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Projeto terapêutico singular em um centro de atenção psicossocial (Caps II)

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Projeto terapêutico singular em um centro de atenção psicossocial (Caps II) 
 
Project therapeutic singular in psychosocial care center (Caps II) 
 
 
Robson Kleber de Souza Matos1 
Gisele Martins dos Santos2 
Rodrigo Marques Batista Rocha3 
Aldenise de Freitas Athayde4 
Viviane Bernadeth Gandra Brandão5 
 
 
RESUMO 
 
O presente artigo tem como objetivo realizar uma análise crítica sobre Projeto 
Terapêutico Singular (PTS) em um Centro de Atenção Psicossocial na cidade de 
Montes Claros - MG. Para abordar essa temática e apresentar uma abrangência 
qualificada do objeto em estudo utilizou-se a pesquisa bibliográfica, acesso a 
internet por meio de artigos, documentos e legislações que tratam da temática. Além 
disso, foi realizada uma pesquisa qualitativa em que se articula a bibliografia 
referente a Projeto Terapêutico Singular com o que se têm na prática nesse 
dispositivo, através de uma observação participante. Com isso, foi possível 
potencializar esse instrumento, destacando a importância do PTS na prática 
cotidiana de um CAPS, visando um cuidado integral aos usuários, condizente com 
os preceitos da reforma psiquiátrica. 
 
Palavras Chave: Projeto Terapêutico Singular; Centro de Atenção Psicossocial; 
Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This article aims to make a critical analysis of Singular Therapeutic Project (PTS ) in 
a Psychosocial Care Center in the city of Montes Claros. To address this issue and 
provide a qualified coverage of the object under study used the literature search , 
access the Internet through articles , documents and legislation dealing with the 
issue. In addition, a qualitative research that articulates the literature on the 
Therapeutic Project Single with what we have in practice this device was performed. 
 
1Psicólogo Especialista em Saúde Mental pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental do 
Hospital Universitário Clemente de Faria- HUCF/Unimontes. E-mail: robsonkmatos@gmail.com 
2Assistente Social Especialista em Saúde Mental pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde 
Mental do Hospital Universitário Clemente de Faria-HUCF/ Unimontes. E-mail: giselymartins10@hotmail.com 
3 Enfermeiro Especialista em Saúde Mental pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental do 
Hospital Universitário Clemente de Faria- HUCF/Unimontes. E-mail: rodrigomarkss@yahoo.com.br 
4Psicóloga-Docente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental doHospital Universitário 
Clemente de Faria- HUCF/Unimontes. E-mail:aldenisedefreitasathayde@yahoo.com.br 
5 Assistente Social, especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, Mestranda em Estudos Culturais e 
Docente do Curso de Serviço Social da Funorte, da Unimontes e do Programa de Residência Multiprofissional 
em Saúde Mental doHospital Universitário Clemente de Faria- HUCF/Unimontes. E-mail: 
viviane.gandra1@hotmail.com 
Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 111
Thus, it was possible to enhance this tool , highlighting the importance of PTS in the 
daily practice of a CAPS , aiming at a comprehensive care to users, consistent with 
the principles of psychiatric reform. 
 
 
KEYWORDS: Therapeutic Project Single; Psychosocial Care Center; Mental Health; 
Psychiatric Reform. 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Desde 1986 as redes de atenção em saúde mental dos municípios 
brasileiros vêm se organizando em uma lógica descentralizada, territorial e de 
caráter não-manicomial, influenciada pela reforma psiquiátrica brasileira ocorrida nas 
décadas de 1970 e 1980. Dentre os dispositivos implementados nessa 
reestruturação, os Centros de Atenção de Psicossociais – CAPS – são primordiais. 
Os CAPS deverão se constituir como serviço ambulatorial de atenção 
diária que funcione segundo a lógica do território, conforme definido na Portaria 
399/GM, em 19 de fevereiro de 2002. Como descreve Costa-Rosa (2012), esse novo 
modo de enxergar a saúde mental leva em consideração fatores políticos e 
biopsicosocioculturais como determinantes, e não apenas de maneira genérica. 
Seus meios básicos são psicoterapias, laborterapias, socioterapias e um conjunto 
amplo de dispositivos de reintegração sociocultural; além da medicação, abordagem 
da crise e de casos graves e persistentes. 
Dessa forma, é decisiva a importância que se dá ao sujeito, que este se 
invista de maneira fundamental na sua mobilização como participante ativo e 
principal no tratamento, não se desconsiderando, claro, o caráter orgânico da sua 
doença, mas trazendo uma ênfase a pertinência do indivíduo a um grupo familiar e 
social. Nesse sentindo, não é apenas o sujeito e sua dimensão de indivíduo que 
‘trabalha’; supõe-se que devem trabalhar também a família e o grupo social como 
agente das mudanças buscadas. Fica claro através dos serviços ofertados, inclusive 
descritos na lei, que o objetivo principal do CAPS é oferecer um dispositivo que 
possa fazer um contraponto a lógica asilar reinante no país em décadas anterior e 
oferecer, portanto, um “modo psicossocial de tratamento”, de maneira integral e 
resoluta. 
Entretanto, muitas vezes, seja pela rotina dos serviços ou pela 
comodidade, o dispositivo que viria oferecer algo novo e único para o usuário, pode 
Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 112
acabar funcionando como negativo do excesso de gozo do sujeito que necessita 
dele, viciando-se em práticas e lógicas que visava superar. Com efeito, torna-se 
necessário uma revisão constante das nossas práticas nesse contexto. 
 Pensando nisso, este artigo visa oferecer uma reflexão crítica sobre um 
aspecto fundamental na dinâmica do CAPS, que é o Projeto Terapêutico Singular - 
PTS. Com efeito, tendo como referência o cotidiano do serviço e apoiando-se de 
literatura pertinente, além de documentos oficiais, objetiva-se ainda de oferecer 
possibilidades de discussão em relação a atividades realizadas diariamente em um 
Centro de Atenção Psicossocial na cidade Montes Claros - MG, oferecendo assim 
uma melhor integração dessas ações conjuntas e potencializando o cuidado integral 
aos usuários que venham a usá-lo. 
Fundado em 2002, o CAPS em questão disponibiliza a população 
diversos serviços em prol das pessoas em sofrimento mental. A equipe é composta 
atualmente por 1 psiquiatra, 2 clínicos gerais, 2 enfermeiros, 4 psicólogos, 1 
assistente social, 2 oficineiros e 6 técnicos de enfermagem, além dos residentes em 
saúde mental composto por assistentes sociais, enfermeiros e psicólogos e 
psicólogos da Residência Multiprofissional em Saúde da Família, que também 
trabalham promovendo a redução de danos e reabilitação psicossocial. 
Com 1714 usuários cadastrados e uma média de 30 usuários na 
permanência por dia,trata-se de um serviço referencial destinado à população em 
sofrimento mental que, nesse caso, articula-se com a rede de saúde mental do 
município em todos os níveis de complexidade assistencial – atenção básica, 
hospitalar e de especialidades.Há diversos serviços oferecidos no referido CAPS, a 
saber: Acolhimentos, atendimento individual, acompanhamento psicológico e social, 
consultas médicas e de enfermagem, tratamento medicamentoso, reunião com 
familiares, oficinas, passeios culturais, e parcerias com demais pontos de rede de 
atenção psicossocial do município. 
 
 
2. OBJETIVOS 
 
Este trabalho buscou realizar uma reflexão crítica da prática profissional e 
da prática/ uso do dispositivo PTS como um todo, comparando a literatura 
especializada visando enfrentar as dificuldades e romper com automatismos 
Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 113
institucionais, oferecendo possibilidades de potencialização do PTS rumo ao cuidado 
das pessoas em sofrimento mental. 
3. METODOLOGIA 
 
Os residentes de saúde mental que trabalharam no CAPS II em Montes 
Claros – MG,buscaram através da observaçãoparticipante atrelada à literatura, 
confrontar a prática observada no serviço do CAPS à teoria pertinente ao assunto, 
possibilitando assim uma melhor compreensão do tema em questão e possíveis 
intervenções nas condutas dos residentes e equipe do serviço, buscando otimizar o 
PTS. 
Foi abordado o conceito de PTS, articulando-o com as principais 
temáticas e conceitos ligados ao mesmo. Utilizou-se da abordagem qualitativa em 
que se articula a bibliografia referente a Projeto Terapêutico Singular com o que se 
têm na prática nesse dispositivo, tendo como método a observação participante. É 
importante destacar que os residentes buscaram observar as práticas dos 
profissionais pertencentes ao CAPS bem como suas próprias práticas e condutas. 
Sabe-se que o PTS engloba uma serie de conceitos, mas para melhor 
compreensão a análise e considerando a prática cotidiana serão elencados os 
seguintes temas: acolhimento, tratamentos medicamentosos, acompanhamentos 
especializados, atividades oferecidas, a participação da família e do usuário na 
construção do PTS, encaminhamentos/uso da rede/RAPS. 
 
 
4. DISCUSSÃO 
 
4.1 Projeto Terapêutico Singular – PTS 
 
O Projeto Terapêutico Singular, segundo a Política Nacional de 
Humanização – PNH (2010) é um “conjunto de propostas e terapêuticas articuladas, 
para um sujeito individual ou coletivo, resultado de uma discussão coletiva de uma 
equipe interdisciplinar, com apoio matricial se necessário.” (BRASIL, 2010, p.40). O 
PTS é utilizado nos espaços de saúde mental como um meio de proporcionar uma 
atuação integrada que leve em conta vários aspectos, além do diagnóstico 
psiquiátrico e da medicação no tratamento dos usuários. O conceito de PTS remonta 
e cristaliza as ideias propostas a partir da reforma psiquiátrica, articulando a um 
modo de fazer que respeite a singularidade do sujeito e que “desafia a organização 
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tradicional do processo de trabalho em saúde, pois pressupõe maior articulação 
interprofissional e a utilização das reuniões em equipe como um espaço coletivo e 
sistemático de encontro, reflexão, discussão, compartilhamento e 
corresponsabilização das ações com a horizontalização dos poderes e 
conhecimento” (BRASIL, 2013, p.57). 
Com efeito, nos dispositivos estratégicos da rede de saúde mental, 
sobretudo nos CAPS, o PTS é usado como analisador qualitativo e utilizado para 
todos os usuários do serviço, diferenciando, por exemplo, do modo como o PTS é 
usado na atenção básica, em que é selecionado, levando em conta diversos 
critérios, casos que necessitam da construção de um PTS, visto que não é 
necessário e nem viável a construção de um projeto para todos os usuários da 
atenção básica. 
Levando-se em conta que os usuários do serviço do CAPS passam por 
uma construção de um projeto terapêutico singular e que esse deve se pautar na 
integralidade e humanização do cuidado, podemos dividir essa construção em 
algumas etapas, como um roteiro norteador: diagnóstico situacional; definição de 
metas e objetivos; a divisão de tarefas e responsabilidades e a reavaliação do PTS. 
(BRASIL, 2007; OLIVEIRA, 2008). Cada um desses momentos será articulado por 
um técnico de referência, responsável por acessar a gama de profissionais e 
serviços ofertados pelo dispositivo para que o usuário possa usufruir do CAPS de 
maneira ideal. 
Sabe-se que o PTS deve ser centrado em todas as necessidades do 
paciente, sendo flexível e aberto às mudanças que ocorrem ao longo do tempo, 
além de ser reavaliado constantemente, sendo que esse tempo deve ser no mínimo 
possível. 
 
 
4.2 Acolhimento 
 
O diagnóstico situacional é iniciado no primeiro contato com o usuário, 
família ou grupo com o serviço. Através do acolhimento dá-se voz ao sujeito em 
questão para que o mesmo possa trazer à tona seus problemas e suas expectativas 
em relação ao processo de cuidado que ali se inicia. Dito de outro modo, nesse 
momento inicial de acolhimento o sujeito e/ou família traz um inventário das 
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alternativas tentadas no tratamento e um pouco da história do sujeito até chegar ao 
CAPS. 
É função do profissional que acolhe oferecer um meio para que o sujeito 
se sinta aberto e seguro para relatar sua história de vida e através desse relato 
cartografar as demandas, as necessidades, as vulnerabilidades e as potencialidades 
mais urgentes desses sujeitos. Considerando a dimensão subjetiva, mas não 
apenas ela, o profissional em questão deverá também levar em conta o contexto 
social e histórico, os fatores de risco e proteção desse indivíduo e/ou família para 
que possa oferecer um cuidado integral e humanizado. Por meio disso, o profissional 
será capaz de valorizar as potencialidades presentes nesse contexto e ativar dos 
recursos terapêuticos presentes nos serviços, organizando a relação terapêutica e 
esboçando uma definição de metas e objetivos que se concretizará durante o 
tratamento. (BRASIL, 2007) 
Nesse sentido, a potencialização do dispositivo relacional do acolhimento 
é uma das formas de se fazer saúde, uma vez que o acolhimento permeia toda 
terapêutica e, desse modo, propicia um cuidado integral ao usuário. (JORGE et al, 
2011). Ainda durante o processo de acolhimento, alguns outros dispositivos 
relacionais delineiam-se fundamentais nesse processo, sendo um deles o vínculo, 
que como tecnologia de cuidado, etimologicamente pode ser compreendido como 
“algo que ata ou liga as pessoas, indica interdependência, relações com linha de 
duplo sentido, compromissos dos profissionais com pacientes e vice-versa” (JORGE 
et al, 2011). Portanto, o vínculo é constituído por uma via de mão dupla, 
estabelecida entre o profissional e o paciente. Por meio dele há a possibilidade de 
troca de saberes entre o profissional e o paciente, o saber cientifico e popular, 
culminado com um processo de cuidado que leva em conta o que há de singular em 
cada coletivo e em cada individualidade (SANTOS, ASSIS & NASCIMENTO, 2011). 
O vínculo surge como estratégia decisiva para consolidação de uma nova 
prática de cuidado em saúde mental. Dessa forma, essas tecnologias de cuidado 
facilitam a construção de autonomia do usuário através de uma 
corresponsabilização entre os sujeitos envolvidos nessa relação. 
Passa-se a se compreender esses dispositivos relacionais 
(acolhimento/vinculo/autonomia/corresponsabilização) como ações comunicacionais, 
atos de receber e ouvir a população que procura os serviços de saúde, dando 
respostas adequadas a cada demanda em todo o percurso da busca, desde a 
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recepção ao atendimento individual ou coletivo, até o encaminhamento externo, 
retorno, remarcação e alta. (JORGE et al, 2011, p. 4) 
Sendo assim, estastecnologias leves6 aqui citadas (Acolhimento, co-
responsabilização, autonomia e vinculo) permitem a transversalidade e uma direção 
a ser dado ao tratamento que se inicia, um diagnóstico situacional de cada caso que 
será acompanhado pela instituição. No caso do CAPS II em Montes Claros, o 
acolhimento é sempre realizado por um profissional de nível superior, que recebe o 
usuário que chega ao serviço, seja encaminhado pela atenção básica, serviço de 
urgência e emergência ou por demanda espontânea. 
Nesse primeiro contato, é respondido um instrumento contendo perguntas 
que tenta contemplar o que foi anteriormente citado, em que começará a ser 
esboçado a construção do Projeto Terapêutico Singular e dará direção as ações 
terapêuticas a serem realizados por esse sujeito, seja no próprio CAPS ou dentro da 
rede de saúde mental como um todo. Após o processo de acolhimento, o usuário 
passa por uma avaliação médica que, após uma discussão o profissional 
responsável pelo acolhimento, irá estabelecer o tratamento medicamentoso e o 
regime de permanênciadia, sendo ele intensivo, semi-intensivo ou não-intensivo. O 
CAPS em questão adota um formulário específico para o planejamento do PTS. 
Percebe-se, analisando tais instrumentos que os mesmos não 
contemplam na maioria das vezes todas as atividades que o CAPS oferece e 
também que não é estabelecido um objetivo a priori. Isso resulta em uma 
fragilização do PTS e uma falta de direção do tratamento, resumindo os serviços 
ofertados ao acompanhamento psicoterápico, tratamento medicamentoso e 
intervenções pontuais das demais profissões. Verifica-se a não definição de uma 
meta e a falta de um planejamento mais sistemático para a dimensão da 
“reabilitação psicossocial” dos usuários.Tais aspectos podem incidir em uma 
cronificação do paciente no serviço, tornando-o refém dos tratamentos 
medicamentosos e produzindo estigmatizações que a atenção psicossocial visa 
superar. As demais atividades oferecidas no dia a dia do CAPS, como as oficinas, 
não levam em conta as potencialidades singulares de cada usuário, o mesmo 
 
6 De acordo com o estabelecido, as tecnologias em saúde são divididas em leves, leves-duras e duras. As leves 
compreendem as relações interpessoais, como a produção de vínculos, autonomização e acolhimento; as leve-
duras dizem respeito aos saberes bem estruturados, como a clínica médica, a epidemiologia e a clínica 
psicanalítica; e as duras são compostas por equipamentos tecnológicos do tipo máquina, normas e estruturas 
organizacionais. (MENDES-GONÇALVES, 1994) 
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acontecendo com as atividades que podem ser usadas na rede, fora do CAPS. Isso 
faz com que as atividades oferecidas caiam na rotina institucional, não havendo 
reavaliação regular do acompanhamento. 
Como dito, o PTS construído no CAPS não deve se fechar apenas nas 
atividades realizadas na unidade em questão, pois dessa forma corre o risco de 
centralizar-se em si e abrir-se pouco para o território, ficando ilhada no tratamento 
aos seus usuários. Sobre isso, Lancetti (2014) pontua que a maioria dos CAPS não 
funciona pensando na cidade, em que não cabem aos terapeutas procurar novas 
estratégias clínicas, mas sim aos usuários adaptarem-se as demandas e ofertas do 
serviço. E ressalta que: 
 
Tal linha de ação foi criando uma corrente tecnocrática e burocrática: os 
CAPS envelhecem prematuramente, segmentirazam-se, sua vida torna-se 
cinzenta, infantilizada e os profissionais são regidos pelas dificuldades e se 
enclausuram em diversas formas de corporativismo. Os recursos se 
reduzem, se repetem e as equipes, como dantes, voltam a centralizar-se na 
psiquiatria. Retornam os ambientes sombrios e o odor de halloperidol que 
caracteriza, pelo cheiro, o hospício ou clinica. Um CAPS burocrático é um 
CAPS que cheira mal.(LANCETTI, 2014, p.47-48). 
 
 
O próprio Lancetti oferece duas saídas para repensar essa questão. A 
primeira é a recolocação, o reposicionamento ou retorno do CAPS ao seu sentido 
original: Atender de portas abertas o que o hospital psiquiátrico atendia de portas 
fechadas. A segunda é considerar todas as ações de produção de saúde mental à 
luz do Programa de Saúde da Família, oferecendo esse cuidado longitudinal “fora 
dos muros”, visto que as equipes de PSF conhecem de modo progressivo as 
biografias de seus pacientes e solicitam apoio para as relações com pessoas que 
tradicionalmente são atendidas pela saúde mental. 
Outro sintoma gerado pela falta de metas é a sinonimazação do PTS aos 
dias de permanência do usuário no serviço, exacerbando a importância da 
minimização dos sintomas, prejudicando a autonomia anteriormente citada, uma vez 
que o tratamento privilegia o aspecto medicamentoso e das decisões da equipe, não 
sendo trabalhado, portanto, essa autonomia.Faz-se necessário, portanto, uma 
digressão para explicar a importância dessa modalidade de tratamento, ressaltando, 
porém, que esta é apenas uma das modalidades existentes na saúde mental e que 
deve se levar em conta todas as possibilidades que a atenção psicossocial oferece. 
 
Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 118
 
 
 
 
 
4.3 Tratamentos medicamentosos 
 
Os medicamentos nos serviços de saúde ocupam um lugar importante, 
pois salvam vidas e curam, suprimem ou atenuam os sinais e sintomas de diversas 
doenças (NOELLE, 2002). Os psicofármacos instituíram-se como o recurso 
terapêutico mais utilizado para tratar qualquer mal-estar das pessoas, onde se 
manifesta a tristeza, o desamparo, a solidão, a inquietude, o receio, a insegurança, 
ou a ausência de felicidade. Esses medicamentos têm se mostrado como recursos 
significativos na resolutividade nos serviços de saúde mental, buscando o bem-estar 
físico e mental do usuário (FERRAZZA et al, 2010; KANTORSKI et al, 2013). 
Atualmente, qualquer sinal de sofrimento psíquico pode ser rotulado como 
uma patologia cujo tratamento será a administração de psicofármacos (AMARANTE, 
2007; BARROS, 2008; BIRMAN, 2000; IGNÁCIO &NARDI, 2007; LAMB, 2008 APUD 
FERRAZZAet al, 2010). Para isso, se faz necessário que os prescritores adequem 
os regimes posológicos aos hábitos de vida do paciente, bem como, enfatizar a 
importância dos outros profissionais como farmacêuticos buscando resolver os 
problemas relacionados ao medicamento como preconiza a atenção farmacêutica. 
Assim, tornar o uso dos fármacos pelos pacientes atendidos no CAPS o mais correto 
possível, evitando o uso irracional de medicamentos (BRAGA et al, 2005). 
O retorno do paciente ao atendimento médico periodicamente e a 
prescrição racional devem ser encorajados com monitoramento cuidadoso, 
estabelecendo um bom vínculo com os pacientes e familiares. Faz-se pertinente 
também, a capacitação e sensibilização dos profissionais, sendo formidável a 
elaboração e execução dos planos terapêuticos individuais de acordo com as 
modalidades de atendimento, assim como a importância de atentar para o registro 
nos prontuários, para a reavaliação do tratamento medicamentoso e cuidados 
prestados. (KANTORSKI et al, 2011). 
Vale ressaltar que, os médicos, farmacêuticos e enfermeiros devem 
atentar para a Politica Nacional de Medicamentos no Brasil, portaria 3.916/1998: 
“Garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a 
Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 119
promoção do uso racional e o acesso da população àqueles considerados 
essenciais”. (BRASIL, 1998). 
Através de visitas domiciliares7 (VD) aos usuários e mesmo em 
observação na instituição estudada, é possível notar algumas dificuldades dos 
pacientes e familiares no uso e conhecimento adequado quanto às medicações. Em 
uma das visitas realizadas pelos residentes Enfermeiro, Psicólogo e Assistente 
social, a medicação da paciente se encontrava aberta e espalhada sobre a cama em 
que a usuária dormia, cujo local de descanso estava em precárias condições de 
higiene, além de medicações encontradas ao chão. Vale ainda ressaltar que a 
mesma paciente reside sozinha e sugerindo que, é de sua responsabilidade o 
manejo com as medicações as quais faz o uso. 
Assim, podemos articular o observado pelos residentes nessa VD no que 
se refere ao manejo, armazenamento, automedicação e orientações sobre 
medicações, com o estudo realizado na Faculdade Católica Rainha do Sertão 
(2005), no Ceará, onde segundo dados da pesquisa, os autores descreveram que, a 
maioria dos usuários atendidos no CAPS guardavam seus medicamentos em 
lugares impróprios e o principal motivo que induz a automedicação é a dor em geral. 
Ainda complementam que, 55% dos pacientes, quando esquecem uma dose do 
medicamento, tomam dois comprimidos, 50% são responsáveis pelo recebimento da 
sua medicação e 29% abandonam o tratamento, quando se sentem melhor. 
(BRAGA et al, 2005). Nesse sentido, é valido ressaltar a importância que tem asinformações aos pacientes e familiares no que tange ao uso da medicação. 
Arrais et al (2007) relataram a baixa qualidade na dispensação dos 
medicamentos nos aspectos dos processos de prescrição e dispensação em 
Fortaleza-CE, pois ela normalmente não é realizada pelo farmacêutico. 
Corroborando com esse estudo, o observado no CAPS II em Montes Claros, vem ao 
encontro com o que diz o autor, onde que, por ora a dispensação da medicação não 
é realizada pelo farmacêutico ou téc. em farmácia e, a comunicação que permeia os 
trâmites entre prescrição e dispensação de medicamentos ainda são deficientes. 
Para tanto, ainda segundo Braga et al, (2005) é importante um sistema adequado de 
 
7A VD é um instrumento de trabalho que permite aos profissionais de saúde mental oferecer um cuidado 
integral ao usuário. Este momento é propício para o profissional de saúde visualizar o contexto social em que o 
usuário encontra-se, podendo planejar uma assistência qualificada que contemple as necessidades do 
indivíduo, promovendo sua reinserção social e salientando que a família deve ser coadjuvante neste processo. 
(COIMBRA, VCC, 2007; KANTORSKI et al, 2013) 
Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 120
informação e orientação farmacêutica sobre o uso dos medicamentos envolvendo 
automedicação, armazenamento, posologia, reações adversas e interações 
medicamentosas,como parte do PTS. 
É de suma importância a abordagem médico-psiquiátrica dos transtornos 
mentais (biológico) no diagnóstico e no tratamento do paciente, da mesma forma, as 
outras modalidades terapêuticas revestem-se, também, de extrema importância para 
a obtenção de resultados clínicos impactantes e indispensáveis, no tratamento do 
processo de adoecimento psíquico (JORGE; FRANÇA, 2001). 
Segundo Ferrazzaet al (2010), a grande maioria dos casos tem 
apresentado a prescrição de medicamentos como a única forma científica de 
tratamento. Percebendo então, que a escuta da existência e da história dos 
enfermos foi sendo descartada e até mesmo silenciada. Ocorre uma medicalização 
numa escala sem precedentes (BIRMAN, 2000, p. 242). Nesse mesmo estudo, os 
autores destacam a baixíssima frequência de alta dos casos encaminhados à 
psiquiatria, o que é preocupante. A pesquisa mostrou três episódios de alta nos 217 
casos acompanhados pelo estudo. Isso é observado quando reparamos também no 
CAPS em Montes Claros, pacientes cronificados de longas datas dependentes dos 
serviços do CAPS. 
Portanto, diante da proposta de atenção integral no âmbito 
biopsicossocial que vem se desenvolvendo dentro dos CAPS, este, como dispositivo 
para uma atenção psicossocial, a assistência aos usuários precisa ainda ser mais 
enriquecida, pois, o PTS não deve se reduzir à medicalização do sofrimento. 
 
 
4.4 Acompanhamentos especializados 
 
Os profissionais inseridos nos serviços do CAPS são ferramentas 
importantes no manejo com os usuários e na construção do PTS. Estes dispõem de 
amplos saberes científicos e práticos que garantem e direciona a conduta 
terapêutica dos usuários e/ou familiares dentro do seu projeto terapêutico singular. 
Assim, após uma avaliação compartilhada do usuário entre a equipe 
multiprofissional, o profissional de referência promove as intervenções das diversas 
categorias profissionais para o tratamento terapêutico do paciente, considerando as 
diferenças e particularidades do sujeito, no intuito de alcançar as condições de alta 
Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 121
do paciente do CAPS e assegurando a continuidade do acompanhamento desse 
usuário e familiares em outras instâncias da rede de atenção psicossocial 
Nesse sentido, é importante que usuários e familiares recebam 
informações e cuidados específicos, levando em conta suas particularidades no 
processo de adoecimento. E como promotora desses cuidados, a equipe 
multiprofissional é uma grande aliada na atenção aos usuários. Entre os 
profissionais,o enfermeiro, além dos cuidados gerais com a saúde, lida no que tange 
à medicação, higienização, orientações e com isso podendo proporcionar a escuta 
com o referido público. Silveira e Alves (2003) concluíram que o enfermeiro, inserido 
nas equipes interdisciplinares, participava das atividades de saúde mental, interferia 
e conduzia o processo de atendimento, como qualquer outro técnico de saúde 
mental. Além disso, orientava a equipe de enfermagem e atendia às especificidades 
da profissão. Vivenciando assim, um trabalho inovador e contribuindo como outros 
técnicos para a melhoria do atendimento. 
Portanto, o enfermeiro inserido na saúde mental tem considerável e 
indispensável papel nos serviços dos CAPS e participação no projeto terapêutico 
singular dos pacientes. Para tanto, se faz necessário que o mesmo esteja 
qualificado e conscientizado da complexidade do manejo com usuários destes 
serviços, onde envolvem subjetividade e singularidade do sujeito, que requer dos 
profissionais conhecimentos específicos e sutileza no tratamento. 
Segundo necessidades dos serviços de saúde mental, atrelado às 
atribuições dos enfermeiros no exercício da profissão, as atuações nos serviços de 
saúde devem consistir em: Planejamento, coordenação, organização, execução e 
avaliação dos serviços da assistência de enfermagem, supervisão da equipe de 
enfermagem, acolhimentos, consulta de enfermagem, observação clínica 
especializada, verificação dos sinais vitais e dados antropométricos, manejo 
medicamentoso adequado, educação em saúde e Sistematização da Assistência de 
Enfermagem - SAE (histórico, diagnósticos de enfermagem, planos de cuidados, 
evolução do paciente e avaliação dos cuidados) (COFEN – 358/2009).Assim, 
contribuindo de forma efetiva no PTS dos usuários. 
Outro profissional inserido na saúde mental é o assistente social, que 
trabalha a dimensão social dos usuários, percebendo que a questão social é 
também um determinante para o sofrimento mental. Sabe-se que as relações sociais 
de muitos usuários são marcadas pela violação dos direitos, ambientes de 
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sobrevivência com insalubridade, dificuldades econômicas na manutenção da 
medicação e provimento da própria família. 
Nesse sentido, o assistente social por meio dos instrumentais de trabalho 
busca auxiliar os usuários nas condições que lhes dificultam no processo de 
cuidado, busca ainda desenvolver estratégias e acesso as políticas públicas e 
sociais existentes: direito à saúde, assistência social, habitação, programas 
previdenciários etc. Isso se dá por meio da mediação com outros serviços 
existentes e pelo trabalho em rede. Além disso busca trabalhar o protagonismo 
social, inserção em outros espaços de atividade comunitárias e no núcleo familiar 
dos usuários. 
O psicólogo, por sua vez, deve levar em conta o princípio ético de atuar 
consonante com as políticas públicas de saúde mental, considerando seu caráter 
anti-manicomial, territorial, o trabalho em rede e intervindo na cultura. Mais que as 
atividades exercidas no contexto diário do serviço – oficinas, acompanhamento 
psicoterápico, acolhimentos, etc – é importante que o profissional que atue na área 
paute-se em uma perspectiva de cuidado crítica e política frente 
adesinstitucionalização da loucura, dando visibilidade a ele, respeitando e 
impulsionando os princípios da reforma psiquiátrica. 
 
 
4.5 Atividades Oferecidas 
 
É notório que os psicofármacos têm grande contribuição na cura e/ou 
estabilização do sujeito com sofrimento mental, porém, os tratamentos terapêuticos 
destes pacientes não se resumem apenas no uso dos medicamentos psicoativos. 
Para isso, é de extrema importância que o PTS, contemple uma clínica ampliada(1) 
que conte com outras ferramentas que também contribuem para a redução de 
danos(2) e reabilitação psicossocial(3).Os serviços do CAPS podem oferecer diferentes tipos de atividades 
terapêuticas, entendendo que esses recursos vão além do uso de consultas e 
medicamentos, fortalecendo a denominada clínica ampliada. Essa ideia de clínica 
vem sendo (re)construída nas práticas de atenção psicossocial, provocando 
mudanças nas formas tradicionais de tratamento dos transtornos mentais. Os CAPS 
oferecem diversos modelos de atividades terapêuticas, por exemplo: psicoterapia 
individual ou em grupo, oficinas terapêuticas, atividades comunitárias, atividades 
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artísticas, orientação e acompanhamento do uso de medicação, atendimento 
domiciliar e aos familiares (BRASIL, 2004). 
Ao mencionar sobre as oficinas terapêuticas, Souza e Pinheiro (2012) 
consideram que o discurso nelas produzido se refere principalmente as formas de 
ser do usuário, seus investimentos afetivos, seu funcionamento psicodinâmico, além 
de suas fantasias inconscientes. Portanto, a clínica ampliada não desconsidera os 
padrões da doença, mas busca um olhar diferenciado que não perca de vista a 
singularidade de cada usuário. Nesse sentido, o sujeito não é reduzido à doença 
como entidade abstrata, a clínica é uma forma de promoção de autonomia e 
cidadania, visto que o sujeito e o grupo podem se apropriar ativamente de sua 
história. 
Um estudo realizado neste mesmo CAPS de Montes Claros-MG pelos 
autores Veloso et al (2013), em entrevista semiestruturada com usuários e 
familiares, mostrou uma percepção dos usuários sobre as oficinas terapêuticas na 
maioria dos casos, distorcida e afastada de seus reais objetivos terapêuticos, bem 
como o desconhecimento dos familiares das atividades desenvolvidas na instituição 
e condução do tratamento. Os autores apontaram isso como grande obstáculo no 
desenvolvimento dos serviços em saúde mental. Afirmando então, a necessidade de 
aproximação dos familiares nos serviços do CAPS. O que também contribui para a 
otimização do PTS. 
Nesse sentido, nas oficinas terapêuticas, é relevante a presença de um 
técnico de nível superior nas salas de terapia ocupacional. Diante do exposto, é 
observado também que no CAPS II as atividades terapêuticas ora são 
acompanhadas pelo técnico de nível superior e, às vezes não se tem esse 
profissional para uma escuta especializada frente às reflexões e falas que o sujeito 
mediante uma oficina pode produzir. Vale ressaltar ainda, a falta do profissional 
terapeuta ocupacional na instituição. Entretanto, não se pode eximir a 
responsabilidade da existência de outra categoria profissional na participação das 
atividades. 
Contudo, é importante ressalvar a importância de outras terapias 
psicossociais, que valorizam o autocuidado, a corresponsabilização do usuário e da 
familiar no objetivo de tecer uma rede de relações na comunidade. Pois, a premissa 
finalidade do trabalho em saúde mental, deixou de ser a cura e passou a ser a 
reabilitação psicossocial e reinserção do sujeito na sociedade. Ou seja, a terapêutica 
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não é mais centrada no modelo biomédico, e sim em um tratamento que proporcione 
qualidade de vida, resgatando a cidadania e liberdade pertinente a cada ser 
humano. (KANTORSKI et al, 2013; KANTORSK et al, 2011). 
 
 
4.6 A participação da família e do usuário na construção do PTS 
 
 A família vem sofrendo diferentes variações desde os séculos XVII e 
XVIII, devido as transformações socioeconômicas e outros fatores que influenciam 
na sua organização. Conforme Prado (1985) ela assume diversos significados ao 
longo da história. Partindo da abordagem sociológica de Bruschini (1989, p.8) a 
família pode ser entendida como um conjunto de pessoas ligadas por laços de 
sangue, parentesco ou dependência que esabelecem entre si relações de 
solidariedade e tensão, conflito e afeto. Dessa forma, considera-se nesse trabalho 
que essa instituição exerce um papel determinante no desenvolvimento social, 
psíquico e físico dos indivíduos. 
Vasconcelos (1992) aponta a família como uma provedora de cuidado, 
suporte e apoio para o paciente com sofrimento mental. No entanto, envolver a 
família como protagonista no processo de cuidado tem sido um dos grandes 
desafios. Por muitas vezes ela apresenta resistência em assumir a sobrecarga no 
ambiente doméstico, seja pela falta de condições de cuidados ou pelos laços já 
bastante fragilizados. É comum alguns casos no CAPS em que a família busca um 
local ou instituição para internação ou uma maneira para afastar o usuário do seio 
familiar, pois já desistiu do mesmo ou por diversas questões como já dito 
anteriormente não se implicam ou envolvem com o tratamento.Refletindo em um 
significativo prejuízo no processo de tratamento e nas propostas do PTS para o 
sujeito. 
Por outro lado, percebe-se muitos casos que as famílias participam de 
forma efetiva, enquanto parceiras no cuidado e se comprometendo com o processo 
de tratamento. Nesses casos, é claro a importância da participação da mesma no 
processo de construção do projeto terapêutico singular visto que ela traz 
informações importantes e necessárias capazes de qualificar intervenções da equipe 
e esclarecer questões pertinentes ao usuário com sofrimento mental. Nesse sentido, 
observa-se que um dos mecanismos importantes no processo terapêutico são as 
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reuniões e/ ou grupos familiares que permitem uma maior inclusão da família no 
serviço, instrumentalizando- a mesma para o cuidado. 
Nessa perspectiva, o PTS construído pela equipe com a participação da 
família e do usuário, não limita apenas ao “episódio da crise ou do surto”, mas 
contribui para reestabelecer as relações afetivas e sociais entre ambas as partes, 
para a reabilitação social comunitária do usuário. 
 
4.7 Encaminhamentos/uso da rede/RAPS 
 
Ao se tratar de trabalho horizontalizado da rede pública de saúde, deve-
se pensar também na inserção da saúde mental em diferentes espaços e serviços 
disponíveis, em corresponsabilização de outros agentes nos diversos serviços 
encontrados no município. O trabalho em rede tem sido um outro desafio para as 
equipes que trabalham no CAPS, devido a estrutura complexa e resistente que 
permeia o cotidiano entre os serviços. 
No CAPS II, nota-seque o grande número das demandas trazidos 
pelosusuários podem ser atendidos na atenção básica de saúde. Na maioria das 
vezes as equipes de atenção primária apresentam dificuldades de ofertar cuidados 
contínuoao usuário com sofrimento mental, observa-se que essas dificuldades se 
devem as várias atividades assistenciais ofertados nesse serviço ou devido muitos 
profissionais desses serviços não estarem preparados para conduzir casos que 
envolvam saúde mental. Em contato com alguns profissionais, estes demonstram 
sentimentos de despreparo e impotência para trabalhar com os casos clínicos que 
chegam aos serviços. Espera-se que essas dificuldades serão minimizadas a partir 
da atuação das equipes de apoio matricial8que estão em processo de criação no 
município. 
Além do cuidado em saúde, nota-se que os usuários trazem outras 
demandas que são referentesa outros serviços intersetoriais como: educação, 
habitação, trabalho e emprego, segurança, cultura e outros. Esses setores são 
também fundamentais para o cuidado integral, garantia dos direitos e atendimento 
aos usuários com sofrimento mentale execução dos objetivos do PTS. Mas neles 
também são encontrados muitos entraves, devido a própria burocracia dos serviços 
e também muitas vezes das equipes que ali atuam. 
 
8 Conforme o Ministério da Saúde as equipes de apoio matricial em saúde mental devem oferecer suporte técnico 
as equipes que são responsáveis pelo desenvolvimento nas ações básicas de saúde a população.Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 126
A partir dessas apreensões, nota-se que a garantia do cuidado e atenção 
integral passa também pelos serviços da rede básica, secundária e outros níveis 
assistenciais. As relações entre os profissionais da saúde mental, atenção básica e 
outros setores deve ter como uma das principais referências o cuidado 
compartilhado junto ao usuário com sofrimento mental.Portanto, o usuárionão deve 
ser caracterizado como aquele que pertence a esse ou outro serviço, mas deve 
observar qual a situação ou demanda de cada caso, respeitando a acessibilidade, 
equidade e resolutividade e assim todos se tornam responsáveis por contribuir com 
seu PTS. 
 
5. CONSIDERAÇÕES 
 Como vimos, a construção do Projeto Terapêutico Singular é uma 
ferramenta fundamental na organização e na efetivação do cuidado aos usuários 
dos serviços de saúde mental. Sua implementação encontra uma série de entraves, 
uma vez que a construção do mesmoimplica em um trabalho em que vários atores 
estão envolvidos – profissionais, usuários, família e comunidade. Além disso, existe 
a falta de recursos – materiais, físicos e humanos – que dificultam sua plena 
efetivação. 
Um bom projeto terapêutico singular é instrumento para que se possa 
conseguir a integralidade do cuidado em saúde mental, não se resumindo a 
instrumental bem definido, mas levando em conta também os complexos fatores 
envolvidos na construção do mesmo. Portanto, é essencial que a equipe de 
profissionais inseridos nos serviços da saúde mental atente para as necessidades 
dos usuários, suas respostas frente ao uso das medicações e condutas terapêuticas 
e que o PTS seja ampliado para além do tratamento medicamentoso. 
É importante, ainda, que os profissionais descontruam o cuidado vertical e 
contribuam para promoção de um serviço multifacetado e que estejam preparados 
para o manejo adequado dessa realidade, pois, além de acolher o usuário, devem 
desenvolver um trabalho holístico e especializado com características coletivas e 
ênfase nos objetivos da reforma psiquiátrica, na busca da reabilitação psicossocial. 
Com isso proporcionando que o usuário possa se beneficiar dos saberes e cuidados 
multiprofissionais. Para tanto, esse trabalho requer de todos os profissionais da 
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saúde mental uma melhor postura diante das atribuições especializada, colocando-
se como agentes de transformações. 
 
 
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