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Rebeca Woset Avaliação e Interpretação do Sistema Urinário NITROGÊNIO UREICO E CREATININA Azotemia é quando ocorre um aumento nas concentrações séricas de UM e creatinina. A azotemia é o parâmetro laboratorial que melhor indica problemas relacionados com o sistema urinário e pode ter origem pré-renal, renal e pós-renal. Pré-renal: ocorre na hipovolemia (p. ex., desidratação, choque) Renal: causada por lesões em um dos cinco locais: glomérulo, túbulo, interstício, pelve renal ou vasos sanguíneos Pós-renal: pode ser decorrente de obstrução em qualquer local após o néfron ou na ruptura de estruturas do sistema urinário Após o reconhecimento da azotemia, o próximo passo é correlacioná-la à densidade específica urinária (DEU) e determinar se a urina está sendo eliminada. Em caso afirmativo, em qual quantidade (ou seja, se existe anúria, oligúria ou poliúria). A azotemia associada à urina concentrada tem origem pré-renal (exceto em alguns gatos) e a azotemia com urina não concentrada tem origem renal. A azotemia devida a causas pós-renais pode ter urina em concentrações variadas, sendo então seu diagnóstico dependente do encontro de alterações relacionadas com a eliminação da urina, ou seja, a existência de obstrução ou ruptura. A azotemia é considerada leve quando a [Cr] sérica estiver entre 1,5 e 2,0 mg/dℓ em cães e 1,6 e 3,0, em gatos; moderada quando entre 2,0 e 5,0 em cães e 3,0 e 5,0, em gatos; e grave quando superior a 5,0 mg/dℓ tanto em cães quanto em gatos. Valores extremos (> 10,0) podem ser observados quando a hipovolemia (p. ex., desidratação) estiver sobreposta a causas renais ou pós-renais de azotemia. Desse modo, a magnitude sérica de [Cr] e [UN] não pode predizer se a origem da azotemia é renal, pré- renal ou pós-renal. A ureia é produzida no fígado a partir da amônia e do bicarbonato. A diminuição plasmática da [UN] é incomum. A diminuição sérica da [UN] resultante da diminuição da produção de ureia ocorre na insuficiência hepática ou no shunt portossistêmico, se alterações adicionais estiverem presentes. A correlação do aumento sérico da [UN] sem aumento concomitante da [Cr] tem sido utilizada para a identificação de possível estase ruminal e sangramento GI. Caso UN e Cr não sejam eliminados, voltam para circulação causando a uremia. Embora essas duas substâncias estejam no perfil bioquímico, o aumento das duas significa a mesma coisa: diminuição da TFG. Nenhuma das duas substâncias aumentará até que aproximadamente 75% dos néfrons estejam afuncionais. De fato, essa porcentagem é mais próxima de 80 a 90%, pois os néfrons remanescentes compensam por hipertrofia, especialmente na insuficiência renal crônica. Embora, eventualmente, a desidratação possa levar ao aumento de ambas as substâncias, a [UN] aumenta precocemente. A razão [UN]:[Cr] séricas em pequenos animais é de aproximadamente 20:1 e, em grandes animais, de 10:1, sendo seu aumento relacionado com desidratação ou sangramento intestinal, enquanto a diminuição está associada a diurese por fluidoterapia, presença de cromógenos não relacionados com a creatinina, ou habilidade única das vacas e cavalos em metabolizar e excretar [UN] pelo sistema gastrintestinal. A hemorragia GI causa aumento de [UN] sem aumento de [Cr]. O sangue, no sistema GI, é Rebeca Woset Avaliação e Interpretação do Sistema Urinário degradado e reabsorvido como aminoácidos e amônia. A amônia é, então, convertida pelo fígado em UN e excretada pelos rins. Outra possibilidade são as “refeições com alta carga de proteína”, as quais aumentam a produção de UN no período pós-prandial, mas não causam azotemia em pacientes normais. Esse é o princípio das “dietas renais”, ou seja, o fornecimento de alimentos com baixo teor de substância nitrogenada (baixo teor de proteína e alto teor de carboidrato) deveria resultar em menor produção de UN pelo fígado e, consequentemente, em redução do trabalho de sua eliminação pelos rins insuficientes. CONSIDERAÇÕES SOBRE A METODOLOGIA | UREIA As fitas e tiras reagentes só são capazes de identificar valores baixos a normais. A creatina é produzida no fígado e, em menor quantidade, no pâncreas, e é transportada até o músculo esquelético, onde 95% do total da creatina estão localizados. Em um animal normal, o UN e a Cr encontram-se em altas concentrações na urina (superiores a 300 mg/dℓ de creatinina) e em baixas concentrações no soro sanguíneo (1 mg/dℓ de creatinina). Caso os rins não estejam funcionando de maneira adequada (insuficiência), haverá menor quantidade de creatinina excretada na urina (≤ 100 mg/dℓ) e, por consequência, ela será mantida no plasma (creatina sérica ≥ 4 mg/dℓ). O aumento na creatinina sanguínea está provavelmente mais relacionado com a diminuição de sua excreção por mecanismos pré- renais, renais e pós-renais. Caso a creatinina se encontre dentro do intervalo de referência, mas a capacidade de concentrar a urina não seja mais possível, isso implica que a massa renal funcional está próxima de 33%. AZOTEMIA PRÉ-RENAL A desidratação é sua causa mais comum e as características que resultam disso são aumento da [Cr] e da [UN], urina concentrada, diminuição do volume urinário, aumento de VG, de [albumina] e sinais clínicos de desidratação. Em geral, a magnitude da azotemia não pode ser utilizada para provar que a causa da azotemia seja desidratação, mas, em geral, o aumento da [Cr] e da [UN] observado na desidratação varia de leve a moderado (p. ex., [UN] sérico entre 35 e 120 mg/dℓ e entre [Cr] 2 e 5 mg/dℓ). Se a desidratação estiver sobreposta na insuficiência renal, a azotemia tende a ser bastante grave (p. ex., [UN] sérica > 200 mg/dℓ e [Cr] > 10 mg/dℓ). Fluidotreapia exclui de ser pré-renal caso após as concentrações de Cr e UM diminuam. AZOTEMIA RENAL Qualquer doença renal que cause dano superior a 75% dos néfrons e reduza a TFG a menos de 25% irá diminuir a excreção de UN e de Cr. Caso esse grande número de néfrons esteja comprometido e os remanescentes não consigam compensar pelo mecanismo de hipertrofia, ocorrerá diminuição da TFG e, consequentemente, azotemia. Nos casos graves de insuficiência renal aguda, o volume de urina tende a diminuir (oligúria ou anúria); porém, nos casos de insuficiência renal crônica, a produção urinária aumenta (poliúria). A maioria desses pacientes azotêmicos apresenta urina isostenúrica e, alguns, hipostenúria, em conjunto com outras anormalidades observadas na urinálise, perfil bioquímico, hemograma, exame físico, histórico etc. As características da insuficiência renal aguda são muito variáveis, mas em geral podem ser observados boa condição corpórea, início súbito (o proprietário em geral relata que o animal Rebeca Woset Avaliação e Interpretação do Sistema Urinário “estava bem no dia anterior”), depressão, letargia, ausência ou diminuição da produção de urina. Os exames laboratoriais evidenciarão hemograma e albumina dentro dos valores de referência (ou aumentados, caso exista desidratação) e aumento da concentração de potássio. A causa mais comum de insuficiência renal aguda é a nefrose, ou seja, degeneração e necrose tubular, que tem como causa mais comum as nefrotoxinas. A nefrose aguda é refletida na urinálise por isostenúria, numerosos cilindros, proteinúria e glicosúria leves e variável anormalidade celular na sedimentoscopia. Caso seja possível a palpação ou a obtenção da imagem renal, serão observados rins de tamanho normal a aumentado, com contornos regulares. As alterações características da IRC são perda de peso constante, condição corpórea de ruim a péssima, letargia, poliúria e polidipsia. Nos exames laboratoriais temos anemia arregenerativa, hipoalbuminemia e hipocalcemia (sendo esta incomum em cavalos). A hipopotassemia é frequentemente observada em bovinos e gatos. Caso seja possível a avaliação porimagem dos rins, serão observados rins pequenos com contornos irregulares, principalmente se os rins estiverem completamente acometidos. AZOTEMIA PÓS-RENAL A azotemia pós-renal decorre da obstrução do fluxo ou da ruptura do sistema urinário inferior. A azotemia é observada pela incapacidade de excretar UN e creatinina, associada a contínua produção ou reabsorção pelo abdome ou subcutâneo nos casos de ruptura da bexiga ou uretra. Na azotemia pós-renal, a densidade específica urinária é variável e não auxilia na identificação da causa; no entanto, quando a produção urinária estiver diminuída ou ausente (ou seja, oligúria e anúria, respectivamente) é mais fácil localizar a causa da azotemia. O diagnóstico de azotemia pós-renal é firmado mais pelo histórico e pelos achados físicos do que pelos exames laboratoriais. URINÁLISE A incapacidade persistente de concentrar a urina previamente à azotemia sugere que a doença está presente e que mais de 66% dos néfrons já não estão funcionando adequadamente. É provável que os néfrons já tenham sido destruídos e que processos fibróticos tenham substituído grande parte da massa renal. Quando houver o retorno da capacidade em concentrar a urina, pode-se indicar que a doença foi superada ou que o dano atingiu menos de 66% dos néfrons. A presença de cilindro ceroso persistente no sedimento urinário sugere a presença de doença renal crônica. COLETA Micção espontânea: a coleta da urina pela manhã é preferível, pois em geral é a que apresenta a maior concentração. Pode apresentar contaminação por células e bactérias do sistema urogenital inferior. A uretra distal apresenta bactérias como flora natural, mas a uretra cranial e a bexiga são estéreis. Bactérias e leucócitos, que são comumente encontrados no prepúcio e nas células epiteliais, podem advir do sistema genital e uretra distal Cateterização: pode induzir pequenas hemorragias e evidenciar células epiteliais da uretra na amostra de urina Cistocentese: preferível para a realização de cultura. Em geral induz pequena hemorragia, principalmente em gatos. Rebeca Woset Avaliação e Interpretação do Sistema Urinário A urinálise em geral não é realizada em grandes animais pelo simples fato de apresentar dificuldades em sua coleta. Cavalos quase sempre requerem cateterização, embora alguns cavalos de corrida sejam treinados para promover a micção na baia quando escutarem um assovio. Massagear abaixo da comissura vulvar de vacas leiteiras provoca o ato de micção. A oclusão manual das narinas de ovelhas faz com que elas urinem. ARMAZENAMENTO A avaliação da urina fresca, com menos de meia hora após a coleta, é considerada ideal. Caso contrário, deve-se refrigerá-la (mas não congelar) em recipiente hermético e opaco para evitar a deterioração dos componentes celulares e a perda/metabolismo de analitos; células e cilindros serão lisados e destruídos, respectivamente, caso permaneçam em temperatura ambiente; a glicose será metabolizada; cetonas e bilirrubina terão suas concentrações reduzidas; o pH aumentará pela conversão da ureia em amônia; e haverá fuga de CO2 e proliferação bacteriana. A refrigeração pode favorecer a formação de cristais; portanto, as amostras devem ser reaquecidas por 20 min na bancada (temperatura ambiente), homogeneizando-se gentilmente as partículas decantadas. COR E TURBIDEZ Normalmente, a urina é amarela e límpida; quando fortemente concentrada, torna-se âmbar e, quando diluída, fica com a tonalidade de amarelo-claro a palha. As cores vermelha, marrom e suas tonalidades são observadas na hematúria, na hemoglobinúria e na mioglobinúria. Porém, existem diagnósticos diferenciais incomuns para urinas vermelhas ou marrons que incluem a porfiria e a administração de anti-helmínticos fenotiazínicos ou aminopirina. A urina de cavalos e coelhos normalmente é turva em animais normais devido à produção de muco e de numerosos cristais de carbonato de cálcio.
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