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1 Alline Alvarez ANTIBIÓTICOS INIBIDORES DE PAREDE PENICILINA Podem ser divididas em benzilpenicilinas ou penicilinas naturais (penicilina G), de uso exclusivo parenteral; As principais desvantagens são a má absorção através do trato gastrointestinal (o que significa que tem de ser injetada) e sua suscetibilidade às β-lactamases. Fenoximetilpenicilina (penicilina V), com espectro de ação inferior às anteriores, mas com a vantagem de poder ser administrada por via oral; Penicilinas de amplo espectro (ampicilina e amoxicilina), desenvolvidas para ampliar a cobertura contra bacilos Gram- negativos; Penicilinas resistentes às β-lactamases (oxacilina, nafcilina, meticilina); Penicilinas antipseudomonas (carbenicilina, ticarcilina, mezlocilina, piperacilina). 2 Alline Alvarez Penicilinas MECANISMO DE AÇÃO: As penicilinas interferem na última etapa da síntese da parede bacteriana (transpeptidação ou ligações cruzadas). As penicilinas se ligam a proteína ligadora de penicilina (chamada transpeptidase). Dessa forma, a penicilina inibe a reação catalisada pela transpeptidase, inibindo, a formação das ligações cruzadas essenciais para a integridade da parede celular. Como as bactérias tem uma elevada pressão osmótica internamente, sem uma parede celular rígida, essas bactérias se rompem devido a entrada de água por osmose quando são expostas a um ambiente com baixa pressão osmótica. Produção de autolisinas: Várias bactérias, particularmente os cocos gram-positivos, produzem enzimas degradativas (autolisinas) que participam da remodelagem normal da parede celular bacteriana. A penicilina inativa um inibidor de enzima autolíticas, e por isso essas enzimas vão digerir a parede celular existente. A ação bactericida final é a inativação de um inibidor de enzimas autolíticas na parede celular, portanto, essas enzimas vão digerir a parede celular existente provocando a lise da bactéria. 3 Alline Alvarez MECANISMOS DE RESISTÊNCIA BACTERIANA À PENICILINA: A resistência frente aos β-lactâmicos ocorre por diminuição da penetração (bactérias Gram-negativas), bomba de efluxo, modificação do alvo de ação e, principalmente, inativação do fármaco por β- lactamases. Resistência natural às penicilinas ocorre em microrganismos que não possuem parede celular de peptidoglicano (p. ex., Mycoplasma pneumoniae) ou que têm paredes celulares impermeáveis a esses fármacos. Os microrganismos gram-positivos secretam as β-lactamases extracelularmente, ao passo que as bactérias gram-negativas inativam os fármacos β-lactâmicos no espaço periplasmático. Diminuição da permeabilidade ao antimicrobiano: A diminuição da penetração do antimicrobiano por meio da membrana celular externa da bactéria o impede de alcançar as PLPs-alvo. A presença de uma bomba de efluxo também pode diminuir a quantidade de fármaco dentro da célula (p. ex., Klebsiella pneumoniae). PLPs alteradas: PLPs modificadas têm menor afinidade pelos antimicrobianos β-lactâmicos, exigindo concentrações impossíveis de alcançar clinicamente para inibir o crescimento bacteriano. Isso explica a resistência dos MRSAs à maioria dos antimicrobianos β-lactâmicos disponíveis comercialmente. 4 Alline Alvarez USOS TERAPÊUTICOS: 5 Alline Alvarez 6 Alline Alvarez ESPECTRO ANTIBACTERIANO: Em geral, os microrganismos gram-positivos têm paredes celulares facilmente atravessadas pelas penicilinas e, por isso, na ausência de resistência, eles são suscetíveis a esses fármacos. Os microrganismos gram-negativos têm uma membrana lipopolissacarídea externa, que envolve a parede celular e atua como barreira contra as penicilinas hidrossolúveis. Contudo, as bactérias gram-negativas têm proteínas inseridas na camada lipopolissacarídea que atuam como canais cheios de água (denominados porinas), permitindo a passagem transmembrana. Penicilina resistente a penicilases: Seu uso é restrito ao tratamento de infecções causadas por estafilococos produtores de penicilinase, incluindo o S. aureus. As penicilinas penicilinase-resistentes têm atividade mínima ou nula contra infecções gram-negativas. Penicilinas de espectro estendido: Ampicilina e amoxicilina têm um espectro antibacteriano similar ao da benzilpenicilina, mas são mais eficazes contra bacilos gram-negativos. Essas penicilinas de espectro estendido são usadas amplamente também no tratamento de infecções respiratórias, e a amoxicilina é empregada profilaticamente por odontólogos em pacientes de alto risco, para prevenir a endocardite bacteriana. A resistência a esses antimicrobianos é atualmente um problema clínico importante devido à inativação por penicilinase mediada por plasmídeo. A formulação com um inibidor da β-lactamase, como ácido clavulânico ou sulbactam, protege a amoxicilina ou a ampicilina, respectivamente, da hidrólise enzimática e amplia seu espectro antimicrobiano. Algumas penicilinas também estão disponíveis em associação a inibidores de β-lactamases (p. ex., amoxicilina + ácido clavulânico, ampicilina + sulbactam). A hidrólise do anel β-lactâmico, seja por hidrólise enzimática com β- lactamase ou por ácidos, destrói a atividade antimicrobiana do fármaco β-lactâmico. Inibidores da β-lactamase, como ácido clavulânico, sulbactam e tazobactam, contêm um anel β-lactâmico, mas por si não têm atividade antibacteriana significativa nem causam algum efeito adverso significativo. Ao contrário, ligam-se às β-lactamases e as inativam, protegendo, assim, os antimicrobianos que normalmente seriam substratos dessas enzimas. Por isso, os inibidores das β- lactamases são formulados em associação com os antimicrobianos suscetíveis à β-lactamase. EFEITOS COLATERAIS: Entre as principais reações adversas das penicilinas estão as reações de hipersensibilidade, que variam de erupções cutâneas até choque anafilático. 7 Alline Alvarez Hipersensibilidade: aproximadamente 5% dos pacientes têm algum tipo de reação, variando de urticária até angioedema (inchaço acentuado de lábios, língua e área periorbital) e anafilaxia. Por ordem aproximada de frequência decrescente, as manifestações da alergia a penicilinas incluem erupção maculopapular, erupção urticarifonne, febre, broncospasmo, vasculite, doença do soro, dermatite esfoliativa, síndrome de Stevens-Johnson e anafilaxia. Diarreia: quando as penicilinas são administradas oralmente, em especial as de amplo espectro, alteram a flora bacteriana do intestino. Isso pode estar associado a distúrbios gastrointestinais e, em alguns casos, a suprainfecções através de outros microrganismos resistentes à penicilina, provocando problemas como a colite pseudomembranosa (causada por Clostridium difficile) CEFALOSPORINA As cefalosporinas têm o mesmo mecanismo de ação das penicilinas e são afetadas pelos mesmos mecanismos de resistência. Contudo, elas tendem a ser mais resistentes a certas β-lactamases do que as penicilinas. As cefalosporinas atuam inibindo a síntese da parede celular. 8 Alline Alvarez Primeira geração: As cefalosporinas de primeira geração atuam como substitutas da benzilpenicilina. Elas são resistentes à penicilinase do estafilococo (isto é, elas atuam sobre MSSA). As cefalosporinas de primeira geração apresentam atividade predominante contra cocos Gram-positivos, incluindo Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes e S. agalactiae. Não são ativas perante S. pneumoniae. As cefalosporinas de segunda geração não apresentam vantagens com relação às de primeira geração diante de cocos Gram-positivos. No entanto, são mais ativas contra microrganismos Gram-negativos e têm boa atividade contra Haemophilus influenzae. As cefalosporinas de segunda geração têm pouca atividade contrapneumococos. (S.pneumonie). As cefalosporinas de terceira geração têm atividade aumentada contra bacilos gram-negativos, incluindo os já mencionados, bem como contra a maioria dos outros microrganismos entéricos. Ceftriaxona (rocefin) e cefotaxima tornaram-se os fármacos de escolha no tratamento da meningite. A cefotaxima e a ceftriaxona são os β-lactâmicos mais ativos e eficazes perante S. pneumoniae. As cefalosporinas de terceira geração têm um espectro de ação maior frente a bacilos Gram-negativos e, por seu caráter mais hidrofílico, atravessam a BHE, podendo ser utilizadas no tratamento de meningites. Como as penicilinas, as cefalosporinas são geralmente bem toleradas. Contudo, as reações alérgicas são um problema. Pacientes que tiveram 9 Alline Alvarez resposta anafilática, síndrome de Stevens-Johnson ou necrólise epidermal tóxica a penicilinas não devem receber cefalosporinas. As cefalosporinas devem ser evitadas ou usadas com cautela em pessoas com alergia a penicilina. CARBAPENÊMICOS Os principais fármacos da classe são o imipeném, o meropeném e o ertapeném. Têm o mesmo mecanismo de ação das penicilinas e cefalosporinas, isto é, inibem a síntese da parede celular bacteriana. 10 Alline Alvarez São antimicrobianos β-lactâmicos de largo espectro de ação, que, por serem resistentes às β-lactamases, devem ser utilizados exclusivamente em infecções por microrganismos resistentes aos demais β-lactâmicos, sendo restritos ao uso hospitalar. Espectro muito amplo de atividade antimicrobiana (Gram +,Gram - aeróbios e anaeróbios). Reservado para infecções hospitalares graves causadas por bactérias altamente resistentes aos outros β-lactâmicos (i.v ou i.m.) O meropeném é mais ativo contra bactérias Gram-negativas, enquanto o imipeném apresenta atividade superior contra Gram-positivos. Não são absorvidos por via oral, devendo ser administrados por via intravenosa ou intramuscular. O imipeném é geralmente utilizado em associação à cilastatina. A cilastatina é um inibidor específico da enzima que degrada o imipeném nos rins, prolongando substancialmente a ação deste fármaco no organismo. É administrado em conjunto com a cilastatina, que inibe sua inativação pelas enzimas renais. O imipeném sofre clivagem pela desidropeptidase existente no bordo em escova do túbulo renal proximal. Essa enzima forma um metabólito inativo que é potencialmente nefrotóxico. A associação de imipeném e cilastatina protege o fármaco e, assim, evita a formação do metabólito tóxico. Efeitos Adversos: Mais comuns: náuseas e vômitos. Podem ocorrer também convulsões quando esses são administrados em altas doses. Pacientes alérgicos a outros β-lactâmicos também podem desenvolver reações de hipersensibilidade quando tratados com carbapenêmicos. MONOBACTÂMICOS Fármaco: Aztreonam Tem ação bactericida e atua como as penicilinas e as cefalosporinas, interferindo na síntese da parede bacteriana. Espectro de ação restrito a microrganismos Gram-negativos aeróbios, podendo ser utilizado em substituição aos aminoglicosídeos ou à penicilina em pacientes alérgicos. Assim, esse fármaco pode ser uma alternativa segura no tratamento de pacientes alérgicos a penicilinas, cefalosporinas ou carbapenemos Esse antibiótico é resistente a muitas das β-lactamases produzidas por bactérias Gram-negativas, com exceção das associadas a Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemases. O aztreonam é administrado exclusivamente por via parenteral. Preço elevado limita o uso. 11 Alline Alvarez Em geral, é bem tolerado, mas alguns pacientes podem desenvolver reações de hipersensibilidade. Também pode causar flebite, erupções cutâneas e, ocasionalmente, testes de função hepática anormais. Mulher, 20 anos de idade, durante a consulta queixa-se de lesão indolor na vulva, percebida há 15 dias. Nega prurido ou dor, refere relação sempre desprotegida, sendo a última há 30 dias. Já fez tratamento para clamídia há 6 meses. Diante de lesão única, indolor, foi pedido exame direto em campo escuro. Também foram solicitados o VDRL sanguíneo. A paciente retorna com resultados dos exames: pesquisa positiva de treponema em campo escuro, VDRL 1/4 reagente. Foi diagnosticada com sífilis primária e iniciada terapia com antibiótico.Seis horas após a administração do antibiótico, paciente procura emergência com queixa de cefaléia, mialgia e mal-estar iniciados há 4 horas. Ao exame da chegada, foi verificada temperatura axilar de 38°C e pressão arterial de 90/60 mmHg, sem demais alterações. Feito o diagnóstico de reação de Jarisch-Herxheimer, é realizada a administração de antipiréticos e hidratação endovenosa. Paciente apresenta resolução completa dos sintomas em 24 horas. Qual a classe e o tipo de antibiótico é de escolha para o tratamento da paciente? * Beta-Lactâmicos (Penicilina). Antibiótico de escolha seria: Penicilina G benzatina. Qual o mecanismo de ação deste antibiótico? * •As penicilinas são inibidores da parede celular, pois interferem na última etapa da síntese da parede bacteriana (transpeptidação ou ligações cruzadas). •As penicilinas se ligam a proteína ligadora de penicilina (chamada transpeptidase). Dessa forma, a penicilina inibe a reação catalisada pela transpeptidase, consequentemente inibe a formação das ligações cruzadas essenciais para a integridade da parede celular. Como as bactérias tem uma elevada pressão osmótica internamente, sem uma parede celular rígida, essas bactérias se rompem devido a entrada de água por osmose quando são expostas a um ambiente com baixa pressão osmótica. Homem, 16 anos, estudante. Paciente refere indisposição geral e dores no corpo. Fez uso de paracetamol, sem melhora e horas após queixa-se de cefaleia, forte indisposição e sudorese profusa. Temperatura axilar de 39,6º C. Foi levado à emergencial hospitalar onde evidenciou-se rigidez de nuca, sinal de Kerning. Punção lombar levemente purulenta com diagnóstico de provável meningite bacteriana. Quais os principais agentes etiológicos causadores de meningite bacteriana? * Streptococcus pneumoniae e Neisseria meningitidis. 12 Alline Alvarez Qual seria o tratamento antimicrobiano indicado para este paciente? Justifique Ceftriaxona, pois as cefalosporinas de terceira geração têm um espectro de ação maior frente a bacilos Gram-negativos e, por seu caráter mais hidrofílico, atravessam a BHE, podendo ser utilizadas no tratamento de meningites. Além disso, a cefotaxima e a ceftriaxona são os β-lactâmicos mais ativos e eficazes perante S. pneumoniae e também possuem ação contra N. Meningitidis. Qual o mecanismo de ação e a classe desse antibiótico de escolha? * A ceftriaxona atua inibindo a síntese da parede celular. É um beta-lactâmico, cefalosporina. Que medidas farmacológicas devem ser adotadas com os comunicantes do paciente após confirmação do agente etiológico? MEDIDAS DE CONTROLE - Quimioprofilaxia: é feita em contatos íntimos do doente (pessoas que residem no mesmo domicílio, ou que compartilham o mesmo dormitório em internatos, quartéis, creches). Rifampicina: - adultos: 600 mg VO 12/12 horas por 2 dias - crianças: 20 mg/kg/dose VO 12/12 horas por 2 dias - < 1 mês: 10 mg/kg/dia VO 12/12 horas por 2 dias Ceftriaxone: - adultos: 250mg IM dose única - crianças: 125mg IM dose única http://www2.ebserh.gov.br/documents/147715/0/Quimioprofilaxia+para+meningi tes+bacterianas-RSUFTJWJ.pdf/bed0e694-c44a-4ce8-a87e-9af4525d626f Doença meningocócica - Contactantes domiciliares (residentes no mesmo domicílio) - Quartéis e orfanatos: dormir no mesmo quarto - Creche e pré- escola: crianças da mesma sala e mesmo período - Pessoas expostas diretamente às secreções de orofaringe, por exemplo, através de beijos - Profissionais de saúde que tenhamse exposto a secreções respiratórias sem uso de máscara cirúrgica durante: entubação traqueal, aspiração de secreções ou que tenham realizado respiração boca-a-boca ou exame de fundo de olho. GLICOPEPTÍDEOS Fármacos: vancomicina, teicoplanina. Mecanismo de ação: Apresentam mecanismo de ação múltiplo, inibindo a síntese de peptideoglicano, alterando a permeabilidade da membrana citoplasmática e interferindo na síntese de RNA citoplasmático. Dessa maneira, inibem a síntese da parede celular bacteriana. Espectro de ação: limitado a microrganismos Gram-positivos aeróbicos e anaeróbicos. http://www2.ebserh.gov.br/documents/147715/0/Quimioprofilaxia+para+meningites+bacterianas-RSUFTJWJ.pdf/bed0e694-c44a-4ce8-a87e-9af4525d626f http://www2.ebserh.gov.br/documents/147715/0/Quimioprofilaxia+para+meningites+bacterianas-RSUFTJWJ.pdf/bed0e694-c44a-4ce8-a87e-9af4525d626f 13 Alline Alvarez Indicações: a principal indicação dos glicopeptídeos é para o tratamento de infecções causadas por S. aureus resistentes à meticilina ou por estafilococos coagulase-negativa. OBSERVAÇÃO: É recomendado evitar ao máximo o uso empírico e indiscriminado desses antibióticos para impedir o desenvolvimento de resistência bacteriana, exceto em casos graves, como na meningite ou sepse em imunodeprimidos, e na colite pseudomembranosa decorrente do uso de outros antibióticos. A via de administração, exclusivamente parenteral, e o reduzido espectro de atividade fazem com que a utilização dos glicopeptídeos seja unicamente de âmbito hospitalar. Efeitos adversos: flebite no local de aplicação, calafrios, náuseas e vômitos. Devem ser usados com cautela quando em associação a outros antibióticos nefrotóxicos, pois isso pode acentuar a toxicidade. FOSFOMICINA A fosfomicina é um antibiótico de amplo espectro e baixa toxicidade Mecanismo de ação: inibe a síntese da parede celular e também é capaz de reduzir a aderência bacteriana às células uroepiteliais. Indicação: a fosfomicina é indicada para o tratamento de infecções do trato urinário, principalmente nos casos de cistite aguda. A maioria das cepas de Escherichia coli isolada de infecções urinárias tem demonstrado suscetibilidade a este fármaco. Sua utilização é segura na gravidez. INIBIDORES DE MEMBRANA PLASMÁTICA POLIMIXINAS E DAPTOMICINA POLIMIXINAS B e E (colistimetato) Mecanismo de ação: Têm ação bactericida contra bactérias Gram-negativas, principalmente Pseudomonas spp., Acinetobacter spp. e enterobactérias. Além de potente atividade bactericida, as polimixinas também apresentam atividade antiendotoxina. O lipídeo A da molécula de lipossacarídeo, que representa a endotoxina da bactéria Gram-negativa, é neutralizado pelas polimixinas. As polimixinas interagem com a molécula de polissacarídeo da membrana externa das bactérias Gram-negativas, retirando o cálcio e o magnésio necessários para a estabilidade do polissacarídeo. Esse processo é independente da entrada do antimicrobiano na célula bacteriana e resulta em aumento de permeabilidade da membrana com rápida perda de conteúdo celular e morte da bactéria. Indicação: as polimixinas são utilizadas principalmente, por via tópica, para o tratamento de infecções oftálmicas, otológicas e cutâneas. 14 Alline Alvarez Efeitos adversos: Nefrotoxicidade, principalmente insuficiência renal aguda, e neurotoxicidade (fraqueza, parestesias periféricas e faciais, oftalmoplegia, dificuldade de deglutição, ataxia, ptose palpebral, bloqueio muscular e insuficiência respiratória) são os principais efeitos adversos, revertidos com a suspensão do fármaco. Podem ocorrer também dor no local da injeção, tromboflebite e reações anafilactoides com dispneia e taquicardia. Pacientes com insuficiência renal devem ter a dose ajustada. Quando utilizadas por via tópica, não provocam reações sistêmicas. Devido aos efeitos adversos, seu uso foi reduzido nas décadas de 1970 e 1980. No entanto, o aparecimento de bactérias Gram-negativas multirresistentes, principalmente em pacientes internados em unidades de terapia intensiva, retomou o interesse por esses fármacos. DAPTOMICINA O espectro de ação da daptomicina é semelhante ao da vancomicina. Apresenta ação contra bactérias Gram-positivas, tais como estreptococos β-hemolítico, S. aureus resistentes à meticilina e enterococos resistentes à vancomicina. Apesar de apresentar excelente atividade in vitro contra pneumococos, a daptomicina é inativada pelo surfactante pulmonar, não podendo, dessa maneira, ser utilizada no tratamento de pneumonia. A administração é exclusivamente por via intravenosa. Efeitos Colaterais: a principal toxicidade da daptomicina consiste em lesão do sistema musculoesquelético. Recomenda-se monitorar semanalmente os níveis da enzima creatinofosfoquinase. Indicações: é indicada para o tratamento de infecções complicadas da pele e de tecidos moles e para bacteremia complicada e endocardite localizada no lado direito 15 Alline Alvarez INIBIDORES METABÓLITOS SULFONAMIDAS Fármacos: sulfametoxazol (em geral, combinado com trimetoprima, como cotrimoxazol), sulfassalazina, sulfadiazina de prata. Indicações: O sulfametoxazol geralmente é administrado em associação a inibidores da di-hidrofolato redutase (trimetoprima ou pirimetamina). Essa combinação sinérgica resulta em ação bactericida. Espectro de ação: Esses fármacos inibem bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Podem ser alternativa contra S. aureus resistente à meticilina, sendo principalmente utilizados em infecções do trato urinário, respiratório e prostatite, exceto as causadas por E. coli, dado o aumento de cepas resistentes. As sulfonamidas são ativas contra infecções no trato urinário por Enterobacteriaceae selecionada e Nocardia. A combinação sulfametoxazol-trimetroprima é considerada de escolha para o tratamento de pneumonia por P. jiroveci e nas infecções por Nocardia spp. Já a associação de sulfadiazina-pirimetamina é empregada no tratamento da toxoplasmose. A sulfadoxina associada com pirimetamina é usada como antimalárico. A sulfassalazina, não é absorvida quando administrada por via oral, é utilizada para o tratamento da colite ulcerativa a doença de Crohn. Sulfadiazina de prata é aplicada de forma tópica para, por exemplo, tratar queimaduras infectadas. Mecanismo de ação: Sulfanilamida é um análogo do PABA (ácido p-aminobenzoico) que é um precursor essencial na síntese do ácido fólico, necessário para a síntese de DNA e RNA nas bactérias. As sulfonamidas são inibidores competitivos da enzima di-hidropteroato sintetase, e os efeitos da sulfonamida podem ser sobrepostos acrescentando PABA suplementar. 16 Alline Alvarez As sulfonamidas são análogos sintéticos do PABA. Devido à sua semelhança estrutural com o PABA, elas competem com esse substrato pela enzima bacteriana, a di-hidropteroato sintetase. Interações medicamentosas: Por essa razão, alguns anestésicos locais, e que são ésteres PABA (tal como a procaína; podem antagonizar o efeito antibacteriano desses agentes. Efeitos adversos: Náuseas e vômitos, cefaleia e depressão. Pode ocorrer hepatite, reações de hipersensibilidade (eritemas, angioedema e síndrome de Stevens-Johnson), febre, reações anafiláticas; Insuficiência da medula óssea e insuficiência renal aguda decorrente de nefrite tubulointersticial ou cristalúria. As sulfonamidas podem provocar o aparecimento de cristalúria, principalmente em pH urinário neutro ou ácido, devendo ser evitadas em pacientes com insuficiência renal. Cristalúria: Pode-se desenvolver nefrotoxicidade como resultado da cristalúria. As sulfas são acetiladas e conjugadas, primariamente, no fígado. O produto acetilado é isento de atividade antimicrobiana,mas retém o potencial tóxico de precipitar em pH neutro ou ácido. Isso causa cristalúria e, assim, potencialmente lesa os rins. Distúrbios hematopoiéticos: Anemia hemolítica é encontrada em pacientes com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD). Também podem ocorrer granulocitopenia e trombocitopenia. Têm sido relatadas reações fatais de agranulocitose, anemia aplástica e outras discrasias sanguíneas associadas. Icterícia nuclear (kernicterus): Esse distúrbio pode ocorrer em recém- nascidos, pois a sulfa desloca a bilirrubina dos locais de ligação na 17 Alline Alvarez albumina sérica. A bilirrubina fica livre para entrar no SNC, pois a barreira hematencefálica do recém-nascido ainda não está completamente desenvolvida. Potencialização de fármacos: Ocorre potencialização temporária do efeito anticoagulante da varfarina devido ao seu deslocamento dos locais de ligação na albumina sérica. Contraindicações: Devido ao risco de icterícia nuclear, as sulfas devem ser evitadas em recém-nascidos e crianças com menos de 2 meses, bem como em gestantes a termo. Resistência: Bactérias que conseguem obter o folato do ambiente são naturalmente resistentes às sulfonamidas. A resistência bacteriana pode ser adquirida pela transferência de plasmídeos ou por mutações aleatórias. A resistência em geral é irreversível e pode ser devida 1) à alteração da di-hidropteroato sintetase; 2) à diminuição da permeabilidade celular às sulfonamidas ou 3) à maior produção do substrato natural, PABA para competir com as sulfonamidas na síntese de ácido fólico. Desenvolvimento uma via metabólica alternativa para a síntese de ácido fólico. TRIMETROPIMA A trimetoprima, um inibidor potente da di-hidrofolato redutase bacteriana, tem espectro antibacteriano similar ao das sulfonamidas. Ela é associada com mais frequência a sulfametoxazol, produzindo a combinação denominada cotrimoxazol. Cotrimoxazol = sulfametoxazol + trimetoprima Mecanismo de ação: Trimetoprima inibe a di-hidrofolato redutase, impedindo a conversão de ácido di-hidrofólico em ácido tetra-hidrofólico (forma ativa do folato). A forma ativa do folato é o derivado tetra-hidrofólico formado pela redução do ácido di-hidrofólico pela di-hidrofolato redutase. Essa reação enzimática é inibida pela trimetoprima, diminuindo a disponibilidade do cofator tetra-hidrofolato necessário para síntese de purina, pirimidina e aminoácidos. A redutase bacteriana tem afinidade muito maior pela trimetoprima do que a enzima dos mamíferos, o que causa a toxicidade seletiva do fármaco. 18 Alline Alvarez Efeitos adversos: A trimetoprima pode produzir os efeitos da deficiência de ácido fólico. Esses efeitos incluem anemia megaloblástica, leucopenia e granulocitopenia, especialmente em gestantes e nos pacientes que têm dietas muito pobres. Esses distúrbios sanguíneos podem ser revertidos com a administração simultânea de ácido folínico, o qual não entra na bactéria. A trimetoprima pode ocasionar anemia megaloblástica, leucopenia e granulocitopenia em pacientes que apresentam células com deficiência de folato. Indicações: No Reino Unido, o uso do cotrimoxazol está geralmente restrito ao tratamento da pneumonia Pneumocystis carinii (agora conhecida como P. jirovecii, uma infecção fúngica), Toxoplasmose (uma infecção por protozoários) ou nocardiose (uma infecção bacteriana Resistência A resistência das bactérias gram-negativas é devida à presença de uma di-hidrofolato redutase alterada que tem menor afinidade pela trimetoprima. Bombas de efluxo e diminuição da permeabilidade ao fármaco podem ter participação. 19 Alline Alvarez COTRIMOXAZOL: Mecanismo de ação A atividade antimicrobiana sinérgica do cotrimoxazol resulta da inibição de duas etapas sequenciais na síntese do ácido tetra-hidrofólico. O sulfametoxazol inibe a incorporação do PABA nos precursores do ácido di-hidrofólico, e a trimetoprima previne a redução do di-hidrofolato a tetra-hidrofolato. As sulfonamidas são bacteriostáticas; interferem na síntese do folato e, em consequência, também na síntese dos nucleotídeos. Os efeitos adversos incluem cristalúria e hipersensibilidade. A trimetoprima é bacteriostática. Atua por meio da inibição do folato. 20 Alline Alvarez INIBIDORES DE ÁCIDOS NUCLEICOS FLUORQUINOLONAS Fármacos: • 1a geração: ácido nalidíxico (v.o.) – apenas para ITU • 2a geração: ciprofloxacino (v.o., i.v., intra-ocular), norfloxacino (v.o.) e ofloxacino (intra-ocular) • 3a geração: levofloxacino (v.o.), moxifloxacino (v.o.) • 4a geração: gemifloxaxino (v.o): cerca de 32 vezes mais potente que levofloxacino contra pneumococo. • Amplo espectro de ação As quinolonas de 3a geração são conhecidas como quinolonas respiratórias: boas opções de tratamento para infecções respiratórias altas e pneumonias adquiridas na comunidade. Mecanismo de ação: As fluoroquinolonas entram na bactéria através de canais de porina e inibem a DNA-girase (topoisomerase II) e topoisomerase IV da bactéria. Topoisomerase II (DNA girase) – responsável pelo relaxamento do DNA superenovelado. Topoisomerase IV – responsável pela separação do DNA na célula filha Resultado: inibição da síntese de ácidos nucléicos = ação bactericida. A inibição da DNA-girase impede o relaxamento do DNA superespiralado, promovendo quebra da fita de DNA. A inibição da topoisomerase IV impacta a estabilização cromossomal durante a divisão celular, interferindo com a separação do DNA recém-replicado. Em microrganismos gram-negativos (p. ex., Pseudomonas aeruginosa), a inibição da DNA-girase é mais significativa do que a da topoisomerase IV, ao passo que, nos gram-positivos (p. ex., Streptococcus pneumoniae), é o contrário. 21 Alline Alvarez Ciprofloxacino: Tem largo espectro tanto contra microrganismos Gram-positivos quanto contra os Gram-negativos, incluindo Enterobacteriaceae (bacilos Gram- negativos entéricos), muitos microrganismos resistentes à penicilina, cefalosporinas e aminoglicosídeos e também contra H. influenzae, N. gonorrhoeae produtoras de penicilinases, Campylobacter spp. e pseudomonas. No caso dos microrganismos Gram-positivos, os estreptococos e os pneumococos são apenas inibidos de forma fraca, havendo grande incidência de resistência aos estafilococos. A ciprofloxacina deve ser evitada nas infecções por MRSA. Clinicamente, as fluoroquinolonas são mais aconselhadas no caso de infecções por bacilos e cocos Gram-negativos aeróbios. Das fluoroquinolonas, ele é o que tem melhor atividade contra P. aeruginosa, sendo usado comumente em pacientes com fibrose cística. A diarreia do viajante, causada por E. coli, bem como a febre tifoide, causada por Salmonella typhi, podem ser tratadas com eficácia com ciprofloxacino. Além disso, essas fluoroquinolonas (de 2ºgeração) têm penetração intracelular significativa, permitindo o tratamento de infecções em que as bactérias passam parte de seu ciclo (ou todo o ciclo) no interior da célula hospedeira (p. ex., clamídia, micoplasma e micobactérias). Levofloxacino: Devido a seu amplo espectro de ação, o levofloxacino é usado contra uma ampla gama de infecções, incluindo prostatites, infecções na pele, pneumonias adquiridas na comunidade. Ao contrário do ciprofloxacino, o levofloxacino tem excelente atividade contra infecções respiratórias por S. pneumoniae. Moxifloxacino: Tem maior atividade contra microrganismos gram-positivos (p. ex., S. pneumoniae) como também tem excelente atividade contra vários anaeróbios. Ele tem pouca atividade contra P. aeruginosa. O moxifloxacino não se concentra na urina e não é indicado no tratamento de ITUs. EFEITOS COLATERAIS: Náuseas, êmese e diarreia. Podem ocorrercefaleia e tonturas ou leve atordoamento. Assim, pacientes com distúrbios do sisterma nervoso central (SNC), como epilepsia, devem ser tratados cautelosamente com esses fármacos. Em pacientes com mais de 60 anos, há aumento no risco de tendinites e rotura de tendões, principalmente quando associado ao uso de corticosteroides. 22 Alline Alvarez Contraindicações: O uso desses fármacos é contraindicado em pacientes menores de 18 anos de idade, em gestantes ou lactentes, em decorrência de sua potencial toxicidade para cartilagens em crescimento. (Nota: indica-se cuidadosa monitoração de crianças com fibrose cística que recebem fluoroquinolonas contra exacerbações pulmonares agudas.) Moxifloxacino e outras fluoroquinolonas podem prolongar o intervalo QT e, assim, não devem ser usados em pacientes predispostos a arritmias ou naqueles que estão sob tratamento com outros medicamentos que causam prolongamento do intervalo QT. As fluoroquinolonas podem causar fototoxicidade, e pacientes sob medicação com esses fármacos devem ser alertados para usar protetor solar e evitar expor-se excessivamente ao sol. Além de artropatia em pacientes jovens, também foram observados sintomas do sistema nervoso central – dor de cabeça e tonturas – e, com menos frequência, convulsões associadas a patologias do sistema nervoso central ou ao uso prolongado de teofilina ou fármacos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). Existe uma interação clinicamente importante entre ciprofloxacina e teofilina (através da inibição das enzimas P450), que pode provocar toxicidade devido à teofilina em pacientes asmáticos tratados com fluoroquinolonas. Os antiácidos de alumínio e magnésio interferem na absorção das quinolonas. Observação: quinolonas podem estar associadas a eventos adversos sérios (injúrias em tendões, músculos, articulações, nervos e no sistema nervoso central) e que este risco suplanta o benefício de seu uso em pacientes com sinusite aguda, exacerbação aguda de bronquite crônica e infecções 23 Alline Alvarez urinárias não complicadas, onde outras opções terapêuticas, como os antibióticos betalactâmicos, estão disponíveis, Resistência Alteração do local de ligação: Mutações cromossômicas em genes bacterianos (p. ex., gyrA ou parC) têm sido associadas com diminuição da afinidade das fluoroquinolonas pelo local de ação. Topoisomerase IV e DNA-girase podem sofrer mutações. Diminuição no acúmulo: A diminuição da concentração intracelular se deve a 1) canais porina e 2) bombas de efluxo. O primeiro envolve diminuição do número de proteínas porinas na membrana externa das células resistentes, impedindo o acesso do fármaco às topoisomerases intracelulares. O segundo mecanismo bombeia a fluoroquinolona para fora da células. RIFAMPICINA Mecanismo de ação: atua ligando-se e inibindo a enzima RNA- polimerase dependente de DNA das células procarióticas. Consequentemente, exerce seu efeito bactericida por meio da inibição da síntese de RNA bacteriano. Indicações: tratamento da tuberculose em associação a outros fármacos, sendo de escolha na quimioprofilaxia de infecções meningocócicas. Penetra nas células fagocitárias e pode, desse modo, eliminar microrganismos intracelulares, incluindo o bacilo da tuberculose. Também é ativo na lepra e em grande parte das bactérias Gram- positivas, bem como em muitas espécies Gram-negativas. Por causa de sua excelente atividade frente a estafilococos e pneumococos, associada a outros microbianos, é útil no tratamento de infecções graves (meningite), complexas (osteomielite crônica) ou difíceis (bactérias multirresistentes, presença de barreiras orgânicas). O uso deve ser restringido nas demais infecções, dada a rapidez com que causa resistência. Os pacientes que recebem esse fármaco apresentam urina, suor e lágrimas com coloração alaranjada. Interações Medicamentosas: os efeitos adversos são pouco comuns (erupções cutâneas, trombocitopenia e hepatite). Uma característica importante da rifampicina é a indução das enzimas hepáticas metabolizadoras de fármacos. Ocorre aumento na degradação de diversos fármacos, como varfarina, corticoides, analgésicos opioides, antidiabéticos e anticoncepcionais orais. Rifampicina pode acelerar o metabolismo das células hepáticas, resultando em aumento da degradação de varfarina, glicocorticoides, analgésicos narcóticos, fármacos orais antidiabéticos, dapsona e estrógenos (razão pela qual se desaconselha o uso de contraceptivos orais). 24 Alline Alvarez Pacientes HIV positivos que desenvolvem tuberculose devem receber atenção especial quando tratados com rifampicina. É contraindicada em pacientes recebendo a combinação de ritonavir e saquinavir, dado a risco de toxicidade hepatocelular severa. A indução enzimática provocada pelo uso da rifampicina pode diminuir as concentrações plasmáticas de antirretrovirais, tais como atazanavir, darunavir e fosamprenavir, resultando perda da eficácia e/ou resistência viral. Os efeitos adversos são relativamente pouco frequentes. Os mais comuns são erupções cutâneas, febre e distúrbios gastrointestinais. Foram reportados danos no fígado acompanhados por icterícia, que, numa proporção muito pequena de pacientes, revelaram-se fatais; a função hepática deve ser avaliada antes de iniciar o tratamento. INIBIDORES DA SÍNTESE PROTEICA MACROLÍDEOS Exemplos: Claritromicina e Azitromicina (mais usadas); Eritromicina. A eritromicina foi o primeiro desses antimicrobianos a encontrar aplicação clínica como fármaco de primeira escolha e como alternativa às penicilinas em indivíduos que são alérgicos aos antimicrobianos β- lactâmicos. Mecanismo de ação: Os macrolídeos se ligam irreversivelmente a um local na subunidade 50S do ribossoma bacteriano, inibindo, assim, etapas de translocação na síntese de proteínas (Fig. 39.2). Eles também podem interferir em outras etapas, como a transpeptização. Geralmente considerados bacteriostáticos, os macrolídeos podem ser bactericidas em dosagens mais elevadas. 25 Alline Alvarez Espectro antibacteriano 1. Eritromicina: É eficaz contra vários dos mesmos microrganismos da benzilpenicilina. Por isso ela pode ser usada em pacientes alérgicos à benzilpenicilina. 2. Claritromicina: Tem atividade similar à da eritromicina, mas também é ativa contra Haemophilus influenzae. Sua atividade contra patógenos intracelulares, como Chlamydia, Legionella, Moraxella, espécies de Ureaplasma e Helicobacter pylori, é maior do que a atividade da eritromicina. 3. Azitromicina: Embora menos ativa contra estreptococos e estafilococos do que a eritromicina, a azitromicina é muito mais ativa contra as infecções respiratórias por H. influenzae e Moraxella catarrhalis. A azitromicina é o tratamento preferido contra uretrites causadas por Chlamydia trachomatis. Pode ser utilizada para tratar Toxoplasma gondii, uma vez que elimina os quistos. O Mycobacterium avium é combatido preferencialmente com um regime contendo macrolídeo, incluindo claritromicina ou azitromicina. (que pode infectar pacientes imunologicamente comprometidos e pacientes idosos com doenças crônicas dos pulmões). USOS CLÍNICOS: • Alternativa terapêutica em alérgicos à penicilina • Pneumonia na comunidade • Tratamento da H. pylori (claritromicina + amoxicilina + IBP) • Prevenção de endocardite após procedimento odontológico • Infecções superficiais de pele (Streptococcus pyogenes), • Profilaxia de febre reumática (faringite estreptocócica) • São considerados primeira escolha no tratamento de pneumonias por 26 Alline Alvarez bactérias atípicas (Mycoplasma pneumoniae, Legionella pneumophila, Chlamydia spp.) • Tratamento de gonorréia – azitromicina (v.o) + ceftriaxona (i.m.) Efeitos colaterais: Náuseas,vômitos e desconforto gastrintestinal. A eritromicina, sob a apresentação de estolato, pode provocar hepatotoxicidade e Icterícia colestática: Este efeito ocorre especialmente com a forma estolato da eritromicina, contudo, foi relatado para outras formulações. Ototoxicidade: Surdez transitória foi associada à eritromicina, especialmente em dosagens elevadas. A azitromicina também foi associada com perda auditiva neurossensorial irreversível. Contraindicações: Pacientes com disfunção hepática devem ser tratados com cautela com eritromicina, telitromicina ou azitromicina, pois esses fármacos acumulam no fígado. Além disso, os macrolídeos e cetolídeos podem prolongar o intervalo QT e devem ser usados com cautela em pacientes com condições pré- arrítmicas ou uso concomitante de fármacos pró-arrítmicos. Juntamente com a claritromicina, a eritromicina também pode provocar arritmias cardíacas em cardiopatas. Interações Medicamentosas: Eritromicina e claritromicina inibem a CYP3A4 e estão associadas a interações medicamentosas significativas. Ambos os fármacos potencializam os efeitos de carbamazepina, corticoides, ciclosporina, digoxina, teofilina, entre outros. Eritromicina, telitromicina e claritromicina inibem a biotransformação hepática de inúmeros fármacos, o que pode levar ao acúmulo tóxico desses compostos. Pode ocorrer interação com digoxina. Nesse caso, o antimicrobiano elimina espécies da flora intestinal que ordinariamente inativam a digoxina, levando, assim, à sua maior reabsorção na circulação entero- hepática. 27 Alline Alvarez TETRACICLINAS Fármacos: tetraciclina, doxiciclina São bacteriostáticas Mecanismo de ação: ligam-se, de maneira reversível, à porção 30S do ribossomo, bloqueando a ligação do RNA transportador e a síntese proteica bacteriana. Elas se ligam reversivelmente à subunidade 30S do ribossomo bacteriano. Essa ação impede que o RNA transportador (RNAt) se ligue ao complexo RNA mensageiro (RNAm)-ribossoma, inibindo, assim, a síntese de proteínas da bactéria. Indicações: Doxiciclina e à minociclina, mais lipossolúveis e que são importantes no tratamento de infecções causadas por S. aureus resistentes à meticilina e por bactérias intracelulares. Elas são usadas com frequência no tratamento da acne e de infecções por Chlamydia (doxiciclina). O espectro de ação antimicrobiana das tetraciclinas é muito amplo e inclui bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, Mycoplasma, Rickettsia, Chlamydia spp., espiroquetas e alguns protozoários (p. ex., ameba). Efeitos adversos: A administração oral de tetraciclinas pode provocar irritação gastrintestinal. Menos frequentemente, podem produzir colite pseudomembranosa por C. difficile e favorecer a proliferação de leveduras, em particular de Candida spp. Deve-se evitar a exposição solar, dado o risco de fotossensibilização. As tetraciclinas quelam cátions. A absorção desses fármacos fica, portanto, comprometida na presença de laticínios, antiácidos e suplementos contendo ferro, magnésio, zinco etc. (Nota: As tetraciclinas devem ser tomadas em jejum.) Como se ligam ao cálcio, podem produzir arritmias. Podem também levar a efeitos tóxicos em células hepáticas e renais. Contraindicações: Em razão dessa capacidade de quelar cátions e de se depositarem em ossos e dentes, não devem ser utilizadas na gestação, amamentação e em crianças menores de 8 anos, pois podem levar a deformações ósseas e escurecimento dos dentes. Como as tetraciclinas são quelantes de íons metálicos (cálcio, magnésio, ferro e alumínio) que formam compostos não absorvíveis, a absorção é diminuída na presença de leite, alguns antiácidos e preparações com ferro. 28 Alline Alvarez Alterações na cor dos dentes em crianças, hipoplasia do esmalte dentário e crescimento ósseo anormal, principalmente se utilizadas durante a gestação; As tetraciclinas devem ser utilizadas com cautela em pacientes com problemas renais, o que pode agravar a azotemia (aumento dos níveis sanguíneos de compostos de nitrogênio) nesses pacientes. Em geral, a preferência é dada à doxiciclina por sua melhor tolerância e comodidade posológica. Fototoxicidade: Podem ocorrer queimaduras graves em pacientes que receberam tetraciclina e são expostos ao sol ou a radiações ultravioleta (UV). Essa toxicidade ocorre com qualquer tetraciclina, mas é mais frequente com tetraciclina e com demeclociclina. Os pacientes devem ser aconselhados a usar proteção solar adequada. Pseudotumor cerebral: Hipertensão intracraniana benigna caracterizada por cefaleia e visão embaçada ocorre raramente em adultos. Embora a interrupção do fármaco reverta essa condição, não está claro se podem ocorrer sequelas permanentes. Disfunção vestibular: Tonturas, vertigens e zumbidos podem ocorrer particularmente com minociclina, que se concentra na endolinfa do ouvido e afeta sua função. A doxiciclina também pode causar efeitos vestibulares. Outro efeito nas mulheres grávidas é a hepatotoxicidade. Também pode ocorrer fototoxicidade (sensibilidade à luz solar) principalmente com a demeclociclina. A minociclina pode produzir distúrbios vestibulares (tonturas e náuseas). 29 Alline Alvarez Doses elevadas de tetraciclinas podem reduzir a síntese proteica nas células do hospedeiro, um efeito antianabólico que, eventualmente, resulta em lesão renal. O tratamento prolongado pode provocar distúrbios da medula óssea; Mecanismo de resistência: • Reduz o acúmulo da droga no interior da célula usando bomba de efluxo • Alteração nas proteínas da membrana externa dificultam penetração AMINOGLICOSÍDEOS Fármacos: Estreptomicina, Gentamicina, Neomicina, Amicacina, Tobramicina Mecanismo de ação: Ligam-se à subunidade 30S dos ribossomos inibindo a síntese protéica ou produzindo proteínas defeituosas, exercendo efeito bactericida. O transporte do fármaco pela membrana plasmática bacteriana depende de oxigênio – ineficazes contra anaeróbios ou em condições de anaerobiose. A maioria deles dispõe de preparações para administração parenteral, oftálmica e tópica, sendo frequentemente utilizados em combinação com fármacos que inibem a síntese de parede celular. Em decorrência de sua natureza polar, são pouco absorvidos pelo trato gastrintestinal, sendo administrados principalmente por via intravenosa ou intramuscular. Espectro de ação: Os aminoglicosídeos são usados para o tratamento de infecções graves decorrentes de bacilos gram-negativos aeróbicos. Os aminoglicosídeos são eficazes contra a maioria dos bacilos aeróbicos gram-negativos, incluindo os que podem ser resistentes a múltiplos fármacos, como Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae e Enterobacter sp. Além disso, os aminoglicosídeos são associados, com frequência, a antimicrobianos β-lactâmicos para obter efeito sinérgico, particularmente no tratamento de endocardite infecciosa por Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium. Efeitos adversos: Ototoxicidade: A ototoxicidade (vestibular e coclear) está relacionada diretamente com picos plasmáticos elevados e com a duração do tratamento. O antimicrobiano acumula na endolinfa e na perilinfa do ouvido interno. A surdez pode ser irreversível e também atinge o feto em desenvolvimento. Pacientes que recebem fármacos ototóxicos concomitantes, como a cisplatina ou os diuréticos de alça, são particularmente suscetíveis. Vertigens (especialmente em pacientes que recebem estreptomicina) também podem ocorrer. 30 Alline Alvarez Nefrotoxicidade: A retenção dos aminoglicosídeos pelas células tubulares proximais interrompe os processos de transporte mediados por cálcio. Isso resulta em lesão renal que varia de insuficiência renal leve e reversível até grave, potencialmenteirreversível, e necrose tubular aguda. Os aminoglicosídeos são eliminados quase que inalterados por filtração glomerular. Se a função renal estiver comprometida, acumulam-se rapidamente, com consequente aumento dos efeitos tóxicos. Paralisia neuromuscular: Este efeito adverso está associado com aumento rápido da concentração (p. ex., doses altas infundidas em período curto) ou administração concomitante de bloqueadores neuromusculares. Pacientes com miastenia grave são particularmente suscetíveis. A imediata administração de gliconato de cálcio ou neostigmina pode reverter o bloqueio que causa a paralisia neuromuscular. Indicações: • Amicacina: maior espectro de ação. Tratamento de cistite e prostatite hospitalar • Comumente associados a betalactâmicos ou glicopeptídeos (efeito sinérgico) • Grande atividade contra bacilos e cocos gram-negativos Klebsiella spp., Serratia spp., Enterobacter spp., Haemophilus spp. e cepas de Pseudomonas aeruginosa. • Bactérias gram-positivas, entre elas: S. aureus, S. epidermidis, L. monocytogenes, Enterococcus faecalis (associados à penicilinas), além de serem ativas contra micobactérias (estreptomicina). ANFENICÓIS O uso do cloranfenicol, um antimicrobiano de amplo espectro, é restrito a infecções de alto risco, para as quais não existe alternativa. Mecanismo de ação: O cloranfenicol se liga reversivelmente à subunidade ribossomal bacteriana 50S e inibe a síntese proteica na reação de peptidiltransferase. Devido a alguma semelhança dos ribossomas mitocondriais de mamíferos e dos bacterianos, a síntese proteica e de trifosfato de adenosina (ATP) nessas organelas pode ser inibida com 31 Alline Alvarez níveis elevados circulantes de cloranfenicol, produzindo toxicidade na medula óssea. Espectro de ação: Espectro antibacteriano. O cloranfenicol é ativo contra vários tipos de microrganismos, entre os quais clamídeas, riquétsias, espiroquetas e anaeróbios. Ele é primariamente bacteriostático, mas, dependendo da concentração e do microrganismo, pode ser bactericida. É indicado apenas em pacientes graves, em situações específicas como nas infecções por enterococos resistentes à vancomicina, nas salmoneloses e principalmente no tratamento de febre tifoide, meningite bacteriana, epiglotite, artrite séptica e osteomielite por H. influenzae em pacientes alérgicos aos β-lactâmicos. Efeitos adversos Anemias: Os pacientes podem desenvolver anemia dose-dependente, anemia hemolítica (vista em pacientes com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase) e anemia aplástica. (Nota: a anemia aplástica é independente da dose e pode ocorrer depois que o tratamento termina.) O principal efeito adverso do cloranfenicol é a depressão medular grave idiossincrática, que resulta em pancitopenia (diminuição global dos elementos celulares do sangue) – um efeito que, embora raro, pode ocorrer mesmo com dosagens baixas em alguns pacientes. Síndrome do bebê cinzento: Os recém-nascidos têm baixa capacidade para glicuronizar o cloranfenicol e têm função renal subdesenvolvida. Portanto, os neonatos têm baixa capacidade de excretar o fármaco, o qual acumula em níveis que interferem na função dos ribossomas mitocondriais. Isso leva à má alimentação, à depressão respiratória, ao colapso cardiovascular, à cianose (daí o nome de “bebê cinzento”) e à morte. Adultos que recebem doses muito elevadas também podem exibir esse efeito tóxico. O cloranfenicol deve ser utilizado com muito cuidado em recém- nascidos, com a monitoração das concentrações no plasma, uma vez que a inativação ou excreção inadequadas do fármaco podem resultar na “síndrome cinzenta” – vômitos, diarreia, flacidez, baixa temperatura e cor acinzentada –, resultando em uma taxa de 40% de mortalidade. Podem surgir reações de hipersensibilidade, bem como distúrbios gastrointestinais, na sequência da alteração da flora microbiana intestinal. Interações farmacológicas: O cloranfenicol inibe algumas das oxidases hepáticas de função mista e, assim, bloqueia a biotransformação de fármacos como varfarina e fenitoína, aumentando suas concentrações e potencializando seus efeitos. 32 Alline Alvarez LINCOSAMINAS Fármacos: clindamicina e lincomicina Mecanismo de ação: Inibe a síntese proteica nos ribossomos, ligando-se à subunidade 50S, apresentando efeito bacteriostático. Indicações: A clindamicina é ativa contra S. aureus e S. pyogenes, e suas principais indicações clínicas são as infecções necrosantes e toxigênicas produzidas por essas bactérias. A clindamicina é ativa em cocos Gram-positivos, incluindo muitos estafilococos resistentes à penicilina. É empregada no tratamento de infecções dos ossos e articulações por estafilococos. É especialmente eficaz associada aos β-lactâmicos, na miosite necrosante estreptocócica e na pneumonia necrosante estafilocócica. Ela é usada primariamente no tratamento de infecções causadas por microrganismos gram-positivos, incluindo MRSA e estreptococos e bactérias anaeróbicas. A clindamicina também é utilizada em substituição à sulfonamida (sulfadiazina/sulfametoxazol) na terapia com pirimetamina utilizada no tratamento das infecções causadas por Toxoplasma gondii ou por Pneumocystis jiroveci. Também é eficaz no tratamento da acne vulgar e da vaginose bacteriana. Efeito adversos: O efeito adverso mais pronunciado com o uso da clindamicina é a diarreia. Até 10% dos pacientes podem desenvolver colite pseudomembranosa, causada pela proliferação de C. difficile. Caso clínico
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