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Projeto terapêutico singular em um centro de atenção psicossocial (Caps II) Project therapeutic singular in psychosocial care center (Caps II) Robson Kleber de Souza Matos1 Gisele Martins dos Santos2 Rodrigo Marques Batista Rocha3 Aldenise de Freitas Athayde4 Viviane Bernadeth Gandra Brandão5 RESUMO O presente artigo tem como objetivo realizar uma análise crítica sobre Projeto Terapêutico Singular (PTS) em um Centro de Atenção Psicossocial na cidade de Montes Claros - MG. Para abordar essa temática e apresentar uma abrangência qualificada do objeto em estudo utilizou-se a pesquisa bibliográfica, acesso a internet por meio de artigos, documentos e legislações que tratam da temática. Além disso, foi realizada uma pesquisa qualitativa em que se articula a bibliografia referente a Projeto Terapêutico Singular com o que se têm na prática nesse dispositivo, através de uma observação participante. Com isso, foi possível potencializar esse instrumento, destacando a importância do PTS na prática cotidiana de um CAPS, visando um cuidado integral aos usuários, condizente com os preceitos da reforma psiquiátrica. Palavras Chave: Projeto Terapêutico Singular; Centro de Atenção Psicossocial; Saúde Mental; Reforma Psiquiátrica. ABSTRACT This article aims to make a critical analysis of Singular Therapeutic Project (PTS ) in a Psychosocial Care Center in the city of Montes Claros. To address this issue and provide a qualified coverage of the object under study used the literature search , access the Internet through articles , documents and legislation dealing with the issue. In addition, a qualitative research that articulates the literature on the Therapeutic Project Single with what we have in practice this device was performed. 1Psicólogo Especialista em Saúde Mental pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental do Hospital Universitário Clemente de Faria- HUCF/Unimontes. E-mail: robsonkmatos@gmail.com 2Assistente Social Especialista em Saúde Mental pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental do Hospital Universitário Clemente de Faria-HUCF/ Unimontes. E-mail: giselymartins10@hotmail.com 3 Enfermeiro Especialista em Saúde Mental pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental do Hospital Universitário Clemente de Faria- HUCF/Unimontes. E-mail: rodrigomarkss@yahoo.com.br 4Psicóloga-Docente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental doHospital Universitário Clemente de Faria- HUCF/Unimontes. E-mail:aldenisedefreitasathayde@yahoo.com.br 5 Assistente Social, especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, Mestranda em Estudos Culturais e Docente do Curso de Serviço Social da Funorte, da Unimontes e do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental doHospital Universitário Clemente de Faria- HUCF/Unimontes. E-mail: viviane.gandra1@hotmail.com Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 111 Thus, it was possible to enhance this tool , highlighting the importance of PTS in the daily practice of a CAPS , aiming at a comprehensive care to users, consistent with the principles of psychiatric reform. KEYWORDS: Therapeutic Project Single; Psychosocial Care Center; Mental Health; Psychiatric Reform. 1. INTRODUÇÃO Desde 1986 as redes de atenção em saúde mental dos municípios brasileiros vêm se organizando em uma lógica descentralizada, territorial e de caráter não-manicomial, influenciada pela reforma psiquiátrica brasileira ocorrida nas décadas de 1970 e 1980. Dentre os dispositivos implementados nessa reestruturação, os Centros de Atenção de Psicossociais – CAPS – são primordiais. Os CAPS deverão se constituir como serviço ambulatorial de atenção diária que funcione segundo a lógica do território, conforme definido na Portaria 399/GM, em 19 de fevereiro de 2002. Como descreve Costa-Rosa (2012), esse novo modo de enxergar a saúde mental leva em consideração fatores políticos e biopsicosocioculturais como determinantes, e não apenas de maneira genérica. Seus meios básicos são psicoterapias, laborterapias, socioterapias e um conjunto amplo de dispositivos de reintegração sociocultural; além da medicação, abordagem da crise e de casos graves e persistentes. Dessa forma, é decisiva a importância que se dá ao sujeito, que este se invista de maneira fundamental na sua mobilização como participante ativo e principal no tratamento, não se desconsiderando, claro, o caráter orgânico da sua doença, mas trazendo uma ênfase a pertinência do indivíduo a um grupo familiar e social. Nesse sentindo, não é apenas o sujeito e sua dimensão de indivíduo que ‘trabalha’; supõe-se que devem trabalhar também a família e o grupo social como agente das mudanças buscadas. Fica claro através dos serviços ofertados, inclusive descritos na lei, que o objetivo principal do CAPS é oferecer um dispositivo que possa fazer um contraponto a lógica asilar reinante no país em décadas anterior e oferecer, portanto, um “modo psicossocial de tratamento”, de maneira integral e resoluta. Entretanto, muitas vezes, seja pela rotina dos serviços ou pela comodidade, o dispositivo que viria oferecer algo novo e único para o usuário, pode Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 112 acabar funcionando como negativo do excesso de gozo do sujeito que necessita dele, viciando-se em práticas e lógicas que visava superar. Com efeito, torna-se necessário uma revisão constante das nossas práticas nesse contexto. Pensando nisso, este artigo visa oferecer uma reflexão crítica sobre um aspecto fundamental na dinâmica do CAPS, que é o Projeto Terapêutico Singular - PTS. Com efeito, tendo como referência o cotidiano do serviço e apoiando-se de literatura pertinente, além de documentos oficiais, objetiva-se ainda de oferecer possibilidades de discussão em relação a atividades realizadas diariamente em um Centro de Atenção Psicossocial na cidade Montes Claros - MG, oferecendo assim uma melhor integração dessas ações conjuntas e potencializando o cuidado integral aos usuários que venham a usá-lo. Fundado em 2002, o CAPS em questão disponibiliza a população diversos serviços em prol das pessoas em sofrimento mental. A equipe é composta atualmente por 1 psiquiatra, 2 clínicos gerais, 2 enfermeiros, 4 psicólogos, 1 assistente social, 2 oficineiros e 6 técnicos de enfermagem, além dos residentes em saúde mental composto por assistentes sociais, enfermeiros e psicólogos e psicólogos da Residência Multiprofissional em Saúde da Família, que também trabalham promovendo a redução de danos e reabilitação psicossocial. Com 1714 usuários cadastrados e uma média de 30 usuários na permanência por dia,trata-se de um serviço referencial destinado à população em sofrimento mental que, nesse caso, articula-se com a rede de saúde mental do município em todos os níveis de complexidade assistencial – atenção básica, hospitalar e de especialidades.Há diversos serviços oferecidos no referido CAPS, a saber: Acolhimentos, atendimento individual, acompanhamento psicológico e social, consultas médicas e de enfermagem, tratamento medicamentoso, reunião com familiares, oficinas, passeios culturais, e parcerias com demais pontos de rede de atenção psicossocial do município. 2. OBJETIVOS Este trabalho buscou realizar uma reflexão crítica da prática profissional e da prática/ uso do dispositivo PTS como um todo, comparando a literatura especializada visando enfrentar as dificuldades e romper com automatismos Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 113 institucionais, oferecendo possibilidades de potencialização do PTS rumo ao cuidado das pessoas em sofrimento mental. 3. METODOLOGIA Os residentes de saúde mental que trabalharam no CAPS II em Montes Claros – MG,buscaram através da observaçãoparticipante atrelada à literatura, confrontar a prática observada no serviço do CAPS à teoria pertinente ao assunto, possibilitando assim uma melhor compreensão do tema em questão e possíveis intervenções nas condutas dos residentes e equipe do serviço, buscando otimizar o PTS. Foi abordado o conceito de PTS, articulando-o com as principais temáticas e conceitos ligados ao mesmo. Utilizou-se da abordagem qualitativa em que se articula a bibliografia referente a Projeto Terapêutico Singular com o que se têm na prática nesse dispositivo, tendo como método a observação participante. É importante destacar que os residentes buscaram observar as práticas dos profissionais pertencentes ao CAPS bem como suas próprias práticas e condutas. Sabe-se que o PTS engloba uma serie de conceitos, mas para melhor compreensão a análise e considerando a prática cotidiana serão elencados os seguintes temas: acolhimento, tratamentos medicamentosos, acompanhamentos especializados, atividades oferecidas, a participação da família e do usuário na construção do PTS, encaminhamentos/uso da rede/RAPS. 4. DISCUSSÃO 4.1 Projeto Terapêutico Singular – PTS O Projeto Terapêutico Singular, segundo a Política Nacional de Humanização – PNH (2010) é um “conjunto de propostas e terapêuticas articuladas, para um sujeito individual ou coletivo, resultado de uma discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar, com apoio matricial se necessário.” (BRASIL, 2010, p.40). O PTS é utilizado nos espaços de saúde mental como um meio de proporcionar uma atuação integrada que leve em conta vários aspectos, além do diagnóstico psiquiátrico e da medicação no tratamento dos usuários. O conceito de PTS remonta e cristaliza as ideias propostas a partir da reforma psiquiátrica, articulando a um modo de fazer que respeite a singularidade do sujeito e que “desafia a organização Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 114 tradicional do processo de trabalho em saúde, pois pressupõe maior articulação interprofissional e a utilização das reuniões em equipe como um espaço coletivo e sistemático de encontro, reflexão, discussão, compartilhamento e corresponsabilização das ações com a horizontalização dos poderes e conhecimento” (BRASIL, 2013, p.57). Com efeito, nos dispositivos estratégicos da rede de saúde mental, sobretudo nos CAPS, o PTS é usado como analisador qualitativo e utilizado para todos os usuários do serviço, diferenciando, por exemplo, do modo como o PTS é usado na atenção básica, em que é selecionado, levando em conta diversos critérios, casos que necessitam da construção de um PTS, visto que não é necessário e nem viável a construção de um projeto para todos os usuários da atenção básica. Levando-se em conta que os usuários do serviço do CAPS passam por uma construção de um projeto terapêutico singular e que esse deve se pautar na integralidade e humanização do cuidado, podemos dividir essa construção em algumas etapas, como um roteiro norteador: diagnóstico situacional; definição de metas e objetivos; a divisão de tarefas e responsabilidades e a reavaliação do PTS. (BRASIL, 2007; OLIVEIRA, 2008). Cada um desses momentos será articulado por um técnico de referência, responsável por acessar a gama de profissionais e serviços ofertados pelo dispositivo para que o usuário possa usufruir do CAPS de maneira ideal. Sabe-se que o PTS deve ser centrado em todas as necessidades do paciente, sendo flexível e aberto às mudanças que ocorrem ao longo do tempo, além de ser reavaliado constantemente, sendo que esse tempo deve ser no mínimo possível. 4.2 Acolhimento O diagnóstico situacional é iniciado no primeiro contato com o usuário, família ou grupo com o serviço. Através do acolhimento dá-se voz ao sujeito em questão para que o mesmo possa trazer à tona seus problemas e suas expectativas em relação ao processo de cuidado que ali se inicia. Dito de outro modo, nesse momento inicial de acolhimento o sujeito e/ou família traz um inventário das Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 115 alternativas tentadas no tratamento e um pouco da história do sujeito até chegar ao CAPS. É função do profissional que acolhe oferecer um meio para que o sujeito se sinta aberto e seguro para relatar sua história de vida e através desse relato cartografar as demandas, as necessidades, as vulnerabilidades e as potencialidades mais urgentes desses sujeitos. Considerando a dimensão subjetiva, mas não apenas ela, o profissional em questão deverá também levar em conta o contexto social e histórico, os fatores de risco e proteção desse indivíduo e/ou família para que possa oferecer um cuidado integral e humanizado. Por meio disso, o profissional será capaz de valorizar as potencialidades presentes nesse contexto e ativar dos recursos terapêuticos presentes nos serviços, organizando a relação terapêutica e esboçando uma definição de metas e objetivos que se concretizará durante o tratamento. (BRASIL, 2007) Nesse sentido, a potencialização do dispositivo relacional do acolhimento é uma das formas de se fazer saúde, uma vez que o acolhimento permeia toda terapêutica e, desse modo, propicia um cuidado integral ao usuário. (JORGE et al, 2011). Ainda durante o processo de acolhimento, alguns outros dispositivos relacionais delineiam-se fundamentais nesse processo, sendo um deles o vínculo, que como tecnologia de cuidado, etimologicamente pode ser compreendido como “algo que ata ou liga as pessoas, indica interdependência, relações com linha de duplo sentido, compromissos dos profissionais com pacientes e vice-versa” (JORGE et al, 2011). Portanto, o vínculo é constituído por uma via de mão dupla, estabelecida entre o profissional e o paciente. Por meio dele há a possibilidade de troca de saberes entre o profissional e o paciente, o saber cientifico e popular, culminado com um processo de cuidado que leva em conta o que há de singular em cada coletivo e em cada individualidade (SANTOS, ASSIS & NASCIMENTO, 2011). O vínculo surge como estratégia decisiva para consolidação de uma nova prática de cuidado em saúde mental. Dessa forma, essas tecnologias de cuidado facilitam a construção de autonomia do usuário através de uma corresponsabilização entre os sujeitos envolvidos nessa relação. Passa-se a se compreender esses dispositivos relacionais (acolhimento/vinculo/autonomia/corresponsabilização) como ações comunicacionais, atos de receber e ouvir a população que procura os serviços de saúde, dando respostas adequadas a cada demanda em todo o percurso da busca, desde a Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 116 recepção ao atendimento individual ou coletivo, até o encaminhamento externo, retorno, remarcação e alta. (JORGE et al, 2011, p. 4) Sendo assim, estastecnologias leves6 aqui citadas (Acolhimento, co- responsabilização, autonomia e vinculo) permitem a transversalidade e uma direção a ser dado ao tratamento que se inicia, um diagnóstico situacional de cada caso que será acompanhado pela instituição. No caso do CAPS II em Montes Claros, o acolhimento é sempre realizado por um profissional de nível superior, que recebe o usuário que chega ao serviço, seja encaminhado pela atenção básica, serviço de urgência e emergência ou por demanda espontânea. Nesse primeiro contato, é respondido um instrumento contendo perguntas que tenta contemplar o que foi anteriormente citado, em que começará a ser esboçado a construção do Projeto Terapêutico Singular e dará direção as ações terapêuticas a serem realizados por esse sujeito, seja no próprio CAPS ou dentro da rede de saúde mental como um todo. Após o processo de acolhimento, o usuário passa por uma avaliação médica que, após uma discussão o profissional responsável pelo acolhimento, irá estabelecer o tratamento medicamentoso e o regime de permanênciadia, sendo ele intensivo, semi-intensivo ou não-intensivo. O CAPS em questão adota um formulário específico para o planejamento do PTS. Percebe-se, analisando tais instrumentos que os mesmos não contemplam na maioria das vezes todas as atividades que o CAPS oferece e também que não é estabelecido um objetivo a priori. Isso resulta em uma fragilização do PTS e uma falta de direção do tratamento, resumindo os serviços ofertados ao acompanhamento psicoterápico, tratamento medicamentoso e intervenções pontuais das demais profissões. Verifica-se a não definição de uma meta e a falta de um planejamento mais sistemático para a dimensão da “reabilitação psicossocial” dos usuários.Tais aspectos podem incidir em uma cronificação do paciente no serviço, tornando-o refém dos tratamentos medicamentosos e produzindo estigmatizações que a atenção psicossocial visa superar. As demais atividades oferecidas no dia a dia do CAPS, como as oficinas, não levam em conta as potencialidades singulares de cada usuário, o mesmo 6 De acordo com o estabelecido, as tecnologias em saúde são divididas em leves, leves-duras e duras. As leves compreendem as relações interpessoais, como a produção de vínculos, autonomização e acolhimento; as leve- duras dizem respeito aos saberes bem estruturados, como a clínica médica, a epidemiologia e a clínica psicanalítica; e as duras são compostas por equipamentos tecnológicos do tipo máquina, normas e estruturas organizacionais. (MENDES-GONÇALVES, 1994) Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 117 acontecendo com as atividades que podem ser usadas na rede, fora do CAPS. Isso faz com que as atividades oferecidas caiam na rotina institucional, não havendo reavaliação regular do acompanhamento. Como dito, o PTS construído no CAPS não deve se fechar apenas nas atividades realizadas na unidade em questão, pois dessa forma corre o risco de centralizar-se em si e abrir-se pouco para o território, ficando ilhada no tratamento aos seus usuários. Sobre isso, Lancetti (2014) pontua que a maioria dos CAPS não funciona pensando na cidade, em que não cabem aos terapeutas procurar novas estratégias clínicas, mas sim aos usuários adaptarem-se as demandas e ofertas do serviço. E ressalta que: Tal linha de ação foi criando uma corrente tecnocrática e burocrática: os CAPS envelhecem prematuramente, segmentirazam-se, sua vida torna-se cinzenta, infantilizada e os profissionais são regidos pelas dificuldades e se enclausuram em diversas formas de corporativismo. Os recursos se reduzem, se repetem e as equipes, como dantes, voltam a centralizar-se na psiquiatria. Retornam os ambientes sombrios e o odor de halloperidol que caracteriza, pelo cheiro, o hospício ou clinica. Um CAPS burocrático é um CAPS que cheira mal.(LANCETTI, 2014, p.47-48). O próprio Lancetti oferece duas saídas para repensar essa questão. A primeira é a recolocação, o reposicionamento ou retorno do CAPS ao seu sentido original: Atender de portas abertas o que o hospital psiquiátrico atendia de portas fechadas. A segunda é considerar todas as ações de produção de saúde mental à luz do Programa de Saúde da Família, oferecendo esse cuidado longitudinal “fora dos muros”, visto que as equipes de PSF conhecem de modo progressivo as biografias de seus pacientes e solicitam apoio para as relações com pessoas que tradicionalmente são atendidas pela saúde mental. Outro sintoma gerado pela falta de metas é a sinonimazação do PTS aos dias de permanência do usuário no serviço, exacerbando a importância da minimização dos sintomas, prejudicando a autonomia anteriormente citada, uma vez que o tratamento privilegia o aspecto medicamentoso e das decisões da equipe, não sendo trabalhado, portanto, essa autonomia.Faz-se necessário, portanto, uma digressão para explicar a importância dessa modalidade de tratamento, ressaltando, porém, que esta é apenas uma das modalidades existentes na saúde mental e que deve se levar em conta todas as possibilidades que a atenção psicossocial oferece. Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 118 4.3 Tratamentos medicamentosos Os medicamentos nos serviços de saúde ocupam um lugar importante, pois salvam vidas e curam, suprimem ou atenuam os sinais e sintomas de diversas doenças (NOELLE, 2002). Os psicofármacos instituíram-se como o recurso terapêutico mais utilizado para tratar qualquer mal-estar das pessoas, onde se manifesta a tristeza, o desamparo, a solidão, a inquietude, o receio, a insegurança, ou a ausência de felicidade. Esses medicamentos têm se mostrado como recursos significativos na resolutividade nos serviços de saúde mental, buscando o bem-estar físico e mental do usuário (FERRAZZA et al, 2010; KANTORSKI et al, 2013). Atualmente, qualquer sinal de sofrimento psíquico pode ser rotulado como uma patologia cujo tratamento será a administração de psicofármacos (AMARANTE, 2007; BARROS, 2008; BIRMAN, 2000; IGNÁCIO &NARDI, 2007; LAMB, 2008 APUD FERRAZZAet al, 2010). Para isso, se faz necessário que os prescritores adequem os regimes posológicos aos hábitos de vida do paciente, bem como, enfatizar a importância dos outros profissionais como farmacêuticos buscando resolver os problemas relacionados ao medicamento como preconiza a atenção farmacêutica. Assim, tornar o uso dos fármacos pelos pacientes atendidos no CAPS o mais correto possível, evitando o uso irracional de medicamentos (BRAGA et al, 2005). O retorno do paciente ao atendimento médico periodicamente e a prescrição racional devem ser encorajados com monitoramento cuidadoso, estabelecendo um bom vínculo com os pacientes e familiares. Faz-se pertinente também, a capacitação e sensibilização dos profissionais, sendo formidável a elaboração e execução dos planos terapêuticos individuais de acordo com as modalidades de atendimento, assim como a importância de atentar para o registro nos prontuários, para a reavaliação do tratamento medicamentoso e cuidados prestados. (KANTORSKI et al, 2011). Vale ressaltar que, os médicos, farmacêuticos e enfermeiros devem atentar para a Politica Nacional de Medicamentos no Brasil, portaria 3.916/1998: “Garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 119 promoção do uso racional e o acesso da população àqueles considerados essenciais”. (BRASIL, 1998). Através de visitas domiciliares7 (VD) aos usuários e mesmo em observação na instituição estudada, é possível notar algumas dificuldades dos pacientes e familiares no uso e conhecimento adequado quanto às medicações. Em uma das visitas realizadas pelos residentes Enfermeiro, Psicólogo e Assistente social, a medicação da paciente se encontrava aberta e espalhada sobre a cama em que a usuária dormia, cujo local de descanso estava em precárias condições de higiene, além de medicações encontradas ao chão. Vale ainda ressaltar que a mesma paciente reside sozinha e sugerindo que, é de sua responsabilidade o manejo com as medicações as quais faz o uso. Assim, podemos articular o observado pelos residentes nessa VD no que se refere ao manejo, armazenamento, automedicação e orientações sobre medicações, com o estudo realizado na Faculdade Católica Rainha do Sertão (2005), no Ceará, onde segundo dados da pesquisa, os autores descreveram que, a maioria dos usuários atendidos no CAPS guardavam seus medicamentos em lugares impróprios e o principal motivo que induz a automedicação é a dor em geral. Ainda complementam que, 55% dos pacientes, quando esquecem uma dose do medicamento, tomam dois comprimidos, 50% são responsáveis pelo recebimento da sua medicação e 29% abandonam o tratamento, quando se sentem melhor. (BRAGA et al, 2005). Nesse sentido, é valido ressaltar a importância que tem asinformações aos pacientes e familiares no que tange ao uso da medicação. Arrais et al (2007) relataram a baixa qualidade na dispensação dos medicamentos nos aspectos dos processos de prescrição e dispensação em Fortaleza-CE, pois ela normalmente não é realizada pelo farmacêutico. Corroborando com esse estudo, o observado no CAPS II em Montes Claros, vem ao encontro com o que diz o autor, onde que, por ora a dispensação da medicação não é realizada pelo farmacêutico ou téc. em farmácia e, a comunicação que permeia os trâmites entre prescrição e dispensação de medicamentos ainda são deficientes. Para tanto, ainda segundo Braga et al, (2005) é importante um sistema adequado de 7A VD é um instrumento de trabalho que permite aos profissionais de saúde mental oferecer um cuidado integral ao usuário. Este momento é propício para o profissional de saúde visualizar o contexto social em que o usuário encontra-se, podendo planejar uma assistência qualificada que contemple as necessidades do indivíduo, promovendo sua reinserção social e salientando que a família deve ser coadjuvante neste processo. (COIMBRA, VCC, 2007; KANTORSKI et al, 2013) Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 120 informação e orientação farmacêutica sobre o uso dos medicamentos envolvendo automedicação, armazenamento, posologia, reações adversas e interações medicamentosas,como parte do PTS. É de suma importância a abordagem médico-psiquiátrica dos transtornos mentais (biológico) no diagnóstico e no tratamento do paciente, da mesma forma, as outras modalidades terapêuticas revestem-se, também, de extrema importância para a obtenção de resultados clínicos impactantes e indispensáveis, no tratamento do processo de adoecimento psíquico (JORGE; FRANÇA, 2001). Segundo Ferrazzaet al (2010), a grande maioria dos casos tem apresentado a prescrição de medicamentos como a única forma científica de tratamento. Percebendo então, que a escuta da existência e da história dos enfermos foi sendo descartada e até mesmo silenciada. Ocorre uma medicalização numa escala sem precedentes (BIRMAN, 2000, p. 242). Nesse mesmo estudo, os autores destacam a baixíssima frequência de alta dos casos encaminhados à psiquiatria, o que é preocupante. A pesquisa mostrou três episódios de alta nos 217 casos acompanhados pelo estudo. Isso é observado quando reparamos também no CAPS em Montes Claros, pacientes cronificados de longas datas dependentes dos serviços do CAPS. Portanto, diante da proposta de atenção integral no âmbito biopsicossocial que vem se desenvolvendo dentro dos CAPS, este, como dispositivo para uma atenção psicossocial, a assistência aos usuários precisa ainda ser mais enriquecida, pois, o PTS não deve se reduzir à medicalização do sofrimento. 4.4 Acompanhamentos especializados Os profissionais inseridos nos serviços do CAPS são ferramentas importantes no manejo com os usuários e na construção do PTS. Estes dispõem de amplos saberes científicos e práticos que garantem e direciona a conduta terapêutica dos usuários e/ou familiares dentro do seu projeto terapêutico singular. Assim, após uma avaliação compartilhada do usuário entre a equipe multiprofissional, o profissional de referência promove as intervenções das diversas categorias profissionais para o tratamento terapêutico do paciente, considerando as diferenças e particularidades do sujeito, no intuito de alcançar as condições de alta Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 121 do paciente do CAPS e assegurando a continuidade do acompanhamento desse usuário e familiares em outras instâncias da rede de atenção psicossocial Nesse sentido, é importante que usuários e familiares recebam informações e cuidados específicos, levando em conta suas particularidades no processo de adoecimento. E como promotora desses cuidados, a equipe multiprofissional é uma grande aliada na atenção aos usuários. Entre os profissionais,o enfermeiro, além dos cuidados gerais com a saúde, lida no que tange à medicação, higienização, orientações e com isso podendo proporcionar a escuta com o referido público. Silveira e Alves (2003) concluíram que o enfermeiro, inserido nas equipes interdisciplinares, participava das atividades de saúde mental, interferia e conduzia o processo de atendimento, como qualquer outro técnico de saúde mental. Além disso, orientava a equipe de enfermagem e atendia às especificidades da profissão. Vivenciando assim, um trabalho inovador e contribuindo como outros técnicos para a melhoria do atendimento. Portanto, o enfermeiro inserido na saúde mental tem considerável e indispensável papel nos serviços dos CAPS e participação no projeto terapêutico singular dos pacientes. Para tanto, se faz necessário que o mesmo esteja qualificado e conscientizado da complexidade do manejo com usuários destes serviços, onde envolvem subjetividade e singularidade do sujeito, que requer dos profissionais conhecimentos específicos e sutileza no tratamento. Segundo necessidades dos serviços de saúde mental, atrelado às atribuições dos enfermeiros no exercício da profissão, as atuações nos serviços de saúde devem consistir em: Planejamento, coordenação, organização, execução e avaliação dos serviços da assistência de enfermagem, supervisão da equipe de enfermagem, acolhimentos, consulta de enfermagem, observação clínica especializada, verificação dos sinais vitais e dados antropométricos, manejo medicamentoso adequado, educação em saúde e Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE (histórico, diagnósticos de enfermagem, planos de cuidados, evolução do paciente e avaliação dos cuidados) (COFEN – 358/2009).Assim, contribuindo de forma efetiva no PTS dos usuários. Outro profissional inserido na saúde mental é o assistente social, que trabalha a dimensão social dos usuários, percebendo que a questão social é também um determinante para o sofrimento mental. Sabe-se que as relações sociais de muitos usuários são marcadas pela violação dos direitos, ambientes de Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 122 sobrevivência com insalubridade, dificuldades econômicas na manutenção da medicação e provimento da própria família. Nesse sentido, o assistente social por meio dos instrumentais de trabalho busca auxiliar os usuários nas condições que lhes dificultam no processo de cuidado, busca ainda desenvolver estratégias e acesso as políticas públicas e sociais existentes: direito à saúde, assistência social, habitação, programas previdenciários etc. Isso se dá por meio da mediação com outros serviços existentes e pelo trabalho em rede. Além disso busca trabalhar o protagonismo social, inserção em outros espaços de atividade comunitárias e no núcleo familiar dos usuários. O psicólogo, por sua vez, deve levar em conta o princípio ético de atuar consonante com as políticas públicas de saúde mental, considerando seu caráter anti-manicomial, territorial, o trabalho em rede e intervindo na cultura. Mais que as atividades exercidas no contexto diário do serviço – oficinas, acompanhamento psicoterápico, acolhimentos, etc – é importante que o profissional que atue na área paute-se em uma perspectiva de cuidado crítica e política frente adesinstitucionalização da loucura, dando visibilidade a ele, respeitando e impulsionando os princípios da reforma psiquiátrica. 4.5 Atividades Oferecidas É notório que os psicofármacos têm grande contribuição na cura e/ou estabilização do sujeito com sofrimento mental, porém, os tratamentos terapêuticos destes pacientes não se resumem apenas no uso dos medicamentos psicoativos. Para isso, é de extrema importância que o PTS, contemple uma clínica ampliada(1) que conte com outras ferramentas que também contribuem para a redução de danos(2) e reabilitação psicossocial(3).Os serviços do CAPS podem oferecer diferentes tipos de atividades terapêuticas, entendendo que esses recursos vão além do uso de consultas e medicamentos, fortalecendo a denominada clínica ampliada. Essa ideia de clínica vem sendo (re)construída nas práticas de atenção psicossocial, provocando mudanças nas formas tradicionais de tratamento dos transtornos mentais. Os CAPS oferecem diversos modelos de atividades terapêuticas, por exemplo: psicoterapia individual ou em grupo, oficinas terapêuticas, atividades comunitárias, atividades Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 123 artísticas, orientação e acompanhamento do uso de medicação, atendimento domiciliar e aos familiares (BRASIL, 2004). Ao mencionar sobre as oficinas terapêuticas, Souza e Pinheiro (2012) consideram que o discurso nelas produzido se refere principalmente as formas de ser do usuário, seus investimentos afetivos, seu funcionamento psicodinâmico, além de suas fantasias inconscientes. Portanto, a clínica ampliada não desconsidera os padrões da doença, mas busca um olhar diferenciado que não perca de vista a singularidade de cada usuário. Nesse sentido, o sujeito não é reduzido à doença como entidade abstrata, a clínica é uma forma de promoção de autonomia e cidadania, visto que o sujeito e o grupo podem se apropriar ativamente de sua história. Um estudo realizado neste mesmo CAPS de Montes Claros-MG pelos autores Veloso et al (2013), em entrevista semiestruturada com usuários e familiares, mostrou uma percepção dos usuários sobre as oficinas terapêuticas na maioria dos casos, distorcida e afastada de seus reais objetivos terapêuticos, bem como o desconhecimento dos familiares das atividades desenvolvidas na instituição e condução do tratamento. Os autores apontaram isso como grande obstáculo no desenvolvimento dos serviços em saúde mental. Afirmando então, a necessidade de aproximação dos familiares nos serviços do CAPS. O que também contribui para a otimização do PTS. Nesse sentido, nas oficinas terapêuticas, é relevante a presença de um técnico de nível superior nas salas de terapia ocupacional. Diante do exposto, é observado também que no CAPS II as atividades terapêuticas ora são acompanhadas pelo técnico de nível superior e, às vezes não se tem esse profissional para uma escuta especializada frente às reflexões e falas que o sujeito mediante uma oficina pode produzir. Vale ressaltar ainda, a falta do profissional terapeuta ocupacional na instituição. Entretanto, não se pode eximir a responsabilidade da existência de outra categoria profissional na participação das atividades. Contudo, é importante ressalvar a importância de outras terapias psicossociais, que valorizam o autocuidado, a corresponsabilização do usuário e da familiar no objetivo de tecer uma rede de relações na comunidade. Pois, a premissa finalidade do trabalho em saúde mental, deixou de ser a cura e passou a ser a reabilitação psicossocial e reinserção do sujeito na sociedade. Ou seja, a terapêutica Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 124 não é mais centrada no modelo biomédico, e sim em um tratamento que proporcione qualidade de vida, resgatando a cidadania e liberdade pertinente a cada ser humano. (KANTORSKI et al, 2013; KANTORSK et al, 2011). 4.6 A participação da família e do usuário na construção do PTS A família vem sofrendo diferentes variações desde os séculos XVII e XVIII, devido as transformações socioeconômicas e outros fatores que influenciam na sua organização. Conforme Prado (1985) ela assume diversos significados ao longo da história. Partindo da abordagem sociológica de Bruschini (1989, p.8) a família pode ser entendida como um conjunto de pessoas ligadas por laços de sangue, parentesco ou dependência que esabelecem entre si relações de solidariedade e tensão, conflito e afeto. Dessa forma, considera-se nesse trabalho que essa instituição exerce um papel determinante no desenvolvimento social, psíquico e físico dos indivíduos. Vasconcelos (1992) aponta a família como uma provedora de cuidado, suporte e apoio para o paciente com sofrimento mental. No entanto, envolver a família como protagonista no processo de cuidado tem sido um dos grandes desafios. Por muitas vezes ela apresenta resistência em assumir a sobrecarga no ambiente doméstico, seja pela falta de condições de cuidados ou pelos laços já bastante fragilizados. É comum alguns casos no CAPS em que a família busca um local ou instituição para internação ou uma maneira para afastar o usuário do seio familiar, pois já desistiu do mesmo ou por diversas questões como já dito anteriormente não se implicam ou envolvem com o tratamento.Refletindo em um significativo prejuízo no processo de tratamento e nas propostas do PTS para o sujeito. Por outro lado, percebe-se muitos casos que as famílias participam de forma efetiva, enquanto parceiras no cuidado e se comprometendo com o processo de tratamento. Nesses casos, é claro a importância da participação da mesma no processo de construção do projeto terapêutico singular visto que ela traz informações importantes e necessárias capazes de qualificar intervenções da equipe e esclarecer questões pertinentes ao usuário com sofrimento mental. Nesse sentido, observa-se que um dos mecanismos importantes no processo terapêutico são as Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 125 reuniões e/ ou grupos familiares que permitem uma maior inclusão da família no serviço, instrumentalizando- a mesma para o cuidado. Nessa perspectiva, o PTS construído pela equipe com a participação da família e do usuário, não limita apenas ao “episódio da crise ou do surto”, mas contribui para reestabelecer as relações afetivas e sociais entre ambas as partes, para a reabilitação social comunitária do usuário. 4.7 Encaminhamentos/uso da rede/RAPS Ao se tratar de trabalho horizontalizado da rede pública de saúde, deve- se pensar também na inserção da saúde mental em diferentes espaços e serviços disponíveis, em corresponsabilização de outros agentes nos diversos serviços encontrados no município. O trabalho em rede tem sido um outro desafio para as equipes que trabalham no CAPS, devido a estrutura complexa e resistente que permeia o cotidiano entre os serviços. No CAPS II, nota-seque o grande número das demandas trazidos pelosusuários podem ser atendidos na atenção básica de saúde. Na maioria das vezes as equipes de atenção primária apresentam dificuldades de ofertar cuidados contínuoao usuário com sofrimento mental, observa-se que essas dificuldades se devem as várias atividades assistenciais ofertados nesse serviço ou devido muitos profissionais desses serviços não estarem preparados para conduzir casos que envolvam saúde mental. Em contato com alguns profissionais, estes demonstram sentimentos de despreparo e impotência para trabalhar com os casos clínicos que chegam aos serviços. Espera-se que essas dificuldades serão minimizadas a partir da atuação das equipes de apoio matricial8que estão em processo de criação no município. Além do cuidado em saúde, nota-se que os usuários trazem outras demandas que são referentesa outros serviços intersetoriais como: educação, habitação, trabalho e emprego, segurança, cultura e outros. Esses setores são também fundamentais para o cuidado integral, garantia dos direitos e atendimento aos usuários com sofrimento mentale execução dos objetivos do PTS. Mas neles também são encontrados muitos entraves, devido a própria burocracia dos serviços e também muitas vezes das equipes que ali atuam. 8 Conforme o Ministério da Saúde as equipes de apoio matricial em saúde mental devem oferecer suporte técnico as equipes que são responsáveis pelo desenvolvimento nas ações básicas de saúde a população.Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 126 A partir dessas apreensões, nota-se que a garantia do cuidado e atenção integral passa também pelos serviços da rede básica, secundária e outros níveis assistenciais. As relações entre os profissionais da saúde mental, atenção básica e outros setores deve ter como uma das principais referências o cuidado compartilhado junto ao usuário com sofrimento mental.Portanto, o usuárionão deve ser caracterizado como aquele que pertence a esse ou outro serviço, mas deve observar qual a situação ou demanda de cada caso, respeitando a acessibilidade, equidade e resolutividade e assim todos se tornam responsáveis por contribuir com seu PTS. 5. CONSIDERAÇÕES Como vimos, a construção do Projeto Terapêutico Singular é uma ferramenta fundamental na organização e na efetivação do cuidado aos usuários dos serviços de saúde mental. Sua implementação encontra uma série de entraves, uma vez que a construção do mesmoimplica em um trabalho em que vários atores estão envolvidos – profissionais, usuários, família e comunidade. Além disso, existe a falta de recursos – materiais, físicos e humanos – que dificultam sua plena efetivação. Um bom projeto terapêutico singular é instrumento para que se possa conseguir a integralidade do cuidado em saúde mental, não se resumindo a instrumental bem definido, mas levando em conta também os complexos fatores envolvidos na construção do mesmo. Portanto, é essencial que a equipe de profissionais inseridos nos serviços da saúde mental atente para as necessidades dos usuários, suas respostas frente ao uso das medicações e condutas terapêuticas e que o PTS seja ampliado para além do tratamento medicamentoso. É importante, ainda, que os profissionais descontruam o cuidado vertical e contribuam para promoção de um serviço multifacetado e que estejam preparados para o manejo adequado dessa realidade, pois, além de acolher o usuário, devem desenvolver um trabalho holístico e especializado com características coletivas e ênfase nos objetivos da reforma psiquiátrica, na busca da reabilitação psicossocial. Com isso proporcionando que o usuário possa se beneficiar dos saberes e cuidados multiprofissionais. Para tanto, esse trabalho requer de todos os profissionais da Revista Intercâmbio - vol. IX - 2017/ISNN - 2176-669X - Página 127 saúde mental uma melhor postura diante das atribuições especializada, colocando- se como agentes de transformações. REFERÊNCIAS ANDRADE FERRAZZA, Daniele et al. A banalização da prescrição de psicofármacos em um ambulatório de saúde mental. Paidéia, v. 20, n. 47, p. 381- 390, 2010. ARRAIS, P. S. D.; BARRETO, M. L.; COELHO, H. L. L. Aspectos dos processos de prescrição e dispensação de medicamentos na percepção do paciente: estudo de base populacional em Fortaleza, Ceará, Brasil. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/csp/v23n4/19.pdf. Acesso 22 de julho de 2015. BRAGA, Diene Santos et al. Estudo do uso racional de medicamentos por usuários do Centro de Atenção Psicossocial–CAPS III. Pharmacia Brasileira, v. 17, n. 7/9, 2005. BIRMAN, Joel. 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