Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Daniel V. Rodrigues-M33 1. Aspectos importantes da alimentação da Criança e do Adolescente O aporte nutricional do lactente, crianças e adolescentes deve suprir necessidades para crescimento pondero-estatural e desenvolvimento neurocognitivo e puberal, que são muito grandes nestes períodos da vida. Os primeiros 1.000 dias de vida (da concepção até os dois anos de vida) são os mais vulneráveis à desnutrição, e este dano precoce ao crescimento e desenvolvimento provoca consequências futuras na saúde do indivíduo, com prejuízo na capacidade intelectual, desempenho escolar, produtividade laborativa e ganhos financeiros. Os nutrientes que provêm energia calórica são as gorduras (9 kcal/g), carboidratos (4 kcal/g) e proteínas (4 kcal/g), e são conhecidos como macronutrientes. As vitaminas e minerais são os micronutrientes, que por sua vez, atuam em diversas vias metabólicas fundamentais na célula. A principal fonte de carboidrato para o lactente é a lactose. Para prematuros, contudo, pela limitada atividade da lactase intestinal, o ideal são as fórmulas infantis que têm uma mistura de carboidratos com 50% de lactose e 50% de polímeros de glicose, OU o próprio leite de mães de prematuros, que também possui um menor teor de lactose. - Princípios de uma alimentação equilibrada durante toda a infância A alimentação saudável pode ser definida por três princípios básicos: variedade, moderação e equilíbrio. • Variedade: é importante comer diferentes tipos de alimentos pertencentes aos diversos grupos; a qualidade dos alimentos tem que ser observada. • Moderação: não se deve comer nem mais nem menos do que o organismo precisa; é importante estar atento à quantidade certa de alimentos. • Equilíbrio: quantidade e qualidade são importantes; o ideal é consumir alimentos variados, respeitando as quantidades de porções recomendadas para cada grupo de alimentos. Ou seja, “comer de tudo um pouco”. - Recomendações de suplementação de vitamina D e Cálcio O cálcio e a vitamina D são nutrientes essenciais para o desenvolvimento de um esqueleto saudável. Necessidades de cálcio são elevadas durante a infância e adolescência, como resultado do intenso desenvolvimento ósseo e muscular, portanto, a ingestão adequada deste mineral durante o crescimento é extremamente importante para alcançar o pico de massa óssea, essencial na redução do risco de fraturas e osteoporose na idade adulta e senescência (2-3). Além disso, mudanças hormonais durante a adolescência, associadas ao período puberal, promovem maior utilização de Daniel V. Rodrigues-M33 cálcio. No entanto, a maioria das crianças acima de 4 anos de idade e adolescentes não ingerem a quantidade recomendada deste nutriente Vitamina D Existe um risco de deficiência de vitamina D nos lactentes filhos de mães com baixa reserva dessa vitamina, como aquelas sem exposição ao sol. A suplementação com vitamina D está indicada para todos os lactentes amamentados ao seio materno ou amamentados com fórmula infantil (desde que recebam < 1.000 ml/dia). (Preconiza-se que a vitamina D suplementar seja administrada para todos os recém- nascidos a termo, independentemente de estar em aleitamento materno exclusivo ou fórmula infantil, desde a primeira semana até os 3 anos de vida). Para recém-nascidos pré-termo, orienta-se que a suplementação profilática oral de vitamina D (400 UI/dia) seja iniciada apenas quando o peso for superior a 1.500 gramas e houver tolerância plena à nutrição oral. De acordo com as mais recentes recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre suplementação de vitamina D na infância, a mesma deverá ser administrada de forma PROPROFILÁTICA a crianças em aleitamento materno ou em uso de fórmula infantil (< 1.000 ml/dia) ou leite de vaca, independente da região do país. As recomendações são as seguintes: • Primeira semana de vida até 12 meses (18 meses): 400 UI/dia. • 12 meses até 24 meses: 600 UI/dia. Opções disponíveis no mercado: • DePura: 1 gota = 220 UI (dose profilática 2 gotas/dia em < 1 ano). • DePura Kids: 1 gota = 200 UI (dose profilática 2 gotas/dia em < 1 ano; 3 gotas/dia em < 2 anos). • DeSol: 1 gota = 200 UI (dose profilática 2 gotas/dia em < 1 ano; 3 gotas/dia em < 2 anos). Cálcio O pico da densidade mineral óssea ocorre no final da puberdade, coincidente com o estágio 4 de Tanner. As necessidades de cálcio (99% deste elemento está presente no osso) são evidentes neste período de aumento da massa óssea. Recomenda- se que 60% da ingestão de cálcio seja feita através do consumo de leite e derivados. Além disso, a ingestão inadequada de vitaminas, minerais e cálcio leva ao maior risco de osteoporose no futuro, já que cerca de 50% da massa óssea adulta é adquirida nessa idade, ou seja, o pico de mineralização óssea acontece neste momento. Assim, a ingestão de cálcio inadequada compromete a massa óssea do adulto. A necessidade diária estimada de cálcio para o adolescente é de 1.300 mg, o que equivale a 3-5 porções de derivados lácteos, sendo 1 porção de leite ou iogurte igual a 240 mL e 1 porção de queijo igual a 2 fatias, ou 40 g. Neonatos com peso inferior a 1500 g devem ser alimentados com leite materno e oferta de cálcio, fósforo, sódio e proteínas complementares necessárias a esta condição, sob forma de suplementos acrescentados ao leite materno. Daniel V. Rodrigues-M33 - Nutrologia e qualidade dos alimentos A Nutrologia é a especialidade médica voltada ao diagnóstico e tratamento dos desequilíbrios relacionados à alimentação e estilo de vida. Ela trata de pequenos ajustes para quem busca viver bem, desde anemia, estresse crônico, fadiga, doença celíaca, diabetes, obesidade, artrite e muitas outas. O médico especializado em Nutrologia Funcional, que pesquisa o impacto dos nutrientes no organismo, é Nutrólogo. O médico nutrólogo também faz diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças relacionadas à falta ou excesso desses nutrientes. Ele pode diagnosticar e tratar, por exemplo, obesidade, hipertensão arterial e diabetes. Além disso, pode identificar possíveis erros alimentares e de hábitos de vida, auxiliando em mudanças importantes em benefício da saúde. Alimentação é determinante na qualidade do sono: Alice Amaral, especialista em Nutrologia da Associação Médica Brasileira (AMB) e da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), afirmou que dormir bem mantém o equilíbrio físico e emocional, fortalece o sistema imunológico, controla o apetite, melhora o humor e o desempenho sexual, diminui o estresse, aumenta a memória e rejuvenesce. Ela explicou que assistir televisão e usar celular à noite prejudicam o sono, bem como refeições pesadas. Evitar alimentos ricos em cafeína, comer até duas horas antes de deitar e criar uma rotina são dicas que ajudam a melhorar a qualidade. Alimentos ricos em triptofano, como nozes, banana e peixes, são indicados. Outra indicação é ingerir comida rica em magnésio e vitamina C. 2. Entender o conceito da obesidade A obesidade é um distúrbio nutricional caracterizado por um aumento do tecido adiposo, com elevação do peso corporal. Pode-se observar um aumento tanto do número como do tamanho dos adipócitos. É considerada uma doença genética influenciada por https://www.unimed.coop.br/viver-bem/alimentacao/o-que-sao-micro-e-macro-nutrientes- https://www.unimed.coop.br/viver-bem/saude-em-pauta/hipertensao-arteri-1 https://www.unimed.coop.br/viver-bem/saude-em-pauta/diabet-2 https://www.unimed.coop.br/viver-bem/viver-bem-em-serie/habitos-saudave-1 Daniel V. Rodrigues-M33 múltiplos fatores, como por exemplo, hábitos alimentares, culturais e psicossociais, prática de exercícios e controle endocrinometabólico. Existem três períodos da vida em que ocorre de forma fisiológica uma espécie de “rebote adiposo”, ou seja, um aumento no número de células adiposas. Por esse motivo, esses períodos são particularmente vulneráveis à instalação de obesidade. Sãoeles: o último trimestre de vida intrauterina, o primeiro ano de vida e o início da adolescência, este último mais acentuado nas mulheres. Então, em seu conceito patogênico, a obesidade é o resultado de uma desregulação do equilíbrio entre oferta calórica e gasto energético. É a expressão clínica de um balanço energético positivo. - Definição de obesidade infantil x sobre peso- Na obesidade infantil e juvenil há um aumento constante do número e do tamanho celular, enquanto na obesidade do adulto há aumento principalmente do tamanho celular. Por isso, a obesidade infantil responde pior ao tratamento, pois conseguimos reduzir o tamanho da célula gordurosa, mas não o seu número. Sabemos que cerca de 70% das crianças obesas transformam-se em adolescentes com tendência à obesidade. Sobrepeso, significa que ela pesa mais do que o que é considerado saudável ou normal para a sua idade, sexo ou tamanho. Em contrapartida, obesidade é um estado onde o obeso possui gordura corporal em quantidade excessiva. Crianças de 5 até 12 anos: O indicador para avaliar o sobrepeso e a obesidade, recomendado pela Organização Mundial da Saúde e pelo Ministério da Saúde, é o Índice de Massa Corporal (IMC), obtido pela fórmula peso/altura². Estes valores são colocados em gráficos específicos para a idade e o sexo. Considera-se sobrepeso crianças que apresentam IMC entre as curvas +1 e +2. E elas são classificadas obesas quando estão entre as curvas +2 e +3. Acima do +3 é obesidade grave. - Fatores de risco para obesidade infantil- 1- Fatores genéticos Estudos genéticos reforçam a participação da hereditariedade observada em várias famílias. São analisadas diversas correlações, envolvendo nível educacional dos pais, dobras tricipital e/ou subescapular de pais e filhos e peso dos familiares. A ocorrência de obesidade nos pais aumenta muito o risco da doença na prole: se um dos pais é obeso, o risco para a criança é de 40%, e se ambos são, pai e mãe, esta taxa sobe para 80%. Um exemplo de gen importante associado à obesidade é o FTO (fat mass and obesity associated) localizado na região 16q12. Na síndrome de Prader Willi, a ausência de expressão genética paternal do 15q11.2-q13leva ao apetite insaciável e busca compulsiva pela comida. 2-Fatores perinatais São considerados fatores de risco para obesidade infantil o sobrepeso/obesidade materna antes da gestação, ganho de peso excessivo durante a gestação, peso de nascimento elevado, e tabagismo materno. Além disso, o crescimento intrauterino restrito com “catch up” precoce é também um fator de risco para adiposidade central e risco cardiovascular no futuro. O temperamento negativo intenso de alguns lactentes também foi considerado predisponente para o aumento de peso no futuro. Por outro lado, o aleitamento materno e a autorregulação afetiva dos lactentes foram considerados fatores protetores contra a obesidade. Daniel V. Rodrigues-M33 3-Fatores alimentares Outros fatores, como desmame precoce e uso de dietas pouco balanceadas, estão estreitamente relacionados à gênese da doença. O consumo de alimentos com altas taxas calóricas, ricos em carboidratos simples e gorduras, e baixos teores de fibras e micronutrientes, são os combustíveis para o inflacionamento do peso. 4-Fatores ambientais A redução nas atividades físicas, em paralelo com o tempo gasto em frente ao “trio” televisão/ computador/videogame, resulta em diminuição em todo o gasto metabólico do organismo e facilita hábitos deletérios de ingerir petiscos e guloseimas. Estimativas revelam que as crianças podem permanecer em frente à TV por cerca de 20 horas/semana. 5- Fatores endocrinometabólicos A regulação do apetite-saciedade está sob controle do sistema gastrointestinal, do tecido adiposo e do sistema nervoso central. Os hormônios gastrointestinais, como colecistoquinina, peptídeo YY e feedback vagal, estimulam a saciedade, ao passo que a grelina estimula o apetite. O tecido adiposo informa aos centros hipotalâmicos e núcleo do trato solitário no SNC seus adequados estoques lipídicos, através de hormônios como a leptina e adiponectina. No SNC, neurotransmissores como neuropeptídeo Y participam de informações que veiculam aumento do apetite, e a melanocortina informações de saciedade. Sistema Gastrointestinal • Colecistoquinina: hormônio secretado pelo duodeno em resposta à ingestão de proteínas e gorduras. Envia um sinal via nervo vago até o hipotálamo informando a “saciedade” após a refeição. • Grelina: neuropeptídeo secretado no estômago que estimula a secreção de neuropeptídeo Y no hipotálamo, e assim, estimula o apetite. Na síndrome de Prader-Willi parece haver um aumento dos níveis de grelina, o que pode explicar a hiperfagia e obesidade associadas à síndrome. Tecido Adiposo • Leptina: hormônio secretado pelo tecido adiposo, que atua ao nível de hipotálamo levando à inibição do apetite e ao aumento do gasto energético. Os obesos parecem ter um aumento da leptina em função de sua massa adiposa, mas o apetite não está inibido em decorrência de uma diminuição da sensibilidade hipotalâmica ao hormônio. • Adiponectina: é um hormônio sintetizado pelo tecido adiposo com várias funções: antidiabética, antiteratogênica e anti-inflamatória. Quanto maior o grau de obesidade, menores os níveis de adiponectina. Sistema Nervoso Central • Neuropeptídeo Y: substância secretada pelo núcleo arqueado do hipotálamo em resposta ao jejum. Ele estimula o apetite. • TRH (hormônio estimulador da tireotrofina), CRH (hormônio estimulador da corticotrofina), MSH (hormônio melanócito-estimulante): inibem o apetite. - Principais consequências na saúde da criança/adolescente com obesidade; O indivíduo obeso tem maior suscetibilidade aos estados agravantes à saúde, como distúrbios dos sistemas circulatórios e esqueléticos, alterações no metabolismo dos carboidratos e na integridade psicossocial. São exemplos de repercussões decorrentes Daniel V. Rodrigues-M33 da obesidade: hipertensão arterial e aumento de doenças cardiovasculares, esteatose hepática, colelitíase e complicações gástricas, intolerância à glicose, distúrbios respiratórios e do sono, lesões de pele devido a distensões e atritos constantes, hiperinsulinismo, dislipidemias, torções, epifisiólise – devido à sobrecarga de peso sobre a cartilagem de crescimento – e aumento da morbimortalidade. Sinais clínicos de doenças mais frequentes em crianças e adolescentes com excesso de peso: Dermatológicos • Acantose nigricans • Infecção fúngica • Estrias • Celulite • Acne • Hirsutismo • Furunculose Ortopédicos • Joelho valgo • Epifisiólise de cabeça do fêmur • Artrites degenerativas • Pé plano Respiratórios • Alteração da função pulmonar • Asma Cardiovascular • Hipertensão arterial sistêmica Hepáticos • Colelitíase • Doença gordurosa não alcoólica Gastrintestinais • Refluxo gastresofágico • Constipação infantil Geniturinários • Síndrome dos ovários policísticos • Pubarca precoce • Incontinência urinária Sistema nervoso • Pseudotumor cerebral • Problemas psicossociais - Exames complementares importantes no acompanhamento da criança obesa. A grande maioria dos casos de obesidade é classificada como primária (mais de 90%), ou seja, decorrente da reunião entre predisposição genética, alto consumo calórico e Daniel V. Rodrigues-M33 baixo gasto energético, não havendo qualquer outra condição patológica que a desencadeie. As causas secundárias de obesidade devem ser sempre investigadas quando houver algum destes dados: rápido aumento de peso, achados dismórficos, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, perdas ou déficits visuais/auditivos e crescimento linear insuficiente (curva de estatura abaixo do percentil 50 para sexo e idade). O diagnóstico de obesidade é clínico, com base no exame físico e em dados antropométricos, que são de fácil aplicação e baixocusto. História clínica Na anamnese da criança e do adolescente obesos, devem-se avaliar a história prévia de obesidade: início, fatores desencadeantes, tratamentos; antecedentes pessoais: peso de nascimento, uso de medicamentos, drogas, álcool e tabaco; familiares: obesidade, risco cardiovascular; e alimentares: aleitamento materno e alimentação complementar, bem como atividades física e de lazer realizadas pela criança ou pelo adolescente. Manifestação clínica Deve-se realizar diagnóstico diferencial com hipotireoidismo, síndrome de Cushing e disfunção hipotalâmica. A obesidade está associada a estatura elevada, avanço na idade óssea e puberdade precoce. Os exames complementares podem ser utilizados para a obtenção de dados mais precisos sobre a composição corpórea, para a investigação de possíveis causas secundárias e para o diagnóstico das repercussões metabólicas mais comuns da obesidade, entre as quais estão dislipidemia, alterações do metabolismo glicídico, hipertensão arterial, doença hepática gordurosa não alcoólica, Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) e síndrome dos ovários policísticos. Outros métodos propedêuticos complementares: • Medição das pregas cutâneas e da circunferência do braço • Impedância bioelétrica • Absorciometria por raios X com energia dual Podem ser úteis para a determinação mais precisa da composição corpórea, permitindo a identificação do percentual de gordura e de massa magra. Como esses métodos diretos de aferição de gordura corpórea não são práticos nem disponíveis na atenção primária, utilizamos principalmente as medidas antropométricas, como peso, altura, perímetros e pregas, para realizar estimativas da gordura corpórea. O Índice de Massa Corpórea (IMC) é a medida mais aceita e utilizada para triagem da obesidade em crianças. Exame físico O exame físico deve considerar peso e estatura, circunferência abdominal, medidas da Prega Cutânea Tricipital (PCT) e da Circunferência do Braço (CB), pressão arterial sistêmica e estadiamento puberal. • Peso e altura Os parâmetros antropométricos devem ser cuidadosamente aferidos, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde. É necessário plotar em gráficos os valores encontrados, com distribuição em percentis ou escores Z segundo sexo e idade (0 a 19 Daniel V. Rodrigues-M33 anos), utilizando-se como referenciais os instrumentos propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2006 e 2007. • Circunferência abdominal Sua medição é importante, pois calcula indiretamente os depósitos intra-abdominais de gorduras. Para a sua realização, deve-se marcar, inicialmente, o ponto médio entre a última costela fixa (a décima) e a borda superior da crista ilíaca, local onde a fita inextensível será colocada. Essa medida serve para a avaliação indireta da gordura visceral. É um preditor de síndrome metabólica quando maior que o percentil 90 para a idade. • Prega cutânea tricipital e circunferência do braço A OMS considera a aferição das dobras cutâneas como complemento do peso e da estatura para a estimativa de adiposidade: PCT > p90. • Pressão arterial sistêmica A fisiopatologia das modificações da Pressão Arterial (PA) atribuídas ao excesso de peso ainda não está totalmente elucidada. Entretanto, há 3 mecanismos sugeridos: resistência à insulina, hiperatividade do sistema nervoso simpático e alterações de estrutura e função vasculares. Cerca de 30% das crianças e dos adolescentes com sobrepeso e obesidade podem apresentar hipertensão arterial sistêmica. Deve-se aferir a PA em todas as consultas utilizando-se manguitos apropriados para cada faixa etária. A classificação é feita por meio de tabelas específicas, considerando- se a hipertensão arterial quando são obtidas 3 medidas (PA sistólica ou diastólica) acima do percentil 95, levando-se em consideração o sexo, a idade e a estatura. Cerca de 30% das crianças e dos adolescentes obesos são hipertensos. Vale ressaltar que toda criança sadia, independentemente da condição nutricional, deve ter a PA aferida na consulta pediátrica. • Exames subsidiários Devem ser criteriosamente escolhidos e interpretados. O Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria sugere a realização dos seguintes exames como rastreamento universal para crianças e adolescentes com excesso de peso: a) Glicemia de jejum, com jejum de 8 horas – ampliar a investigação com Teste de Tolerância a Glicose Oral (TTGO) em resultados duvidosos; b) Perfil lipídico, com jejum de 12 horas; c) Alanina aminotransferase (ALT ou TGP). 3. Desnutrição infantil Distrofia: O termo distrofia significa distúrbio (dys) da nutrição (trophe). Envolve tanto os distúrbios caracterizados pela falta quanto os distúrbios caracterizados por excesso de nutrientes. Por exemplo, a carência energético-proteica leva à desnutrição; carência de vitamina A leva à hipovitaminose A; carência de vitamina D ao raquitismo; carência de ferro à anemia; excesso de energia leva à obesidade; excesso de vitaminas leva a hipervitaminoses, dentre outros. Conceito de desnutrição: A desnutrição é um distúrbio da nutrição (distrofia) decorrente da falta concomitante de calorias e de proteínas, em diferentes proporções. Sua forma primária resulta da combinação de três fatores ambientais: carência alimentar (macro e micronutrientes), falta de acesso a condições sanitárias (água/esgoto) e serviços de saúde (acarretando, por exemplo, quadros prolongados de diarreia) e falta Daniel V. Rodrigues-M33 de práticas de cuidados infantis (ex.: vacinação, higiene pessoal). As formas secundárias são provocadas por doenças que aumentam as necessidades metabólicas, diminuem a absorção intestinal ou levam à perda de nutrientes (por exemplo, síndromes disabsortivas, malignidades, queimaduras extensas). O período mais susceptível à desnutrição são os primeiros 1.000 dias de vida (da concepção até os dois anos de vida), e qualquer agravo nutricional neste momento afeta o crescimento e desenvolvimento, trazendo consequências cognitivas futuras. A desnutrição pode manifestar-se logo ao nascimento, como por exemplo ocorre com os neonatos baixo peso (peso de nascimento < 2.500 g), seja por crescimento intrauterino restrito ou prematuridade. O estado nutricional é avaliado de acordo com parâmetros antropométricos, tais como peso (que reflete os agravos agudos à nutrição), estatura (que reflete os agravos crônicos à nutrição), e circunferência braquial (útil por exemplo, na avaliação nutricional de crianças edemaciadas). Os índices e gráficos, tais como IMC (Índice de Massa Corpórea), Peso x Idade, Peso x Estatura, Estatura x Idade, IMC x Idade, também se prestam à avaliação antropométrica e desnutrição do estado nutricional infantil. - Carências nutricionais (diferentes carências) Os micronutrientes são substâncias fundamentais para o metabolismo, e são divididas basicamente em vitaminas (origem orgânica) e minerais (origem inorgânica). Participam de diversos processos metabólicos tais como: coenzimas (vitaminas do complexo B e vitamina K), antioxidantes (vitaminas C e E), indutoras de síntese proteica (vitaminas A e D), e como pré-hormônios (vitamina D). São classificadas em hidrossolúveis (vitaminas C e do Complexo B) e lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K). 1- Hipovitaminose A A deficiência de vitamina A é comum em áreas como o Sudeste Asiático, onde o arroz polido (o qual não possui a vitamina) é a principal fonte de alimento. Muitas doenças que afetam a capacidade de absorção de gorduras dos intestinos e, consequentemente, de vitaminas lipossolúveis (por exemplo, doença celíaca, fibrose cística e obstrução dos ductos biliares) aumentam o risco. • A hipovitaminose A acarreta, principalmente, manifestações cutâneas e oculares. Quadro clínico Didaticamente, a deficiência é dividida em 2 fases: • 1. Subclínica (retinol plasmático de 20 a 40 μg/dL): ocorre diminuição progressivadas reservas hepáticas sem alterações clínicas evidentes; • 2. Clínica (retinol plasmático < 20 μg/dL): a) Alterações de crescimento; b) Maior predisposição a infecções; c) Alterações cutâneas como xerose (pele seca, de aspecto escamoso, mais frequente nos membros inferiores) e hiperceratose folicular (pele áspera em razão do intumescimento dos folículos pilosos por secreção insuficiente. A nictalopia, também chamada de cegueira noturna, é a manifestação mais precoce da deficiência de vitamina A. 2-Vitamina D Daniel V. Rodrigues-M33 Os alimentos ricos em enriquecidos com vitamina D3, óleo de fígado de bacalhau, atum, cação, sardinha, gema de ovo e pescados gordos, como o arenque. A síntese cutânea é responsável por 90% da vitamina D do nosso organismo. Quadro clínico A deficiência de vitamina D pode ser assintomática ou ter sinais e sintomas clínicos a depender de sua gravidade. Pode cursar com atraso de crescimento e desenvolvimento, irritabilidade e dores ósseas. Quando grave e prolongada, apresenta-se com hipocalcemia, hipofosfatemia e elevação do PTH. Podem surgir o raquitismo em crianças e a osteomalácia em adolescentes. As concentrações de cálcio e fosfato no sangue diminuem quando há hipovitaminose D, provocando doença óssea. Esse distúrbio é denominado raquitismo nas crianças e osteomalácia nos adultos. Em virtude da deficiência de vitamina D, a absorção intestinal de cálcio fica reduzida. Para que se mantenha nível sérico de cálcio dentro dos limites da normalidade, desencadeia-se o hiperparatireoidismo secundário, que determinará a desmineralização óssea. 3-Vitamina E A vitamina E pode ser encontrada em determinados alimentos. As fontes mais abundantes são óleos vegetais, como os de girassol, palma, milho, soja e oliva. Outros alimentos ricos e vitamina E incluem nozes, semente de girassol, kiwi e gérmen de trigo, além de grãos integrais, peixe, leite de cabra e vegetais verdes folhosos. A vitamina E (alfatocoferol) é um antioxidante que protege as células do organismo contra a lesão causada por compostos químicos reativos conhecidos como radicais livres. A vitamina E e o selênio (um mineral essencial, componente de enzimas antioxidantes) têm ações similares. A vitamina E é transferida por via placentária no terceiro trimestre da gestação, assim, recém-nascidos prematuros tem maiores chances de nascerem com hipovitaminose E. Quadro clínico A deficiência é geralmente caracterizada por problemas neurológicos devido à condução nervosa prejudicada. Indivíduos que não conseguem absorver gordura podem precisar de suplementos, e pessoas com fibrose cística e problemas de absorção, como doença de Crohn, doença no fígado ou insuficiência pancreática, devem discutir com seu médico essa necessidade. Em recém-nascidos, pode provocar anemia hemolítica. Nos prematuros, a deficiência causa trombocitose, anemia hemolítica e edema, surgindo em média, no 2º mês de vida. 4- Vitamina K A vitamina K é um termo genérico que engloba várias substâncias relacionadas necessárias à coagulação normal do sangue. A forma principal é a vitamina K1 (filoquinona), encontrada em plantas, sobretudo nos vegetais verdes folhosos. Além disso, as bactérias presentes na porção distal do intestino delgado e no cólon produzem vitamina K2 (menaquinona), que pode ser absorvida em menor grau. Participa da síntese de fatores de coagulação: II; VII; IX e X, além de atuar no metabolismo ósseo e vascular. Quadro clínico A doença hemorrágica do recém-nascido, caracterizada pela tendência a sangramento, é a principal forma de deficiência. Pode ocorrer porque a placenta não permite a passagem adequada de gorduras e, consequentemente, da vitamina K (lipossolúvel), Daniel V. Rodrigues-M33 ou, também, porque o intestino do recém-nascido ainda não tem quantidades adequadas de bactérias produtoras de vitamina K, e não consumo suficiente da vitamina, pois o leite materno não é rico em vitamina K. São 3 formas: • Precoce: instala-se no primeiro dia de vida: • Clássica: surge entre 24 horas e o sétimo dia de vida: mães que consumiram medicamentos que afetam a vitamina K, como fenitoína; varfarina • Tardia: ocorre da segunda semana de vida até 12 semanas: possui alguma morbidade subjacente, que dificulta absorção da vitamina K, como doenças celíaca, doenças hepáticas. Na forma precoce, os principais locais de sangramento, são o trato gastrointestinal; pele/mucosa; coto umbilical. 5- Vitamina B1 (Tiamina) São boas fontes a levedura, a carne de porco, os legumes e os cereais integrais. A deficiência pode ocorrer quando esses alimentos estão ausentes da dieta. Quando a casca do arroz é removida (arroz polido), praticamente todas as vitaminas são perdidas. A deficiência também pode ser decorrente da redução da absorção causada pela diarreia crônica ou pelo aumento da demanda da vitamina causado por condições como hipertireoidismo, gravidez ou febre. Quadro clínico Os sinais são fadiga, irritabilidade, falta de concentração, fraqueza e parestesia de membros inferiores. Há 2 apresentações clínicas clássicas: 1. Beribéri: pode ser seco (polineuropatia com perda de massa muscular), úmido (edema, anorexia, fraqueza muscular, confusão mental e insuficiência cardíaca) ou infantil, que acomete crianças de 2 a 3 meses desnutridas ou amamentadas por mães carentes de tiamina (formas cardíaca e pseudomeningítica); 2. Síndrome de Wernicke-Korsakoff: é a forma aguda da deficiência. Trata-se de encefalopatia que evolui com oftalmoplegia, confusão, diminuição do nível de consciência e perda de memória. 6- Vitamina B2 A vitamina B2 (riboflavina) é importante em muitos processos celulares, particularmente naqueles implicados na produção de energia e no metabolismo dos aminoácidos. São boas fontes os laticínios, a carne vermelha, os peixes e as aves. A deficiência é incomum, exceto em áreas em que a dieta consiste, principalmente, de arroz polido. Pacientes com doença hepática ou diarreia crônica podem apresentar esse tipo de deficiência. Quadro clínico Os sintomas mais comuns são lesões nos cantos da boca, seguidas por rachaduras nos lábios, que podem deixar cicatrizes. Quando ocorre infecção fúngica por Candida (monilíase, sapinho) nessas áreas, o indivíduo pode apresentar manchas branco- acinzentadas. A língua pode ter coloração vermelho-violácea, e, algumas vezes, podem surgir áreas seborreicas (gordurosas) na região localizada entre o nariz e os lábios. Ocasionalmente, ocorre o crescimento de vasos sanguíneos na córnea, causando desconforto visual na luz intensa. Nos homens, a pele da bolsa escrotal inflama. Os sintomas desaparecem imediatamente quando se introduzem suplementos da vitamina, em doses 10 vezes superiores à ingesta diária recomendada. Daniel V. Rodrigues-M33 7- Vitamina C Essencial para a formação do tecido conjuntivo, o qual mantém unidas as estruturas do corpo, a vitamina C ajuda o organismo na absorção do ferro e na recuperação de queimaduras e ferimentos. Assim como a vitamina E, é antioxidante. A gravidez, a amamentação, a tireotoxicose (hiperatividade da tireoide), vários tipos de inflamação, as cirurgias e as queimaduras podem aumentar significativamente a demanda dessa vitamina pelo organismo e o risco de deficiência. A vitamina C (ácido ascórbico) é encontrada em frutas cítricas, batatas, repolho e pimentas verdes. Quadro clínico Nos lactentes, entre os 6 e 12 meses de vida, a carência de vitamina C na alimentação pode causar o escorbuto, um tipo de doença carencial. O quadro tem início insidioso e como característica importante dor intensa, que faz que a criança reaja com irritabilidade e choro à manipulação. Outros achados clínicos são hematomas subperiosteais, micro e macrofraturas, tumefações (hematomas) em superfícies cutâneas (joelhos e tornozelos) e nas junções condrocostais, rosário costal, pseudoparalisias e posições antálgicas – posição“de batráquio”, na qual os membros inferiores estão afastados da linha média, imóveis, em rotação externa, os joelhos semifletidos e as articulações coxofemorais semifletidas e em abdução –, sangramentos nas mucosas e no globo ocular, hematúria, febre (relacionada à presença dos hematomas), xerose conjuntival e ceratoconjuntivite. 8- Vitamina B12 (Cobalamina) e Folato A vitamina B12 e o folato estão associados à síntese de DNA e RNA e mielinização neuronal. O fator intrínseco (produzido nas células parietais do estômago) se liga a vitamina B12 e garante sua melhor estabilidade e absorção. A vitamina B12 é encontrada em alimentos de origem animal como carnes, laticínios e ovos. A maior concentração está no fígado e nos mariscos. O folato (vitamina B9) está presente em vários produtos de origem vegetal (folhas verde-escuras) e no fígado, e vários alimentos são fortificados com ácido fólico. Quadro clínico Anemia megaloblástica, sinais neurológicos de parestesia, polineurite, ataxia, disfunção cognitiva e fraqueza. Em gestantes, causa defeitos na formação do tubo neural do feto. 9- Vitamina B6 (Piridoxina) A piridoxina participa do metabolismo de aminoácidos, da gliconeogênese, da síntese de neurotransmissores, da modulação de hormônios esteroides e da função imunológica. Sua fonte é diversa, como vegetais, carnes, grãos integrais e castanhas. Por isso, a deficiência de vitamina B6 dietética é pouco frequente. Quadro clínico A deficiência de piridoxina pode se manifestar com dermatite seborreica, glossite e estomatite, anemia hipocrômica e microcítica, oxalúria e alterações do sistema nervoso central, como surgimento de encefalopatia com convulsões em crianças pequenas e recém-nascidos, e neuropatia periférica em crianças maiores. Neonatos que apresentem crises convulsivas de causa desconhecida e refratárias ao tratamento medicamentoso convencional devem ser submetidos ao teste terapêutico com piridoxina (100 mg IV a cada 5 a 15 minutos até um máximo de 500 mg). A resposta Daniel V. Rodrigues-M33 positiva faz o diagnóstico provável de epilepsia piridoxina-dependente (ou dependência de piridoxina), um erro inato raro do metabolismo que cursa com convulsões refratárias logo nas primeiras horas de vida. 10-Zinco As principais fontes da dieta são os ovos, o leite, as carnes e os crustáceos. A presença de fitatos e fibras na dieta diminuem a absorção do zinco no intestino delgado. O zinco é um microelemento fundamental para o organismo, principalmente para o sistema imunológico. É componente de enzimas como a DNA-polimerase e a RNA- sintetase. Podemos destacar outros sistemas enzimáticos nos quais tem importante função: anidrase carbônica, fosfatase alcalina, desidrogenases e carboxipeptidades. Quadro clínico Dietas inapropriadas, doença de Chron, anemia falciforme, doenças hepáticas e renais são algumas entidades nosológicas associadas à deficiência de zinco. Uma condição chamada acrodermatite enteropática. Esta é uma doença genética, autossômica recessiva, caracterizada por uma ineficaz absorção de zinco intestinal. Os sintomas se iniciam no primeiro mês de vida em bebês sob aleitamento materno ou uso de leite de vaca. As lesões cutâneas podem ser do tipo vesicobolhosas, eczematosas, secas ou psoriaziformes, de distribuição simétrica em regiões perioral, perineal, bochechas, cotovelos, joelhos e tornozelos. Os cabelos têm uma coloração avermelhada e locais de alopécia são comuns. Os sinais e sintomas oculares são: fotofobia, conjuntivite e blefarite. Outras manifestações: glossite, estomatite, diarreia crônica, prejuízo na cicatrização de feridas, retardo de crescimento, irritabilidade, infecções bacterianas de repetição (comprometimento imunológico) e superinfecção por Candida. A deficiência de zinco está associada: 1) Sistema imune – atrofia do tecido linfoide, diminuição da resposta à hipersensibilidade cutânea retardada; diminuição de pool de células produtoras de anticorpos e linfócitos natural killer; 2) Sistema endócrino – retardo de crescimento e hipogonadismo hipogonadotrófico com redução da espermatogênese; 3) Epitélios – alopécia, dermatite bolhosa e diarreia crônica. 11- Iodo A prevalência global da carência de iodo em crianças abaixo de cinco anos é de 29%, e estimasse que crianças residentes em áreas de baixa oferta deste mineral apresentem queda de 12 a 13.5 pontos no QI (Quociente de Inteligência). As principais fontes alimentares são os peixes de água salgada, os mariscos, as lagostas, o camarão, os vegetais folhosos (espinafre e agrião) e o sal iodado. Mecanismo de ação: Cerca de 3/4 de todo o iodo presente no organismo encontra-se na glândula tireoide. O restante é verificado nas glândulas mamárias, salivares e gástricas. A glândula tireoide capta o iodo por mecanismo ativo e o incorpora na molécula de tireoglobulina, que é sintetizada pela própria glândula. A produção de T3 e T4 é feita mediante proteólise desta macromolécula sob estímulo do TSH. Quadro clínico: Daniel V. Rodrigues-M33 A deficiência de iodo acarreta a formação do bócio, que é o aumento no tamanho da tireoide em resposta ao estímulo produzido pelo TSH, que acontece quando os níveis de T3 e T4 caem. É, portanto, uma tentativa do organismo em compensar o déficit de hormônios tireoidianos. Inicialmente, o bócio é difuso, com aumento homogêneo de todos os folículos. Em adultos, entretanto, algumas células foliculares sofrem mutação: passam a proliferar mais do que outras, independente do estímulo do TSH, e tem-se o desenvolvimento do bócio nodular. Em alguns casos, esses folículos TSH- independentes podem até mesmo desencadear um hipertireoidismo, se a carência de iodo não for muito grave. Adultos e crianças maiores mais comumente desenvolvem um quadro de hipotireoidismo, por carência de iodo. Se o hipotireoidismo acomete as gestantes, os efeitos sobre o sistema nervoso central do feto são catastróficos e irreversíveis, pois os hormônios tireoidianos maternos desempenham um papel fundamental na maturação neuronal e na mielinização. - Quadro clinico da desnutrição Deve-se observar que a natureza das alterações hormonais é diferente nos dois principais tipos de desnutrição grave, o marasmo (forma não edematosa) e o kwashiorkor (forma edematosa). As razões pelas quais algumas crianças desenvolvem um tipo ou outro de desnutrição não são conhecidas, mas alguns fatores têm sido sugeridos. Tem sido proposto que o excesso de carboidratos em uma dieta em detrimento do teor proteico resulte em um maior consumo das proteínas corporais, diminuição da síntese de albumina e edema periférico, como acontece no kwashiorkor. Enquanto o cortisol está mais elevado no marasmo, o kwashiorkor apresenta maior nível de hormônio do crescimento. As somatomedinas estão normais na criança com marasmo, mas reduzidas no kwashiorkor. Marasmo: trata-se de um estado de má nutrição que resulta, predominantemente, de deficiência calórica total, tanto energética quanto proteica (Figura 22.3). Ocorre principalmente em países em desenvolvimento. A causa-base fundamentalmente envolvida é o desmame precoce, em que há substituição do leite materno por fórmulas com baixa qualidade e quantidade de proteínas e calorias. A instalação é insidiosa, permitindo ao organismo certa adaptação à falta de nutrientes. Acomete, na grande maioria das vezes, crianças menores de 1 ano. O marasmo caracteriza-se por: a) Déficit de ganho ponderal acentuado, associado à parada ou ao declínio do crescimento. Observam-se emagrecimento acentuado com pobreza de tecido celular subcutâneo e pele flácida e enrugada, especialmente nas nádegas e nas coxas. A perda de tecido subcutâneo faz desaparecer a bola gordurosa de Bichat (gordura das bochechas), que ocorre mais tardiamente e pode levar a criança a Daniel V. Rodrigues-M33 ter aparência facial envelhecida (fácies senil ou simiesca), característica do marasmo;b) Atrofia muscular extrema; c) Irritabilidade intensa, caracterizada por choro a qualquer estímulo, apatia; d) Apetite em geral preservado; e) Distensão abdominal: as crianças apresentam frequentemente abdome volumoso, em razão da hipotonia e da atrofia muscular, além de movimentos intestinais facilmente visíveis; f) Hipotermia, bradicardia e pulsos finos como manifestações de doença em estágio avançado; g) Diarreia e anemia associada são muito comuns; h) Não há edema nem lesões cutâneas; i) Cabelos eventualmente alterados; j) Proteínas séricas e enzimas hepáticas normais. Kwashiorkor: No caso de kwashiorkor, embora a ingestão calórica possa ser adequada, observa-se deficiência dietética de proteínas predominantemente de alto valor biológico, o que dificulta a adaptação do organismo à nova situação, acelerando a instalação da desnutrição. O quadro manifesta-se, mais frequentemente, entre o segundo e o terceiro anos de vida, sendo o edema frequentemente considerado a manifestação clínica mais importante de kwashiorkor. Kwashiorkor caracteriza-se por: • Déficit de peso e crescimento – o peso e a estatura estão abaixo do esperado para a idade; • Alterações mentais e comportamentais – a criança apresenta-se apática, hipoativa, anorética e desinteressada por estímulos ao seu redor. Não sorri e irrita-se com facilidade; • Hipotrofia muscular, principalmente nos músculos dos membros superiores e inferiores; • Flacidez cutânea; • Edema é a principal característica e ocorre em razão da hipoalbuminemia, o que pode mascarar a perda real de peso no início do quadro. A causa do edema é multifatorial e relaciona-se com aumento da permeabilidade endotelial, extravasamento do líquido e proteínas para o terceiro espaço, o que acarreta hipoalbuminemia; pode acometer qualquer parte do corpo. Predomina nos membros inferiores, mas pode aparecer nas mãos e na face (fácies “de lua”) e até mesmo na bolsa escrotal, em meninos; • Em contraste com o marasmo, apresenta tecido celular subcutâneo. O grau de gordura subcutânea oferece indicação do grau de deficiência calórica; • A pele da face é frequentemente acometida, despigmentada, com possibilidade de descamação. Os cabelos apresentam alteração da textura e da cor (discromias) e são quebradiços. Os cabelos pretos tornam-se castanhos ou avermelhados. Pode estar presente o sinal “da bandeira”, que consiste na alteração pigmentar, em faixas, da cor dos cabelos, de acordo com o período de piora e melhora da nutrição; • Possível diarreia com fezes liquefeitas, com sangue e alimentos não digeridos; • Anemia na maioria dos casos, em decorrência da deficiência proteica para síntese de eritrócitos, deficiência de ferro e de ácido fólico, como também da presença de parasitoses intestinais e infecções frequentes; • Infecções recorrentes; Daniel V. Rodrigues-M33 • Baixa tolerância ao frio e calor; • Dentes em boas condições; • Hepatomegalia, por esteatose hepática Kwashiorkor-marasmático: A maioria dos casos de DEP situa-se na faixa intermediária, entre os 2 extremos, com superposição dos achados de ambas as formas de DEP, sendo reconhecido um tipo misto, chamado kwashiorkormarasmático. Nesse caso, a criança evolui com carências na ingestão proteica e/ou calórica. A razão pela qual uma criança desenvolve uma ou outra forma de desnutrição ainda não está esclarecida. A manifestação clínica de aparecimento mais precoce é o déficit ponderal, constatado por meio do acompanhamento das curvas de peso estacionárias ou descendentes, utilizando-se os gráficos da OMS como padrão de referência. Quando a desnutrição é aguda, observa-se, inicialmente, maior comprometimento do peso. Quando a desnutrição se arrasta, tornando-se crônica, a estatura também fica comprometida. Segundo Gómez e colaboradores, as manifestações da desnutrição podem ser universais, circunstanciais e agregadas, apresentadas a seguir: Universais Estão presentes em todo quadro de desnutrição, independentemente de etiologia ou intensidade: a) Redução do ganho ponderal e, posteriormente, comprometimento do crescimento linear; b) Hipotrofia muscular; c) Diminuição da atividade (tendência à apatia), irritabilidade, depressão mental e perversão do apetite (pica). Circunstanciais Estão presentes de acordo com o tipo de deficiência nutricional e a intensidade. 1- Alterações metabólicas e hormonais • Redução de todos os substratos energéticos: glicogênio, gorduras e proteínas. Inicialmente há um aumento da glicólise (quebra de glicogênio), lipólise (liberação de ácidos graxos) e neoglicogênese (síntese de glicose a partir do glicerol dos ácidos graxos e aminoácidos), para geração de energia. O metabolismo cerebral é mantido à custa de ácidos graxos e corpos cetônicos produzidos pela lipólise, estimulada pelo hormônio do crescimento e pela epinefrina. • O consumo progressivo desses estoques de energia leva à queda plasmática nos níveis de glicose e aminoácidos, e com isto ocorre uma diminuição da insulina sérica e um aumento do glucagon e da adrenalina. Os níveis de GH se elevam, e com ele há maior estímulo à lipólise. Por outro lado, os níveis de IGF- 1 (ou Somatomedina C) estão reduzidos. O estresse provocado pela DEP e as infecções estimulam a secreção de cortisol, que atua sobre a glicogenólise e gliconeogênese (consumo muscular), aumentando-a. Os níveis de T3 e T4 estão reduzidos em função da diminuição da atividade da enzima 5 monodeiodinidase e pela menor captação de iodo tireoidiano. Assim, há queda da termogênese corpórea e no consumo de oxigênio. • A atividade da bomba de sódio-potássio encontra- se muito reduzida pela menor oferta de ATP. Com isso, a célula passa a excretar menos sódio e importar menos potássio. O sódio corporal total está aumentado, mas seus níveis séricos estão reduzidos (HIPONATREMIA). Embora a água corporal total esteja Daniel V. Rodrigues-M33 diminuída em função da redução da massa muscular e do tecido adiposo, a célula tem tendência a edemaciar (pela retenção de sódio). O potássio intra e extracelular encontram-se reduzidos (HIPOCALEMIA). A redução do gradiente de sódio transmembrana faz com que menos H+ seja excretado, produzindo um quadro de acidose intracelular e alcalose extracelular. 2- Alterações imunológicas • Imunidade inespecífica: há perda da integridade das barreiras epitelial e mucosa, diminuição de fatores como muco, pH e lisozima. • Imunidade celular: redução na população de linfócitos T no timo, baço e linfonodos, menor produção de Interleucina 1 (IL-1) e redução de quantidade e qualidade em alguns fatores complemento. Assim, há uma menor capacidade de opsonização, fagocitose e quimiotaxia. Os testes cutâneos geralmente apresentam- se negativos (ex.: candidina e PPD). • A falência de mecanismos imunes locais provavelmente altera a permeabilidade da mucosa intestinal para macromoléculas estranhas, permitindo, então, a passagem de proteínas através da mucosa e indução de formação de anticorpos antiproteína alimentar, causando alergia alimentar. 3-Alterações neurológicas • Tanto a desnutrição calórico-proteica quanto a carência de ferro e iodo e a privação psicoafetiva contribuem para o déficit no desenvolvimento neuropsicomotor (baixo QD – Quoeficiente de Desenvolvimento) e para o déficit cognitivo (baixo QI – Quoeficiente de Inteligência). Há redução na divisão celular, redução na formação de sinapses e proliferação dendrítica, e retardo na mielinização, bem como prejuízo na síntese de neurotransmissores. Outros fatores associados à DEP também atuam como coadjuvantes no comprometimento do SNC, como: deficiência de zinco, de vitamina E e redução de ácidos graxos de cadeia longa (ômega 3 e 6). 4-Alterações gastrointestinais • Redução na secreção gástrica, pancreática e biliar, com diminuição das enzimas digestivas– dissacaridades intestinais (lactase, maltase e sacarase), amilase e lipase.A diminuição da atividade de lactase intestinal leva à intolerância ao leite e à presença de fezes ácidas. O decréscimo na atividade de dispeptidases na borda estriada da mucosa é devido, principalmente à lesão de microvilosidades e à diminuição da síntese proteica. Há também déficit de absorção de aminoácidos essenciais. Até o transporte de glicose pode estar comprometido. • Perda de tônus das alças intestinais e a diminuição da peristalse favorecendo a proliferação bacteriana (intestino contaminado), que dificulta a absorção de água e eletrólitos, e, principalmente, leva à alteração da composição do pool de sais biliares, com aumento no conteúdo de sais biliares desconjugados. Os ácidos biliares desconjugados na luz intestinal determinam a diminuição da formação de micelas de gordura, com consequente má absorção de lipídios, de vitamina B12 e de outras vitaminas lipossolúveis. • Diminuição do tamanho e número das vilosidades intestinais com perda da borda estriada, promovendo um aspecto que pode lembrar o da doença celíaca. Há um aumento da celularidade da lâmina própria à custa de linfócitos, plasmócitos e alguns eosinófilos. A lesão mucosa é mais grave no kwashiorkor, observando- se acúmulo de gordura no epitélio. Daniel V. Rodrigues-M33 • No fígado ocorre esteatose, principalmente na forma kwashiorkor, podendo evoluir com fibrose perilobular e cirrose. • As glândulas parótidas sofrem atrofia, e durante a recuperação nutricional podem hipertrofiar e aumentar de tamanho. 5- Alterações cardiovasculares e renais • Déficit contrátil do miócito cardíaco, que resulta em queda do débito cardíaco basal e resposta cardiovascular inadequada às alterações de volemia. • Outra consequência desta redução no débito cardíaco é a queda nas taxas de filtração glomerular, com prejuízo das funções de concentração e acidificação urinária. Queixas de poliúria e nictúria são comuns. Agregadas São as manifestações clínicas decorrentes de infecções, distúrbios metabólicos, desidratação e distúrbios hidroeletrolíticos associados ao estado de desnutrição. Tabela do tratamento do DPE 4.Uso da Caderneta de saúde da Criança - Curvas WHO/NCHS Utilizando a curva Peso x Idade • Peso muito baixo para idade: aquele situado abaixo do percentil 0,1 (ou abaixo do escore Z -3) do gráfico. • Peso baixo para idade: aquele situado abaixo do percentil 3 (ou abaixo do escore Z -2) do gráfico. Daniel V. Rodrigues-M33 Utilizando as curvas Peso x Estatura e IMC x Estatura • Magreza acentuada: aquele situado abaixo do percentil 0,1 (ou abaixo do escore Z -3) do gráfico. • Magreza: aquele situado abaixo do percentil 3 (ou abaixo do escore Z -2) do gráfico. Como pode-se observar, os principais índices antropométricos utilizados para avaliar a desnutrição são o peso e a estatura. • Curva peso/estatura – reflete o efeito agudo da desnutrição na vida da criança. • Curva estatura/idade – reflete o efeito crônico da desnutrição na vida da criança. Existe também outra forma de classificação (2005) da desnutrição usando-se os antigos gráficos do NCHS. Veja abaixo: • Desnutrição Moderada: peso/altura entre -2 e -3 DP da média (emagrecimento moderado) e/ou altura/idade entre -2 e -3 DP da média (nanismo moderado). • Desnutrição Grave: presença de edema ou peso/altura abaixo de -3 DP e/ou altura/idade abaixo de -3 DP da média. Objetivos a serem alcançados Saber fazer a classificação do estado nutricional O IMC é calculado dividindo-se o peso do indivíduo por sua altura ao quadrado. O IMC por Idade é considerado um ótimo indicador para avaliar sobrepeso e obesidade em adolescentes. Embora seja um ótimo indicador de gordura corporal, procure utilizar o IMC por Idade juntamente com outros indicadores nutricionais, não esqueça que o IMC não consegue determinar a composição corporal. 1 - Marque no eixo vertical do gráfico o IMC e no eixo horizontal a idade. 2 - Defina o ponto em que as linhas se encontram e determine o percentil correspondente. 3 - Verifique em qual faixa de percentil o valor obtido se encaixa e obtenha o diagnóstico nutricional. 4 - Compare o resultado obtido com as tabelas abaixo. https://www.drnutricao.com.br/Antropometria/indicadores-nutricionais https://www.drnutricao.com.br/Antropometria/indicadores-nutricionais Daniel V. Rodrigues-M33 Por exemplo, Renata tem um IMC de 18 e está com 4 anos. Classificação: Risco de Sobrepeso. (> 85 Percentil a ≤ 97 Percentil). Compreender as diferenças das necessidades nutricionais e calóricas por grupo etário • Alimentação do lactente (0-2 anos) A alimentação adequada do lactente consiste em aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida e complementado até os 2 anos. Assim, a alimentação complementar deve ser introduzida a partir dos 6 meses, não havendo qualquer indicação de retardar essa introdução alimentar. 1. Dar somente leite materno até os seis meses de idade, sem oferecer água, chás ou quaisquer outros alimentos. 2. A partir de seis meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais. 3. Após os seis meses, oferecer alimentação complementar (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes), três vezes ao dia, se a criança receber leite materno, e cinco vezes ao dia, se estiver desmamada. 4. A alimentação complementar deverá ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança. 5. A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher; começar com consistência pastosa (papas, purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família. 6. Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é, também, uma alimentação colorida. 7. Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições. 8. Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação. 9. Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados. 10. Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo a sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação. • Pré-escolar (2 a 7 anos) A fase pré-escolar, entre dois anos e sete anos incompletos, caracteriza-se por estabilização do crescimento estrutural e do ganho de peso. Assim, nessa etapa do desenvolvimento infantil, há uma menor necessidade de ingestão energética quando comparada ao período de zero a dois anos e a fase escolar. Durante essa faixa etária, a anemia ferropriva apresenta uma relevante prevalência, assim, é de extrema importância que os cuidadores estejam atentos quanto à suplementação adequada de ferro através da dieta. Ministério da Saúde/Organização Pan-Americana da Saúde adotam os “10 passos” como guia para alimentação saudável para crianças nas fases pré-escolar e escolar: 1. Procure oferecer alimentos de diferentes grupos, distribuindo-os em pelo menos três refeições e dois lanches por dia. 2. Inclua diariamente alimen¬tos como cereais (arroz, milho), tubérculos (batatas), raízes (mandioca/macaxeira/aipim), pães e massas, distribuindo esses alimentos nas refeições e lanches ao longo do dia. 3. Procure oferecer diariamente legumes e verduras como parte das refeições da criança. As frutas podem ser distribuídas nas refeições, sobremesas e lanches. 4. Ofereça feijão com arroz todos os dias, ou no mínimo cinco vezes por semana. Daniel V. Rodrigues-M33 5. Ofereça diariamente leite e derivados, como queijo e iogurte, nos lanches, e carnes, aves, peixes ou ovos na refeição principal. 6. Alimentos gordurosos e frituras devem ser evitados; prefira alimentos assados, grelhados ou cozidos. 7. Evite oferecer refrigerantes e sucos industrializados, balas, bombons, biscoitos doces e recheados,salgadinhos e outras guloseimas no dia a dia. 8. Diminua a quantidade de sal na comida. 9. Estimule a criança a beber bastante água e sucos naturais de frutas durante o dia, de preferência nos intervalos das refeições, para manter a hidratação e a saúde do corpo. 10. Incentive a criança a ser ativa e evite que ela passe muitas horas assistindo TV, jogando videogame ou brincando no computador. • Fase escolar (7 anos-10 anos incompletos) A fase escolar compreende crianças de 7 anos a 10 anos incompletos e é caracterizada por um período de crescimento e demandas nutricionais elevadas. Nessa fase é comum a criança ter um alto gasto energético devido ao metabolismo que é mais intenso que o do adulto. Além disso, há nessa faixa etária intensa atividade física e mental. É comum, nessa idade, também, a diminuição da ingestão de leite e, consequentemente, limitação do suprimento de cálcio. As mães devem estar atentas a fim de compensar a falta de ingestão de leite por meio de outros alimentos ricos em cálcio • Adolescência De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a adolescência é o período dos 12 aos 18 anos, já para a OMS e para o Ministério da Saúde, está entre 10 anos e 20 anos incompletos. Além da necessidade energética e de macronutrientes, deve-se estimar as necessidades específicas de cada micronutriente, de forma a proporcionar uma nutrição balanceada e adequada, evitando sintomas de uma deficiência nutricional específica, comum na adolescência, por conta das variações de necessidades de acordo com o estágio puberal. Os macronutrientes são: carboidratos, proteínas e lipídeos. Suas necessidades podem ser estimadas em percentual da energia total. Já os micronutrientes são as vitaminas e os minerais, ambos extremamente necessários em todas as fases da vida, mas em especial na adolescência. Fisiologia da alimentação (desde as papilas gustativas até alterações de emoções e sensações/recompensas) - o papel dos pais • É o conjunto de transformações fisioquímicas ou físico-químicas que os alimentos orgânicos sofrem para se transformarem em moléculas menores e serem absorvidas. É um processo mais complexo que inicia com a ingestão do alimento, envolve a transformação e incorporação dos nutrientes e termina com a eliminação dos restos. Reconhecer aspectos psicológicos na desnutrição associada a alterações comportamentais (bulimia e anorexia) Os transtornos alimentares devem ser diagnosticados e diferenciados pelas suas características clínicas e alterações físicas e comportamentais dos pacientes. Na anorexia nervosa, há IMC baixo, restrição alimentar, distorção da imagem corporal e alterações como amenorreia. Na bulimia nervosa, o IMC tende a ser mais alto, ocorrem os binges e comportamentos purgativos compensatórios. Daniel V. Rodrigues-M33 Nos distúrbios de anorexia nervosa, é marcante a perda de peso (ou a manutenção de um peso abaixo do normal), ao contrário da bulimia, em que os pacientes costumam ganhar peso (ou apresentar sobrepeso). A bulimia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por: 1. Episódios recorrentes de compulsão periódica, que possuem os seguintes aspectos: a) Ingestão, em um período limitado de tempo (2 horas), de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria durante um período similar e sob circunstâncias similares (binges); b) Sentimento de falta de controle sobre o comportamento alimentar durante o episódio (sentimento de incapacidade de parar de comer ou de controlar o que ou quanto está comendo); c) Comportamento compensatório inadequado e recorrente, com o fim de prevenir aumento de peso, como autoindução de vômito, uso indevido de laxantes, diuréticos, enemas ou outros medicamentos, jejuns ou exercícios excessivos (vigorexia): • A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem, em média, no mínimo uma vez por semana durante 3 meses. A autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso do corpo; • O distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa. A anorexia nervosa é um distúrbio alimentar no qual o indivíduo se furta à manutenção do peso corpóreo em um nível mínimo normal adequado à idade e à altura, restringindo a ingesta calórica em relação às necessidades. Peso significativamente baixo é definido como um peso inferior ao peso mínimo normal ou, no caso de crianças e adolescentes, menor do que o minimamente esperado. Há medo intenso de ganhar peso ou tornar-se “gordo”, mesmo com o peso abaixo do normal. Além disso, há perturbação no modo de vivenciar o peso ou a forma do corpo, influência indevida do peso ou da forma do corpo sobre a autoavaliação, ou negação do baixo peso corpóreo atual. Outro hábito comum entre os anoréticos consiste na obsessão por guardar/estocar comida. Referências bibliográficas • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde. 2. ed. atual. – Brasília, 2014. • NELSON, W. E et al. Nelson Tratado de Pediatria. 20ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. • Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. – 2.ed. – Barueri, SP: Manole, 2010. • https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_crianca_5ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_crianca_5ed.pdf
Compartilhar