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1 INTRODUÇÃO: • A embolia pulmonar (EP) ocorre como consequência de um trombo, formado no sistema venoso profundo, que se desprende e, atravessando as cavidades direitas do coração, obstrui a artéria pulmonar ou um de seus ramos; • A doença tromboembólica venosa (DTV) abrange desde a trombose venosa profunda (TVP) até o tromboembolismo pulmonar (TEP); • Tromboembolismo pulmonar (TEP), definido como a migração de um ou mais coágulos das veias sistêmicas para o leito vascular pulmonar, é uma doença de importância mundial, com complicações potencialmente fatais a curto e longo prazos; • A apresentação clínica do TEP agudo pode variar desde episódios assintomáticos até morte súbita por embolia pulmonar maciça, dependendo do grau de acometimento da vasculatura pulmonar. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA : • A maioria dos autores considera a trombose venosa profunda (TVP) e o Tromboembolismo pulmonar como um espectro da mesma doença; • Na grande maioria dos casos (70 a 90%), o êmbolo pulmonar é proveniente do sistema venoso profundo inferior (veia cava inferior), principalmente na região acima dos joelhos; • A fisiopatologia das alterações respiratórias do TEP é relacionada à presença de desbalanços na relação ventilação-perfusão, baixa saturação venosa de oxigênio, lesão de surfactante pelas atelectasias hemorrágicas e infartos pulmonares e liberação de mediadores humorais com vasoconstrição; • Após se desprender do local de origem, o êmbolo se aloja na circulação arterial pulmonar causando um distúrbio ventilação-perfusão, por causar aparecimento de áreas que são ventiladas, mas inadequadamente perfundidas, ou seja, aumentando o espaço-morto pulmonar; • Há liberação de mediadores vasoativos pelas plaquetas, entre eles a serotonina, causando vasoconstrição e aumentando a resistência pulmonar, com redistribuição do fluxo sanguíneo e causando efeito shunt, ou seja, áreas hiperperfundidas com hipoventilação relativa; • Essas alterações explicam parcialmente o aparecimento de hipóxia, mas existem outros fatores que contribuem para alterações nas trocas gasosas, entre eles a broncoconstrição reflexa com aumento da resistência ao fluxo aéreo e a liberação de mediadores que diminuem a síntese e a liberação de surfactante pulmonar com perda do volume alveolar e atelectasias. Além desses fatores, o edema pulmonar concomitante diminui a complacência piorando ainda mais a ventilação pulmonar e as trocas gasosas; • Tríade de Risco de Virchow (estase sanguínea, lesão vascular e hipercoagulabilidade) reflete a importância da genética e dos fatores ligados ao ambiente, na gênese do tromboembolismo venoso (TEV); • Os fatores relacionados ao ambiente em sua maioria estão ligados aos procedimentos cirúrgicos, ou seja, são temporários e sujeitos a profilaxia; • A insuficiência respiratória acontece essencialmente em consequência do quadro circulatório. O baixo débito do VD e a presença de áreas mal perfundidas e normalmente ventiladas (efeito espaço morto) são os principais mecanismos que levam a hipoxemia; 2 FATORES DE RISCO • Lesão endotelial, estase venosa e hipercoagulabilidade. • Os distúrbios primários da coagulação são condições relativamente raras, sendo os mais comuns: a presença de fator V de Leiden, mutação no gene da protrombina, hiper-homocisteinemia, deficiência de antitrombina III, de proteína C e S e anticorpos anticardiolipina; • Já os fatores de risco secundários incluem gestação e período pós-parto, fraturas, procedimentos cirúrgicos com anestesia por mais de 30 minutos e imobilização prolongada; causas clínicas como insuficiência cardíaca congestiva (ICC), acidente vascular cerebral (AVC) e neoplasia, além de tabagismo, obesidade e idade avançada. SINAIS E SINTOMAS • Os sinais e sintomas dependem, fundamentalmente, da localização e tamanho do trombo e do estado cardiorrespiratório prévio do paciente; • A EP pode ser classificada em três síndromes clínicas: colapso circulatório, dispnéia não explicada e dor torácica do tipo pleurítica, as quais estão correlacionadas com os respectivos modelos fisiopatológicos: embolia maciça, embolia submaciça e infarto pulmonar; • Nos pacientes estáveis clinicamente, a dispnéia e a dor torácica são os sintomas mais frequentes; • A dor torácica do tipo pleurítica correlaciona-se com os êmbolos que alcançam a periferia dos pulmões, levando ao infarto ou à hemorragia pulmonar; • O infarto pulmonar ocorre quando as artérias brônquicas não são capazes de promover circulação colateral para o segmento pulmonar não perfundido; • A dor torácica com característica de angina de peito pode ser observada nos casos graves, em que a sobrecarga aguda do VD pode provocar isquemia miocárdica secundária; • Achados clínicos nas embolias pequenas (submaciças): dor torácica, dor pleurítica, dispnéia, taquipnéia, tosse, hemoptise / hemoptóicos, taquicardia, febre, cianose; • Achados clínicos nas embolias grandes (maciças): Síncope, hipotensão arterial / choque, taquicardia, dispnéia, cianose; • Dor pleurítica e hemoptise estão relacionadas com o infarto pulmonar. Dor precordial anginosa pode estar presente e pode indicar isquemia do ventrículo direito; • Taquipneia e taquicardia são os achados de exame físico mais prevalentes. Já os sinais de hipertensão pulmonar (veias do pescoço túrgidas, P2 hiperfonética e impulso do VD palpável) são mais raros, porém mais específicos. DIAGNÓSTICO DE TVP E TEP • A abordagem diagnóstica começa pela teoria Bayesiana para saber a probabilidade de ser TVP ou TEP; • Primeiro, identificar qual a probabilidade pré-teste; segundo, realizar um teste segundo a probabilidade pré-teste; por último, ver qual a nova probabilidade pós-teste. 3 PRÉ-TESTES: SCORE DE WELLS E SCORE DE GENEVA: EXAMES COMPLEMENTARES DIAGNÓSTICOS: • Os exames diagnósticos devem ser solicitados de acordo com a suspeita clínica, ou seja, de acordo com o escore de probabilidade pré-teste descrito acima. DOSAGEM DE DÍMERO-D • A dosagem de dímero-D por métodos altamente sensíveis, quando abaixo do valor de corte, exclui TVP nos casos de probabilidade baixa e intermediária, pois a probabilidade de ter TVP fica abaixo de 1%; • Os dímeros D são alguns dos produtos da degradação da fibrina e estão presentes no plasma de indivíduos onde haja ativação dos sistemas de coagulação e fibrinólise. VENOGRAFIA • Apesar de ser considerado o padrão-ouro para o diagnóstico de TVP, é um exame invasivo, potencialmente doloroso, tecnicamente difícil e expõe o paciente aos riscos do contraste intravenoso (injúria renal aguda, anafilaxia) e à radiação. Sendo assim, esse exame fica apenas nos raros casos em que nenhuma outra técnica confirmou ou refutou o diagnóstico de forma adequada. ULTRASSOM COM COMPRESSÃO A ultrassonografia é um exame não invasivo, prático (o examinador pode se mobilizar até o paciente, o que é vantajoso no ambiente de UTI) e de elevada acurácia para diagnóstico de TVP proximal sintomática (sensibilidade de 97% e especificidade de 94%). TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA HELICOIDAL (ANGIO TC) • Atualmente, é o método mais comumente utilizado para auxílio no diagnóstico de TEP; • Tem numerosas vantagens sobre a cintilogafia V/Q, entre elas a velocidade, caracterização de estruturas não vasculares, exclusão de outros diagnósticos diferenciais e detecção de trombose venosa quando associada a venografia por CT. 4 ESTUDO DE VENTILAÇÃO/PERFUSÃO (VIQ) • Superado pela angioTC por ter utilização limitada; • Necessita um tempo maior de realização, o que é muitas vezes proibitivo para os pacientes críticos; • 40 a 60% dos casos tem um exame V /Q não diagnóstico (ou seja, não refuta nem confirma TEP), o que leva a necessidade de mais exames complementares; • Pouco disponível na maior parte dos centros; • Não permite avaliação de diagnósticos alternativos; •Exame que necessita de insumos caros e pouco disponíveis. • Sendo assim, na atualidade, o exame V /Q geralmente é usado em situações específicas, como pacientes com injúria renal ou alergia a contraste iodado ou nos casos de exames de angioTC não diagnósticos. ECOCARDIOGRAFIA • Avalia sinais indiretos de TEP, como sobrecarga de câmaras direitas, dilatação de ventrículo direito (VD), movimento paradoxal do septo interventricular, hipertensão pulmonar e sinal de McConnell (acinesia da parede livre do ventrículo direito e movimento preservado do ápice do VD); RADIOGRAFIA DE TÓRAX PA/PERFIL • As principais alterações correlacionadas com a embolia são áreas de hipoperfusão pulmonar (sinal de Westmark), imagens cuneiformes (sinal de Hampton), dilatação da artéria pulmonar (sinal de Palla), atelectasia, derrame pleural e elevação da hemicúpula diafragmática; • A identificação de áreas de hipoperfusão é a mais específica. ELETROCARDIOGRAMA • O ECG é pouco sensível e específico, comumente apresentando somente taquicardia sinusal. Se alterado, o acometimento mais comum é do segmento ST e da onda T. Sinais de hipertensão de câmaras direitas e bloqueio de ramo direito podem ser sugestivos, e o padrão S1Q3T3 (S profundo na derivação I, Q proeminente e onda T invertida na III), apesar de descrito como típico de TEP, apresenta baixa especificidade; GASOMETRIA ARTERIAL • As alterações mais frequentes são a alcalose respiratória e a hipocapnia, pelo aumento da frequência respiratória; • A diferença alvéolo-arterial de oxigênio (D(A-a)O2) pode estar aumentada pelo aumento do espaço morto, mas é normal em até 20% dos casos confirmados de Tromboembolismo pulmonar; • Uma gasometria normal não exclui o diagnóstico de TEP, e tampouco há um padrão que o diagnostique com certeza; • A gasometria arterial é de baixa especificidade e moderada sensibilidade para o diagnóstico de EP49; • A presença de hipoxemia e da hipocapnia possui valor preditivo negativo entre 65 e 68%, considerado insuficiente para afastar o diagnóstico de EP50. A gasometria deve orientar a necessidade de oxigenioterapia suplementar e de ventilação mecânica em pacientes instáveis. ULTRASSONOGRAFIA (USG) COM DOPPLER DE MEMBROS INFERIORES • O Doppler de membros inferiores apresenta boa sensibilidade e especificidade (acima de 90%) para pacientes com sintomas de trombose venosa profunda, entretanto estes índices reduzem-se para valores inferiores a 40% em pacientes assintomáticos, não servindo, assim, para excluir o diagnóstico de TEP; ECODOPPLERCARDIOGRAMA • Apresenta baixa sensibilidade e especificidade, mas tem valor prognóstico e serve para avaliação de diagnósticos diferenciais das doenças cardíacas; 5 • Rapidez de realização à beira do leito, na avaliação de pacientes em UTI e na hipótese de TEP agudo maciço com instabilidade hemodinâmica. DUPLEX-SCAN VENOSO • O exame é considerado positivo quando da visibilização do trombo ou redução da compressibilidade das veias profundas dos membros inferiores, com sensibilidade e especificidade superiores a 90% para a trombose venosa proximal. CINTILOGRAFIA PULMONAR • Nos pacientes considerados de alta probabilidade, a especificidade da cintilografia foi de 97%, com sensibilidade de 41%; • Os pacientes considerados de alta probabilidade clínica e com alta probabilidade cintilográfica são diagnosticados como EP, enquanto que, naqueles com baixa probabilidade clínica e cintilografia pulmonar normal, esse diagnóstico é excluído; • Nos pacientes com baixa ou intermediária probabilidade, em mais de dois terços dos casos, é necessária a realização de outro método para esclarecimento do diagnóstico. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA (TC) HELICOIDAL • A TC helicoidal vem sendo amplamente utilizada na investigação de pacientes com suspeita clínica de EP. A boa acurácia, o custo relativamente baixo - se comparado à arteriografia convencional, a possibilidade de investigação de outros diagnósticos diferenciais estão entre as vantagens da TC, frente a outras estratégias. ARTERIOGRAFIA PULMONAR (AGP) • A AGP é considerada o método padrão para o diagnóstico da EP com a visibilização da circulação pulmonar, após a injeção de contraste iodado; • O uso de cateteres mais finos e flexíveis e a melhor definição da imagem com a incorporação da técnica de subtração digital têm melhorado a acurácia do método; • As principais complicações do método são a anafilaxia e a nefrotoxicidade induzida pelo contraste, que pode ser minimizada com uma adequada hidratação venosa. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • A lista de diagnósticos diferenciais do Tromboembolismo pulmonar é extensa, pois o TEP pode simular ou acompanhar uma série de doenças pulmonares e cardiovasculares; • Rabdomiólise, anasarca, celulite, cistos de Baker, hipoalbuminemia, compressão extrínseca e imobilismo são alguns dos diagnósticos diferenciais de condições que simulam TVP nos pacientes críticos; • Sendo assim, sugere-se o uso do escore de Wells simplificado para predição. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO DO TEP Após o diagnóstico de TEP, é importante que se faça uma estratificação do risco de complicações e óbito para uma adequada decisão terapêutica e alocação de tratamento (enfermaria, UTI, em casa). SEGUNDO A GRAVIDADE • TEP MACIÇO: • Pressão arterial sistólica < 90 mmHg por 15 min ou necessidade de drogas vasoativas por conta do TEP (na ausência de sepse, arritmias graves ou hipovolemia); • Parada cardiorrespiratória; • Bradicardia ( < 40 bpm) por conta do TEP com sinais ou sintomas de choque. • TEP SUBMACIÇO : 6 • Pacientes sem hipotensão arterial, mas com disfunção de ventrículo direito ou marcadores de lesão cardíaca (um dos seguintes): • Dilatação do VD na ecocardiografia (relação VD/VE maior que 0,9 na janela das quatro câmaras) ou disfunção sistólica do VD; • Dilatação do VD na TC de tórax (relação VD/VE maior que 0,9 -Figura 4); • Elevação do BNP (> 90 pg/mL); • Elevação do NT-pró-BNP (>SOO pg/mL); • Alterações no eletrocardiograma (bloqueio de ramo direito novo completo ou incompleto, elevação ou depressão do segmento ST anteroseptal, ou inversão de ondas T anteroseptais) decorrentes do TEP; • Elevação da troponina T ou I. • TEP DE BAIXO RISCO : • Pacientes sem critérios de quadro maciço ou submaciço; • Doença pulmonar prévia ou mesmo alterações em radiografia de tórax aumentam muito a quantidade de cintilos V/Q inconclusivas; • Qualquer modalidade de CT deve ser evitada em pacientes com insuficiência renal devido à nefrotoxicidade dos contrastes utilizados; • Não há qualquer indicação para dosagem de dímeros D em pacientes com instabilidade hemodinâmica e/ ou alta probabilidade clínica de TEP5. 7 FLUXOGRAMA DIAGNÓSTICO: • Todos os pacientes com possibilidade de EP devem ter sua probabilidade clínica avaliada e documentada; • Apesar da baixa especificidade, o eletrocardiograma e a radiografia de tórax devem ser utilizados na avaliação complementar inicial contribuindo para um aumento da probabilidade clínica e na exclusão de diagnósticos diferenciais; • O d-dímero, principalmente o realizado pelo método ELISA, apresenta um alto valor preditivo negativo devendo ser utilizado para a exclusão do diagnóstico de tromboembolismo venoso; • O D-dímero não deve ser solicitado para pacientes com alta probabilidade clínica; • A arteriografia pulmonar permanece como método padrão para o diagnóstico; • A angiotomografia helicoidal e a ressonância magnética apresentam uma excelente acurácia, com limitação para a avaliação de ramos subsegmentares; • A TC helicoidal é recomendada com imagem pulmonar inicial para EP não maciça; • Pacientes com TC helicoidal negativa, de boa qualidade técnica, não necessitam de outros métodos diagnósticos; • Cintilografia pulmonar de V/Q pode ser considerada como método de imagem de investigação inicial em pacientes com radiografiade tórax normal e sem história clínica de doença cardiopulmonar; • Nos casos de cintilografia pulmonar normal, a EP pode ser excluída; • A cintilografia pulmonar de alta probabilidade apresenta um pequeno percentual de resultados falsos positivos; • Em pacientes com suspeita de trombose venosa profunda, o duplex-scan venoso de membros inferiores é método de imagem inicial e freqüentemente suficiente. REFERÊNCIAS VOLSCHAN, André et al. Diretriz de embolia pulmonar. Arq Bras Cardiol, v. 83, n. Suppl 1, p. 1-8, 2004. COSTA, André Nathan; TERRA FILHO, Mario. Tromboembolismo pulmonar.2009 VOLPE, Gustavo Jardim et al. Tromboembolismo pulmonar. Medicina (Ribeirao Preto Online), v. 43, n. 3, p. 258- 271, 2010.
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