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TBL 2 – ARTRITE REUMATOIDE E ESPONDILOARTRITES DANIELA FRANCO ARTRITE REUMATOIDE - Entender a epidemiologia, identificar os principais fatores de risco e apresentação clínica da artrite reumatoide EPIDEMIOLOGIA • 30 casos na população para cada 100.000 indivíduos, afetando todas as raças em qualquer faixa etária. • O gênero feminino é mais acometido • Seu pico de início está entre os 35 e 55 anos de idade, alcançando uma incidência de 5% entre as mulheres com mais de 60 anos FISIOPATOLOGIA FATORES GENÉTICOS: Ressalta-se que o alelo HLA-DRb1*0404 (antígeno), que é o principal marcador genético de suscetibilidade para AR, encontra-se associado à produção de anticorpos antiproteínas citrulinadas. FATORES AMBIENTAIS hospedeiros geneticamente suscetíveis iniciem a sinovite poliarticular que, posteriormente, torna-se autoperpetuável. O fator estabelecido de maior risco para o desenvolvimento da AR é o tabagismo, estando fortemente associado à presença do fator reumatoide (FR) e/ou anticorpos antipeptídeos citrulinados cíclicos (anti-CCP). Outros fatores como sílica, poeira e óleos minerais também. Fatores protetores: Terapia de reposição hormonal e o consumo moderado de álcool A interação entre a predisposição genética e fatores ambientais é provavelmente o gatilho responsável pelo início da AR. É possível que o primeiro evento que ocorra na doença reumatoide seja a ativação de linfócitos Th1, o qual é apresentado à célula T pela célula apresentadora de antígeno (células dendríticas e macrófagos). A ativação das células T conduz a múltiplos efeitos subsequentes, incluindo ativação e proliferação de sinoviócitos e células endoteliais, recrutamento e ativação de outras células inflamatórias circulatórias e da medula óssea, secreção de citocinas e proteases pelos macrófagos e células sinoviais fibroblastos-símiles, além da produção de autoanticorpos. O fator de necrose tumoral (TNF)-α e a interleucina (IL)- 1 são considerados as citocinas- chave na patogênese da AR. Essas citocinas induzem a síntese e a secreção de IL-6, IL-8, proteases, prostanoides e fator estimulador de colônias de macrófagos e granulócitos, além de aumentarem as concentrações de metaloproteinases que levam à destruição tecidual. O TNF-α e a IL-1 são as principais citocinas liberadas pelos macrófagos na articulação de pacientes com AR, apresentando, ambos, concentrações séricas e sinovial elevadas em pacientes com doença em atividade. As células T correspondem a mais de 50% da população celular na membrana sinovial reumatoide, em sua maioria CD4+ com fenótipos de memória, e apenas cerca de 5% são linfócitos B ou plasmócitos. Tudo indica que as células T estimulam as células B com aumento de produção de anticorpos sinoviais. Após o desencadeamento da resposta imune, antígenos adicionais também reconhecidos pela célula T, podem contribuir e intensificar a reação imuneinflamatória. Quatro antígenos com estas ações patogênicas têm sido descritos: colágentipo II, antígeno cartilaginoso glicoproteína-39 (gp39), imunoglobulina G e as proteínas citrulinadas –que geram anticorpos considerados altamente específicos para a AR. O início da inflamação reumatoide e de sua resposta imune parece acontecer na membrana sinovial, sendo representada pela neovascularização e pelo aparecimento de linfócitos e de leucócitos polimorfonucleares no fluido sinovial, através de migração do intravascular. A IL-6 estimula a produção de IL-17 que juntas estimulam a liberação de citocinas, a produção de enzimas que destroem a cartilagem e a expressão de moléculas como o receptor ativador do ligante do NFκβ (RANKL). O RANKL está relacionado com a destruição óssea na AR, por meio da ativação dos pré-osteoclastos após ligação ao RANK presente na superfície dessas células, transformando-os em osteoclastos ativos, responsáveis pela absorção óssea e surgimento tanto das erosões ósseas quanto da osteopenia justa-articular além da maior incidência de osteoporose nesses pacientes. QUADRO CLÍNICO MANIFESTAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS Artrite é de instalação insidiosa com envolvimento poliarticular simétrico, remitente, progredindo de forma aditiva da periferia para as articulações proximais. Se não controlada, pode levar à deformidade articular, com limitação articular total naqueles casos resistentes ao tratamento, sendo que tanto a diminuição do espaço articular quanto as erosões podem ser demonstradas já nos primeiros dois anos de doença em mais de 70% dos pacientes. MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS Incluem esclerite e episclerite, vasculite cutânea, nódulos subcutâneos, amiloidose e comprometimento pulmonar, além de manifestações como anemia e fadiga. O comprometimento ocular mais frequente é a ceratoconjuntivite sicca, decorrente da sobreposição de AR com síndrome de Sjögren, além de esclerite e episclerite. A esclerite, ao contrário da episclerite, que geralmente segue um curso favorável, apresenta uma evolução mais grave, podendo levar à formação de ulcerações na esclera, um quadro conhecido como escleromalacia perfurante. O envolvimento pulmonar secundário à AR é frequente, sendo a terceira causa de óbitos nesses pacientes, após as infecções e os eventos cardiovasculares. Mais comuns são a doença pulmonar parenquimatosa difusa (DPPD) com fibrose de predomínio em bases, a presença de nódulos pulmonares, derrame pleural e, mais raramente, bronquiolite obliterante. Na DPPD o subtipo mais frequente é o padrão de pneumonite intersticial usual (PIU), além de pneumonite intersticial não específica (PINE), pneumonite intersticial linfocítica (PIL) e pneumonia em organização (BOOP). A evolução costuma ser mais branda que nos casos correspondentes idiopáticos e de sintomatologia tardia em fase de fibrose, embora existam raros casos fatais de pneumonite intersticial aguda com lesão alveolar difusa (Hamman-Rich símile). Existe ainda o risco de pneumonite de hipersensibilidade secundária às drogas antirreumáticas modificadoras de doença (DMARDs) – o uso de metotrexato (MTX) apresenta um risco menor que 5% para o desenvolvimento deste quadro. Ocorre, geralmente, no início do tratamento, e a resolução do quadro se dá com a suspensão da droga e o uso de glicocorticoides. A síndrome de Felty é caracterizada pela presença, em pacientes com AR soropositiva grave, de esplenomegalia e leucopenia, podendo, também, ocorrer febre, úlceras de membros inferiores, hepatomegalia, trombocitopenia e linfadenopatia. Podem ser observadas neuropatias periféricas, como síndromes compressivas – síndrome do túnel do carpo Mielopatia cervical compressiva por subluxação atlantoaxial deve ser sempre lembrada em pacientes com cervicalgias intensas. Pacientes com AR apresentam um maior risco de desenvolver infecções, complicações cardiovasculares, osteoporose e linfoma ao longo do tempo. DIAGNÓSTICO - Interpretar os exames laboratoriais/radiológicos solicitados na suspeita de artrite reumatoide ACHADOS RADIOLÓGICOS: a radiografia simples de mãos, punhos e pés é usada para avaliação diagnóstica e monitoramento clínico. Erosões ósseas marginais (inserções capsulossinoviais) e posteriormente centrais (com perda cartilaginosa). A presença de erosões e de porose justa-articular não são específicos, sendo encontrados em diversas artropatias inflamatórias. A avaliação dos tecidos moles (sinóvia e cartilagem) acometidos precocemente, e de pequenas erosões iniciais, é mais bem realizada por outros métodos de imagem como a ultrassonografia (US) e a ressonância magnética (RM). A sinovite reumatoide é caracterizada por um processo inflamatório que evolui com erosão de elementos cartilaginosos e ósseos. A radiografia simples (RsX) continua sendoo método mais empregado para avaliação por imagem da AR, assim como para monitorar a progressão da doença e resposta ao tratamento. Alterações radiológicas por este método fazem parte dos critérios classificatórios para AR, mostrando tanto destruição óssea como cartilaginosa, as quais se manifestam radiograficamente sob a forma de erosões e diminuição do espaço articular. ACHADOS LABORATORIAIS Fator reumatoide: são anticorpos dirigidos contra a porção Fc da imunoglobulina (Ig) G, sendo rotineiramente dosados como classe IgM, porém também encontrados nas classes IgG e IgA. Além de produzido na AR, o FR é também positivo em uma série de enfermidades reumáticas autoimunes e não reumáticas, sendo que muitas destas patologias podem em seu curso apresentar poliartrite simétrica e sintomas constitucionais Indivíduos saudáveis também podem apresentar FR, normalmente em títulos baixo a moderado. Anticorpo antipeptídeo citrulinado cíclico (anti- CCP): anticorpos anti-CCP reagem contra antígenos proteicos citrulinados presentes na sinóvia reumatoide, e em diversos outros tecidos inflamatórios. Hemograma: anemia moderada de doença crônica pode ser encontrada. Caracteristicamente é normocítica/normocrômica. A detecção de deficiência de ferro pode sugerir perda gastrointestinal por uso de anti-inflamatórios. Nos períodos de atividade de doença, também podem ser observados trombocitose, leucocitose e eosinofilia. Leucocitose também pode ser observada em processos infecciosos intercorrentes. A leucopenia e a trombocitopenia podem ser observados na síndrome de Felty (particularmente neutropenia) Velocidade de Hemossedimentação (VHS): o aumento da síntese do fibrinogênio (catiônico), como resposta inflamatória de fase aguda, faz com que a força de repulsão eletronegativa entre as hemácias seja diminuída e aumente sua precipitação, elevando a VHS. É útil como marcador de atividade de doença e seus níveis persistentemente elevados se associam a pior progressão radiológica. Proteína C Reativa (PCR): é produzida pelo fígado como reagente de fase aguda em resposta aos níveis aumentados da IL-6 Eletroforese de Proteínas: pode ocorrer aumento da β-2 globulina, como resultado de processo inflamatório, e γ-globulina, traduzindo estimulação antigênica de linfócitos B. Fluidos cavitários: a análise do líquido sinovial de articulações ativas na AR é do tipo II (inflamatório), com contagem de leucócitos habitualmente entre 2.000 a 50.000/mm3 , com predomínio de polimorfonucleares. Os níveis de proteínas são aumentados e a glicose pode ser menor que os níveis séricos. A análise do líquido pleural de derrames reumatoides demonstra um exsudato classicamente caracterizado por níveis de glicose acentuadamente reduzidos (geralmente menor que 25 mg%), por um distúrbio no transporte da glicose pleural, e aumentos acentuados da desidrogenase lática. TRATAMENTO - Conhecer linhas gerais de tratamento da artrite reumatoide Inicialmente, o tratamento da AR baseava-se no uso de AINEs e drogas como a cloroquina, sendo que as demais DMARDs eram reservadas para casos mais graves ou refratários. O tratamento precoce mais agressivo, com reavaliações frequentes, objetivando a remissão total da doença passou a ser o alvo terapêutico inicial. DMARDs e agentes anticitocinas podem controlar a sinovite, e mesmo diminuir ou cessar a progressão radiológica, sustentam este início precoce e agressivo do tratamento. As terapias não farmacológicas e preventivas são recomendadas a todos os pacientes com AR, inclui a educação do paciente, intervenções psicossociais, uso adequado de repouso, exercícios, fisioterapia, terapia ocupacional e aconselhamento dietético. A terapia farmacológica inicial para a AR grave e precoce inclui o uso de AINEs combinados aos DMARDs. Alguns pacientes podem ser candidatos ao uso de terapia com antiTNF-α, corticoterapia sistêmica e infiltração intra-articular. Os AINEs como terapia isolada devem ser utilizados por apenas um curto período em pacientes sintomáticos, pois apesar de serem drogas úteis para controle da dor, não exercem efeito maior sobre a inflamação e suas vias ativas, menor período possível, em dose plena. Para os pacientes com história de úlcera péptica, hemorragia gastrointestinal ou intolerância gástrica aos AINEs é recomendado o uso dos inibidores seletivos da COX-2. Glicocorticoides Os GC são potentes inibidores da transcrição da interleucina-1 (IL-1) e do TNF-α. São coadjuvantes no tratamento da AR, não devendo, de maneira geral, ser usadas doses maiores que 5 a 10 mg/dia de prednisona. injeções intra- articulares de GC são mais eficazes e apresentam menor número de eventos adversos do que injeções intramusculares. Articulações refratárias têm boa resposta à infiltração com triancinolona hexacetonida. Obs: Medidas profiláticas, como suplementação de cálcio e vitamina D e uso de bifosfonatos, para prevenir osteoporose induzida por GC devem ser consideradas DROGAS MODIFICADORAS DE DOENÇA São utilizadas tanto para a supressão da sinovite e outros sinais e sintomas da doença em atividade, quanto para a prevenção de erosões articulares e estreitamento dos espaços articulares. Metotrexate (MTX) é a DMARD de primeira escolha e recomendado pelos guidelines do ACR para pacientes com doença grave, excetuando hepatopatas e mulheres gestantes ou que planejam engravidar. O uso de bebidas alcoólicas deve ser evitado em virtude do risco de um aumento em sua hepatotoxicidade Nos casos em que o MTX é contraindicado, pode- se utilizar como primeira opção a leflunomida, a azatioprina, a hidroxicloroquina, a sulfassalazina ou a ciclosporina TERAPIA BIOLÓGICA O primeiro foi o anticorpo monoclonal anti-TNF-α Infliximabe, o qual apresentou melhora rápida e impressionante na dor e edema articular, além de uma maior sensação de bem-estar nos pacientes quando comparados aos controles. O mecanismo de ação dessas drogas biológicas é provavelmente multifatorial, incluindo inibição de células endoteliais, da indução de metaloproteinases e das moléculas de adesão, inibição da neoangiogênese, regulação de outras citocinas inflamatórias, condrócitos e ativação de osteoclastos e diminuição dos níveis de IL-1 e IL-6 após o tratamento. Dentro das articulações afetadas, houve diminuição da expressão de IL-8 e proteína quimiotáxica de monócitos-1 na membrana sinovial, bem como redução do trânsito de neutrófilos (possivelmente em virtude de menores níveis de moléculas de adesão). Os anti-TNF-α (etanercepte, infliximabe, adalimumabe) estão associados a um risco aumentado de uma variedade de infecções, incluindo TB. Assim, antes de iniciar o tratamento com qualquer um destes agentes, é obrigatório o rastreamento OUTRAS NOVAS TERAPIAS: Dentre esses novos compostos, encontram-se em fase avançada o inibidor da Janus quinase Tofacitinib (JAKs) e inibidor da Tirosina quinase esplêni ca Fostamatinib. ESTRATÉGIAS O consenso Brasileiro para tratamento da AR recomenda, inicialmente, o uso do MTX, e caso não ocorra resposta, sua troca ou, preferencialmente, a adição de outro DMARD, sendo as drogas biológicas iniciadas somente após falha de dois dos esquemas propostos. Porém, novos guidelines têm sugerido que após 2 a 3 meses de tratamento com o MTX associado ou não a baixas doses de GC, em combinação ou não com outra DMARD sem uma resposta adequada, a adição de um antiTNF-α é bastante eficiente na redução da atividade da doença. - Compreender os conceitos e diferenças clínicas entre dor articular de caráter inflamatório e mecânico A dor de caráter mecânico é desencadeada pela atividade/exercício e melhora com o repouso. A dor inflamatória ou não mecânica pode aparecer ou piorarcom o repouso e melhorar com o movimento, e o indivíduo pode apresentar dor noturna, ao acordar e dor acompanhada de rigidez matinal. Dor inflamatória: uma inflamação anormal causada por uma resposta inadequada do sistema imunológico do corpo. As condições nesta categoria incluem gota e artrite reumatoide; ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL - Compreender a definição e classificação geral da artrite idiopática juvenil (AIJ) A Artrite Idiopática Juvenil é uma doença inflamatória crônica que acomete as articulações e outros órgãos, como a pele, os olhos e o coração. A principal manifestação clínica é a artrite, caracterizada por dor, aumento de volume e de temperatura de uma ou mais articulações. Cabe ressaltar que em algumas crianças a dor é mínima ou até mesmo inexistente. Caracteristicamente ela inicia sempre antes dos 17 anos de idade. Diagnóstico da Artrite Idiopática Juvenil é clínico e baseia-se na presença de artrite em uma ou mais articulações com duração igual ou maior a 6 semanas. 3 tipos mais comuns: pauciarticular (ou oligoarticular), poliarticular e sistêmico • No tipo pauciarticular são acometidas até 4 articulações, sendo os joelhos e os tornozelos as mais frequentes. Crianças com este tipo de doença devem fazer avaliações oftalmológicas freqüentes (a cada 3 ou 4 meses), uma vez que a úvea (o colorido dos olhos) pode estar inflamada sem que haja qualquer sinal visível. • No tipo poliarticular 5 ou mais articulações são envolvidas, com destaque para os joelhos, tornozelos, punhos, cotovelos e pequenas articulações das mãos e dos pés. Pode haver febre intermitente e o exame laboratorial Fator Reumatoide está presente em cerca de 10% dos pacientes. • O tipo sistêmico tem caráter insidioso e caracteriza-se pela presença de artrite associada à febre alta em um ou dois picos diários (= 39º C), erupção na pele (rash cutâneo), gânglios, serosite (inflamação da pleura e do pericárdio) e aumento de fígado e baço ao exame clínico. ESPONDILOARTRITES – Reconhecer os principais subgrupos das espondiloartrites, suas manifestações musculoesqueléticas e doenças associadas As espondiloartrites (EAPs) são um grupo de doenças reumáticas crônicas, inflamatórias, que apresentam em comum aspectos clínicos, fisiopatológicos, radiológicos e genéticos. Há um dado clínico comum que é a lombalgia inflamatória crônica, com ou sem artrite periférica, envolvimento enteseal e manifestações clínicas extra-aparelho locomotor. incluídos neste grupo a Espondilite Anquilosante (EA), Artrite Reativa (Are), Artrite Psoriásica (APs), Artropatia das Doenças Inflamatórias Intestinais (DII), Espondiloartrites Indiferenciadas (EAPsI) e Artrites Crônicas da Infância (ACI). As espondiloartrites apresentam as seguintes características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais comuns: 1. Acometimento das articulações sacroilíacas e da coluna vertebral, especialmente da coluna lombar; 2. Envolvimento articular periférico com maior frequência assimétrico, no qual há predomínio da artrite de grandes articulações, em especial dos membros inferiores; 3. Frequente participação do processo inflamatório no nível das ênteses, sítios cartilaginosos onde tendões, ligamentos, cápsula articular e fáscia ligam-se ao osso. Nos pacientes mais gravemente afetados, essa inflamação não se limita ao tecido conectivo da êntese, envolvendo também cartilagem e osso e resultando em periostite e osteíte erosiva. A inflamação das ênteses leva a graus variáveis de erosões ósseas e, posteriormente, a deposição de osso reativo pode levar à formação de esporões ósseos, como ocorre na inserção do tendão calcâneo no retrocalcâneo, ou na inserção da fáscia plantar na região subcalcaneana. Quando acontece nas ênteses dentro de articulações diartrodiais, como as articulações coxofemorais (no nível da união do ligamento redondo ao acetábulo), ou em articulações fibrocartilaginosas 4. Negatividade para a pesquisa do fator reumatoide pelos métodos convencionais; 5. Ausência de nódulos reumatoides subcutâneos; 6. A agregação familial é marcante nas espondiloartrites, sendo fator maior de risco a positividade para o HLA-B27; - Compreender conceito de entesite e dor lombar inflamatória A entese é o local onde ligamentos, tendões e a cápsula que envolve as articulações “se ligam” aos ossos. Quando esse local inflama chamamos de entesite. Comum nos pacientes com espondilite anquilosante e demais espondiloartrites, afetam mais frequentemente o calcanhar, a crista ilíaca, a tuberosidade anterior da tíbia, a parede anterior do tórax e ligamentos da coluna vertebral. Dor lombar inflamatória: Esse tipo de dor nas costas é uma forma de artrite inflamatória, que ocorre porque o sistema imunológico está atacando por engano as articulações da coluna vertebral. Uma causa para a dor inflamatória é a espondilite anquilosante. A dor axial inflamatória que acontece em pacientes com EA é de início insidioso, inicia-se na coluna lombar, melhora com os exercícios e não melhora com o repouso. Ocorre rigidez matinal, habitualmente superior a 30 minutos, na doença em atividade. No início dos sintomas o paciente tem menos de 40 anos de idade, a maioria deles tem entre 20 e 30 anos. Estes sintomas são mais relevantes se estão presentes por mais de três meses. ESPONDILITE ANQUILOSANTE - Reconhecer a epidemiologia da espondilite anquilosante, a importância do HLA-B27 como principal marcador genético e a uveíte anterior aguda como principal manifestação extraarticular Dentre as enfermidades do grupo das espondiloartrites, a espondilite anquilosante é a mais comumente observada segundo os vários estudos realizados. A espondilite anquilosante (EA) pode ser definida como doença inflamatória crônica que acomete as articulações sacroilíacas, em graus variáveis, a coluna vertebral e, em menor extensão, as articulações periféricas e as ênteses. Indistinta, nos dois sexos, já que o HLA-B27 incide igualmente entre homens e mulheres, há predileção pelo sexo masculino na proporção de 2-4:1, e a grande maioria dos pacientes desenvolve os primeiros sintomas entre os 20 e os 35 anos. Acomete, principalmente, indivíduos caucasianos, possivelmente pela maior incidência de HLA-B27 nesse grupo étnico QUADRO CLÍNICO A lombalgia de ritmo inflamatório é o sintoma inicial mais característico do paciente espondilítico. Por vezes, o paciente também refere dor de ritmo inflamatório em nádegas e face posterior da raiz da coxa, suscitando diagnóstico diferencial com dor ciática. A evolução costuma ser ascendente, acometendo progressivamente a coluna dorsal e cervical, apresentando a “postura de esquiador”, caracterizada pela retificação da coluna lombar, acentuação da cifose dorsal e retificação da coluna cervical, projetada para frente. A “postura do esquiador” aparece geralmente após a segunda década de doença e se manifesta mais precocemente nos pacientes HLA- B27 positivos. - Reconhecer as principais manobras para pesquisa de sacroiliite e mobilidade da coluna vertebral ao exame físico A manifestação clínica típica da sacroiliíte é a presença de dor na nádega, sobretudo a dor que alterna entre uma nádega e outra. Também ocorre mais no período noturno e pela manhã, assim como a lombalgia inflamatória. Entretanto, a confirmação da presença de sacroiliíte radiográfica é essencial para o diagnóstico de espondilite anquilosante. A manobra de Schöber mostra Espondilite Anquilosante uma diminuição da flexão da coluna lombar. A inspeção da coluna dorsal revela acentuação da cifose; como a coluna dorsal é imóvel, deve ser monitorizada com a medida do diâmetro respiratório, que é representado pela diferença entre os diâmetros inspiratório e expiratóriomáximos que, em adultos jovens normais, é superior a 3,0 cm. A inspeção da coluna cervical também mostra retificação, com projeção para frente, e a avaliação da mobilidade revela que os movimentos a serem acometidos são, na sequência, a lateralização, a rotação e a flexão/extensão; a distância occipício-parede é utilizada para monitorar a evolução do acometimento cervical. RADIOGRAFIA - Identificar principais alterações da espondilite anquilosante nas radiografias de articulações sacro-ilíacas e coluna vertebral O marcador radiográfico comum a todas espondiloartrites é a concomitância de um aumento da reabsorção óssea evidenciada pela presença de erosões, com um aumento da neoformação óssea identificada pela presença de sindesmófitos e de anquilose articular. Diferindo da artrite reumatoide, cujo comprometimento osteoarticular ocorre, primordialmente, nas estruturas sinoviais, as espondiloartrites envolvem, caracteristicamente, as ênteses nas junções osteotendíneas ou osteoligamentares, além do acometimento da membrana sinovial, sobretudo de grandes articulações dos membros inferiores, e das articulações fibrocartilaginosas. As alterações ósseas são manifestadas por excrescências ósseas adjacentes às erosões, proliferações ósseas no nível das ênteses, periostite e anquilose articular. Como o próprio nome indica, as espondiloartrites acometem tanto a coluna vertebral como as articulações periféricas, mas, sem dúvida, o envolvimento das articulações sacroilíacas é um dos mais importantes para o diagnóstico imagiológico das doenças do grupo, sobretudo da espondilite anquilosante As alterações radiográficas típicas da sacroiliíte são, simétricas e, de forma progressiva, podem-se encontrar: perda da nitidez dos contornos da articulação, pseudoalargamento do espaço articular, esclerose óssea subcondral, erosões nas bordas articulares, formação de traves ósseas e redução do espaço articular e, em um estágio final, fusão das articulações. As alterações da porção sinovial da articulação, nos 2/3 inferiores, são resultantes de condrite e osteíte do osso subcondral adjacente. Como a cartilagem que cobre o lado ilíaco da articulação é mais fina do que a que cobre o lado sacro, a esclerose subcondral e as erosões costumam ser, inicialmente, observadas do lado ilíaco, sendo também mais pronunciadas desse lado. No 1/3 superior da articulação sacroilíaca, onde os ossos são contidos por fortes ligamentos intra- articulares, o processo inflamatório pode levar a alterações radiográficas similares sendo, entretanto, mais tardias. Quando, após vários anos, ocorre a fusão das articulações sacroilíacas, as erosões tornam-se menos óbvias, e a esclerose óssea subcondral desaparece DIAGNÓSTICO Os critérios clínicos são: 1. História ou presença de dor inflamatória na junção dorsolombar ou na coluna lombar; 2. Limitação da mobilidade lombar em todos os três planos: flexão anterior, flexão lateral e extensão; 3. Limitação da expansibilidade torácica, igual ou inferior a 2,5 cm, medida no nível do 4º espaço intercostal. O critério radiográfico • Grau 0: normal; • Grau 1: suspeita de alteração, não há alterações definidas; • Grau 2: sacroiliíte mínima. Refere-se à perda de definição das bordas articulares e alguma esclerose, podendo haver erosões mínimas sem ocorrer redução do espaço articular; • Grau 3: sacroiliíte moderada, em que há esclerose bem- -definida em ambos os lados da articulação sacroilíaca, borramento e irregularidade das superfícies articulares, erosões e redução do espaço articular • Grau 4: as alterações mostram fusão das superfícies articulares, com ou sem esclerose residual. TRATAMENTO - Compreender linhas gerais de tratamento das espondiloartrites A fisioterapia deve ser realizada em todos os estágios da doença, na prevenção de limitações funcionais e na restauração de uma adequada mobilidade articular. Seu efeito benéfico costuma desaparecer poucos meses após sua suspensão. Não modifica o prognóstico da doença. Os anti-inflamatórios não hormonais (AINH) são as drogas de primeira escolha no tratamento do paciente espondilítico. São consideradas drogas modificadoras de doença, pois estudo recente demonstrou que o uso contínuo dos AINH apresenta melhor resposta quanto aos danos estruturais da doença, em comparação ao uso intermitente dos mesmos. Corticosteroides, a prednisona, até a dose de 10 mg/dia, costuma ser utilizada nos casos de artrite periférica persistente, em casos não responsivos aos AINH. Pacientes com sacroiliíte intensa podem- se beneficiar com uma infiltração intra-articular, guiada por tomografia computa dorizada ou ressonância magnética. Dentre as drogas de base convencionais, a sulfasalazina, na dose de 1 a 3 g/dia, em comprimidos de dissolução entérica, apresenta resposta mais significativa na artrite periférica e na prevenção de surtos recorrentes de uveíte. Outras drogas de base, como a leflunomida (dose de 20 mg/dia), a talidomida (dose de 100 a 300 mg/dia) e o pamidronato (na dose mensal de 60 mg, por via endovenosa) são opções terapêuticas, nos casos não responsivos à sulfasalazina e ao metotrexato; Bibliografia → Tratado Brasileiro de Reumatologia / Hamid Alexandre Cecin/Antonio Carlos Ximenes – 1. Ed – Atheneu, 2015.
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