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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS 
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
FRANCISLAINE ALVES NOGUEIRA DE ALMEIDA 
JANNAYNA AYRES SILVA 
 
 
 
O DIRECIONAMENTO TEÓRICO-POLÍTICO DA ENESSO: UMA ANÁLISE A 
PARTIR DOS CADERNOS DE DELIBERAÇÕES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VITÓRIA - ES 
2019
 
 
 
2 
 
 
 
FRANCISLAINE ALVES NOGUEIRA DE ALMEIDA 
JANNAYNA AYRES SILVA 
 
 
 
O DIRECIONAMENTO TEÓRICO-POLÍTICO DA ENESSO: UMA ANÁLISE A 
PARTIR DOS CADERNOS DE DELIBERAÇÕES 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado 
ao Departamento de Serviço Social do Centro 
de Ciências Jurídicas e Econômicas da 
Universidade Federal do Espírito Santo, como 
requisito parcial para obtenção do grau de 
Bacharel em Serviço Social. 
Orientadora: Profª Drª Silvia Neves Salazar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VITÓRIA - ES 
2019 
3 
 
 
 
FRANCISLAINE ALVES NOGUEIRA DE ALMEIDA 
JANNAYNA AYRES SILVA 
 
 
O DIRECIONAMENTO TEÓRICO-POLÍTICO DA ENESSO A PARTIR DOS 
CADERNOS DE DELIBERAÇÕES 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado 
ao Departamento de Serviço Social do Centro 
de Ciências Jurídicas e Econômicas da 
Universidade Federal do Espírito Santo, como 
requisito parcial para obtenção do grau de 
Bacharel em Serviço Social. 
Orientadora: Profª Drª Silvia Neves Salazar. 
 
 
 
Comissão Examinadora: 
 
 
 
 
________________________________________ 
Prof.ª Dra. Silvia Neves Salazar 
Universidade Federal do Espírito Santo 
 
 
 
________________________________________ 
Prof.ª Ms Suellen Silva da Cruz 
Universidade Federal do Espírito Santo 
 
 
 
________________________________________ 
Prof.ª Dra. Juliana Iglesias Melim 
Universidade Federal do Espírito Santo 
 
 
VITÓRIA 
2019 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicamos este trabalho aos estudantes de 
Serviço Social que constroem diariamente o 
Movimento Estudantil de Serviço Social. Aos 
que lutam pela materialização cotidiana do 
Projeto Ético-Político da profissão. Aos que 
acreditam e lutam pela transformação dessa 
sociedade. 
5 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço primeiramente a minha mãe, companheira e melhor amiga, por ter me 
proporcionado todo o suporte material para que eu fizesse essa graduação 
(sabemos que isso é um privilégio de poucos). Além disso, por me acompanhar e 
me orientar nesses anos de descobertas e transformações. Por me dar todo o apoio 
emocional, e estar sempre ao meu lado, me apoiando, mesmo nas minhas ideias 
mais loucas. Principalmente agora, que me encontro na experiência mais inesperada 
minha vida que é estar grávida e me tornando mãe. Obrigada Rachel, não há como 
descrever tamanha felicidade em ter a minha mãe como maior parceira dessa vida. 
 
Agradeço a todas as mulheres e amigas que fiz ao longo dessa graduação, cada 
uma com seu jeitinho e suas diferentes realidades, me fizeram enxergar muito além 
da minha bolha, e me ensinaram tanto sobre esse mundo louco. Obrigada pelos 
momentos de apoio, de troca e de afeto! Vivemos muitos momentos felizes juntas! 
E, apesar de termos vivido também, muitos momentos de angústia e dificuldades, 
diante destes eu levo o aprendizado e no meu coração eu levo vocês, sempre! Não 
ousaria citar nomes, pois se tem algo que a graduação me proporcionou foi o 
encontro com muitas mulheres incríveis, das quais muitas eu sei que terei o 
privilégio de continuar trilhando um caminho lindo de amizade e companheirismo. 
Obrigada minhas meninas-mulheres. Vocês sabem que é pra vocês! 
 
Agradeço as companheiras que militaram ao meu lado na ENESSO e no MESS, que 
construíram essa Executiva, enquanto nos foi possível. Agradeço a essa 
organização política, e a essa construção coletiva! O MESS me proporcionou 
vivências e aprendizados que supera o que a lógica capitalista nos impõe. 
Experiências autônomas e coletivas, que me fizeram crescer enquanto sujeito 
político, e também, enquanto ser humano. 
 
Agradeço a nossa orientadora Silvia Salazar por topar a missão que foi fazer esse 
trabalho em um curto prazo. Você confiou na gente! Fez com que fosse possível 
realizar esse trabalho antes de eu chegar no meu nono mês de gravidez. Acreditou e 
confiou na gente, o que precisávamos para que chegássemos até aqui. Obrigada! 
 
6 
 
 
 
 
Por fim, agradeço a oportunidade de crescimento político, pessoal, emocional que 
todos esses anos me proporcionaram. De fato, infelizmente vivenciar a universidade 
e o movimento estudantil não é uma possibilidade para muitos estudantes. E eu tive 
essa possibilidade! Vivi tudo o que eu podia! E aprendi muito com tudo! Cada aula, 
cada debate, cada manifestação, cada ocupação. Enfim, entrei uma Jannayna e saio 
outra pessoa. Agora, muito mais consciente de si, do mundo, do outro e grávida de 
oito meses da Olívia. Consciente de que o aprendizado e o conhecimento são 
eternos, e que a estrada continua. Na vida e na luta por uma sociedade livre de toda 
e qualquer exploração e opressão. 
 
“E aprendi que se depende sempre 
De tanta, muita, diferente gente 
Toda pessoa sempre é as marcas 
Das lições diárias de outras tantas pessoas 
 
E é tão bonito quando a gente entende 
Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá 
E é tão bonito quando a gente sente 
Que nunca está sozinho por mais que pense estar 
 
É tão bonito quando a gente pisa firme 
Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos 
É tão bonito quando a gente vai à vida 
Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração.” 
 
Gonzaguinha – Caminhos do Coração. 
 
 
Deixo aqui, meus mais sinceros agradecimentos. Obrigada! 
 
Jannayna Ayres Silva. 
 
7 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Uma pequena parte do que é o processo inteiro da vida se encerra e só consigo 
pensar em todas as mãos que construíram e constroem a minha vida junto comigo. 
 
Dedico os meus agradecimentos primeiramente a Deus, que mesmo em todas as 
minhas crises de fé, esteve presente no meu íntimo com toda sua bondade, me 
fortalecendo de tantas formas que me parecem apalavradas. 
 
Agradeço também a minha família, nós sete. Nunca soube falar de mim sem falar 
de vocês, simplesmente por que sem vocês eu nem sou. Mãe, obrigada por ser essa 
mulher incrível, por criar cinco filhos da melhor maneira possível, e ter dado sua vida 
pelos nossos estudos, nos incentivando a ir atrás de sonhos que nos eram 
impossíveis. Sem dúvida eu devo a vocês todas as minhas conquistas. 
 
A tantos amigos que mesmo longe trilharam esse caminho comigo, trazendo leveza 
em momentos duros. Agradeço minhas amigas centenárias, Lari e Nina, vocês são o 
meu abrigo mais quentinho. E agradeço imensamente ao Pedro, por ter sido muito 
mais que um grande amor, mas um verdadeiro amigo. Você me ensinou a ser uma 
pessoa melhor em todos os aspectos, me deu suporte nos momentos que mais 
pensei em desistir e sempre esteve ao meu lado. 
 
Ao MESS, e todos os espaços que foram fundamentais para minha formação. Não 
teria como deixar agradecer a todas/os companheiras/os de militância, aprendi tanto 
com vocês! Compor os espaços de representação de Centro Acadêmico e 
Coordenação Regional com pessoas tão maravilhosas foi gratificante. 
 
Ao PET Serviço Social, onde pude ter experiências únicas. Um espaço 
importantíssimo que me transformou positivamente em tantas questões. O contato 
com pessoas tão diferentes, de diversas áreas do conhecimento me proporcionou 
ensinamentos que levarei pra vida. 
 
8 
 
 
 
Agradeço também a nossa querida professora e orientadora Silvia Salazar, por ter 
me acompanhado em tantos momentos dentro da Universidade e sempre ser um 
exemplo de profissional e de humanidade. 
 
Nada disso seria possível sem o apoio e carinho de todos vocês. Meus mais 
sinceros agradecimentos! 
 
“Calçada na fé e na esperança 
Meu voo vai bem mais longe, até onde meu impulso alcança 
Mesmosabendo bem há quantas esse mundo sangra 
Às vezes anda e às vezes desanda 
Minha liberdade começa no mar e vai até o sol” 
 
Afrobombas - De Sal e Sol Eu Sou 
 
Francislaine Alves Nogueira de Almeida 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
RESUMO 
O presente estudo objetiva compreender, o direcionamento teórico-político da 
Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social, através da análise dos 
Cadernos de Deliberações produzidos nos Encontros Nacionais de Estudantes de 
Serviço Social de 2011, 2012, 2014, 2015 e 2018. Realizamos pesquisa documental 
nos referidos Cadernos, identificando nos três eixos centrais: Universidade e 
Educação, Formação Profissional e Movimento Estudantil a análise do 
direcionamento teórico-político da ENESSO. Selecionamos três eixos: Universidade 
e Educação, Formação Profissional e Movimento Estudantil. Diante disso, através da 
leitura das deliberações correspondente a cada eixo selecionado, buscamos 
identificar como se expressavam o direcionamento teórico político da Executiva e 
analisar de que forma esse direcionamento se articula ao PEP. Tais deliberações 
demonstraram como a ENESSO tem se posicionado e contribuído para o 
fortalecimento do PEP. Com base nelas foi possível identificar quais os desafios que 
estão colocados para o MESS em uma conjuntura de consolidação do avanço do 
neoconservadorismo e os impactos sobre o mundo trabalho e, dialeticamente sobre 
a formação profissional. Outro aspecto identificado é que em meio aos desafios, há 
também a construção de possíveis caminhos para avançar na consolidação do 
MESS articulado com o PEP. Caminhos que são traçados mediante a organização 
coletiva e a radicalização da luta. 
Palavras chave: ENESSO, MESS, formação profissional, projeto ético político, 
Educação Superior. 
 
10 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
Figura 1: Cartaz de divulgação do I ENESS ............................................................ 24 
 
11 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social 
BDTD - Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações 
CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais 
CFESS - Conselho Federal de Serviço Social 
CRESS - Conselho Regional de Serviço Social 
EAD - Ensino à Distância 
ENADE - Exame Nacional de Desempenho de Estudantes 
ENESS - Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social 
ENESSO - Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social 
MESS - Movimento Estudantil de Serviço Social 
ME - Movimento Estudantil 
MS - Movimento Social 
PEP - Projeto Ético Político 
PROUNI - Programa Universidade para Todos 
REUNI - Reestruturação e Expansão das Universidades Federais 
UNE - União Nacional dos Estudantes 
SESSUNE - Subsecretaria de Estudantes de Serviço Social da UNE 
 
 
12 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13 
1. A CONSOLIDAÇÃO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIÇO SOCIAL: 
DIRECIONAMENTO POLÍTICO E DESAFIOS DIANTE DA MERCANTILIZAÇÃO 
DA EDUCAÇÃO ....................................................................................................... 20 
1.1 A reorganização do MESS e a virada crítica do Serviço Social .................. 20 
1.2 A mercantilização da educação e a luta do MESS por uma educação 
pública, gratuita e de qualidade ............................................................................. 33 
2. DIRECIONAMENTO TEÓRICO-POLÍTICO DA ENESSO: CAMINHOS PARA 
AVANÇAR NA CONSOLIDAÇÃO DO PEP ............................................................. 42 
2.1. Formação Profissional e a ENESSO: principais pautas de luta e 
contribuições...... ...................................................................................................... 43 
2.2. ENESSO e o PEP: desafios diante do atual contexto ..................................... 49 
2.3. ENESSO: contribuições para o fortalecimento do direcionamento teórico-
político do Serviço Social .......................................................................................... 67 
2.3.1. Universidade e Educação .......................................................................... 70 
2.3.2. Formação Profissional ............................................................................... 76 
2.3.3. Movimento Estudantil ................................................................................ 81 
2.4. Reflexões sobre o direcionamento teórico-político da ENESSO ..................... 85 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 90 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 95 
 
13 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
O presente estudo tem por objetivo apreender o direcionamento teórico-político da 
Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO) e suas contribuições 
para a Formação Profissional crítica em Serviço Social, a partir da análise dos eixos 
Universidade e Educação; Formação Profissional e o eixo Movimento Estudantil, 
contidos nos Cadernos de Deliberações da ENESSO, no período de 2011 a 20181. 
 
A escolha por esse tema surgiu a partir da nossa inserção no Movimento Estudantil 
de Serviço Social (MESS) que, desde os primeiros períodos da graduação, 
contribuiu significativamente para a nossa formação teórico e ético-política. Essa 
inserção, perpassada por amplos espaços de debates ao longo da graduação, onde 
participamos da composição de duas gestões de Centro Acadêmico e da 
Coordenação Regional da ENESSO, vivenciada por disputas políticas, assim como a 
participação e construção de vários encontros de estudantes, nos levou a uma 
formação profissional mais ampliada, assim como também nos trouxe diversos 
questionamentos. A partir dessa vivência, dos questionamentos provenientes destas 
experiências no movimento estudantil e da compreensão da relevância que MESS, 
trouxe para nossa formação profissional e política, o interesse em pesquisar sobre 
essa temática. 
 
A participação orgânica no MESS nos fez compreender a importância deste espaço 
para o Serviço Social, pela sua trajetória de luta aliada às transformações que 
ocorreram no interior da profissão, no seu papel de formação política, assim como a 
sua importância para o fortalecimento cotidiano do Projeto Ético-Político (PEP). 
Conhecendo a história que a ENESSO trilhou e fazendo parte dela, identificamos a 
importância de dar continuidade a uma produção acadêmica que a fortaleça. 
 
A ENESSO como qualquer organização política democrática passará por momentos 
de disputas políticas e/ou de ameaças internas e externas ao seu direcionamento 
 
1
 Não encontramos informações precisas sobre quando iniciou esse movimento de sistematização 
das deliberações através dos Cadernos disponibilizados no site da ENESSO. Infelizmente a ENESSO 
possui dificuldades quando se trata de sistematização. No entanto, o que tivemos acesso foram os 
Cadernos de Deliberação a partir de 2011. 
14 
 
 
 
teórico-político. Entretanto, historicamente vem construindo suas ações a partir do 
compromisso com a teoria crítica marxista, se colocando contra a corrente da 
hegemonia do capital. No atual contexto econômico, político e social da realidade 
brasileira e do mundo, vivemos investidas cada vez mais destruidoras do capital, e 
de inflexões do conservadorismo no Serviço Social. Tal cenário também coloca em 
questão os desafios em garantir o direcionamento teórico-político do movimento 
estudantil, fundamentado numa crítica radical a dinâmica da sociedade burguesa. 
Nesta direção, embora de forma embrionária, compreendemos que nosso estudo 
nos oportunizou apreender melhor direcionamento teórico-político do Serviço Social 
na perspectiva marxista, através da análisedos Cadernos de Deliberações da 
ENESSO, buscando assim o fortalecimento do Projeto Ético Político. 
 
Além dessas motivações citadas, também podemos identificar, com base no 
levantamento feito no site da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações 
(BDTD), a ausência de pesquisas que relacionam o MESS e o seu direcionamento 
teórico-político. Entretanto, foram encontradas produções que atrelam o MESS a 
temas como Serviço Social e capitalismo contemporâneo, e também com os 
Partidos Políticos. Nessa mesma plataforma nada foi encontrado quando o assunto 
pesquisado foi “ENESSO”. Pesquisando no site da Executiva, percebe-se que há 
algumas produções, entre elas artigos, teses e dissertações, muitas relacionando 
temas como MESS/ENESSO e a formação profissional, assim como os desafios 
enfrentados diante da conjuntura da época. Dentre o material disposto no site, o que 
se aproxima do tema foi o trabalho de conclusão de curso de Tales Fornazier com o 
título “Movimento Estudantil de Serviço Social e o Projeto Ético -Político na 
Formação Profissional“; o trabalho de conclusão de curso de Ailton Marques 
Vasconcelos, com o título: “A trajetória política da organização dos estudantes de 
Serviço Social, 1978 – 2002 e a sua relação com o projeto de Formação Profissional 
(2003)”; o artigo de Tiago Barbosa “Eu vou à luta com essa juventude, contribuição 
acerca do movimento estudantil de serviço social e o processo de formação 
profissional (2010)”; e o trabalho de conclusão de curso também de Tiago Barbosa 
dos Santos “A participação política dos estudantes de serviço social na defesa e na 
consolidação da direção social da formação a práxis política dos estudantes e a 
relação com a formação profissional” (2007). 
15 
 
 
 
 
Logo, em termos de produções teóricas, os trabalhos encontrados trazem 
contribuições necessárias para a construção da pesquisa a ser realizada, tendo em 
vista que se debruçam sobre o movimento estudantil de serviço social, elencando a 
sua importância, seu papel na formação profissional e sua contribuição histórica. 
Identificamos nas leituras, que os trabalhos ao discutirem o movimento estudantil, 
sempre fazem relação com o movimento dinâmico de constituição do Serviço Social. 
Portanto, os trabalhos trazem elementos que possibilitam dar continuidade ao 
processo de produção de conhecimento. 
 
Todavia, observa-se que o tema a ser abordado por nós, ainda é pouco explorado 
pela academia. Isso demonstra a importância de se trazer reflexões a respeito do 
tema em questão. Particularmente, tendo em vista que as produções teóricas são 
escassas, no que diz respeito especificamente à qual direcionamento político a 
Executiva tem se aproximado nos últimos quatro anos. 
 
Nesta direção, consideramos esse trabalho importante como um trabalho de 
continuidade aos que já haviam sido produzidos pelos estudantes. Assim, esse 
estudo é uma produção que também poderá contribuir para os próximos estudantes, 
que se propuserem a estudar a temática. Necessário destacar a importância dessa 
produção para o fortalecimento da ENESSO e do MESS. Pois, diante de uma 
conjuntura complexa e truculenta, esse trabalho poderá contribuir para estudos 
futuros, na perspectiva do fortalecimento do debate da formação política, assim 
como para o melhor conhecimento da Executiva. Neste sentido, fortalecendo a 
Executiva, também estamos fortalecendo o Serviço Social. Como a pesquisa se 
propõe a analisar aspectos do MESS, ela faz um pequeno traçado da trajetória 
histórica do Serviço Social, principalmente no que diz respeito a sua construção 
crítica e luta, para chegar onde estamos hoje. Portanto, se mostra relevante tanto 
para o MESS, quanto para o Serviço Social estudos que contribuam para difundir a 
importância e contribuições do MESS para a formação e trabalho profissional. 
 
Para alcançarmos o nosso objetivo de apreender o direcionamento teórico-político 
da ENESSO e suas contribuições para o PEP, a partir da Análise dos Cadernos de 
16 
 
 
 
Deliberações de 2011 a 2018, traçamos um caminho metodológico que nos 
direcionou ao longo deste estudo. Segundo Minayo (2001) a metodologia se 
configura como o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da 
realidade. 
 
Dito isso, a presente pesquisa possui caráter qualitativo, no sentido de analisar nos 
Cadernos de Deliberações da ENESSO, o seu direcionamento teórico político e 
contribuições da Executiva para a consolidação do PEP. De acordo com Netto 
(2011) os instrumentos e técnicas de pesquisa são utilizados como meios do 
pesquisador apoderar-se do objeto. Sendo assim, dentre os mais variados 
instrumentos e técnicas de pesquisa, elencamos a análise documental como a mais 
apropriada para atender ao objetivo da pesquisa. Por isso definimos a utilização, 
como documento base a análise, os Cadernos de Deliberação da ENESSO, 
disponíveis online no site da Executiva dos anos 2011, 2012, 2014, 2015 e 2018. 
Embora de forma sintética, esses documentos possuem em seu conteúdo as 
bandeiras de luta da ENESSO, fruto de acúmulos de discussões do MESS por todo 
o país. Tratam-se de documentos que expressam as discussões e 
encaminhamentos deliberados e aprovados nos Encontros Nacionais de Estudantes 
de Serviço Social. 
 
Entendemos que para realização dessa análise documental, precisamos situar 
diversos outros elementos que possam servir de base para compreender melhor o 
nosso objeto de pesquisa. Para isso, utilizamos a revisão bibliográfica, trazendo 
análises mais abrangentes de discussões como o processo de maturação teórico-
metodológica marxista do Serviço Social, da formação profissional e do Projeto 
Ético-Político, buscando transversalizar nessas discussões as contribuições e a 
importância da Executiva nesse processo. Além disso, buscamos situar a realidade 
brasileira em todos os processos, entendendo que a conjuntura é parte essencial 
para a compreensão dos processos em sua totalidade. 
 
Dentre os procedimentos metodológicos que foram adotados nesta pesquisa 
utilizamos uma abordagem com ênfase qualitativa. Pois compreendemos que essa 
abordagem abarca o nosso objetivo de compreender os processos em sua 
17 
 
 
 
totalidade e complexidade, partindo de questões e focos de interesses mais amplos 
que podem nos levar a entender qual vem sendo o direcionamento teórico-político 
da ENESSO e quais foram/são suas contribuições para a Formação Profissional 
crítica do Serviço Social, onde se constitui o Projeto Ético Político. 
 
Reforçamos que a escolha dos documentos, a partir de 2011, além de ser a partir de 
um período que encontramos disponível no site da ENESSO, a análise dos 
Cadernos de Deliberação a partir deste período, também expressa um contexto pós 
crise de 2008, onde o projeto neoliberal se aprofunda e consolida na realidade 
brasileira. Especialmente a partir da contrarreforma do Estado, da privatização da 
educação, e que impõe a formação profissional um posicionamento ainda mais 
crítico diante destas mudanças. 
 
Nesta direção, para desenvolver nossa pesquisa, dividimos nosso trabalho em dois 
capítulos. O primeiro capítulo está dividido em duas partes. Primeiramente fizemos 
uma breve contextualização histórica da realidade brasileira a partir da década de 
1960, para situar o momento histórico em que se encontrava o Serviço Social e o 
Movimento Estudantil de Serviço Social. Entendemos que é em meio a essa 
conjuntura brasileira dos anos 1960, que começa o processo de questionamento das 
bases tradicionais do Serviço Social, onde identificamos os primeiros registros de 
organização política dos estudantes de Serviço Social, relatado por Dória (2007). 
Trazemos então ao longo deste primeiro item um apanhado histórico da construção 
do MESS. Embora de forma introdutória, buscamos situar o MESS, desde seus 
primórdios até a sua consolidação,traçando um paralelo com os acontecimentos 
significativos do Serviço Social ao longo desses anos. Assim, trazemos alguns 
elementos da sua história e consolidação, bem como apontando suas principais 
bandeiras de luta em cada momento da história. 
 
No segundo tópico aprofundamos sobre a contrarreforma da educação, o seu 
processo de mercantilização frente a mundialização financeira e a luta dos 
estudantes contra esses processos. 
 
18 
 
 
 
O segundo capítulo foi dividido em quatro tópicos. No primeiro tópico trouxemos 
elementos para pensar a história e desenvolvimento da formação profissional em 
Serviço Social, assim como suas transformações, situando também como a 
ENESSO vem contribuindo para o processo de desenvolvimento, transformação e 
amadurecimento da formação profissional, pautada na perspectiva marxista. 
Buscamos trazer alguns elementos sobre a importância da Formação Profissional 
crítica para o Serviço Social, assim como a importância da ENESSO para a 
construção e consolidação dessa formação. 
 
No segundo tópico buscamos analisar a relação da ENESSO e do Projeto Ético-
Político do Serviço Social, diante da atual conjuntura brasileira de acirramento da 
luta de classes e criminalização dos movimentos sociais. Para isso discutimos um 
pouco sobre projetos profissionais e projetos societários, e as disputas existentes 
entre projetos distintos. Assim, trouxemos um panorama de como foi a conquista do 
PEP e a contribuição da ENESSO nesse processo, a partir do seu direcionamento 
teórico-político. Realizamos também uma breve análise da complexa conjuntura 
brasileira, com o objetivo de situar a realidade que estamos enfrentando, sem 
pretensão nenhuma de esgotar as discussões sobre esse complexo momento 
histórico em que vivemos. 
 
No terceiro tópico fizemos as análises das deliberações presentes em três dos eixos 
dos Cadernos de Deliberações. Como já destacamos, são eles: Universidade e 
Educação, Formação Profissional e Movimento Estudantil. Para tanto, buscamos 
apreender na descrição de algumas deliberações da ENESSO, os fundamentos do 
direcionamento teórico-político contidos nestes três eixos, que contribuem para a 
consolidação do Projeto Ético-Político do Serviço Social. Assim, situamos sob qual 
perspectiva realizamos essas análises, trazendo elementos sobre a teoria social 
crítica que fundamenta a realização da nossa pesquisa. 
 
Esse terceiro tópico foi subdividido em três subtópicos referentes aos Eixos 
escolhidos supracitados, respectivamente. Em cada subtópico trouxemos a 
concepção de Educação, Universidade, Formação Profissional e de Movimento 
19 
 
 
 
Estudantil, relacionando tais conceitos com a concepção teórica defendida pela 
ENESSO, e pelo Serviço Social brasileiro, a partir do Projeto Ético-Político. 
 
Ao compreendermos e identificarmos a afirmação do direcionamento teórico político 
do Serviço Social, pautado na perspectiva crítico-dialética, pesquisamos através dos 
Cadernos de Deliberações da ENESSO, as principais contribuições do MESS para o 
fortalecimento desse direcionamento teórico-político. 
 
Por fim, elencamos os caminhos postos para a consolidação do MESS, enquanto 
uma organização articulada com o PEP. Caminhos estes que partem do 
entendimento da relevância da articulação entres as entidades da categoria 
profissional (CFESS/CRESS, ENESSO e ABEPSS) e, principalmente, da articulação 
da ENESSO com as lutas mais gerais da classe trabalhadora. Nessa direção, 
apontamos que as saídas não serão, senão, através das organizações coletivas e 
radicalidade do direcionamento teórico-político na perspectiva do marxismo. 
 
 
20 
 
 
 
1. A CONSOLIDAÇÃO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIÇO SOCIAL: 
DIRECIONAMENTO POLÍTICO E DESAFIOS DIANTE DA MERCANTILIZAÇÃO 
DA EDUCAÇÃO 
Para discutir sobre nosso objeto de pesquisa que volta-se para a apreensão dos 
elementos que conformam o direcionamento teórico-político da ENESSO para a 
consolidação da formação profissional crítica, tendo como base os Cadernos de 
Deliberação da Executiva desde 2011, faremos uma breve contextualização histórica 
da realidade brasileira, situando a configuração dos movimentos sociais, 
principalmente o Movimento Estudantil. Mais especificamente, situaremos o MESS 
(Movimento Estudantil de Serviço Social)2, relatando um pouco de sua história e 
consolidação, assim como suas principais bandeiras de luta. 
Nesta direção situaremos o caminho percorrido pelo Movimento Estudantil de 
Serviço Social e sua relação com as transformações que ocorreram no interior da 
profissão, situando qual foi/é o papel do MESS nessas transformações. 
Abordaremos também sobre as reformas na área da educação, o seu processo de 
mercantilização frente a mundialização financeira e a luta dos estudantes contra 
esses processos que se intensificam mais profundamente no atual contexto 
histórico. 
 
1.1 A reorganização do MESS e a virada crítica do Serviço Social 
 
O Brasil na década de 1960 engendra junto ao governo de Juscelino Kubitschek a 
ideologia desenvolvimentista, esta que envolve uma proposta de crescimento 
econômico acelerado (IAMAMOTO, CARVALHO 2014). Segundo Behring e 
Boschetti (2011) o governo de Kubitschek teve como principal expressão o Plano de 
Metas que se propunha a fazer o país crescer 50 anos em 5. O país entra então em 
um processo de industrialização e desenvolvimento econômico, que afetará a vida 
dos brasileiros, trazendo diversas mudanças não só a nível econômico, mas também 
político e social. 
 
2
 O MESS é um movimento social de organização política dos estudantes de Serviço Social. Essa organização se 
constitui por entidades representativas, como por exemplo Centros e Diretórios Acadêmicos, Fóruns, dentre 
outros. O MESS tem como sua representação máxima a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social. 
21 
 
 
 
Em 1961 assume a presidência do país João Goulart. Com uma perspectiva 
progressista, Jango se propõe a realizar reformas de base essenciais para diminuir 
as desigualdades sociais no país. Tais iniciativas, embora de cunho reformista, 
incomodavam a direita brasileira e o legado conservador do ex presidente JK e, na 
contramão, dava chão para movimentos populares de cunho progressista se 
movimentarem. Tal processo colocava o país num intenso contexto de 
movimentação e efervescência política. 
 
De acordo com Montaño e Duriguetto (2011) no governo Goulart o cenário de 
intensas lutas e mobilizações sociais deram curso a uma forte mobilização da classe 
trabalhadora no meio rural e urbano. Donde podemos incluir a efervescência do 
movimento estudantil nos anos 1960. 
 
Partindo do pressuposto que o Movimento Estudantil (ME) é um Movimento Social 
(MS) e não caminha alheio à realidade econômica, política e social do país, 
é importante localizar o movimento estudantil nesse cenário social e político. 
Segundo apontamentos de Vasconcelos (2003), a União Nacional dos Estudantes 
(UNE) foi o marco da organização política estudantil. Sua organização se inicia a 
partir do final da década de 1930. De 1940 até metade de 1960 a UNE se destacou 
por um processo de politização do movimento estudantil e seu envolvimento no 
cenário brasileiro. 
Montaño (2011) traz importantes considerações sobre a atuação do movimento 
estudantil nessa época: 
 
A partir da década de 1960, as questões específicas das instituições de 
ensino superior brasileiras passam a se constituir em um foco central na 
ação do movimento estudantil. A defesa da universidade pública, gratuita e 
de qualidade vem se constituindo, desde então, em uma das principais 
bandeiras de luta do movimento, luta que vem assumindo contornos de 
acordo com as conjunturas históricas específicas (MONTAÑO, 
DURIGUETTO, 2011, p. 288). 
 
Segundo Netto (2004) é essa referida conjunturaque vai influenciar e rebater no 
Serviço Social em âmbito nacional, provocando um processo de questionamento de 
suas respostas tradicionais, frente às transformações econômicas, políticas e ideo-
22 
 
 
 
culturais. No Brasil, o processo de erosão das bases do Serviço Social Tradicional 
está fortemente ligado a esses fatores sociopolíticos da década de 1960. Onde, 
diante da ditadura há o agravamento da questão social, e ao mesmo tempo a 
efervescência dos movimentos sociais que tensionam e questionam as 
determinações deste contexto social, político e econômico. Logo, o desenvolvimento 
da profissão e o questionamento das bases da tradição funcionalista que a 
consolidam é fruto do próprio contexto da sociedade brasileira. Assim, o movimento 
estudantil do Serviço Social brasileiro também vai se conformando – numa 
perspectiva de questionamento da realidade social da ditadura. 
 
É acompanhando essa realidade que Iamamoto (2014) aponta uma ampliação da 
profissão. Esta surge diante de uma demanda objetiva do aparelho do Estado e das 
empresas, frente ao agravamento da questão social, e as próprias exigências da 
classe trabalhadora, que exige seu reconhecimento como classe. Trata-se de um 
momento que coincide com a intensificação da radicalização da política que 
caracteriza o colapso final do populismo. Essa ampliação da profissão, apesar de 
acontecer via demandas institucionais, também abre precedentes para uma 
transformação positiva. A profissão passa a ser reconhecida na divisão sócio-técnica 
do trabalho. Sendo assim, necessita de aperfeiçoamento de suas práticas e 
formação, até então apenas fundamentadas na ideologia cristã. A partir dessas 
demandas, são requisitadas assistentes sociais mais capacitadas para lidar com as 
mudanças da realidade. Novos conhecimentos são exigidos aos assistentes sociais, 
dentro de uma perspectiva mais técnica. E que abrem precedentes para que essas 
transformações ultrapassem as demandas institucionais e para que o tradicional seja 
questionado. Como nos diz Netto (2007), aqui ainda não há uma crise do Serviço 
Social “tradicional”, ela é somente sinalizada. 
 
Diante desse contexto e não desconectado das influências dos movimentos da 
categoria profissional, a organização política de estudantes de Serviço Social tem 
seu início também em meados dos anos de 1960. Segundo Dória (2007) em 1961 
aconteceu o que seria o primeiro Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social 
“ENESS”. Em 1963 é criada a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social, 
23 
 
 
 
naquela época chamada de “ENESS”, que nesse momento ainda não se configurava 
organizacionalmente como executiva, como irá se configurar futuramente. Esse 
primeiro momento de organização estudantil do Serviço Social vai segundo até 
1968.(DORIA, 2007). 
 
De acordo com o que relata Dória (2007), esses registros do início da década de 
1960, que relatam a existência de um encontro estudantil de Serviço Social e o 
possível embrião do que seria a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço 
Social, são relatos dos primeiros momentos de organização política de estudantes 
do Serviço Social, que provavelmente se perderam e/ou foram destruídos pela 
ditadura militar brasileira. Nesse período, o governo ditatorial destruiu muitas 
documentações de diversos movimentos sociais. Por isso, há pouco ou quase 
nenhum registro sobre esses primeiros momentos da organização do movimento 
estudantil (DÓRIA, 2017). 
 
Segundo Vasconcelos (2003) em 1964, quando havia uma forte efervescência social 
e política, os militares instalaram a ditadura através do Golpe Militar que destituiu o 
governo de João Goulart. Tal processo causou um grande abalo às lutas sociais 
através da repressão às entidades e movimentos organizados. Importante ressaltar, 
que foi também na ditadura militar que teve início a reforma universitária. Neste 
período, através de acordos governamentais o ensino brasileiro passa a ser 
gerenciado pelo modelo norte-americano. 
Sobre esse mesmo período, a assistente social Ana Maria Tereza Froés Batalha, 
militante do Movimento Estudantil na época, traz em seus depoimentos o que 
significou os anos de ditadura militar no país. Relata que embora houvesse, por 
parte do Estado, repressão massiva dos sujeitos e entidades políticas que se 
colocavam na luta contra as desigualdades sociais, estes, sobretudo a juventude, se 
colocavam resistentes. Em suas palavras Ana Maria Batalha afirma que, 
O regime militar prendeu, torturou, exilou, executou milhares de estudantes, 
intelectuais, artistas e trabalhadores brasileiros. Foi o período da política 
brasileira em que foi institucionalizada a grande escalada da violência 
contra os direitos humanos por meio da prática da edição de atos 
institucionais. Estes estabeleciam a legalidade da censura, da perseguição 
política, tortura, assassinato, desaparecimento, prisões arbitrárias, 
24 
 
 
 
supressão total dos direitos constitucionais, repressão a todos que se 
manifestavam contrários ao regime, enfim, à falta absoluta de democracia 
(CFESS, 2017, p. 20). 
 
Assim, vale destacar que o movimento estudantil fomentou diversas lutas contra 
este projeto ditatorial. Esses fatos mostram que, embora diante da repressão, a 
contrapartida foi de muita resistência do movimento estudantil a dinâmica repressora 
da ditadura militar. Grupos continuaram se organizando clandestinamente, e lutando 
contra as arbitrariedades do então governo repressor. Em seus relatos, Ana Maria 
Batalha expressa a continuidade da luta: “mesmo com repressão, fazíamos nossas 
reuniões, manifestações e panfletagens nos diversos bairros e no distrito industrial 
de Fortaleza” (CFESS, 2017, p. 26). 
Iamamoto (2014) traz importantes considerações sobre a categoria profissional 
também nessa fase. Nesse momento, entre repressão e resistência, há um 
desgarramento profissional de segmentos da igreja católica, a partir de uma 
perspectiva mais crítica. 
Nesse contexto é fortalecida uma “esquerda cristã” que passa a influenciar 
contingentes maiores de Assistentes Sociais, seja pela sua convivência no 
interior do “bloco católico”, seja por meio das escolas e do movimento 
estudantil. Por paradoxal que possa parecer, o rompimento de parcela do 
meio profissional com a tradição conservadora da instituição partirá, 
essencialmente, do interior do próprio movimento católico (IAMAMOTO, 
2014, p.381). 
 
É nesse contexto de ditadura, que a renovação do Serviço Social e a crise das 
bases tradicionais se processam. A crise do Serviço Social “ tradicional” esteve 
longe de ser um processo que se restringiu ao Brasil. Foi um processo gestado à 
nível de América Latina. Em 1965 temos o início do que chamamos de Movimento 
de Reconceituação do Serviço Social. Este que é parte essencial da erosão do 
Serviço Social “tradicional” (NETTO, 2007). 
 
Segundo Netto (2007) é no marco da Reconceituação que pela primeira vez o 
Serviço Social vai recorrer abertamente à tradição marxista. O fato central, é que 
aqui o pensamento de raiz marxiana deixa de ser estranho ao universo profissional 
dos assistentes sociais. Essa aproximação não eximia de problemáticas e 
contradições. Muito pelo contrário, delas estão cheias de contradições. Mas o 
principal, é que a partir de então criam-se bases antes inexistentes para pensar a 
profissão, sob a lente de correntes marxistas. 
25 
 
 
 
Tais acontecimentos que se colocam na história do Serviço Social, se expressam na 
realidade social e política brasileira, diante de uma efervescência dos movimentos 
sociais. Mas principalmente, por um grupo de assistentes sociais da PUC BH que, 
apropriando-se das primeiras leituras no campo marxista, começam a questionar o 
significado social da profissão, na dinâmica da sociedade capitalista. 
 
É neste cenário que, quatro anos após a instituição do golpe, o ano de 1968 foi 
marcado por diversosmovimentos sociais e greves que lutavam contra o regime 
militar. Essas lutas de contestação fizeram com que o governo militar instituísse o 
Ato Institucional nº 5, que implementou a maior e mais forte repressão aos 
movimentos sociais que exigiam liberdades democráticas. (VASCONCELOS, 2003). 
 
Durante esse momento de maior repressão, Cândida Moreira Magalhães, que 
militou no movimento estudantil durante o ensino médio, na graduação e na pós 
graduação, relata as torturas e humilhações que as mulheres que se colocavam na 
luta em defesa da liberdade, da justiça social, da revolução: 
As mulheres com atuação política eram tratadas como amantes dos 
políticos de esquerda. Durante esses dias, era torturada até perder a 
consciência, quando eles me levavam para a cela desmaiada. Quando a 
consciência voltava, via os machucados nos braços, no corpo. Sentia a 
sensação de uma fraqueza geral, uma mente longe, lenta no raciocínio. Era 
uma sensação de quase morte. Tinha dias em que eu acreditava que não 
voltaria viva. Durante a prisão, o presidente do Conselho de Serviço Social, 
João Sales de Abreu, foi me visitar, mas não permitiram que ele me visse 
nem algumas comidas que ele me levou foram entregues. Não tinha mais 
ninguém que intercedesse por mim. (CFESS, 2017, p. 29) 
 
Segundo Vasconcelos (2003), após anos de intensa repressão, em 1977 o 
movimento estudantil de uma forma geral volta a se articular, organizando 
movimentos, como passeatas e manifestações pela liberdade e pela democracia. 
Em 1978, acontece a queda do Ato Institucional nº5, num cenário de crise do regime 
militar e começo de abertura democrática. Foi neste contexto que os movimentos 
sociais encontraram brechas para se reorganizar. E foi também, quando os 
estudantes de Serviço Social voltaram a se articular. Neste ano, foi realizado o 
denominado I Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social realizado em 
26 
 
 
 
Londrina/PR (DÓRIA, 2007). Esse encontro teve como tema central “Serviço Social 
e a Realidade Brasileira”. O tema demonstra uma preocupação e um esforço dos 
estudantes de Serviço Social para com a conjuntura nacional da época. 
 
 
Figura 1: Cartaz de divulgação do I ENESS 
 Fonte: Site oficial da ENESS 
 
De acordo com Vasconcelos (2003), em 1979 os estudantes universitários, 
articulados com outros movimentos organizam o Congresso de Reconstrução da 
União Nacional dos Estudantes em Salvador/BA. Num contexto de crise do regime 
militar, e retomada das lutas pela democratização do Estado, a UNE se destacou 
sendo a primeira entidade organizativa estudantil a se reorganizar. 
No que se refere a organização estudantil de Serviço Social, os encontros estudantis 
continuaram a serem realizados. E segundo Dória (2007), em 1979 ocorre o II 
ENESS em Salvador – BA. A linha política desse encontro é direcionada para a 
reformulação da Formação Profissional, visando uma ruptura com o processo 
vigente na época – o conservadorismo – e na busca da construção do pensamento 
social crítico como base de sustentação do ensino em Serviço Social. 
O III ENESS que ocorreu na PUC-MG teve como tema: “Serviço Social, Formação 
Profissional e Intervenção na Realidade”. Dentro do encontro mais uma vez a 
direção política, como já sinalizava a temática proposta, foi direcionada para o 
debate da formação profissional. O que culminou na construção de uma proposta 
27 
 
 
 
unificada de currículo, com um encaminhamento de busca junto a ABESS – 
Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social - atualmente, ABEPSS - 
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, para o levantamento 
do debate também em conjunto com o corpo estudantil. Nesse contexto, surge a luta 
dos estudantes pela aproximação das entidades representativas da categoria. Uma 
das formas que os estudantes avaliavam dessa construção conjunta se efetivar 
concretamente, era através da representação estudantil no interior das entidades, 
visualizando isso como um processo necessário para a articulação e o 
fortalecimento do Serviço Social no Brasil (DÓRIA, 2007). Hoje conseguimos 
avançar e compreender como a participação dos estudantes, enquanto entidade 
representativa e legitimada pela categoria profissional, vem somando as lutas da 
formação e exercício profissional do conjunto CFESS/CRESS e ABEPSS. Embora 
marcada por desafios e tensões, não podemos negar que, a articulação das três 
entidades tem somado e contribuído ao longo da história do Serviço Social, para o 
fortalecimento da formação e do exercício profissional fundamentada na teoria social 
marxista, e em sintonia com a defesa dos direitos da classe trabalhadora. 
 
Assim, no início da década de 1980 há, em meio ao processo de discussão interna 
sobre a organização do MESS, uma análise sobre a necessidade de criação de uma 
entidade nacional de estudantes de Serviço Social, nas lutas junto com a categoria 
profissional. (CAVALCANTE, 2009). Até então, não existia uma Executiva 
estruturada nacionalmente para organizar os estudantes da nossa área. 
 
É somente em 1988, após dez anos de debates que é criada a Subsecretaria de 
Estudantes de Serviço Social na UNE (SESSUNE). Ou seja, uma secretaria 
destinada aos estudantes de Serviço Social, vinculada a UNE, que tinha como 
objetivo contribuir com a organização nacional dos estudantes. O objetivo central da 
criação da SESSUNE era uma atuação que se embasasse na perspectiva de situar 
e analisar a profissão no contexto sócio-histórico das determinações estruturais e 
conjunturais da época (CAVALCANTE, 2009). O que já vinha sendo expresso nas 
discussões e debates propostos nos encontros estudantis de Serviço Social. 
28 
 
 
 
Em 1993, diante de um acúmulo de debates no interior da organização do MESS, há 
a mudança de SESSUNE para Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social 
(ENESSO). Essa mudança representou, sobretudo, uma perspectiva de assumir 
autonomia em relação a União Nacional dos Estudantes (UNE). Esse papel 
aglutinador, assumido pela ENESSO, esteve em consonância com a tendência 
presente no Movimento Estudantil (ME) geral na década de 1990. Trata-se de uma 
tentativa dos estudantes traçarem as executivas como uma dinâmica de organização 
estudantil, fazendo movimentos de análises e atuação partindo de lutas mais 
abrangentes relacionando-as com as atividades específicas de determinada 
profissão. (CAVALCANTE, 2009), 
Esse breve contexto histórico do início da organização estudantil dos estudantes de 
Serviço Social, como também o conteúdo dos temas debatidos, expressam uma 
indissociabilidade da construção política do Movimento Estudantil de Serviço Social 
(MESS) com o contexto da realidade social e política brasileira. Assim, há uma 
articulação do MESS com o caminhar dos processos de construção da categoria 
profissional do Serviço Social como um todo. Vale ainda ressaltar, que a 
organização política do MESS tem seu início na mesma época em que o movimento 
de Reconceituação do Serviço Social. E isso muito nos diz sobre qual caminho esse 
movimento vem trilhando no decorrer da história dos estudantes e da profissão. 
Segundo Santos (2007), é no período da ditadura no Brasil que se processa a 
Reconceituação do Serviço Social em âmbito nacional. 
 
Entendemos o Serviço Social e sua direção social crítica como fruto de um 
processo histórico, cujas bases encontram-se nos marcos da erosão das 
respostas tradicionais e acúmulo crítico da categoria. (SANTOS, 2007, 
p.15). 
 
Assim, o Movimento de Reconceituação do Serviço Social é o início desse processo 
histórico, que busca romper com as bases conservadoras que por muitos anos 
norteou a ação do Serviço Social brasileiro. Entretanto, identificamos que no atual 
contexto de aprofundamento do conservadorismo na realidade brasileira, tais bases 
têm sido retomadas por alguns segmentos da categoria profissional. Inclusive por 
29segmentos do movimento estudantil, através por exemplo, do movimento intitulado 
“Serviço Social Libertário”3 ,composto tanto por estudantes, quanto por profissionais. 
Por isso, torna-se central discutir a construção histórica do Serviço Social brasileiro, 
numa perspectiva de apontar que, mesmo diante do atual contexto de 
aprofundamento do conservadorismo, ainda precisamos avançar na crítica e não 
aceitar retrocessos, diante do que a profissão alcançou ao longo da sua trajetória, a 
partir do Movimento de Reconceituação. De acordo com Netto (2007) o processo de 
intenção de ruptura abre possibilidades para a profissão. Onde se inicia o processo 
de construção de uma virada crítica, e de contribuições ideoculturais e sociopolíticas 
que incidem sobre o direcionamento conservador do Serviço Social, desde sua 
origem. Assim, vale destacar que tal processo viabilizou a interação do Serviço 
Social com o movimento das classes sociais. 
Compreendemos que um elemento central que deu suporte a intenção de ruptura foi 
a mobilização social antiditatorial. Ou seja, todos esses movimentos, os 
antiditatoriais, a rearticulação do MESS e a própria conformação do processo de 
intenção de ruptura, caminham conectados ao processo histórico que a realidade 
brasileira vive de abertura democrática. 
Dito isso, Dória (2007) nos aponta como o movimento de rearticulação do MESS se 
alinha com a construção do movimento de intenção de ruptura com o 
conservadorismo que perpassou o Serviço Social, desde seu surgimento. Assim 
como também, contribuiu para a articulação dos debates que fortaleceram a 
construção da direção política do III CBAS. Mais conhecido como o “Congresso da 
Virada”, por se destacar um posicionamento de classe, assumido pela primeira vez 
pelo Serviço Social brasileiro. 
Segundo Santos (2007): 
 
3
 Esse movimento surgiu através de uma página criada no facebook e que segundo ela “O Serviço 
Social Libertário é um movimento iniciado por alunas (os) e profissionais de Serviço Social, de 
diferentes estados do país, insatisfeitas com a doutrinação marxista sustentada pelo nosso curso e 
que fundamenta uma prática profissional política ideológica”. Afirmam ainda que “O movimento é 
totalmente avesso ao marxismo, primeiramente, por entender que a teoria incorre em equívocos 
(como por exemplo, a teoria do valor, a teoria da exploração e da luta de classes). Coloca como 
objetivo principal “trazer a teoria liberal para dentro do universo do Serviço Social, apresentando 
outras propostas de soluções para os problemas econômicos e sociais do país, que não seja a 
"ditadura do proletariado" e a utópica "revolução comunista". 
 Disponível em: <https://www.facebook.com/servicosociallibertario/posts/306372039707012:0> 
https://www.facebook.com/servicosociallibertario/posts/306372039707012:0
30 
 
 
 
No âmbito profissional, destaca-se o protagonismo estudantil fortemente 
influenciado pelo Movimento de Reconceituação, assumido pelas 
vanguardas universitárias, imprimindo um novo direcionamento social para a 
profissão; o III CBAS-1979, conhecido como congresso da virada, por 
expressar a ruptura com o conservadorismo profissional, alastrando a 
perspectiva de intenção de ruptura, os estudantes e profissionais realizam 
críticas consistentes à direção social da profissão (SANTOS, 2007, p. 114). 
 
O MESS, desde o princípio, constrói suas lutas alinhado com as pautas combativas 
do movimento mais geral da categoria, como a busca da ruptura com o 
conservadorismo, por uma educação pública de qualidade, por uma formação 
profissional de qualidade, pela construção de princípios éticos emancipatórios, pelo 
acesso e permanência a universidade, através da política de assistência estudantil, 
defesa da universidade pública e de qualidade, entre outras pautas. Sendo assim, o 
MESS caminhou e caminha lado a lado com os grupos que se colocam como linha 
de frente desses processos que buscam construir o projeto profissional crítico. O 
movimento estudantil, enquanto um movimento social, tem buscado pautar suas 
ações na perspectiva de ruptura com o conservadorismo. Através da adoção de um 
aparato teórico que oriente uma análise da realidade, que seja capaz de interpretá-la 
sem mistificações. O MESS se torna, assim como outros movimentos, um 
movimento social essencial na construção de processos de luta e resistência frente 
a dinâmica do capital4. 
Esse breve resgate da trajetória do MESS, oferece diversos elementos para 
identificação do direcionamento político que o MESS e a ENESSO vem adotando. 
Buscando dar forma e conteúdo ao longo dos anos, na construção da luta por uma 
educação pública, laica e de qualidade. Desde sua reorganização após a ditadura, 
até sua consolidação, os temas dos encontros do MESS e suas bandeiras de luta, 
sempre indicaram um movimento que vai na contramão da ordem vigente. O seu 
alinhamento com as entidades da categoria, CFESS/CRESS e ABEPSS, vem se 
consolidando e sendo também um movimento propulsor de diversos avanços. Assim 
como tem demonstrado também o seu comprometimento com o debate crítico dentro 
do Serviço Social brasileiro. 
 
4
 Vale ressaltar que um desses processos de luta este ano completa 6 anos - as Jornadas de Junho de 2013. As 
manifestações desse período contaram com o protagonismo da juventude, sobretudo de estudantes, das 
ocupações das escolas públicas às marchas pela qualidade do transporte, educação, segurança, entre outros 
questionamentos, que se espalhou por várias cidades do país. Esses foram reflexos da potência da organização 
e mobilização dos estudantes, que como protagonistas desse processo, levaram milhares de pessoas às ruas. 
31 
 
 
 
Diante do que foi apresentado, Montaño (2011) aponta muito bem que: 
Nessa direção, afirmar o movimento estudantil em uma perspectiva 
emancipatória, comprometida com as lutas das classes subalternas e com 
uma formação profissional crítica – tendo como referência o Projeto Ético-
Político Profissional – segue sendo uma marca e um desafio cotidiano para 
o MESS. (MONTAÑO, DURIGUETTO, 2011, p. 291) 
 
Apesar dos indícios que a história nos dá sobre o direcionamento político do MESS, 
Santos (2007) traz importantes considerações sobre a não imutabilidade do mesmo. 
Uma vez que a partir de sua natureza descontínua e provisória, as características 
dos sujeitos que participam do ME não são imutáveis, bem como o direcionamento 
político, que pode variar de tempo em tempo, de acordo com os protagonistas, que 
fazem a correlação de forças políticas (SANTOS, 2007). Acrescentamos ainda, os 
fatores políticos, econômicos e culturais de cada tempo histórico. Sobre “a natureza 
descontínua e provisória” apontada pelo autor, o mesmo explicita: 
O ME possui uma particularidade fundamental que o difere dos demais 
movimentos sociais, o caráter de transitoriedade de seus membros. Os 
sujeitos que fazem o ME tem sua inserção passageira, em via de regra, um 
desligamento previsível, pois enquanto movimento político, ele se organiza 
a partir do local onde estuda (SANTOS, 2007, p. 131). 
 
Esse aspecto da transitoriedade do movimento estudantil, é uma característica 
contraditória. Traz aspectos positivos, por proporcionar uma oxigenação ao 
movimento. Tendo em vista que a entrada de novos sujeitos a cada semestre, 
remonta novas cobranças aos militantes que já compõem o movimento. De forma 
que, estes se sintam responsáveis pela constituição de suas bases, para que o 
trabalho e a luta não se percam. Entretanto, essa transitoriedade também carrega 
desafios, pois em pouco tempo são colocadas inúmeras tarefas a serem realizadas 
por estudantes que ainda não compreendem as exigências deste espaço. Para isso 
é preciso continuidade da formação política de novos quadros, que em certos 
momentos pode vir a se fragilizar, ainda mais em contextos de sucateamentodas 
universidades, e de fragilização e despolitização dos movimentos sociais. 
De acordo com Santos (2007) essa particularidade pode gerar descontinuidade de 
um direcionamento político que o movimento acumulou coletivamente. No entanto, 
esse acúmulo é de alguma forma passado de geração em geração. Segundo o 
autor, uma forma de transmissão desse acúmulo sobre o direcionamento político são 
as teses produzidas pelos sujeitos que se aglutinam em grupos políticos fora da 
32 
 
 
 
ENESSO, mas que a compõem. Nessas teses são expressas, sistematicamente, os 
posicionamentos políticos, métodos, práticas políticas e teóricas do ME. 
Outros documentos também podem ser considerados importantes, para fins de 
compartilhar esse acúmulo político sobre o direcionamento da Executiva, como por 
exemplo o Caderno de Deliberações, cartas abertas, notas de repúdio, manifestos, 
estatuto, entre outros documentos. Em 2007 Santos nos aponta as teses como um 
meio de transmitir esse acúmulo. 
Diante dessas preliminares, podemos dizer que a história do Serviço Social é 
ancorada em uma construção coletiva de diversos sujeitos políticos que a compõem, 
sendo o MESS um desses. Nesta direção, de acordo com Guimarães (2014): 
 
A trajetória do Movimento Estudantil de Serviço Social (MESS), construída 
por diversas gerações, é parte constitutiva da história da profissão e da 
categoria dos(as) assistentes sociais, não acontecendo descolada desta, na 
medida em que ambos são processos imbricados e interdependentes, que 
se influenciam mutuamente, embora sejam inegáveis as particularidades 
(GUIMARÃES, 2014, p. 70). 
 
Situando, particularmente o MESS, é de suma importância localizar que o MESS é 
um movimento que surge no interior das universidades e extrapola o que tange a 
formação profissional acadêmica, como dito acima. Assim, o MESS, vai se 
constituindo também como um dos sujeitos políticos que impulsionam e 
acompanham as transformações do Serviço Social. 
 
É importante entender que o Movimento Estudantil de Serviço Social (MESS) que 
tem como entidade representativa a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço 
Social (ENESSO), faz parte do todo que são os Movimentos Sociais. E por isso, não 
se desvincula também das particularidades da realidade brasileira. Como citado no 
início deste capítulo, o ME também é expressão de um Movimento Social (MS), 
sendo ele um dos movimentos sociais que existem na área da educação. 
 
Diante dessas considerações, esse panorama histórico sobre os contextos sociais 
junto a categoria e o MESS, nos possibilitou subsídios para que no decorrer desse 
trabalho, possamos apreender com mais profundidade, os elementos históricos do 
direcionamento político da ENESSO. Entendendo que esse é um processo de 
33 
 
 
 
construção coletiva que acompanha os movimentos da realidade, e não caminha 
descolado das transformações ocorridas no interior da categoria profissional. A partir 
destes subsídios teremos base para compreender que o direcionamento tem um 
porquê de ser e para quê, na luta e defesa de uma perspectiva de formação 
profissional, antagônica ao projeto do capital. 
 
1.2 A mercantilização da educação e a luta do MESS por uma educação pública, 
gratuita e de qualidade 
A mercantilização da educação é um projeto que afeta profundamente os rumos da 
educação brasileira, e consequentemente a vida dos sujeitos que compõem a 
comunidade acadêmica. Sendo os trabalhadores e os estudantes os mais afetados 
por esse projeto. Particularmente, nas universidades públicas, o conjunto dos 
trabalhadores (professores, técnicos, estudantes) vêm construindo um histórico de 
lutas contra esse projeto do capital. Através de sindicatos e outras organizações 
políticas profissionais, os estudantes também são protagonistas na luta contra a 
mercantilização da educação, a partir da organização política do movimento 
estudantil. Vale ressaltar, que o movimento estudantil historicamente tem destaque 
na luta pela educação pública e de qualidade. 
Para compreender a atuação e o direcionamento político no MESS é preciso 
apreender os movimentos e os processos por quais a realidade se subordina. Nesse 
sentido, é impossível fazer qualquer análise dissociando a realidade do sistema 
capitalista, das novas configurações que o processo de superacumulação e da 
busca incessante por novos mercados coloca sobretudo para a educação. 
 
Nesta direção, o desenvolvimento da educação superior no Brasil é atravessado e 
constituído pelas relações econômicas, políticas e ideo-culturais estabelecidas 
historicamente em nossa formação econômico-social (LIMA, 2012). Para Florestan 
Fernandes (1975) o dilema educacional brasileiro articula o padrão dependente de 
desenvolvimento, e o padrão dependente de educação superior. Assim, a burguesia 
brasileira tenta de forma precária, seguir os moldes da educação superior 
desenvolvidos na Europa. 
 
De acordo com Fernandes (1975): 
34 
 
 
 
Se a sociedade considerada estiver numa posição central e vantajosa, ela 
determina seus próprios rumos na história. Se, ao inverso, ela estiver numa 
posição marginal e dependente, a sua história não será um reflexo tardio da 
história alheia, pois cada povo cria a sua história dentro das marcas da 
civilização de que participa, mas não traduzirá uma vitória do homem sobre 
o ambiente. (FERNANDES, 1975, p. 111) 
 
Ou seja, uma sociedade com um padrão de desenvolvimento dependente, como a 
sociedade brasileira, por mais que desenvolva suas próprias formas de ser, irá se 
deparar com os entraves do movimento mundial do capitalismo. Entraves como o 
que Florestan denomina, “dilema real” dessas nações. Dilema esse que é 
econômico, social e político, onde trona-se necessário acompanhar o que esse 
movimento impõe, o desenvolvimento de novas técnicas, de novas formas de 
trabalho a serviço dos interesses do grande capital. Entretanto, essas imposições 
saem muito mais caras para países como o nosso, intensamente marcado pela 
exploração. 
 
Como pontua Fernandes (1975): 
 
“E de maneira geral, a dependência (ou heteronomia) nunca é só 
econômica: ela é, simultaneamente, social e cultural. Sob esse aspecto, a 
escola superior estrutural é dinamicamente vinculada à organização 
econômica, social e política de uma sociedade dependente, concorria para 
estabelecer e para expandir os nexos de dependência ao nível da educação 
e da cultura.” (FERNANDES, 1975, 92) 
 
A educação também será parte de um fluxo de relações de dependência, com 
determinações que partem de fora. Assim, a Universidade tem o caráter das classes 
dominantes, se tornando um elo entre os centros externos de produção de saber e 
as elites culturais do país. E estas elites continuarão impondo-se como primordial a 
assimilação das próprias técnicas de produção do saber empregadas no exterior 
(FERNANDES, 1975). 
 
Dentro dessa lógica é possível compreender que desde seu início, há na Educação 
Superior um elemento político que é parte do dilema educacional brasileiro, a 
necessidade de expandir a educação para atender ao mercado capitalista. Essa 
necessidade é caracterizada pela desigualdade, sendo ela um privilégio das classes 
35 
 
 
 
dominantes (LIMA, 2012). Observa-se a partir disso, os reflexos de uma sociedade 
marcada pela luta de classes, sobretudo no Brasil, que se constitui através da 
colonização, exploração e escravização. Tais reflexos evidenciam essa 
desigualdade social, que se faz presente em diversos espaços de privilégio restritos 
à classe dominante. Dentre eles, os espaços destinados a produção de 
conhecimento. 
 
Como considera Rossa e Souza (2015): 
 
[...] no cenário mundial há a divisão entre os países centrais do 
capitalismo e os países dependentes, subordinados aos primeiros. 
Nesse contexto, a classe trabalhadora dos países dependentes tem 
sua exploração potencializada, tanto pela reestruturaçãoprodutiva e 
pelas políticas neoliberais, quanto pela posição do país no processo 
produtivo internacional (ROSSA, SOUZA, 2015, p. 7). 
 
 
De acordo com Lima (2012), com o desenvolvimento do capitalismo em nosso país, 
essa expansão da educação superior passou a ser uma exigência do próprio capital. 
Exigências estas que a burguesia brasileira teve ao longo da nossa história 
dificuldades em garantir pela necessidade de formação de uma força de trabalho 
mais capacitada e difusão da concepção de mundo burguês sob a imagem de uma 
“política inclusiva”. 
 
Como já destacamos anteriormente, trata-se de um processo pelo qual estudantes e 
professores fizeram historicamente oposição. Reivindicando a quebra do monopólio 
do conhecimento pelas classes dominantes, e pela democratização interna das 
universidades. Neste processo de luta, em 1960, a reforma universitária entra como 
uma importante pauta política, reivindicada nesses quesitos supracitados pelos 
movimentos sociais, em destaque pelo movimento estudantil. (LIMA, 2012). 
 
Seguindo os estudos de Lima (2012) na contramão dessa luta, havia a burguesia 
brasileira conservadora, reivindicando uma “modernização” da educação superior 
para atender as necessidades do capital. Assim, a burguesia toma as rédeas dessa 
reforma e conduz a sua maneira. À medida que acelerava o crescimento econômico, 
ampliava o acesso e “modernizava” a educação para atender seus interesses de 
acumulação do capital. 
36 
 
 
 
 
Sendo assim, a expansão da educação superior realizada pelo regime militar 
burguês foi mascarada por uma suposta ampliação de acesso ao ensino. Quando na 
verdade, era um processo combinado com o significativo aumento do setor privado 
na área da educação. Assim, as mudanças realizadas não alteraram o padrão 
dependente da educação superior (LIMA, 2012). E é nesse período que se 
desenvolve a mercantilização da educação. 
 
A partir da década de 1990, com a implantação do neoliberalismo no Brasil, e sua 
histórica inserção dependente e periférica na economia mundial, a política de 
educação, especialmente a superior, veio sendo mais profundamente redirecionada 
para atender às necessidades do capital, frente à sua crise estrutural. Tal processo 
está incluso em um conjunto articulado de ataques aos demais direitos sociais, como 
expresso nas contrarreformas trabalhista e da previdenciária. Neste sentido, 
segundo Lima (2013) a reestruturação do ensino superior é efetivada no fundamento 
da subordinação da ciência à lógica mercantil, e na transformação da Universidade 
em um campo de lucratividade. Na qual passam a reinar os princípios da 
produtividade e racionalidade, em detrimento da qualidade e universalidade do 
ensino. 
Especialmente a partir do governo FHC, o projeto neoliberal para a educação 
brasileira adquire novas configurações. Segundo Lima (2012), essas 
reconfigurações estão alicerçadas na contrarreforma do Estado, que nesse período 
necessitava expandir os seus mercados como estratégia de enfrentamento à crise 
estrutural. Para isso, era necessária a abertura da educação para o capital mundial. 
Nesse sentido: 
 
A educação superior passará a ser identificada como uma atividade 
pública não estatal, portanto um serviço prestado por IES públicas e 
privadas, o que justificaria, segundo o governo, o financiamento 
público (direto ou indireto) para as instituições privadas e o 
financiamento privado para as instituições públicas. (LIMA, 2012, 
p.18) 
 
Portanto, nota-se que desde 1990, o Estado brasileiro tem se posicionado 
conscientemente a favor dos interesses dos setores empresariais, em detrimento 
dos interesses da classe trabalhadora. De acordo com Melim (2016), o Estado passa 
37 
 
 
 
a se articular aos grandes empresários educacionais e se coloca obediente às 
orientações internacionais, “sobretudo o Banco Mundial, a UNESCO e a OMC que 
inflam em seus documentos o discurso da suposta “democratização do ensino”. 
(MELIM, 2016, p. 169). 
 
O que observamos, então, é o papel do Estado na substituição da educação de 
qualidade oferecida por meio da universidade pública, gratuita, presencial e 
democrática, pela lógica da lucratividade. Segund 
o Melim (2016), a necessidade de expansão de mercados faz com que, o Estado, 
reduza sua participação na execução das políticas sociais, e avance através das 
parcerias público-privado, que impactam diretamente na qualidade do ensino, na 
flexibilização dos currículos, na dissociação ensino, pesquisa e extensão, na 
permanência estudantil, na precarização do trabalho, dentre outras precarizações 
que resultam em uma formação aligeirada e massificada. 
 
Essa modalidade mercadológica de expansão da educação atravessa o governo 
FHC e tem continuidade nos governos petistas subsequentes. “Continuidade, no 
entanto, não significa que um mesmo projeto estrutural seja conduzido da mesma 
forma” (FRIGOTTO, 2011, p. 239). Tal explicitação permite a compreensão do 
caráter contraditório das ações dos governos do Partido dos Trabalhadores que se 
sucedem. 
 
Segundo Rossa e Souza (2015) as transformações da educação superior alinhadas 
às diretrizes do Banco Mundial durante o governo de FHC, deram poucos passos 
devido à resistência do movimento estudantil e dos professores. Porém, esse caráter 
neoliberal veio com toda sua força nos governos do PT, destacando-se as inúmeras 
políticas envolvendo a parceria público-privado (PPP), na educação superior. 
 
Nota-se no governo Lula (2003-2010) uma maior abertura e amplo acesso à 
educação e, ao mesmo tempo, uma massificação e desqualificação desta. Como 
afirma Leher (2005, p.25) “a adesão incondicional e sem subterfúgios do governo de 
Lula à agenda do Banco Mundial é um primeiro grande indicador de que o passado 
segue oprimindo o cérebro dos dirigentes governamentais”. O governo se mantém 
38 
 
 
 
obediente aos organismos internacionais e consolida diversas ações contraditórias, 
“reformas” que trazem certos avanços à classe trabalhadora, todavia pautadas na 
mesma lógica privatista dos governos precedidos. 
 
Se no final do governo FHC, segundo dados do Inep (2009), as matrículas em 
universidades privadas resultam em 70% do total de matrículas no ensino superior, 
em 2008, durante o governo Lula essa taxa sobe para 75%. Ao analisar dados mais 
recentes do Inep (2017) verifica-se que a privatização e a massificação do ensino 
prossegue durante o governo Dilma (2011-2016): 
 
O número de matrículas em cursos de graduação presencial diminuiu 0,4% 
entre 2016 e 2017; na modalidade a distância, o aumento é de 17,6% no 
mesmo período, maior percentual registrado desde 2008; entre 2007 e 
2017, as matrículas de cursos de graduação a distância aumentaram 
375,2%, enquanto na modalidade presencial o crescimento foi apenas de 
33,8% nesse mesmo período (INEP, 2017, p. 18). 
 
Esses dados possibilitam compreender que o caráter conciliador de classes do 
Governo Lula, se funda no “tripé setor financeiro, agronegócio e exportação de 
commodities”, como identifica Leher (2005). Ou seja, não há requerimento por parte 
destes de um modelo de universidade que tenha potencialidade de gerar um 
conhecimento de qualidade. As contradições postas pelas ações desses governos 
nos explicitam que, como anuncia Florestan (1977), não é possível uma reforma que 
seja capaz de conciliar uma minoria prepotente, a uma maioria desvalida. O que 
está colocado são os interesses da classe dominante, em total contraposição aos 
interesses da classe trabalhadora. Assim como a presença de um Estado que se 
coloca a favor da elite dominante em detrimento desta classe trabalhadora. 
 
Lima (2012) nos traz as principais ações tomadas por esse governo que expressam 
de fato esse avanço no acesso à educação superior. Todavia pautadas em um 
desenvolvimento dependente, dentro da lógicada mercantilização. Essas ações 
expressam um pacote de medidas voltadas ao incentivo do financiamento privado e 
as parcerias público-privado, que impactam diretamente na formação profissional, 
colocando um modelo de educação que vai na contramão do defendido 
historicamente pelo ME. 
 
39 
 
 
 
O Ensino à Distância (EAD) é um exemplo dessas ações. É impulsionado pelo 
governo FHC e regulamentado durante o governo Lula, onde cresce em larga 
escala. Essa modalidade de ensino e sua expansão caótica, segundo Iamamoto 
(2005) coloca a educação a mercê do mercado. Dessa forma, essa lógica da 
educação traz implicações que comprometem seu caráter público e, 
consequentemente, substitui o foco principal que é a qualidade, pela busca 
incessante do lucro. 
Nesse mesmo governo também é instituído o Programa Universidade para Todos 
(ProUni), que estabelece a destinação de vagas para estudantes considerados de 
baixa renda, em instituições particulares. Em troca, as instituições de ensino que 
aderirem ao programa recebem isenção fiscal. O que demonstra uma predisposição 
do governo ao favorecimento das instituições privadas. Num momento em que 
recursos como esses poderiam ser despendidos para as universidades públicas e a 
melhora de sua qualidade. 
 
É importante ressaltar ainda a criação da Reestruturação e Expansão das 
Universidades Federais (REUNI). O REUNI se destaca no processo de reorientação 
da universidade brasileira, em direção às propostas neoliberais do Banco Mundial 
(BM) (ROSSA, SOUZA, 2015). Suas metas globais são “a elevação gradual da taxa 
de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para noventa por cento, e 
da relação de alunos de graduação em cursos presenciais por professor para 
dezoito, ao final de cinco anos, a contar do início de cada plano” (§ 1º do art. 1º do 
Decreto nº 6.096). Como muito bem destaca Tonegutti e Martinez (2007): 
 
Há muitos anos lutamos pela ampliação da oferta de vagas nas 
Universidades Públicas, e, portanto, este não é ponto de 
discordância. Entretanto, a ampliação da oferta deve ocorrer dentro 
de parâmetros que permitam a manutenção, ou até a desejável 
ampliação, do padrão de qualidade do ensino superior público, e isto, 
como poderemos concluir neste trabalho, não é possível dentro dos 
limites impostos pelo REUNI. As duas metas que condicionam todos 
os projetos apresentados dentro do REUNI são incompatíveis com 
padrões de qualidade de ensino aceitáveis, aprofundam a 
precarização do trabalho docente e, na concepção, ferem a 
autonomia universitária ao impor padrões que são da competência 
acadêmica das Universidades (TONEGUTTI, MARTINEZ, 2007, p. 1) 
 
As ações supracitadas, e tantas outras, denotam inúmeros ataques à Educação 
Superior brasileira, e, consequentemente, colocam desafios para a formação 
40 
 
 
 
profissional. Mas no que tange ao Serviço Social, esse caráter mercadológico 
colocado a educação, aponta inúmeras especificidades. Haja vista que se colocam 
em contraponto com os acúmulos históricos obtidos pelas entidades da categoria. 
 
O Serviço Social defende as universidades públicas como espaços capazes de 
“garantir relativa autonomia para a afirmação da direção social proposta pelas 
diretrizes construídas pela Abepss, e para a realização de pesquisas críticas e 
comprometidas com essa direção”. (CISLAGHI, 2011, p.243). Todavia o que se tem 
é a redução do financiamento, e seu direcionamento para as necessidades do 
capital. O que impacta substancialmente na formação profissional do Serviço Social. 
Além de uma redução do número de docentes, estes se encontram fragilizados, 
diante dos ataques do capital a toda classe trabalhadora, para exercerem uma 
autonomia contra-hegemônica para uma formação crítica (CISLAGHI, 2011). 
 
Além disso, Iamamoto (2011) afirma que o cunho expansionista indiscriminado da 
educação e a formação massificada e aligeirada obtida através do Reuni, EAD, 
ProUni, dentre outras medidas, faz com que: 
 
O crescimento do contingente profissional, ainda que reflita a 
expansão do mercado de trabalho especializado, poderá desdobrar-
se na criação de um exército assistencial de reserva, ou seja, tornar-
se um recurso de qualificação do voluntariado no reforço do 
chamamento à solidariedade. Isso, em um ambiente político que 
estimula a criminalização da “questão social”, em especial, das lutas 
dos trabalhadores. Essa tendência acopla-se à assistencialização 
das políticas sociais em detrimento de um efetivo processo de 
redistribuição de renda e universalização dos direitos sociais para o 
conjunto dos trabalhadores. (IAMAMOTO, 2005, 135-136) 
 
Dessa forma, é possível apreender como as transformações que submetem a 
ciência as normas do mercado, impactam diretamente na educação e reverberam na 
formação profissional em Serviço Social, e no seu exercício profissional. Esses 
apontamentos elucidam os desafios lançados a todas as entidades da categoria, e 
em especial aos estudantes. 
 
Diante disso, a ENESSO cumpre papel fundamental nesse processo de defesa de 
uma formação profissional pública e de qualidade. Uma vez que se coloca aliada 
aos interesses da classe trabalhadora, compromissada com a formação profissional 
41 
 
 
 
e na defesa intransigente de uma educação pública, gratuita e de qualidade. Assim, 
é importante salientar que é na década de 1990, mais especificamente em 1993, 
que a ENESSO se consolida. Passa a ser também influenciada por essa conjuntura, 
e por esse movimento de fragilidade dos movimentos sociais frente à ofensiva 
neoliberal. Esta que gera um aprofundamento da competitividade, do individualismo, 
associados a complexa realidade brasileira. 
 
Segundo Dória (2007) no início dos anos 2000 a ENESSO vinha desenvolvendo 
diversas ações e discussões acerca da mercantilização da educação. Como por 
exemplo, entre 2001/2002 a Executiva se concentrou na elaboração e efetivação do 
plebiscito do Provão, junto com Executivas de outros cursos. 
 
Em 2003 a gestão eleita no XXV ENESS levava como principal bandeira de luta 
“Abaixo a mercantilização do ensino” que se reverberou na construção de diversas 
ações políticas de formação e informativas. Como jornais, cartas de protesto, 
boletins, assim como produção de documentos para os estudantes de escolas 
particulares. Onde foi pauta de sucessivas discussões nos fóruns do MESS. Nesses 
materiais a executiva ressalta o seu posicionamento contra o processo de 
mercantilização do ensino, pela redução de mensalidade e contra a reforma 
universitária do governo Lula (DÓRIA, 2007). 
 
No XXVI ENESS, em 2004 é dada continuação das discussões sobre a reforma 
universitária. Nesse ano, foi retirado como deliberação nacional o posicionamento 
contrário a reforma e a tarefa de encampar o boicote ao Exame Nacional de 
Desempenho dos Estudantes (ENADE), antigo Provão. Exatamente pela 
compreensão de que esse método avaliativo possui caráter produtivista, 
favorecendo uma lógica privatizante e mercadológica (DÓRIA, 2007). 
 
Mesmo diante de tantos desafios, podemos afirmar que se trata de um cenário que 
demonstra o engajamento do MESS na luta contra a mercantilização da educação. 
Essa que afeta a formação profissional dos estudantes, assim como a sua 
organização política, enquanto movimento social localizado na área da educação. 
Nesta direção, compreendemos que a vida universitária, de modo geral, sofre os 
42 
 
 
 
rebatimentos dessas reformas e modelos produtivistas que a dinâmica do capital 
vem impondo no campo de todas as políticas sociais. 
 
 
2. DIRECIONAMENTO TEÓRICO-POLÍTICO DA ENESSO: CAMINHOS PARA 
AVANÇAR NA CONSOLIDAÇÃO DO PEP 
 Neste capítulo abordaremos a Formação Profissional em Serviço Social, desde as 
movimentações que incitaram o início da mudança de direcionamento teórico 
político, até sua maturação. Assim, buscamos compreender a relação

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