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BIOÉTICA E ÉTICA MÉDICA | GRINGA TXX BIOÉTICA EM TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS VISÃO PANORÂMICA DA PROBLEMÁTICA A situação atual evidencia aspectos críticos no suprimento de órgãos para transplantes - está havendo uma perda sig- nificativa de doadores potenciais e, mesmo que a cota de doadores potenciais fosse atingida em sua totalidade, fal- tariam milhares de órgãos para equilibrar a numerosa lista de espera para transplante. Outro aspecto que chama a atenção é a flagrante má distri- buição social dos transplantes - no caso de transplantes re- nais, por exemplo, os homens são favorecidos em relação às mulheres, os brancos recebem mais órgãos, proporcio- nalmente às outras raças, os ricos são mais bem atendidos que os pobres, e as pessoas mais velhas são, geralmente, preteridas em favor das jovens. PROBLEMAS QUE DIFICULTAM DOAÇÕES DE ÓRGÃOS E REALIZAÇÃO DE TRANSPLANTES Problemas de natureza clínico-biológica: compatibilidade (antígenos HLA), grupo sanguíneo, problemas específicos de saúde que diminuem consideravelmente o número de doadores potenciais (HIV+). Problemas de natureza logístico-administrativa e econô- mica: funcionamento adequado das entidades dos recursos humanos que atuam diretamente na localização e captação de órgãos e seus assistentes sociais, visitadores sanitários, psicólogos e comunicadores, infraestrutura do processo de localização e seleção do doador, retirada e conservação do órgão, disponibilidade de leitos para urgência e reanima- ção. Problemas de natureza geográfica: receptores que moram mais próximos dos centros de transplante são naturalmente beneficiados em circunstâncias emergenciais. Problemas de natureza moral e cultural: convicções religi- osas, educação do paciente e seu desejo de não realizar o transplante, desatenção e/ou arrogância do corpo médico. XENOTRANSPLANTES Iniciou a discussão ética → uso de órgãos de outros ani- mais em seres humanos. Caso Baby Fae (1984): paciente pediátrica em estado ter- minal por problemas cardíacos, recebeu um transplante de coração de babuíno. - Questões éticas no caso: utilização de um bebê em um experimento não terapêutico; validade de sacrificar um animal sem que o resultado justificasse o ato; divulgação ampla na imprensa leiga e quebra de privacidade. ALOTRANSPLANTE Doadores: vivos ou cadáveres. Doação em vida - condições necessárias ao doador vivo: pessoa em boa condição de saúde; capaz juridicamente; que concorde com a doação. → Somente órgãos duplos/medula! Doadores cadáveres: Tipos - doação voluntária (pacientes deveriam manifestar sua vontade de doar órgãos, onde não havia manifestação individual, a família era chamada); consentimento presu- mido (princípio de que todo cidadão era doador de órgãos); manifestação compulsória (todas as pessoas teriam que optar formalmente por doar ou não, nunca adotada no Bra- sil); e abordagem de mercado (mercado de órgãos - incen- tivo financeiro). TRANSPLANTES NO BRASIL: DADOS E LEGIS- LAÇÃO 1968: era válida a vontade do indivíduo, na sua ausência, a família poderia se manifestar. 1997: início a implantação de uma política e de um sistema nacional de transplantes. Burocratas e tecnocratas no âmbito da saúde tentaram im- por ao povo brasileiro a chamada doação presumida, isto é, todos são considerados doadores, a não ser que exista uma prova documental em contrário. Eticamente, doar de- veria ser uma opção e expressão de solidariedade humana → rejeição da lei de 97% da população. Face a isto, a lei é alterada: a medida provisória de 06/10/98 acrescenta - na ausência de manifestação da von- tade do potencial doador, o pai, a mãe, o filho ou o cônjuge poderá manifestar-se contrariamente à doação. Uma nova medida provisória em 200, nº 1959-27, altera substancialmente o cenário no que diz respeito à autono- mia do doador e de seus familiares: - É preciso a autorização de qualquer um de seus parentes até segundo grau, ou do cônjuge, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte. - É permitido à pessoa judicialmente capaz dispor gratui- tamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou consanguíneos até o quarto grau, ou em qualquer pessoa mediante a autorização judicial, dispensada esta em rela- ção à medula óssea. BIOÉTICA E ÉTICA MÉDICA | GRINGA TXX A partir de 2001 passa a vigorar a lei 10211, que extingue definitivamente a doação presumida no Brasil e estabelece que para ser doador após a morte é necessária a autoriza- ção familiar. Portanto, para ser doador não é necessário nada por escrito, mas é fundamental comunicar à família o desejo da doação. ESTÁGIO DE ALOCAÇÃO DOS ÓRGÃOS PARA DOAÇÃO 1º ESTÁGIO: realizado pela própria equipe de saúde, con- templando os critérios de elegibilidade e de probabilidade de sucesso visando a beneficência ampla. 2º ESTÁGIO: comitê de bioética, pode utilizar os critérios de igualdade de acesso, as probabilidades estatísticas en- volvidas no caso, necessidade de tratamento futuro, valor social do indivíduo receptor, dependência de outras pes- soas etc. CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA É vedado ao médico: - Participar do processo de diagnóstico da morte ou da de- cisão de suspender meios artificiais para prolongar a vida do possível doador, quando pertencente à equipe de trans- plante. - Retirar órgão de doador vivo quando este for juridica- mente incapaz, mesmo se houver autorização de seu repre- sentante legal, exceto nos casos permitidos e regulados por lei. LEI FEDERAL 10211 (2001) A realização de transplantes só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os teste de triagem para diagnóstico de infecção e infestação exigidos em normas regulamentares expedidas pelo Ministério da Saúde. Após a retirada de tecidos/órgãos, o cadáver será imedia- tamente necropsiado se a causa da morte depender de in- vestigação (órgãos só serão obtidos mediante autorização do patologista); e, em qualquer caso, condignamente re- composto para ser entregue aos parentes ou responsáveis legais para sepultamento. A doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos res- ponsáveis legais a qualquer momento antes de sua concre- tização. PESSOAS JURIDICAMENTE INCAPAZES E GES- TANTE O indivíduo juridicamente incapaz, com compatibilidade comprovada, poderá fazer doação nos casos de transplante de medula óssea, desde que haja consentimento de ambos os pais ou seus responsáveis legais e autorização judicial; além disso, o ato deve não oferecer risco para a saúde. É vedado à gestante dispor de tecidos/órgãos exceto quando se tratar de transplante de medula óssea e o ato não oferecer risco à saúde da gestante e do feto. RETIRADA POST MORTEM DE ÓRGÃOS PARA TRANSPLANTES Deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de transplantes, mediante a utilização de crité- rios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. Não pode haver remoção post mortem de tecidos/órgãos de pessoas não identificadas.
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