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1 Ação Tutorial em EaD AULA 04 100% ONLINE CURSO LIVRE cursos.fdr.org.br EXPEDIENTE FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidência: Luciana Dummar Direção Administrativo-Financeira: André Avelino de Azevedo Gerência Geral: Marcos Tardin Gerência Editorial e de Projetos: Raymundo Netto UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerência Pedagógica: Viviane Pereira Coordenação de Cursos: Marisa Ferreira Design Educacional: Joel Lima Front End: Isabela Marques CURSO FORMAÇÃO DE TUTORES EM EAD Coordenação Geral e Pedagógica: Viviane Pereira Autor conteudista: Eduardo Junqueira Projeto gráfico: Andrea Araujo e Kamilla Damasceno Edição de Arte: Andrea Araujo Designer: Kamilla Damasceno e Welton Travassos Revisão e Edição: Raymundo Netto SUMÁRIO Introdução .............................................................................................4 1. Aspectos Gerais da Tutoria em EaD ..................................................5 2. Competências do Tutor em EaD .....................................................10 3. A Afetividade e o Tutor em EaD .......................................................19 4. O diálogo em EaD ............................................................................22 5. A interação em EaD .........................................................................26 5.1. Interação e máquinas inteligentes ..............................................29 6. O trabalho do tutor em EaD ............................................................33 7. A formação continuada do tutor ....................................................36 Atividade de Aprendizagem ...............................................................39 Referências ..........................................................................................43 4 Introdução Prezado/a aluno/a, Esperamos que você esteja aproveitando bastante esse processo de aprendizagem e que esteja desenvolvendo novas experiências de estudo ao longo desse curso, exercitando sua autonomia para buscar informa- ções e aprofundar seus conhecimentos sobre a formação e a atuação do tutor na EaD. Lembramos que este curso busca apresentar alguns tópicos centrais dessa temática e convidamos você a buscar outras informações nos li- vros indicados para leitura, nos websites de referência e também em outros materiais disponíveis na internet que venham a despertar o seu interesse. Mas, não se esqueça, utilize sempre os canais de comunica- ção com a FDR e com a Uane para sanar suas dúvidas. O tutor tem importância fundamental na EaD, pois é o elo humano entre a instituição de ensino e os alunos. É importante ressaltar que, para Tardif e Lessard (2011), a docência é constituída de atividades burocratizadas, mas é também um trabalho de interações humanas. O trabalho docente constituído de interações personalizadas com os alunos visa à participa- ção deles no próprio processo de aprendizagem. O professor e o tutor, por sua vez, imprimem suas experiências de vida em suas ações docentes. 5 Iremos abordar aspectos centrais da ação do tutor na EaD que, em al- guns aspectos, se diferem da ação do professor na educação presencial, ainda que preserve algumas de suas importantes características. Ressaltamos novamente o caráter humanista e formativo da ação do tutor junto aos alunos. Neste tópico você irá: • Conhecer e compreender as principais ações a serem desenvolvidas pelo tutor. • Compreender a natureza do trabalho do tutor em processos de aprendizagem. • Simular a atuação como um tutor em processos de aprendizagem em EaD. 1. Aspectos Gerais da Tutoria em EaD Apesar de ter se popularizado nas últimas décadas, o tutor existe há muito tempo na área da educação e pode receber diversas denominações: assistente, assessor, professor acompanhante, mentor, mediador, facilitador etc. De toda forma, sua origem está associada à figura do “conselheiro”, muito comum nas universidades britânicas há séculos. Lá, sua função era oferecer um apoio ao aluno, seja em assuntos curri- culares ou em outros aspectos de sua experiência universitária (acesso a grupos de estudos no campus universitário, pesquisas na biblioteca, entre outros). 6 Em alguns filmes de ficção, o tutor também aparece como alguém que, além de ensinar, desenvolve um vínculo mais pessoal com o aluno, mui- tas vezes estabelecendo uma relação de amizade. Mesmo que para al- guns se trata de uma visão romantizada sobre um trabalho profissional, ressaltamos as diversas ramificações possíveis da ação tutorial. As modalidades da ação tutorial variam, podendo ser realizadas pre- sencialmente ou a distância, através de telefone, chat, vídeo ou web conferência, fórum, e-mail, entre outros suportes e veículos. O mais im- portante, porém, é a criação e a manutenção de uma via de mão du- pla com o aluno, permitindo um engajamento dialógico tutor-aluno. Mas, então, o que o tutor precisa saber? Tardif (2002) cunhou o conceito de “saberes docentes”, destacando en- tre eles: • Saberes da formação profissional: transmitidos pelas instituições de formação de professores, pertencentes às Ciências da Educação e à ideologia pedagógica. • Saberes curriculares: correspondentes aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos constantes dos programas escolares, e que o professor precisa saber aplicar. • Saberes experienciais: desenvolvidos pelos professores na sua própria prática, no exercício das suas funções (o saber-fazer e o saber-ser). É importante ressaltar a perspectiva dos saberes docentes de Shulman, con- forme citado por Oliveira et al (2010, p. 76, grifos no original) ao afirmar que 7 o professor precisa construir uma base de conhecimento para o exercício da docência, que consiste num corpo de compreen- sões, conhecimentos de diversas naturezas para ensinar. Shul- man (1986, 1987) destaca dois processos importantes: a base de conhecimento para o ensino e o modelo de raciocínio pedagógico (…) Os conhecimentos relacionados ao contexto da vida dos seus alunos/as, ao currículo, às tecnologias e às metodologias que po- dem inovar a sua forma de ver o mundo e consequentemente de ensinar (e aprender) também compõem essa base de saberes que o professor necessita para ensinar adequadamente. Dessa forma, compreende-se que a formação do “tutor generalista” exi- ge minimamente dois desses aspectos, ou seja, os Saberes da Formação Profissional e os Saberes Experienciais da prática de tutoria. No caso de “tutores conteudistas”, o terceiro saber, o curricular, se faz presente. Segundo Oliveira e Santos (2013), a figura do professor em EaD abarca o especialista que planeja o curso, produz, adequa e garante a qualidade do material didático a ser utilizado e a do tutor propriamente dito, de maneira síncrona ou assíncrona, presencial ou a distância. Os autores afirmam que esse profissional garante uma “qualidade comunicacio- nal” para o uso do material pelo aluno e dirige, acompanha e avalia a aprendizagem deles. Os pesquisadores afirmam que nas discussões on-line assíncronas (como os fóruns, por exemplo) deve-se permitir aos alunos o tempo ne- cessário à reflexão, manter as discussões vivas e produtivas e arquivar os dados resultantes das discussões para uso posterior. 8 Nas discussões on-line síncronas (como nos chats, por exemplo) de- ve-se estabelecer as regras básicas para que a discussão aconteça, esti- mular as interações com limitada intervenção ou diretividade, perceber como as mensagens textuais são recebidas pelo aluno distante e estar atento às diferenças culturais. Apresentando uma perspectiva mais crítica sobre a temática em entre- vista concedida à Revista Paide@, a professora e pesquisadora Edméa Santos (2008, s.p.) afirma que infelizmente, a grande maioria dos Programas de EAD ainda traba- lha com o paradigma produtivo da sociedade industrial, que ins- tituiu o modelo de currículo inspirado pelas idéias de Bobbitt e Taylor, o currículo tradicional, que separa o processode seus pro- dutos e produtores. O currículo tradicional se preocupa, sobretu- do, com a transmissão de conteúdos, em que uns produzem para outros consumirem e executarem seus processos. [...] De um lado, uns produzem conteúdos e materiais didáticos (equipe de produ- 9 ção), que são distribuídos em massa para “outros” consumirem na lógica de uma pretensa “autoaprendizagem” (alunos). O discurso da autoaprendizagem camufla o pouco ou quase nenhum inves- timento em aprendizagem colaborativa. Neste modelo, cursistas não interagem com outros cursistas e muito menos com seus pro- fessores/mediadores. A docência mediadora é substituída pela tutoria reativa, ou seja, em vez de arquitetar e mediar percursos de aprendizagem, os tutores apenas tiram dúvidas referentes aos conteúdos apresentados nos materiais didáticos, quando são soli- citados. Quase não há investimento em encontros dialógicos que instituam currículos pós-críticos em EAD, mesmo quando estes se encontram face a face, nos pólos presenciais, ou online pela inter- net e suas interfaces ou videoconferências. Sabemos bem que o conhecimento não pode ser transmitido, deve ser construído no processo. (…) Para tanto, é preciso criar ambiências em que o co- letivo possa problematizar as questões da ciência ressignificando sua vida prática e a própria ciência na cidade ou no ciberespaço, podendo, assim, exercer a verdadeira cidadania. As tecnologias di- gitais com suas interfaces de conteúdo e de comunicação, em con- sonância com uma visão de currículo fundamentado na diferença, poderão instituir novas pedagogias em EAD. Para tanto, não deve- mos subutilizar as TICs nem eliminar os docentes. 10 Ressalta-se, portanto, a importância do fator humano na EaD, dos saberes específicos da docência e das trocas significativas entre alunos e tutores mediadas pelas tecnologias. A seguir, serão detalhados aspectos centrais da formação e da prática do tutor para que tal fim seja alcançado. 2. Competências do Tutor em EaD Neste tópico, iremos especificar um pouco mais os saberes da tutoria da EaD, sempre tendo como referência a docência. Libâneo (2005) articula o agir pedagógico do educador nas seguintes três instâncias: • Provimento de mediações culturais para o desenvolvimento da razão crítica, isto é, conhecimento teórico-científico, capacidades cognitivas e modos de ação; • Desenvolvimento da subjetividade dos alunos e ajuda na construção de sua identidade pessoal e no acolhimento à diversidade social e cultural; • Formação para a cidadania e preparação para atuação na realidade. 11 É importante ressaltar que, na perspectiva de Libâneo, a ação do educa- dor – o que também se aplica ao tutor da EaD – ultrapassa a mediação dialogada para que o aluno aprenda os conteúdos curriculares. O autor indica uma ação educacional que contempla o aluno em toda a sua intei- reza, ou seja, o seu desenvolvimento como um ser dotado de intelecto e racionalidade, mas também de sentimentos, de identidade própria, e de missão cívica apto a intervir na sociedade para aprimorá-la. Mais especificamente, Belloni (2001) aborda as novas competências do que chama de “formadores” da EaD, o que abrange professores, tutores e outros profissionais da educação que atuam na área. Segundo a auto- ra, é necessário que esses profissionais recebam sua formação também focada nos elementos da inovação tecnológica e suas consequências pedagógicas, bem como uma preparação para a formação continuada, ou seja, de aprendizagem ao longo da vida. Citando Blandin, Belloni lista quatro grandes áreas em que os profissionais da educação neces- sitam desenvolver competências. São elas: • Cultura técnica: ter certo domínio sobre informática e mídias; • Comunicação: poder trabalhar em equipe e praticar a comunicação interpessoal, e ser um comunicador na relação com os alunos, estabelecendo o diálogo e trocas constantes com eles; • Trabalhar com método: sistematizar e formalizar procedimentos e métodos a fim de atingir objetivos de qualidade propostos; • “Capitalizar”: apresentar seus saberes de forma didática para que os alunos façam bom proveito deles, mas também conhecer e se adequar às necessidades de saberes dos outros, inclusive o aluno. 12 Ressaltam-se, dessa forma, as três mais importantes dimensões de for- mação e de atuação dos tutores na EaD: • Pedagógica: inclui atividades de aconselhamento, orientação e tutoria de estudos e processos de aprendizagem. Tem a “finalidade de desenvolver capacidades relacionadas com a pesquisa e a aprendizagem autônoma” (BELLONI, 2011, p. 88). • Tecnológica: inclui avaliação, seleção de materiais e elaboração de estratégias de uso. Inclui ainda “a produção de materiais pedagógicos utilizando esses meios, isto é, o conhecimento das suposições metodológicas que a utilização desses meios implica.” (idem). • Didática: inclui formação específica em determinado campo e necessidade de atualização constante sobre a disciplina, o campo de estudos. Busca a compreensão teórica em sua relação com a prática de ensino. 13 Belloni (2001) ressalta ainda o fato de que o professor e o tutor devem ser parceiros dos estudantes no processo de construção do conhe- cimento, incluindo atividades de pesquisa e de inovação pedagógica desses profissionais. O professor e o tutor, dessa forma, se inserem na EaD como aprendentes voltados à melhoria da aprendizagem do aluno. Ou seja, buscam sempre aprender como atuar para melhorar a aprendizagem dos alunos, utilizando-se de recursos didáticos tradicio- nais e/ou novos e de tecnologias tradicionais e/ou novos, valorizando- -se sempre a autonomia do aluno. Vejamos a seguir o detalhamento de alguns saberes do tutor, segundo os pesquisadores Oliveira e Santos (2013): Saberes Pedagógicos: • Inclui as seguintes competências: capacidade para interagir com os conteúdos e com o material didático, difundindo-os e dinamizando-os. • Utilização de estratégias de orientação, acompanhamento e avaliação (somativa e formativa) da aprendizagem dos alunos, identificando as dificuldades surgidas e tentando corrigi-las. • Demonstração de rapidez, clareza e correção na resposta as perguntas e mensagens enviadas. Estabelecimento regras claras e definidas para o trabalho a ser desenvolvido. 14 Saberes Tecnológicos: • Disposição para a inovação educacional, em especial aquela que tem suporte nas tecnologias de informação e comunicação (TICs). • Adequação das tecnologias e do material didático do curso às diferenças culturais. • Domínio das ferramentas tecnológicas empregadas. Saberes Didáticos: • Conhecimento do conteúdo do curso a ser ministrado. • Capacidade de realizar intervenções didáticas com a frequência, oportunidade e sequencialidade necessárias. • Utilização de estratégias didáticas adequadas às diferenças culturais, para dinamizar discussões animadas e produtivas, para a proposição de tarefas e o esclarecimento de dúvidas. • Proposição e supervisão de atividades práticas, que completem os conhecimentos teóricos do curso. Saberes Pessoais: • Habilidade para interagir com os alunos, de forma não-presencial, individualmente e em grupos, encorajando-os e incentivando-os, minimizando desta forma a evasão. • Habilidade para manter relações menos hierarquizadas do que na educação presencial. • Disposição para estimular a autonomia e a emancipação do aluno, delegando-lhe o controle da própria aprendizagem. • Competência para a conversação comunicativa (dialogicidade, no sentido explicitado por Paulo Freire). 15 De forma mais concreta, segundo o documento intitulado Competên- cias Para Educação a Distância: Referenciais Teóricos e Instrumentos para Validação, da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), durante o andamento do curso, o tutor deve procurar desempenhar: Ações pedagógicas: • Promover atendimento personalizado dos alunos, selecionando as melhores estratégias para realizar o acolhimento e buscar a permanência de cada umdeles no curso. • Apoiar o processo de aprendizagem dos educandos, identificando diferenças entre suas trajetórias, respeitando suas experiências e ritmos próprios, valorizando suas conquistas, procurando integrá- los e ajudando-os a enfrentar os desafios da Educação a Distância. • Propor ações junto aos educandos, que permitam concretizar uma atitude formadora do espírito crítico, da superação de problemas, da discriminação entre informações essenciais e triviais. • Estimular a autonomia da aprendizagem dos educandos. Ações de comunicação: • Interagir com os educandos, respondendo de forma personalizada e ágil todas as dúvidas, comunicando-se de forma clara e precisa, estimulando-os a desenvolver o raciocínio. • Encorajar os alunos a discutirem individual e coletivamente suas dúvidas e questionamentos. • Estimular os educandos a interagirem entre eles, a desenvolverem atividades colaborativas, compartilhando fontes de informações para a construção do conhecimento. • Comunicar-se, buscando a criação de vínculos afetivos com os educandos favorecendo o sentimento de pertencimento de cada um ao grupo aumentando a autoestima e a valorização da permanência no curso. 16 Ações relacionadas à tecnologia: • Orientar os educandos quanto aos recursos e suportes tecnológicos do curso, de modo a reduzir tensões, construir uma representação compartilhada da educação a distância e favorecer a aprendizagem de novas formas de comunicação. • Garantir o acesso permanente dos educandos aos recursos de aprendizagem propostos. Ações de gestão: • Gerenciar as soluções para problemas frequentes e/ou emergenciais no curso, orientando a realização das correções que possibilitem a continuidade das atividades educacionais. • Mediar os conflitos dos educandos. Em um programa nacional desenvolvido na alçada no governo federal do Chile (Patiño et al, 2010), foram criados indicadores sobre a forma- ção de tutores em quatro dimensões: • Compreensão dos processos online: sobre a capacidade do tutor em estimular os processos reflexivos e de análise crítica, a habilidade para fazer cumprir os prazos, o uso de ferramentas do AVA e a capacidade de tomar iniciativas e de motivar a comunidade de aprendizagem. 17 • Habilidades técnicas: capacidade de guiar os processos efetivos de aprendizagem no uso das tecnologias e o uso efetivo de diferentes ferramentas do AVA. • Habilidades de comunicação on-line: desempenho comunicacional, sua maneira de expressar os objetivos com clareza e objetividade nas atividades, mensagens e respostas aos alunos. • Domínio do conteúdo específico: capacidade para liderar o processo de construção de comunidades de aprendizagem, domínio sobre os conteúdos do curso e a construção colaborativa dos conhecimentos. Nos chamados cursos híbridos, que incluem encontros presenciais em um polo de ensino, os tutores podem ser agrupados entre o que tem se chamado de tutores virtuais e tutores presenciais: • Virtuais: são os que atuam via internet e através do AVA e de outras formas de comunicação com o aluno. Segundo Mill (2010, p.35), o trabalho desse tutor é mais direcionado ao conteúdo da disciplina e, por isso, normalmente são especialistas na área da disciplina ou do curso em que trabalham (…) é preciso atenção especial nessa relação alunos-tutor, pois a função do tutor virtual é demasiadamente complexa e trabalhosa para atender a um grupo com mais de 25 alunos num determinado conteúdo, por oferta de disciplina, com a qualidade desejada. 18 • Presenciais: Geralmente, esses tutores têm um perfil mais generalistas de processos pedagógicos em EaD e/ou têm formação na área do curso em que atuam. Segundo Mill (2010, p. 17): Sua função é dar atendimento local para os alunos, auxiliando- os em suas dificuldades pontuais (…) atendem a dificuldades técnicas do ambiente virtual, auxiliam os docentes-formadores em atividades presenciais etc. Sua participação no processo de ensino-aprendizagem é extremamente importante, mas, por vezes, considerada dispensável em alguns sistemas de EaD, seja pela necessidade de redução de custos ou mesmo pela concepção pedagógica do grupo que concebeu a proposta. Além das competências formais e práticas detalhadas nesse tópico, o tutor ocupa outro lugar, não menos importante, no processo educacio- nal. Qual seja, o de cultivar alguns vínculos afetivos com os educandos, como detalhado a seguir. 19 3. A Afetividade e o Tutor em EaD Afeto, do latim affectus, refere-se ao conjunto de atos ou de atitudes como a bondade, a benevolência, a inclinação, a devoção, a proteção, o apego, a gratidão, a ternura etc., que no seu todo podem ser caracte- rizados como a situação em que a pessoa se preocupa com ou cuida de outra pessoa em que esta responde, positivamente, aos cuidados ou à preocupação do qual foi objeto. A teoria psicogenética de Wallon considera a afetividade como um poten- cial mobilizador contagiante, capaz de produzir estados de comunhão, além de diluir fronteiras entre os indivíduos. Tais estados são responsá- veis, em algumas situações, pela convergência de esforços na direção de objetivos comuns. Para Wallon, a afetividade é parte integrante da cognição, daí usa importância nos processos de aprendizagem do alu- no. Ainda que isso não seja determinante de uma melhoria da aprendi- zagem, nós mesmos podemos perceber em nossa prática docente que aqueles alunos que desenvolvem uma afetividade mais acentuada no contexto da aprendizagem, seja com professores ou com colegas, ten- dem a ser mais bem-sucedidos na escola. 20 Serra (2005, p. 33) (citando Williams, 1997) afirma que existe a possibilidade de eu me sentir tocada sinceramente e emo- cionalmente por um relacionamento desencadeado no ciberes- paço. Mas, para ele, o que perdemos no ciberespaço é a profun- didade da experiência emocional, o aconchego e o entendimento que vêm com gestos, como o de ser tocado por outro ser humano, o contato face a face e a presença física do mundo real. O alento para uma criança que chora, o carinho físico de um apaixonado, gestos que nos tocam e transmitem um sentido de confiança, in- timidade e vulnerabilidade tão presentes nos mortais. A autora também afirma, com base dos trabalhados de Maturama, que no ciberespaço as emoções são reveladas pelo uso das palavras, ou seja, o afeto é regulado por uma experiência sensorial que pode aconte- cer a partir da linguagem. 21 Na EaD, em particular, a não criação de laços afetivos pode ocasionar um sentimento de isolamento, gerando risco de desmotivação e de evasão do aluno. Não podemos nunca perder de vista essa informação. Ainda no caso da EaD, essa afetividade do tutor através da linguagem se expressa fortemente por aquilo que o tutor escreve ao aluno, incluindo- -se aí também o uso de símbolos diversos (os populares “rsrs”, “kkkk”, “:)”, etc.) e uma infinidade de emoticons disponíveis na internet, geran- do aproximação e informalidade, com boa dose de bom senso, claro. Hoje, com o aumento das capacidades tecnológicas, o tutor também pode enviar arquivos de áudio ao aluno – com a gravação de sua pró- pria voz –, bem como de vídeos, que podem ser facilmente gravados com as câmeras embutidas nos computadores, tablets e smartphones. Autores ainda apontam para a necessidade de que essa expressão da afetividade seja desenvolvida com regularidade ao longo de todo o cur- so, tendo em vista que os meios da EaD – mensagens, fóruns, chats – têm uma natureza bastante fria se comparados às trocas da sala de aula presencial. A expressão da afetividade pelo tutor ajuda o aluno a viven- ciar melhor a distância física existente entre eles, os colegas de turma e o tutor, traz benefícios para sua aprendizagem e satisfação com o curso. 22 4. O diálogo em EaD Cabe ao tutor da EaD realizar uma mediação pedagógica entre o aluno, os materiais de ensino e as atividades de aprendizagem (fóruns, chats, trabalhos escritos, etc.). O ponto central dessamediação está no diálogo, nas trocas realiza- das entre o tutor e o aluno através do AVA durante o curso. Para Ma- setto (2000), mediação pedagógica é a atitude, o comportamento do professor, que se coloca como um incentivador ou motivador da apren- dizagem, como uma ponte rolante entre o aprendiz e a aprendizagem, destacando o diálogo, a troca de experiências, o debate e a proposição de situações. Trata-se de animar a troca de ideias entre os alunos, colo- car questões que posam contribuir para a compreensão de conceitos e ideias, disponibilizar novos materiais e fontes de consulta que possam gerar subsídios para compreensão de algo buscada pelo aluno. Segundo Dotta e Giordan (2006), “educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujei- tos interlocutores que buscam a significação dos significados. Para isso, a expressão verbal de um dos sujeitos tem de ser percebida dentro de um quadro significativo comum ao outro sujeito [FREIRE, 1977, p. 66, 67, 69]”. 23 Dessa forma, segundo os autores, “o educador precisa, então, atuar como gestor da comunicação em sala de aula, promovendo situações que pos- sibilitem a participação ativa e crítica dos estudantes na construção do conhecimento, e isso somente é possível a partir do diálogo”(p.4). Os autores analisam o seguinte diálogo – muito bom e positivo – entre um aluno e o tutor: Tutor - Qual a relação do curso de Gestão Ambiental com a Química Or- gânica, na resolução dos problemas da cidade??? Tutor - Vamos supor que você é o responsável pelo controle ambiental de uma empresa de gerenciamento, como a Cetesb. Já ouviu falar nela? Senão, recomendo que você dê uma passadinha nesse site: http:// www. cetesb.sp.gov.br/ Tutor - Continuando: aí você é chamado para resolver um problemão: um caminhão com um produto derivado do petróleo (e olha que tem uma PORÇÃO deles andando por aí...) bateu e está derramando a sua carga em uma avenida, próxima as pessoas, rede de esgoto, etc... E aí??? 24 O que é que a gente faz? Chama você, que manja muito de química or- gânica, pra saber: Tutor - Deu para responder a sua pergunta? Qualquer coisa, mande res- postas, ok? Abraços Aluno - Muito obrigado pela sua resposta. Eu, vou prestar esse ano pra Gestão Ambiental aqui na USP, e espero passar. E como adoro química, queria saber isso, porque o que mais me interessa na área de GA é exclu- sivamente química... É. fiquei mais animado.. rsrsrs!!!!!! Talvez depois eu possa também fazer um curso de química!!!!!!! E essa mistura parece que esta dando certo neh??? Valeu...... Sobre essa ótima troca dialógica entre o tutor e o aluno, os autores co- mentaram que: “O discurso do tutor A formou uma cadeia discursiva dialógica [utilizando] outras redes discursivas, quando […] propõe um hipertexto: “Qualquer dúvida, um site legal que estou recomendando que vocês deem uma passadinha é o: http://www.cetesb.sp.gov.br/”. Ainda neste turno é possível verificar a presença de múltiplas vozes. As referências a “minha área”, “química orgânica” e “gestão ambiental” trazem para o discurso do tutor A o conjunto teórico das áreas citadas que inserem a possibilidade de se construir múltiplas redes de signifi- cação apoiadas pelos discursos científicos daquelas áreas, não citados diretamente em seu enunciado, mas referenciados, expressando, mais uma vez a construção de significados por meio de uma rede discursiva. 25 Nesse sentido, Dotta e Giordan (2006, p. 7-8) afirmam que o discurso do tutor A foi, na maior parte das enunciações, interativo/dialógico, por explorar diferentes ideias e considerar múltiplos pontos de vista […] Verifica-se ainda a alternância ou a mistura [BAKHTIN, 2003, p. 286] de gêneros discursivos distintos. O aluno 1, ao iniciar as interações, envia perguntas formais, estruturadas com as características do discurso cien- tífico-escolar. Ao responder, o tutor lança mão de um gênero discursivo coloquial, estabelece um tom informal, demonstra receptividade e ten- ta estabelecer um diálogo convocando o aluno para a réplica. Outro elemento muito importante da ação tutorial é a interação, ou melhor, as interações. Em geral, elas são tratadas no mesmo âmbito do diálogo. Mas veremos no tópico seguinte que possuem sua própria natureza e especificidade em processos em EaD. 26 5. A interação em EaD É muito comum que a interação seja vista apenas como um contato entre o tutor e o aluno ou como uma prática de diálogo entre eles. No entanto, refere-se a um mecanismo um pouco mais distinto e complexo. A “interação didática guiada” do tutor com o aluno foi proposta por Holmberg como uma teoria para a EaD. O maior destaque dessa teoria é a importância dada à interação entre o tutor e o aluno. Ao interagir, tutor e aluno transformam alguma coisa. Por exemplo: o tutor imagina que o aluno tem uma dificuldade e tenta auxiliar o aluno. O aluno rece- be a mensagem do tutor e explica que o problema é outro. O tutor en- tão entende melhor a dificuldade do aluno e refaz sua ação, buscando atingir o objetivo. 27 Como vemos, não se trata apenas de um contato ou de uma troca, mas de um processo em que a interação permite transformar algo, no caso a compreensão que o tutor tinha sobre o problema do aluno e a ação final do tutor para solucioná-lo. Segundo Máximo (2010), “é um processo que ocorre quando as pessoas agem em relação recíproca num dado contexto social, colocando-se nos diferentes pontos de vista dos membros de seu grupo, como num ‘jogo de papéis’”(p.36). Nesse sentido, um bate-papo entre o tutor e o aluno via internet com ima- gem e voz, por exemplo, é altamente interativo e ocorre em tempo real, permitindo muitas trocas entre eles e muitas mudanças de ponto de vis- ta que levam a uma melhor compreensão do que está sendo tratado. Ainda neste caso, tutor e aluno se comunicaram interagindo com uma interface, no caso o programa de computador que realiza a comunica- ção de voz e imagem entre eles através da internet. Portanto, a intera- ção específica na área de EaD terá em geral um elemento humano e um elemento tecnológico que irá mediar as trocas entre aluno e tutor. 28 No caso da EaD, o aluno interage principalmente com o tutor, com os colegas, com o material didático disponibilizado pela instituição de en- sino e com as informações, pessoas e máquinas disponíveis na internet. São todos processos de interação muito importantes para os processos de aprendizagem na EaD, detalhados a seguir: • Aluno-materiais digitais: Segundo Anderson (2008), “a internet oferece suporte a estas formas mais passivas de interação aluno- conteúdo, mas também fornece uma série de novas oportunidades, tais como imersão em microambientes, exercícios em laboratórios virtuais e tutoriais on-line assistidos por computador para a aprendizagem” (p. 58). O desenvolvimento de conteúdo interativo que responde ao comportamento dos alunos permite a personalização de conteúdos de maneiras sem precedentes, permitindo apoiar as necessidades individuais de cada aluno. • Aluno-tutor: A interação aluno-professor é apoiada na aprendizagem em EaD em um grande número de variedades e formatos que incluem a comunicação síncrona e assíncrona em comunicações de texto, áudio e vídeo. Anderson (2008) alerta para o fato de que os alunos muitas vezes possuem expectativas irrealistas para respostas imediatas de seus tutores. Anderson afirma que, hoje, as melhores práticas em EaD reconhecem que o fluxo de comunicação em cursos on-line passa a 29 ser muito menos centrado no tutor, como ocorre com o professor na sala de aula tradicional. Para ele, “os tutores não têm que responder imediatamente a todas as perguntas dos alunos. Desempenhando assim um papel menos dominante no processo, o tutor pode realmente apoiar a emergência de um maior comprometimento do aluno e elevar sua participação nos estudos” (p.59). 5.1. Interação e máquinas inteligentes Durante muitos anos, e aindahoje, os cientistas da computação tentam avançar a tecnologia para que as máquinas também possam realizar processos interativos inteligentes. Já nos anos de 1970 surgiram al- guns programas educacionais via computador que tentavam ensinar conceitos aos alunos com base na interação do homem com a máqui- na (em inglês era conhecido como CAI, Computer Aided Instruction). No entanto, a tecnologia era pouco desenvolvida e os alunos achavam a experiência mecânica e enfadonha. Com o tempo, a prática foi aban- donada. Hoje a meta é de que sejam desenvolvidos elementos de in- teligência artificial que simulem a capacidade de raciocínio da mente humana associada ao banco de dados criado a partir de nossas ações 30 diversas na internet, a fim de nos oferecer uma experiência mais custo- mizada e autêntica ao navegarmos pela rede. É o que tem se chamado da web semântica. Segundo Anderson (2008), a web semântica foi nominada por Tim Ber- ners-Lee, o criador da internet. O autor explica que a tecnologia empre- gada registra informações utilizando taxonomias formais para que se torne “consciente” sobre si mesma. Por exemplo, os dados contidos em um título de uma página na internet definem como aquele título será exibido na tela, ou seja, seu tamanho, cor, desenho etc. No passado, essa era a capacidade do HTML definindo os títulos, letras, números, entre outros elementos, na internet. Na web semântica, esses títulos, letras, números tornam-se mais “inteligentes”, pois recebem rótulos em uma taxonomia. Isso permite que agentes autônomos e seres humanos possam determinar que um conjunto de números corresponda a um número de telefone, por exemplo. Por sua vez, este número telefônico está relacionado com um indivíduo ou uma organização (tendo a capacidade, portanto, de definir muito mais do que o tamanho e o desenho desses números). “Dada esta informação adicional, os programas de agentes autônomos na internet podem então classificar, consultar, formatar e até mesmo fazer cálculos e inferências com base na informação adicional” (p. 63). Ou seja, instauram-se princípios de inteligência conectando dados e ge- rando novas informações a partir do trabalho de máquinas. 31 Anderson (2008) afirma ainda que o desenvolvimento de tecnologias sociais, que adicionam uma capacidade de auto-organização à internet através do uso de tags (etiquetas, palavras-chaves) pelos internautas e através do rastreamento do uso dessas tags, será outro componente da web semântica. Esses dados são então usados para pesquisar, recuperar, reconfigurar e filtrar as informações na internet, uma capacidade que tem aplicação nos campos educacional, de entretenimento e comercial. Agentes ma- quínicos autônomos produzem alertas para os alunos sobre novidades em suas áreas de interesse, organizam agendas para facilitar horários co- muns de reuniões e podem desempenhar funções de acompanhamento da aprendizagem, verificando o progresso dos estudos do aluno ao longo do curso (número de páginas acessadas e tarefas completadas), realizan- do atualizações automáticas de dados nos conteúdos de estudo, etc. 32 Além disso, as tecnologias da web semântica já estão permitindo o de- senvolvimento de sistemas inteligentes que poderão aprimorar diver- sas ações no AVA ao longo do curso, em particular aquelas: • centradas no aluno: Neste caso, o conteúdo pode mudar para se ajustar a preferências e estilos de aprendizagem dos alunos. O conteúdo inicial pode ser ampliado ou modificado com base nas maneiras pelas quais o aluno e o tutor o utilizam (partes menos acessadas ao longo do tempo ganham menos destaque, por exemplo). • centradas no conhecimento: Os agentes automatizados se baseiam nas referências do usuário (sites mais acessados, por exemplo) para selecionar, personalizar e reutilizar conteúdo. Também podem filtrar e qualificar a informação de modo a transformar o conhecimento e contribuir para conexões entre comunidades de especialistas, profissionais e outros estudantes. • centradas em comunidades: Neste caso, as tecnologias podem realizar a marcação de conteúdos e temas de interesse e valor dentro das comunidades, realizando o gerenciamento de conteúdo, agilizando a pesquisa e o estudo do aluno. Também podem monitorar e resumir as interações com a comunidade. • centradas na avaliação: Agentes inteligentes podem avaliar e criticar testes e outros instrumentos de avaliação, proporcionando um retorno na medida das necessidades do aluno. 33 6. O trabalho do tutor em EaD O regime e a forma do trabalho profissional do tutor em EaD tem recebido diversas críticas de pesquisadores e entidades de classe do campo da educação no Brasil. É comum que se critique o trabalho de tutor, por ser visto como uma precarização do papel tradicional do professor, com menor tempo e qualidade de formação, maior jornada de trabalho (inclusive a obrigação de permanecerem conectados à internet nos fi- nais de semana), menores salários e benefícios contratuais de trabalho, o que tenderia a favorecer as instituições educacionais na geração de lucros em detrimento da qualidade de trabalho do profissional e, em última instância, da aprendizagem do aluno. Em suma, fruto das mu- danças neoliberais que geram perdas de benefícios a boa parcela dos trabalhadores em todos o mundo, incluindo o setor educacional. A questão é bastante complexa, mas há relatos de tutores sobre longas jornadas de trabalho, múltiplas atribuições e carência de formação es- pecífica. Afinal, criou-se uma nova figura profissional no campo educa- cional que ainda carece de regulamentação. Em pesquisa realizada por Mendes (2003), identificou-se uma grande variedade de funções desempenhadas pelo tutor. Segundo o caso es- tudado, em cada curso o tutor tem funções específicas. Há o tutor que é responsável por uma disciplina em um ou dois polos. Há o tutor que é responsável por uma disciplina, mas atende a vários polos ao mesmo tempo. Há o tutor que não tem uma disciplina específica e é responsável por um polo, ou seja, atende todas as disciplinas que são ofertadas. Há o tutor que atua em um polo diferente em cada semestre. Todos esses fatores podem gerar sobrecarga de trabalho, stress e outros malefícios indesejáveis à vida do profissional. 34 Alguns pesquisadores da área da educação têm publicado textos sobre essas dificuldades e apontam algumas vantagens da EaD, como a flexi- bilização de horários e de local de estudo, como a fonte de problemas para o trabalho do tutor. Segundo Mendes (2013, p. 864) é justamen- te nessa flexibilidade que está a preocupação com o trabalho docente. Isto, porque um dos principais argumentos usados na defesa do EaD é o da criação de cursos de graduação a pessoas que não dispõem de tem- po nos períodos em que são ofertados os cursos presenciais. Assim, se cada estudante poderá buscar o auxílio do professor nos mo- mentos em que tiver disponibilidade para estudar, qual será o tempo e o espaço de trabalho desse docente? Como o uso das tecnologias in- terativas pode ser feito a qualquer momento e em qualquer lugar, esse professor poderá perder totalmente a noção do que seria o tempo de trabalho (formal) e de lazer, tornando-se, assim, o trabalho demanda permanente na sua vida. A autora (2013, p.873) concluiu que o trabalho desempenhado pelo tutor é a expressão da precarização do trabalho na atualidade. Ele se torna ainda mais precário por- que nem mesmo é de tido como um trabalho, pois os profissionais prestam os serviços de tutoria como bolsistas e, nessa condição, podem permanecer por até quatro anos, sem registro em carteira, sem férias, décimo terceiro ou qualquer outro direito trabalhista. Além desse frágil vínculo trabalhista, a exploração informal da for- ça de trabalho no EaD se expressa também no controle do tempo de trabalho, que se dá por meio do sistema de informática, que re- gistra todos os acessos desses trabalhadores; na obrigação de res- ponder as dúvidas dos alunosem 24 horas, o que inclui os finais de semana; na obrigação de permanecer com um número mínimo de alunos para não perder a bolsa; na necessidade de dominar con- teúdos de disciplinas para as quais não tem formação. 35 Diversos segmentos da área da educação consideram que o tutor é na verdade um professor e que sua forma de atuação diferenciada, a dis- tância, não deveria justificar que seja tratado com um profissional me- nos qualificado ou menos valorizado do que o professor, devendo ser, portanto, considerado professor-tutor dotado de autonomia peda- gógica e devendo participar de todas as etapas do desenvolvimen- to de projetos educacional em EaD. Mill et al (2010) situam o tutor no âmbito do que definem como poli- docência, em uma categoria profissional que inclusive extrapola o fa- zer pedagógico e vai além da categoria professoral. Segundo os auto- res, “não apenas os professores responsáveis pelo conteúdo devem ser considerados como docentes na EaD, mas também aqueles que acom- panham os estudantes e aqueles que organizam pedagogicamente os conteúdos dos materiais didáticos para diferentes suportes midiáticos (impresso, virtual, audiovisual, etc.)”(p. 16). 36 7. A formação continuada do tutor Na chamada sociedade da informação e do conhecimento, os proces- sos formativos não mais se concluem com processos formais em insti- tuições de ensino. Os conhecimentos são transformados em ritmo ace- lerado, o que demanda novas e diversas formações ao longo da vida. Há alguns anos o governo federal estabeleceu regras para programas de formação continuada de tutores ligados à Universidade Aberta do Brasil (UAB). “A formação oferecida visa: • Promover a discussão acerca das especificidades da EAD, de seus modelos de gestão e aprendizagem; • Discutir a atividade de tutoria e a formação e consolidação de comunidades virtuais; • Criar uma comunidade virtual para troca de experiências de tutores da Rede de Educação para a Diversidade” (MEC, 2012, s.p.). 37 Tardif (2002), refere-se aos saberes múltiplos do professor, resultantes de sua formação inicial, continuada e da experiência pessoal e profis- sional. Segundo Fernandes (2014, p.91) para o teórico, o saber é elaborado no contexto da profissão, no fazer profissional, por meio das experiências da própria prática, da troca entre os pares e interações dos diversos agentes sociais da escola e com os quais o professor interagiu e interage ao lon- go de sua carreira docente. Certamente, as possibilidades da am- pliação dos saberes dos professores ocorrem ainda mais com o acesso dos professores a internet, ao interagirem com outros pro- fessores, instituições escolares, redes sociais formadas por pro- fessores, órgãos educacionais, ambientes virtuais de aprendiza- gem e sites educativos. Dessa maneira, o tutor também poderá construir suas próprias redes e comunidades de conhecimento e de saberes, conectando-se com insti- tuições de ensino, centros de pesquisa, especialistas na área e colegas de profissão para trocar informações, realizar o intercâmbio de experi- ências e se manter atualizado sobre o campo de estudos e de trabalho. Em muitas instituições de ensino, o tutor conta com um acompanha- 38 mento de um professor responsável pela disciplina ou curso e isso pode representar uma ação de muito aprendizado para o tutor. Reco- menda-se que nesse acompanhamento o professor responsável dia- logue com o tutor sobre os pontos positivos e negativos de sua ação tutorial, buscando identificar e valorizar os pontos fortes e oferecer su- porte e reflexão para compreender e aprimorar os pontos fracos. Esse acompanhamento pode ser feito através de trocas de mensagens e de reuniões regulares via internet ou presenciais, constituindo importante elemento do processo de formação continuada do tutor. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul é oferecido, desde 2007, um curso de Especialização em Tutoria (Espead), uma ação de formação continuada de caráter teórico-prático que contempla a realização de seminários e oficinas de formação, num total de 360 horas. O curso oferece oficinas tecnológicas, formação nas áreas das disciplinas oferecidas nos cursos e seminários teórico-metodológicos que abrangem as arquiteturas pedagógicas utilizadas nos cursos e metodologias de interação que permitem ao tutor uma ação reflexiva sobre sua prática docente. 39 A formação continuada para tutores em EaD, no atual estágio de desen- volvimento desse campo de estudos e de prática, compreende formação relacionado ao tutor como educador e sua carreira profissional e tam- bém à ação tutorial associada às tecnologias comunicativas e interativas cada vez mais presentes nos processos de aprendizagem da EaD. Vídeo Assista ao vídeo com situações reais de ação tutorial em um fórum de discussão no AVA. Assim como os estudos, os vídeos são importantes materiais de estu- dos para você. Recomendamos que assista aos vídeos mais de uma vez e faça anotações de conteúdos dos vídeos que julgue importantes para seus estudos. Atividade de Aprendizagem 1. Postagens no Facebook Para esta Unidade do curso você deverá fazer novamente pelo menos uma postagem no grupo do Facebook. Toda postagem deverá estar di- 40 retamente relacionada à temática estudada em cada unidade do curso. As postagens devem ter pelo menos 10 linhas de texto. Você pode utili- zar também imagens, vídeos, links e o que mais desejar para tornar as suas postagens mais interessantes e mais atraentes a todos que visita- rem a sua nova página! 2. Ação Tutorial no Facebook Nesta Unidade você irá fazer mais um exercício simples de atuação como se fosse mesmo um tutor de EaD. Para isso, escolha novamente, pelo Facebook, a postagem realizada pelo colega e escreva um comentário crítico, procurando contribuir com a aprendizagem desse/dessa colega. Como se fosse um tutor. Escreva um texto em estilo informal, com suas próprias palavras, como no exemplo que apresentamos anteriormente. MUITO IMPORTANTE PARA A SUA APRENDIZAGEM 1 Situação-problema da tutoria em EaD A seguir, você irá conhecer uma situação-problema hipotética que re- presenta bem a forma de atuação de tutores em cursos a distância. Leia atentamente a passagem: “Ao mediar um Fórum, a tutora percebe que a aluna Paula havia sugeri- do a leitura de dois artigos que encontrou na internet. Paula inseriu dois 41 links para os artigos disponíveis na web. Ao verificar o conteúdo desses artigos, a tutora percebe que não estão diretamente relacionados ao tópico debatido no Fórum, ainda que estejam dentro da temática ge- ral do curso. A tutora acha por bem ignorar os links sugeridos por Paula e opta por focar seu trabalho especificamente no tema do Fórum. A tu- tora aproveita para responder aos comentários de dois outros alunos que postaram perguntas diretamente relacionadas ao artigo indicado para leitura. Dois dias mais tarde, Paula envia um e-mail à tutora per- guntando se ela havia tido a chance de verificar os artigos sugeridos por ela no Fórum. Como havia verificado que os artigos não estavam dentro da temática proposta, a tutora prefere ignorar o e-mail de Paula como forma de ajudá-la a manter o foco nas atividades do curso, pois um novo e-mail poderia distrair a aluna. Ao retornar ao Fórum, a tutora vê que um aluno havia comentado um dos artigos sugeridos por Paula, mas novamente prefere ignorar tal comentário, pois não estava direta- mente relacionado ao tópico.” Reflita detidamente sobre a passagem e seu significado para prática de tutoria e de apoio ao aluno em EaD. Faça algumas anotações so- bre suas impressões e suas dúvidas. Em seguida, pesquise na internet vários aspectos da ação tutorial (recortes de textos, relatos de experiên- cias, tabelas comparativas, dados diversos, inclusive em outros países). Compartilhe e reflita sobre esses conhecimentos com colegas ou outros interessados na temática. 42 MUITO IMPORTANTE PARA A SUA APRENDIZAGEM 2 Como a sua ação de tutor/a podecontribuir para a aprendizagem e a satisfação do aluno? Quais são as semelhanças e as diferenças entre as ações do professor e do tutor? Quais os desafios atuais para a profissão de tutor no Brasil? Reflita detidamente sobre essas questões. Faça algumas anotações so- bre suas impressões e suas dúvidas. Em seguida, pesquise na internet sobre os vários aspectos da história da EaD (recortes de textos, rela- tos de experiências, tabelas comparativas, dados diversos, inclusive em outros países). Compartilhe e reflita sobre esses conhecimentos com colegas ou outros interessados na temática. Para Aprender Mais É muito importante que você aprofunde seus estudos sobre a EaD. Li- vros podem ser encontrados em bibliotecas públicas de sua cidade e de universidades. Ou podem ser adquiridos em boas livrarias do país. Os chamados “sebos” oferecem livros a preços reduzidos (https://www.es- tantevirtual.com.br/). Consulte o site da Abed: www.abed.org.br/site/pt/midiateca/textos_ead/ Dicas Ao longo deste curso, lembre-se sempre de: • Acessar o grupo no Facebook para as atividades de formação tutorial e de • Verificar a barra de progresso, pois é uma boa indicação para acompanhar seu desempenho no curso. http://www.abed.org.br/site/pt/midiateca/textos_ead/ 43 Referências ANDERSON, T. Towards a theory of online learning. In The theory and practice of online learning. ANDERSON, T. (org). Edmonton: AU Press, Athabasca University , 2008. BELLONI, M. L. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 2001. DOTTA, S. GIORDAN, M. Formação a distância de educadores para o diálogo virtual em serviços de tutoria on-line.SBIE 2006 - XVII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação 8 a 10 de novembro de 2006 - UnB - Brasília – DF. FERNANDES, J. H. A perspectiva teórica da cibercultura e formação do- cente na visão dos licenciandos da UFC sobre o Laboratório Interdisci- plinar de Formação de Educadores (LIFE) : desafios e avanços. Disserta- ção de Mestrado. UFC, 2014 KENSKI, V. Avaliação e acompanhamento da aprendizagem em ambien- tes virtuais, a distância. In Educação a distância: desafios contemporâ- neos. São Carlos: EdUFScar, 2010. MASETTO, M. T. Mediação pedagógica e o uso da tecnologia. In: MORAN, J. M.; MASETTO M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pe- dagógica. São Paulo: Papirus, 2000. p. 133-173. 44 MÁXIMO, M. E. Da metrópole às redes sociotécnicas: a caminho de uma antropologia no ciberespaço. In: RIFIOTIS, T. (org.) Antropologia no ci- berespaço. Florianópolis: Editora da UFSC, 2010. MEC. Curso de Formação de Tutores. Acesso em: 15 out. http://portal. mec.gov.br/arquivos/redediversidade/pdfs/tutores.pdf MENDES, V. O tutor no ensino a distância: uma forma de precarização do trabalho docente? R. Educ. Públ. Cuiabá, v. 22, n. 51, p. 855-877, set./ dez. 2013. MILL, D., OLIVEIRA, M. R., RIBEIRO, L. R. Múltiplos enfoques sobre a po- lidocência na Educação a Distância virtual. In: MILL, D., RIBEIRO, L. R., OLIVEIRA, M. R. (Org.). Polidocência na educação a distância. Múltiplos enfoques. São Carlos, EdUSFCar, 2010. MILL, D. Sobre o conceito de polidocência ou sobre a natureza do pro- cesso de trabalho pedagógico na Educação a Distância. In: MILL, D., RI- BEIRO, L. R., OLIVEIRA, M. R. (Org.). Polidocência na educação a distân- cia. Múltiplos enfoques. São Carlos, EdUSFCar, 2010. OLIVEIRA, E. SANTOS, L. Tutoria em Educação a Distância: didática e competências do novo “fazer pedagógico”. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 13, n. 38, p. 203-223, jan./abr. 2013. OLIVEIRA, M. R., MILL, D., RIBEIRO, L. R. A tutoria como formação docen- 45 te na modalidade de Educação a Distância. In: MILL, D., RIBEIRO, L. R., OLIVEIRA, M. R. (Org.). Polidocência na educação a distância. Múltiplos enfoques. 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Petrópolis: Vozes, 2002. 46 CLIQUE PARA FALAR COM A GENTE mailto:cursolivre%40fdr.org.br?subject= https://www.google.com.br/maps/place/Av.+Aguanambi,+282+-+Jos%C3%A9+Bonifacio,+Fortaleza+-+CE,+60055-402/@-3.7393841,-38.5273855,17z/data=!3m1!4b1!4m5!3m4!1s0x7c748fdc798c021:0x400f28dab2f110e7!8m2!3d-3.7393895!4d-38.5251968 https://www.instagram.com/fundacaodemocritorocha/?hl=pt-br https://pt-br.facebook.com/fundacaodemocritorocha/ https://www.youtube.com/channel/UCbIF2QLp1NM5ZrxaylOL_oQ https://fdr.org.br/uane/
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