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Entretanto, o período manufatureiro propriamente dito não leva a nenhuma reestruturação radical. Recordemos que a manufatura só se apodera da produção nacional de forma muito fragmentária e sempre se baseia sobre os ofícios urbanos e sobre a pequena indústria doméstica rural como fundamento amplo. Quando a manufatura destrói uma for- ma dessa indústria doméstica, em ramos específicos de negócio e em determinados pontos, provoca o surgimento da mesma em outros, por- que precisa dela, até certo grau, para o processamento da matéria-pri- ma. Ela produz, portanto, uma nova classe de pequenos rurícolas, os quais exercem o cultivo do solo como atividade subsidiária e o trabalho industrial para a venda dos produtos à manufatura — diretamente ou pelo rodeio do comerciante — como negócio principal. Essa é uma causa, embora não a principal, de um fenômeno que confunde, inicialmente, o pesquisador da história inglesa. A partir do último terço do século XV, ele encontra queixas contínuas, somente interrompidas em certos intervalos, sobre a crescente economia capitalista no campo e a des- truição progressiva do campesinato. Por outro lado, encontra sempre este campesinato de novo, embora em número menor e sob uma forma sempre piorada.743 A causa principal é: a Inglaterra é predominante- mente ora cultivadora de trigo, ora criadora de gado, em períodos al- ternados, variando com estes a extensão da empresa camponesa. So- mente a grande indústria fornece, com as máquinas, a base constante da agricultura capitalista, expropria radicalmente a imensa maioria do povo do campo e completa a separação entre a agricultura e a indústria rural doméstica, cujas raízes — fiação e tecelagem — ela arranca.744 Portanto, é só ela que conquista para o capital industrial todo o mercado interno.745 OS ECONOMISTAS 368 743 A exceção constitui aqui o tempo de Cromwell. Enquanto durou a República, a massa do povo inglês em todas as camadas se ergueu da degradação em que havia afundado sob os Tudors. 744 Tuckett sabe que das manufaturas propriamente ditas e da destruição da manufatura rural ou doméstica com a introdução da maquinaria procede a grande indústria de lã. (TUCKETT. Op. cit., v. I, pp. 139-144.) “O arado, a canga eram invenções dos deuses e a ocupação de heróis: tear, fuso e roca são de origem menos nobre? Vós separais a roca e o arado, o fuso e a canga, e tereis fábricas e asilos de pobres, crédito e pânico, duas nações inimigas, a agrícola e a comercial.” (URQUHART, David. Op. cit., p. 122.) Agora, chega Carey e acusa, seguramente não sem razão, a Inglaterra de tentar transformar os demais países em meros povos de agricultores, cujo fabricante será a Inglaterra. Ele afirma que dessa forma a Turquia teria sido arruinada, porque “jamais foi permitido” (pela Inglaterra) “aos proprietários e cultivadores do solo fortalecerem a si mesmos pela aliança natural entre o arado e o tear, o martelo e a grade”. (The Slave Trade. p. 125.) Segundo ele, o próprio Urquhart é um dos agentes principais da ruína da Turquia, onde este teria feito pelo interesse inglês propaganda do livre-câmbio. O melhor é que Carey, grande admirador da Rússia seja dito de passagem, quer impedir com o sistema protecionista aquele processo de separação que esse sistema acelera. 745 Os economistas filantrópicos ingleses, tais como Mill, Rogers, Goldwin, Smith, Fawcett etc., e fabricantes liberais, como John Bright e consortes, perguntam aos aristocratas rurais ingleses, como Deus a Caim sobre seu irmão Abel, onde estão nossos milhares de freeholders? Mas de onde viestes vós? Da destruição daqueles freeholders. Por que não seguis perguntando para onde foram os tecelões, fiandeiros e artesãos independentes?