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Descartes (1596–1650), filósofo, físico e matemático francês, é considerado o principal idealizador do método que serviu de base às ciências modernas — o paradigma cartesiano, ainda hegemônico. Este paradigma é caracterizado por uma concepção mecanicista e reducionista do mundo. Pressupõe que recortar a realidade em suas partes constituintes permitiria estudá-la de modo mais objetivo e assim apreender e explicar a verdadeira natureza dos fenômenos. • Na perspectiva do paradigma cartesiano, os fenômenos naturais ocorrem de acordo com leis mecânicas e qualquer objeto material poderia ser conhecido e explicado na sua totalidade a partir da organização e do movimento de suas partes. A redução da realidade e a simplificação que caracterizam este paradigma podem ser entendidas a partir da própria lógica que o instrumentaliza, ou seja, a necessidade de retirar um fenômeno do ecossistema ao qual pertence para que, no momento seguinte, este fenômeno possa ser melhor analisado de forma isolada e em si mesmo. • A crescente descrição de características anatomoclínicas das enfermidades e, por consequência, o estabelecimento de uma nova ordem nosológica faziam acreditar no potencial das bases científicas do modelo biomédico. Especialmente, para combater as doenças infecciosas que, à época, eram os agravos com maiores taxas de incidência e prevalência, provocando a morte de milhões de pessoas ainda jovens e consequente redução da expectativa de vida em toda parte. OBS: Resumindo à O Paradigma Cartesiano caracteriza-se por ser mecanicista, reducionista e segmentar. Dessa forma, difunde uma visão mecânica do funcionamento do corpo humano, inclusive no processo de saúde-doença. Assim sendo, considera apenas o fator biológico e seus segmentos nas manifestações de enfermidades. Ademais, fragmenta o corpo humano de suas partes mais complexas até suas partes mais simples, considerando a versão reduzida mais importante. Logo, o ser humano é reduzido a pequenos fatores, como a doença propriamente dita e seus sintomas, criando uma concepção não-holística do indivíduo, focada única e exclusivamente na determinação e no tratamento objetivo das doenças. OBS 2: O modelo biomético é conhecido como modelo Flexneriano. - o modelo biomédico nega a saúde pública, a saúde mental e as ciências sociais, bem como não considera científicos e válidos outros modelos de saúde, como a homeopatia. O conhecimento e a prática de saúde são centralizados no profissional médico. Isso tem como consequência uma posição autoritária, unidisciplinar e com intenso uso do aparato que lucra com a doença: hospitais, exames, remédios, medicina altamente especializada – o chamado complexo médico-industrial. Objetivo 04) Comparar criticamente os paradigmas Flexneriano e da integralidade, considerando suas influências na formação e prática médica. ❖ O Paradigma Flexneriano iniciou-se com a publicação do Relatório Flexner em 1910. Esse documento possuía influências do Positivismo de August Comte e do Paradigma Cartesiano de René Descartes e, por isso, defendia os princípios do cientificismo, da fragmentação e do mecanicismo. Dessa forma, o ser humano era visto como uma máquina com funcionamento regular e estabelecido única e exclusivamente por fatores biológicos (biologicismo). Defendia que o conhecimento deveria ser estudado e transmitido de forma fragmentada e, por isso, defendeu a especialização dos profissionais. Possuía uma visão hospitalocêntrica e biomédica do processo saúde-doença, acreditando que a resolubilidade dos processos biológicos só seria alcançada a partir de tratamentos médicos. Defendia o modelo técnico dos profissionais e focava na pesquisa e no ensino laboratorial, além de adotar uma postura paternalista de autoridade e unilateralidade na relação médico-paciente. Esse paradigma influenciou fortemente a medicina ao direcionar o foco dos profissionais da saúde para a doença propriamente dita e sua sintomatologia, ignorando as esferas biopsicossociais do ser humano e sua dimensão holística, além de todos os outros determinantes e condicionantes que tornam cada indivíduo único e peculiar no processo saúde-doença. - CRÍTICA AO MODELO: Nas palavras do próprio Flexner: “O estudo da medicina deve ser centrado na doença de forma individual e concreta”. A doença é considerada um processo natural e biológico. O social, o coletivo, o público e a comunidade não contam para o ensino médico e não são considerados implicados no processo de saúde-doença. Os hospitais se transformam na principal instituição de transmissão do conhecimento médico durante todo o século XX. Às faculdades resta o ensino de laboratório nas áreas básicas (anatomia, fisiologia, patologia) e a parte teórica das especialidade). ❖ O Paradigma da Integralidade caracteriza-se pela consideração da visão holística do paciente no processo saúde-doença, sendo os determinantes e os condicionais biopsicossociais essenciais na compreensão e na resolubilidade da sintomatologia e das causas da doença. Preocupa-se com a relação médico-paciente pois, quando é bem estabelecida, resulta em uma anamnese bem feita e proficiente, solucionando de forma eficaz a enfermidade do paciente. Incentiva a utilização de metodologias ativas no curso de medicina e busca formar profissionais generalistas, humanistas, críticos e reflexivos*. Foca na medicina preventiva, na promoção da saúde e na atenção básica à saúde, sendo todos esses processos realizados embasados nos preceitos da integralidade, da universalidade, da longitudinalidade e da equidade do sistema e considerando o indivíduo como um todo, não apenas seus acometimentos salutares.
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