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ENCEFALOPATIA HEPÁTICA Carla Almeida Definição: Síndrome neuropsiquiátrica potencialmente reversível em portadores de hepatopatia crônica avançada ou insuficiência hepática aguda. Etiologia: Passagem de substâncias tóxicas (principalmente amônia), que seriam depuradas no fígado, para o cérebro (geralmente substâncias intestinais). - disfunção hepatocelular – vai prejudicar a transformação de amônia em glutamina ou ureia; - hipertensão portal (desvia o sangue mesentérico para a circulação sistêmica). Principal fonte de amônia intestinal: enterócitos (metabolismo da glutamina) e bactérias colônicas (catabolismo de proteínas alimentares e ureia secretada no lumen intestinal) Fisiopatologia: - Natureza metabólica – explicada pela sua reversibilidade (parcial) e ausência de lesões neuropatológicas orgânicas que explicam a síndrome *pode produzir alterações generativas como CONSEQUÊNCIA e não como causa Principal alteração: mudanças morfológicas e funcionais dos astrócitos tipo II, devido ao edema celular > degeneração de células nervosas e fibras axonais, cerebelo e medula espinhal, com áreas de cavitação microscópicas Efeitos da amônia no cérebro: aumenta a captação de aminoácidos aromáticos pela BHE; edema celular; inibe atividade elétrica pós-sináptica; estimula produção de GABA (depressor da atividade cortical) Sinais e sintomas: TIPOS DE ENCEFALOPATIA 1) EH mínima; 2) EH aguda esporádica, espontânea ou desencadeada por fatores precipitantes; 3) EH crônica, continuamente sintomática; 4) EH associada a insuficiência hepática fulminante 1) EH MÍNIMA (ou subclínica) – muito prevalente, mas sutil - alterações neuropsiquiátricas só são detectadas em testes neuropsicométricos; - geralmente costuma não tratar, a não ser que haja alguma complicação associada (como dificuldade para dirigir, por exemplo) – abordagem individualizada. 2) EH aguda esporádica - desorientação, agitação psicomotora, torpor ou mesmo coma - a maioria melhora com medidas pra EH e com controle do fator precipitante - distúrbios de comportamento, sonolência/letargia, inversão do ciclo sono vigília, fala arrastada ou com bradipsiquismo, hálito hepático, flapping, incoordenação muscular, hipertonia, escrita irregular, reflexos tendinosos exacerbados ou alentecidos, Babinski positivo, crises convulsivas e postura de descerebração Fatores precipitantes (SEMPRE INVESTIGAR NA ANAMNESE, FAZER PARACENTESE SE ASCITE, LABORÁTORIO E PESQUISA DE MELENA NAS FEZES): - HDA; - Hipocalemia; - Alcalose metabólica ou respiratória; - Diuréticos tiazídicos ou de alça (furosemida); - Infecções (incluindo PBE); - Uso de sedativos (BZDP e barbitúricos); - Dieta hiperproteica; - Procedimentos cirúrgicos; - Constipação intestinal; - Hipóxia; - Shunt portossistêmico (espontâneo ou cirúrgico). HDA: Motivos: - Distúrbio da hemostasia – plaquetopenia + coagulopatia - varizes esôfago-gástricas - aumento do risco de úlcera péptica Obs: o sangue liberado no tubo digestivo é metabolizado pelas bactérias colônicas, produzindo amônia, absorvida pelos enterócitos e desencadeando a EH ALCALOSE METABÓLICA: - pH alcalino converte amônio em amônia (perde um H+) - amônia passa pela BHE > impregnação cerebral da neurotoxina HIPOCALEMIA: - aumenta a produção renal de amônia, pois reduz o pH intracelular das células tubulares (saem ions K+ e entram H+) DIURÉTICOS E TIAZÍDICOS - causam hipocalemia, alcalose metabólica e desidratação INFECÇÕES - destaque para PBE - infecções urinárias e respiratórias DIETA HIPERPROTEICA - aumento da produção de amônia pelas bactérias colônicas que metabolizam a proteína alimentar CONSTIPAÇÃO INTESTINAL - aumenta proliferação das bactérias colônicas e o tempo de contato entre a amônia produzida com a mucosa intestinal (aumento da absorção) Tratamento: - Controle dos fatores precipitantes; - restrição proteica SE EH aguda ou crônica refratária a lactulona e ATB – SUBSTITUIR FONTES ANIMAIS POR VEGETAIS (se estágio III ou IV – dieta zero nas primeiras 24/48h); - CORRIGIR CONSTIPAÇÃO: lactulose (Lactulona) oral 20-30mg/ 30-45 ml de 2 a 4x/dia; se refratária, fazer sob forme de clister com lactulose a 20% (300ml de lactulona + 700 ml de água) – clister é lavagem pelo ânus!!! META: 2 a 3 evacuações pastosas/dia m- - ATB: Objetivo de reduzir a flora colônica *Neomicina 2-8g/ dia VO (4 tomadas) – primeira dose de 500mg – OBS: oto e nefrotóxico *Metronidazol 250mg VO 8/8h – OBS: desenvolvimento de neuropatia periférica *Rifamixina 550mg 12/12h – OBS: sem efeitos colaterais significativos (RECENTE) – pode reduzir a recorrência e aumenta eficácia do tto agudo quando administrada com a lactulose – NÃO SUBSTITUI A LACTULOSE !!!!IMPORTANTE!!!!! TRATAR ABSTINÊNCIA ALCOOLICA: Benzodiazepínicos (mas pode ser fator precipitante da EH aguda) – usar com parcimônia, quando o pcte apresentar agitação que não cesse com haloperidol *LORAZEPAM, pois possui maior excreção renal. OUTROS TRATAMENTOS: - L-ORNITINA-L-ASPARTATO aumenta depuração hepática e muscular da amônia - PROBIÓTICO pode modificar flora colônica - ZINCO (alguns pacientes se beneficiam) - FLUMAZENIL (antagonista do BZDP) pra evitar IOT (resposta imprevisível) - BENZOATO DE SÓDIO – promissora – aumento da excreção renal de nitrogênio (poucos estudos) 2) EH CRÔNICA: permanência dos sintomas neuropsiquiátricos por longo período - troca de proteínas animais por vegetais, menor restrição proteica possível, tratar constipação e adm crônica de lactulose (com ou sem ATB) AÇÃO DA LACTULOSE: - reduz o pH do lumen do colon, transforma amônia e amônio (metabolizada pelas bactérias em ácidos graxos de cadeia curta); - aumenta a flora de lactobacillus – substituindo as bactérias que produzem amônio (não absorvível pela mucosa); - aumenta a osmolalidade do colon – aumenta a eliminação de água nas fezes; - aumenta a incorporação de amônia em algumas bactérias
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