que seja um trabalho com rotina e que não exija mudanças às quais não possam se adaptar. Habilidades interpessoais limitadas. São formais e sérios e costumam não ter senso de humor. Isolam pessoas, são incapazes de ceder e insistem para que os outros se submetam a suas necessidades. Contudo, anseiam por agradar pessoas que consideram mais poderosas que eles mesmos e executam os desejos dessas pessoas de forma autoritária. Como temem cometer erros, são indecisos e ruminam as tomadas de decisão. Embora um casamento estável e adequação profissional sejam comuns, indivíduos com o transtorno têm poucos amigos. Curso e prognóstico Variável e imprevisível. Alguns adolescentes se tornam adultos afetuosos, abertos e simpáticos; em outros, o transtorno pode ser o prenúncio tanto de esquizofrenia quanto de transtorno depressivo maior. Tratamento Psicoterapia: costumam estar cientes de seu sofrimento e buscam tratamento sozinhos. O tratamento, no entanto, costuma ser prolongado e complexo, e problemas de contratransferência são frequentes. Farmacoterapia: Clonazepam, um benzodiazepínico com uso anticonvulsivante, reduziu os sintomas em pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo. Clomipramina e agentes serotonérgicos como fluoxetina podem ser úteis. A nefazodona pode beneficiar alguns pacientes.