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Hérnias da parede abdominal

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Ana Luiza Ohata – T70 
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Hérnias 
Definição: protrusão anormal de um órgão ou tecido através de um orifício, natural ou acidental, da cavidade que o 
contém, podendo ocorrer em diversas partes do corpo 
• As hérnias da parede abdominal ocorrem em locais onde a aponeurose e a fáscia não são cobertos por músculo 
estriado: região inguinal, femoral, umbilical, linha alba, porção inferior da semilunar e locais de incisões 
anteriores 
• O orifício da hérnia é localizado na camada musculoaponeurótica interna e o saco herniário é revestido por 
peritônio, com protrusão no colo 
 
Epidemiologia 
• Cerca de 5% da população mundial 
• Hérnias inguinais representam cerca de 75% dos casos 
• Mais frequentes no sexo masculino 
• Hérnias femorais e umbilicais são mais frequentes no sexo feminino 
• Mais comuns à direita (60% dos casos), seguidos de à esquerda (30%) e bilaterais (10%) 
• 2/3 de todas as hérnias são indiretas 
• O risco de estrangulamento aumenta com a idade 
Etiologia 
• Congênita 
o Persistência do processo vaginal 
o Prematuridade e baixo peso 
o Deficiências colágenas (Marfan, Ehlers-Danos, Hunter) 
• Adquirida 
o Lesões da parede abdominal (traumas ou cirurgias) 
o Aumento repetitivo da pressão intra-abdominal (prostatismo, DPOC, neoplasias, ascite, obesidade...) 
o Alterações colágenas por avanço da idade e hábitos 
Fatores de risco 
• Infecção, hematoma e tensão na ferida cirúrgica 
• Esforços no pós-operatório (tosse, prostatismo) 
• Comorbidades: obesidade, DM, DPOC, ascite 
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• Medicamentos: corticoides e imunossupressores 
• Tabagismo 
Tipos de hérnia inguinal 
• Indireta: hérnia passa por dentro do canal inguinal, permanecendo lateralmente aos vasos epigástricos inferiores 
o Hérnias decorrentes de alterações congênitas 
• Direta: hérnia passa lateralmente ao canal inguinal, permanecendo medialmente aos vasos epigástricos inferiores 
o Protrusão na região do triângulo de Hesselbach com protrusão também da fáscia transversalis 
o Hérnias resultantes da fraqueza muscular 
 
• Manobra de Landiva: realizar a manobra de Valsava com o dedo no anel inguinal externo 
o Protrusão contra a ponta do dedo: hérnia indireta 
o Protrusão contra a parte lateral do dedo: hérnia direta 
o Protrusão abaixo do ligamento inguinal: hérnia femoral 
 
Epônimos importantes 
• Littré: presença do divertículo de Meckel no interior do saco herniário (congênita) 
• Richter (enterocele parcial): protrusão com encarceramento da borda antimesentérica intestinal 
• Amyand: o apêndice inflamado desce para o canal inguinal 
• Garengeot: herniação do apêndice vermiforme pelo canal femoral (rara) 
• Spiegel: herniação entre a borda do músculo reto abdominal e a linha semilunar 
• Petit: herniação na borda do músculo oblíquo menor (para memorizar: petit = pequeno = oblíquo menor) 
• Grynfelt: herniação na borda do músculo oblíquo maior 
Classificação 
• Redutível: o conteúdo pode ser reposicionado espontaneamente ou manualmente pela Manobra de Taxe 
• Encarcerada (irredutível): o conteúdo não consegue ser reposicionado, podendo haver sofrimento de alça 
o Hérnia domiciliada: encarcerada cronicamente e volumosa, não podendo ser reduzida, mas sem 
sofrimento de alça já que se encontra estável há tempos 
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• Estrangulada: o suprimento sanguíneo é cortado da região herniada, comprometendo a alça e com presença de 
isquemia (cirurgia de urgência) 
• Classificação de Nyhus 
o Tipo I: hérnia inguinal indireta com anel inguinal interno sem dilatação (mais frequente) 
o Tipo II: hérnia inguinal indireta com anel interno dilatado mais de 2 cm com a parede posterior do canal 
inguinal preservada 
o Tipo III: presença de defeito na parede posterior do canal inguinal (fáscia transversalis) 
§ Hérnia inguinal direta 
§ Hérnia inguinal indireta, com dilatação do anel inguinal interno, com flacidez ou destruição da 
parede abdominal medialmente ao anel, com desestruturação do triângulo de Hesselbach 
§ Hérnia femoral 
o Tipo IV: hérnias recorrentes 
§ Direta 
§ Indireta 
§ Femoral 
§ Mista 
Quadro clínico 
• Pode ser assintomático ou apresentar dor, desconforto e peso 
• Geralmente associado ao esforço físico 
• Pode haver parestesia pela compressão de nervos 
• A hérnia estrangulada apresenta sinais flogísticos 
• A hérnia encarcerada apresenta dor súbita de alta intensidade 
Diagnóstico 
• Na maioria dos casos, o diagnóstico é clínico (anamnese + exame físico) 
• Exame físico: 
o Inspeção estática e dinâmica (abaulamentos, protrusões e Manobra de Valsava) 
o Palpação da hérnia 
§ Manobra de Landiva e Taxe 
o Busca de sinais de sofrimento de alça 
• Em casos de dúvida, pode-se pedir exames complementares: USG de região inguinal e parede abdominal, TC, 
laparoscopia (padrão ouro) ou RNM (exame mais sensível) 
• Diagnósticos diferenciais: hidrocele, testículo ectópico, varicocele, lipoma, linfoma, cisto sebáceo, torção 
testicular 
Tratamento 
• Técnicas convencionais (abertas) 
o Sem tela: Shoudice, McVay e Bassini 
o Com tela: Lichtenstein e Rives-Stoppa 
§ Menor chance de recidiva 
§ Retorno mais rápido às atividades 
• Técnicas endoscópicas 
o Extraperitoneal (TEP) 
o Transperitoneal (TAPP) 
• Tratamento laparoscópico 
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o Indicado para hérnias recidivadas ou bilaterais 
o Alta precoce e retorno rápido às atividades 
Atenção! 
• Triângulo da morte: local por onde passam os vasos femorais 
o Risco de sangramento importante 
• Triângulo da dor: local por onde passam os nervos 
o Risco de dor crônica

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