Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FARMACOLOGIA APLICADA À NUTRIÇÃO W BA 06 99 _v 1. 0 22 Joseane Almeida Santos Nobre Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Farmacologia Aplicada à Nutrição 1ª edição 33 3 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Camila Braga de Oliveira Higa Revisor Helena Dória Ribeiro de Andrade Prviato Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Hazure Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Nobre, Joseane Almeida Santos N754f Farmacologia aplicada à nutrição / Joseane Almeida Santos Nobre. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. 116 p. ISBN 978-85-522-1553-0 1. Nutrição. 2. Nutrição clínica. 3. Farmacologia. I. Nobre, Joseane Almeida Santos. II. Título CDD 610 Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 44 FARMACOLOGIA APLICADA À NUTRIÇÃO SUMÁRIO Apresentação da disciplina 5 Farmacocinética e farmacodinâmica 6 Interações e biodisponibilidade na relação droga-nutriente 24 Drogas para o tratamento de diabetes e obesidade no estado nutricional 47 Drogas que alteram o trato gastrointestinal no estado nutricional 67 Drogas antitireoidianas, corticoides e anabolizantes no estado nutricional 81 Medicamentos anti-hipertensivos, antianêmicos e quimioterápicos no estado nutricional 100 Nutracêuticos e alimentos funcionais 118 55 5 Apresentação da disciplina Olá, aluno! A fundamentação teórica desta disciplina é aplicada desde o planejamento de cardápios em restaurantes até atendimento de pacientes em home care, passando por acompanhamento hospitalar e atendimento em consultórios, ou seja, permitirão a você entender melhor os mecanismos de absorção e utilização de fármacos, a interação entre medicamentos e nutrientes, destacando as melhores estratégias nutricionais para a correção das deficiências ocasionadas pelo tratamento medicamentoso. Sendo assim, você será capaz de reconhecer os mecanismos de ação dos medicamentos utilizados no tratamento do diabetes, da hipertensão arterial, câncer, entre outros. Serão apresentados os principais medicamentos utilizados no tratamento da obesidade, suas interações (tanto com outros medicamentos quanto com alimentos). Esteroides anti-inflamatórios, como os glicocorticoides, e os esteroides androgênicos (esteroides anabolizantes) serão considerados durante os estudos dos temas apresentados. Ao final, você estudará mais sobre os compostos bioativos e sua importância no tratamento e na prevenção de doenças, além da legislação vigente no Brasil. Aproveite ao máximo as referências complementares e aprofunde seus estudos em cada tema apresentado. Bons estudos! 66 Farmacocinética e farmacodinâmica Autora: Joseane Almeida Santos Nobre Objetivos • Apresentar a forma de ação dos fármacos no organismo, desde sua administração até sua excreção. • Apresentar os princípios gerais de interação dos fármacos com seus receptores celulares. • Indicar como os medicamentos são metabolizados e excretados do corpo. 77 7 1. Como agem os fármacos em nosso organismo? Prezado aluno, o envelhecimento populacional traz consigo a modificação do tipo de doença existente, sendo cada vez mais comum nos depararmos em nossos consultórios com clientes que possuem uma ou mais doenças crônicas e fazem uso contínuo de muitos medicamentos. Assim, cada vez mais é importante sabermos como esses medicamentos agirão sobre o funcionamento do organismo, além da interação desses compostos sintéticos uns com os outros e também com os alimentos. O tema desta aula abordará, de forma geral, como os medicamentos agem no organismo, as modificações ocorridas com o fármaco após a sua ingestão até a sua eliminação, além da sua forma de ação, considerando os receptores específicos para o processo de reconhecimento do fármaco pelas células corporais. Bons estudos! PARA SABER MAIS Habitualmente, consideram-se as terminologias fármaco e droga como sendo similares. Fármaco é um composto sintético ou natural, com estrutura química conhecida, produzindo um efeito biológico esperado no organismo no qual ele foi administrado, sendo utilizado após longo estudo. Já a droga é considerada qualquer substância que promova alterações no organismo, com ação benéfica ou não, podendo ser um fármaco ou um agente tóxico. 88 Durante as consultas clínicas, por vezes, os profissionais da saúde, dentre eles o nutricionista, deparam-se com pacientes que consomem muitos medicamentos de forma isolada ou em conjunto. Os medicamentos possuem princípios ativos amplamente estudados (fármacos) e são ministrados de forma conjunta e com a utilização de outras substâncias, com mais de um princípio ativo em um mesmo medicamento, além da presença de excipientes e conservantes ou conservadores. Para terem a ação esperada no organismo, o fármaco precisa interagir com alvos próprios denominados receptores, o que promove a sua especificidade de ação afetando o funcionamento do órgão ou sistema para o qual ele foi desenvolvido. Esses receptores são moléculas proteicas que possuem como função o reconhecimento de sinais clínicos do próprio organismo, promovendo uma reação a eles. Os receptores constituem um componente-chave do sistema de comunicação química presente nos organismos multicelulares. Eles são divididos em agonistas (ligam-se aos receptores no organismo, produzindo os mesmos efeitos do composto endógeno. Exemplo: histamina). Os agonistas ainda podem ser divididos em agonistas totais (que se ligam 100% aos receptores), agonistas parciais (não conseguem uma resposta total, mesmo considerando dosagens elevadas) e agonistas inversos (promovem somente a alteração no receptor, mas não o bloqueiam). Já os antagonistas bloqueiam os receptores. Temos os antagonistas reversíveis, antagonistas irreversíveis e antagonistas pseudorreversíveis. A irreversibilidade ou não do antagonista deve-se à ligação direta ou parcial com seu receptor. O antagonismo existe também entre o consumo de dois medicamentos, como o consumo de antiácido ao mesmo tempo em que se consome algum medicamento anti-inflamatório. Neste caso, o pH do estômago 99 9 precisa ser ácido para promover a absorção do anti-inflamatório e, ao se consumir um antiácido, ocorrerá um efeito contrário, com menor produção de ácido clorídrico e, portanto, menor absorção do anti-inflamatório. Fonte: RANG, H.p. et al. Rang & Dale Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Tradução Gea Consultoria Editorial. O conhecimento da dinâmica de funcionamento de um medicamento é importante para a prescrição de planejamentos alimentares que atuem de forma a melhorar a ação dos princípios ativos e corrigir possíveis interações com os nutrientes. A forma de absorção, distribuição e utilização de fármacos, assim como o tempo que o medicamento leva para ser excretado docorpo, também são aspectos a serem considerados e apresentados nos tópicos a seguir. ASSIMILE Para que um fármaco consiga realizar a sua ação no organismo, ele deverá se ligar aos seus receptores específicos. Durante esse processo, o receptor poderá ser ativado ou inativado, dependendo do objetivo do fármaco. 1.1 Forma de administração e absorção dos fármacos Os medicamentos são consumidos sob diversas formas (cápsulas, gel, intramuscular, comprimidos, drágeas, entre outras), fazendo com que o princípio ativo possa ser mais efetivo ou não em seu sítio de ação (receptor). Para tal, ele deverá ser absorvido, considerando a multiplicidades de tipos e barreiras celulares existentes em nosso organismo, o que permite diversas formas de absorção pelas células. 1010 Figura 1 – Formas de transporte dos diferentes solutos através da barreira celular Fonte: RANG, 2011, p. 100. A absorção poderá ocorrer através de um canal aquoso (também denominado aquoporinas), por um sistema simporte (com a passagem em conjunto com outra partícula), por englobamento de partículas (pinocitose). Os dois mecanismos mais importantes para os medicamentos é a difusão através dos lipídios da bicamada lipídica e com o auxílio de um transportador de membrana. A permeabilidade da membrana celular e o coeficiente de difusão (ou seja, o quanto as moléculas que fazem parte da bicamada lipídica conseguem se movimentar) são duas medidas importantes que impactam a forma de absorção dos medicamentos, sendo que o coeficiente de difusão é o que menos apresenta variabilidade entre os fármacos. Já a velocidade de absorção pelas células intestinais, a penetração do princípio ativo nos diferentes tecidos corporais e o tempo para eliminação por meio renal são influenciados pela solubilidade lipídica e capacidade de passagem pela membrana celular. 1111 11 Outro fator a ser considerado na absorção é o pH corporal, desde o momento em que o fármaco é consumido até ser excretado sob a forma urinária. O organismo possui diferentes valores de pH. Como no caso do estômago, que possui o pH ácido e pode inativar vários medicamentos, como alguns tipos de betalactâmicos (antibióticos da classe das penicilinas), que foram modificados para suportar a ação ácida, como a amoxicilina que é uma penicilina semissintética que possui em sua formulação um grupamento alfa-amino permitindo o seu uso por via oral. Deve-se considerar também a ligação dos fármacos a proteínas transportadoras, como a albumina plasmática. A albumina é uma das principais proteínas transportadoras, é produzida pelo fígado e afetada pelo baixo consumo proteico dietético, doenças hepáticas, desnutrição entre outros. Muitos fármacos competem pela ligação na albumina. Caso sejam consumidos concomitantemente dois fármacos ou mais que utilizem a albumina como transportador, os fármacos não ligados à albumina aumentarão sua concentração plasmática. Nesse caso, além da interação fármaco-fármaco, é preciso considerar os fatores citados acima que afetam a produção de albumina. As vias de administração utilizadas são importantes para que os fármacos consumidos acessem seu sítio de ação e podem apresentar vantagens e desvantagens, como listadas no quadro abaixo: 1212 Quadro 1 – Vias de administração de fármacos, padrão de absorção, vantagens e desvantagens Via de administração Padrão de absorção Vantagens Desvantagens Oral Variável: pode ser afetada por diversos fatores (pH, permeabilidade da membrana plasmática, estado nutricional, etc.) • Via de administração mais segura e mais comum, conveniente e de baixo custo. • Absorção limitada de alguns fármacos. • Pode apresentar redução da absorção pela interação com alimentos e outros medicamentos. • É necessário que o paciente se apresente disposto a seguir as orientações de consumo. • Os fármacos podem sofrer biotransformação antes de encontrar seu alvo. Intravenosa (endovenosa) A absorção não é necessária, pois já está na corrente sanguínea. • Pode ter efeitos mais imediatos. • Ideal para a dosagem de altos volumes de medicamento. • Adequada para substâncias irritantes e misturas complexas. • Muito útil para situações emergenciais. • Ideal para fármacos à base de proteínas e peptídeos com alta massa molecular. • Não é recomendada para ser utilizada com substâncias à base de lipídios. • A injeção em bolus poderá resultar em efeitos adversos. • A maioria das substâncias deverá ser injetada de forma lenta e gradual. • São necessárias técnicas de assepsia estritas. 1313 13 Subcutânea Depende do diluente do fármaco: • soluções aquosas: imediata; • preparações de depósito: liberação lenta e prolongada. • Adequada para fármacos de liberação lenta. • Ideal para algumas suspensões pouco solúveis. • Pode ocasionar dor e necrose se o fármaco for irritante. • Inadequada para fármacos administrados em volumes elevados. Intramuscular Depende dos diluentes do fármaco: • soluções aquosas: imediata; • preparações de depósito: liberação lenta e prolongada. • Adequada se o volume é moderado. • Adequada para veículos oleosos e certas substâncias irritantes. • Preferível à via intravenosa se o paciente deve se autoadministrar. • Afeta certos testes de laboratório (creatinocinase). • Pode ser dolorosa. • Pode causar hemorragia intramuscular (evitar durante o tratamento com anticoagulante). Transdérmica (adesivo) Lenta e prolongada. • Evita o efeito de primeira passagem. • Convenien- te e indolor. • Ideal para fármacos lipofílicos (com afini- dade por lipídios) e que têm baixa bio- disponibilidade oral. • Ideal para fármacos que são elimina- dos rapidamente do organismo. • Alguns pacientes são alérgicos aos adesivos, o que pode causar irritação. • O fármaco deve ser muito lipofílico. • Pode causar atraso no acesso ao local de ação farmacológica. • Limitado a fármacos que podem ser tomados em doses pequenas diárias. Retal Errática e variável. • Evita parcialmente o efeito de primeira passagem. • Evita a destruição pela acidez gástrica. • Ideal se o fármaco causa êmese (vômito). • Ideal para pacientes com êmese ou comatosos. • O fármaco pode irritar a mucosa retal. • Não é uma via “bem aceita” pelo paciente. 1414 Inalatória Pode ocorrer absorção sistêmica, o que nem sempre é desejado. • A absorção é rápida; pode ter efeitos imediatos. • Ideal para gases. • É eficaz para pacientes com problemas respiratórios. • A dose pode ser titulada. • Se o alvo do efeito se localiza nos pulmões: são usadas doses menores comparando com as que se usariam por via oral ou parenteral. • Menos efeitos adversos sistêmicos. • Principal via de adictos (o fármaco pode acessar rapidamente o cérebro). • Os pacientes podem ter dificuldade em regular a dose. • Alguns pacientes têm dificuldades no uso dos inaladores. Sublingual Depende do fármaco: • poucos fármacos (ex., nitroglicerina) têm absorção sistêmica direta e rápida – a maioria dos fármacos tem absorção incompleta e errática. • Evita o efeito de primeira passagem. • Evita a destruição pela acidez gástrica. • Mantém a estabilidade do fármaco, porque a saliva tem pH relativamente neutro. • Pode causar efeitos farmacológicos imediatos. • Limitada a certos tipos de fármacos. • Limitada a fármacos que podem ser tomados em pequenas doses. • Pode perder parte do fármaco se deglutido. Fonte: adaptado de WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016. 1.2 Metabolismo, biotransformação e eliminação Diariamente, muitas substâncias são ingeridas de forma conhecida (como os medicamentos) e desconhecida (partículas estranhas que contenham xenobióticos ou componentes químicos, agrotóxicos, poluição, entre outros). Todas essas partículas precisarão ser transformadas para serem eliminadas do organismo. Como vimos 1515 15 anteriormente, muitas moléculas químicas presentesnos fármacos precisam ser lipofílicas para conseguirem transpor a membrana plasmática e, assim, atingir seu alvo. Dessa forma, essas moléculas se mantêm ativadas e sendo reabsorvidas constantemente pelos rins (nesse caso, especificamente, os néfrons), podendo causar toxicidade. Assim, o organismo precisa transformar esses compostos em formas hidrossolúveis que possam ser eliminadas do organismo. A transformação dos fármacos e demais compostos moleculares desde que são consumidos até serem excretados é chamada de biotransformação, e suas reações são divididas classicamente em duas fases. Alguns fármacos não precisam ser transformados, por serem hidrofílicos, e dessa maneira são eliminados do organismo sem a necessidade de serem conjugados. Figura 2 – Biotransformação de fármacos e suas reações na fase I e fase II Fonte: elaborada pela autora. 1616 A fase I ocorre principalmente no fígado e comporta as reações de oxidação/reações, deixando os compostos mais polares e, dessa maneira, mais solúveis em meio líquido, facilitando sua excreção urinária. Já a fase II possui reações de conjugação e hidrólise. Essas reações proporcionam um segundo conjunto de alterações químicas destinadas a modificar os compostos para sua excreção. Nas reações de conjugação, reações adicionais são acrescentadas aos fármacos após a fase I, com a inserção de ácido glicurônico, criando conjugados mais hidrofílicos. As reações de conjugação/hidrólise podem ocorrer também independentemente das reações de oxidação. Apesar das duas transformações, alguns fármacos podem permanecer ativos. É o caso das penicilinas. O sistema citocromo P450 (CYP) é uma superfamília de isoenzimas presente no fígado e no trato gastrointestinal responsável pelo processo de biotransformação dos fármacos (como paracetamol, ibuprofeno, varfarina, sinvastatina, entre outros), cafeína, álcool e lipídios. As reações possuem uma cascata de transformação que envolve o fármaco, uma enzima do sistema citocromo P450, oxigênio, NADPH, uma flavoproteína (NADPH-450), apresentando como resultado final um produto hidroxilado. Esse sistema de biotransformação pode sofrer alterações de polimorfismo, a partir de componentes dietéticos (por exemplo: carne de churrasco que leva à formação de compostos carcinogênicos, como os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), que podem aumentar o risco de câncer de cólon). Após a fase I, o fármaco passa pela fase II, resultando, geralmente, em produtos finais solúveis em meio líquido e inativo. Porém, algumas substâncias poderão permanecer ativas mesmo após a fase II. É o caso das penicilinas, que continuam ativas e devem ser foco de atenção quando são utilizadas em pacientes com doença renal. Nesse caso, a dosagem deverá ser ajustada pelo médico, uma vez que o paciente apresenta dificuldade de eliminação de líquidos e o fármaco continuará ativo. 1717 17 1.3 Farmacocinética e farmacodinâmica Entender o caminho do medicamento pelo organismo, assim como a interação dele no seu lugar de ligação, como vimos neste capítulo, é importante para ajustar o planejamento dietético de forma a melhorar a atuação do tratamento. O estudo das alterações que ocorrem com o fármaco no seu trajeto até sua ligação na molécula-alvo é chamado de farmacocinética. Assim, quando um medicamento é consumido por via oral, ele deverá passar pelo pH ácido do estômago, até ser absorvido pelo intestino, fazendo com que grande parte desse composto possa ser perdido durante esse processo. A aplicação cotidiana desse conceito é importante para entender a interação fármaco-nutriente que será abordada do decorrer do curso. Dessa forma, estabelece-se quando um medicamento poderá ser consumido com um alimento ou quando ele não deverá ser consumido. Já a farmacodinâmica permite compreender e descrever os efeitos do fármaco no organismo, ou seja, ao se consumir um hipoglicemiante, quais as reações esperadas e não esperadas desse medicamento no corpo. A farmacodinâmica considera a ligação fármaco-receptor em seu estudo, ou seja, o pico máximo de ação de um medicamento ocorre quando todos os receptores estão ligados ao fármaco. É dessa forma que é estabelecido o tempo de consumo das dosagens dos medicamentos, se os medicamentos podem apresentar efeito agonista ou antagonista no organismo, ou até entre si. 1.4 Efeitos tóxicos do consumo de fármacos O desenvolvimento de novos medicamentos é algo rotineiro, mas demorado, já que o novo princípio estudado precisa passar por diversas fases, entre elas, aquela que indique a segurança quanto ao consumo. Efeitos adversos e colaterais podem ocorrer em decorrência da heterogeneidade individual. Os efeitos adversos ocorrem quando o consumo do medicamento é acima do recomendado. Já os efeitos 1818 colaterais podem existir pela não especificidade no sítio de ação, ou seja, um mesmo princípio ativo pode agir em vários locais do corpo, ocasionando respostas diferentes. Pode-se citar como exemplo a utilização de anti-histamínicos muito utilizados no tratamento de alergias e rinite alérgica, que provocam sonolência. Isso acontece porque o fármaco é um antagonista dos receptores histamínicos, que, ao atravessar a barreira hemato- encefálica, também promove o efeito antagonista nos receptores do sistema nervoso, causando a sonolência. Além dos efeitos colaterais e efeitos adversos resultantes do consumo de medicamentos, deve-se ressaltar um hábito frequente entre os pacientes, realizado, muitas vezes, sem conhecimento dos seus efeitos. Muitos pacientes, rotineiramente, utilizam diversos tipos de chá em sua rotina diária, mas esquecem-se de que os chás são feitos de partes de plantas que possuem componentes bioativos. Esses componentes podem promover alterações, como o aumento da diurese (chás diuréticos, como cavalinha, abacaxi e sabugueiro), elevação dos batimentos cardíacos (chás termogênicos, tais como hibisco, gengibre e canela), redução da agregação plaquetária e até sangramento (chá de ginkgo biloba e chá de camomila). Caso o paciente esteja consumindo algum medicamento, o consumo dos chás em excesso poderá promover a maior saída do medicamento do organismo, intensificar seu princípio ativo, ou, ainda, reduzir a ação do fármaco. Ressaltam-se, também, os riscos do consumo de álcool e medicamentos. A interação entre esses dois compostos promove o aceleramento do esvaziamento gástrico, comprometendo a biotransformação dos fármacos e sua excreção; pode modificar a interação do medicamento com seu sítio de ação, por promover modificação de receptores e neurotransmissores; alterações na biotransformação hepática no sistema citocromo P450 (CYP). Considera-se interação medicamentosa quando um fármaco tem a capacidade de modificar a ação de outro fármaco que foi administrado 1919 19 simultaneamente ou sucessivamente, de forma que a ação de um desses fármacos, ou ambos, poderá ser prejudicada, ocasionando toxicidade (por permanência em maior tempo e quantidade na circulação sanguínea, por exemplo), ou ainda a redução da ação do princípio ativo. A interação entre medicamentos ocorre com mais frequência entre idosos, principalmente aqueles que estão hospitalizados. Isso geralmente acontece porque os idosos apresentam maior fragilidade, doenças mais complexas e número elevado de comorbidades que demandam múltiplos medicamentos na rotina terapêutica com medicamentos. Caro aluno, neste capítulo, nós vimos como os fármacos agem no organismo, desde quando são consumidos até chegarem a seus alvos, passando por processos de modificação no fígado e excreção renal. Aprendemos que a farmacocinética e a farmacodinâmica são importantes para o planejamento dietético do paciente, evitando que o fármaco interaja com os nutrientes, e que ocorra prejuízo para ambos os lados. Ao final, discutimos os efeitos do consumo das altas dosagens de medicamentos e do risco de se consumir medicamentos com álcool e atéalguns tipos de chás. TEORIA EM PRÁTICA Na prática diária de atuação do nutricionista nos consultórios particulares, de convênios, hospitais, home care ou em unidades básicas de saúde (UBS), é comum encontrar pacientes com uma sobrecarga de doenças crônicas não degenerativas, resultantes do envelhecimento da população e do processo de transição nutricional. Pacientes com excesso de peso e eutróficos têm apresentado cada vez mais a tríade hipertensão-diabetes- dislipidemia, também chamada de síndrome metabólica no caso dos pacientes obesos ou com sopreso. A maioria 2020 desses pacientes, principalmente aqueles atendidos em UBS, tem como prescrição médica a metformina (hipoglicemiante oral utilizado no tratamento do diabetes), a hidroclorotiazida (diurético utilizado para o tratamento da hipertensão arterial sistêmica) e sinvastatina (tratamento de dislipidemias). Considerando o que foi visto nesta unidade quanto ao funcionamento agonista e antagonista de fármacos, como você explicaria a atuação desses três medicamentos no metabolismo da glicose? O que fazer na nossa prática dietética quanto a isso? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Os medicamentos são consumidos, em sua grande maioria, por via oral, seja pela facilidade de consumo, seja por ser a via de mais baixo custo. Após serem ingeridos, eles passam pelo processo de digestão e depois absorção. Os dois mecanismos mais importantes para os medicamentos são: a. Difusão através dos lipídios e transportador de membrana e pinocitose. b. Difusão através dos lipídios e difusão através dos canais aquosos. c. Difusão através dos canais aquosos e transportador de membrana. d. Pinocitose e transportador de membrana. e. Difusão através dos lipídios e transportador de membrana. 2121 21 2. Os fármacos podem ser consumidos de diversas formas, isso ajudará na sua disponibilidade e no modo de ação. Uma das vias que apresenta como desvantagem a absorção limitada de alguns fármacos, a redução da absorção pela interação com alimentos e outros medicamentos é: a. Oral. b. Intravenosa. c. Subcutânea. d. Transdérmica. e. Intramuscular. 3. Os medicamentos, após serem consumidos, precisam ser modificados no fígado e excretados pela urina, passando por uma transformação chamada de biotransformação. Sobre as fases I e II, analise as informações a seguir: A fase I ocorre principalmente nos rins. PORQUE Ela comporta as reações de oxidação/reações deixando os compostos mais polares e, dessa maneira, mais solúveis em meio líquido, facilitando sua excreção urinária. A respeito das asserções, assinale a alternativa correta: 2222 a. As asserções I e II são proposições falsas. b. A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. c. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa da I. d. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. e. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. Referências bibliográficas ORELLANA, B. M.; GUAJARDO, T. V. Actividad del citocromo P450 y su alteración en diversas patologías. Rev. méd. Chile, Santiago, v. 132, n. 1, p. 85-94, jan. 2004. Disponivel em: https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 98872004000100014&lng=es&nrm=iso. Acesso em: 1 jun. 2019. RANG, H. P. et al. Rang & Dale Farmacologia. 8. ed. Tradução Gea Consultoria Editorial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. TANIGUCHI, C. M. et al. Toxicidade dos fármacos. In: GOLAN, D. et al. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman e Gilman. 2. ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2009. VELOSO, R. C. S. G. et al . Fatores associados às interações medicamentosas em idosos internados em hospital de alta complexidade. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 17-26, jan. 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232019000100017&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 7 jul. 2019. WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Tradução e revisão técnica: Augusto Langeloh. Porto Alegre: Artmed, 2016. WANNMACHER, L. Interações de medicamentos com álcool: verdades e mitos. Organização Pan-Americana da Saúde, Brasil. Uso Racional de Medicamentos: Temas selecionados, Brasília: OPAS, v. 4, p. 12, 2007. https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-98872004000100014&lng=es&nrm=iso https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-98872004000100014&lng=es&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232019000100017&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232019000100017&lng=en&nrm=iso 2323 23 Gabarito Questão 1 – Resposta E Resolução: os dois mecanismos mais importantes para os medicamentos são a difusão através dos lipídios da bicamada lipídica e com o auxílio de um transportador de membrana. Feedback de reforço: verifique junto à Figura 1 quais são as formas de absorção dos fármacos no organismo. Questão 2 – Resposta A Resolução: a via oral apresenta como desvantagens: absorção limitada de alguns fármacos; pode apresentar redução da absorção pela interação com alimentos e outros medicamentos; é necessário que o paciente se apresente disposto a seguir as orientações de consumo; os fármacos podem sofrer biotransformação antes de encontrar seu alvo. Feedback de reforço: dê uma olhada no Quadro 1 novamente, ele o ajudará com informações importantes para esta questão. Questão 3 – Resposta B Resolução: a fase I ocorre principalmente no fígado e comporta as reações de oxidação/reações, deixando os compostos mais polares e, dessa maneira, mais solúveis em meio líquido, facilitando sua excreção urinária. Feedback de reforço: que tal revisar as fases I e II da biotransformação? 2424 Interações e biodisponibilidade na relação droga-nutriente Autora: Joseane Almeida Santos Nobre Objetivos • Apresentar os mecanismos de interação entre os fármacos e os nutrientes. • Apresentar as principais interações fármaco- nutriente e sua aplicabilidade prática. • Apresentar as principais interações fármacos- fitoterápicos e a conduta profissional. 2525 25 1. O que é biodisponibilidade? Prezado aluno, sempre que consumimos um medicamento, alimento ou fitoterápico (como os chás), o princípio ativo e os nutrientes passam por diversas modificações químicas até chegar ao seu alvo. Torna-se importante entender a relação entre esses três componentes (fármacos- alimentos-fitoterápicos) para orientar a conduta profissional diária. O tema desta aula abordará a interação entre os alimentos/nutrientes e o princípio ativo dos medicamentos, como, por exemplo, a ingestão de alimentos em conjunto com medicamentos. Isso pode retardar a desintegração do fármaco no estômago, já que a presença do alimento no estômago reduz o tempo de esvaziamento gástrico, limitando a passagem do quimo para o intestino delgado. É o que acontece com o consumo de alimentos e ácido acetilsalicílico (AAS), amoxicilina, diclofenaco de sódio entre outros. Bons estudos! Na rotina diária de atendimentos clínicos, hospitalares e em home care, o nutricionista se depara com o consumo de muitos medicamentos, assim como a utilização de fitoterápicos, popularmente conhecidos como chás, e amplamente consumidos pela população. Além desses dois compostos, também se deve ressaltar que o tratamento medicamentoso é feito em conjunto com a alimentação cotidiana e que o metabolismo desses compostos pode ocorrer ao mesmo tempo utilizando transportadores e demais mecanismos comuns a todas as substâncias. É importante entender como o medicamento e os nutrientes chegam ao seu local de ação, a velocidade com o qual eles conseguirão ser digeridos e absorvidos, e as modificações que ocorrerão entre o consumo do medicamento e a efetiva utilização, é o que se denomina biodisponibilidade. O conceito de biodisponibilidadefoi desenvolvido pela Food and Drug Administration (FDA) para ser utilizado com os fármacos, mas desde a década de 1980, tem sido aplicado também para nutrientes. 2626 Em 2001, no Congresso de Biodisponibilidade de Interlaken, foi orientada a utilização de três aspectos relacionados aos alimentos. São eles: bioconversão, bioeficácia e bioeficiência. Assim, deve ser considerada a quantidade de nutriente ingerido que estará disponível para a conversão em sua forma ativa (bioconversão), além da eficiência com o qual os nutrientes são absorvidos e convertidos em sua forma ativa (bioeficácia). E, por fim, o quanto da forma ativa convertida do nutriente estará disponível para ser utilizada no tecido-alvo (bioeficiência). Todos esses aspectos são importantes na biodisponibilidade de nutrientes e podem sofrer influência do tipo de nutriente, da sua ligação molecular, das interações com fatores antinutricionais (como os fitatos), além de interações com medicamentos e demais compostos bioativos. A interação entre medicamentos e nutrientes poderá provocar desequilíbrio de nutrientes ou a modificação de um efeito farmacológico pela ação ou presença de um nutriente. Competição pelos mesmos receptores entre nutrientes e fármacos, alteração de pH intestinal, diminuição da área absortiva intestinal são exemplos da influência entre fármacos e nutrientes. A elevação do pH ocasionado pelo consumo de frutas e alimentos, como o leite e derivados, podem reduzir a solubilidade da ampicilina, da penicilina e do ácido acetilsalicílico (AAS), sendo necessário um intervalo de duas horas entre a ingestão desses alimentos e a administração desses fármacos. Além da biodisponibilidade, outro conceito que deverá ser considerado para os medicamentos é a bioequivalência, que, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), consiste na equivalência farmacêutica entre produtos similares farmaceuticamente, contendo idêntica composição qualiquantitativa do seu princípio ativo. 2727 27 ASSIMILE A biodisponibilidade é importante para nos orientar quanto do medicamento chegará na sua forma útil ao seu ponto de ligação no tecido-alvo. Já a bioequivalência permite o desenvolvimento de medicamentos denominados genéricos e similares que garantam a eficácia no tratamento por um custo mais baixo. 2. Interação fármaco-nutriente O consumo de alimentos e medicamentos ao mesmo tempo ou em períodos muito próximos é bastante comum na rotina diária dos pacientes. E poucos se atentam ou sabem que existe interação, ou seja, uma relação entre os nutrientes e o fármaco consumido, de forma que possa ocorrer prejuízo para uma ou ambas as partes envolvidas. Os nutrientes interferem nos processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção dos fármacos, o que pode reduzir a quantidade ativa do medicamento e influenciar no resultado do tratamento terapêutico, já que nutrientes e fármacos competem por mecanismos semelhantes de metabolismo corporal. Ao serem consumidos por via oral, os fármacos são absorvidos por difusão passiva, com passagem pela bicamada lipídica, principalmente. Já os nutrientes necessitam de transportadores de membrana e sistemas simporte, com gasto de energia, provocando redução no processo absortivo de nutrientes. Idade, matriz alimentar, tempo de trânsito intestinal, presença de patologias do trato gastrointestinal e hepático são alguns fatores que podem reduzir a biodisponibilidade dos fármacos. 2828 As interações dos fármacos com os nutrientes podem ser classificadas como físico-químicas, em que ocorre a junção, ou seja, a complexação entre componentes alimentares e o fármaco, tornando-o indisponível para utilização na maioria das vezes. As interações fisiológicas são aquelas nas quais os medicamentos podem promover alteração do apetite, digestão, esvaziamento gástrico e biotransformação. Por fim, as interações fisiopatológicas decorrem do prejuízo da absorção de nutrientes em decorrência da utilização do fármaco. Como exemplo deste último caso, tem-se a redução de produção de ácido clorídrico e fator intrínseco pela utilização de inibidores da bomba de prótons (como o omeprazol), o que reduz a absorção de vitamina B12 (cianocobalamina). O Quadro 2 apresenta algumas interações fármaco-nutrientes e seus efeitos tanto para os nutrientes quanto para os fármacos. A interação fármaco-nutriente é uma área em constante estudo, já que muitos medicamentos são lançados no mercado anualmente. Quadro 2 – Principais interações fármaco-nutrientes e seus efeitos Fármaco Forma de ação Efeito para o fármaco Nutriente afetado Ácido acetilsalicílico Anti-inflamatório não esteroidal Aumento da excreção devido à alcalinidade da dieta. Reduz a absorção de Vit. C, Vit. B1, Vit. K e ácido fólico. Dieta rica em carboidratos reduz o tempo de absorção, mas não afeta a extensão total do medicamento. Amiodarona Antiarrítmicos Aumento da absorção, podendo levar à toxicidade. Suco de toranja aumenta em 50% sua biodisponibilidade e altera a conversão em metabólito ativo. Amitriptilina Antidepressivo Aumento da excreção devido à acidez da dieta. Não interage com alimentos, entretanto, dieta rica em fibra poderá diminuir seu efeito. 2929 29 Ampicilina Antibiótico Alimento interfere em sua absorção. Anlodipino Bloqueador de canais de cálcio O alimento não afeta a biodisponibilidade do fármaco. Depleta K, Ca e Vit. D. Atenolol Betabloqueadores O alimento poderá interferir em sua concentração plasmática. Após 3 meses, pode reduzir o nível sérico do Zn. Azatioprina Antileucêmico, anti-inflamatório e imunossupressor Pode ocasionar hipoalbuminemia. Azitromicina Antibiótico As cápsulas têm uma redução de 50% na sua biodisponibilidade quando coadministrada com alimentos. Captopril Inibidor de enzima angiotensina A presença do alimento reduz a absorção em 10% a 54%. Após 6 meses, pode elevar a excreção urinária de Zn, reduzir a concentração plasmática de Zn e eritrocitária de Zn, hipercalemia. Carbamazepina Antiepiléptico Suco de uva reduz sua absorção. Cefalexina Antibiótico O alimento retarda o alcance da concentração sérica máxima. Avaliar suplementação de K para prevenir hemorragia devido à hipoprotrombinemia. Cetoconazol Antifúngico Alimentos ácidos aumentam sua absorção. Administrar suplementação de Ca, Mg ou antiácidos com intervalo de 2h. Clorpromazina e flufenazina Antipsicótico Precipitação na presença de ácido tânico. 3030 Diazepam, carbamazepina e sertralina Moduladores do sistema nervoso central (SNC) Inibição de enzimas de biotransformação de fármacos, com elevação dos seus níveis tóxicos. Fenobarbital Anticonvulsivante, hipnótico e sedativo O alimento favorece sua absorção. O uso prolongado pode necessitar de suplementação de Vit. D, Vit. B12, folato e Ca. Furosemida Diurético O alimento pode reduzir sua absorção. Depleta Zn, Na, K, Ca, Mg, Cl, Vit. B1 e água. Hidro- clorotiazida Diurético Os alimentos podem reduzir sua biodisponibilidade. Pode ↑ a excreção de Zn. Depleta Na, Cl, K, Mg, Zn e riboflavina. Inibidores da enzima monoamina oxidase (MAO) Antidepressivo Inibição da enzima que degrada a tiramina, com elevação de seus níveis plasmáticos. Efeitos simpaticomiméticos e crise hipertensiva Losartana Antagonistas dos receptores da angiotensina O alimento não afeta os níveis séricos do fármaco. Pode promover depleção de Zn. Metformina Hipoglicemiante oral Os alimentos aumentam sua absorção. Redução da absorção de glicose (em pequena quantidade) e redução a neoglicogênese. Metildopa Anti-hipertensivo Dieta hiperproteica pode reduzir sua absorção. Reduz a absorção de folacina e cobalamina. Morfina Analgésico opioide Nutrientes retardam sua absorção, mas não interferem na concentração plasmática. Omeprazol Inibidor da bomba de prótons Interação benéfica: suco de laranja oumaçã. Reduz a absorção de Fe e Vit. B12. 3131 31 Penicilina Antibiótico Aumento da excreção devido à alcalinidade da dieta. Prednisolona Anti-inflamatórios esteroidais Miopatia devido ao catabolismo de proteínas; perda de Ca; deficiência de folato e bloqueio renal de Vit. D9. Alterações no Na, K e glicemia. Prometazina Anti-histamínico Precipitação na presença de ácido tânico. Propranolol Bloqueador beta- adrenérgico (anti- hipertensivo) Não ingerir com fonte de Ca e evitar o consumo de alcaçuz. A presença do alimento favorece sua biodisponibilidade. Vit. C em dose alta (ex.: 2 g) pode reduzir sua absorção e seu metabolismo. Ranitidina Antagonista do receptor H2 Limitar o consumo de cafeína e xantinas. O alimento não afeta a absorção do medicamento. Suplementos de Mg, Fe, Al e folato, polivitamínicos contendo minerais ou antiácidos contendo Al e Mg podem reduzir sua absorção. Reduz a absorção de Vit. B12 e Fe. Rifampicina Antibiótico A presença de alimentos reduz sua absorção e concentração plasmática. Pode aumentar o metabolismo de Vit. D. Pode necessitar de suplementação de Vit. D. Sinvastatina Estatina Toranja reduz sua biodisponibilidade. 3232 Sulfato ferroso Anti-anêmico A presença de alimentos reduz sua absorção, podendo chegar a 50%. Vit. C favorece sua absorção. Em altas doses, reduz a absorção de Zn. Teofilina Broncodilatador Sobrecarga de xantinas, com risco de toxicidade: distúrbios eletrolíticos e efeitos no SNC e cardiovascular Tetraciclina e ceftriaxona Antibiótico Complexação do fármaco com íons divalentes. Tiroxina (levotiroxina) Hormônio tireoidal Dietas ricas em fibra diminuem sua absorção. Suplemento de Fe, Ca ou Mg podem reduzir a absorção do fármaco. Varfarina Anticoagulante Dieta rica em Vit. K: diminui a anticoagulação. E os constituintes da dieta enteral reduzem a absorção do medicamento. Cebola crua, frita ou cozida reduz a agregação plaquetária. Vit. A e E > 400 UI/ dia alteram o tempo de protombina; Vit. C > 5 g/dia reduz a absorção do fármaco. Fonte: adaptado de EBSERH (s/d) e Lombardo e Eserian (2014). As alterações físico-químicas decorrentes dos processos de digestão e absorção alimentar podem promover alterações nos fármacos. A presença de alimentos no estômago promove o aumento da secreção de ácido clorídrico, alterando o pH estomacal, o que pode 3333 33 influenciar a desintegração das cápsulas, drágeas ou dos comprimidos e, consequentemente, a absorção do princípio ativo. Outro resultado é o esvaziamento gástrico, que poderá ser retardado ou acelerado, fazendo com que o princípio ativo permaneça mais tempo ou não no estômago e intestino, promovendo a redução da solubilidade e biodisponibilidade dos fármacos e dos nutrientes. Os medicamentos utilizam as enzimas do citocromo P450 (CYP) para as reações de fase I e fase II da biotransformação, e alguns nutrientes são capazes de interferir nessas enzimas. Um exemplo é o consumo de toranja com medicamentos (também conhecida como grapefruit). Essa fruta possui substâncias químicas naturais denominadas furanocumarinas, que possuem a capacidade de inibir a enzima CYP3A4 do citocromo P450, resultando em redução da quantidade de princípio ativo absorvido pelo intestino. A grapefruit é apenas um dos muitos exemplos da interação do alimento com o medicamento. Ao realizar um estudo mais aprofundado, por vezes nos esquecemo que os nutrientes estão inseridos em uma matriz alimentar e que ela é complexa, contendo diversos nutrientes em um mesmo alimento, além do pH do próprio alimento, que poderá alterar o pH do organismo. O Quadro 3 apresenta a interação entre alguns alimentos e fármacos. Quadro 3 – Interações entre alimentos/nutrientes e fármacos 5 Alimentos/ nutrientes Mecanismos/ efeitos Recomendações Cardiovasculares/Anti-hipertensivos Amilorida Cálcio (leite e queijo) Depleta a absorção de cálcio (Ca). Evitar a administração com alimentos ricos em Ca. Anlodipina Alimentos em geral Alimentos prejudicam o mecanismo de liberação controlada. Evitar administração com alimentos. 3434 Captopril Alimentos em geral Diminui a absorção do fármaco. Administrar uma hora antes ou duas horas após as refeições. Carvedilol Alimentos em geral Administrar com alimentos diminui a hipertensão ortostática. Administrar com alimentos. Digoxina Cenoura (fibras) Diminui a absorção do fármaco. Evitar a administração com alimentos ricos em fibras. Nifedipina Alimentos em geral Aumenta a biodisponibilidade do fármaco. Administrar com alimentos. Propanolol Leite (proteínas) Aumenta a biodisponibilidade do fármaco. Administrar com alimentos hiperproteicos. Anti-inflamatórios Ácido acetilsalicílico Suco de maracujá (vitamina C) e alface (vitamina K) Depleta a absorção das vitaminas. Não ingerir alimentos ricos em vitaminas C e K, ácido fólico, tiamina e aminoácidos próximo ou durante a administração dos medicamentos. Diclofenaco Alimentos em geral Diminui o risco de lesão no TGI. Ingerir com alimentos para diminuir o risco de lesão da mucosa gástrica. Paracetamol Cenoura e alface (fibras) Diminui a absorção do fármaco. Evitar alimentos ricos em fibras junto ou próximo à administração do medicamento. Diuréticos Espironolactona Leite e carne (potássio) Retém potássio (K). Evitar a administração com alimentos ricos em K. Furosemida Abóbora, arroz, cenoura, carne (sódio) Depleta sódio (Na). Evitar a administração com alimentos ricos em Na. 3535 35 Hidro- clorotiazida Queijo, ovo frito e carne Aumenta a absorção do fármaco e depleta sódio. Administrar com alimentos. gordurosos. Evitar a administração com alimentos ricos em Na. Antiulcerosos Hidróxido de alumínio Carne e feijão (Ferro) Depleta a absorção de Ferro (Fe). Não ingerir alimentos contendo Fe junto ou próximo à administração do medicamento. Omeprazol Frango e leite (vitamina B12) Depleta a absorção da vitamina B12. Não ingerir alimentos ricos em vitamina B12 junto ou próximo à administração do medicamento. Ranitidina Leite e carne (vitamina B12) Depleta a absorção da vitamina B12. Não ingerir alimentos ricos em vitamina B12 junto ou próximo à administração do medicamento. Laxantes Óleo mineral Abóbora (vitamina A) e salada de verduras (vitamina K) Depleta a absorção das vitaminas A e K. Não ingerir alimentos ricos em vitaminas A, D, E e K junto ou próximo à administração do medicamento. Hipoglicemiantes Metformina Alimentos em geral Diminui a absorção de vitamina B12. Aumenta a sensibilidade de receptores de insulina no fígado e no músculo esquelético. Deve ser administrada 15 a 20 minutos após as refeições. Acarbose Alimentos em geral Finalidade: retardar a absorção de carboidratos. Ser ingerida na primeira “garfada” da refeição. Glibenclamida Alimentos em geral Quando administrado com alimentos, obtém- se um pico de insulina satisfatório para reduzir a glicemia proveniente da alimentação. Ser administrado 30 minutos antes das refeições. 3636 Glicazida Alimentos em geral Quando administrado com alimentos, obtém- se um pico de insulina satisfatório para reduzir a glicemia proveniente da alimentação. Ser administrado 30 minutos antes das refeições. Glimepirida Alimentos em geral Quando administrado com alimentos, obtém- se um pico de insulina satisfatório para reduzir a glicemia proveniente da alimentação. Ser administrado 30 minutos antes das refeições. Fonte: adaptado de Carlos (2016); Lopes, Carvalho e Freitas (2010). 3. Interação fármaco-fitoterápico O nutricionista é um dos profissionais habilitados a fazer a prescrição de fitoterápicos, conforme Resolução CFN Nº 556, de 11 de abril de 2015, desde que seja portador do título de especialista em fitoterapia. A fitoterapia é definida como uma forma de tratamento caracterizado pela utilizaçãode plantas medicinais (que poderá ser in natura, drogas vegetais, derivados de drogas vegetais e fitoterápicos) em suas diferentes preparações (macerações, infusões, decocções, entre outros). A fitoterapia deverá ser considerada como complemento da prescrição dietética. O profissional nutricionista, conforme exposto nesta Resolução CFN Nº 556, de 11 de abril de 2015, deverá adotar condutas que potencializem os efeitos terapêuticos, considerando a interação entre os fitoterápicos com os alimentos e os medicamentos. A fitoterapia também é uma das práticas regulamentadas pelo Sistema Único de Saúde, por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). A utilização das plantas medicinais no cotidiano é algo corriqueiro e baseado em conhecimentos históricos e culturais, repassados por nossos ancestrais. O uso de chás e partes comestíveis de plantas medicinais pode ser entendido por alguns, 3737 37 inclusive, como automedicação e possui interação com medicamentos e com alimentos. Por ser comum a utilização de chás, muitos pacientes não conseguem identificar os riscos do consumo desses produtos, por considerarem os mesmos de origem vegetal e, dessa forma, inofensivos à saúde. Os chás e até alguns condimentos possuem substâncias ativas que, consumidos de forma contínua e em grande quantidade, podem levar à intoxicação, reduzir o efeito de alguns medicamentos e interferir na absorção de nutrientes. Todos os tipos de chás e demais fitoterápicos deverão ser prescritos por profissional capacitado, sendo os efeitos adversos do tratamento acompanhados para alterações em relação a dosagem, horário e até ao princípio ativo. Segundo o conceito elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o medicamento fitoterápico é obtido por meio do emprego exclusivo de matérias-primas vegetais, sendo caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. O Quadro 4 apresenta a interação entre alguns fitoterápicos e plantas medicinais com medicamentos, sendo importatnte sua utilização na complementação da prática do nutricionista. Quadro 4 – Principais interações entre plantas medicinais, fitoterápicos e fármacos Planta medicinal Indicações/ ações Terapêutica Efeitos Interação medicamentosa Alcachofra (Cynara scolymus L.) Colerético e colagogo Cinarina ou de- rivados do ácido cafeoilquínico ex- pressos em ácido clorogênico (dose diária:7,5 mg a 12,5 mg de cinari- na ou derivados) Efeito diurético, podendo oca- sionar hipoten- são arterial. Aumenta a excreção de potássio. Diuréticos de alça (furosemida) e tiazídicos (clortalidona, hidroclorotiazida, indapamida) 3838 Alho (Allium sativum L.) Coadjuvante no tratamen- to de hiper- lipedemia e hipertensão arterial leve; prevenção da aterosclerose Aliina ou alicina (dose diária: 6 a 10 mg de aliina) Aumento do tempo de san- gramento; hi- poglicemiante; pode afetar a ação de qui- mioterápicos e medicamentos para tireoide Anticoagulantes (varfarina) e antiplaquetários; intensifica o efeito de drogas hipogli- cemiantes (insulina e glipizida); saquinavir (reduz os níveis plasmáticos) Boldo, Boldo-do- Chile (Peumus boldo Molina) Colagogo, colerético, tratamento sintomático de distúrbios gastrointesti- nais espásticos Alcaloides totais calculados como boldina (dose diária: 2 a 5 mg de boldina) Inibição da agregação plaquetária Anticoagulantes e antiplaquetários Camomila (Matricaria recutita L.) Antiespasmó- dico, anti-infla- matório tópico, distúrbios digestivos e insônia leve Apigenina-7-gli- cosídeo (dose diária:4 a 24 mg de apigenina- -7-glicosídeo) Aumento da chance de san- gramentos; intensifica a ação de sedativos; re- duz a absorção de ferro; efeito antiestrogênico Anticoagulantes; barbitúricos (fe- nobarbital) e ou- tros sedativos Cáscara Sagrada (Rham- nus pur- shiana D.C.) Constipa- ção ocasional Cascarosídeo A (dose diária: 20-30 mg cas- carosídeo A) Perda de potás- sio; desequilíbrio hidroeletrolítico; aumenta a pres- são sanguínea Diuréticos tiazídicos Erva de São João (Hypericum perforatum L.) Estados de- pressivos leves a moderados, não endógenos Hipericinas to- tais (dose diá- ria: 0,9 a 2,7 g de hipericina) Inibição da ab- sorção de ferro; sangramento; interfere na ação de contracep- tivos orais, ele- vação da pres- são sanguínea Ciclosporina, in- dinair, digoxina, teofilina e varfa- rina, omeprazol, talbutamida, cafe- ína, carbamazepi- na, ciclosporina, midazolam, nifedi- pina, sinvastatina, teofilina, antide- pressivos tricíclicos 3939 39 Erva-do- ce, anis (Pimpinella anisum L.) Antiespasmó- dico, distúrbios dispépticos Transanetol (dose diária: 0-1 ano, 16 a 45 mg de trans-anetol; 1-4 anos, 32- 90 mg de trans- -anetol; adultos: 80-225 mg de trans-anetol) Ação sedativa Drogas hipnóticas Eucalipto (Eucalyp- tus globulus) Antisséptico e antibacteriano das vias aére- as superiores; expectorante Cineol (dose diária:14-42,5 mg de cineol) Alterações no sistema nervo- so, confusão mental, hipo- glicemiante Benzodiazepíni- cos, barbitúricos, narcóticos, alguns anti-depressi- vos e álcool Gengibre (Zingiber offi- cinale Rosc.) Profilaxia de náuseas causada por movimento (cinetose) e pós-cirúrgicas. Gingeróis (6-gin- gerol, 8-ginge- rol, 10-gingerol, 6-sho-gaol, cap- saicina) Dose diária: crian- ças acima de 6 anos: 4-16 mg de gingeróis; adulto: 16-32 mg de gingeróis] Estimula a produção de áci-do clorídri- co estomacal; aumenta o risco de sangramen- to; sonolência; hipoglicêmico Sucralfato, raniti- dina, lansoprazol, ácido acetilsalicíli- co, varfarina, he- parina, clopidogrel, ibuprofeno, napro- xeno, beta-bloque- adores, digoxina, insulina, hipogli- cemiantes orais Ginkgo biloba (Ginkgo biloba L.) Vertigens e zumbido (tinidos) re- sultantes de distúrbios circulatórios gerais e distúr- bios circulató- rios periféricos (claudicação intermitente) e insuficiên- cia vascu- lar cerebral Extrato padroni- zado com 24% de ginkgoflavo- noides (querce- tina, kaempfer isorhamnetina) e 6% de terpenolac- tonas (bilo-balide, ginkgolídeos A, B, C, E). Dose diária: 80 a 240 mg de extrato padroni- zado, em 2 ou 3 administrações ou 28,8-57,6 mg de ginkgo- flavonoides e 7,20-14,4 mg de ter-penolactonas] Sangramentos, potencializa- dor de anti-in- flamatórios e anticoagulantes, diminuir a ação de anticonvul- sivantes, pode causar cefaleia, tremores e sur- tos maníacos, hipoglicêmico. Ácido acetilsalicí- lico, clopidogrel, varfarina, heparina, ibuprofeno napro- xeno, sertraline, insulina, hipogli- cemiantes orais 4040 Ginseng (Panax ginseng C. A, Meyer) Estado de fadi- ga física e men- tal, adaptógeno Ginsenosíde- os (dose diária: 5 mg a 30 mg de ginsenosídeos totais [Rb1, Rg1]) Reduz a ação de anticoagulantes; aumenta risco de sangramento, hi- poglicêmico, gine- comastia masculi- ne, sangramentos pós-menopausa, falha nos perío- dos menstruais, cefaleia, insônia, hipertensão. Varfarina, ácido acetilsalicílico, heparina, clopido- grel, ibuprofeno, naproxeno, hipo- glicemiantes orais, inibidores da mo- noamino oxidase, betabloqueadores de canais de calico Guaco (Mikania glomerulata Sprengl.) Expectorante, broncodilatador Cumarina (dose diária: 0,525-4,89 mg de cumarina) Redução da ação de antibióticos Tetraciclinas, clo- ranfenicol, genta- micina, vancomi- cina, penicilina Hortelã- -pimenta (Mentha piperita L.). Carminativo, expectoran- te e cólicas intestinais Mentol 30%-55% e mentona 14%-32% (dose diária: 0,2 a 0,8 g de óleo) Redução da absorção de ferro; elevação de estatinas Sinvastatina Maracujá (Passiflora incarnata L.) Sedativo Flavonoides to- tais expressos na forma de isovi- texina ou vi-texina (dose diária: 25 a 100 mg de vitexi- na/isovitexina)Potencialização de drogas sedati- vas; sangramento Hipnóticos, ansiolí- ticos, benzodiazepí- nicos (lorazepam ou diaze-pam), fenobarbital, áci- do acetilsalicílico, varfarina, heparina, clopidogrel, ibupro- feno, naproxeno Salgueiro (Salix alba L.) Antitérmico, anti-inflamató- rio, analgésico Salicina (dose di- ária: 60 a 120 mg de salicina) Nefrotoxicida- de; redução da absorção do ferro Ácido acetilsalicíli- co, paracetamol Sene (Senna alexan- drina Mill.) Laxativo Derivados hi- droxiantracêni- cos (calculados como senosídeo B). Dose diá- ria:10-30 mg de senosídeo B Aumento da perda de potás- sio, desequilíbrio hidroeletrolítico. Fármacos antiarrí- timicos, diuréticos tiazídicos, adreno- corticosteroides Valeriana (Valeriana officinalis) Insônia leve, sedativo e ansiolítico Sesquiterpenos (ácido valerênico, ácido acetoxivale- rênico). Dose diá- ria: 0,8 a 0,9 mg de sesquiterpenos] Ação sedati- va; náuseas ou vômitos Benzodiazepínicos, barbitúricos, nar- cóticos; metroni- dazol, dissulfiram Fonte: adaptado de Nicoletti (2007). 4141 41 PARA SABER MAIS Lembre-se: a interação do fármaco poderá ocorrer com alimentos, nutrientes, com substâncias ativas encontradas nas plantas e com outros fármacos. É importante o ajuste do planejamento dietético com a finalidade de suprir a demanda de nutrientes resultantes dessa interação. 4. Interação fármaco-fármaco Outra interação importante e comum de ser verificada durante os atendimentos dos pacientes é a interação fármaco-fármaco. Nesse tipo de interação, um medicamento poderá potencializar a ação de outro medicamento, assim como poderá reduzir a sua ação, ou, ainda, provocar efeitos adversos pela grande quantidade circulante (o que seria considerado um efeito tóxico). É muito importante o trabalho em conjunto dos diversos profissionais da saúde, entre eles o farmacêutico. Ele poderá realizar o aconselhamento farmacológico do paciente, orientando sobre as interações e comunicando ao restante dos profissionais que acompanham o paciente quais as melhores estratégias para evitar esse tipo de ocorrência. Algumas interações são benéficas para o tratamento medicamentoso, como, por exemplo, a associação de diuréticos e anti-hipertensivos, o que permite o maior controle da pressão arterial. Outras associações podem funcionar de forma corretiva (a utilização de diurético que reduz a excreção de potássio, retendo-o no organismo, poderá ser corrigida pelo uso de tiazidas, que induzirá a hipopotassemia). Os mecanismos de interação dos fármacos são demonstrados na figura abaixo: 4242 Figura 3 – Mecanismos de interação fármaco-fármaco Fonte: HOEFLER, 2005. Caro aluno, neste capítulo, vimos como a interação entre os nutrientes, medicamentos e fitoterápicos tem relevância dentro da terapêutica medicamentosa e alimentar. É necessário cuidado na prescrição nutricional, a fim de repor os nutrientes perdidos nessa interação, assim como melhorar a ação do fármaco no organismo. TEORIA EM PRÁTICA A interação entre fármaco, nutriente e fitoterápico pode acontecer rotineiramente, e é muito comum encontrarmos essas interações em nossos atendimentos de rotina. Partindo desse princípio, suponha que você está acompanhando dona Alzira, uma senhora de 66 anos, que relatou consumir medicamentos para controle do diabetes (hipoglicemiante oral) e estatinas para o controle da dislipidemia. Também adora consumir diariamente chá de gengibre e alho em todas as suas preparações. Quais orientações poderão ser indicadas para dona Alzira para melhorar seu tratamento? E quais nutrientes deverão possuir atenção especial no planejamento dietético? 4343 43 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A forma como o medicamento e os nutrientes chegam ao seu local de ação, a velocidade com o qual eles conseguirão ser digeridos e absorvidos, e as modificações que ocorrerão entre o consumo do medicamento e a efetiva utilização. Esse conceito é denominado: a. Bioeficácia. b. Bioequivalência. c. Biodisponibilidade. d. Bioconversão. e. Bioeficiência. 2. A hidroclorotiazida é uma medicação diurética, normalmente utilizada para o tratamento da hipertensão arterial e inchaço devido ao acúmulo de fluidos. Um dos efeitos desse medicamento sobre os nutrientes é: a. Redução da absorção de vitamina B12. b. Aumento da quantidade sanguínea de Na, Cl e Mg. c. Aumento da quantidade sanguínea de riboflavina. d. Aumento da excreção de zinco. e. Aumento da quantidade sanguínea de zinco. 4444 3. Os medicamentos, quando consumidos em conjunto ou em períodos próximos, poderão interagir entre si, potencializando ou reduzindo a ação um do outro. É um mecanismo de interação que ocorre durante a absorção dos medicamentos a. Alteração no pH urinário. b. Alteração na secreção tubular renal. c. Alteração no fluxo sanguíneo renal. d. Alteração da excreção de sais biliares e ciclo entero-hepático. e. Alteração da motilidade gastrointestinal. Referências bibliográficas ANTUNES, A. O.; LOPRETE, A. C. O papel da atenção farmacêutica frente às interações fármaco-nutriente. Infarma – Ciências Farmacêuticas, [s.l.], v. 26, n. 4, p. 208-214, 18 dez. 2014. Disponível em: http://revistas.cff.org.br/?journal=infarma&page=article &op=view&path%5B%5D=660. Acesso em: 8 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH. Medicamentos padronizados para administração oral: guia para administração racional. [s/d] Disponível em: http://www2.ebserh.gov.br/ documents/220250/1293244/GUIA+F%C3%81RMACO+X+NUTRIENTE+EM+ CONSTRU%C3%87%C3%83O.pdf/ebe6b0bd-321d-4983-bb61-89c33d22f46e. Acesso em: 8 jun. 2019. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS – PNPIC-SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. CARLOS, G. B. et al. Análise das possíveis interações fármaco-alimento/nutriente em uma instituição asilar no sul de Minas Gerais. Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, v. 18, n. 3, p. 83-90, set. 2016. Disponível em: http://periodicos.ufes.br/RBPS/article/ view/15747. Acesso em: 8 jul. 2019. http://revistas.cff.org.br/?journal=infarma&page=article&op=view&path%5B%5D=660 http://revistas.cff.org.br/?journal=infarma&page=article&op=view&path%5B%5D=660 http://www2.ebserh.gov.br/documents/220250/1293244/GUIA+F%C3%81RMACO+X+NUTRIENTE+EM+CONSTRU%C3%87% http://www2.ebserh.gov.br/documents/220250/1293244/GUIA+F%C3%81RMACO+X+NUTRIENTE+EM+CONSTRU%C3%87% http://www2.ebserh.gov.br/documents/220250/1293244/GUIA+F%C3%81RMACO+X+NUTRIENTE+EM+CONSTRU%C3%87% http://periodicos.ufes.br/RBPS/article/view/15747 http://periodicos.ufes.br/RBPS/article/view/15747 4545 45 CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Resolução CFN nº 556, de 11 de abril de 2015. Altera as resoluções nº 416, de 2008, e nº 525, de 2013, e acrescenta disposições à regulamentação da prática da fitoterapia para o nutricionista como complemento da prescrição dietética. Diário Oficial da União. Brasilia, DF, 11 abr. 2015. Disponível em: http://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/ Res_556_2015.htm. Acesso em: 8 jul. 2019. COZZOLINO, S. M. F.; MICHELAZZO, F. B. Biodisponibilidade: conceitos, definições e aplicabilidade. In: COZZOLINO, S. M. F. Biodisponibilidade de nutrientes. 4. ed. Barueri: Manole, 2012. FOOD AND DRUG ADMINISTRATION et al. Guidance for industry: bioavailability and bioequivalence studies for orally administered drug products – general considerations. Washington, DC: Food and Drug Administration, 2003. HOEFLER, R. Interações medicamentosas. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos/MS–FTN, v. 1, p. 1-4, 2005. LOMBARDO, M.; ESERIAN, J. K. Fármacos e alimentos: interações e influências na terapêutica. Infarma-Ciências Farmacêuticas, v. 26, n. 3, p. 188-192, 2014. LOPES, E. M.; CARVALHO, R. B. N. de; FREITAS, R. M. de. Análise das possíveis interações entre medicamentos e alimento/nutrientesem pacientes hospitalizados. Einstein, São Paulo, v. 8, n. 3, p. 298-302, set. 2010. Disponível em: http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082010000300298&lng=en&nr m=iso. Aceso em: 8 jul. 2019. MOURA, M. R. L.; REYES, F. G. R. Interação fármaco-nutriente: uma revisão. Rev. Nutr., Campinas, v. 15, n. 2, p. 223-238, ago. 2002. Disponível em: http://www.scielo. br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732002000200011&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 8 jun. 2019. NICOLETTI, M. A. et al. Principais interações no uso de medicamentos fitoterápicos. Infarma, v. 19, n. 1/2, p. 32-40, 2007. Gabarito Questão 1 – Resposta C Resolução: é importante entender como o medicamento e os nutrientes chegam ao seu local de ação, a velocidade com o qual eles conseguirão ser digeridos e absorvidos, e as modificações que ocorrerão entre o consumo do medicamento e a efetiva utilização. Esse conceito é denominado biodisponibilidade. Feedback de reforço: verifique o material desde o início, reforçando os conceitos. http://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/Res_556_2015.htm http://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/resolucoes/Res_556_2015.htm http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082010000300298&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082010000300298&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-45082010000300298&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732002000200011&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732002000200011&lng=en&nrm=iso 4646 Questão 2 – Resposta D Resolução: os eletrólitos Na, Cl e Mg, e a vitamina riboflavina, assim como o zinco, encontram-se depletados, ou seja, sua concentração na corrente sanguínea é baixa. Feedback de reforço: que tal rever o Quadro 2 sobre interação fármaco-nutriente? Questão 3 – Resposta E Resolução: somente a alteração da motilidade gastrointestinal é um mecanismo de interação de fármacos na fase de absorção. As demais opções referem-se à fase de excreção. Feedback de reforço: veja mais sobre interação fármaco-fármaco. 4747 47 Drogas para o tratamento de diabetes e obesidade no estado nutricional Autora: Joseane Almeida Santos Nobre Objetivos • Conhecer os principais medicamentos utilizados no tratamento do diabetes e da obesidade. • Compreender o mecanismo de atuação dos medicamentos para o controle de diabetes e obesidade. • Reconhecer a relação dos medicamentos e o estado nutricional do paciente. 4848 Prezado aluno, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) são um grupo de doenças que podem ocorrer em qualquer momento da vida de um indivíduo, acompanhando-o ao longo de seus dias. Essas doenças podem ser controladas, evitando estágios mais graves que acometam o paciente ou que ocasionem o óbito. Dentre as principais doenças crônicas, destacam-se o diabetes e a obesidade. Elas podem tanto ser a causa como o efeito entre si, permitindo o agravamento do quadro do paciente. O tema desta aula abordará, de forma geral, como essas doenças se relacionam entre si e o impacto para o organismo (fisiopatologia), além da forma de terapia medicamentosa sugerida pelas principais organizações e sua relação com a nutrição. Bons estudos! 1. Conceituação e fisiopatologia da obesidade A adequação de peso pela altura acima do recomendável, avaliada pelo Índice de Massa Corporal (IMC), é um dos critérios diagnósticos da obesidade. Além do excesso de peso caracterizado pelo IMC maior ou igual a 30 kg/m², outros critérios antropométricos e de composição corporal (como a circunferência da cintura), exames de absortometria (DXA) e de impedância, auxiliam no diagnóstico final. O excesso de peso que resulta na obesidade ocorre quando há um desbalanço entre a ingestão alimentar de energia e o gasto energético, ou seja, aumento do consumo de macronutrientes (que serão convertidos em energia) e redução do gasto energético. Alterações na capacidade de oxidação de lipídios armazenados no organismo e aumento da capacidade de estocar gordura também promovem o aumento ponderal. Fatores genéticos, estilo de vida e modificações no padrão alimentar são os principais fatores promotores do acúmulo de peso. A elevação do peso pode ocorrer por um aumento do depósito de gordura, principalmente nos adipócitos, ocasionando um processo inflamatório no organismo chamado de inflamação crônica subclínica. 4949 49 Citocinas e proteínas de fase aguda são secretadas pelos adipócitos. IL-6, o TNF-α, a leptina e a adiponectina são exemplos de citocinas produzidas pelo tecido adiposo, promovendo alteração da ingestão alimentar e balanço energético, ativação do sistema imune, sensibilidade à insulina, angiogênese, elevação da pressão arterial, alterações no metabolismo lipídico e homeostase corporal, situações estas que estão fortemente correlacionadas com doenças cardiovasculares. A Associação Brasileira de Sobrepeso e Obesidade (Abeso) recomenda em suas diretrizes o acompanhamento multiprofissional, com alterações do consumo alimentar para a redução do consumo energético e correção do desequilíbrio de vitaminas e minerais; modificações do estilo de vida com a prática regular de atividade física com a finalidade de aumentar o gasto energético; realização de terapia cognitiva-comportamental, além do tratamento farmacológico como adjuvante, sendo o tratamento individualizado e prescrito conforme as condições de vida de cada paciente. 2. Principais medicamentos no tratamento da obesidade O tratamento farmacológico deverá ser iniciado quando o paciente não apresentar sucesso em atingir e manter a perda de peso, considera-se que a perda de peso é eficaz quando há redução igual ou superior a 1% do peso corporal inicial, chegando a até 5% do peso corporal, no período de três a seis meses. Esse tratamento, quando indicado, pode resultar em efeitos benéficos sobre as demais doenças associadas, como diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemia. Ou seja, se o paciente apresentar IMC maior ou igual a 30 kg/m2; se o IMC for maior ou igual a 25 ou 27 kg/m2 na presença de comorbidades; e se a perda de peso sem o tratamento farmacológico for falho, a indicação de medicamentos e o acompanhamento pelo médico pode ser avaliado como uma forma de tratamento adjuvante ao tratamento nutricional, que deverá ser sempre o foco principal de intervenção para o emagrecimento. 5050 Quadro 5 – Medicamentos utilizados no tratamento da obesidade Medica- mento Tipo de medicamento Mecanismo de ação Tempo de ação Efeitos adversos Cloridrato de sibutramina Psicotrópico anorexígeno Inibição da recaptação da noradrenalina, serotonina e dopamina 1h a 2h após o consumo, com pico de ação em 3h e duração de 14h a 16h Constipação, taqui- cardia, palpitações, aumento da pres- são arterial, vaso- dilatação, náuseas, cefaleia, ansiedade, sudorese e altera- ções do paladar Orlistate1 Psicotrópico anorexígeno Inibidor de lipases gas- trointestinais 24h a 48h após o consu- mo (duração) Perdas ou evacua- ções oleosas, flatu- lência, urgência para evacuar, aumento das evacuações, desconforto/dor ab- dominal, gases, fezes líquidas, infecções do trato respiratório Liraglutida Antidiabético Análogo de GLP-1 c 30 min. após a injeção, com pico de ação de 1h e dura- ção de 24h. Hipoglicemia, ano- rexia, diminuição do apetite, desi- dratação, cefaleia, frequência cardíaca aumentada, náu- sea, diarreia, vômito dispepsia, dor ab- dominal superior, constipação, gastrite, flatulência, disten- são abdominal Anfepramona Psicotrópico anorexígeno Inibidor do apetite (atividade similar à anfetamina) 4h a 6h de duração Insônia, dor de cabeça, vertigem, nervosismo, mani- festações depres- sivas, alteração do paladar, boca seca, náusea, vômito, diar- reia ou constipação, taquicardia, impo-tência, interferência na libido, irregula- ridade menstrual. 1 Apresenta redução da absorção de vitaminas lipossolúveis A, D, E, K. 5151 51 Femproporex Psicotrópico anorexígeno Agente sim- patomimético que causa depressão do apetite e diminuição da acuidade pelo sabor e odor (ativida- de similar à anfetamina) 24h de duração Vertigem, tremor, ir- ritabilidade, reflexos hiperativos, fraque- za, tensão, insônia, confusão, ansiedade e dor de cabeça. Calafrios, palidez ou rubor das faces, palpitação, arritmia cardíaca, dor angi- nal, hipertensão ou hipotensão e colap- so circulatório, boca seca, gosto metálico na boca, náusea, vômito, diarreia e cãibras abdominais, alteração da libido. Fenterminas Psicotrópico anorexígeno Libertação de catecolaminas no hipotála- mo (ativida- de similar à anfetamina) 24h Alterações de humor ou problemas para dormir, dificuldades de concentração Mazindol Psicotrópico anorexígeno Estimulação hipotalâmica para diminuir o apetite (al- terações no metabolismo da norepine- frina e dopa- mina; ativida- de similar à anfetamina) 10h de duração Boca seca, consti- pação, nervosismo e insônia, palpita- ções, taquicardia, hipertensão, sensi- bilidade à insulina em pacientes com obesidade grave Fluoxetina Antidepressivos Inibidor se- letivo da re- captação da serotonina 6h a 8h de duração Ansiedade, diarreia, sonolência, fraque- za geral, dor de cabeça, hiperidrose (excesso de suor), insônia, náusea (enjoo), nervosismo 5252 Sertralina Antidepressivos Inibidores seletivos de recaptação de serotonina 4,5h a 8,5h (pico de concentra- ção) e du- ração de 26h Náuseas, diarreia, indigestão, tontura, cefaleia, tremor, anorexia, insônia, sonolência, fadiga, sudorese, boca seca, disfunção sexual. Bupropiona Antidepressivos Inibidor sele- tivo da recap- tação da do- pamina e em menor grau da noradrenalina e serotonina 3h (pico de concentração) Insônia, cefaleia, boca seca, trans- tornos gastroin- testinais como náusea e vômito Fonte: elaborado pela autora. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou no Diário Oficial da União, em fevereiro de 2019 (Resolução-RDC nº 265, de 8 de fevereiro de 2019), uma lista de princípios ativos categorizados como psicotrópicos anorexígenos que podem ser utilizados para o tratamento da obesidade. Os princípios ativos liberados pela Anvisa são: fumarato de aminorex, fendimetrazina, mefenorex, sibutramina, femproporex, mazindol e fenterminas. Esses compostos poderão ser comercializados somente com a apresentação de receita do tipo B2. Com base na tabela acima, o uso de medicamentos apresenta vários efeitos colaterais prejudiciais à saúde. Portanto, o acompanhamento com nutricionista a partir de reeducação alimentar, adequação calórica da dieta e mudança de padrão alimentar é a forma de tratamento mais recomendada para o emagrecimento saudável, sendo que o tratamento medicamentoso deve ser utilizado apenas em casos extremos em que foram feitas tentativas de tratamento nutricional sem sucesso. 5353 53 3. Conceituação e fisiopatologia do diabetes A partir das alterações fisiopatológicas, o diabetes poderá ser classificado em diabetes mellitus do tipo 1 (DM1) e diabetes mellitus do tipo 2 (DM2). No DM1, o organismo produz anticorpos que agem sobre as células ß pancreáticas, causando a falência do órgão e ausência de produção de insulina. Já o DM2 possui alterações metabólicas que promovem a redução da secreção pancreática de insulina, a diminuição da ação da insulina, ou, ainda, a resistência a utilização de insulina por órgãos periféricos, provocando aumento da glicemia sanguínea, e um estresse tecidual oxidativo crônico. As evidências científicas colhidas por meio de artigos publicados anualmente em diversas partes do mundo permitem que organizações internacionais e nacionais possam editar suas recomendações e diretrizes para o tratamento do diabetes. Os mais novos achados sugerem que o diabetes pode ser classificado em subgrupos e não somente em tipos. O grupo 1 é denominado diabetes autoimune grave (SAID = severe autoimmune diabetes), que apresenta o início em indivíduos mais jovens, apresentando deficiência na produção de insulina e falta de controle metabólico, correspondendo ao diabetes tipo 1. O grupo 2 é conhecido como diabetes insulinodeficiente grave (SIDD = severe insulin-deficient diabetes), sendo similar ao grupo 1, mas com maior incidência de retinopatia diabética, níveis mais elevados de hemoglobina glicosilada e a presença de anticorpos anti-insulina (e antidescarboxilase do ácido glutâmico). 5454 Os grupos 3, 4 e 5 correspondem a alterações do diabetes do tipo 2. O grupo 3 apresenta resistência insulínica, excesso de peso e maior incidência de doença renal, sendo denominado diabetes insulinorresistente grave (SIRD = severe-insulin resistant diabetes). Diabetes leve relacionado à obesidade (MOD = mild obesity-related diabetes) corresponde ao grupo 4, que apresenta obesidade, adultos jovens, mas não insulinorresistente. Por fim, o grupo 5 é composto por pacientes com idade mais elevada e a presença de alterações metabólicas discretas, sendo conhecido como diabetes leve relacionado à idade (MARD = mild age-related diabetes). O algoritmo da Sociedade Brasileira de Diabetes (2019) para a conduta terapêutica do diabetes tipo 2 indica o acompanhamento dos níveis de hemoglobina glicosilada e glicemia, com alterações de medicamentos antidiabéticos e associações entre eles antes de chegar ao tratamento com insulina. A Figura 4 apresenta as etapas e a sugestão de medicamentos a serem consumidos de acordo com os parâmetros bioquímicos. PARA SABER MAIS O diabetes é classificado como diabetes mellitus do tipo 1, ou insulinodependente, e diabetes mellitus do tipo 2, relacionado aos transtornos de excesso de peso. Desde 2018, a Sociedade Brasileira de Diabetes considera cinco novos subtipos, relacionando-os com os seus desfechos esperados. 5555 55 Figura 4 – Algoritmo para o tratamento do diabetes tipo 2, atualizado pela Sociedade Brasileira de Diabetes (2019) Fonte: SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2019. 40 p. 5656 4. Principais medicamentos no tratamento do diabetes e sua forma de ação Os medicamentos utilizados para o controle glicêmico são chamados de agentes antidiabéticos, e possuem como objetivo a redução da glicemia, mantendo os níveis de glicose dentro de parâmetros normais (em jejum < 100 mg/dL e pós-prandial < 140 mg/dL). Os principais mecanismos de ação dos hipoglicemiantes podem ser divididos em quatro tipos, conforme as Diretrizes Brasileiras de Diabetes. • Fármacos que aumentam a secreção de insulina (hipoglicemiantes); • Fármacos que não a aumentam (anti-hiperglicemiantes); • Fármacos que aumentam a secreção de insulina de maneira dependente da glicose, além de promover a supressão do glucagon; • Fármacos que promovem glicosúria (sem relação com a secreção de insulina). • O Quadro 6 apresenta os fármacos antidiabéticos e suas particularidades. Quadro 6 – Antidiabéticos utilizados no controle da glicemia Aumento da secreção de insulina Medicamento Tipo de medicamento Desvantagens Contraindicações Clorpropamida Glibenclamida Glipizida Gliclazida Glimepirida Sulfonilureias (ação hipoglicemiante mais prolongada durante todo o dia) Hipoglicemia e ganho ponderal (clorpropamida favorece o aumento de peso e não protege contra retinopatia) Gravidez, insuficiência renal ou hepática Repaglinida Nateglinida Metiglinidas (menor tempo de ação, cobrindo principalmente o período pós-prandial) Hipoglicemia e ganho ponderal discreto Gravidez 5757 57 Agentes que não aumentam a secreção de insulina Medicamento Tipo de medicamento Desvantagens Contraindicações Acarbose Inibidor da α-glicosi- dase (redução da ve- locidade de absorção intestinal de glicose) Meteorismo, flatu- lência e diarreia, redução discreta da hemoglobina
Compartilhar