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SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS Referência: Clínica Médica USP Volume 2 (2009) Resumo feito por: Wathyson de Mendonça ––––––––––––––––––––– DAC Caracterizada pela presença de placas ateroscleróticas ou ateromas nos vasos da circulação coronariana. · Assintomática: quando o grau de obstrução causado é insuficiente para prejudicar o fluxo sanguíneo · Sintomático: quando a placa tem um caráter obstrutivo acentuado. FORMAS CLÍNICAS · Estável: aparecimento de sintomas anginosos a esforços regulares · Instável: manifestações clínicas surgindo aos mínimos esforços ou em repouso · Associada a alta morbimortalidade · 2ª Posição na mortalidade global no Brasil · Principal causa de óbito entre as doenças cardíacas · Representa um grande ônus financeiro ao sistema público (cerca de 1,7 milhão de portadores de SCA são hospitalizados anualmente) ETIOLOGIA · Instabilização de uma placa ateromatosa com trombose oclusiva (90% dos casos) · Rotura: forma mais grave, encontrada em 2/3 dos infartos fatais · A placa rota expõe ao sangue circulante substâncias altamente trombogênicas localizadas no seu core lipídico formação local de um coágulo. · O fator tecidual é a mais importante dessas substâncias promove a rápida ativação da coagulação extrínseca do sangue e das plaquetas circulantes · Erosão superficial da placa: alteração patológica relacionada às formas mais brandas da DAC, como a AI e o IMSST (20% dos infartos fatais) · Remoção de placas de endotélio vascular com exposição do colágeno tipo IV localizado na membrana basal. · Exposição do tecido colágeno subendotelial nas áreas de descamação do endotélio início de um processo trombótico por estimulação das plaquetas circulantes (coágulo mais brando do que na rotura) · Hemorragia (raro): promove sua rotura ao provocar rápida expansão da lesão. · Processos patológicos que desequilibram a oferta-demanda de O² ao miocárdio · Espasmo coronário (vasospasmo primário): alteração da função vasodilatadora do endotélio (disfunção endotelial) com aumento do tônus vascular. · Acomete mais pacientes jovens femininos, provocando quadro de angina instável · Secundário ao uso de agentes simpatomiméticos (cocaína) · O caráter prolongado do espasmo com aumento do consumo de O² pode causar IM ou morte súbita. · Embolização coronária a partir de trombos valvares (portadores de próteses e EI) FISIOPATOLOGIA Mecanismos moleculares de instabilização da placa aterosclerótica · Teoria inflamatória: no interior do ateroma a resposta inflamatória se caracteriza pela ativação de células da resposta imune celular, principalmente os linfócitos T, concentrados nas bordas das placas. Linfócitos T ativados produzem IFN-gama bloqueio de síntese de colágeno pelas células musculares lisas (média íntima). · - Colágeno: capa fibrosa delgada - resistência + suscetível a rotura · Paralelo a isso: MMPs liberadas a partir de macrófagos teciduais aceleram a decomposição do colágeno fibrilar que compõe o ateroma · Placa suscetível a condições de sobrecarga hemodinâmica: atividade física ou stress (+ SNAS ▲ PA ▲ FC ▲ Inotropismo sobrecarga na placa) · Aterotrombose: A rotura ou erosão da placa permite o contato direto de substâncias trombogênicas em seu interior com plaquetas circulantes e proteínas da coagulação · Desencadeia o processo de trombose sanguínea por duas vias distintas · Via direta: exposição da matriz subendotelial adesão de plaquetas circulantes ao colágeno intersticial. Essa via ocorre pelas glicoproteínas de superfície · Via indireta: por meio do fator de Von Willebrand, que atua como uma ponte para a adesão plaquetária. Metaloproteinases da Matriz (MMPs) são um importante grupo de enzimas proteolíticas zinco-dependentes responsáveis pela degradação de matriz extracelular e membranas basais · Trombose coronária e síndromes clínicas: · Alterações celulares e histológicas do miocárdio isquêmico: - O² - metabolismo aeróbico e + anaeróbico + lactato, diminuindo o pH (ácido) via insuficiente de energia insuficiência da bomba de Na/K + Na intracelular (edema celular) e + K fora (alteração do potencial elétrico cardíaco, tornando o ambiente arritmogênico) Ca2+ citosólico deixa de ser recaptado pelo reticulo sarcoplasmático acumulo de Ca intra ativa lipases e proteases que promovem destruição celular (a liberação dessas enzimas no espaço intersticial determina a propagação do dano) QUADRO CLÌNICO · As manifestações são produzidas pela isquemia miocárdica e hiperatividade adrenérgica secundária ao intenso desconforto torácico. · Progride à medida que a isquemia é mais intensa e prolongada · AI: quadro mais frustro IMST: manifestações mais exuberantes · Dor clássica: caráter opressivo ou em peso localizada no centro do tórax e de limites imprecisos. · Irradia-se mais comumente para o ombro e o braço esquerdo (face ulnar) ou a mandíbula e o pescoço. · Instalação normalmente insidiosa, atingindo um pico de intensidade depois de alguns minutos de seu início. · Dores fugazes ou duradouras por alguns dias raramente estão associadas à isquemia miocárdica · A piora ao esforço físico com alívio ao repouso é típica da angina de peito · Os sintomas anginosos são normalmente acompanhados de diaforese, náuseas e vômitos, mais comuns no IMST · Alguns podem ter manifestações atípicas ou mesmo não apresentar sintomas · O estudo de Framingham revelou que quase 30% dos infartos são oligossintomáticos ou assintomáticos, sendo o diagnóstico feito a posteriori · O diagnóstico diferencial de angina de peito é parte essencial da abordagem do doente com dor torácica · Dor torácica é a 2ª causa principal causa de consulta aos serviços de emergência Angina Instável (AI) · Avaliação dos sintomas é fundamental para o diagnóstico de AI. · A instabilização aguda da placa na AI pode se manifestar de três formas principais · angina de início recente, caracterizada pelo aparecimento de sintomas anginosos em pacientes previamente assintomáticos. Normalmente, a angina é considerada instável dentro do 1º mês de aparecimento até que a placa volte a se estabilizar; · angina progressiva ou em crescimento, que se manifesta pela exacerbação de sintomas anginosos prévios, como aumento da intensidade e duração da dor ou surgimento a esforços menores; · angina em repouso ou a mínimos esforços, forma mais grave da doença. Nesse caso, a dor intensa é entremeada por períodos assintomáticos. · Na AI, diferente da coronariopatia crônica, a dor torácica não tem evento desencadeante evidente como esforço físico ou estresse emocional e pode surgir ao repouso. · Em relação ao IM, a AI costuma provocar dor menos intensa, com duração de até 20 minutos e sem manifestações simpáticas exuberantes, como palidez, sudorese ou náuseas. Angina de Prinzmetal · Caracteriza-se por dor precordial isquêmica desencadeada por espasmo coronário associada a supradesnível temporário de ST · Não há um fator precipitante evidente que leve a um aumento do consumo de O² · Episódios ocorrem normalmente ao repouso durante o período noturno ou manhã · Portadores mantêm-se assintomáticos no restante do dia, mesmo a grandes esforços, a não ser que haja coronariopatia obstrutiva associada. · Habitualmente, portadores de angina vasoespástica são mais jovens e mulheres, e sem fatores de risco para coronariopatia, a não ser o tabagismo que pode precipitar crises · O prognóstico no geral é favorável, mas podem cursar com arritmias malignas e IM, levando à morte súbita · O tratamento baseia-se na utilização de nitratos e bloqueadores de canal de cálcio tanto na fase aguda quanto crônica. Infarto do miocárdio (IM) · Forma mais grave de SCA · A oclusão coronária é completa, ainda que de forma temporária no IMSST · O acúmulo de produtos de decomposição do metabolismo energético, como a adenosina e o lactato, se traduz por profundo desconforto torácico com ampla irradiação e resposta simpática exacerbada · Além da forte dor que tende a se estender por mais de 30 minutos, costumam aparecer sudorese, náusease extremidades frias e úmidas · A manifestação é máxima no IMST e pode haver uma sensação de morte iminente. · Repouso e nitrato costumam aliviar o quadro clínico no IMSST, mas não no IMST. EXAME FÌSICO · Auxílio limitado · Sinais observados são inespecíficos e podem variar bastante, a depender da parede ventricular comprometida e da extensão da isquemia. · Portadores de IM podem apresentar sinais característicos da descarga adrenérgica: diaforese, palidez cutânea e taquicardia. · Se o IM envolver a parede inferior, significativa bradicardia com sinais de baixo débito cardíaco pode aparecer. · A pressão arterial também pode variar amplamente, tendendo à elevação no IM anterior não-complicado e hipotensão no IM inferior. · A temperatura corpórea se eleva sutilmente nos portadores de IM em resposta à necrose miocárdica entre o 1ºe os 4º dias. · A ausculta cardíaca em portadores de IM costuma estar inalterada. EXAMES DIAGNÓSTICOS · O reconhecimento da ICA e o diagnóstico diferencial entre as suas formas clínicas de apresentação é feito pela avaliação dos sintomas à admissão hospitalar, alterações no ECG e detecção de marcadores de necrose miocárdica · AI: as queixas do paciente são importantes, uma vez que o ECG se encontra inalterado e os marcadores de necrose não sofrem elevação · IMSST: alterações no ECG costumam ser mais pronunciadas e a necrose miocárdica é obrigatória. · IMST: cursa com elevação do segmento ST e lesão do tecido cardíaco. · Marcadores de Necrose Cardiaca (MNM): A morte dos cardiomiócitos com perda da integridade do plasmalema permite que macromoléculas contidas no espaço intracelular sejam liberadas para o tecido intersticial e atinjam os vasos linfáticos. · A detecção dessas moléculas no sangue periférico caracteriza a necrose miocárdica IM · O miocárdio pode estar submetido a condições de “sobrecarga” que induzem a elevação desses biomarcadores na ausência de necrose miocárdica isquêmica lesão miocárdica secundária a outras patologias · É fundamental que a elevação dos marcadores cardíacos seja interpretada à luz do quadro clínico · Na prática clínica, destacam-se dois marcadores biológicos de necrose do miocárdio: isoenzima MB da creatinoquinase (CKMB) e troponinas (Tn). · Creatinoquinase (CK ou CPK) é uma enzima envolvida com o metabolismo energético celular. É responsável pela transferência de fosfatos de alta energia das moléculas de fosfocreatina para o ADP, gerando ATP. Possui 3 isoformas: CKMM (músculo estríado), CKBB (brain, neurônios cerebrais) e CKMB (músculo cardíaco ++, porém aparece em outros tecidos). Apenas parcialmente específica para o músculo cardíaco. · Troponinas: são proteínas estruturais da fibra muscular que modulam a interação entre a actina e a miosina no músculo esquelético e cardíaco. Há três subunidades: TnC, TnT e TnI. Apesar de serem expressas no músculo esquelético, algumas isoformas da TnT e TnI são específicas do miocárdio (cTnT e cTnI). Não devem ser interpretadas como falso-positivo, mas sempre como lesão miocárdica irreversível, mesmo na ausência de isquemia detectável. Além de altamente específicas, as Tn são mais sensíveis para detecção de micronecroses cardíacas. TRATAMENTO · Agilidade terapêutica. · A rápida instituição do tratamento reduz a extensão do dano miocárdico imposto pela isquemia e suas complicações. · Visa o controle da trombose intravascular desencadeada pela instabilização do ateroma e a redução da isquemia miocárdica produzida pela oclusão coronária. · Enquanto a terapêutica anti-isquêmica é similar no IMST e nas SCASST, o controle da aterotrombose tem características bastante distintas. · IMST: cursa com oclusão coronária completa que requer recanalização imediata (mecânica ou farmacológica). · SCASST: há fluxo miocárdico residual e as principais medidas visam a prevenção da disseminação do evento trombótico agudo. · As medidas gerais de suporte são comuns à terapêutica das SCA com e sem supradesnível de ST · Medidas gerais · Repouso no leito, oferta de oxigênio por via inalatória por, pelo menos,3 horas, se não houver persistência da hipoxemia (saturação arterial de O2 < 90%) e monitoração contínua. · Analgesia também faz parte do tratamento inicial, principalmente no IMST, · Recomenda-se utilizar morfina para alívio da dor e controle da ansiedade, reduzindo o consumo miocárdico de O² · Uso cauteloso (há indícios de que morfina possa piorar o prognóstico desses pacientes) · IMST: O ponto-chave no tratamento do IMST é a reperfusão coronária precoce por meio de tratamento fibrinolítico ou intervenção coronária percutânea (ICP) · Está em risco uma extensão considerável do miocárdio · A recanalização é capaz de interromper a necrose do tecido cardíaco e melhorar a sobrevida · Os critérios diagnósticos utilizados para a indicação da terapia de reperfusão são: · clínicos: dor ou manifestações clínicas sugestivas de isquemia miocárdica aguda com até 12 horas de evolução, não responsiva ao uso de nitrato. · eletrocardiográficos: supradesnível do segmento ST em pelo menos duas derivações de mesma parede ou BRE presumivelmente novo. · Abordagem terapêutica: antitrombóticos e antiisquêmicos · AAS (antiplaquetário essencial): reduz taxas de reinfarto e mortalidade · Imediato a admissão hospitalar 200mg, mantém em doses de 75 a 160mg · Anticoagulantes: · BB (anti-isquêmicos com ação ino e cronotrópicas negativas):!! Cuidado com infartos extensos e disfunções ventriculares. Recomenda-se o uso IV inicial de betabloqueadores seguido de administração das formulações orais, sobretudo em pacientes não submetidos a recanalização ou nos recanalizados que cursam com taquicardia, hipertensão arterial ou isquemia persistente. · Nitrato: possuem função diagnóstica, servindo para excluir a hipótese de espasmo coronário e terapêutica, indicado no caso de isquemia persistente ou para controle de congestão pulmonar ou hipertensão arterial, podendo ser utilizado de forma rotineira nas primeiras 24 a 48 horas de evolução, desde que não haja contraindicação · IMSST: É necessário estratificar o risco para que se siga um tratamento adequado. estratificação de risco deve ser realizada assim que os dados clínicos, eletrocardiográficos e laboratoriais estiverem disponíveis após a admissão hospitalar. · Medidas gerais: betabloqueadores, nitratos e AAS · A dose e a forma de administração dos betabloqueadores (redução de reinfartos) e nitratos variam a depender da intensidade dos sintomas isquêmicos · Estudos em portadores de AI e IMSST demonstraram redução do risco relativo de morte ou infarto de aproximadamente 50% associado ao uso do AAS. · Baixo RCV · Não necessita de internação · Após observação teste para detecção de isquemia miocárdica (cintilografia miocárdica ou eco de estresse) · Não é recomendado o teste ergométrico nos portadores de SCA · Na ausência de isquemia alta Na presença tratar conforme outras estratificações · Médio ou Alto RCV · Devem ser admitidos em Unidade Coronária · Antiagregação plaquetária: a terapêutica antiplaquetária suplementar ao AAS é importante já na fase precoce de admissão (atenuação do processo aterotrombótico na placa instável e redução de microembolizações) · Tienopiridínicos: prasugrel, ticagrelor (todos os pacientes) e clopidogrel (pacientes contraindicados de AAS) atuam inibindo irreversivelmente o receptor de ADP na superfície plaquetária (a via do adp é uma das mais importantes na estimulação das plaquetas) · Inibidores da glicoproteína IIb/IIIa: classe de antiplaquetários extremamente potente abciximab, tirofiban (disponíveis no BR) e eptifibatide. Atuam inibindo a fia final comum da agregação plaquetária (bloqueiam o receptor da GPIIB/IIIa que se liga as moléculas de fibrinogênio para formar o trombo organizado) · Heparina não-fracionada (HNF) · Heparinas de baixo peso molecular