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P2- Síndrome de Cushing e o uso crônico de corticoides • A síndrome de Cushing é um estado clínico, resultante da exposição excessiva, crônica e inapropriada de glicocorticoides, descrita em 1912 por Harvey Cushing. O termo “doença de Cushing” remete à síndrome secundária a alterações na hipófise, enquanto a “Síndrome de Cushing” envolve todas as etiologias (endógenas e exógenas). • Trata-se de uma condição de difícil diagnóstico tendo em vista que pode se apresentar em grau leve (subclínico) e sua forma de apresentação possui elementos comuns a outras condições prevalentes, como obesidade, síndrome dos ovários policísticos e depressão. • O hipercortisolismo crônico predispõe a doenças cardiovasculares, diabetes melitus e infecções. • A síndrome de Cushing pode ser classificada em: o Exógena – Iatrogênica: costuma ocorrer pelo uso de corticosteroides, no entanto, pode ocorrer também no uso prolongado de ACTH. o Endógena ▪ ACTH-dependente (80%)- Doença de Cushing (tumor hipofisário produtor de ACTH) (70%), secreção ectópica de ACTH ou CRH, carcinoma de hipófise produtor de ACTH. Síndrome de Cushing ACTH-dependente Doença de Cushing (70%) Geralmente por micro adenoma hipofisário secretor de ACTH, predomínio feminino, 20-40 anos, de progressão lenta. Quando em pré- puberes, há predomínio masculino. Os casos são esporádicos, pouco associados a outras síndromes endócrinas. Síndrome do ACTH ectópico (10%) Mais prevalente no sexo masculino, entre 40 e 60 anos. Costumam se originar de tumores, o principal é o carcinoma pulmonar de células pequenas (12% de SAE), mas pode ocorrer nos tumores carcinoides brônquicos, carcinomas tímicos, feocromocitoma, carcinoma de ilhotas pancreáticas, carcinoma medular de tireóide, dentre outros. Existe um caso de SAE em adenoma benígno de tireóide. Alguns autores classificam em: • Overt – SC evidente • Covert – Neoplasia evidente, quadro metabólico agressivo, sem SC evidente • Ocult – SC evidente, sem determinação do sítio primário apesar de extensa investigação Síndrome do CRH ectópico Raríssima (< 30 casos na literatura), geralmente secundária a tumores carcionoides brônquicos, carcinoma medular da tireoide e carcinoma prostático. É mais comum a secreção combinada de ACTH e CRH, do que CRH isolado. Hiperplasia suprarrenal macronodular* *Deve ser considerada causa ACTH dependente, no entanto, representa uma CONSEQUÊNCIA da doença de Cushing; Em 10-40% dos pacientes com doença de Cushing há hiperplasia adrenocortical bilateral multinodular. Costuma se apresentar como síndrome de Cushing e ser mais prevalente em mais velhos, tendo em vista que se instala progressivamente com a evolução da doença. Com o agravamento da hiperplasia, a produção de cortisol consegue suprimir o eixo central, produzindo níveis de ACTH baixos. Importante diagnóstico diferencial com tumores primários! ▪ ACTH-independente (20%) - O cortisol é produzido pela adrenal independente do estímulo; há a supressão do ACTH pelo feedback negativo; Principais causas envolvem doenças primárias do córtex suprarrenal (tumores, hiperplasia macronodular primária e micronodular pigmentosa primária). Raramente pode estar associado à síndrome de McCune-Albright e ao complexo de Carney. Síndrome de Cushing ACTH-independente Distúrbios adrenais primários: Adenomas (80%) e Carcinomas produtores de cortisol • Os carcinomas tendem a ser grandes (> 6cm) ao diagnóstico e 10% são bilaterais, devem ser suspeitados na presença de hipercortisolismo intenso associado a marcante hiperandrogenismo. Sâo mais comuns em mulheres e nos extremos etários. Podem apresentar dor abdominal e massa tumoral palpável. • Os adenomas são menores (a maioria é <3 cm) e unilaterais, tendem a ter início mais gradual e menos intenso e produzem uma única classe de esteroides. Ocorrem em torno dos 35 anos, mais comuns em mulheres. Hiperplasia adrenal micronodular bilateral Doença adrenal nodular pigmentada primária – rara, pode ocorrer isolada ou associada ao complexo de Carney (variante familiar autossômica dominante, compreendendo tumores mesenquimais, pigmentação cutânea, tumores de nervos, entre outros) (>90%), predominante no sexo feminino, se caracteriza por pequenas glândulas adrenais com múltiplos e pequenos (< 6 mm, mas podem chegar a 1,5 cm) nódulos pigmentados bilaterais, com tecido suprarrenal adjacente atrófico. A produção de cortisol é variável, frequentemente cíclica ou periódica. Tipicamente, o hipercortisolismo manifesta-se em indivíduos com menos de 30 anos e esses pacientes apresentam lesões cutâneas pigmentadas tipo sardas em face, lábios e pálpebras, que podem estar presentes ao nascer e aumentam em número com os anos. Hiperplasia adrenal macronodular primária Rara, insidiosa, pode se apresentar de forma uni ou bilateral, caracteristicamente com macronódulos adrenais. Sua fisiopatologia está relacionada à expressão aberrante ou anômala nas glândulas adrenais de receptores hormonais que não estão normalmente presentes ou pela hiper expressão de receptores típicos. Síndrome de McCune Albright Displasia fibrosa + pigmentação cutânea (manchas café com leite) + hiperfunção hipofisária, tereoidiana, suprarrenal e gonadal. O sintoma mais comum é a precocidade sexual e o excesso de GH, no entanto, a síndrome de Cushing pode ocorrer (por hiperplasia adrenal nodular). Os níveis de ACTH costumam estar suprimidos e podem ocorrer adenomas. • Indicações para investigação de Síndrome de Cushing: o Características clínicas progressivas - fragilidade capilar, equimoses espontâneas, pletora facial, fraqueza muscular proximal, estrias violáceas (principalmente se > 1 cm de diâmetro); o Características anormais para a idade - osteoporose vertebral, hipertensão, diabetes; o Criança com ganho de peso + redução da velocidade de crescimento; o Incidentalomas suprarrenais. • O quadro clínico irá variar de acordo com o tempo e a intensidade do hipercortisolismo, exacerbando o efeito fisiológico do cortisol nos diversos sistemas: o Metabólico: ▪ Efeito fisiológico: estímulo da gliconeogênese e glicogênese, diminuição da captação periférica de glicose, lipólise, aumento do colesterol, triglicérides e diminuição do HDL. Esses aspectos resultam em resistência insulínica, hiperglicemia e catabolismo proteico e lipídico. ▪ Efeito Cushing: fadiga, ganho de peso (principalmente em tronco e abdome, giba de búfalo e face em lua cheia), maior risco para DM. O depósito de gordura em região epidural pode levar a comprometimento neurológico. o Cardiovascular e renal: ▪ Efeito fisiológico: Maior sensibilidade a subs. pressoras, menor sensibilidade ao óxido nítrico, aumento da síntese de angiotensinogênio, retenção de sódio e potássio e aumento de TFG. O excesso de cortisol, resultam em um efeito mineralocorticoide nos rins. ▪ Efeito Cushing: maior risco para HAS, nefrolitíase e hipopotassemia, alcalose hipocalemica, poliúria. o Endócrino: ▪ Efeito fisiológico: Inibição do TSH e do GnRH ▪ Efeito Cushing: hisurtismo (Hipertricose velosa), alterações menstruais, disfunção erétil, alterações de libido, alteração no crescimento, puberdade precoce. o Neuropsíquico: ▪ Efeito fisiológico: O hipocampo, hipotálamo, cerebelo e córtex possuem receptores para os glicocorticoides; estes estão associados à morte de células neuronais no hipocampo; Aumento da pressão intraocular. ▪ Efeito Cushing: depressão, diminuição da concentração e memória, irritabilidade e insônia, maior risco de glaucoma, pode ocorrer exolftalmia e hipertensão intracraniana é benigna. o Osteomuscular: ▪ Efeito fisiológico: Atrofia de fibras musculares tipo II, inibem a função osteoblástica, parecem induzir a apoptose de osteócitos, inibem a absorção intestinal de cálcio e aumentam sua excreção. ▪ Efeito Cushing: risco de osteopenia e osteoporose; muitos pacientes podem perdera altura por colapso de vértebra osteotorótica e ocorrer necrose asséptica do fêmur. A miopatia de Cushing acomete os músculos proximais dos membros inferiores e ombros. o Imunológico: ▪ Efeito fisiológico: Reduzem agudamente a contagem de linfócitos, de forma menos predominante, há o aumento de neutrófilos e diminuição de eosinófilos, inibem a diferenciação dos monócitos em macrófagos e reduzem a resposta inflamatória local. ▪ Efeito Cushing: maior risco para infecções oportunistas, que podem ser assintomáticas pela supressão da resposta inflamatória; infecções fúngicas superficiais e reativação de tuberculose podem ocorrer; em casos de hipercortisolismo grave, pode ocorrer perfuração intestinal. o Gastrointestinal: ▪ Efeito fisiológico: Todo TGI possui receptores para glicocorticoides (para mineracorticoides, no cólon distal). O uso prolongado está associado a úlcera péptica e pancreatite com necrose gordurosa. o Dermatológico: ▪ Efeito fisiológico: Inibição da divisão celular e da produção de colágeno ▪ Efeito Cushing: pele atrófica (adelgaçamento da pele, separação e exposição do tecido vascular subcutâneo), acne, pletora facial, sinal de Liddle (pele da mão em “papel de cigarro”), estrias violáceas (principalmente em abdome, mas pode ocorrer em coxas, mamas e braços, são mais comuns nos jovens), equimoses. Raramente, se apresenta com pigmentação cutânea, no entanto, pode estar presente por estímulo do ACTH aos melanócitos. • Diagnóstico: o Em primeiro lugar, deve-se descartar o uso exógeno de glicocorticoides, que fariam o diagnóstico da síndrome de Cushing exógena. ▪ Costuma ocorrer em doses diárias > 7,5 mg de Prednisona, > 0,75 mg de Dexametasona ou > 30 mg de hidrocortisona. ▪ Deve-se atentar para as preparações nasais, usadas no tratamento de renite alérgica, cremes e colírios com glicocorticoides que podem não ser vistos como medicamentos pelo paciente. ▪ O uso concomitante de medicação que iniba o citocromo p450 (ex: itraconazol e inibidores de proteases) aumenta o risco de síndrome exógena. ▪ A síndrome exógena também foi vista com o uso de acetato de megestrol e acetato de medroxiprogesterona. ▪ Na síndrome de Cushing exógena o eixo central encontra-se suprimido, logo, os níveis de ACTH e cortisol estarão baixos (exceto com o uso de hidrocortisona). o Descartado o uso exógeno, deve-se confirmar a suspeita da síndrome pela pesquisa laboratorial de hipercortisolismo. ▪ Primeira linha: Teste de supressão com dexametasona em baixas doses; Dosagem de cortisol salivar ao final da noite; Medida do cortisol livre urinário de 24h. ▪ Segunda linha: Cortisol sérico à meia-noite; teste da dexametasona-CRH. ▪ O teste de supressão com dexametasona em baixas doses visa demonstrar a perda da inibição por feedback negativo do cortisol sobre o eixo HHA. Existem duas versões do teste: com 1mg noturno e com 2 mg (0,5 mg de 6/6h durante 48h). O 1mg-DST é mais usado como rastreamento, por ser mais simples, a dexametasona é administrada via oral às 23h com dosagem de cortisol sérico na manhã às 8h. Em crianças, a dose é 10 microgramas/kg de peso. Valores < 1,8 descartam hipercortisolismo, enquanto > 5 sugerem o diagnóstico. Pode ocorrer falso-positivo na presença de obesidade, estresse crônico, alcoolismo, doenças psiquiátricas, níveis elevados de globulina carreadora de cortisol (por estrógenos, gravidez, tamoxifeno, mitotano e hipertireoidismo), erros no laboratório e na realização do teste, absorção diminuída, fármacos que aceleram o metabolismo hepático por indução da CYP3A4 (rifampicina, fenitoina, fenobarbital, carbamazepina, pioglitazona, primidona, etc) e diminuição da depuração renal. Para falsos-negativos, deve-se estar atento para drogas que diminuem o metabolismo (amiodarona, fluconazol, ritonavir, fluoxetina, ciprofloxacino etc), hepatopatias crônicas e hipercortisolismo cíclico. ▪ O cortisol livre urinário é realizado pela análise de amostra urinária de 24h a partir da segunda micção do dia até a primeira do dia seguinte. Este exame demonstra o cortisol livre que circulou no sangue durante o período. A ingestão excessiva de líquidos pode alterar o exame (> 5L/dia). Valores excedendo 4x a normalidade são praticamente definidores da síndrome de Cushing, no entanto, 10-15% dos pacientes tem uma das quatro determinações dentro da variação normal. Assim, sendo o primeiro exame normal, diante de alto grau de suspeita clínica, deve-se realizar análise de até duas amostras adicionais. A creatinina urinária também pode ser dosada para avaliar a adequação da amostra de urina coletada. ▪ Como nenhum teste tem 100% de acurácia, em geral, indicam-se 2 testes diferentes para diagnóstico. Atualmente, tem-se optado pelo cortisol salivar ao final da noite, em duas coletas (24 e 48h), pela simplicidade e alta sensibilidade. Estando elevado, pode-se realizar teste adicional de supressão noturna com 1mg ou o cortisol livre urinário. o Confirmado o hipercortisolismo, realiza-se investigação da causa: ▪ Dosagem de ACTH basal - Segundo Vilar et al, os valores de ACTH para tumores adrenal costuma ser 1,5-15, para doença de Cushing de 18 a 260, para secreção ectópica de 70 a 1820. ▪ Teste de CRH - Este teste baseia-se no fato de que a maioria dos corticotropinomas responde à administração do CRH com uma elevação significativa do ACTH e do cortisol plasmático. Tal resposta é rara com os tumores ectópicos produtores de ACTH. O teste não possibilita, contudo, distinguir a doença de Cushing dos indivíduos normais. Pode ser realizado com CRH ovino (oCRH) ou humano (hCRH); o primeiro apresenta uma resposta mais intensa e persistente, sendo, portanto, de maior utilidade no diagnóstico diferencial da síndrome de Cushing ▪ Teste da desmopressina - A desmopressina ou DDAVP (1- desamino-8-D-arginina vasopressina) é um análogo sintético da vasopressina (outro importante regulador da secreção do ACTH) que tem alta afinidade pelos receptores V2 renais e os receptores V2/V3 nos adenomas corticotróficos. Assim, a desmopressina induz uma significativa elevação do cortisol e do ACTH na grande maioria dos pacientes com DC, ao passo que esse tipo de resposta é bem menos frequente em deprimidos e obesos. Assim, o teste da desmopressina tem sido proposto sobretudo na diferenciação entre SC e estados de pseudo-Cushing (EPC). Na maioria dos centros latino-americanos e em um número crescente de países europeus, a desmopressina tem sido empregada em substituição ao CRH, por ser muito mais barata e por estar mais facilmente disponível. ▪ Cateterismo do seio petroso inferior - O cateterismo bilateral dos seios petrosos inferiores (BIPSS) é o teste mais confiável na diferenciação entre fontes hipofisárias e não hipofisárias de ACTH. O efluente hipofisário drena para o interior dos seios petrosos via seios cavernosos e, portanto, um gradiente entre o valor do ACTH plasmático obtido nesse local e o de uma amostra plasmática periférica simultânea indica uma fonte central de ACTH. ▪ Teste de supressão com altas doses de dexametasona - Os adenomas corticotróficos retêm tipicamente alguma resposta aos efeitos supressivos dos glicocorticoides, enquanto os tumores que causam a síndrome do ACTH ectópico e os tumores adrenais não costumam fazer isso. Atualmente, o teste mais empregado é o teste com supressão noturna, em que 8 mg de DMS são administrados às 23h, em dose única, com dosagem do CS às 8h ou 9h da manhã seguinte. Alguns autores, mas não todos, recomendam que o teste seja, de preferência, conduzido com o paciente internado, sob observação cuidadosa, devido ao risco de deterioração de seu estado psicológico, podendo, inclusive, desenvolver franca psicose. Uma supressão > 50% indica doença de Cushing e < 50% indica secreção ectópica ou tumor adrenal. ▪ Exames de imagem • A hipocalemia é bem mais frequente na SAE (presente em, pelo menos, 70% dos casos) do que na doença deCushing (encontrada em cerca de 10%). Essa diferença deve-se ao fato de que, na SAE, habitualmente, os níveis de cortisol circulante são mais altos do que na doença de Cushing. Esses níveis altos saturam a enzima 11β- HSD2, tornando possível que o cortisol aja como um mineralocorticoide no rim. • Diante da suspeita da SAE, devem ser realizadas uma TC e/ou uma RM de pescoço, tórax e abdome. • É possível a presença de hipercortisolismo bioquímico, sem a presença da síndrome de Cushing. Acredita-se que 5 a 30% dos pacientes com incidentalomas adrenais tenham essa forma subclínica, 1 a 10% dos pacientes com DM2 mal controlado ou osteoporose com fraturas. A maior preocupação com esses tumores, entretanto, é o risco do desenvolvimento de insuficiência adrenal aguda no pós-operatório (às vezes, fatal), caso os pacientes não recebam glicocorticoides. • Tratamento: o Os objetivos abarcam a remissão do hipercortisolismo, melhora das comorbidades e normalização dos fatores de risco cardiovasculares, reestabelecimento do eixo central e secreção de hormônios afetados. o Em pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico, os objetivos são evitar deficiências hormonais pós-operatórias e melhorar o quadro visual (nos macroadenomas com extensão suprasselar). Entretanto, um ou mais desses objetivos podem não ser alcançados para se obter a remissão. o Para doença de Cushing: o tratamento ideal é o cirúrgico, através da ressecção transesfenoidal. Quando o adenoma não é localizado, realiza- se hemi-hipofisectomia no lado onde o gradiente ACTH central/periférico pelo cateterismo foi maior. A radioterapia tem surgido como segunda opção, nos casos em que a cirurgia não é indicada. A adrenalectomia bilateral é uma opção mais radical para casos de doença persistente após cirurgia e radioterapia, no entanto, envolve a necessidade de reposição definitiva de glicocorticoides e mineralocorticoides além do risco para Síndrome de Nelson. o Síndrome de Nelson: trata-se do surgimento de um macroadenoma hipofisário localmente invasivo, que aparece em indivíduos submetidos à adrenalectomia bilateral, mais frequentemente nos pacientes com menos de 20 anos. O mecanismo etiopatogênico é a perda do feedback negativo exercido pelo hipercortisolismo sobre os corticotrofos hipofisários. Acredita-se que alguns desses corticotrofos já seriam neoplásicos, porém encontravam-se inibidos pelo excesso de glicocorticoide. Na ausência de altos níveis de cortisol essas células se proliferam livremente, gerando tumores grandes que podem comprimir o quiasma óptico e invadir o seio cavernoso. É típico o achado de hiperpigmentação mucocutânea, já que o ACTH evolui com níveis extremamente altos (entre 1.000-10.000 pg/ml). o Os inibidores da esteroidogênese adrenal são empregados no tratamento da doença de Cushing para o preparo pré-operatório de casos extremamente graves, e também enquanto se aguarda a resposta à radioterapia. As drogas mais utilizadas nos dias de hoje são: cetoconazol, metirapona ou mitotano, pela via oral, ou etomidado IV (infusão contínua) em baixas doses (não anestésicas), além de drogas que reduzem a secreção de ACTH, como agonistas dopaminérgicos (ex.: bromocriptina) e análogos da somatostatina (ex.: octreotide). o As neoplasias agressivas com secreção ectópica costumam ser diagnosticadas em estágios incuráveis, sendo o tratamento fundamentalmente paliativo. Nos casos com síndrome de Cushing associada, recomenda-se lançar mão de drogas inibidoras da esteroidogênese. O cetoconazol é a mais utilizada, na dose de 400-1.200 mg/dia. Adrenalectomia bilateral é uma alternativa razoável nos casos refratários. o Os adenomas suprarrenais são tratados com remoção cirúrgica, geralmente adrenalectomia videolaparoscópica unilateral. Após a retirada do tumor, pode levar meses ou mesmo anos para a glândula contralateral se recuperar. Por conseguinte, deve-se repor 0,5 mg de dexametasona (pela manhã) nos indivíduos submetidos àquela cirurgia. O cortisol basal deve ser monitorizado, e quando alcançar valores acima de 6,5 μg/dl pode-se suspender a dexametasona. Tumores > 6 cm (suspeita de carcinoma) são preferencialmente abordados pela via cirúrgica laparotômica tradicional, com acesso anterior através de incisão subcostal bilateral ou na linha média. O mitotano é um derivado do inseticida DDT que suprime a esteroidogênese adrenal. Está indicado em altas doses no carcinoma adrenal metastático (6-12 g/dia), em 3-4 tomadas, promovendo aumento de sobrevida nesta situação. Efeitos adversos são notados em 80% dos pacientes (diarreia, náuseas, vômitos, depressão e sonolência). Todos os usuários de mitotano devem repor glico e mineralocorticoide. Cerca de 70% consegue controlar o hipercortisolismo e o hiperandrogenismo, e em 35% dos casos se observa algum grau de redução do tumor. o Nas hiperplasias adrenocorticais primárias, a abordagem inicial pode ser feita com drogas inibidoras da esteroidogênese adrenal, a fim de controlar o hipercortisolismo antes do tratamento definitivo. Este último deve ser levado a cabo por uma adrenalectomia bilateral.
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