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FARMACOLOGIA APLICADA À FARMÁCIA Mariana Colombo Antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Listar as indicações clínicas e os efeitos adversos dos antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas. Explicar as indicações clínicas e os efeitos adversos dos antimicrobianos que interferem no DNA. Descrever as indicações clínicas e os efeitos adversos dos aminoglicosídeos. Introdução A síntese de proteínas significa a tradução da mensagem genética trans- crita, de forma inicial, em RNA mensageiro (RNAm) para uma cadeia peptídica e ocorre nos ribossomos. Muitos antimicrobianos exercem seu efeito nos ribossomos bacterianos e inibem a síntese proteica das bactérias em diferentes etapas. Os ribossomos bacterianos diferem de maneira estrutural dos ribossomos citoplasmáticos dos mamíferos e são compostos de subunidades 30S e 50S (os ribossomos de mamíferos têm subunidades 40S e 60S). Ainda, existem antimicrobianos que interferem no DNA, como as quinolonas, por inibirem a topoisomerase II (HILAL-DANDAN; BRUNTON, 2015; LÜLLMANN; MOHR; HEIN, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Neste capítulo, você vai aprender quais são as principais classes de antimicrobianos que inibem a síntese de proteínas, bem como as indica- ções clínicas e os efeitos adversos dos antimicrobianos aminoglicosídeos e os fármacos antimicrobianos que interferem no DNA. Antimicrobianos que afetam a síntese das proteínas bacterianas Os membros mais importantes do grupo dos antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas bacterianas ao se ligarem e interferirem nos ribossomos são as tetraciclinas, as glicilciclinas, os macrolídeos, os cetolídeos, a clinda- micina, o cloranfenicol e os aminoglicosídeos. Tetraciclinas As tetraciclinas constituem uma série de derivados de uma estrutura básica de quatro anéis fundidos. As substituições nesses anéis, alteram a farmacocinética individual e o espectro de atividade antimicrobiana. Esses antimicrobianos são considerados bacteriostáticos e não bactericidas. São exemplos de tetraciclinas: oxitetraciclina; demeclociclina; limeciclina; doxiciclina; minociclina; tigeciclina (RANG et al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Esses antimicrobianos entram nos microrganismos suscetíveis, por difusão passiva e também por um mecanismo proteico de transporte, dependente de energia, próprio da membrana citoplasmática interna da bactéria. Elas se concentram no interior das células dos microrganismos e se ligam de forma reversível à subunidade 30S do ribossomo bacteriano. Essa ação impede que o RNA transportador (RNAt) se ligue ao complexo RNAm-ribossomo, inibindo, assim, a síntese de proteínas da bactéria (RANG et al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). As tetraciclinas são antibióticos de largo espectro (Figura 1), com atividade contra bactérias gram-positivas e gram-negativas, protozoários, espiroquetas, micobactérias e espécies atípicas. Elas são usadas com frequência no tratamento da acne e de infecções por Chlamydia (doxiciclina). A minociclina também é efetiva contra Neisseria meningitidis e tem sido utilizada para eliminar esse microrganimo da nasofaringe de indivíduos portadores. No entanto, a resistência generalizada a esses agentes tem diminuído sua utilidade. A mais Antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas2 frequente resistência natural às tetraciclinas é uma bomba de efluxo que as expele para fora da célula, impedindo, assim, o seu acúmulo intracelular. Outra forma de resistência é pela inativação enzimática e pela produção de proteínas bacterianas que impedem a ligação da tetraciclina no ribossomo (RANG et al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Figura 1. Aplicações terapêuticas típicas das tetraciclinas. Fonte: Adaptada de Whalen, Finkel e Panavelli (2016, p. 501). BORRELIOSE (doença de Lyme) • É uma infecção causada pela espiroqueta Borrelia burgdorferi. É transmitida pela mordida de carrapatos infectados • A infecção resulta em lesões na pele, cefaleia e febre, seguido de meningoencefalite e, eventualmente, artrite • Urticária em padrão “olho de boi” com anel externo vermelho, denominado eritema migrante é a característica da borreliose • A doxiciclina é uma das opções terapêuticas preferidas PNEUMONIA POR MICOPLASMA • Mycoplasma pneumoniae ou pneumonia andante é uma causa comum de pneumonia adquirida na comunidade por adultos jovens e em pessoas que vivem em contato próximo, como instalações militares • O tratamento com um macrolídeo ou doxiciclina é eficaz CÓLERA • O cólera é causado pelo Vibrio cholerae ingerido como parte de água ou comida contaminados com fezes • O microrganismo se multiplica no TGI, onde secreta uma enterotoxina que produz diarreia • O tratamento inclui doxiciclina, que reduz o número de vibriões intestinais e reposição hídrica INFECÇÕES POR CLAMÍDIA • Chlamydia trachomatis é a principal causa de doença sexualmente transmissível nos Estados Unidos. Causa uretrite não gonocócica, doença in�amatória pélvica e linfogranuloma venéreo • Chlamydia psittaci causa psitacose, que, em geral, toma a forma de pneumonia. Outras formas clínicas incluem hepatite, miocardite e coma. • Doxiciclina ou azitromicina são usadas para tratar infecções por clamídia FEBRE DAS MONTANHAS ROCHOSAS • Essa doença causada pela Rickettsia rickettsii é caracterizada por febre, calafrios e dor nos ossos e nas articulações • A resposta a tetraciclina é imediata se o fármaco é iniciado precocemente no processo da doença Cocos gram (+) Staphylococcus aureus (incluindo cepas meticilina resistentes) Streptococcus pneumoniae Bacilos gram (+) Bacillus anthracis Coco gram (–) Bacilos gram (–) Espécies de Brucella* Vibrio cholerae Yersinia pestis * (Tetraciclina + gentamicina) Microrganismos anaeróbios Clostridium perfringens Clostridium tetani Espiroquetas Borrelia burgdorferi Leptospira interrogans Treponema pallidum Micoplasma Mycoplasma pneumoniae Clamídia Espécies de Chlamydia Outras Rickettsia rickettsii Os efeitos adversos mais comuns são distúrbios gastrintestinais causados, inicialmente, pela irritação direta e, após, pela modificação da flora intesti- nal. Pode ocorrer deficiência de vitaminas do complexo B e superinfecção. Como as tetraciclinas absorvem Ca2+, são depositadas nos ossos e dentes em crescimento, por isso provocam manchas e, por vezes, hipoplasia dentária e deformidades ósseas. Por esse motivo, não devem ser administradas em 3Antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas crianças, em mulheres grávidas ou em período de amamentação. Todas as tetraciclinas atravessam a barreira placentária e se concentram em ossos e em dentições fetais. Outro efeito nas mulheres grávidas é a hepatotoxicidade. Também pode ocorrer fototoxicidade (sensibilidade à luz solar) principalmente com a demeclociclina. A minociclina pode produzir tonturas e náuseas. Doses elevadas de tetraciclinas podem reduzir a síntese proteica nas células do hospedeiro, um efeito antianabólico que, eventualmente, resulta em lesão renal. Ainda, o tratamento prolongado pode provocar distúrbios da medula óssea (RANG et al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). A absorção da maior parte das tetraciclinas é irregular e incompleta, mas é melhorada na ausência de alimentos. Como as tetraciclinas são quelantes de íons metálicos (cálcio, magnésio, ferro e alumínio) que formam compostos não absorvíveis; a administração com produtos lácteos ou outras substâncias que contenham cátions di e trivalentes (por exemplo, antiácidos com magnésio e alumínio ou suplementos com ferro) diminuem a absorção, particularmente para a tetraciclina, por causa da formação de quelatos não absorvíveis. Glicilciclinas Tigeciclina, um derivado da minociclina, é o primeiro antimicrobiano dispo- nível, membro da classe glicilciclina.É indicada no tratamento de infecções complicadas de pele e de tecidos moles, bem como infecções complicadas intra-abdominais. Tem ação bacteriostática, ligando-se de forma reversível à subunidade ribossomol 30S e inibindo a síntese de proteínas. A tigeciclina tem amplo espectro de atividade que inclui os Staphylococ- cus aureus resistentes à meticilina, (MRSA, do inglês methicilin-resistant Staphylococcus aureus), os estreptococos resistentes a múltiplos fármacos, os enterococos resistentes à vancomicina, o espectro estendido para bacté- rias gram-negativas produtoras de β-lactamase e os vários microrganismos anaeróbicos (RANG et al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Esse antimicrobiano está associado a náuseas e êmese significativas. A pan- creatite aguda, incluindo fatalidades, foi relatada com o tratamento. Também Antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas4 pode ocorrer elevação das enzimas hepáticas e da creatinina sérica. Outros efeitos adversos são similares aos das tetraciclinas Macrolídeos e cetolídeos O termo “macrolídeo” está relacionado à estrutura desses antimicrobianos — um anel de lactona ao qual se ligam um ou mais açúcares aminados. Os macrolídeos principais e os antibióticos relacionados são eritromicina, clari- tromicina e azitromicina. A eritromicina foi o primeiro desses antimicrobia- nos a encontrar aplicação clínica como fármaco de primeira escolha e como alternativa às penicilinas em indivíduos que são alérgicos aos antimicrobianos β-lactâmicos. Os macrolídeos inibem a síntese das proteínas bacterianas por meio do efeito na translocação ribossômica. Os fármacos ligam-se à subunidade 50S do ribossomo bacteriano. O espectro antimicrobiano da eritromicina é muito semelhante ao da penicilina e é uma alternativa segura e eficiente para pacientes sensíveis à penicilina. A eritromicina é efetiva contra bactérias e espiroquetas gram- -positivas, mas não contra microrganismos gram-negativos, exceto no caso de Neisseria gonorrhoeae e, em menor escala, de Haemophyllus influenzae. São também suscetíveis Mycoplasma pneumoniae, Legionella spp. e alguns microrganismos clamidiais. A azitromicina é menos ativa do que a eritromicina contra bactérias gram- -positivas, mas é consideravelmente mais eficaz contra Haemophyllus influen- zae, e pode ser mais ativa contra Legionella sp. Pode ser utilizada para tratar Toxoplasma gondii, uma vez que elimina os cistos. A claritromicina é tão ativa quanto a eritromicina contra Haemophyllus influenzae, e seu metabólito é duas vezes mais ativo. Também é eficaz contra Mycobacterium aviumintracellulare (que pode infectar pacientes imunologica- mente comprometidos e pacientes idosos com doenças crônicas dos pulmões) e útil no tratamento de lepra e contra Helicobacter pylori. Ambos macrolídeos são eficazes na doença de Lyme. Os principais efeitos adversos são distúrbios gastrintestinais, mas não são graves. Também foram relatados: reações de hipersensibilidade como erupções cutâneas e febre, distúrbios temporários de audição e, de forma rara, em tratamentos superiores a 2 semanas, icterícia colestática. Também podem ocorrer infecções esporádicas do trato gastrintestinal ou da vagina. Telitromicina, um derivado semissintético da eritromicina, é o primeiro antimicrobiano “cetolídeo”. Cetolídeos e macrolídeos têm cobertura anti- microbiana similar. Contudo, os cetolídeos são ativos contra várias cepas 5Antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas gram-positivas resistentes a macrolídeos (RANG et al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Clindamicina A clindamicina tem o mesmo mecanismo de ação da eritromicina. É ativa em cocos gram-positivos, incluindo muitos estafi lococos resistentes à penicilina e muitas bactérias anaeróbias como Bacteroides spp. É também empregada no tratamento de infecções dos ossos e articulações por estafi lococos. Além de urticária, os efeitos adversos consistem majoritariamente em distúrbios gastrintestinais, de diarreia a colite pseudomembranosa, causada por uma Clostridium difficile produtora de toxinas. A clindamicina está disponível em formulações intravenosas e orais, mas o uso da forma oral é limitado pela intolerância gastrintestinal. Também é administrada de forma tópica, sob a forma de gotas oculares, nas conjunti- vites por estafilococos e como fármaco antiprotozoário (RANG et al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Cloranfenicol O cloranfenicol foi originalmente isolado de culturas de Streptomyces. Ele inibe a síntese das proteínas bacterianas ao se ligar à subunidade 50S do ribossomo bacteriano. Tem largo espectro de ação antimicrobiana e é ativo contra microrganismos gram-negativos, gram-positivos e Rickettsiae. É um bacteriostático para a maioria dos microrganismos, mas elimina Haemophilus influenzae; entretanto, o uso do cloranfenicol é restrito a infecções de alto risco, para as quais não existe alternativa. O uso sistêmico deve ser reservado a infecções graves, em que o benefício do fármaco se sobrepõe à sua toxicidade hematológica incomum, mas grave, como infecções causadas por Haemophilus influenzae resistente a outros fármacos, meningite em pacientes nos quais a penicilina não pode ser utilizada, febre tifoide, (embora ciprofloxacina ou amoxicilina e cotrimoxazol sejam igualmente eficazes e menos tóxicos). A utilização tópica é segura e eficaz nas conjuntivites bacterianas. O principal efeito adverso do cloranfenicol é a depressão medular grave idiossincrática, que resulta em pancitopenia (diminuição global dos elementos celulares do sangue) — um efeito que, embora raro, pode ocorrer mesmo com dosagens baixas em alguns pacientes. Podem surgir reações de hipersensi- bilidade, bem como distúrbios gastrintestinais, na sequência da alteração Antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas6 da flora microbiana intestinal (RANG et al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). O cloranfenicol deve ser utilizado com muito cuidado em recém-nascidos com a monitoração das concentrações no plasma, uma vez que a inativação ou a excreção inadequadas do fármaco podem resultar na “síndrome cinzenta” — vômitos, diarreia, flacidez, baixa temperatura e cor acinzentada —, resultando em uma taxa de 40% de mortalidade. Como os neonatos têm baixa capacidade de excretar o fármaco, o cloranfenicol acumula em níveis que interferem na função dos ribossomos mitocon- driais. Isso leva à má alimentação, à depressão respiratória, ao colapso cardiovascular, à cianose (daí o nome de “bebê cinzento”) e à morte. Adultos que recebem doses muito elevadas também podem exibir esse efeito tóxico. Antimicrobianos que interferem no DNA A expressão genética e a divisão celular necessitam da síntese de ácidos nucleicos, cuja interferência é um mecanismo importante relacionado à ação de muitos fármacos antibacterianos. O DNA é matriz para a síntese dos áci- dos nucleicos e o RNA executa a síntese proteica, permitindo o crescimento celular. A síntese do DNA é pré-requisito para a divisão celular. Existem fármacos antimicrobianos que interferem no DNA, inibindo a DNA-girase que relaxa o DNA superenrolado para permitir a transcrição como as quinolonas (LÜLLMANN; MOHR; HEIN, 2017; RANG et al., 2016) Quinolonas As quinolonas incluem agentes de largo espectro, como ciprofl oxacina, levofl o- xacina, ofl oxacina, norfl oxacina e moxifl oxacina, bem como ácido nalidíxico, um fármaco de pequeno espectro utilizado nas infecções do trato urinário. A maioria é fl uorada (fl uoroquinolonas). As fluoroquinolonas entram na bactéria por canais de porina e exibem efeitos antimicrobianos na DNA-girase (topoisomerase bacteriana II) e topoi- somerase bacteriana IV. A inibição da DNA-girase resulta em relaxamento 7Antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas do DNA superespiralado, promovendo quebra da fita de DNA. A inibição da topoisomerase IV impacta a estabilização cromossomal durante a divisão celular, interferindo coma separação do DNA recém-replicado. Em microrganismos gram-negativos, a inibição da DNA-girase é mais significativa do que a da topoisomerase IV, ao passo que, nos gram-positivos, é o contrário (RANG et al., 2016; WHALEN, KAREN, 2016). Desse grupo das quinolonas, a ciprofloxacina é a mais utilizada. Tem largo espectro antibiótico efetivo, tanto contra microrganismos gram-positivos quanto contra os gram-negativos, incluindo Enterobacteriaceae (bacilos gram-negativos entéricos), muitos microrganismos resistentes à penicilina, cefalosporinas e aminoglicosídeos e também contra Haemophilus influenzae, Neisseria gonorrhoeae produtoras de penicilinases, Campylobacter spp. e Pseudomonas. No caso dos microrganismos gram-positivos, os estreptococos e os pneu- mococos são inibidos de forma fraca, e há grande incidência de resistência aos estafilococos. Clinicamente, as fluoroquinolonas são mais aconselhadas no caso de infecções por bacilos e cocos gram-negativos aeróbios. Surgiram espécies resistentes às fluorquinolonas de Staphylococcus aureus e Pseudo- monas aeruginosa. As fluoroquinolonas podem ser classificadas em “gerações” com base nos seus alvos microbianos: primeira geração — quinolona não fluorada, denominada ácido nali- díxico; tem espectro estreito de microrganismos suscetíveis; segunda geração — ciprofloxacino e norfloxacino têm atividade contra gram-negativos aeróbicos e bactérias atípicas; terceira geração — levofloxacino tem maior atividade contra bactérias gram-positivas; quarta geração — inclui apenas o moxifloxacino, por causa de sua atividade contra anaeróbios, bem como microrganismos gram-positivos (RANG et al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Os principais usos clínicos das fluoroquinolonas são: infecções do trato urinário complicadas (norfloxacina, ofloxacina); infecções respiratórias por Pseudomonas aeruginosa nos pacientes com fibrose cística; otite externa invasiva (“otite maligna”) provocada por Pseudomonas aeruginosa; osteo- mielite crônica por bacilos gram-negativos; erradicação da Salmonella typhi nos portadores; gonorreia (norfloxacina, ofloxacina); prostatite bacteriana (norfloxacina); cervicite (ofloxacina) (RANG et al., 2016). Antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas8 Figura 2. Aplicações terapêuticas típicas das fluoroquinolonas. Fonte: Adaptada de Whalen, Finkel e Panavelli (2016, p. 515). Cocos gram (+) Streptococcus pneumoniae Bacilos gram (+) Bacillus anthracis Coco gram (–) Bacilos gram (–) Espécies de Benterobacter Escherichia coli Haemophilus in�uenzae Klebsiella pneumoniae Legionella pneumophila Proteus mirabilis Pseudomonas aeruginosa Serratia marcescens Espécies de Shigella Organismos atípicos Outros Mycobacterium tuberculosis Microrganismos anaeróbios Espiroquetas INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS RESISTENTES • O levo�oxacino em geral é e�caz contra infecções que não respondem aos antimicrobianos �-lactâmicos, como amoxicilina + ácido clavulânico • O cipro�oxacino não é o fármaco de escolha para pneumonia ou sinusite, pois as �uoroquinolonas têm fraca atividade contra pneumoniae, um agente etiológico comum • O levo�oxacino e o moxi�oxacino são conhecidos como “�uoroquinolonas respiratórias” devido a sua atividade contra Streptococcus pneumoniae INFECÇÕES DO TRATO GASTRINTESTINAL • O cipro�oxacino é altamente e�caz contra as doenças diarreicas provocadas por patógenos entéricos CARBÚNCULO (Antrax) • O cipro�oxacino é o fármaco de escolha para a pro�laxia pós-exposição e o tratamento contra o carbúnculo. O fármaco alternativo é a doxiciclina INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO • Ciprofloxacino e levofloxacino são eficazes no tratamento de infecções não complicadas e complicadas no trato urinário INFECÇÕES ANAERÓBICAS • Moxifloxacino tem atividade antianaeróbicos notável Em geral, as fluoroquinolonas são bem toleradas e os efeitos adversos são pouco frequentes, normalmente ligeiros e reversíveis; entretanto, nos hospitais, podem surgir infecções por Clostridium difficile. As manifestações mais frequentes são distúrbios gastrintestinais e erupções cutâneas. Além de artropatia em pacientes jovens, também foram observados sintomas do sistema nervoso central (SNC) — dor de cabeça e tonturas — e, com menos frequência, convulsões associadas a patologias do SNC ou ao uso prolongado de teofilina ou de fármacos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) (RANG et al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Enzimas que precisam de cofatores derivados do folato são essenciais para a sín- tese de purinas e pirimidinas (precursores de RNA e DNA) e de outros compostos necessários para crescimento e multiplicação celular. Portanto, na falta de folato, as células não crescem nem se dividem. Para sintetizar o derivado crítico do folato, o ácido tetra-hidrofólico, os humanos precisam obter da dieta o folato pré-formado como ácido fólico. Em contraste, várias bactérias são impermeáveis ao ácido fólico e a outros folatos e, por isso, dependem da sua capacidade de sintetizar folato próprio. As sulfonamidas (sulfas) são uma família de antimicrobianos que inibem essa síntese de folato. Um segundo tipo de antagonista do folato — a trimetoprima — impede 9Antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas Aminoglicosídeos Os aminoglicosídeos são um grupo de antibióticos com uma estrutura química complexa; são semelhantes entre si na atividade antimicrobiana, nas carac- terísticas farmacocinéticas e na toxicidade. O termo “aminoglicosídeo” se origina da sua estrutura: dois aminoaçúcares unidos por ligação glicosídica a um núcleo hexose central. Os aminoglicosídeos são derivados de Streptomyces sp. (têm sufi xo mycin em inglês) ou Micromonospora sp. Dentro da célula, eles se fixam na subunidade ribossomal 30S, onde inter- ferem com a montagem do aparelho ribossomol funcional e/ou causam a leitura incorreta do código genético pela subunidade 30S do ribossomo completo. Os antimicrobianos que interrompem a síntese proteica, em geral, são bac- teriostáticos; os aminoglicosídeos são os únicos que atuam como bactericidas. O efeito bactericida dos aminoglicosídeos é concentração-dependente. Os agentes principais são gentamicina, estreptomicina, amicacina, tobramicina e neomicina. Os aminoglicosídeos mostram-se efetivos contra muitos microrganismos gram-negativos e alguns gram-positivos. São amplamente utilizados contra microrganismos entéricos gram-negativos e septicemia. Além disso, são associados, com frequência, a antimicrobianos β-lactâmicos para obter efeito sinérgico, particularmente no tratamento de endocardite infecciosa por Ente- rococcus faecalis e Enterococcus faecium. A gentamicina é o aminoglicosídeo mais utilizado, embora a tobramicina seja a eleita em caso de infecções por Pseudomonas aeruginosa. A amicacina tem um espectro antimicrobiano mais amplo e pode ser eficaz em infecções por microrganismos resistentes à gentamicina e à tobramicina. Devido à sua carga positiva, os aminoglicosídeos são altamente polarizados. Não são absorvidos pelo trato gastrintestinal e, em geral, são administrados por via intramuscular ou via intravenosa (exceto a neomicina) (RANG et al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). que os microrganismos convertam o ácido di-hidrofólico em ácido tetra-hidrofólico com efeitos mínimos nas células humanas capazes de fazer essa conversão. Assim, sulfonamidas e trimetoprima interferem na capacidade da bactéria infectante em sintetizar o DNA. A associação de sulfametoxazol + trimetoprima (a denominação genérica para a associação é cotrimoxazol) resulta em uma combinação sinérgica. Antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas10 Podem ocorrer efeitos tóxicos graves e relacionados com a dosagem, à medida que o tratamento for avançando. Os maiores riscos são ototoxicidade e nefrotoxicidade. A ototoxicidade (vestibular e coclear) está relacionada diretamente com picos plasmáti- cos elevados e com a duração do tratamento.O antimicrobiano acumula na endolinfa e na perilinfa do ouvido interno. A surdez pode ser irreversível e também atinge o feto em desenvolvimento. Pacientes que recebem fármacos ototóxicos concomitantes, como a cisplatina ou os diuréticos de alça, são particularmente suscetíveis. Vertigens (de forma especial em pacientes que recebem estreptomicina) também podem ocorrer. É mais provável que a nefroxicidade ocorra em pacientes com doenças renais preexistentes ou em condições em que o volume de urina esteja diminuído e o uso concomitante de outros agentes nefrotóxicos aumente o risco. A retenção dos amino- glicosídeos pelas células tubulares proximais interrompe os processos de transporte mediados por cálcio. Isso resulta em lesão renal que varia de insuficiência renal leve e reversível até grave, potencialmente irreversível, e necrose tubular aguda. Uma reação rara, mas grave e tóxica, é a paralisia causada por bloqueio neuromuscular. Esse efeito adverso está associado com o aumento rápido da concentração (doses altas infundidas em período curto) ou com a administração concomitante de bloqueadores neuromusculares. Pacientes com miastenia grave são particularmente suscetíveis. A dermatite de contato é uma reação comum para a neomicina aplicada de forma tópica. A resistência aos aminoglicosídeos vem se tornando um problema e ocorre por meio de vários mecanismos diferentes. O mais importante deles é a ina- tivação por enzimas microbianas, das quais se conhecem nove ou mais. A amicacina foi considerada um substrato fraco para essas enzimas, mas al- guns microrganismos também podem inativar esse agente. A resistência aos aminoglicosídeos também ocorre por bomba de efluxo e por diminuição da captação do aminoglicosídeo pela bactéria (RANG et al., 2016; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). 11Antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas HILAL-DANDAN, R.; BRUNTON, L, L. Manual de farmacologia e terapêutica de Goodman & Gilman. 2. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2015. LÜLLMANN, H.; MOHR, K.; HEIN, L. Farmacologia: texto e atlas. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. RANG, H. P. et al. Rang & Dale: farmacologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELLI, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. Leituras recomendadas KATZUNG, B. G.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. (Lange). LEVINSON, W. Microbiologia médica e imunologia. 13. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. (Série Lange). Antimicrobianos inibidores da síntese de proteínas12 Conteúdo:
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