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1 Fernanda E. Bocutti T6 Rim O rim é um órgão retroperitoneal - Pesa cerca de 150g - É circundado por uma cápsula fibrosa resistente que protege suas estruturas internas - Através de seu hilo, recebe seu suprimento sanguíneo, seu suprimento nervoso e sai um ureter, que carreia a urina formada no rim para a bexiga - Córtex – região mais externa - Medula – região mais interna A medula é repleta de pirâmides renais, que terminam nas papilas, que se projetam para a pelve renal. A urina segue de cada papila para os cálices menores, depois para os cálices maiores e a partir da pelve chegam ao ureter. Elementos contráteis da parede da pelve e ureter propelem a urina para a bexiga, onde esta é armazenada até ser eliminada pela micção. Para que serve o rim? - Manutenção da homeostase - Remoção e excreção de produtos metabólicos endógenos e exógenos - Gliconeogênese - Secreção de hormônios (renina, eritropoetina, Di- hidroxivitamina D) Néfron É a unidade funcional do rim, capaz de formar a urina - Cada néfron contém uma rede de capilares que formam o glomérulo, envolvido pela cápsula de Bowman - O líquido filtrado pelos glomérulos cai na cápsula de Bowman e segue pelo túbulo contornado proximal, a alça de Henle (descendente e ascendente), túbulo contornado distal, túbulo conector, túbulo coletor e, finalmente ducto coletos, que coalesce com os outros ductos coletores e se esvazia nas papilas renais. Formação da urina Excreção = filtração – reabsorção + secreção - Filtração: processo pelo qual grande quantidade de líquido, praticamente sem proteínas, é filtrado dos capilares glomerulares para o interior da cápsula de Bowman - Reabsorção: processo pelo qual a maior parte do filtrado é reabsorvido seletivamente para os capilares peritubulares - Secreção: processo pelo qual moléculas não filtradas são eliminadas na urina, a partir dos capilares peritubulares ITU - Alta – pielonefrite - Baixa – cistite Prevalência: 3% meninas, 1% meninos - Alta incidência até 1 ano de vida - Febre, vômitos., disúria, polaciúria - Giordano positivo (dor a punho percussão) - Exame de urina simples Aparelho renal e suas patologias - Pediatria 2 Fernanda E. Bocutti T6 Epidemiologia Há uma maior incidência de ITU no 1o ano de vida, estimada em cerca de 1,4%, especialmente para o sexo masculino. Após essa idade, ocorre queda brusca da incidência nos meninos, porém mantendo-se relativamente alta nas meninas até os 6 anos de idade. A taxa de recorrência é elevada, sendo que 30% das meninas apresentam um novo episódio dentro do 1o ano após o episódio inicial, 50% delas apresentam recidiva em 5 anos e algumas apresentam uma série de recidivas. Nos meninos, as recidivas variam em torno de 15 a 20%, sendo raras após o 1o ano de vida. Quadro clínico - Em RN apresenta-se geralmente como quadro séptico, com manifestações inespecíficas como insuficiente ganho de peso, anorexia, vômitos, dificuldade de sucção, irritabilidade, hipoatividade, convulsões, pele acinzentada e hipotermia. Pode apresentar-se com um quadro menos agudo predominando a recusa alimentar, vômitos ocasionais, palidez cutânea e icterícia. - Em lactentes, a febre é a principal manifestação e muitas vezes o único sinal de ITU. Pode ocorrer hiporexia, vômitos, dor abdominal e ganho pôndero-estatural insatisfatório. Raramente há sinais ou sintomas ligados ao trato urinário como polaciúria, gotejamento urinário, disúria, urina com odor fétido, dor abdominal ou lombar. - Em Pré-escolares e escolares, a febre é frequente associado aos sinais e sintomas relacionados ao trato urinário. Quadros com maior acometimento do estado geral, adinamia, calafrios, dor abdominal e nos flancos sugerem pielonefrite aguda. Sintomas como enurese, urgência, polaciúria, disúria, incontinência e/ou retenção urinária com urina fétida e turva sugerem cistite. A presença de disúria nem sempre corresponde a um quadro de ITU, podendo ser determinada por balanopostites e vulvovaginites. - Em adolescentes, sintomas mais comuns são disúria, polaciúria e dor à micção, podendo ocorrer urgência miccional, hematúria e febre. Em pacientes do sexo feminino e nas mulheres jovens, pode-se encontrar a chamada “síndrome de disúria-frequência”, com sensação de queimação ao urinar, desconforto supra-púbica e frequência urinária aumentada. Alguns desses casos são acompanhados de bacteriúria significativa. O início da atividade sexual nas adolescentes pode ser acompanhado de surtos de ITU. Coleta de Urina 1 - Jato médio – ideal - Saco coletor – troca a cada 30 minutos - Sondagem – somente se houver falha – evitar - Punção supra-púbica – somente se houver falha – evitar Interpretação da urina/URC - Piúria: >10mil/ml - Cilindros piocitários – sugere pielonefrite - Algumas condições podem apresentar piúria e NÃO ser ITU (apendicite aguda, desidratação, glomerulonefrites) - Bacteriúria: presença de bactérias, até 10mil – NL - Sugere ITU se >100.000 UFC de 1 única bactéria - Se sintomas clínicos e bacteriúria acima de 50 mil considerar Tratamento A antibiótico terapia dever ser iniciada imediatamente após a coleta de urina, pois a demora para começar o tratamento é fator de risco para o aparecimento de lesão renal. 3 Fernanda E. Bocutti T6 A decisão de internação para utilização da via endovenosa ou tratamento ambulatorial depende da idade da criança e da gravidade da infecção. - > 3 meses, sem sinais de toxemia, com estado geral preservado, hidratadas e capazes de ingestão oral podem receber tratamento AMBULATORIAL - Crianças com febre alta, toxemiadas, desidratadas, com vômitos persistentes, o tratamento inicial deve ser com a criança HOSPITALIZADA - RN e lactentes jovens são considerados portadores de ITU complicada ou potencialmente grave. Hospitalização entre 7 a 14 dias - A bactéria que mais frequentemente causa ITU é a E. coli Deve ser escolhido antibiótico de espectro adequado, não nefrotóxico, de boa eliminação renal e administrado por via oral. A melhora do estado geral e o desaparecimento da febre em 48 a 72 horas são indicativos de uma boa resposta ao tratamento instituído. Caso não haja resposta clínica nesse período, deve-se avaliar a urocultura para modificação terapêutica. O tempo médio de duração do tratamento deve ser de 10 dias, admitindo-se variação entre 7 e 14 dias Para as crianças com grave acometimento do estado geral, lactentes, com vômitos, desidratados e com distúrbios metabólicos, é necessário iniciar o tratamento parenteral até as condições clínicas possibilitarem a troca para a medicação oral. Nesse caso, as opções são as cefalosporinas de 3ª geração (ceftriaxona ou ceftazidima) ou os aminoglicosídeos (gentamicina ou amicacina) Os recém-nascidos devem ser abordados de maneira específica. Deve-se iniciar o tratamento empírico recomendado para sepse precoce, com a associação de penicilina ou ampicilina com aminoglicosídeo. Naqueles em que as bactérias isoladas forem Staphylococcus ou Enterococcus, usar vancomicina associada a aminoglicosídeo. As cefalosporinas de 3ª geração serão usadas conforme a identificação do germe e sua sensibilidade. Refluxo Vesicoureteral - Grau 1 – refluxo apenas para o ureter - Grau 2 – refluxo atinge a pelve mas sem dilatação da pelve e do ureter - Grau 3 – retificação dos cálices. Dilatação leve da pelve renal e ureter - Grau 4 – bocelamento moderado dos cálices. Dilatação moderada da pelve renal e ureter - Grau 5 – Bocelamento severo de cálices ou afilamento da cortical. Severa dilatação da pelve renal e ureter Leve: 1 e 2 Moderado: 3 4 Fernanda E. Bocutti T6 Grave: 4 e 5 Baixo risco: graus de refluxo 1 e 2 uni ou bilateral, sem cicatrizes e sem síndrome de disfunção de eliminação. Médio risco: grau 3 uni ou bilateral, grau 4 unilateral e presença de lesão definitiva,sintomatologia de disfunção das eliminações leva Alto risco: graus 4 bilateral e 5 uni ou bilateral, lesão renal moderada ou grave, rim único, síndrome de disfunção das eliminações. Também os lactentes, pois, nessa época, é maior o risco de pielonefrites com lesões do parênquima que evoluem com cicatrização. A tendência atual é de reservar a profilaxia para as crianças que apresentem RVU de graus maiores; nas demais, a vigilância quanto a episódios de ITU deve ser enfatizada para prevenção de deterioração da função renal. Não há indicação de tratamento cirúrgico do RVU, exceto em algumas situações especiais, como refluxos que funcionem como obstrução ao fluxo urinário e refluxos associados a defeitos anatômicos da bexiga que necessitem de correção cirúrgica. É contraindicada a correção cirúrgica em presença de bexigas disfuncionais. Existem, atualmente, técnicas para correção do refluxo por via endoscópica, utilizando-se injeções subureterais de substâncias biologicamente inertes, que reduzem significativamente o risco cirúrgico e o tempo de permanência hospitalar. Não há estudos de acompanhamento que justifiquem essa intervenção como rotineira. As crianças com RVU devem ser acompanhadas até a idade adulta, especialmente aquelas com nefropatia do refluxo. O pediatra pode interferir na evolução do refluxo, identificando e tratando a disfunção miccional, situação que retarda a involução e, às vezes, agrava as lesões no trato urinário superior. RVU – quimioprofilaxia - Tendência de resolução espontânea até 5 anos. - Grau leve – baixo risco - Indicação de profilaxia em todos os casos - ¼ dose de tratamento - Indicação cirúrgica em casos seletos – alto risco com evidência de lesão renal Urolitíase - Nenhum grupo etário ou étnico está protegido. - A recorrência é uma característica marcantes, resultando em alta morbidade - Muitos fatores etiopatogênicos: Urina supersaturada Anormalidades no Ph urinário Redução do volume urinário Deficiência de inibidores da cristalização (citrato, magnésio) Estado de hiperexcreção de cálcio, ácido úrico, fósforo e mais raramente de oxalato e cistina. Na infecção urinária por bactérias produtoras de urease (Proteus, pseudomonas e Klebsiella) Transformação de uréia em amônia e elevação do PH urinário Formando cálculos misto fosfato-amônio- magnesianos = estruvita Quadro clínico No paciente pediátrico o quadro clínico é inespecífico - Hematúria macro ou microscópica - Dor abdominal incaracterística - Apenas 10 a 4% tem cólica nefrética clássica Náuseas, vômitos, dor abdominal inespecífica, anorexia e mal-estar podem estar presentes, assim como infecção urinária. Cálculos do trato urinário inferior podem se manifestar com sinais ou sintomas do trato urinário inferior, retenção urinária, jato urinário fino, irregular ou lateralizado. Cálculos renais podem ser descobertos ao acaso e permanecer assintomáticos por anos. Cálculos na porção alta ou mediana do ureter podem causar dor em cólica crescente. A manipulação dos genitais pode ser o primeiro sinal de UL de uretra e, em alguns lactentes, o cálculo pode obstruir a uretra e ser palpável. 5 Fernanda E. Bocutti T6 A crise aguda da cólica nefrética apresenta-se como dor de início súbito, do tipo cólica, predominantemente lombar, que pode estar relacionada com os pontos ureterais acompanhando o trajeto ureteral, irradiando para abdome, bexiga, testículos ou grandes lábios e face interior das coxas. A dor é crescente e o paciente está pálido, agitado, facilmente irritável, com sudorese fria e não assume posição antiálgica. Ao exame físico, observa-se paciente agitado, desconfortável e irritado, com fácies dolorosa. O pulso e a pressão arterial podem estar alterados com taquicardia, hipertensão, respiração ofegante e rápida. os ou grandes lábios e face interior das coxas. A dor é crescente e o paciente está pálido, agitado, facilmente irritável, com sudorese fria e não assume posição antiálgica. Ao exame físico, observa-se paciente agitado, desconfortável e irritado, com fácies dolorosa. O pulso e a pressão arterial podem estar alterados com taquicardia, hipertensão, respiração ofegante e rápida. Abordagem propedêutica do paciente agudo Exames laboratoriais e de imagem são necessários para confirmação diagnóstica. Urina 1 – cristais (oxalato, ácido úrico, cistina) RX abdômen US de rins TC de abdome – padrão ouro No caso suspeito de pielonefrite aguda, deve ser feita avaliação completa da bioquímica do sangue para monitorização do paciente e avaliação da severidade do quadro clínico. Tratamento expectante - Até 5mm (ureter proximal), até 7mm (ureter distal) - Sem sinais de infecção - Sem obstrução completa - Sem queda da função renal - 60 a 70% dos casos - Drogas: antiespasmódicas/ analgésico/ antiemético Drogas antiespasmódicas e/ou analgésicas – diclofenaco sódico, N-butilbrometo de escopolamina, morfina e análogos, meperidina Drogas antieméticas – dimenidrinato Constituem indicação para remoção: • Ureter proximal: cálculo com diâmetro > 5 mm ou cálculo com diâmetro < 4 mm associado a obstrução completa, urossepse, rim único, deterioração da função renal, sintomatologia intratável, não progressão do cálculo durante 6 semanas; • Ureter distal: cálculo com diâmetro > 7 mm ou cálculo com diâmetro < 6 mm associado a obstrução completa, urossepse, rim único, deterioração da função renal, sintomatologia intratável, não progressão do cálculo durante 6 semanas. GNDA - Processo inflamatório de origem imunológica que acomete todos os glomérulos de ambos os rins - É uma sequela tardia e não supurativa da estreptococcia - É a mais comum glomerulopatia na infância - Prevalência vem diminuindo - O tratamento é efetivo - Pico em idade escolar - Cepas nefrogênica do EBHGA - Proteína M-imunocomplexos in situ + membrana basal - Deposição de C3 na membrana basal Quadro clínico - Edema, hipertensão, hematúria – até 6 semanas após estreptococcia. - Espaço de Bowman reduzido – diminui filtração – leva a hipervolemia leva a edema e hipertensão - Hematúria macro ou micro - Proteinúria nível não nefrótico - C3 diminuído – dosagem mandatória – marcador importante – reduz em até 8 semanas - Pode haver aumento de ureia e creatina - Anemia dilucional (hipervolemia) - ASO (eleva somente nas faringites) GNDA – biópsia? 6 Fernanda E. Bocutti T6 - A GNDA é nefropatia de evolução favorável - Biópsia renal só está indicada quando houver suspeita clínica de que o padrão anatomopatológico não seja de proliferação endotelial e mesangial. São indicadores de biópsia renal: - Hematúria macroscópica com duração superior a 4 semanas - Função renal persistentemente alterada por período maior de 4 semanas - Hipertensão arterial prolongada por mais de 4 semanas - Complemento sérico persistentemente baixo por mais de 8 semanas - Associação com síndrome nefrótica de duração superior a 4 semanas Tratamento - Restringir volume, sódio e proteínas enquanto houver edema e hipertensão - ATB – penicilina V ou benzatina - Diuréticos – furosemida – se congestão circulatória importante, oligoanúria ou hipertensão sintomática. - Hipotensores S/N (encefalopatia hipertensiva) - Se IRA – medidas para reduzir potássio Síndrome nefrótica - Proteinúria maciça (>50 MG/KG/DIA) - Edema (anasarca) - Hiperlipidemia, hipoalbunemia - Até 90% são primárias ou idiopáticas - Bom prognóstico se corticossensível entre 1 e 10 anos Fisiopatologia - Lesões mínimas - Fusão dos podócitos - Perda de grande quantidade de proteína – ascite, edema gravitacional - Hipovolemia (perda terceiro espaço) - Hipogamaglobulinemia (perda de IGG) - Hipertrigliceridemia e hipercolesterolemia - Não tem alteração do complemento Biópsia em síndrome nefrótica? - <1 ano ou >10 anos - Hematúria persistente- Hipertensão grave - Disfunção renal - Hipocomplementemia - Sd. Nefrótica corticoresistente Tratamento - Prednisona 2MG/KG/Dia – 4 a 6 semanas - Se remissão, 1,5MG/KG/Dia em dias alternados 4 a 6 semanas - Após reduzir gradualmente até retirar Complicações - Infecções de pele (celulites - Peritonite bacteriana (ascite) - Tromboembolismos (hipercoagulabilidade + hiperviscosidade)
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