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1 Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti PROPEDÊUTICA REUMATOLÓGICA E FERRAMENTAS DIAGNÓSTICAS Reumatologia – especialidade dedicada ao diagnóstico e tratamento de diversas doenças de origem não traumática que acometem o sistema musculoesquelético. Estuda Doenças do Tecido Conjuntivo → [TECIDO CONJUNTIVO] → pele e fâneros, tendões, bursas, órgãos, cartilagem hialina, articulações sinoviais e vasos sanguíneos → São doenças e alterações funcionais do sistema musculoesquelético de causa não traumática. Incluem: Doenças inflamatórias do sistema musculoesquelético Doenças inflamatórias do tecido conjuntivo e vasos Doenças degenerativas das articulações periféricas e da coluna vertebral Doenças metabólicas ósseas e articulares Alterações dos tecidos moles periarticulares O QUE ESPERAR NA ANAMNESE? IDENTIFICAÇÃO Idade, sexo, etnia, procedência e profissão *É necessário conhecer quais doenças são mais frequentes em determinado sexo e idade, relacionadas com a profissão e histórico família etc. INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO QPD O que o paciente diz ao médico HDA Construir a história mediante o relato do paciente (pode colocar “” ou “SIC” como o paciente citou) Artralgias – inespecíficas, sem alteração ao exame físico Artrites – mais específicas; derrame articular e/ou dois ou mais dos seguintes sintomas: dor à palpação ou movimentação, calor e limitação da amplitude de movimento 2 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Dor: irradiação, localização, fatores desencadeantes, intensidade, duração, caráter, fatores atenuantes e se é muscular, articular ou periarticular. Ex: Artrite/artralgia – Mono/oligo/poliarticular Aditiva migratória Bilateral Simétrica/assimétrica Acometimento axial/ periférico Episódios anteriores Obs: a febre reumática tem caráter migratório (reativa) MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES Sistemas constitucionais, pele e mucosa, coração e pulmões, aparelho gênito-urinário, sistema digestivo, olhos, sistema nervoso, sistema hematológico ANTECEDENTES MÓRBIDOS FAMILIARES Doenças reumatológicas na família ANTECEDENTES MÓRBIDOS PESSOAIS Amigdalite antes de febre reumática, uso de medicações, abortamentos de repetição, queixas ocularas, geniturinárias e digestiva EXAME FÍSICO PELE LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO ✓ Rash malar – eritema malar em forma de borboleta (poupa o sulco nasogeniano) ✓ Aftas de repetição e ferimentos no nariz ✓ Áreas de alopecia (pode ser de dois tipos: discoide e frontal ou difusa) ✓ Rash cutâneo PÚRPURA PALPÁVEL (apresenta auto-relevo) 3 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti LUPUS DISCÓIDE (discoide = lesão do lúpus que não desaparece) FENÔMENO DE RAYNAUD OLHOS ARTICULAÇÕES OSTEOARTRITE (osteoartrose) caracterizada por degeneração das cartilagens acompanhada de alterações das estruturas ósseas vizinhas. Como a carilagem hialina é degenerada, o osso vai se proliferar para ocupar seu lugar. Ao toque os nódulos são duros. Uveíte anterior - Espondiloartrites Ceratoconjuntivite sicca – Artrite Reumatóide Ceratoconjutivite sicca – Artrite Reumatóide Espondiloartrites 4 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti ARTRITE REUMATÓIDE ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL ARTICULAÇÕES – OLHOS ARTRITE REUMATÓIDE - Poliartrite, nódulos subcutâneos e esclerite Lembrar: um nódulo sempre está associado a um pior prognóstico PELE E FÂNEROS ARTROPARIA PSORIÁTICA – Psoríase 5 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti QUADRO ARTICULAR AGUDO – artrite séptica, artrite gotosa (metabólica). *Dedo do pé inchado – até que se prove o controle é gota. Geralmente é monoarticular. FIBROMIALGIA e TENDINITE EM GATILHO – paciente com artralgia difusa/localizada EXTREMIDADES SÍNDROME NEFRÓTICA e LES - edema de MMII – Anasarca (edema generalizado) 6 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Primeiro se olha o paciente de perfil para observar o alinhamento da coluna vertebral. O normal é ter uma pequena lordose cervical, uma cifose torácica e uma lordose lombar. Um paciente com espondiloartrite perde completamente as curvaturas normais. MANOBRAS Paciente com acometimento axial inflamatório e mecânico → ESPONDILITE ANQUILOSANTE, ESPONDILOARTROSE → se a dor lombar piorar ao repouso pode suspeitar, a depender da faixa etária do paciente, de um quadro inflamatório. Na espondiloartrose a dor lombar melhora em repouso. LOMBALGIA MECÂNICA - ESPONDILOARTROSE → Sinal de Lasegue → Com o paciente em decúbito dorsal, o médico levanta o membro inferior dele. Quão maior for o ângulo formado com a mesa, melhor está aquele paciente. Se o paciente sentir dor a 30° significa que ele tem um acometimento muito grave (compressão de nervo) 7 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Paciente com rigidez matinal maior 1 hora, lombalgia – que piora ao repouso → Suspeita de ESPONDILOARTRITE (espondiloartrose*) → Sinal de Patrick Fabere, Occipito-parede e Schober Sinal de Patrick Fabere → analisa as coxa-femorais e sacro-ilíacas ao estabilizar o quadril → Posiciona o paciente em posição de “4” com o membro inferior esquerdo. Caso o paciente tenha dor no quadril esquerdo, significa que há doença na coxa-femoral. Se o paciente sentir dor na região lombar contralateral posterior, indica problema na sacro- ilíaca. Sinal da seta ou occipito-parede → análise da lordose cervical. Em pacientes com espondiloartrite, se perde a lordose cervical e o paciente perde a capacidade de encostar a cabeça na parede. Quanto maior a distância occipito- parede, pior o estado do paciente. Sinal de Schober → o médico faz uma marcação nas cristas ilíacas e, a partir desse ponto, marca 10cm. Solicita-se que o paciente faça a flexão da coluna. Quanto melhor, pior está a coluna (coluna em bambu - +- 11, 12cm – significa que os ligamentos estão ossificados). Normal - +- 15cm. *Todos esses sinais são para espondiloartrite, menos o P. Fabere que também pode ser utilizado para patologias de quadril. Palpação de MTF Percepção de temperatura com o dorso da mão. Precisa palpar todos os locais à procura de dor e/ou limitação do movimento. 8 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti TENOSSINOVITE DE QUERVAIN → Sinal de Finkelstein FERRAMENTAS DIAGNÓSTICAS EM REUMATOLOGIA O laboratório das doenças reumáticas deve ser analisado de modo crítico, mediante à sintomatologia de cada paciente. Raramente os exames terão elevada especificidade. A presença ou ausência de determinada alteração laboratorial dificilmente definirá ou excluirá um diagnóstico – logo, não define isoladamente o diagnóstico. EXAMES LABORATORIAIS AVALIAÇÃO HEPÁTICA E RENAL DOSAGEM DE FRAÇÕES C3 E C4, CH50 (SISTEMA COMPLEMENTO) Muito utilizado para LES – Complemento total e frações *C3 estará baixo HEMOGRAMA VSH – VELOCIDADE DE HEMOSSEDIMENTAÇÃO Reflete indiretamente a quantidade de proteínas de fase aguda no sangue Fatores que a alteram: quantidade de forma das hemácias, idade e gênero *Muito importante para suspeita de artrite reumatoide PCR – PROTEÍNA C REATIVA Proteína de fase aguda → pelo fígado Eleva-se significativamente e rapidamente – estímulo inflamatório inespecífico Níveis séricos caem paralelamente à resolução do processo inflamatório/infeccioso – muito bom avaliar processo inflamatório e infeccioso porque cai muito rapidamente após a resolução do processo ASLO Anticorpo direcionado contra componentescelulares do estreptococo (APENAS) FATOR REUMATÓIDE/PROTIDOGRAMA (LATEX) Anticorpo IgM contra porção Fc da IgG humana – usado como indicador de classificação de prognóstico Condições clínicas associadas ao FR: infecções bacterianas e virais, parasitoses, neoplasias e tabagismo FAN – FATOR ANTINUCLEAR Auto-anticorpo – os auto-anticorpos detectados pelo FAN podem estar no núcleo, nucléolo, citoplasma ou aparelho mitótico. Está associado a doenças auto-imunes, mas pode ocorrer em diversas outras situações. *Também pode estar positivo em pessoas normais Imunofluorescência com células HEP-2: padrão outro – teste qualitativo e quantitativo 9 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Títulos Doenças reumáticas LES Artrite reumatóide Outras colagenoses Outras situações: neoplasias, hepatites (autoimunes – B ou C), infecções, próteses de silicone, indivíduos sadios (5 a 15%) e indivíduos acima de 60 anos (30 a 40%) Limitações: não possibilita diagnóstico definitivo, especificidade de 20 a 40% e é usado como exame de triagem. Sensibilidade de 90 a 95%, logo tem alto valor preditivo negativo. ANTICORPOS ANTIPEPTÍDEOS CITRULINADOS CÍCLICOS (ANTI-CCP) Importantes para pacientes com suspeita de artrite reumatoide, mas com o fator reumatoide negativo HLA-B27 Fator preditivo para espondilite anquilosante ENZIMAS MUSCULARES: DHL, CPK, TGO, TGP, ALDOLASE Evidencia o processo inflamatório muscular URINA Sumário de urina, proteinúria, clearance de creatinina ELETROFORESE DE PROTEÍNAS - Em doenças agudas aumenta α1 e α2 (ex: febre reumática em atividade e cardite reumática) - Em lúpus com síndrome nefrótica há queda de albumina (porque está perdendo proteínas) e aumento da fração γ (indica formação de anticorpos) - Muito importante no diagnóstico de gamopatias monoclonais, principalmente mieloma múltiplo (pico monoclonal γ) IMAGENOLOGIA Raio X USG TC RM ENMG 10 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti HISTOLOGIA Biópsia (renal – mais comum) CASO CLÍNICO M. E. M., do sexo feminino, comerciante ambulante, 23 anos, natural e procedente de Recife, atendida por você no Postinho. Refere que há cerca de 1 ano vem apresentando dores articulares em mãos, joelhos e pés. Nota que suas mãos estão opadas (SIC), seu rosto está muito vermelho, tem feridas na região anterior do tórax e no couro cabeludo, o qual apresenta áreas sem cabelo. Relata se sentir muito cansada, sem ânimo para trabalhar e, ao final do dia, sente febre interna (SIC). *Opado = inchado IS: ferimentos no nariz e na boca com muita frequência Antecedentes pessoais: refere ter tomado Benzetacil IM quando mais nova. Faz uso de contraceptivos orais há 02 anos. Antecedentes familiares: mãe tem reumatismo e é acompanhada no HUOC. Egeral regular, eupnéica, bem perfundida, descorada ¼+, orientada AR e ACV sem anormalidades PA=110x70mmhg FC=88bpm AD abdome sem anormalidades Sem edemas de extremidade Pulsos arteriais de boa amplitude AOA = aumento de volume em joelhos com calor e dor aos movimentos de extensão e flexão, dor e calor em ambos os punhos 1) Quais as principais alterações encontradas no exame físico? Inchaço, rash malar (sinal da borboleta – eritema facial), feridas na região anterior do tórax e no couro cabeludo com sinais de alopécia cicatricial (alopécia discoide), ferimentos no nariz. *Todas as lesões mostram que a doença está em atividade 2) Você, como generalista, poderá solicitar exame(s) complementar(es) para auxiliar na avaliação desta paciente? Caso possível, cite. Sumário de urina, FAN, hemograma completo, sistema complemento total e frações (C3, C4 e CH50) e ureia-creatinina (função renal e hepática) 3) Para esse caso, que resultados você esperaria encontrar? C3 e C4 baixos. 4) Você teria alguma hipótese diagnóstica? LES. 11 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 12 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti ORTEOARTRITE, OSTEOARTROSE, ARTROSE A osteoartrite (OA) é definida como um distúrbio musculoesquelético e das articulações sinoviais, sendo caracterizada clinicamente por dor e limitações funcionais, histologicamente por alterações da cartilagem e do osso subcondral e, radiologicamente pela presença de osteófitos e estreitamento dos espaços articulares – é uma insuficiência qualitativa e quantitativa da cartilagem articular associada a alterações típicas do osso subcondral que causam instabilidade articular. As regiões mais afetadas são o quadril, joelhos, mãos e pés. Está presente em 10% dos indivíduos acima de 60 anos e é a doença reumatológica mais comum, sendo a 3ª nas causas de incapacidade laborativa (afastamento do trabalho); no Brasil acomete cerca de 16% da população. A OA não é um desfecho fisiológico do envelhecimento, mas sim uma comorbidade degenerativa que depende da interações de fatores de risco. FATORES DE RISCO INTRÍNSECOS Idade Aumenta com o envelhecimento devido à diminuição da atividade metabólica da cartilagem articular; a incidência é maior acima dos 40 anos de idade Gênero Mais prevalente nas mulheres devido às alterações dos hormônios sexuais após a menopausa; o acometimento de joelhos e das mãos é maior em mulheres e da articulação coxofemoral em homens Genéticos É muito influenciado apesar de não ser considerado uma doença genética; a probabilidade de manifestação varia de acordo com a articulação acometida (exemplo: 30% dos casos de OA em joelhos são familiares e 70% na coluna) Anatômico Presença de deformação e desalinhamento da articulação por lesão ou doença de base – interfere na disposição vetorial das forças mecânicas intra-articulares, como geno varo ou geno valgo congênitos. 13 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Obesidade Maior incidência de OA nos joelhos devido ao aumento da sobrecarga mecânica no espaço articular Doenças metabólicas sistêmicas Interferem na formação da matriz cartilaginosa, diminuindo sua densidade (exemplo: ocronose e hemocromatose) EXTRÍNSECOS Esporte e trabalhos extenuantes Sobrecarregam as articulações pela alta demanda da proteção mecânica durante os movimentos FISIOPATOLOGIA - Condrócitos e células sinoviais produzem níveis aumentados de citocinas inflamatórias 1β (IL-1 β) e o fator de necrose tumoral (TNF); - Há diminuição da síntese de colágeno e aumento dos mediadores catabólicos, metaloproteinases (MMPS) e substâncias inflamatórias como IL-8, IL-6, PGE2 e óxido nítrico; - Acontece apoptose e senescência prematura dos condrócitos. Logo, consistem em um acometimento de compartimentos específicos (sinóvia, cartilagem, osso), alterando as superfícies articulares e destruindo a cartilagem → ENVELHECIMENTO PREMATURO DA CARTILAGEM CLASSIFICAÇÃO Pode ser classificada em: Osteoartrite primária ou idiopática Etiologia desconhecida ou decorrente de mecanismos genéticos; Pode ser localizada ou generalizada (poliartrose). Osteoartrite secundária Causada por algum trauma, malformação anatômica, doença congênita ou distúrbio metabólico, como artrite reumatoide, obesidade, entre outros. Pode ser secundária a desorganização da estrutura cartilaginosa ou secundária a desorganização da estrutura óssea ou desalinhamento articular. Monoarticular, oligoarticular (até 4 articulações) ou poliarticular QUADRO CLÍNICO As manifestações clínicas da OA são predominantemente locais, envolvendo mais a articulação lesada do que ocasionando uma reação sistema. Logo, os sintomas e sinais são de caráter articular,sendo as mais incidentes as articulações do 14 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti hálux (primeiro metatarsofalangiana), interapofisárias (coluna vertebral), interfalangianas distais e proximais, carpometacarpianas do primeiro quirodáctilo, joelhos e quadril. Principais sintomas: → Dor articular Pode acometer uma ou poucas articulações (mono ou poliarticular); costuma se originar de forma espontânea e gradual; relatada do tipo “aperto” e referida como “profunda”, tendo pequena e média intensidade; piora com o início do movimento e melhora em repouso - Mecanismos principais da dor: estiramento dos ligamentos e da cápsula articular, aumento da pressão intraóssea nos ossos subcondrais acometidos, sinovite (ou bursite e tenossinovite, a depender os sítios inflamatórios) e dor muscular. → Rigidez articular Menos de 30 minutos de duração → Dor ao iniciar movimentos (protocinética) e aos esforços Estágios avançados – dor em repouso → Instabilidade articular Marcada por sensação de apreensão e falta confiança/segurança para suportar o peso sustentado pela articulação → Limitação do movimento Devido à presença de osteófitos e do espessamento da cápsula articular Principais sinais encontrados no exame físico: → Aumento da articulação Áreas de inchaço ósseo e/ou cartilaginosos; a consistência do aumento volumétrico é firme e tem pontos dolorosos → Crepitações audíveis ou palpáveis Devido à perda da cartilagem ou irregularidades nas cartilagens articulares ou tendões → Deformidade articular Sinal de lesão articular avançada → Sinais de sinovite Inflamação do líquido sinovial - edema, aumento da temperatura e discreto derrame articular na região afetada → Nódulos de Heberden e de Bouchard Expansões firmes de tecido ósseo e cartilaginoso nas proeminências articulares interfalangeanas distais e proximais respectivamente; as expansões consistem nos osteófitos palpáveis nos pacientes; é o sinal patognomônico da OA DIAGNÓSTICO História do paciente + Exame físico + Exames de imagem e laboratoriais Tenossinovite de Quervain 15 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti EXAME DE IMAGEM Avaliam a deformidade na cartilagem; *Não se pode relacionar a intensidade do quadro sintomatológico com o grau de OA pelos exames porque alguns pacientes podem se apresentar assintomáticos. Obs: TC e RM podem colaborar na avaliação identificando possíveis etiologias que colaborem para a manifestação da doença, como rotura de ligamento cruzado, menisco, osteonercose, entre outros, ou eliminando diagnósticos diferenciais. Entretanto, a RM tem fraco poder discriminativo para o diagnóstico. Radiografia – PADRÃO-OURO Achados: - Osteófitos – protuberância óssea radiopaca na borda da articulação; - Redução do espaço articular – menor área radiotransparente no espaço articular; - Esclerose óssea – aumento radiopaco da região acometida; - Cistos subcondrais – formações arredondadas radiotransparentes na região subcontral afetada → Artrose da coluna vertebral Redução assimétrica do espaço articular associada a esclerose do osso subcondral EXAMES LABORATORIAIS Não existe exame específico; Apresentam 90% de sensibilidade e ajudam na eliminação de possíveis diagnósticos diferenciais; Usualmente são solicitados hemograma, testes imunológicos (FAN, fator reumatoide) para eliminar diagnósticos de outras causas de dor articular reumatológica, pesquisa de marcadores inflamatórios (VHS e PCR), entre outros; → Artrocentese Procedimento clínico para punção do líquido sinovial dentro da cápsula articular; Investiga presença ou não de leucocitose no líquido sinovial; O derrame articular na OA é de caráter não inflamatório, com menos de 20.000 leucócitos por mm3. A presença de leucócitos pode indicar artrite reumatoide e a presença de cristais sugerem gota. TRATAMENTO Visa a melhora da dor e manutenção da função articular. Se divide em não-farmacológico e farmacológico: Não-farmacológico Orientação de perda de peso e incentivo à prática de exercícios físicos a depender da demanda do quadro); Órteses; Fisioterapia – melhora/manutenção da força muscular com consequente melhoria da função. Farmacológico 16 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Anti-inflamatórios + Antidepressivos + Analgésico tópico - AINEs: seletivos (nimesulida e celoxicobe) e não seletivos (paracetamol) - Antidepressivos: duloxetina e amitriptilina - Analgésico tópico: capsaicina (dolamin, codeína) *Viscossuplementação para aplicação intra- articular de ácido-hialurônico tem se mostrado interessante na melhora sustentada da dor e da função *Diacereína – efeito anti-inflamatório e analgésico, propriedade anti-osteoartrosica – tem como efeito colateral o escurecimento da urina, mas não prejudica os rins *Sulfato de glicosamina e condroitina *Antimaláricos – hidroxicloroquina *Harpagophytum procumbens, Harpago – tem excelentes propriedades anti-inflamatórias que podem ser usadas para aliviar dores de problemas crônicos ou agudos *Extrato insaponificável de soja e abacate *Colágeno hidrolisado *Osteotomias para correção de desvios articulares, principalmente em joelhos têm papel importante em casos selecionados *A artroplastia de joelho e quadril ainda não existem critérios bem definidos para sua indicação GOTA É uma artrite inflamatória de origem metabólica que é causada por cristalização dos cristais de urato monossódico mono-hidratado (UMS) nas articulações. É a doença articular inflamatória mais comum nos homens e em mulheres idosas. Sua incidência e prevalência estão aumentando a nível mundial – mais presente em homens, ocorrendo com maior frequência a partir dos 40 anos. O desequilíbrio metabólico responsável pela gota é a supersaturação do sangue e dos fluidos orgânicos com o íon urato até o ponto em que a formação de cristais é viável. A hiperuricemia é caracterizada por nível sérico de urato superior a 6,8 mg/dL nos homens e nas mulheres. A hiperuricemia está diretamente ligada à gota, visto que 10% dos pacientes com hiperuricemia desenvolvem gota e 90% dos pacientes com gota têm altas concentrações de ácido úrico. O curso natural da gota progride de uma monoartrite intermitente ou oligoartrite nas extremidades inferiores para uma poliartrite crônica, destrutiva e debilitante, envolvendo quase todas as articulações periféricas do corpo. FISIOPATOLOGIA → A gota é resultado das respostas inflamatórias aos cristais depositados nas articulações devido a um ou mais desarranjos na fisiologia do urato; → O urato é produto da degradação oxidativa da purina por meio da enzima uricase; → O gene que codifica a enzima uricase tem sido silenciado por mutações genéticas. - CAUSAS MAIS COMUNS - - Redução da excreção renal; - Superprodução de ácido úrico; - Combinação dos anteriores. 17 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Superprodução de purina e/ou subexcreção renal de urato ↓ Hiperurinemia (urato > 6,8 mg/dL) ↓ Supersaturação ↓ Cristalização ↓ Inflamação QUADRO CLÍNICO E EXAME CLÍNICO A gota típica evolui de um período inicial geralmente prolongado de acúmulo assintomático de cristais de urato monossódico nas articulações e em torno delas para uma fase de episódios agudamente dolorosos, mas autolimitados de monoartrite ou oligoartrite, até seguir para a fase final de poliartrite cronicamente dolorosa, deformante e debilitante associada à presença visível de depósitos de cristais de urato monossódico de tecido mole, conhecidos como tofos. A duração de cada estágio da gota variaem cada paciente a depender de fatores endógenos e exógenos, sendo o mais importante o grau de hiperuricemia. Caracterizado por crises agudas e períodos intercríticos (entre crises) completamente assintomático; Em estágio mais avançado da doença – Artropatia crônica – crises múltiplas e/ou persistentes Macrófagos presentes no líquido sinovial fagocitam cristais, liberam mediadores e promovem a quimiotaxia de neutrófilos. Fatores predisponentes das crises – traumas, cirurgias, fome, dieta, desidratação, drogas e álcool. Sinais e sintomas das crises de gota: → Sensibilidade acentuada e inchaço da articulação afetada – dor intensa, eritema e edema → Início agudo, com dor máxima em 4 a 12 horas → Padrão recorrente de ataques semelhantes → Prejuízo acentuado da função física → Resolução de sintomas dentro de 3 a 14 dias *Geralmente é monoarticular Sinais e sintomas da artrite gotosa avançada: GOTA TOFÁCEA CRÔNICA → Presença de TOFOS; → Geralmente indolores; → Formados por depósitos de cristas cercados de inflamação granulomatosa; → Acomete tecidos moles; → Pode levar a nefropatias crônicas e uropatia obstrutiva. 18 Aula 04 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti DIAGNÓSTICO → PADRÃO OURO – observação de cristais de urato monossódico na microscopia ótica de luz polarizada compensada (birrefringência negativa); a amostra deve ser, de preferência, coletada das articulações afetadas recentemente e de articulações anteriormente afetadas; → Após a comprovação da presença de cristais no ambiente articular, é necessário quantificar a deposição, sua extensão e o dado estrutural causado; → Além da anamnese e de exame físico, pode-se solicitar exames de imagem como RX, TC e USG para avaliar a fase crônica da doença e os danos causados. TRATAMENTO Consiste em duas etapas: manejo da crise aguda e terapia de longo prazo para prevenir novas crises. *É recomendado encaminhar o paciente para nutricionista e, se fizer uso de diurético, para o cardiologista; e solicitar exames para acompanhamento do quadro. AGUDA - crise - CRÔNICA - longo prazo - Objetivo Alívio da dor Redução da inflamação Restauração da capacidade articular Prevenção de novas crises Redução da concentração de cristais de ácido úrico Conduta Anti-inflamatórios não hormonais Corticosteroides Colchicina Considerar associação se dor persistente ou acometimento poliarticular Alopurinol Febuxostat Agentes uricosúricos Uricases combinantes Orientar sobre fatores de risco modificáveis 19 Aula 06 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti ARTRITE REUMATOIDE Doença crônica sistêmica, de etiologia desconhecida, caráter autoimune que acomete as articulações que contêm membrana sinovial como alvo primário, com padrão simétrico, aditivo e potencialmente erosiva e destrutiva. EPIDEMIOLOGIA É a artropatia inflamatória crônica mais comum – afeta cerca de 0,5 a 1,1% da população mundial; No Brasil a prevalência é de 0,46% (2004); Mais comum em mulheres (3:1) e na faixa etária dos 30 aos 50 anos – a incidência aumenta com a idade; ETIOLOGIA Resposta imune sistêmica contra antígenos ainda não elucidados; 20 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti A predisposição genética pode representar 60% do risco de desenvolvimento da doença, mas o caráter ambiental também é importante; Genética e HLA-DR4 → Alelos HLA, especialmente o HLA-DR4, e sequência de aminoácidos produzida por região hipervariável da cadeia DRD1 → A cadeia HLA-DR4 fica na superfície das células apresentadoras de antígeno e permitem que os linfócitos T reconheçam o antígeno apresentado no DRD1 (epítopo compartilhado ou alelo de risco) → O epítopo compartilhado se liga mais intensamente às proteínas nas quais a arginina foi convertida em citrulina *Sequência de aminoácidos relacionada com a artrite reumatoide = epítopo compartilhado ou alelo de risco *Indivíduos com duas cópias do epítopo compartilhado apresentam quadros mais graves e com mais manifestações extra-articulares Epítopo compartilhado ou alelo de risco → Mimetismo molecular entre epítopo compartilhado e proteínas microbianos → As moléculas contendo o epítopo compartilhado induzem o envelhecimento precoce dos linfócitos T e uma sinalização inflamatória Resposta imune sistêmica → Perda da tolerância imunológica Fatores endócrinos → Eixo-hipotálamo-hipófise adrenal possui associação com a produção de citocinas, interferindo diretamente na resposta imune → Síndromes metabólicas Fatores ambientais e eventos estressantes → Tabagismo e substâncias irritáveis para o tecido pulmonar → Alteram a citrulação de proteínas Microbiota intestinal → Indução da auto-imunidade Infecções → Episten-barr, parvovírus B-19, arboviroses, M. tuberculosis, E. coli e P. mirabilis → Pode desencadear a produção do fator reumatoide e formação de complexos imunes FISIOPATOLOGIA A AR é causada por um desequilíbrio entre citocinas pró-inflamatórias e anti-inflamatórias, onde: Há apresentação do antígeno e indução da produção de Interleucinas e fatores de crescimento ↓ Diferenciação de células Th17, impedindo a diferenciação em T reguladoras ↓ Status pró-inflamatório (manutenção da autoimunidade, cronificação do processo inflamatório e progressiva destruição articular) ↓ Perda da função articular Alvo primário: membrana sinovial Provoca: 21 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti → Proliferação de sinoviócitos (espessamento das células sinoviais) → Invasão de células do sistema → Invasão de células do sistema linfo-hematopoiético → Hiperplasia vascular e neoangiogênese → Infiltrado inflamatório intenso → Formação de tecido granulomatoso com células gigantes, fibroblastos e macrófagos = Pannus (pode invadir o tecido conjuntivo e induzir sua degradação por perda de condrócitos e erosões ósseas através do estímulo da sobrevida de osteoclastos sobre a matriz óssea) → Aumento de células TCD4+ nos folículos linfoides sinoviais e TCD8+ nos neovasos, que, em sua maioria, estão ativadas expressando o MHC II e receptores de TNF-α, além de promovendo a secreção de citocinas pró-inflamatórias. Essas citocinas, principalmente o TNF-α e as IL-1 e IL-6 são as principais responsáveis pela inflamação crônica * TNF-α também inibe as células T regulatórias → Aumento do volume e da celularidade do líquido sinovial, com grande presença de polimorfonucleares, células T, macrófagos, células dendríticas e células B (são raras em sinóvia normal) → Também são encontrados macrófagos, mastócitos e células NK na membrana sinovial e neutrófilos no fluido sinovial (células da imunidade inata) *Os macrófagos são os principais causadores da sinovite. Ativados por receptores toll-like e citocinas, os macrófagos, além da realização da fagocitose e apresentação de antígenos, produzem outras citocinas (intermediários reativos de oxigênio e nitrogênio) produtoras de enzimas que degradam a matriz celular *Os neutrófilos contribuem para a sinovite através da síntese de prostaglandinas, proteases e reativos intermediários de oxigênio *Os mastócitos ativados por receptores de toll-like produzem altos níveis de aminas vasoativas, citocinas, quimiocinas e proteases, contribuindo também para a sinovite QUADRO CLÍNICO CLÁSSICO Os sintomas iniciais são nas mãos; Artrite simétrica e aditiva das articulações periféricas; Presença de sinais flogísticos nas articulações – dor, edema, rubor e aumento da temperatura Rigidez matinal prolongada (dura mais de 1 hora) – mas completamente associada com o grau de inflamação articular; Sintomas constitucionais –fadiga, diminuição da capacidade física e mental (88 a 98% dos pacientes); Principais articulações acometidas Qualquer articulação diartrodial pode ser afetada! 22 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti MANIFESTAÇÕES ARTICULARES Majoritariamente periféricas, aditivas e simétricas – poliartrite; 1) Mãos Principal área de acometimento; Início da doença: edema das articulações metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais; Doença avançada: deformidades – desvio ulnar ou cubital, dedos em pescoço de cisne e mãos em vendaval (hiperextensão das IFP’s) e em boutonière (hiperextensão das IFP’s). *Pode acontecer ruptura de tendão 23 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2) Pés Principalmente as metacarpofalangeanas; Início da doença: erosões radiográficas surgindo antes ou juntamente às das mãos. Pode ocorrer subluzação (2ª imagem – dedos por cima dos outros) com posterior ruptura e ulceração cutânea. A locomoção pode se tornar dolorosa devido à perda do coxim adiposo que protege a articulação. 3) Punhos Desvio radial é frequente; Síndrome do Túnel do Carpo devido à compressão do nervo mediano pelo edema. 4) Joelhos, cotovelos, tornozelos, quadris e ombros Superfície articular completamente afetada simetricamente; Podem ocorrer cistos sinoviais (Cisto de Baker) em qualquer articulação por acúmulo do líquido sinovial – sua ruptura causa uma pseudotromboflebite 5) C1 e C2 Mais raro; Pode acontecer subluxação – geralmente assintomática, mas se comprometer a coluna cervical pode levar o paciente a óbito 6) Articulações cricoaritenoides Sensação de plenitude, volume na garganta, rouquidão e, em casos graves, obstrução respiratória aguda alta MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES Pacientes que apresentam manifestações extra-articulares apresentam quadros mais graves; Manifestações mais comuns: nódulos e oculares; 1) Pele 20% dos pacientes apresentam nódulos subcutâneos com consistência firme (mas não duro, “fofo”) à palpação, indolores e assintomáticos – geralmente são periarticulares ou justarticular; Mão em vendaval Dedos em botoadeira (boutonière) 24 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Vasculite de pequenos vasos – pode provocar infartos digitais ou vasculite leucocitoclástica e pioderma, levando ao pioderma gangrenoso (vasculite necrotizante); 2) Olhos Ceratoconjutivite seca devido à Síndrome de Sjögren secundária – manifestação mais comum; Esclerite; Episclerite; Escleromalacia perforans; Ceropatia ulcerativa; *Geralmente tem FR positivo *A Síndrome de Sjögren é a doença mais associada – boca seca + olho seco + olho irritado 3) Neurológico Síndromes compressivas dos nervos periféricos (pelo edema sinovial) – túnel do carpo ou tarso; Neuropatia em bota ou em luva; Mononeurite multiplex (lúpica) – pés e punhos caídos Subluxação de C1-C2 com compressão medular pode causas mielopatia 4) Pulmonar Nódulos reumatoides Escleromacia perforans Vasculites Mononeurite multiplex 25 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Derrames pleurais; Nódulos reumatoides (em geral sólidos, mas podem se calcificar); Doenças parenquimatosas; Líquido pleural com menos níveis de glicose de baixo pH; Fibrose intersticial difusa; Bronquiolite obliterante (muito raro); 5) Cardiovascular Não e muito comum, mas pacientes com AR possuem risco cardiovascular aumentado – acredita ser associado à inflamação crônica; Derrames pericárdicos são comuns, mas geralmente assintomáticos; Pode ocorrer pericardite, arterite coronariana e miocardite. Obs: alguns pacientes podem ser portadores da Síndrome de Felty (AR + esplenomegalia + neutropenia) – são pacientes com AR grave e FR/ACPA positivo, podendo cursar com hepatomegalia, trombocitopenia, linfadenopatia, entre outros. O tratamento é o mesmo da AR grave. DIAGNÓSTICO Quadro clínico + Exame físico + Exames laboratoriais Existem atualmente dois critérios diagnósticos em uso: Critérios ACR –1987 Envolve sete critérios, onde quatro dos sete critérios precisam estar presentes por pelo menos 6 semanas Critérios: (1) Rigidez matinal prolongada (>1h) (2) Edema de 3 ou mais articulações (3) Edema das articulações das mãos (MCFs, IFPs ou punhos) (4) Edema simétrico (5) Nódulos subcutâneos ou reumatoides (6) Fator reumatoide positivo (7) Erosões e/ou osteopenia periarticular em articulação da mão ou punho em radiografia Critérios ACR/EU-LAR – 2010 Envolve critérios de envolvimento articular, sorologia, duração da sinovite e reagentes de fase aguda, onde a presença de ACPA é o principal fator sugestivo de AR em curso; Consegue estabelecer o diagnóstico mais precocemente – janela de oportunidade para maior êxito de tratamento; Envolvimento articular Sorologia 1 Articulação grande 0 Negativo para FR e ACPA 0 2 – 10 Articulações médias-grandes 1 Pelo menos 1 teste positivo em baixos títulos 2 1-3 Articulações pequenas 2 Pelo menos 1 teste positivo em altos títulos 3 4-10 Articulações pequenas 3 >10 articulações 5 26 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Duração da sinovite Reagentes de fase aguda <6 semanas 0 PCR e VSH normais 0 >6 semanas 1 PCR ou VSH anormais 1 EXAMES LABORATORIAIS Fator reumatoide (FR) positivo É o achado mais característico e sensível, mas pouco específico porque é encontrado em outras patologias *FR está presentem em 80% dos acometidos da artrite reumatoide *FR (–) não afasta diagnóstico de ar! Anticorpo antipeptídeo citrulinado (ACPA) Menor sensibilidade (75%) mas alta especificidade para AR (93-98%); Tem valor diagnóstico e de prognóstico porque sua presença está associada a quadros mais graves, particularmente o ACPA (doença erosiva grave); *Cerca de 15% dos pacientes com AR possuem FR e ACPA negativos Outros anticorpos - Anticorpo antinuclear, presente em 30% dos pacientes; - Anticorpo anticitoplasma de neutrófilos do tipo perinuclear, presente em 30%; *Anti-CCP (–) não afasta a AR; também não é disponibilizado pelo SUS Anemia de doença crônica De grau proporcional à atividade da doença PCR e VHS São reagentes de fase aguda – acompanham a atividade da doença, logo, sua elevação persistente indica pior prognóstico, tanto em dano articular quanto de mortalidade Análise do líquido sinovial Leucócitos entre 5.000 a 100.000/mm3, com predomínio de polimorfonucleares Obs: se o paciente for portador da síndrome de Felty, sua contagem leucocitária estará diminuída EXAMES DE IMAGEM Radiologia Mais solicitado para diagnóstico e acompanhamento; Principais alterações: aumento das partes moles periarticulares, osteopenia periarticular, redução dos espaços articulares, erosões marginais, subluxação e anquilose óssea. Inicialmente é solicitada uma primeira radiografia para diagnóstico e, após 6 meses, uma segunda para avaliar a evolução e possível necessidade de iniciar um tratamento diferente – a partir dessas, são feitas anualmente. A coluna cervical deve ser avaliada periodicamente para descartar subluxações. 27 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti USG e RNM Podem identificar precocemente erosões e sinovites; RNM – alta sensibilidade e boa capacidade de análise de valor prognóstico das lesões (edema ósseo prediz evolução para erosão); USG – é mais barata e prática (mais solicitada). Atualmente se solicita mais USG com doppler (observa a movimentação da sinóvia) DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DA ARTRITE REUMATOIDE Comuns Incomuns Raras Espondiloartropatia soronegativa, espondilite anquilosante e artrite reativa Artrite associada a contraceptivosorais Sinovite soronegatica simétrica recorrente aguda e edema periférico (RS3PE) Doença de deposição do pirofosfato de cálcio Febre miliar do Mediterrâneo Linfadenopatia angioimunoblástica Doenças difusas do tecido conectivo Endocardite bacteriana Camptodactilia vilonodular pigmentada Síndrome da retirada do corticoide Osteoartropatia hipertrófica Sìndrome da hipereosinofilia com artrite Polimialgia reumática e artrite de células gigantes Artrite da doença tireóidea Reticulohistiocitose multicêntrica Doença de Lyme Hemocromatos Amiloidose HIV Hemoglobinopatias Malignidade Síndrome da fadiga crônica Artropatia hemofílica Síndrome de Sweet Fibromialgia Hiperliporpoteinemia Doença de Thiemann Gota Periartrite calcificada Artrite infecciosa Policondrite Hidrartrose intermitente Febre reumática Osteoartrose Sarcoidose Doença de Parkinson *Anamnese + Palpação + Exame de imagem! Erosão no ombro 28 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti PIORES PROGNÓSTICOS → Soropositividade (FR+ e alto) → Presença de nódulos reumatoides → Envolvimento de múltiplas articulações → FAN+ - mostra imunogenicidade maior → Início da doença em idade avançada → Início da doença em idade precoce → RX – erosões e desgastes de cartilagem → Presença de Anti-CCP - anticorpo TRATAMENTO Objetivo: remissão sustentada da doença A remissão da doença é medida por índices como ICAD e HAQ. Tem início com a educação do paciente e de seus familiares devido à inevitabilidade da dependência. O acompanhamento multidisciplinar é necessário, preferencialmente sob a orientação do reumatologista → Mudanças de hábitos de vida – cessar tabagismo, incentivar atividade física, reduzir uso de álcool e o peso; → Monitoramento e tratamento de comorbidades associadas – HAS, DM, dislipidemia e osteoporose; → Fisioterapia e terapia ocupacional TRATAMENTO INICIAL Doses baixas de glicocorticoides (até no máximo 15mg de prednisona), analgésico e AINEs para tratamento sintomático *Doses altas de glicocorticoides só são indicadas para o tratamento de manifestações extra articulares ameaçadoras, como vasculite e neurite Medicamentos modificadoras do curso da doença (MMCD não biológicas) Hidroxicloroquina (HCQ) ou Sulfassalazina Repor vitamina D É necessário atualização da vacinação e contracepção para mulheres candidatas ao uso de MARMDs Acompanhamento cardiovascular MEDICAMENTOS MODIFICADORES DO CURSO DA DOENÇA NÃO-BIOLÓGICOS (MMDC) 1) Hidroxicloroquina 2) Sulfassalazina 3) Metotrexano é considerado o MMCD mais bem tolerado – reduz sinais e sintomas de atividade de AR e melhora o estado funcional do paciente 4) Leflunomida reduz a progressão radiológica. Está contraindicada em mulheres em idade fértil com insuficiência renal e hepatopatias 5) Azatioprina (usada em casos excepcionais) 29 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti MEDICAMENTOS MODIFICADORES DO CURSO DA DOENÇA BIOLÓGICOS (MMCDBIO) 1) Bloqueadores de TNFα → Adalimumabe, Etanercepte, Golimumabe, Infliximabe *Infecções – TB, neoplasias 2) Depletores de linfócito B → Rituximabe 3) Anti-IL6 → Tocilizumabe 4) Pequenas moléculas intra celulares inibidores da JAK → Tofacitinb, Baricitinib, Upadacitinib PROTOCOLO 1ª LINHA DE TRATAMENTO MUNDIAL Monoterapia de MMCDs não biológicos, onde: - 1ª escolha – Metotrexato (MXT) VO Como o MXT está associado a hepatotoxicidade e efeitos gastrointestinais, recomenda-se a prescrição de ácido fólico durante o tratamento em 24-36 horas após a tomada do MXT *É considerado o MMCD mais bem tolerada e reduz sinais e sintomas de atividade da AR e melhora o estado funcional - 2ª escolha – Leflunomida (LEF), sulfassalazina (SSZ) ou hidroxicloroquina (HCQ), sendo a HCQ não recomendada em monoterapia, a não ser para casos extremamente leves com fatores negativos e sem fatores de pior prognóstico *Leflunomida (LEF) não é mais utilizado no Brasil no serviço público ou privado – promovia redução da progressão radiológica; está contraindicada em mulheres em idade fértil e pacientes com insuficiência renal e hepatopatias Após 3 meses, caso haja falha terapêutica: Terapia dupla ou tripla de MMCDs não biológicos Mais recomendadas o MXT ou LEF com HCQ e/ou sulfassalazina 2ª LINHA DE TRATAMENTO MUNDIAL (MAIS CARO) Utilizada em casos de falha de pelo menos dois esquemas terapêuticos de 1ª linha com duração de 3 meses cada um; Terapia de MMCDs biológicos Recomenda-se abatacepte, adalimumabe, certolizumabe pegol, etanercepte, golimumabe, infliximabe, rituximabe, tocilizumabe e tofacitinibe – não existe diferença significativa entre segurança e eficácia desses tratamentos, então não há preferência; Devem ser prescritos em associação com o MTX ou outro MMCDs de 1ª linha em casos de contra-indicações *Primeiro se prescreve o Anti-TNFα; precisa observar relações com doenças desmielinizantes *São anti-TNFα o certolizumabe pegol, golimumabe, infliximabe, etanercepte e adalimumabe, e não anti- TNFα o abatacepte e tocilizumabe 3ª LINHA DE TRATAMENTO MUNDIAL (MAIS CAR0) Usada em falha terapêutica ou toxicidade da segunda linha. Após 3 meses de MMCDbio (em monoterapia ou combinada com MMCD), havendo persistência da atividade da doença, deve-se usar outro esquema de MMCDbio (anti-TNFα ou não anti-TNFα). Se possível, associar a um MMCD sintético, preferencialmente o MTX. Outro anti-TNFα com ou sem MTX ou; outro não anti-TNFα com ou sem MTX ou; Tofacitinibe 30 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti CASO CLÍNICO L.M.A Sexo feminino, 43 anos, solteira, costureira, natural e procedente de Recife. QPD: Dores e inchaços nas mãos e joelhos há 01 ano. HDA: Relata que há quase 02 anos, começou a apresentar muita dor nas mãos e joelhos, as quais aumentaram há 01 ano com surgimento de “inchaço”. Procurou atendimento no Postinho, quando foi prescrito AINH o qual pouco melhorou suas dores. Encontra-se em uso de prednisona 20mg dia em dias alternados, nos últimos 03 meses, por indicação de uma colega de trabalho, cuja mãe tem reumatismo. Refere piora das dores pela manhã e sentir muita fadiga, limitando muito a realização de suas atividades habituais em casa, bem como no seu trabalho. IS: Fadiga; Rigidez matinal superior a 1 hora; Tosse seca; Nega lesões de pele; FEN; Ciclos menstruais irregulares. AOA: Além das queixas em membros superiores e joelhos, também sente os mesmos sintomas álgicos nos pés, mas não refere aumento de volume. Antecedentes Pessoais: NDN. Nega outras doenças e uso de outros fármacos, exceto a prednisona de forma regular. Tabagista há muito tempo, tendo reduzido a quantidade nos últimos meses. Familiares: Mora com a mãe e um sobrinho em domicílio com saneamento básico. Nega casos semelhantes na família Exame físico: Egeral bom, descorada +/4, hidratada, orientada, extremidades aquecidas e bem perfundidas. AR: MV presente sem RA; ACV: RCR2T sem sopros; FC=80bpm; PA= 110x 70 mmHg; AD: sem particularidades AOA: edema, calor e dor à mobilização de punhos bilateralmente. Aumento de volume em MTCFs principalmente na mão direita, dor à palpação em IFP (2, 3, bilateralmente), dor à mobilização de ambos os joelhos (extensão e flexão), com aumento de volume e calor. Presença de tumoração mole e indolor na região proximal do cotovelo direito. 31 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti CDAI: ________________________________________________________________________________________ Após a leitura do caso, responda: 1) Você tem uma HD? Artrite reumatoide 2) Quais achados da história e exame clínicos estão relacionados ao seu diagnóstico? Dor, calor e aumento em MTCFs bilateralmente; rigidez matinalcom tempo superior a 1h; edema; dor ao movimento, causando limitações; nódulo reumatoide mole em cotovelo 3) Você solicitaria algum exame complementar? Cite. Pode ser solicitado exames de imagens como raio-X, RM, USG e TC, e sorologia para avaliação do Fator Reumatoide, presença de anticorpos contra peptídeo citrulinado cíclico (PCC), além de VHS e proteína C reativa. 4) O que você esperaria encontrar nos exames? Espera-se encontrar um valor elevado dos anticorpos de FR, de velocidade de homossedimentação (VHS) elevado, Proteína C reativa alta, e presença de anticorpos anti-PCC. Já nas radiografias pode se encontrar uma diminuição da densidade dos ossos perto das articulações, que é denominada desmineralização periarticular. 5) Teria alguma outra possibilidade diagnóstica? Gota e osteoartrite, pois os achados no exame físico são parecidos. AR extra-articular também pelos sintomas inespecíficos e manifestações além das articulações. 6) A queixa respiratória poderia estar relacionada com o seu diagnóstico? Caso sim, qual alteração você poderia mencionar? Sim, pois a paciente relatou fadiga e tosse seca que se encaixam como manifestações extra-articulares da AR. No pulmão pode se manifestar com derrames pleurais, nódulos reumatoides, e líquido peural com baixos níveis de glicose e de pH. 32 Aula 08 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO É uma doença inflamatória crônica, autoimune, de etiologia pouco conhecida, decorrente de um desequilíbrio do sistema imunológico e da produção de autoanticorpos dirigidos contra proteínas do próprio organismo. Isso provoca a formação de imunocomplexos que, ao se depositarem em vasos de pequeno calibre, resultam em vasculite e disfunção do local acometido. Clinicamente, apresenta períodos de exacerbação da atividade inflamatória, intercalados com remissão parcial ou completa dos sintomas. EPIDEMIOLOGIA → Mais prevalente em mulheres (9 mulheres: 1 homem) jovens em menacme → A morbidade é maior em homens → Pode manifestar-se em qualquer idade, mas é mais comum entre 20 e 45 anos → É de 3 a 4x mais frequente nos afro americanos do que nos caucasianos *Nos negros africanos é raro → Brasil – incidência aproximada de 4,8 a 8,7 casos por 100.000 habitantes/ano → EUA – incidência entre 1,8 a 7,6 por 100.000 pessoas/ano → Europa – incidência entre 3,3 a 4,8 por 100.000 pessoas/ano → Europa + América Central – incidência de 20 a 200 por 100.000 pessoas 33 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti ETIOPATOGENIA Acredita-se que o LES decorre de uma interação entre fatores genéticos e ambientais; Em qualquer interação entre fatores genéticos e ambientais há presença de receptores de reconhecimento de padrões moleculares anômalos (TLR = toll-like-receptor); Fatores: Genéticos → Agregação familial → Ocorrência em 25 a 50% de gêmeos monozigóticos → Associação com HLA-DR2 e HLA-DR3 → Deficiência hereditária de componentes do complemento Ambientais → Exposição à luz solar → Estresse → Fármacos → Agentes infecciosos Hormonais → Predomínio em mulheres jovens → Exacerbação da doença na gravidez → Incidência maior na puberdade após a menarca FATORES GENÉTICOS → Deficiência dos componentes iniciais (C1q, C2 e C4), sendo a deficiência de C1q o fator mais fortemente associado ao LES → Deficiência do receptor Fc de imunoglobulinas, altamente associado a nefrite lúpica por depósito de imunocomplexos → Polimorfismos do fator regulador de interferon (IRF5) – levam a um aumento da produção de interferon tipo 1, exacerbando a ação da imunidade inata → Presença de HLA-DR2 e DR3 que aumentam o risco de LES em 2 a 3x → Deficiência nos mecanismos de autorregulação do sistema imune, como deficiência na produção de IL-2, TGF- β ou outras citocinas, levando a uma ativação exagerada do sistema imune FATORES AMBIENTAIS → Exposição aos raios UV, principalmente do tipo B → Hormônios sexuais como androgênios e progestógenos – pacientes em uso de anticoncepção oral ou terapia de reposição hormonal (TRH) possuem risco aumentado de desenvolver LES → Medicamentos que geram o “lúpus farmacoinduzido” – indução da desmetilação do DNA, provocando uma expressão exagerada de genes *Síndrome lúpus-like – podem ser causadas por hidralazina, procainamida, isoniazida, fenitoína, clorpromazina, d-penicilamina, metildopa, quinidina, interferon-α e agentes anti-TNFα (utilizada no tratamento de hepatite C e artrite reumatoide, respectivamente) → Tabagismo → Exposição à sílica → Agentes microbiológicos, principalmente vírus, que podem promover modificações antigênicas e simular auto antígenos, desencadeando doenças autoimunes 34 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti FISIOPATOLOGIA Consiste em falha na regulação imunológica. A falha na regulação leva à perda da tolerância imunológica, ativação policlonal de linfócitos B, produção de auto-anticorpos e falha nos mecanismos supressores e de regulação imunológica; Redução da função das células T supressoras, podendo haver alteração na apoptose ↓ Ativação policlonal de linfócitos B ↓ Produção de auto-anticorpos “Grande vasculite” – todo o acometimento sistêmico se dá a partir da deposição de imunocomplexos nos vasos e seu consequente acúmulo das estruturas do organismo QUADRO CLÍNICO Sintomas constitucionais são frequentes: mal estar, fadiga (90%); queda do estado geral, febre (80%); e perda ponderal (60%); Suspeitar em casos de dor articular, rigidez, sinovites fugazes e artrites deformantes não-erosivas (artropatia de Jaccoud) ou erosivas (Rhupus); As manifestações clínicas podem ser: de pele e mucosas, articulares e musculares, renais, pulmonares, psiquiátricas, neurológicas, hematológicas, gastrointestinais e oculares. PELE E MUCOSAS Biópsia – presença de dermatite de interface (infiltrado inflamatório distribuído ao longo da junção dermoepidérmica) Se dividem em: Agudas → Rash malar, lesão em “asa de borboleta” Erupção em região malar, sobre as bochechas e o nariz, elevada, podendo ser dolorosa e pruriginosa; Ausência de pápulas e pústulas; Não acomete os sulcos nasolabiais; 35 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Frequentemente precipitada por exposição solar – fotossensibilidade associada a presença de anticorpo anti-Ro; Pode durar horas a dias; Evento recorrente; Subagudas → Lupus cutâneo subagudo – entidade distinta que pode estar associada ou não à forma sistêmica do lúpus; Erupção papuloescamosa (lenticular) que simula psoríase ou lesões eritematoanulares, policíclicas, que simulam eritema anular centrífugo – lesões cutâneas eritematosas e descamativas difusas, não ulcerativas; Predominam em MMSS e parte superior do tronco, sendo a face geralmente poupada; Comum: envolvimento do dorso das falanges poupando os nós articulares interfalangianos (espelho de Gottron da polimiosite) Frequentemente desencadeadas por exposição solar e acompanhadas por sintomas musculares, além de anormalidades sorológicas (anti-Ro) Crônicas → Lupus discoide Pode ocorrer tanto na ausência de manifestações sistêmicas quanto como parte de um quadro clássico; Placas eritematosas, infiltradas e hiperpigmentadas, que evoluem lentamente com cicatriz despigmentada e atrófica, principalmente no centro da lesão; Costuma deixar cicatrizes, incluindo alopecia irreversível; Há predomínio na face, pescoço, couro cabeludo e pavilhão auricular; 36 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti → Forma rara de lúpus cutâneo crônico – Paniculite de Kaposi Nódulos firmes e dolorosos no tecido subcutâneo; Lúpus profundo: quando a paniculite estápresente abaixo de uma região com lúpus discoide na superfície Lesões de pele não específicas do LES - Alopecia não discoide (40-70%) - Livedo reticular (vasoespasmo das arteríolas ascendentes da derma intercalado com regiões onde essas arteríolas estão dilatadas) - Lúpus bolhoso VASCULARES → Vasculite cutânea (20%) Lúpus bolhoso Lupus eritematoso cutâneo crônico hipertrófico – nódulos e placas eritemato-descamativas e hiperqueratósicas disseminadas 37 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti → Fenômeno de Raynaud → Teleangiectasias → Úlceras mucosas (podem der orais e nasais – tipicamente não doem) *Consistem em critério diagnóstico da doença ARTICULARES E MUSCULARES → Poliartrite e mialgias (95%) *A artrite lúpica geralmente segue um padrão simétrico, distal e migratório, com sintomas durando de 1 a 3 dias em cada articulação. O paciente apresenta rigidez matinal inferior a 1 hora e, geralmente, possui pouco ou nenhum derrame articular. As articulações mais envolvidas são mãos, punhos e joelhos. Obs: Artrite é critério diagnóstico, mas a artralgia não. → Artroparia de Jaccoud (10%) → Osteonecrose ou necrose óssea vascular (15%) Deve ser suspeitada em pacientes com dor persistente – ocorre geralmente no quadril após a resolução de um quadro de poliartrite → Miopatia/miosite (5%) RENAIS Achados: → Proteinúria > 500mg/24 horas ou ≥ 3+ no EAS (50%) → Identificação de cilindros celulares no sedimento urinário (50%) NEFRITE LÚPICA Glomérulos – principais alvos; Causada por deposição de imunocomplexos DNa/anti-DNA; Cerca de 10% dos pacientes com nefrite lúpica evoluem para insuficiência renal terminal após 5 anos de evolução; Observam-se depósitos granulares mesangiais de Ig A (1+/3+), Ig G (2+/3+), Ig M (2+/3+), fibrinogênio (2+/3+), fatores C3 (2+/3+) e C1q (1+/3+) do complemento Fenômeno de Raynaud 38 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti PULMONARES → Pleurite lúpica (50%) Embora possa haver derrames maciços, a dor pleurítica é mais comum do que o achado radiográfico de derrame pleural O derrame é mais comumente bilateral, sendo sempre um exsudato com níveis de glicose geralmente normais → Pneumonite lúpica (10%) Pode causar febre, tosse, dispneia e hemoptise *Quando um paciente com LES desenvolve um quadro pneumônico, até que se prove o contrário, deve-se a infecção (pneumonia) → “Síndrome do pulmão contraído” – raro CARDÍACAS → Pericardite (30%) Mais frequente → Miocardite (10%) → Endocardite de Libman-Sacks (10%) Associação com SAF Forma verrucosa e não bacteriana de endocardite ou vasculite cardíaca; Ocorre principalmente na valva mitral (face atrial) e menos frequente na valva aórtica (face arterial); Pode levar à embolia pulmonar – complicação mais grave; O tratamento não costuma ser eficaz nesse caso → Coronariopatia (10%) LES é fator de risco cardiovascular PSIQUIÁTRICAS Cerca de 50% dos casos de LES apresentam alguma disfunção cognitiva – geralmente leve; → Psicose lúpica (24 a 59% dos casos) Geralmente no 1º ano de doença – quadro de delirium → Distúrbios do humor 39 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Obs: Autoanticorpo anti-P – associado com o desenvolvimento de quadros psicóticos e depressivos → Demência lúpica Fase mais avançada do quadro – é raro NEUROLÓGICAS Pode acontecer isoladamente, mas geralmente ocorre na vigência de um quadro sistêmico → Cefaleia seguida de convulsões (25%) → AVE isquêmico (10%) → AVE hemorrágico → Distúrbios dos movimentos → Neuropatia periférica (15%) → Mielite transversa (< 1%) → Meningite asséptica (< 1%) → Mononeurite simples ou múltipla HEMATOLÓGICAS → Anemia normocítica e normocrônica associada à aumento de VHS (70%) Causada por eritropoese deficitária e bloqueio da disponibilização de ferro – comum em doenças crônicas → Anemia hemolítica autoimune com Coombs direto POSITIVO (10%) *Único tipo de anemia considerada nos critérios de classificação do LES → Trombocitopenia autoimune leve (15 a 25%) → Plaquetopenia grave (>50.000plaq/mm3) (menos de 10%) → Síndrome de Evans Anemia imunohemolítica + trombocitopenia autoimune → Leucopenia autoimune (< 4000/mm3) *É critério diagnóstico de LES e parâmetro de atividade da doença → Linfopenia autoimune (< 1500/mm3) Obs: Neutropenia não é achado comum → Linfadenopatia cervical ou generalizada Risco 4 a 5x maior para malignidades hematológicas → Esplenomegalia *Baço em casca de cebola – lesão fibrosa histológica ao redor das artérias e arteríolas esplênicas – SINAL PATOGNOMÔNICO DA LES → Coagulopatias (5 a 15%) GASTROINTESTINAIS → Peritonite (serosite) → Vasculite mesentérica Complicação: infarto intestinal → Pancreatite → Hepatomegalia Não há lesões hepáticas significativas; Pode haver ↑ das enzimas hepáticas, principalmente aminotransferases *Para diferenciar de hepatite autimune – presença do anticorpo anti músculo liso (anti-LKM1) OCULARES → Ceratoconjuntivite seca Pode apresentar ou não associação à xerostomia (Síndrome de Sjögren) → Vasculite retiniana Complicação rara, mas muito grave; 40 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti *Diagnóstico: presença de sinais algodonosos na fundoscopia (presença de corpos citoides) DIAGNÓSTICO Nenhuma alteração clínica ou laboratorial, isoladamente, faz o diagnóstico de LES; 2012 – Critérios do SLICC (Systemic Lupus International Collaborating Clinics) Precisam estar presentes: 4 ou mais dos 17 critérios, sendo, pelo menos, 1 critério clínico e, pelo menos, 1 critério imunológico OU Biópsia renal demonstrando nefrite lúpica + positividade para algum anticorpo presente na doença CRITÉRIOS CLÍNICOS CRITÉRIOS IMUNOLÓGICOS LUPUS ERITEMATOSO NEONATAL Doença imunológica caracterizada pela presença de anticorpos maternos IgG específicos anti-Ro*, anti-La e anti-U1RNP; A criança pode desenvolver bloqueio cardíaco congênito; As alterações de pele desaparecem após mais ou menos 9 meses (tempo de depuração dos anticorpos maternos). SÍNDROME ANTIFOSFOLÍPEDES - SAF É uma doença autoimune, definida pela presença dos anticorpos antifosfolipídeos (APAs), juntamente com uma manifestação clínica da doença - Trombose arterial e venosa - Perdas fetais de repetição Livedos reticulares 41 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Lúpus cutâneo agudo – incluindo: eritema malar (não discoide), lúpus bolhoso, necrólise epidérmica tóxica – variante lúpus, eritema maculopapular, eritema fotossensível do lúpus ou lúpus cutâneo subagudo (psoriasiforme/anular) FAN Hep2 positivo Lúpus cutâneo crônico - lúpus discoide, lúpus hipertrófico/verrucoso, lúpus profundus (paniculite), lúpus túmido, lúpus mucoso, sobreposição líquen plano/lúpus discoide Anti-DNAds positivo Úlceras orais ou nasais - palato, cavidade oral, língua ou úlcera nasal (na ausência de outras causas) Anti-Sm positivo Alopecia não cicatricial Anticorpos antifosfolipídios positivo: anticoagulante lúpico positivo, anticardiolipina positivo (título moderado/alto – IgA/IgM/IgG), VDRL falso positiva, anti-α2 glicoproteína 1 positivo Doença articular Artrite/Artralgia - Sinovite (edema/derrame articular) ≥ 2 articulações - Artralgia (dor) em 2 ou + articulações com rigidez matinal ≥ 30 min Hipocomplementemia - Complemento baixo: C3, C4, CH50 Serosite - Pleurite (dor ≥ 1 dia/derrame pleural/atrito pleural) - Pericardite (dor ≥ 1 dia/derrame/atrito/alterações ECG) Coombs direto positivo (na ausência de anemia hemolítica) Nefrite: proteinúria 24h > 500mg ou relação prot/creat > 500 mcg/mg (mg/g), cilindro eritrocitário Manifestações neurológicas:convulsão, psicose, mononeurite múltipla, mielite, neuropatia periférica/craniana, estado confusional agudo (na ausência de outras causas) Anemia hemolítica Leocupenia (<4.000/mm3, em pelo menos uma ocasião) ou linfopenia (<1000/mm3, em pelo menos uma ocasião) Plaquetopenia (<100.000/mm3, em pelo menos uma ocasião) MANIFESTAÇÕES LABORATORIAIS Podem ser não específicas e específicas: NÃO ESPECÍFICAS 1) Proteína C reativa – normal ou pouco elevada 2) Hipocomplementemia devido à consumo de fatores do complemento 3) Fator antinuclear (FAN) – pode ser usado como teste de triagem, sendo considerado significativo quando em valores ≥ 1:80 *Possui alta sensibilidade, mas não é específico – é um teste que avalia a presença de um ou mais anticorpos contra vários constituintes celulares. A interpretação do padrão da imunofluorescência acrescenta maior especificidade ao exame ao sugerir o tipo de autoanticorpo presente. No lúpus, existe o padrão nuclear homogêneo (ou difuso), pontilhado (ou salpicado) e o de fluorescência ESPECÍFICAS Autoanticorpos específicos – divididos em antinucleares, anticitoplasmáticos, antimembrana celular e antifosfolipídio 42 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Nome do anticorpo Classificação Características Anti-DNA Antinuclear - Anti-DNA dupla hélice: muito específico para LES – demonstra atividade da doença e associasse e com nefrite lúpica; - Anti DNA hélice única (inespecífico) Anti-Sm (Smith) Antinuclear É altamente específico para LES e seus níveis não se alteram com mudanças na atividade da doença Anti-RNP (Ribonucleopr oteina) Antinuclear Presente em 40% dos casos de LES Anti Ro (SS-A) e Anti-La (SS-B) Antinuclear Geralmente aparecem em conjunto; Ambos são associados a Síndrome de Sjogren; Anti-Ro também está presente no lúpus cutâneo subagudo e geralmente presente nos raros casos de LES com FAN negativo; Ambos possuem correlação negativa com a nefrite lúpica Anti-histonas Antinuclear Bastante relacionados a lúpus induzido por drogas 43 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Anti-P Anti- citoplasmático Se correlacionam com psicose lúpica e depressão Antilinfócito Antihemácia Antiplaqueca Antineuronais Anticorpo antimembrana Anti- coagulante Lúpico Anti-β2 Glicoproteína Antifosfolipídios Marco para a Síndrome Antifosfolipídio Pesquisa - Hemograma, sedimento urinário, complemento (C3, C4 e CH50), eletroforese de proteínas; - Anticorpos antinucleares (AAN, FAN) - Anticorpos anti-DNA nativo - Anticorpos anti-Sm - Anticorpos antifosfolípides - Níveis séricos de interleucinas, especialmente IL6, IL10 e IL16 - Biópsia renal (é mandatória para poder classificar a nefrite lúpica) TRATAMENTO Objetivo: Controle dos sintomas, prevenção e/ou redução das complicações e aumento da sobrevida do paciente Deve ser adaptado para a realidade de cada paciente MEDIDAS GERAIS → Repouso relativo (10 horas de sono por noite + cochilo pela tarde) – quanto mais ativa a doença, maior a fadiga e consequentemente a necessidade de repouso → Atividades físicas apropriadas ao momento clínico da doença *Evitar exaustão → Uso de protetor solar de preferência > 30 FPS para proteção contra a luz UV → Evitar estresse → Medidas que reduzam o risco cardiovascular – tratamento adequado da HAS, glicemia, perfil lipídico e tratamento de dislipidemia, dieta saudável e abandono do tabagismo → As sulfonamidas costumam ser mal toleradas (existem poucas evidências de que pacientes lúpicos não possam utilizar medicamentos que podem causar lúpus farmacológico) → Vacinas antipneumocócica e anti-influenza inativadas são seguras para administração TERAPIA MEDICAMENTOSA 1. Para comprometimento articular a. AINH (antiinflamatórios não-hormonais) b. Prednisona em doses baixas c. Antimaláricos ou metotrexato 2. Para comprometimento de serosas a. AINH b. Prednisona c. Em serosites crônicas – imunossupressores 44 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 3. Para lúpus eritematoso sistêmico a. AINH – sintomáticos b. Corticosteroides – em crises severas e para tratamento de manutenção (baixas doses) c. Drogas imunossupressoras (azatioprina, metrotexato, ciclofosfamida etc.) – em crises severas, junto aos corticosteroides d. Tratamentos adicionais – para hipertensão, infecções, lúpus cerebral, trombose e desordens hematológicas 4. Para comprometimento hematológico a. Prednisona – 0,5 a 1mg/kg/dia b. Pulsoterapia com metilprednisolona (1g/IV/dia por 3 dias consecutivos) – casos de plaquetopenia ou anemia hemolítica grave c. Imunoglobulina endovenosa d. Esplenectomia 5. Para comprometimento renal e neurológico a. Pulsoterapia com metilprednisolona b. Pulsoterapia com ciclofosfamida *Traz comprometimento para a bexiga (muito associado à CA de bexiga devido ao seu tropismo) c. Azatioprina d. Micofenolato mofetil e. Biológicos rituximabe f. *Terapia de resgate, quando o paciente não responde à ciclofosfomida (anti-CD20 – “adormece” a célula B; antes precisa dosar a IgG porque tende a provocar uma queda grande dessa imunoglobulina) g. Belimumabe *Não atua nas manifestações mais graves da doença EXPLICAÇÃO DO USO DAS TERAPIAS MEDICAMENTOSAS 1) Antimaláricos - Hidroxicloroquina (até 400 mg/dia ou 5 mg/kg/dia) ou cloroquina (250-500mg/dia) são utilizadas para controle de manifestações dermatológicas, fadiga e episódios de artrite - Exame oftalmológico inicial com acompanhamento anual (trimestral, se usada cloroquina) → toxicidade retiniana dependente de dose cumulativa - Ajudam a reduzir os índices de recidivas e permitem poupar corticoides, além de ter efeito antitrombótico e hipolipemiante, auxiliando na redução do risco cardiovascular - Pacientes com LES em remissão utilizam antimaláricos em doses profiláticas por tempo indeterminado (200mg, 3x por semana de hidroxicloroquina) visto que a suspensão dessa medicação comprovadamente se associa a um aumento nas taxas de recidiva da doença 2) AINEs - Usados no controle das manifestações musculoesqueléticas e atuação nas serosites - Pacientes lúpicos são mais propensos do que a população em geral a desenvolver hipertensão arterial induzida (ou agravada) por AINEs*** - Caso haja sinais de nefrite lúpica, os AINEs devem ser interrompidos imediatamente 3) Corticoides - Pode ser utilizado em formulações tópicas, intralesionais, orais e parenterais, sendo sua ação dose dependente. - Baixas doses → anti-inflamatório - Altas doses → imunossupressão - Aumenta o risco do paciente lúpico a desenvolver osteoporose. Portanto é recomendado a reposição de cálcio e vitamina D nas pacientes em menopausa e em todos os usuários de corticoide 45 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti - Paciente em uso de corticoide em doses ≥ 5 mg/dia de prednisona por mais de 3 meses devem receber doses profiláticas de bifosfonados (ex.: alendronato 35mg/semana) - Sempre que um paciente for candidato à pulsoterapia com metilprednisolona, existe um alto risco de estrongiloidíase disseminada (ou síndrome da hiperinfecção) em pacientes previamente infestados pelo parasita intestinal S. stercoralis. Para prever tal situação pode-se administrar tratamento empírico com ivermectina (200 mcg/kg por dois dias consecutivos). Para a síndrome de hiperinfecção, o tratamento deve ser estendido por 7 a 10 dias ou até negativação das amostras fecais 4) Citotóxicos - Ciclofosfamida, micofenolato e azatioprina geralmente são empregados em associação aos glicocorticoides no tratamento das manifestações graves da doença, como glomerulonefrites proliferativas 5) Belimumab - Anticorpo monoclonal, totalmente humano, que inibe a atividadedo fator estimulador de linfócitos B (BLys ou BAFF), uma citocina envolvida na patogênese do LES - Deve ser utilizado na seguinte dosagem: 10 mg/kg IV, a cada duas semanas nos 3 primeiros ciclos, seguidos de 10 mg/kg IV mensal EXAMES DE ACOMPANHAMENTO EXAMES SOLICITADOS PARA O ACOMPANHAMENTO DOS LES Anti-DNA e complemento Hemograma, função hepática e função renal Perfil osteometabólico Albumina VSH e PCR Urina I com pesquisa para dismorfismo eritrocitário Relação proteína/creatinina CASO CLÍNICO 1) Mulher, 50 anos, hipertensa há 03 anos, desenvolve eritema malar fotossensível, poliartrite aguda e leucopenia. Comparece ao Postinho e você a atende constatando o quadro referido pela paciente. Cite 03 fármacos envolvidos no Lupus induzido por droga. Isoniazida, fenitoína e clorpromazina 2) Referente ao lúpus eritematoso sistêmico (LES), assinale a alternativa correta. I) O acometimento pulmonar mais frequente é a Pneumonite lúpica com hemorragia pulmonar; Acometimento pulmonar mais frequente – pleurite lúpica (derrame pleural – exsudato com níveis de glicose geralmente normais) II) A luz ultravioleta causa surtos agudos da doença, por aumentar a apoptose de células da pele; A exposição solar determina a apoptose de queratinócitos com subsequente expressão de moléculas, como RNP, Ro, nucleossoma e fosfolipídeos nos corpúsculos apoptóticos. Também há secreção de citocinas, como IL-1, IL-6 e TNF- α, com amplificação da resposta imune e ativação de macrófagos, além de processamento de antígenos, o que desencadeia uma resposta inflamatória sistêmica – 70% dos pacientes III) O acometimento hematológico mostra anemia hemolítica; leucopenia; linfopenia e plaquetopenia; 46 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti IV) A observação de vasculite no palato é muito associada à atividade da doença mesmo em pacientes assintomáticos. Vasculite é uma lesão não específica de LES – acomete 20% dos pacientes. V) A anemia normo/normo é a mais frequente. a) VVVVV b) VVFFF c) VFVFF d) FVVVV e) FFFVF 3) Paciente sexo feminino, 35 anos, vendedora de côco na praia de BV, começa a apresentar alopecia, lesões na face avermelhadas, dores e inchaços nas mãos, punhos e joelhos, que surgiram há 04 meses. Nota piora progressiva dos sintomas e apresenta muita fadiga. Refere 02 abortamentos espontâneos. Qual sua HD e quais exames você solicitaria nesta primeira consulta? Lupus eritematoso sistêmico Exames: hemograma e leucograma + uroanálise + FAN + Coombs direto + eletroforese de proteínas *Leucopenia autoimune indica atividade da doença *Anemia hemolítica autoimune com Coombs direto positivo – critério diagnóstico de LES 4) Quais as alterações você esperaria encontrar nos exames solicitados? Hemograma e leucograma – anemia hemolítica, leucopenia, plaquetopenia Uroanálise – proteinúria 24h > 500mg ou relação proteína/creatinina > 500mcg/mg (mg/g), e cilindro leucocitário FAN – alto ≥ 1:80 Coombs direto – positivo Eletroforese de proteínas – aumento da faixa gama 5) Marque a resposta correta no tocante ao LES: a) As manifestações cutâneas crônicas são caracterizadas por eritema malar fotossensível e alopecia; (agudas) b) A hipertensão arterial é manifestação pouco frequente, em pacientes com nefrite; c) Lesão discóide e fenômeno de Raynaud são critérios cutâneos usados para classificação do Lúpus Sistêmico (Raynaud é não específica de LES) d) Dentre os critérios imunológicos encontra-se FAN, presença de anticorpo antifosfolípide e aumento da fração gama na eletroforese das proteínas. e) Todas as respostas estão incorretas 47 Aula 10 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti ESPONDILOARTRITES Espondiloartrites ou Espondiloartropatias Soronegativas representam um grupo de doenças inflamatórias multissistêmicas distintas, mas que apresentam características em comum, especialmente quanto ao tipo de lesão patológica básica, às formas de apresentação clínica e alguns achados laboratoriais. Fazem parte desse conjunto: 1) Espondilite Anquilosante 2) Artrite Reativa (associada a doenças infecciosas, incluindo a Síndrome de Reiter) 3) Artrite Psoriásica (associada à Psoríase) 4) Artritopatia Enteropática (associadas à doença de Crohn, Retocolite Ulcerativa, doença de Whipple, entre outras) 5) Espondiloartrite de início na juventude 6) Espondiloartropatias Indiferenciadas (indivíduos que não desenvolvem a doença completamente) Características em comum: a) Artrite, com preferência ao acometimento das articulações sacroilíacas (sacroileite) e da coluna vertebral b) Inflamação ao redor das enteses (entesites) – enteses são pontos de junção entre inserções de ligamentos, tendões, aponeuroses e cápsulas fibrosas articulares e o tecido ósseo c) Acometimento de articulações axiais d) Associação a determinadas lesões sistêmicas e) Superposição entre suas formas clínicas f) Tendência à hereditariedade g) Associação ao gene HLA-B27 h) Pesquisa negativa para o fator reumatoide (FR) 48 Aula 12 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti ESPONDILITE ANQUILOSANTE (EA) Espondilo – coluna; ite – inflamação; anquilose – fusão → Inflamação + fusão vertebral Desordem inflamatória, crônica, multissistêmica, que envolve primariamente as articulações sacroilíacas e o esqueleto axial, com comprometimento progressivo dessas articulações, podendo evoluir para rigidez e limitação progressiva da coluna vertebral por fusão vertebral em estágios avançados da doença. Também pode acometer quadris, ombros, articulações periféricas, ATM, olhos, pulmões e coração. EPIDEMIOLOGIA Mais prevalente em homens (3H:1M); Homens – 80% dos casos; De 5 a 7% mais prevalente em parentes de 1º grau; Mais incidente dos 20 aos 35 anos; início após 40 anos é incomum (5% dos casos); Associação com o gente HLA-B27 – o marcador está presentem em 90% dos pacientes diagnosticados; No Brasil, 70% das espondiloartrites são EA, com custo anual médio estimado em US$ 4.597,00 por paciente – custo pessoal e social, do sistema de saúde e laboral; Mais comum em caucasianos e de origem hispânica; FISIOPATOLOGIA Ainda não elucidada – acredita-se que o gatilho pode ser o contato com algum agente ambiental (microrganismos) que deflagram descontrole do sistema imunológico em indivíduos geneticamente predispostos. Sabe-se que é associada às entesites, reações inflamatórias crônicas com erosão do osso adjacente, seguido de processo de reparo tecidual. A partir da reparação do tecido, há neoformação óssea e ossificação das cartilagens, em um processo denominado anquilosite óssea. O processo anquilosante pode ter origem na membrana sinovial, na cápsula articular e, principalmente, nas enteses. Inflamação crônica com resposta de células mononucleares (macrófagos, células T e B) As células infiltram no esqueleto axial e periférico Estímulo da produção de TNF-β, citocina reparadora Formação da matriz de tecido conjuntivo 49 Aula 12 – Pneumologia e Reumatologia – Camila Carneiro Leão Cavalcanti Neoformação óssea e anquilosite óssea O envolvimento das vértebras se faz de forma ascendente e progressiva; A articulação mais precocemente envolvida é a sacroilíaca; Com o avançar da doença, a coluna se torna rígida pelo estabelecimento de pontes ósseas entre as vértebras (“coluna de bambu”) e a postura do paciente é de cifose exagerada com perda da lordose lombar fisiológica. O envolvimento da coluna é ascendente, começando pelas articulações (1) sacroilíacas → (2) lombossacras → (3) torácicas → (4) cervicais QUADRO CLÍNICO MANIFESTAÇÕES ARTICULARES Lombalgia costuma ser o primeiro sintoma na maioria dos pacientes. Considera-se lombalgia inflamatória se pelo menos 5
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