Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aula 3 Energia e nutrientes UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE TECNOLOGIA E RECURSOS NATURAIS UNIDADE ACADÊMICA DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS Profa. Dra. Severina de Sousa Energia • “Capacidade de realizar trabalho”; • Fonte primária de toda energia dos organismos vivos: Sol; Organismos autotróficos: obtêm energia, pelo processo de fotossíntese; Organismos heterotróficos: – Os seres humanos, obtêm energia, por meio da degradação de nutrientes orgânicos biossintetizados pelos autotróficos, pelo consumo dos alimentos; • Na nutrição, se refere a maneira pela qual o corpo faz uso da energia contida na ligação química dentro no alimento. • Alimentos são constituídos de vários grupos de nutrientes, entre os quais, aqueles que sob sua forma monomérica, são passíveis de reações catabólicas com geração de energia sob a forma de ATP (adenosina trifosfato), sendo chamados de nutrientes energéticos. – Carboidratos: sob a forma de glicose – Triacilgliceróis: sob a forma de ácido graxo e glicerol – Proteínas: sob a forma de aminoácido – Etanol: não é considerado nutriente (não promove manutenção, crescimento ou reparo das células). • O organismo consome energia de forma contínua, mas a ingestão alimentar não se dá da mesma forma. Dois períodos: - de jejum: estado catabólico: o organismo depende de substratos endógenos (reservas orgânicas de massa corporal) para obtenção de energia. - Pós absortivo: estado anabólico: o organismo utiliza os substratos exógenos (nutrientes vindos da alimentação) para obtenção de energia. Utilização dos alimentos como fonte de energia: • Praticamente todos os alimentos possuem carboidratos, lipídios e proteínas, exceto açúcar (fonte exclusiva de carboidratos) e óleos (fonte exclusiva de lipídios). • Para que a energia disponível nesses nutrientes possa ser utilizada, é necessário 3 etapas básicas: – Digestão – Absorção – Metabolismo Essas etapas são extremamente específicas para cada nutriente, porém convergem para uma via única, que é a liberação do acetil e a posterior formação de moléculas de acetil coenzima A. Essas moléculas entram no ciclo de Krebs, liberando átomos de hidrogênio que serão oxidados na cadeia respiratória para que então haja liberação de água, gás carbônico e energia sob a forma de ATP. Utilização dos alimentos para armazenamento de energia: • O organismo é extremamente econômico no uso de substrato energético disponível. • Mesmo no período pós absortivo, o organismo utiliza para oxidação apenas a quantidade de nutrientes necessária para suprir suas necessidades fisiológicas. • Independentemente do substrato energético ingerido, tudo o que não é prontamente utilizado não é excretado (exceto o grupamento amino dos aminoácidos), mas armazenado sob a forma de triacilglicerol, que poderá ser usado no período de jejum. • Esses nutrientes são convertidos em moléculas de acetil (os aminoácidos precisam perder o grupamento amino) que, em seguida, são ligados a coenzima A, para que ocorra a síntese de ácidos graxos no fígado e o transporte até o local de depósito (o adipócito). Determinação do conteúdo energético disponível no alimento: • Cada alimento tem seu valor energético específico, ou seja, determinada quantidade de alimento libera certa quantidade de energia quando metabolizada, e esta depende da composição do alimento. • Conceito de gasto energético: – Análogo a um forno de lenha, que na presença de O2 queima madeira para liberar calor de forma controlada. – O alimento consumido é oxidado (presença de O2), liberando CO2, H2O e calor. – Processo contínuo corpo terá reserva gradual e constante de energia. Ex.: combustão de glicose C6H12O6 + 6O2 6H2O + 6CO2 + Calor • Reações químicas semelhantes ocorrem para a combustão de outras fontes de energia (proteínas e lipídios). • Para estimar a quantidade de energia oferecida por uma refeição: – bomba calorimétrica ou calorímetro e a unidade energética utilizada é cal ou Kcal. - Lavoisier (França, sec. 18) - queima ou combustão dos alimentos pelo corpo - primeiro aparelho para medir produção de calor – Energia: – Em nutrição: Quantidade de calor produzida por um grama de amostra purificada de carboidrato, lipídios e proteínas (queimados no calorímetro): » Carboidratos: 4,10 » Lipídios: 9,45 » Proteínas: 5,65 » Álcool: 7,10 • Digestibilidade dos nutrientes: – O organismo não é tão eficiente quanto o calorímetro, sendo importante a quantidade do nutriente ingerido disponível ou sua digestibilidade. » Carboidratos: 98% » Lipídios: 95% Absorvidos » Proteínas: 92% - Digestibilidade da proteína: ampla variação - Após o processo absortivo: Toda energia disponível na glicose e nos triacilgliceróis está disponível para ser oxidada, o mesmo não ocorre com os aminoácidos, pois o grupamento amino dos aminoácidos não pode ser oxidado (igual no calorímetro), e sim são excretados na urina principalmente sob a forma de uréia. -Desta forma, para estima do valor energético dos alimentos que compõem uma refeição, aceitam-se valores aproximados: 4 kcal/g de carboidratos e de proteínas, 9kcal/g de lipídio e 7kcal/g de álcool. Energia do alimento Kcal/g CHO Lip Prot Alcool 4,10 9,45 5,65 7,10 Energia digerível Kcal/g CHO Lip Prot Alcool 4,0 9,0 5,20 7,10 Energia metabolizável Kcal/g CHO Lip Prot Alcool 4,0 9,0 4,0 7,0 Perdas nas fezes e gases de energia Perdas na urina de energia Energia disponível nos nutrientes após processos fisiológicos: Gasto de energia • Nosso corpo é movido pela energia gerada na combustão orgânica dos alimentos que comemos diariamente; • A alimentação básica e equilibrada de um brasileiro adulto e sadio deve lhe oferecer 2000 kcal/dia; • Quando ingerimos mais alimentos do que somos capazes de gastar diariamente as calorias a mais se acumulam no corpo sob a forma de gordura. Gasto de Energia Valor energético do alimento • QUILOCALORIA (kcal) são 1.000 calorias. • Ou 1 caloria = 0,001 kcal 1 kcal = 1000 cal 1 kcal = 4,2 kJ 0,24 kcal = 1 kJ OBS: Para evitar números extensos, as rotulagens de alimentos se referem a Kcal A caloria escrita com letra maiúscula (Cal) equivale à kcal. A caloria escrita com letra minúscula (cal) é a pequena caloria, mil vezes menor que a outra. METABOLISMO • Conjunto de reações químicas responsáveis pelos processos de síntese e degradação dos nutrientes na célula. Conjunto de reações químicas responsáveis pelos processos de síntese e degradação dos nutrientes na célula. Metabolismo? Anabolismo • É a síntese de compostos grandes a partir de unidades pequenas • Por exemplo, a formação de proteínas a partir de aminoácidos. Catabolismo • É a degradação de compostos grandes em unidades pequenas • Por exemplo, a quebra da proteína em suas unidades estruturais, que são os aminoácidos. Metabolismo Energético: Compreende todas as vias utilizadas pelo organismo para obter e usar a energia química oriunda do rompimento das ligações químicas presentes nos nutrientes que compõem os alimentos. GASTO ENERGÉTICO: Independentemente do momento do dia, o corpo gasta energia para viver. O gasto energético varia durante dia (atividade física, digestão, respiração, funcionamento dos órgãos, etc.), ao longo da vida (crescimento da criança, gravidez, etc.) diferindo, inclusive de pessoa para pessoa durante o repouso. Estima-se que o gasto energético diário resulte essencialmente de três metabolismos principais: - os gastos associados ao repouso - os gastos associados à atividade física - os gastos associados à digestão • Fontes principais do gasto energético visam: - Abastecer a Taxa Metabólica Basal - Efeito térmico dos alimentos - Atividade física Componentes do gasto energético de 24 horas TMB: O mínimo de energia gasta em 24 horas, correspondendo a energia dispendida para a manutenção dos processos corporais vitais: - respiração - metabolismo celular - circulação - atividade glandular - conservação da temperaturacorpórea - sistema nervoso Determinação: A medida da TMB deve ser feito pela manhã, logo após acordar, antes de qualquer atividade física, após jejum de 12 a 18 horas. GER: equivocadamente como sinônimo da TMB. A diferença básica é que permite que o indivíduo se dirija até o local onde será realizado o exame. Deve-se obedecer um repouso de 30 minutos no mínimo. Componentes do gasto energético • A energia é despendida pelo corpo humano na forma: Taxa metabólica basal Efeito térmico do alimento Termogênese por atividade Gasto energético total (GET) Taxa metabólica basal: Quantidade de energia utilizada em 24 horas por uma pessoa em repouso físico e mental para manutenção das atividades das funções corporais vitais (respiração, circulação, sistema nervoso, e etc). Componentes do gasto energético • O efeito térmico do alimento (ETA) é o aumento no gasto energético associado ao consumo de alimento. • A termogênese por atividade (TA) é a energia gasta durante exercício físico e esportes; • A energia gasta durante as atividades do dia a dia é chamada de termogênese por atividade de não- exercício (TANE). Componentes do gasto energético Componentes do Gasto Energético Energia dispendida Gasto Energético Diário Taxa Metabólica Basal Durante os processos corporais vitais 60 a 75% Efeito Térmico do Exercício Físico Durante a atividade física 15 a 30% Efeito Térmico do Alimento Decorrente do processo de digestão, absorção e metabolismo de alimentos e armazenamento de reserva de glicogênio e gordura 10% Termogênese Facultativa Adaptação as condições ambientais que podem modificar o gasto de energia, estresse emocional, etc. ≤ 10 a 15 % Fatores que influenciam o gasto energético • Tamanho corporal - As pessoas maiores possuem taxas metabólicas maiores que as pessoas menores; EX: Se duas pessoas tem o mesmo peso, mas uma delas é mais alta, a pessoa mais alta (área de superfície corporal maior) possui uma taxa metabólica maior; Fatores que influenciam o gasto energético • Composição corporal - A massa livre de gordura (MLG), tecido metabolicamente ativo no corpo, é o principal determinante do gasto energético basal; - Devido a sua maior MLG, os atletas possuem um metabolismo basal aproximadamente 5% maior que indivíduos não atletas. Medição: antropometria de dobras cutâneas (ADC) e bioimpedância elétrica (BIA). É utilizada para determinar o percentual de gordura corporal pela medida do tecido gorduroso subcutâneo com um compasso de dobras cutâneas. Fatores que influenciam o gasto energético • A Técnica BIA determina a MLG (massa livre de gordura) nas extremidades; • Colocação de eletrodos no punho e tornozelo; • Determina a água total corporal de uma pessoa (ACT); • A partir da ACT, a MLG é estimada porque é composta principalmente de água; • Uma aproximação da massa gorda (MG) é estimada entre a diferença do peso corporal e a MLG. MG = Peso - MLG Fatores que influenciam o gasto energético • Idade - é mais alta durante os períodos de rápido crescimento, principalmente durante o primeiro e o segundo anos de vida. • Gênero - As mulheres geralmente possuem mais gordura em proporção ao músculo que os homens; - Tem taxas metabólicas de 5 a 10% menores que as dos homens de mesmo peso e estatura. Fatores que influenciam o gasto energético • Estado hormonal - estado hormonal pode afetar a taxa metabólica, particularmente naquelas pessoas com distúrbios endócrinos, como hiper e hipotireoidismo, os quais aumentam ou diminuem o gasto energético, respectivamente; - A taxa metabólica das mulheres flutua com o clico menstrual; - Alguns estudos mostraram que durante a fase lútea (p. ex., período de um tempo entre a ovulação e o início da menstruação), a taxa metabólica aumenta levemente; - Durante a gravidez, o crescimento uterino, placentário e do tecido fetal, junto à frequência cardíaca aumentada da mãe, contribui para um aumento gradual na Taxa Metabólica Basal; - Em média, a Taxa Metabólica Basal aumenta 11 calorias por semana durante a gestação. Cálculo da taxa metabólica basal FAO/OMS - parâmetros: Idade, Sexo, Altura, Peso TMB Idade (anos) Masculino Feminino 10-18 16.6 P + 77 A + 572 7.4 P + 482 A + 217 18-30 15.4 P +27 A + 717 13.3 P + 334 A + 35 30-60 11.3 P + 16 A + 901 8.7 P – 25 A + 862 > 60 8.8 P + 11 A +1071 9.2 P + 637 A – 302 Para indivíduos sadios ou em acompanhamento ambulatorial com doenças leves GET = TMB x FA Obs: Se o paciente for sedentário, multiplicar a TMB por 1,2 para o cálculo do GET. Cálculo da taxa metabólica basal Harris-Benedict baseia-se em cinco parâmetros diferentes para calcular o numero de calorias recomendado: Sexo, Altura, Peso, Idade e Atividade Física. Esta fórmula é utilizada habitualmente para pacientes internados ou em acompanhamento ambulatorial que apresentam doenças crônicas. GET = TMB X FA X FI X FT Em que: Fator de atividade; Fator de injúria; e Fator térmico são Tabelados. Cálculo da taxa metabólica basal GET: TMB x FA Fonte: FAO E OMS Essas equações não são consistentes! Vamos calcular sua TMB? Índice de massa corporal (IMC) • Este valor é dado por uma equação muito simples e indica, através do uso de uma tabela, se a pessoa está com peso adequado, com sobrepeso ou obeso Cálculo da energia do alimento • A energia total disponível a partir de um alimento é medida com uma bomba calorimétrica; Valor energético do alimento Energia Bruta do alimento (calor de combustão) (kcal/g) Carboidratos 4,10 Gordura 9,45 Proteína 5,65 Álcool 7,10 Energia digerida (kcal/g) Carboidratos 4,0 Gordura 9,0 Proteína 5,20 Álcool 7,10 Energia metabolizável (kcal/g) Carboidratos 4,0 Gordura 9,0 Proteína 4,0 Álcool 7,0 Desta forma, considera-se no cálculo energético que: -Cada grama de Açúcar produz 4 kcal -Cada grama de Proteína produz 4 kcal -Cada grama de Álcool produz 7 kcal -Cada grama de Gordura produz 9 kcal E o valor 2 kcal/g foi proposto para fibra devido ao “carboidrato não disponível” que resiste a digestão e absorção Cálculo da energia do alimento • Embora o valor energético de cada nutriente seja precisamente conhecido, apenas alguns alimentos como óleos e açúcares são constituídos de um único nutriente; • Comumente, os alimentos contêm uma mistura de proteína gordura e carboidrato. O valor energético de um ovo tamanho médio (50 g) que contém 13% de proteína, 12% de gordura e 1% de carboidrato. Proteína: 13% x 50 g= 6,5 g x 4 kcal/g = 26 kcal Gordura: 12% x 50 g=6 g x 9 kcal/g= 54 kcal/g Carboidrato: 1% x 50 g= 0,5 g x 4 kcal/g = 2 kcal Total = 82 kcal Exercício • Calcule o valor energético Calcular o valor energético de um lanche: Nutrientes Porção do lanche Fonte de conversão (kcal/g) Carboidrato 21g 4 proteína 14g 4 gordura 6g 9 Cálculo do valor energético de bebidas alcoólicas e misturas • Pode ser determinado pela seguinte equação (Gastineau, 1976): Quilocalorias = quantidade de bebida (mL) x Teste x 0,8 kcal/teste/mL Onde: Teste= proporção de álcool na água ou outro líquido em uma bebida alcoólica. Quilocalorias = 7 x quantidade de bebida (mL) x graduação alcóolica x 0,8/100 Onde: graduação alcóolica = a proporção de álcool e água ou outros líquidos e a bebida alcóolica. (Define-se que uma graduação alcóolica de 100 é igual a 50% de álcool etílico por volume. O número de graus é igual a porcentagem em volume de álcool etílico, quer dizer, 50° é igual a 50% de álcool etílico por volume). O valor energético das bebidas alcóolicas, que se expressa em quilocalorias, pode- se determinar com a seguinte equação (Gastineau, 1976): Cálculo do valor energético de bebidas alcoólicas e destilados Para determinar a porcentagem de álcool etílico em uma bebida, deve-se dividir o valor da graduação alcóolica por 2. Por exemplo: um uísque com uma graduação alcóolica de 86 contem 43% de álcool etílico. A última parte da equação (0,8 quilocalorias/grau alcóolico/mL) é o fator densidadecalórica do álcool (7 kcal/g) e que nem todo álcool do licor está disponível para converter-se em energia. http://www.nutricionistarafael.com.br/2014/04/calculo-do-valor-energetico-de-bebidas.html Por exemplo: o número de quilocalorias em 45 mL de uísque com uma graduação alcóolica de 43 se determinaria da seguinte maneira: 7 x 45 mL x 43 graus alcóolicos x 0,8/100 kcal = 108 kcal Referência: MAHAN, L. Kathleen e Strump Escott Sylvia. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 12. ed. São Paulo: editora Elsevier, 2010. 1358p. ISBN:9788535229844.
Compartilhar