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Semiologia radiológica abdominal Objetivos ● Reconhecer a anatomia radiológica ● Avaliar as densidades dos tecidos. ● Incidências básicas do raio X. ● Reconhecer exames anormais. ● Casos clínicos. Anatomia O abdome é dividido em quatro ou nove quadrantes. Essa forma de divisão facilita a identificação da patologia do paciente através da sintomatologia apresentada. Ex.: - Dor em hipocôndrio direito: colecistite aguda. - Dor em fossa ilíaca direita: apendicite aguda. Avaliação das linhas e densidades radiológicas Linhas dos flancos: localizada na parede e representa a musculatura e gordura do abdome. Linhas do psoas: músculos retroperitoneais localizados ao longo da coluna lombar. Há duas linhas que os separam das demais estruturas. Essas linhas auxiliam na identificação de patologias retroperitoneais como, por exemplo, apendicite que leva ao borramento do músculo psoas. Densidade dos órgãos abdominais: - Ar: densidade mais escura. - Gordura: densidade intermediária entre o ar e os músculos. - Ossos: densidade elevada. Incidências utilizadas nas radiografias de abdome Abdome simples: AP em decúbito dorsal (paciente deitado). Abdome agudo: AP em decúbito dorsal, AP em ortostatismo e AP do tórax. Radiografia lado esquerdo: paciente em decúbito dorsal - costas voltadas para a maca de exame. A bolha gástrica (lado esquerdo) encontra-se espalhada no abdome. Radiografia lado direito: incidência em ortostatismo. Forma- se um pequeno nível hidroaéreo na bolha gástrica devido a mudança de posição de decúbito (ar desloca-se para a porção superior). Em radiografias para diagnóstico de abdome agudo é incluída além da radiografia de abdome, a radiografia de tórax. Isso ocorre, pois há dores no andar superior do abdome que podem estar relacionadas a patologias torácicas, necessitando excluí-las. Na radiografia acima o parênquima pulmonar encontra-se normal, porém no mediastino há uma imagem com alta densidade de ar e uma linha branca que separa essa densidade. Na incidência em perfil, é possível notar a presença de ar com nível hidroaéreo indicando uma hérnia de hiato esofágico contendo o estômago. É importante reconhecer o padrão gasoso nas radiografias simples e identificar o esôfago, estômago, intestino delgado e cólon. - Estômago (A): pregueamento mucoso característico (linhas). - Jejuno (B): válvulas ou pregas coniventes ao redor de toda alça jejunal. - íleo (C): válvulas ou pregas coniventes mais espalhadas. - Cólon (D): haustrações características. Estômago Intestino delgado Pregas coniventes distendidas em paciente com suboclusão intestinal (sinal de empilhamento de moedas). Dicas para diferenciar intestino delgado do grosso: 1. O intestino delgado apresenta pregas coniventes ao redor de toda alça jejunal. 2. No centro do abdome geralmente estão localizadas alças de intestino delgado. O cólon localiza-se na periferia (flancos, retossigmoide, acima da bolha gástrica) . Cólon Paciente acamada institucionalizada, constipada crônica e com reto e sigmóide distendido por fecaloma. Paciente jovem com conteúdo fecal normal. Avaliar sempre que possível ● Aumento de órgãos abdominais. ● Calcificações e cálculos. ● Líquido livre. ● Pneumoperitônio. ● Obstrução intestinal. ● Abdome inflamatório. Paciente com dor e massa abdominal palpável à esquerda (região esbranquiçada à esquerda no raio X) diagnosticado com esplenomegalia (baço aumentado) por linfoma. Calcificações A densidade do cálcio é semelhante à coluna lombar. Paciente com cálculos no rim e inferiormente ao rim abscesso do psoas diagnosticado com pielonefrite com complicação de abscesso do psoas. Paciente com cálculos na vesícula, rins (lado esquerdo), microcálculos no fígado, microcálculos no ureter e calcificações vasculares (flebólitos). Líquido livre Paciente obeso com insuficne cardíaca, valvuloplastia, marcapasso e líquido livre ao redor do fígado e baço por ascite. Pneumoperitônio Presença de ar dentro da cavidade peritoneal, mas fora de alguma alça intestinal. A presença de pneumoperitônio indica a ruptura de uma alça intestinal por processo inflamatório (úlcera péptica perfurada duodenal, gástrica, diverticulite), por abdome agudo obstrutivo que levou a perfuração de alguma alça intestinal (tumor, necrose da parede) ou por trauma resultando na migração de ar para a cavidade peritoneal. Característica clássica: coleção de ar subdiafragmático entre a linha do diafragma e fígado especialmente na porção direita do tórax. Pneumoperitônio ocorre geralmente no lado esquerdo devido à facilidade de passagem de ar pelo fígado e ligamento falciforme alcançando o espaço subdiafragmático. Algumas vezes o ar pode apresentar nível hidroaéreo por derrame pleural que significa a presença de líquido na cavidade peritoneal consequência de processo inflamatório como, por exemplo, peritonite. Na parte esquerda do tórax pode haver confusão da bolha gástrica e cólon com pneumoperitônio, entretanto, geralmente quando bem localizado indica bolha gástrica. A visualização do pneumoperitônio só é possível em radiografias do paciente em posição ortostática. Entretanto, se por algum motivo o paciente não consegue ficar em pé, pode-se realizar uma radiografia com o paciente em decúbito lateral esquerdo para visualizar o pneumoperitônio que será representado por uma imagem em triângulo. Caso o paciente também não consiga ficar em decúbito dorsal é possível realizar uma radiografia com o paciente com o abdome distendido. Quando há quantidade muito grande de ar dentro de alça e fora de alça é possível perceber uma interface entre a parede externa e interna da alça (Sinal de Rigler). Paciente jovem com dor epigástrica com pneumoperitônio. Sinal de Rigler e ar levando a formação de hérnia umbilical. Paciente com pneumoperitônio. Atenção: às vezes é possível a visualização da linha do diafragma e abaixo uma coleção de ar (cor preta) que indica uma bolha de ar (ex.: enfisema) que se projeta um pouco abaixo do diafragma. Avaliar a história clínica do paciente para a confirmação do diagnóstico. Pós-operatório de pneumoperitônio ● Ar intracavitário. ● 60% das cirurgias abertas. ● 25% das video. ● Dor abdominal dependendo do volume. ● Resolução 48 horas até 5 dias. ● Questionar ao paciente se realizou alguma cirurgia recente. Paciente com bolsa de colostomia com extravasamento de ar denominado de retropneumoperitônio. Paciente com perfuração de sigmóide por ferimento de bala com extravasamento de ar para a cavidade abdominal denominado de retropneumoperitônio. O retropneumoperitônio consiste na coleção aérea presente em órgãos retroperitoneais. Por via de regra o retropneumoperitônio é proveniente de uma obstrução ou coleção inflamatória por um órgão retroperitoneal como, por exemplo, um segmento do cólon. Obstrução intestinal Pode ser completa ou incompleta. A obstrução mais comum é de intestino delgado. Intestino delgado ● 80% das causas de obstrução mecânica. ● Bridas/aderências são a causa principal (se formam dentro da cavidade peritoneal por agressão física - processo cirúrgico). ● Hérnias internas. ● Isquemia mesentérica. ● Processos inflamatórios. ● Causas congênitas. Achados de imagem ● Dilatação de alças 2,5-3,0 cm. ● Empilhamento de moedas (válvulas coniventes). ● Níveis hidroaéreos (ar na porção superior e líquido na inferior). ● Distribuição central (alças de intestino delgado estão localizadas no centro do abdome). Distensão de alças Alças de intestino delgado tipicamente distendidas (>3 cm), níveis hidroaéreos. É necessário identificar o ponto de transição, ou seja, ponte da alça normal ou reduzida (sem distensão) e da alça com distensão, pois é nesselocal em que haverá a patologia que ocasiona a distensão. Ecografia que demonstra alça distendida com presença de líquido (área preta) e válvulas coniventes (empilhamento de moedas). Alças de intestino delgado com válvulas coniventes demonstrando o sinal de empilhamento de moedas. O paciente possui clips cirúrgicos à esquerda, suspeita de cirurgia de hérnia abdominal apresentando um quadro de suboclusão intestinal por bridas. O cólon não aparece por estar muito distendido e não conseguir passar a obstrução ou ponto de extensão. Tomografia que demonstra presença de líquido e ar nas alças intestinais de delgado e sinal de empilhamento de moedas, sem pneumoperitônio. Tomografia que demonstra o ponto de transição entre a alça intestinal e a presença de uma massa próximo ao íleo terminal. Paciente com necrose de parede da alça intestinal e hiperemia próximo ao local da necrose. Paciente com alças intestinais demonstrando sinal de empilhamento de moedas e cólon e estômago distendido. A paciente apresentava um carcinoma de ovário, responsável pela obstrução (suboclusão por obstrução mecânica secundária a tumor). Obstrução de cólon ● Menos comum, porém pode ocasionar mais facilmente uma ruptura de alça. ● Dor, distensão (6-10 cm), diminuição de passagem de ar e fezes. ● Peritonismo. ● Ar livre intraperitoneal. Causas ● Tumor (50-60%). ● Inflamação: diverticulite. ● Volvo (torção sobre o próprio eixo de uma alça distendida - mais comum de sigmóide). ● Fecaloma (mais comum em idosos, pode levar a uma obstrução progressiva). ● Pseudo-obstrução (Síndrome de Ogilvie - comum em idosos que ingerem grande quantidade de medicamentos. Esses medicamentos alteram a movimentação do cólon levando a sua distensão por completo sem causa específica). Paciente idosa com prótese de quadril, pseudo- obstrução com alças de cólon distendidas (>6 cm). Paciente com grande parte do cólon descendente inflamado e cólon sigmóide com calibre reduzido devido a presença de divertículos. Antes da obstrução há presença de ar e resíduo fecal. O cólon ascendente apresenta fezes, o íleo terminal apresenta-se um pouco distendido, pois o ar não consegue seguir adiante e a válvula íleocecal incompetente permite que ocorra refluxo do conteúdo do colo para o íleo terminal, justificando a distensão do intestino delgado com conteúdo fecal somente próximo à valvula ileocecal. Paciente acamado com Síndrome de Olgivie com grande quantidade de conteúdo fecal impedindo que se identifique uma área de transição, com quadro de doença cognitiva, isquemia cerebral na infância. . Há várias alças de cólon distendidas, sem a presença de um ponto de transição. Quanto maior a distensão maior a possibilidade de obstrução intestinal. Paciente com alça de cólon distendida por tumor de reto que reduz o calibre do cólon com dilatação pós- estenótica. Paciente com tumor na transição entre sigmóide e reto que diminui o calibre do cólon com líquido livre na cavidade peritoneal (peritonite). A distensão muitas vezes pode levar a proliferação bacteriana que, por sua vez, ocasiona isquemia da alça formando necrose, pneumatose intestinal podendo o ar se espalhar para a veia porta e seguir para as vias biliares (pneumoporta). Paciente jovem com alças de intestino delgado distendidas (sinal de empilhamento de moedas) - não é possível visualizar as alças de cólon. Queixas de dor e distensão abdominal. Visualização da câmara gástrica, estômago distendido por líquido e presença de massa intraestomacal. Diagnosticada obstrução de delgado por tricobezoar (hábito de comer cabelo - filamentos de cabelo). Paciente com alças de delgado com níveis hidroaéreos (ar na porção superior e líquido na porção inferior). Paciente com cólon distendido por volvo sigmóide (rotação da alça sob seu eixo levado a isquemia e distensão). Abdome agudo inflamatório A posição do apêndice pode ser variável. A diferença mais comum encontrada é um apêndice retrocecal que se direciona para trás do ceco alcançando até a porção inferior do fígado simulando uma dor no hipocôndrio direito. Apendicite Possível perceber na radiologia o borramento do músculo iliopsoas. Lembrar que nem sempre um apendicolito significa a presença de apendicite. O raio X é importante para o diagnóstico diferencial ou identificar pneumoperitônio. Além da história clínica e exame físico do paciente é importante solicitar um ultrassom para o diagnóstico. Os achados serão: alça distendida (>7 mm), parede espessa terminando em fundo cego e, às vezes, apendicolito. A tomografia nem sempre será solicitada para diagnóstico de apendicite. Na tomografia abaixo o apêndice encontra-se distendido, com paredes espessas, fecalito, apendicolito e abscesso. Normalmente pode ser observado um plastrão inflamatório (apêndice e gordura densa). Vesícula biliar Não é possível perceber cálculo na vesícula em tomografias. A ecografia é o melhor método de imagem para visualizar cálculos. Raramente no raio X poderão ser vistos alguns cálculos na topografia da vesícula. Na tomografia é possível perceber uma grande distensão da vesícula e os cálculos em seu interior. Pancreatite Coleção líquida dentro do pâcreas. É possível fazer o diagnóstico através do ultrassom, entretanto o melhor método é a tomografia. Divertículos Protusões da mucosa e submucosa na parede abdominal. Um contraste de bário por via retrógrada é introduzido no cólon possibilitando a visualização dos divertículos. Porém, não é possível ser realizado quando o paciente se queixa de dor aguda, pois a mucosa se torna muito friável com o risco de perfuração dos divertículos. O principal diagnóstico diferencial consiste em tumor, porém o quadro clínico é bem diferenciado (tumor: estenose e presença de linfonodos).