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Gabriela Gomes 1 Cardiopatias congênitas • Qualquer anormalidade na estrutura ou função do coração que surge nas primeiras oito semanas de gestação quando se forma o coração do bebê • Ocorre por uma alteração no desenvolvimento embrionário da estrutura cardíaca, mesmo que descoberto no nascimento ou anos mais tarde • Possui grande importância epidemiológica • 28 mil crianças com problemas cardíacos por ano • A cada 100 bebês nascidos vivos, 1 nasce cardiopata congênito. Desses, 80% necessitarão de cirurgião durante a vida • As cardiopatias congênitas surgem entre a 3ª e 6ª semana de gestação • São classificadas em: ➢ Acianogênicas: ▪ Comunicação interatrial (CIA) ▪ Comunicação interventricular (CIV) ▪ Persistência do canal arterial (PCA) ▪ Coarctação da Aorta (CoAo) ➢ Cianogênicas: ▪ Tetralogia de Fallot (T4F) ▪ Transposição das grandes artérias (TGA) ACIANOGÊNICAS • Nem sempre provocam repercussões graves no funcionamento cardíaco • Sintomas dependem da gravidade do defeito cardíaco: ➢ Ausência de sintoma ➢ Sintomas somente durante esforços (insuficiência cardíaca) COMUNICAÇÃO INTERATRIAL (CIA) • Mais comum em mulheres • Mais comum em adultos • 10 a 15% das cardiopatias congênitas • 1ª lesão cardíaca tratada com CEC • Pode ser classificada em quatro tipos: ➢ CIA ostium secundum ➢ CIA ostium primum ➢ CIA seio venoso ➢ CIA seio coronário • Caracterizada por um defeito no septo que separa os átrios, que acaba por permitir um shunt da esquerda para a direita e resultando em sobrecarga de volume das cavidades direitas e aumento do fluxo pulmonar • Há esvaziamento para o AD, e a pressão desse sistema não se eleva • Ausculta cardíaca: ➢ Varia em função do fluxo pulmonar e da pressão arterial pulmonar ➢ Principal característica: desdobramento fixo da segunda bulha cardíaca ➢ Quando há sopro, se justifica por excesso de volume passando pela válvula pulmonar (sopro sistólico ejetivo em foco pulmonar) • Ecocardiograma permite identificar o tipo, local e a dimensão do defeito • Raio X: ➢ Cardiomegalia à custa do átrio e do ventrículo direitos e da artéria pulmonar ➢ Não há vasos predominantes na porção apical • ECG: ➢ Complexo QRS tipo Rsr’ (distúrbio de condução do ramo direito) nas derivações precordiais direitas, por sobrecarga ventricular direita, mas pode ser normal em caso de CIA pequena ➢ Em alguns casos pode ser observado mudança na onda P, o que sugere aumento atrial direito ➢ CIA grande: hipertrofias atrial e ventricular direitas com desvio do eixo para a direita ➢ Na CIA ostium primum observa-se, também, hemibloqueio anterior esquerdo e sobrecarga ventricular esquerda • Pode haver fechamento espontâneo ou redução do diâmetro no primeiro ano de vida • Correção cirúrgica é indicada em pacientes que possuem sintomas e clínica de hiperfluxo pulmonar • O fechamento pode ser feito por cirurgia ou cateterismo em CIA ostium primum e correções da fenda na valva mitral e das anomalias de drenagem pulmonar devem ser realizadas simultaneamente • Correção cirúrgica deve ser feita por volta dos 2 anos de idade • A indicação de cateterismo é como objetivo terapêutico, para fechamento da CIA com dispositivos, nos casos de CIA ostium primum com bordas bem delimitadas CIA OSTIUM SECUNDUM • Defeito mais comum • Ocorre na região da fossa oval • Pode ser chamada de CIA tipo fossa oval CIA OSTIUM PRIMUM • Defeito do septo atrioventricular parcial • Está localizada juntos às valvas atrioventriculares Gabriela Gomes 2 • Quase sempre está associada a fenda no folheto anterior da valva mitral CIA SEIO VENOSO • Localizada junto à desembocadura da veia cava superior • Geralmente está associada à drenagem anômala parcial de veias pulmonares direitas CIA SEIO CORONÁRIO • Raro • Decorrente da presença de orifício no teto do seio coronário • Permite passagem do átrio esquerdo para o átrio direito através do óstio do seio coronário COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR (CIV) • Ocorre uma comunicação anormal entre os ventrículos cardíacos • Cardiopatia congênita mais frequente • 1 a cada 1000 nascidos vivos • 25% das cardiopatias congênitas • Metade possui lesões associadas: ➢ Persistência do canal arterial ➢ Estenose aórtica ➢ Coarctação da aorta • Classificação: ➢ Perimembranosa ➢ Muscular ➢ Via de entrada ➢ Subarterial duplamente relacionada • Há passagem de sangue do VE para o VD por intermédio de uma abertura no septo interventricular • O fluxo aumentado na circulação pulmonar é responsável pelos sintomas de taquipneia, dispneia aos esforços e interrupções às mamadas • Quadro clínico varia de acordo com o tamanho da CIV • Quadro na CIV pequena: ➢ Crianças são assintomáticas e acianóticas ➢ Crianças apresentam um crescimento e desenvolvimento normal ➢ Sopro sistólico nas primeiras semanas de vida ➢ Segunda bulha é normal, não havendo sopros diastólicos • Quadro clínico na CIV moderada a grande: ➢ Atraso no crescimento e desenvolvimento ➢ Diminuição da tolerância ao exercício ➢ Infecções respiratórias de repetição ➢ Sinais de IC ➢ Moderada: ausculta cardíaca com segunda bulha hiperfonética na área pulmonar e sopro sistólico de regurgitação (holossistólico) ➢ Grande: aumento do diâmetro anteroposterior do tórax; segunda bulha na área pulmonar é intensa e o sopro sistólico de regurgitação geralmente está presente • O ecocardiograma evidencia o defeito anatômico • Raio X: ➢ CIV pequena: normal ➢ CIV moderada: cardiomegalia à custa das cavidades esquerdas ➢ CIV grande: cardiomegalia significativa, com consequente do aumento das cavidades esquerdas, da artéria pulmonar e do ventrículo direito • ECG: ➢ CIV pequena: normal ➢ CIV moderada: sobrecarga ventricular esquerda ➢ CIV grande: sobrecarga biventricular • A terapêutica medicamentosa está indicada para pacientes que apresentam sinais de insuficiência cardíaca CIV PERIMEMBRANOSA • Ocorre em 80% dos casos • Acontece na porção membranosa do septo interventricular • As margens associadas incluem o anel da válvula atrioventricular direita, o septo muscular e, em potencial, o anel aórtico • Podem ser grandes • Apresentam prolapso associado das cúspides da válvula aórtica não coronariana ou coronária direita • Potencial para fechamento espontâneo CIV MUSCULAR • Ocorre em todos os aspectos do septo interventricular muscular • Margens desses defeitos são totalmente musculares Gabriela Gomes 3 • Lesões podem ser isoladas ou envolver várias aberturas no septo • Defeitos pequenos têm grande potencial para regressão ou o fechamento espontâneo CIV SUBARTERIAL • Ocorre em associação com o anel da válvula aórtica, válvula pulmonar ou ambos • Defeitos quase sempre relacionados com significativo prolapso da cúspide da válvula aórtica adjacente • O único mecanismo para fechamento espontâneo desses defeitos está relacionado com o prolapso da cúspide e a distorção da válvula • Todos esses defeitos são corrigidos cirurgicamente, por conta do risco contínuo de lesão à válvula aórtica • As indicações para operações dependem do tamanho do defeito, do grau de derivação e das lesões associadas • Pacientes assintomáticos com evidência de shunts significativos e cardiomegalia são propostos para a terapia PERSISTÊNCIA DO CANAL ARTERIAL • O canal arterial é aberto na vida intrauterina. Na maioria das pessoas, durante as primeiras horas ou dias da vida pós-natal, o canal arterial se fecha espontaneamente. Ele se torna fechado por volta de duas a três semanas de vida • Se houver PCA, o shunt passa a se direcionar da esquerda para a direita, levando a um desequilíbrio hemodinâmico, com aumento do fluxo na circulação pulmonar e nas cavidades esquerdas • O aumento de volume nascavidades esquerdas provoca aumento das pressões diastólicas e, consequentemente, da pressão capilar, desencadeando todo o processo fisiopatológico na CIV • Capaz de levar à síndrome de Eisenmenger • Ausculta: sopro típico é contínuo na sístole (maior) e diástole (menor), com segunda bulha hiperfonética e os pulsos periféricos são amplos • Precórdio hiperdinâmico • Pulsos amplos • Sinais de edema pulmonar • Pode estar associada ao quadro da síndrome da angústia respiratória e piorar o padrão respiratório, aumentando a taquicardia, a taquipneia e desenvolvendo edema pulmonar. O sopro pode estar ausente • Raio X: ➢ No canal arterial pequeno: normal ➢ Quando há repercussão hemodinâmica: aumento da circulação pulmonar e da área cardíaca, à custa das cavidades esquerdas, da aorta e da artéria pulmonar • ECG: ➢ PCA pequena: normal ➢ Grande shunt da esquerda para a direita: sobrecarga ventricular esquerda • ECO com doppler é o exame padrão para diagnóstico dessa anomalia • Todas que são evidentes ao exame físico devem ser fechadas, mesmo as pequenas, em razão do risco de endocardite infecciosa • Em prematuros, a primeira opção para aqueles que necessitam do fechamento é o tratamento medicamentoso (inibidor de prostaglandina) e ibuprofeno • Cirurgia indicada quando houver falência no fechamento medicamentoso ou em condições em que o prematuro não possa receber a droga e em crianças prematuras, o fechamento está indicado em qualquer idade para IC congestiva COARCTAÇÃO DA AORTA • Estreitamento da aorta • Pode ser localizada ou segmentar • Mais comum se apresentar na região pré-ductal, mas pode apresentar na região paraductal e pós-ductal • Síndrome de Shone está associada a coarctação da aorta • Predomínio no sexo masculino Gabriela Gomes 4 • A associação com a valva aórtica bicúspide é muito frequente e é a doença cardíaca mais comum na síndrome de Turner • Quando não crítica evolui com hipertrofia do VE e hipertensão arterial na parte superior do corpo • Neonato com coarctação grave: clínica de IC e, às vezes, choque cardiogênico • Ressonância magnética ou tomografia helicoidal são exames que demonstram com mais clareza • Indicação de cirurgia ou dilatação: ➢ Todos os pacientes sintomáticos ➢ Pacientes assintomáticos que apresentarem HA ou sinais de repercussão hemodinâmica • Tratamento de urgência em RN e lactentes com IC • Tratamento eletivo nos pacientes assintomáticos em torno do primeiro ano de vida CIANOGÊNICAS TETRALOGIA DE FALLOT • Cardiopatia cianogênica mais comum além do primeiro ano de vida • Está presente em 3 a 5% das crianças portadoras de cardiopatia congênita • Consiste em quatro anomalias: ➢ Grande defeito do septo ventricular ➢ Obstrução da via de saída do ventrículo direito ➢ Estenose da valva pulmonar ➢ Hipertrofia ventricular direita • Desalinhamento anterior do septo infundibular, que deixa uma deficiência na região subaórtica • Geralmente é perimembranoso, grande e não restritivo • Shunt de sangue venoso sistêmico dessaturado através do VSD para se misturar com débito cardíaco sistêmico • Quanto maior o grau de obstrução ao fluxo sanguíneo pulmonar, maior o shunt direito-esquerdo e, portanto, pior a dessaturação • A cirurgia é a base do tratamento • Sintomatologia: ➢ Cianose ➢ Dispneia durante a refeição ➢ Déficit de crescimento ➢ Crises hipercianóticas • Diagnóstico: ➢ Anamnese e exame físico ➢ Complementares: Raio X de tórax, ECG e ecocardiograma ➢ Raio X: ▪ Coração em forma de bota ▪ Segmento principal da artéria pulmonar côncavo ▪ Acentuada diminuição da trama vascular pulmonar ▪ Arco aórtico à direita em 25% dos casos ➢ Ecocardiograma: ▪ Grau de dextroposição da aorta ▪ Graus de estenose das artérias pulmonares ▪ Grau de estenose valvar pulmonar ▪ Tamanho e posição da CIV • Tratamento clínico: ➢ Neonatos sintomáticos: infusão de PGE1 ➢ Para crises hipercianóticas: ▪ Posição genupeitoral ▪ Tranquilização ▪ Oxigênio ▪ Hiper-hidratação • Tratamento cirúrgico pode ser temporário ou definitivo TRANSPOSIÇÃO DAS GRANDES ARTÉRIAS • Relação anormal entre as grandes artérias e os ventrículos, de modo que a aorta se origina do VD, e a artéria pulmonar, do VE, formando uma circulação em paralelo • Sangue venoso sistêmico que chega ao AD passa para o VD e dele para a aorta, levando sangue insaturado para a circulação sistêmica Gabriela Gomes 5 • Paralelamente, no lado esquerdo, o sangue oxigenado que chega ao AE passa para o VE e retorna para a circulação pulmonar • Recém-nascido sem correção cirúrgica evolui para o óbito ainda do período neonatal • Manifestações clínicas: ➢ Bem ao nascimento, piorando de forma progressiva e acentuada à medida que ocorre o fechamento do canal arterial, gerando posteriormente hipóxia e acidose metabólica ➢ Disfunção miocárdica ➢ Sinais de IC: taquipneia, cansaço às mamadas, gemência e palidez cutânea • Ausculta: não se escuta sopro e segunda bulha é única e alta • Raio X: ➢ Área cardíaca geralmente é normal ➢ Pode ocorrer leve cardiomegalia ➢ Circulação pulmonar é normal ou discretamente aumentada ➢ Mediastino superior estreitado ➢ Coração como se fosse um “ovo deitado” • ECG: ➢ Desvio de eixo para a direita ➢ Sobrecarga ventricular direita ➢ V1 com morfologia Rs e R’ com onda T positiva em V1 e V2 • Tratamento clínico: ➢ Infusão de Prostaglandina E1 (que retarda o fechamento do canal arterial) ➢ Oxigenioterapia ➢ Atriosseptostomia de Rashkind ➢ Corrigir distúrbios acidobásicos e/ou hidroeletrolítico ➢ Digoxina e diuréticos caso haja IC
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