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Patologias da Próstata: ASPECTOS DE NORMALIDADE: A próstata pode ser dividida de diversas formas, sendo que a divisão mais utilizada é a em zonas: ZONA DE TRANSIÇÃO -> Região que envolve a uretra proximal; ZONA CENTRAL -> Porção que acompanha os ductos ejaculadores; ZONA PERIFÉRICA -> Parte que envolve a uretra distal e corresponde à região apical da próstata. **Uma das possíveis divisões da próstata, é em grupo glandular interno e externo, sendo que: GRUPO GLANDULAR INTERNO -> glândulas mucosas e submucosas; GRUPO GLANDULAR EXTERNO -> glândulas externas ou prostáticas propriamente ditas. HISTOLOGIA NORMAL DA PRÓSTATA: Glândulas prostáticas -> Formadas de ácinos e ductos excretores revestidos por células cúbicas ou cilíndricas altas, com núcleos basais, com citoplasma que apresente forte afinidade ao antígeno específico da próstata (PSA) à imuno-histoquímica; Celulas basais -> Formam uma camada irregular de células abaixo das glândulas prostáticas, e tem como função, apenas de reserva (se diferenciam em células epiteliais secretoras); Epitélio de revestimento dos ductos secretores -> Se localiza próximo a uretra prostática, e é do tipo urotelial; Estroma prostático -> Constituído de tecido fibroso e muscular liso, com quantidade variável de fibras elásticas e este tem a importante função de regular a proliferação e a diferenciação do epitélio glandular, por meio da produção e liberação de diferentes polipeptídeos (fator de crescimento semelhante à insulina – IGF; fator de crescimento de fibroblastos – FGF; fator de crescimento do endotélio vascular – VEGF; fator de crescimento transformante – TGF). FISIOLOGIA HORMONAL: A próstata está sobre influência hormonal, sendo que o hormônio luteinizante (LH), produzido na adeno-hipófise, por ação do hormônio liberador do LH (LHRH -> sintetizado no hipotálamo), estimula as células de Leydig no testículo, a produzir testosterona, que tem função na libido e na potência sexual. Esta é liberada e sofre ação da enzima 5alfa-redutase, formando a di- hidrotestosterona (DHT), que atua na função e proliferação do epitélio glandular da próstata. PATOLOGIAS DA PRÓSTATA: HIPERPLASIA NODULAR (HNP): Crescimento nodular do órgão, que resulta da proliferação glandular não neoplásica das glândulas e do estroma da próstata. EPIDEMIOLOGIA: No mundo todo a HNP é a afecção mais comum da próstata, sendo que em um estudo de autópsia Faculdade Ciências Médicas MG // Patologia Médica II Luísa Trindade Vieira (@medstudydalu) – 72D Imagem em maior aumento mostrando as células cilíndricas da glândula prostática (seta pontilhada) e as células basais, logo abaixo (seta cheia) de homens acima de 40 anos, a HNP foi encontrada em 28,4% dos casos, com frequência crescente com a idade. **A grande maioria dos pacientes com manifestações clínicas de HNP situa- se na 6ª e na 8ª década de vida (60 aos 79 anos de idade). ORIGEM: HNP se origina da zona de transição (glândulas mucosas e submucosas); MACROSCOPIA: Varia de acordo com os lobos comprometidos e a constituição histológica do nódulo, mas na maioria das vezes, tanto os lobos laterais como o médio estão comprometidos e em menor frequência, somente os lobos laterais estão afetados. À superfície de corte, podemos observar nódulos de diferentes diâmetros -> aspecto e consistência variam de acordo com a constituição histológica (ESTROMA: duros e com aspecto fasciculado; GLÂNDULAS: menos consistentes e de aspecto esponjoso). Além disso, pode-se observar em alguns casos, áreas de infarto com aspecto pardacento de tamanhos variados; **Por compressão dos nódulos sai líquido de aspecto leitoso e em caso de infecção associada, sai líquido amarelo-esverdeado. !!!! ATENÇÃO !!!! -> O crescimento dos nódulos originados do grupo glandular interno gera compressão nas glândulas do grupo externo (forma a “cápsula cirúrgica”). Já o crescimento dos nódulos nos lobos laterais, ocasionam compressão da uretra prostática, que se torna tortuosa e em fenda. MICROSCOPIA: Os nódulos hiperplásicos são constituídos predominantemente por estroma, ou estroma e tecido glandular, ou mais raramente, apenas por glândulas (na maioria das vezes são encontrados nódulos estromatosos e estromatoglandulares na mesma próstata) -> forma e tamanho variado, sendo às vezes cisticamente dilatado e com proliferação papilífera para a luz. **Pode haver presença de infiltrado inflamatório mononuclear em focos esparsos -> estes não representam foco de infecção, mas sim extravasamento de secreção prostática por obstrução da uretra prostática, pelos nódulos. ETIOPATOGÊNESE: É controversa e não completamente conhecida, tendo duas hipóteses principais: Ação de fatores de crescimento locais -> A interação entre estroma e epitélio glandular, parecem cruciais para o desenvolvimento da HNP, sendo que no início os nódulos são esteromatosos, por ação de provável produção local de fatores de crescimento e com o tempo, as células estromais da região periuretral induzem a produção intranodular de ductos e ácinos, surgindo assim os nódulos estromaglandulares; Ação de fatores hormonais -> Com o envelhecimento, sabe-se que há redução progressiva de testosterona e mantimento dos níveis de estrógeno constantes (leva a um hiperestrogenismo relativo). Além disso, observa-se que a DHT permanece em níveis normais mesmo com a redução da testosterona (DHT possui muito mais afinidade pelos receptores andrógenos nas células, além de formar um complexo mais estável com os receptores). Dito isso, percebe-se que com o mantimento de DHT nos níveis normais, mesmo com a redução da testosterona, ocorre um estímulo contínuo e prolongado das células prostáticas e, notou-se que os estrógenos aumentam a expressão dos receptores de DHT nas células prostáticas, causando uma maior capacidade de ligação, dessas células, com a DHT -> hiper-estimulação, leva a formação dos nódulos hiperplásicos. ASPECTOS CLÍNICOS: Os nódulos hiperplásicos provocam diferentes graus de compressão da uretra prostática ou funcionam como uma valva no orifício uretral interno, causando como consequência a retenção urinária. Essa retenção urinária causada pela obstrução da uretra, se manifesta como um conjunto de sintomas denominados prostatismo -> Aumento da frequência urinária, noctúria, urgência miccional, jato urinário fraco, hesitação, intermitência, gotejamento urinário, esvaziamento incompleto (fator predisponente para ocasionar infecções urinárias) e micção em dois tempos. **O infarto prostático ocorre em pacientes com aumento de volume mais grave, e esse quadro pode levar a retenção urinária aguda, com necessidade de cateterização de urgência, por edema da próstata secundário ao infarto. As consequências da hiperplasia prostática decorrem da obstrução urinária e suas repercussões na bexiga -> na fase compensada ocorre a hipertrofia da parede vesical, formando traves musculares entrecruzadas que delimitam espaços irregulares (aspecto de trabeculação da mucosa vesical), sendo que nos locais de menor resistência (entre as traves de musculatura) ocorre impulsionamento da mucosa, levando à formação de pseudo-divertículos (o não esvaziamento dos pseudo-divertículos é uma das A imagem esquemática, representa como a próstata foi cortada para observarmos essa superfície; Já na imagem da peça, podemos perceber os nódulos da zona de transição e o aspecto em fenda da uretra prostática. principais causas frequentes de infecção do trato urinário). Na fase descompensada ocorre dilatação da bexiga, podendo atingir grandes volumes, surgindo refluxo vesicoureteral, com consequente hidroureter e hidronefrose bilaterais -> pielonefrite e insuficiência renal crônica podem ser causa de óbito de pacientes não tratados. DIAGNÓSTICO: A próstata hiperplásica promove uma saliência sob a parede do reto, e por isso, o toque retal é elemento propedêutico importanteno diagnóstico clínico de HNP (na maioria dos casos, a suspeita pode surgir desse procedimento). TRATAMENTO: Pode ser clínico ou cirúrgico: Cirúrgico: Pode ser por meio da prostatectomia (nodulectomia -> cirurgia aberta pelas vias retro-púbicas ou supra-púbicas, indicadas normalmente em próstatas muito volumosas) ou por ressecção transuretral da próstata (RTU -> popularmente conhecida como raspagem da próstata, sendo o tratamento indicado para a maioria dos casos e traz como vantagem a redução da incidência de ejaculação retrógrada – indicada com pacientes com até 30g de próstata); Clínico: Indicado em pacientes com sinais obstrutivos menos intensos, sendo que os fármacos de escolha são os competidores do LHRH (substâncias com afinidade para os receptores de LHRH na adeno-hipófise, levando ao bloqueio da produção de LH -> redução da testosterona e da DHT), antiandrógenos, depleção estrogênica (uso de inibidores de aromatase, que é a enzima responsável pela transformação da androstenediona e da testosterina em estrona e estradiol), inibidores da 5alfa-redutase e alfa1- bloqueadores (diminui a contratilidade da musculatura lisa da uretra prostática). ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA: Neoplasia maligna constituída pela proliferação de células epiteliais dos ácinos e/ou ductos prostáticos (zona periférica), sendo o terceiro tumor maligno mais frequente no sexo masculino e uma das principais causas de morte por câncer no ocidente. COMPORTAMENTO BIOLÓGICO: Adenocarcinoma clínico: Causa achados clínicos, por ocasionar manifestações locais, e caso não tratado, evolui com infiltração local e metástases, podendo levar o paciente à morte; Adenocarcinoma latente: Pode ser encontrado acidentalmente em autópsia, RTU ou prostatectomia aberta para tratamento de HNP e em biópsias por agulhas. Isso ocorre, pois este tipo de adenocarcinoma não evolui necessariamente para a forma clínica (paciente não apresenta manifestações), ou evolui de forma muito mais lenta, sendo considerado um adenocarcinoma histológico -> esse tipo de adenocarcinoma é quase que exclusivo da próstata, sendo muito mais frequente que o adenocarcinoma clínico, além de admitir-se que o adenocarcinoma latente não atingiu todas as etapas necessárias para que as células neoplásicas adquiram o potencial de infiltração local e metastização; Adenocarcinoma oculto: Suas manifestações decorrem das metástases e não do crescimento local da neoplasia. EPIDEMIOLOGIA: Por ser uma neoplasia com evolução, relativamente, mais lenta que as outras neoplasias malignas, ela é a terceira causa de morte por câncer em pacientes acima de 55 anos, sendo em homens mais velhos, a principal causa de morte. No Brasil, o adenocarcinoma prostático ocupa o terceiro lugar em frequência (após as neoplasias malignas da pele e do estômago) -> também é o câncer mais frequente do trato urinário com predomínio das manifestações clínicas na sétima e oitava década de vida. ETIOLOGIA: Ainda é em grande parte desconhecida, sendo que fatores como idade (acima da 7ª década de vida), raça (negros e brancos), fatores genéticos (homens abaixo dos 55 anos, com pai ou irmão que possuem o tumor, possuem 2x maior chance de desenvolvimento, e caso ambos os parentes tiverem, essa chance aumenta para 9x), hormônios (estímulos do androgênicos exagerados, que podem ser iniciados anos antes do câncer aparecer), alimentação e fatores ambientais. LESÕES PRÉ-CANCEROSAS: São lesões atípicas do epitélio de revestimento de ductos e ácinos que apresentam maior risco de evoluir para adenocarcinoma histológico ou clínico -> denominadas “NEOPLASIAS INTRAEPITELIAIS PROSTÁTICAS (NIP)”. **Câncer de próstata não possui relação com a hiperplasia -> A HIPERPLASIA NÃO SE TORNA CÂNCER DE PRÓSTATA. DIAGNÓSTICO: Anamnese (história familiar), exame físico (toque retal, sendo que na maioria das vezes não terá presença de alterações, diante da lenta evolução da doença, mas se tiver, será sentida a presença de um nódulo endurecido), laboratório (PSA -> antígeno prostático específico que fica BASTANTE AUMENTADO na presença do câncer, mas não é específico do câncer de próstata), ultrassom (feito via transretal) e biópsia (confirmação histológica feita via transretal). Caso o paciente esteja com diagnóstico de câncer de próstata, é necessária a solicitação de outros exames, como a TC ou ressonância magnética pélvica (observar a extensão da doença), a cintilografia óssea (visualizar metástase óssea -> esse câncer costuma dar metástase em medula de ossos) e a dosagem periódica de PSA para acompanhamento da evolução (após a retirada da próstata, espera-se que o paciente esteja com o PSA baixíssimo, e caso ele comece a aumentar, há uma provável metástase no organismo do paciente). PSA: Esse quadro apresenta um problema, pois 1/5 dos pacientes podem estar sendo perdidos se utilizar apenas o PSA total, visto que 20% dos pacientes totais terão carcinoma de próstata na dosagem do PSAtotal 0-4 (considerada normal). Com isso, foi estabelecida a contagem do PSA associado ao volume prostático (PSA aumentado + próstata aumentada), além de a velocidade com que o PSA aumenta ao longo dos anos (+ que 0,75 a cada ano -> indicada a biópsia) e a associação do PSA com a idade (PSA aumentado, porém próximo do normal em paciente mais idoso, é considerado “normal” e paciente mais novo que está próximo do valor de referência máximo normal, ou um pouco ultrapassado, já é considerado um risco maior -> INDIVIDUALIZAR OS VALORES E CASOS DE ACORDO COM O PACIENTE). MACROSCOPIA: Massa sólida, compacta, brancacenta, nas regiões mais periféricas da próstata; MICROSCOPIA: Proliferação de células epiteliais (colunares/cilíndricas), formando desde glândulas pequenas e compactas até organizações maiores e mais sólidas, com possibilidade de visualização de nucléolo e de infiltração peri-neural (não é obrigatória a visualização, mas se for visualizado ajuda a dar o diagnóstico de câncer). EVOLUÇÃO: Principais focos de metástase são os ossos, mas pode ocorrer infiltração local (órgãos genitais masculinos), infiltração da parede retal, metástases linfonoidais e hematogênicas. **Nas metástases, podemos observar histologias parecidas com a do carcinoma de próstata. PROGNÓSTICO: Depende da graduação da escala de Gleaston (diz respeito a diferenciação do tumor) e das infiltrações locais/metástases... Área circulada de verde corresponde ao adenocarcinoma de próstata -> massa (não podemos observar os “furinhos” que indicam a presença de glândulas normais da próstata, por possuir a região ocupada pelo tumor). A área circulada na imagem da direita temos a proliferação das células epiteliais; Seta fina da imagem de cima da direita aponta para os nucléolos (podem ser observados ou não); Seta grossa da imagem de baixo da direita aponta para a infiltração peri-neural (pode ser visualizada ou não).
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