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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR FACULDADE DE DIREITO Ingra Farias Domingues Julio Cesar de Oliveira Ferreira Lorena Serne De Brito Lucas Alves Neres da Silva Maria Janaína Machado Maia Marina Vieira Santos Vitoria Beatriz Nunes dos Anjos ESTUDO DE CASO: HERANÇA JACENTE E VACANTE SALVADOR - BA 2021 Ingra Farias Domingues Julio Cesar de Oliveira Ferreira Lorena Serne De Brito Lucas Alves Neres da Silva Maria Janaína Machado Maia Marina Vieira Santos Vitoria Beatriz Nunes dos Anjos ESTUDO DE CASO: HERANÇA JACENTE E VACANTE Trabalho solicitado pela professora Teila Lins da Universidade Católica do Salvador - UCSAL , para a obtenção de nota da matéria de Direito Civil VII - Sucessões, do curso de Direito. SALVADOR - BA 2021 1. REFLEXÃO SOBRE O TEMA: Herança jacente, assunto abordado e tipificado no Direito de sucessões, artigos 1.819 a 1.823 do Código Civil, trata-se de herança cujos herdeiros não se tem conhecimento ou, quando conhecidos, todos os herdeiros a houverem repudiado. Diante da aparente falta de titular, os bens da herança serão arrecadados e entregues para serem guardados por um curador, até que se dê a habilitação de sucessor ou, na sua falta, a declaração da vacância. A arrecadação é seguida do inventário dos bens e a publicação de editais para a convocação de herdeiros à habilitação. Durante o período jacente, podem os credores exigir o pagamento das dívidas, nos limites da força da herança. O prazo para que a herança seja declarada vacante, após a primeira publicação sem que se verifique pedido de habilitação de herdeiro, é de 1 ano, decorrido o prazo, a herança é proclamada de ninguém. No caso em que todos os herdeiros conhecidos renunciarem à herança, a declaração de vacância ocorrerá de forma imediata. Vale ressaltar que, constitui o efeito da declaração de vacância a exclusão dos colaterais, não podendo mais se habilitarem na sucessão. Enquanto a herança jacente tem caráter transitório, a herança vacante possui caráter definitivo. Se nos 5 anos após a abertura da sucessão não habilitarem herdeiros, os bens arrecadados passarão ao domínio do poder público, do Município ou Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, ou da União, quando localizados em território federal. 2. ESTUDO DE CASO: Segundo reportagem veiculada em 2009 no site: “ O Estadão”, cujo título é: “Grandes Patrimônios Sem Herdeiros Viram Benefício para a Cidade”, no estado do Rio de Janeiro, há quase 20 anos que foi quando a Lei (8.049/1990) foi regulamentada, pelo menos R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais) em imóveis sem dono passaram para o controle da prefeitura do Rio, significando que casos com gente com muito dinheiro, sem ter para quem deixar são mais comuns do que imaginamos. Neste contexto, a jurisprudência escolhida aborda sobre uma ação de arrecadação de herança jacente em que o apelante alega exercer a posse justa e de boa-fé sobre o imóvel localizado na Estrada do Pau da Fome 2488, quando foi adquirido de Marcelo os direitos de posse sobre o mesmo. Da análise dos autos, verifica-se que Therezinha faleceu em 2013, não tendo deixado herdeiros, sendo, então, ajuizada a ação de arrecadação de herança jacente. Logo após seu falecimento, Marcelo fez uma escritura declaratória unilateral de posse sobre o imóvel objeto da presente ação, afirmando ser possuidor do mesmo desde 2008. Acontece que, em uma das diligências foi verificado a presença de terceiras pessoas residindo no imóvel, na qualidade de locatários. O apelante se diz surpreendido com a presente ação quando tomou conhecimento em 2018, mas levando em consideração a certidão de index 155/156, é possível concluir que pelo menos desde Novembro/2014 ele já soubesse da existência desta ação. Além disso, em nenhum momento o apelante impugnou os atos processuais realizados, não se vislumbrando qualquer nulidade. APELAÇÃO CÍVEL. HERANÇA JACENTE. TERCEIRO POSSUIDOR. O apelante, que não é herdeiro, pretende discutir matéria relativa à qualidade de posse, o que não se admite nesta ação de arrecadação de herança jacente, mas sim em ação própria já ajuizada, na qual teve indeferido o pedido liminar de manutenção de posse, o que, por si só, não impede a declaração de vacância dos bens deixados pela falecida, uma vez que inexistem herdeiros legais ou testamentários. Sentença mantida. DESPROVIMENTO DO RECURSO. (TJ-RJ - APL: 00394584120138190203, Relator: Des(a). PETERSON BARROSO SIMÃO, Data de Julgamento: 14/09/2020, TERCEIRA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 21/09/2020) 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: Para o desembargador, hoje aposentado, Carlos Roberto Gonçalves: “A herança jacente consiste, em bem verdade, em um acervo de bens, administrado por um curador, sob fiscalização da autoridade judiciária, até que se habilitem os herdeiros, incertos ou desconhecidos, ou se declare por sentença a respectiva vacância”. Washington de Barros Monteiro, por sua vez, a define como: “acervo de bens, administrado por um curador, sob fiscalização da autoridade judiciária, até que se habilitem os herdeiros, incertos ou desconhecidos, ou se declare por sentença sua respectiva vacância”. Como já visto, a inexistência ou desconhecimento de herdeiro certo ou determinado, ou em situações de recusa de herança caracterizam os casos de herança jacente, que ocorre antes do processo da vacância. É uma medida que visa a proteção dos bens do De Cujus, pelo Estado, para que se aguarde a manifestação de um herdeiro habilitado. Nos casos de negativa, o patrimônio do falecido será incorporado ao poder público, ou seja, viram propriedade Estatal. A herança jacente não possui personalidade jurídica, é um ente despersonalizado, como prevê o Código Civil. Entretanto, pode atuar como parte em juízo, sob a condição de estar legalmente representada por curador. O passo seguinte da herança jacente, em caso de não encontrar herdeiro hábil, tendo passado o prazo de um ano da publicação do primeiro edital em busca dos herdeiros é a herança vacante, como prevê o artigo 1.820 do Código Civil, ora vejamos: Art.1820. Praticados as diligências de arrecadação e ultimado o inventário, serão expedidos editais na forma da lei processual, e, decorrido um ano de sua publicação, sem que haja herdeiro habilitado, ou penda habilitação, será a herança declarada vacante. Neste sentido, ensina Carlos Roberto Gonçalves: A sentença que declara vaga a herança põe fim à imprecisão que caracteriza a situação de jacência, estabelecendo a certeza jurídica de que o patrimônio hereditário não tem titular até o momento da delação ao ente público. Concomitantemente, ao declarar vago o patrimônio hereditário, a sentença de vacância devolve-o ipso iure ao Poder Público. Em consonância com o supracitado, expressa o artigo 1822 do Código Civil, observe-se: A declaração de vacância da herança não prejudicará os herdeiros que legalmente se habilitarem; mas, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio do município ou do Distrito federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da união quando situados em território federal Retira-se do Código Civil: Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha. Assim, diante de todo o exposto, e do caso concreto acima citado, foi declarada vacância dos bens da falecida, vez que inexistem herdeiros legais ou testamentários. O Apelante, por sua vez, apesar de residir no imóvel, e já ajuizado ação de manutenção de posse, teve o seus pedidos indeferidos. Portanto, não sendo o Apelante nem herdeiro da falecida, não possui tal direito, por isso, sofreu os devidos atos de constrição no referido imóvel. 4. CONCLUSÃO: Diante dos fatos supracitados, faz-se necessário demonstrar os parâmetrostratados na decisão proferida pelo desembargador em questão. Nesse prisma, cabe mencionar inicialmente que como denota a autoridade relatora, o apelante ajuizou a referida ação em busca de caracterizar a qualidade de sua posse sobre o imóvel, entretanto a matéria de manutenção de posse pleiteada pelo apelante não pôde ser discutida na ação de arrecadação de herança jacente, mas sim, em uma ação específica, a qual foi ajuizada inicialmente e teve indeferimento do pedido liminar, ou seja, o pleito foi descontinuado a medida que não demonstrou legitimidade na posse, pois como se observa no trato processual, a posse que o apelante menciona ter, encontra alicerce em uma relação jurídica firmada com terceiro que sequer era herdeiro da inventariada, e que de acordo com provas aludidas nos autos, foi inclusive proibido por decisão judicial de negociar o imovél. Por outro lado, tal discussão de posse, não possuía influência determinante que descaracterizasse a declaração de vacância dos bens, pois não restaram dúvidas sobre a inexistência de herdeiros legais ou testamentários. Portanto, inexistia propositura para o reparo da decisão anterior. Findando, podemos ressaltar que a jurisprudência trazida demonstra de maneira prática a temática proposta, visto que o objeto central do conflito carecia de legitimidade, haja vista que não houve impedimento para que a herança da falecida em questão fosse declarada vacante, claramente por não existirem herdeiros. 5. REFERÊNCIAS: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8819/Da-heranca-jacente-e-da-heranca-vacante https://www.aurum.com.br/blog/heranca-jacente/ https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,grandes-patrimonios-sem-herdeiros-viram-benefic ios-para-a-cidade,423122 https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8819/Da-heranca-jacente-e-da-heranca-vacante https://www.aurum.com.br/blog/heranca-jacente/ https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,grandes-patrimonios-sem-herdeiros-viram-beneficios-para-a-cidade,423122 https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,grandes-patrimonios-sem-herdeiros-viram-beneficios-para-a-cidade,423122
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