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1 Enmilly Oliveira França – Medicina UniFTC Úlceras e Curativos → Úlceras são lesões por solução de continuidade que comprometem derme, hipoderme, podendo chegar a músculo e osso. - Grande maioria nos membros inferiores - Crônica: não cicatrizam dentro de 6 semanas • Prevalência e incidência têm aumentado devido ao envelhecimento da população e doenças crônicas associadas. Diversas etiologias: Úlcera Venosa • Aparecem no estágio mais avançado da doença venosa crônica. Comum em: - IVP – insuficiência venosa periférica (causa mais prevalente). - TVP – Trombose venosa profunda. • Essas úlceras serão causadas por traumas – A insuficiência ocorre quando as válvulas das veias das pernas estão danificadas e o fluxo sanguíneo, que deveria ocorrer das veias superficiais para as veias profundas, passa a fluir sem direção ocasionando hipertensão venosa, fazendo com que os capilares se tornem mais permeáveis propiciando que macromoléculas como fibrinogênio, hemácias e plaquetas passem para o espaço extravascular. Esse evento causa alterações cutâneas como edema, eczema, hiperpigmentação e lipodermatoesclerose, fazendo com que a pele fique mais sensível e propícia ao surgimento de uma lesão. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: • Formato irregular • Começa superficial e se torna profunda • Bordas bem definidas • Exsudato amarelado • Leito com tecido desvitalizado e colonizado • Raramente há necrose • Local: porção distal de MMII • Maléolo medial • Pulsos periféricos: presentes • Pele ao redor: purpúrica e hiperpigmentada → dermatite ocre • Eczema: eritema, vesículas, descamação, prurido • Lipodermatoesclerose: induração e fibrose • Cicatrizes estelares atróficas de cor branco marfim com telangiectasias ao redor • Veias varicosas e edema • Dor: intensidade variável, piora no final do dia com posição ortostática e melhora com elevação do membro. DIAGNÓSTICO: • Clínico • Índice tornozelo-braço (ITB): coexistência de doença arterial (serve para afastar a doença arterial). • Valor mais alto da pressão sistólica do tornozelo pela pressão da a. braquial: ITB < 0,9 indica insuficiência arterial • Na prática sempre se pede USG doppler venoso: refluxo, obstrução TRATAMENTO 2 Enmilly Oliveira França – Medicina UniFTC • Terapia compressiva • Tratamento cirúrgico • Tratamento local da úlcera • Medicamentos sistêmicos que auxiliam na cicatrização • Medidas complementares Terapias compressivas (melhorar o retorno venoso para cicatrizar a ferida, ter a úlcera não é contraindicação para terapia compressiva): 1ª linha • Ataduras compressivas e meias elásticas • Pressão externa de 35 a 40 mmHg e gradualmente menor na região abaixo do joelho • Após cicatrizar: 30 a 35 mmHg • Estimular a deambular em uso da meia • Trocar meia a cada 6 meses • Vestir pela manhã e retirar a noite • Hidratar a pele ao retirar Contra-indicado se doença arterial periférica grave (pois irá ocluir um vaso que já não perfunde) • Infecção aguda e necrose Bota de Unna (atadura que é aplicada no membro e fica 7 dias, se a ferida tiver aberta ou complicada é contraindicado). Tratamento sistêmico: • Adjuvantes • Tônus venoso: • Flavonoides naturais • Diosmina 1g/dia • Fluxo sanguíneo: • Pentoxifilina 800 mg 3x/dia Medidas complementares: • Repouso com membro elevado acima do nível do coração 3 a 4x/dia por 30 minutos • Caminhadas breves, 3 a 4 x/dia Úlcera Arterial • 25% das úlceras dos membros inferiores Associada a: - Doença aterosclerótica - Tabagismo, diabetes mellitus, idade avançada: fatores de risco PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS: • Formato: arredondado, borda bem demarcada, fundo pálido – pode ser necrótico • Exsudato mínimo ou ausente • Local: porções laterais ou pré-tibiais de pernas • Dorso dos pés • Sobre proeminências ósseas • Pele ao redor: pálida, fina, descamativa, pelos rarefeitos e unhas espessas • Claudicação intermitente (quando deambula dói, devido a hipóxia na lesão, quando repousa para a dor) • Dolorosas mesmo quando pequenas • Pior ao elevar o membro • Alivia com posição pendente • Pulsos ausentes e enchimento capilar lento DIAGNÓSTICO: Clínico • Palpar pulsos • ITB < 0,9 • USG doppler arterial • angioTC e angiografia TRATAMENTO: • Redução de fatores de risco • Corrigir fluxo: revascularizar • Cilostazol: vasodilatador 100 mg 2x/dia • Antiagregante plaquetário (AS, epidrogel) • Evitar debridamento cirúrgico, evitar umidade na escara seca (pode levar a infecção bacteriana). • Controle de dor • Oxigenoterapia hiperbárica (ajuda, mas sozinha não resolve. Associado a outros cuidados, ajuda) • ATB: aumento no tamanho/odor/eritema/edema/dor Úlcera Mista 3 Enmilly Oliveira França – Medicina UniFTC Úlcera Neuropática PRINCIPAIS CAUSAS: Neuropatia diabética, hansênica e alcóolica Outras causas: Sífilis, mielodisplasia sarcoidose, infecção por HIV e HTLV, amiloidose etc PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS: • Alterações cutâneas: pele seca e espessa, fissuras plantares • Diminuição da sensibilidade tátil, dolorosa, proprioceptiva • Alterações da marcha e paralisias • calosidades • Deformidades em pés: dedos em garra, alterações de arqueamento da planta • Perfusão Formato: é precedida por calosidade não dolorosa → pontos arroxeados com anel hiperceratótico ao seu redor formando borda calosa, centro profundo e granuloso Local: região plantar, pontos de apoio → antepé, calcâneo, falanges distais • Pele ao redor: normal ou eritematosa por distúrbio autonômico • Queimação, formigamento, pontadas • Mal perfurante plantar: úlcera indolor, profunda e de bordas calosas • Pé de Charcot: destruição indolor dos ossos e articulações dos pés Complicações: Por infecções cutâneas e osteomielite, gerando um odor fétido, exsudato amarelo- esverdeado, dor local, esfacelos em excesso. DIAGNÓSTICO: Clínico: testar sensibilidades, força muscular, reflexos, palpar nervos. • Investigar causa da neuropatia: perfil glicêmico, eletroneuromiografia, buscar lesões de Hanseníase TRATAMENTO • Inspeção diária dos pés, limpeza e secagem, corte reto de unhas, hidratação e lubrificação • Restrição a andar descalço, remoção de calosidades, calçados confortáveis, órteses/palmilhas → evitar trauma • Tratar doença de base • Fortalecimento muscular, fisioterapia • Se dor: amitriptilina, gabapentina, pregabalina Úlcera de decúbito • Causada por pressão → isquemia • Cisalhamento/atrito/fricção → defeito de barreira cutânea • Umidade → maceração • Áreas de proeminência óssea CLASSIFICAÇÃO: • Estágio I: Eritema não esbranquiçado, edema e induração com pele intacta. • Estágio II: Perda parcial da epiderme e/ou derme • Estágio III: Perda total da pele • Estágio IV: Comprometimento de estruturas profundas (osso, tendão, músculos). Outras Úlceras • PLECT – causadas por: Paracoccidioidomicose, Leishmaniose tegumentar, Esporotricose, Cromomicose, Tuberculose Cutânea. Leishmaniose Cutânea • Doença infecciosa, crônica, não contagiosa • Agente: protozoário • L. (V). Brasiliensis: agente mais importante da América Latina 4 Enmilly Oliveira França – Medicina UniFTC• Transmissão pela fêmea do flebotomíneo infectada • Lutzomya intermedia • Altamente antropofílicos • Inseto = promastigota (tem flagelo) infecta o macrófagos tornando-se amastigota • Roedores e marsupiais são reservatórios - Resposta Th1 produz interferon e mata o amastigota, se a resposta for Th2 é fraca e não mata o amastigota). PERFIL EPIDEMIOLÓGICO: Brasil: homens e maiores de 10 anos (maior exposição, “doença ocupacional” pessoas que trabalham em matas) • LT Silvestre: surtos nas derrubadas de matas • LT Silvestre modificada: surtos sazonais em áreas de focos de mata – peridomiciliar – agricultura → “ocupacionais” • LT periurbana: endemoepidêmica em áreas de colonização antiga e participação de animais domésticos → cães e equinos (reservatórios) • LTA por L. (V.) brasiliensis → vetor tem hábito peridomiciliar FORMAS CLÍNICAS: polimorfa • Comprometimento cutâneo e secundariamente do tecido mucoso nasobucofaríngeo • Lesão primária: Leishmaniose cutânea localizada → úlcera, 95% dos casos. • Pápula única ou múltipla no local da picada, área fotoexposta • Necrose tecidual → imunidade celular → redução dos parasitas • Úlcera bem delimitada, circular, bordas infiltradas, indolor, escavada até a derme, fundo granuloso • L. (V.) guayanensis: linfagite subcutânea simulado esporotricose (forma diferente, pouco comum no Brasil) FORMAS CLÍNICAS: • LC disseminada borderline • Subgrupo Viannia: L.(V.) brasiliensis e panamensis • 3 a 4 meses após lesão primária: dezenas e centenas de úlceras, ectimas, pápulas em diferentes estágios evolutivos • Alta imunidade celular: perfil Th1 • Subgrupo Leishmania: L.(L.) amazonesis e mexicana • 1 ano após lesão primária dissemina • Redução da imunidade celular: perfil Th2 • Anérgica difusa: raro, mais comuns em crianças, infiltração difusa da pele, pápulas, nódulos disseminados CUTÂNEO E CUTANEOMUCOSO: • Disseminação linfo- hematogênica • Nasal → ora → faríngea • Mucosa: manifestação tardia, 1 a 40 anos após cicatrizar a lesão primária • Eritema, infiltração, granulação e ulceração → perfuração DIAGNÓSTICO: Provas diretas: • Exame parasitológico direto por escarificação da borda. • Cultura • Anatomopatológico Provas indiretas: • Reação intradérmica de Montenegro • Avalia imunidade celular tardia • + em sensibilizados e curados • Pápula ou infiltração > 5 mm = positivo • IFI e ELISA • PCR TRATAMENTO: • Antiomoniato de N-metilglucamina = Glucantime • 1ª escolha • 20 a 30 dias EV ou IM • Nodular, vegetante, verrucoso: 3 a 4 séries • 10 a 20 mg/kg/dia • Critério de cura: clínico • Cardiotoxicidade → ECG • Pentamidina • 2ª escolha se falha ou CI com antimonial • Anfotericina B • Formas resistentes aos antimoniais • Gestantes 5 Enmilly Oliveira França – Medicina UniFTC CURATIVOS É um meio terapêutico no tratamento da ferida → limpeza e aplicação de coberturas em uma ferida. Tem o objetivo de proteger as lesões contra agentes físicos, químicos, mecânicos e biológicos • Feridas 2ª intenção (operou, mas não foi possível fechar as bordas) e 3 ª intenção (deixa aberta e depois quando possível fecha as bordas com suturas) → ambiente limpo e úmido. • Cobertura primária e secundária (penso = curativo, usar no prontuário do paciente). • Abordagem multidisciplinar dinâmica. • Escolhas dependem do grau de contaminação, etiologia, fatores locais e sistêmicos, presença e tipo de exsudato Conceito TIME: abordagem sistemática para correção de desequilíbrios • T: Tecido (necrose, tecido viável) • I: Infecção/ Inflamação • M: Moisture – controle da umidade • E : Edge – borda da ferida CURATIVOS: LIMPEZA • Remover tecidos desvitalizados, corpos estranhos e debris • Produtos não tóxicos para não danificar tecidos viáveis • SF 0,9%: hipoalergênica, favorece autólise e formação de tecido de granulação. Limpeza em jato (agulha 40x12) e movimentos leves e lentos (com gases umedecidas) → não friccionar, secar a borda • Tecido de granulação tem que estar húmido para a célula migrar e cicatrizar. • Feridas de primeira intenção não podem ficar úmidas, tem que ficar limpa e seca. • Água de torneira: fácil acesso • PHMB (poli-hexametileno de biguanida): bactericida, antisséptico de baixo risco com excelente tolerância, baixo risco de sensibilização (não destrói o tecido saudável) Não usar em feridas abertas: • Iodopovidona: alergia, efeito tóxico • Clorexidina: retarda produção de colágeno, tóxico para tecido de granulação CURATIVOS: DESBRIDAMENTO • Todo e qualquer método de remoção de tecidos desvitalizados, necróticos, infectados, fibrinoso ou que contenha material estranho na ferida (debrida fibrinas, esfacelos e a necrose – escara seca); • Alcançar tecido de granulação saudável • Auxilia na cicatrização pela remoção do biofilme • Melhora a distribuição dos antimicrobianos • Evita a formação de novo biofilme MÉTODOS Cirúrgico: conservador ou propriamente dito Mecânico: • Terapia úmido-seco: não seletivo e doloroso (não se utiliza mais) • Hidroterapia: jatos • Autolítico: altamente seletiva, indolor → retenção de exsudato com enzimas proteolíticas endógenas → poupando tecido de granulação • Hidrogéis e hidrocoloides • Atentar para risco de maceração perilesional • CI se lesões infectadas e isquêmicas • Enzimático: exógena • Papaína, colagenase e fibrinolisina/Dnase • Biológico: larvas (não utiliza). CURATIVOS: CONTROLE DO BIOFILME 6 Enmilly Oliveira França – Medicina UniFTC Biofilme: comunidade estruturada de colônias de células microbianas – bactérias, fungos e vírus - envoltas por em uma matriz polimérica e aderidas a superfícies naturais ou artificiais ou a eles próprios. • Dinâmicas, capazes de criar ambientes e defesas que podem produzir uma inflamação crônica e atraso da cicatrização. • Produzem substâncias que lhe conferem integridade estrutural e protegem contra agentes externos → resistência a agentes antimicrobianos, antissépticos e defesas do hospedeiro • Presentes na maioria das úlceras crônicas MEDIDAS DE CONTROLE • NÃO são recomendados antibióticos tópicos: neomicina, bacitracinam mupirocina e sulfadiazina de prata • Antibióticos sistêmicos não são capazes de erradicar o biofilme de uma ferida • Desbridamento • Agentes antissépticos (PHMB), lavagem ou irrigação terapêutica • Cobertura com prata • Meta: leito da ferida visivelmente limpo, tecido de granulação saudável e/ou em trajetória de cicatrização (não é indicado nenhum antibiótico tópico ou sistêmico, pensando em uma ferida em cicatrização, não infeccionada). Indicam infecção → antibioticoterapia sistêmica • Sintomas sistêmicos como mal-estar, perda de apetite. • Sinais locais: aumento de exsudato, retardo da cicatrização, tumefação na base da ferida, dor persistente, tecido de granulação friável, descoloração no leito da ferida, focos de abscesso e odor fétido. • Preditores mais úteis: Aumento de dor e no tamanho da ferida. • Para determinar o agente: biopsiar base da lesão e fazer cultura. CURATIVOS: ÁCIDO GRAXO ESSENCIAL (AGE) • Promove quimiotaxia de leucócitos e angiogênese • Mantém o meio úmido e acelera o processo de granulação • Pele íntegra: forma película protetora, previne escoriações e fornece nutrição local CURATIVOS T: tecido • MEC defeituosa • Restos celulares alterando a cicatrização • Objetivo da conduta: base da ferida viável → restaurar a base da ferida e proteínas funcionais da MECCondutas: Desbridamento, Terapia por pressão negativa CURATIVOS I: infecção/inflamação • Biofilme • Inflamação prolongada: citocinas, alta atividade de proteases, baixa atividade de fatores de crescimento • Objetivo da conduta: equilíbrio bacteriano e controle da inflamação Condutas: • Antissépticos • Antimicrobianos sistêmicos CURATIVOS M: umidade • Falta de exsudato: retarda a migração das células • Excesso de exsudato: maceração das bordas • Objetivo da conduta: equilíbrio da umidade • Condutas: • Falta: Hidratação com hidrogel ou hidrocoloide • Excesso: alginato/hidrofibra/espuma, compressão, pressão negativa CURATIVOS E: bordas • Não migração de queratinócitos das bordas • Objetivo da conduta: avançar a borda da ferida Condutas: • Desbridamento • Enxertos • Outras tecnologias 7 Enmilly Oliveira França – Medicina UniFTC REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS Bolognia JL, Jorizzo JL, Schaffer JV. Dermatologia. 4ª ed. Philadelphia, PA: Elsevier Saunders; 2019. Belda Júnior W, Di Chiacchio N, Criado PR. Tratado de Dermatologia. 3ª. edição. São Paulo: Ed. Atheneu; 2018. Abbade LPF et al. Consenso sobre diagnóstico e tratamento das úlceras crônicas de perna – Sociedade Brasileira de Dermatologia. An Bras Dermatol. 2020; 95(S1): 1-18.
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