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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 1. EXECUÇÃO PENAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA ...................................... 4 1.1. Jurisdição ....................................................................................................... 6 1.2. Finalidade da pena e justiça restaurativa ....................................................... 7 2. CLASSIFICAÇÃO .......................................................................................... 9 2.1. Antecedentes ................................................................................................ 10 2.2. Personalidade ............................................................................................... 11 2.3. Diferenças entre exame de classificação e exame criminológico ................. 13 2.4. Comissão técnica de classificação ............................................................... 14 2.5. O exame criminológico ................................................................................. 14 2.6. Identificação do perfil genético e constitucionalidade da medida ................. 15 2.7. Crimes que os autores devem ser submetidos a identificação genética ...... 22 3. DOS DEVERES, DOS DIREITOS E DAS DISCIPLINAS DO PRESO ......... 23 3.1. Das disciplinas .............................................................................................. 24 3.1.1. Das faltas graves .......................................................................................... 26 3.1.2. Do regime disciplinar diferenciado ................................................................ 29 4. PROGRESSÃO DA PENA ........................................................................... 33 4.1. Critérios objetivos ......................................................................................... 35 4.2. Critérios subjetivos ....................................................................................... 37 4.3. Comentários do veto ao § 7º ........................................................................ 38 4.4. Progressão especial ..................................................................................... 39 4.5. Competência ................................................................................................ 40 4.6. Progressão por saltos ................................................................................... 41 4.7. Progressão para regime aberto .................................................................... 42 4.8. Da prisão albergue domiciliar ....................................................................... 44 5. LIVRAMENTO CONDICIONAL .................................................................... 45 5.1. Requisitos do livramento condicional ............................................................ 45 5.2. Condições do livramento .............................................................................. 48 5.3. Cerimônia de livramento ............................................................................... 49 5.4. Revogação do livramento ............................................................................. 50 5.5. Extinção da pena restritiva de liberdade ....................................................... 53 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 55 INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 1. EXECUÇÃO PENAL E JUSTIÇA RESTAURATIVA Sobre a lei de execução penal, Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 se faz necessário iniciarmos com sua conceituação, NUCCI (2021) conceitua como “a fase processual a qual o Estado faz valer a pretensão executória da pena, tornando efetiva a punição do agente e concretizando as finalidades da sanção penal. A execução da pena se inicia após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, sem necessidade de nova citação, pois, o sentenciado foi cientificado tanto da ação penal quanto da sentença condenatória e sabe o conteúdo do título a ser cumprido, com exceção quanto à pena de multa, que é cobrada como dívida ativa da Fazenda Pública. LEP, art. 1º. A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. “ A doutrina o trata como um direito autônomo: O direito de execução penal deve ser considerado um ramo autônomo do ordenamento jurídico, regido por legislação própria, embora coligado ao direito penal e ao processo penal, disciplinas das quais aufere os princípios constitucionais que o inspiram. Trata-se de ciência independente, com metas próprias, embora jamais se desvincule do Direito Penal e do Direito Processual Penal, por razões inerentes à sua própria existência. A sua base constitucional e os direitos e garantias individuais que o norteiam advêm do Direito Penal e do Processo Penal, constituindo essa a sua vinculação. A autonomia decorre de legislação específica (Lei Federal 7.210/84), além de se poder apontar a existência de inúmeras Varas Privativas de Execução Penal, evidenciando a especialidade da atividade judiciária. Por outro lado, a natureza complexa de sua manifestação, abrangendo aspectos jurisdicionais e administrativos, compõe o seu quadro peculiar em face dos demais ramos do Direito. A insuficiência da denominação Direito Penitenciário, quando utilizada para se referir à execução penal, torna-se nítida, na medida em que a Lei de Execução Penal cuida de temas muito mais abrangentes do que o cumprimento de penas em regime fechado nas penitenciárias. (NUCCI, 2021. P. 226) Com relação ao objeto da execução é certo de que seja a sentença penal. O objeto da execução penal é a sentença penal. Nesta, haverá uma pena concreta (que poderá ser suspensa) ou uma medida de segurança aplicada no que se chama absolvição imprópria. Diz-se que a sentença é condenatória quando dá provimento ao pedido da acusação, que é o de condenar o réu. Se a sentença não dá provimento ao pedido, absolvendo-o, será absolutória. Pressupõe-se que da absolvição não derive consequência penal ao réu. Porém, sendo ele inimputável, será absolvido por inexistência de culpabilidade, mas receberá uma medida de segurança. A doutrina intitula essa sentença de absolutória imprópria. De acordo com a legislação penal, http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.210-1984?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%207.210-1984?OpenDocument 5 as penas permitidas são a privativa de liberdade, restritiva de direitos e multa. (BRITO, 2020. P. 44-45) NUCCI afirma: A sentença condenatória é o título principal a ser executado pelo juízo próprio (de preferência, na especializadaVara de Execuções Penais), mas há, também, decisões interlocutórias proferidas durante a execução da pena, que devem ser efetivadas, seguindo-se a individualização executória da sanção. As decisões mais comuns dizem respeito à transferência de regime (fechado ao semiaberto; semiaberto ao aberto), declaração de remição, deferimento de livramento condicional, aplicação de indulto ou comutação, dentre outras. Aguarda-se, ainda, a finalização da execução por meio de sentença, declarando-se extinta a punibilidade do sentenciado. (NUCCI, 2021. P. 19) Sendo a fase que a pena será cumprida, é como norma reguladora maior acerca da execução penal a Constituição federal de 1988, vejamos alguns incisos do artigo 5º da CF/88: XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;(BRASIL, 1998) Sabe-se que as diferentes disciplinas do direito possuem princípios constitucionais a serem seguidos, não é diferente na disciplina do direito penal e no processo penal, pois tratam da liberdade do ser humano, também pode incidir sobre a execução penal, normas penais, processuais e administrativas, NUCCI explica: Quanto à individualização da pena, sabe-se que há três aspectos a considerar: (a) individualização legislativa: feita pelo Poder Legislativo ao criar 6 um tipo penal incriminador inédito; (b) individualização judicial: na sentença condenatória, deve o magistrado fixar a pena concreta, escolhendo o valor cabível, entre o mínimo e o máximo, abstratamente previstos pelo legislador, além de optar pelo regime de cumprimento da pena e pelos eventuais benefícios (penas alternativas, suspensão condicional da pena etc.); (c) individualização executória: a terceira etapa da individualização da pena se desenvolve no estágio da execução penal. Esta parte é, normalmente, desconhecida – ou mal compreendida – dos estudiosos das ciências criminais. A sentença condenatória não é estática, mas dinâmica. Um réu condenado ao cumprimento da pena de reclusão de doze anos, em regime inicial fechado, pode cumpri-la exatamente em doze anos, no regime fechado (basta ter péssimo comportamento carcerário, recusar-se a trabalhar etc.) ou cumpri-la em menor tempo, valendo-se de benefícios específicos (remição, comutação, progressão de regime, livramento condicional etc.). Por fim, é preciso destacar que a execução penal não possui princípios constitucionais exclusivos; na realidade, os princípios penais e processuais penais são compartilhados com o Direito de Execução Penal. (NUCCI, 2021. P. 225) Ainda sobre a execução penal de forma geral deve ser observado acerca de sua natureza jurídica. Cuida-se da atividade jurisdicional, voltada a tornar efetiva a pretensão punitiva do Estado, em associação à atividade administrativa, fornecedora dos meios materiais para tanto. Portanto, um processo de natureza mista, abrangendo aspectos jurisdicionais e administrativos. É preciso frisar caber à União, privativamente, a competência para legislar em matéria de execução penal, quando as regras concernirem à esfera penal ou processual penal (art. 22, I, CF). Esse é o contexto básico da execução penal, abrangendo tanto penal quanto processo penal, no seu lado jurisdicional. Envolve-se, ainda, com o Direito Penitenciário, vinculado à organização e funcionamento de estabelecimentos prisionais, normas de assistência ao preso ou ao egresso, órgãos auxiliares da execução penal, entre outros temas correlatos à parte administrativa da execução, cuja competência legislativa é da União, mas concorrentemente com os Estados e Distrito Federal (art. 24, I, CF). (NUCCI, 2021. P. 226) 1.1. Jurisdição Sobre jurisdição, como vimos anteriormente compete à União, exclusivamente, a competência para legislar acerca da execução penal, se tratarem de regras referentes ao direito penal ou processual penal, “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; ” (BRASIL, 1998). No entanto seguindo com a leitura do art. 24, I: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (Vide Lei nº 13.874, de 2019). (BRASIL, 1988). Vimos que 7 há uma concorrência da competência para legislar sobre o direito penitenciário e se tratando de execução penal é evidente o envolvimento do direito penitenciário, NUCCI explica: Envolve-se, ainda, com o Direito Penitenciário, vinculado à organização e funcionamento de estabelecimentos prisionais, normas de assistência ao preso ou ao egresso, órgãos auxiliares da execução penal, entre outros temas correlatos à parte administrativa da execução, cuja competência legislativa é da União, mas concorrentemente com os Estados e Distrito Federal (art. 24, I, CF). (NUCCI, 2021. P. 226) Outro ponto importante é a explicação acerca da jurisdição ordinária e especial: Ordinária é a jurisdição comum – federal ou estadual – não concernente a nenhuma matéria específica, fixada pela Constituição. Por outro lado, em relação à chamada jurisdição especial, tratando de matéria específica, constitucionalmente prevista, somente há possibilidade de haver condenação criminal na Justiça Eleitoral ou na Justiça Militar. Para delimitar a competência do juízo da execução penal, segue-se a Súmula 192 do Superior Tribunal de Justiça: “Compete ao Juízo das Execuções Penais do Estado a execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual”. Em suma, se o presídio é estadual, compete ao juiz estadual executar a pena. Se é federal, ao juiz federal. Se militar, cabe ao juiz militar. Portanto, depende do local para onde é levado o condenado para que se saiba o juízo das execuções competente. Lembremos a existência de presídios estaduais, federais e militares (mas não há eleitorais; condenados com fundamento em crime eleitoral, podem seguir para presídios estaduais ou federais). LEP, art. 2º. A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo o Território Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e do Código de Processo Penal. Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária. (NUCCI, 2021. P. 226) 1.2. Finalidade da pena e justiça restaurativa A pena de prisão, por substituir as penas de morte ou corporais, já pode ser considerada um progresso, porém ela não surge com a finalidade de servir como sanção penal, mas para garantir a execução de outras penas. Em seus primórdios a pena de prisão surge apenas com caráter retributivo, o qual a finalidade é de punir, o que se tem em discussão seria o caráter preventivo da pena (reeducação e ressocialização), o qual alguns doutrinadores tendem a negar que a execução penal possua essa característica, NUCCI explica: 8 Temos sustentado que a pena tem vários fins comuns e não excludentes: retribuição e prevenção. Na ótica da prevenção,sem dúvida, há o aspecto particularmente voltado à execução penal, que é o preventivo individual positivo (reeducação ou ressocialização). Uma das importantes metas da execução penal é promover a reintegração do preso à sociedade. E um dos mais relevantes fatores para que tal objetivo seja atingido é proporcionar ao condenado a possibilidade de trabalhar e, atualmente, sob enfoque mais avançado, estudar. Já tivemos oportunidade de expor, em nossa obra Individualização da Pena, que o caráter retributivo da pena vem expresso em lei, como se vê no disposto no art. 59 do CP: “O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I – as penas aplicáveis dentre as cominadas; II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III – o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV – a substituição da pena privativa de liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível”. Deve-se mencionar, ainda, o disposto no art. 121, § 5.º, do Código Penal, salientando ser possível ao juiz aplicar o perdão judicial, quando as consequências da infração atingirem o próprio agente de maneira tão grave que a sanção penal se torne desnecessária, evidenciando o caráter punitivo da pena. Aliás, na origem do termo, que vem do grego “poine”, pena significa vingança, ódio, ou ainda, nas palavras de ANA MESSUTI “a retribuição destinada a compensar um crime, a expiação de sangue”. Por outro lado, o caráter preventivo da pena desdobra-se em dois lados: a) geral, subdividido noutros dois: a.1) preventivo positivo: a aplicação da pena tem por finalidade reafirmar à sociedade a existência e força do Direito Penal; a.2) preventivo negativo: a pena concretizada fortalece o poder intimidativo estatal, representando alerta a toda a sociedade, destinatária da norma penal; b) especial, também se subdivide em dois aspectos: b.1) preventivo positivo: é o caráter reeducativo e ressocializador da pena, buscando preparar o condenado para uma nova vida, respeitando as regras impostas pelo ordenamento jurídico. A Lei de Execução Penal preceitua: “a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade” (art. 10, caput). Ademais, o art. 22, da mesma Lei, dispõe: “a assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade”; b.2) preventivo negativo: significa voltar-se a pena igualmente à intimidação do autor da infração penal para que não torne a agir do mesmo modo, além de, conforme o caso, afastá-lo do convívio social, garantia maior de não tornar a delinquir, ao menos enquanto estiver segregado. São as múltiplas facetas da pena. (NUCCI, apud MESSUTI 2021. P. 23) BRITO aborda o tema das finalidades da pena da seguinte forma: É evidente que a pena privativa de liberdade pessoal é em si mesma um mal: um mal para a pessoa sobre quem é imposta, mas também um mal para a sociedade constrangida a recorrer a ela, como mortificação pela falência da prevenção, falência da qual a pena é viva testemunha, com dispêndio de meios, com escassez de perspectiva de sucesso quanto à prevenção especial. Justamente por isso se propõe por meio da pena privativa de liberdade, como por meio da pena em geral, uma suposta finalidade educativa e socializante. Todavia, todos sabemos que a pena privativa de liberdade não nasceu de uma exigência de (re) educação ou de (res) socialização, mas sim de uma dupla intenção totalmente diversa: a necessidade de isolar o culpado 9 da sociedade e a exigência de substituir com uma punição menos bárbara as penas desumanas, degradantes e extremas que marcaram por muito tempo o direito punitivo. Por quantos esforços se tenham feito e por quantos façamos sobre o terreno da humanização da pena detentiva e a favor de uma organização apta a assegurar-lhe uma função educativa, é certo que sobre este último aspecto a pena privativa de liberdade apresentará limites insuperáveis. Ela deverá procurar de todo modo absorver a finalidade de incremento, mas não poderá nunca ser prescrita como o melhor meio para realizar essa finalidade (Vassalli. Scritti giuridici, p. 1.628. t. 1. v. 2). (...) A Lei de Execução Penal preocupou-se com o envolvimento da sociedade civil no processo de “ressocialização”. E a justificativa surge com clareza do texto de René Ariel Dotti: “a execução das penas e Medidas de Segurança à revelia da participação eficaz da sociedade, além de institucionalizar mais gravemente a pena de proscrição, ou seja, uma reprise em circuito fechado da antiga pena da perda da paz impede que o condenado possa alcançar a ressocialização como objetivo racional e dogmático de um fim social da pena e não como esperança mirífica da recuperação moral, tão recitada pelos samaritanos da redenção espiritual” (Dotti. Reforma penal brasileira, p. 273). A pena é sofrida pelo autor e percebida pelos seus contemporâneos (Welzel. Derecho penal alemán, p. 281). Nessa categoria incluem--se familiares, vítimas e toda a sociedade, enquanto o homem existir. Submeter o cidadão a uma pena deve significar proporcionar ao Estado a reprovação do fato cometido e, ao condenado as condições de acréscimos pessoais rumo à sintonia com os valores e a cultura vivida em sua comunidade. É por isso que todos os institutos ligados à Execução Penal devem ter como finalidade diminuir os efeitos ou evitar as consequências danosas do cárcere, o que significa formular e aplicar institutos sempre voltados a diminuir a permanência do condenado na prisão. Nos moldes de uma execução construtivista da pena, deve--se procurar restabelecer as relações interpessoais entre os envolvidos (condenados, funcionários, técnicos, cidadãos livres), ainda que na condução dessa finalidade se possa abrir mão de métodos rigorosos de “tratamento”. (BRITO, apud VASSALLI; DOTTI; WELZEL. 2020. P. 57-58) 2. CLASSIFICAÇÃO A classificação é um sistema utilizado como forma de garantia da individualização da pena, previsto no artigo 5º da LEP: “Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal. ” (BRASIL, 1984) NUCCI explica: Classificar, em sentido amplo, significa distribuir em grupos ou classes, conforme determinados critérios. No caso da Lei de Execução Penal, torna- se fundamental separar os presos, determinando o melhor lugar para que cumpram suas penas, de modo a evitar o contato negativo entre reincidentes e primários, pessoas com elevadas penas e outros, com penas brandas, dentre outros fatores. Em suma, não se deve mesclar, num mesmo espaço, condenados diferenciados. A individualização da pena é preceito constitucional (art. 5.º, XLVI, CF) e vale tanto para o momento em que o magistrado condena o réu, aplicando a pena concreta, quanto para a fase da execução da sanção. Por isso, conforme os antecedentes e a personalidade 10 de cada sentenciado, orienta-se a maneira ideal de cumprimento da pena, desde a escolha do estabelecimento penal até o mais indicado pavilhão ou bloco de um presídio para que seja inserido”. (NUCCI, 2021. P. 37) BRITO também aborda com relação a classificação do condenado: Todos são diferentes. Nesse sentido, o juiz deverá considerar as circunstâncias legais e judiciais no momento da aplicação da pena. A execução não poderá ser diferente, e caberá ao juiz individualizar também o cumprimento da pena em conformidade com as circunstâncias legais e particulares de cada condenado. Uma boa política carcerária começa pela obrigação de classificar os condenados e estabelecer o grupo com o qual conviverá durante a execução (Medeiros. Prisões abertas,p. 79). Este mandamento vem estampado no art. 5o da LEP: “Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal”. Os antecedentes evidenciam as peculiaridades objetivas do (s) fato (s) criminoso (s), e a personalidade e as características subjetivas de ordem psicológica e biológica do agente. A aplicação das penas com base somente na natureza do delito e dissociada da personalidade do acusado é um erro, que, no pensar de Rui Medeiros, torna a Justiça Criminal impotente e inócua (Medeiros. Op. cit., p. 44-45). (BRITO, apud MEDEIROS. 2020. P. 98) Sabendo dos critérios para classificação, vejamos acerca dos antecedentes e personalidade segundo a doutrina atual de NUCCI. 2.1. Antecedentes A classificação com base nos antecedentes NUCCI (2021) explica que “trata- se de tudo o que em relação a jurisdição penal tenha ocorrido ao indivíduo, se tratando de toda a sua vida pregressa em matéria criminal. Antes da Reforma da Parte Geral de 1984, cabia o entendimento de que os antecedentes atingiriam todo o passado do sentenciado, desde as condenações existentes até o seu relacionamento nos vários setores da sociedade (na família, no trabalho, na vizinhança etc.). Porém, atualmente os antecedentes destacaram-se da expressão conduta social – igualmente inserida no art. 59 do Código Penal – circunscrevendo-se à análise da folha de antecedentes criminais, então o termo “antecedentes” refere-se ao registro da prática de infrações penais, originando, uma divergência para definir, exatamente, quais anotações criminais poderiam ser levadas em consideração para se afirmar que determinada pessoa possui maus antecedentes. Com o advento dessa reforma na parte geral 11 formaram-se duas correntes, a primeira afirma que todos os registros constantes da folha de antecedentes podem ser levados em conta, tais como inquéritos em andamento ou arquivados, processos em andamento ou extintos, processos em que houve absolvição, processos em que houve condenação, enfim, tudo o que o juiz quiser considerar; já a segunda caberá somente aos registros de condenações com trânsito em julgado, afastando-se inquéritos e processos em andamento e os que foram arquivados ou extintos sem solução condenatória. A segunda posição em matéria penal, prevalece, hoje está sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça: “É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base” (súmula 444). Sendo assim, a classificação do condenado, regida nos termos do art. 5.º da LEP, deve fundamentar-se com base no sumulado pelo STJ e na segunda posição apresentada. Importante ressaltar que o legislador opta por inserir o termo antecedentes para a classificação do condenado – e não reincidência. Sendo este último é mais específico, enquanto aquele é mais amplo. Reincidente é quem volta a praticar conduta criminosa após haver sentença penal condenatória transitada em julgado, porém, essa condenação, com pena cumprida ou extinta, tem um prazo de caducidade de cinco anos, vencido esse prazo, se o indivíduo voltar a cometer um crime, será considerado primário, essa afirmação tem por base o artigo 64, I, CP, com relação aos antecedentes , sendo esses registros de condenações definitivas, o prazo não decairá, sobre essa verificação, deve o diretor do estabelecimento penitenciário evitar que reincidentes se misturem com primários, assim como deve separar os apenados com vários antecedentes daqueles que não os possuam antes da presente condenação. ” 2.2. Personalidade Seguindo sobre a classificação trataremos sobre a personalidade, essa por sua vez está vinculada a características individuais da pessoa NUCCI (2021) explica que “se trata de um conjunto de caracteres exclusivos de uma pessoa, parte herdada, parte adquirida, a personalidade por si só possui uma estrutura complexa, constituindo um conjunto somatopsíquico (ou psicossomático) no qual se integra um componente 12 morfológico, estático, que é a conformação física; um componente dinâmico-humoral ou fisiológico, que é o temperamento; e o caráter, que é a expressão psicológica do temperamento (...). Sobre a personalidade há elementos hereditários e socioambientais, cabendo também a experiências da vida moldarem a sua evolução individual, sendo assim a personalidade se molda em cinco fases bem caracterizadas: infância, juventude, estado adulto, maturidade e velhice. Também é imprescindível, que haja uma análise do meio e das condições onde o sentenciado se formou e viveu, até chegar ao presídio, e aqui temos um ponto interessante, pois um cidadão nascido, livre de dificuldades e privações de ordem econômica ou mesmo de abandono familiar, quando tende ao crime, deve ele ser observado mais rigorosamente do que o miserável, que tenha praticado uma infração penal, para garantir sua sobrevivência. Com tudo abordado acerca da personalidade é evidente que ela não é algo estático, e se encontra em constante mutação, estímulos e traumas de toda ordem agem sobre ela. Após ter cumprido vários anos de pena privativa de liberdade em regime fechado, é correto entender que se tenha alterado sua personalidade. São alguns exemplos de fatores positivos da personalidade: bondade, calma, paciência, maturidade, responsabilidade, tolerância, honestidade, solidariedade. São alguns fatores negativos: maldade, agressividade (hostil ou destrutiva), impaciência, rispidez, hostilidade, imaturidade, irresponsabilidade, intolerância (racismo, homofobia, xenofobia). ” Seguindo sobre a personalidade NUCCI cita SICHES: Vale citar a lição de Recaséns Siches: “a personalidade concreta de cada indivíduo humano constitui o resultado da íntima combinação de múltiplos e variados componentes, entre os quais figuram os mencionados a seguir: a) fatores biológicos ‘constitucionais’ como: os fatores genéticos (genes, cromossomos etc.); os componentes químicos determinados pelas glândulas de secreção interna (...), estatura, pigmentação, tipos somáticos etc.; b) grau de desenvolvimento biológico, por ex., idade; c) fatores biológicos adquiridos, como, por ex., os efeitos da alimentação (...); os efeitos de determinados intoxicantes; os efeitos de certas drogas etc.; d) fatores psíquicos ‘constitucionais’, como, por ex., o caráter frio ou apaixonado, nervoso ou tranquilo; extroversão ou introversão etc.; e) fatores psíquicos adquiridos, como, por ex., os hábitos, formas mecanizadas ou automatizadas de conduta que se constituíram sob a influência de fatores diversos, por decisão voluntária inicial, sob a pressão do ambiente social, pela educação etc.; f) fatores sociais e culturais, por ex., tudo o que o sujeito aprende dos demais seres humanos, tanto dos indivíduos com quem está em contato direto (...), além de convicções coletivas vigentes, costumes, usos (...) profissão ou ofício (...), a fé religiosa (...), as convicções políticas (...), o fato de ter como língua materna um idioma meramente vernáculo, ou um idioma que é veículo de 13 comunicação universal no mundo da cultura etc.”. (NUCCI, Apud SICHES 2021. P. 38) 2.3. Diferenças entre exame de classificação e exame criminológico Antes de continuarmos a análise acerca do título II do condenado e do internado capítulo I da lei de execução penal, é importante diferenciarmos o exame de classificação e exame criminológico: O primeiro é mais amplo e genérico, envolvendo aspectos relacionados à personalidade do condenado, seus antecedentes, sua vida familiar e social, sua capacidade laborativa, entre outros fatores, aptos a evidenciar o modo pelo qual deve cumprir sua pena no estabelecimento penitenciário (regime fechado ou semiaberto); o segundo é mais específico, abrangendo a parte psiquiátrica do exame de classificação, pois concede maior atenção à maturidadedo condenado, sua disciplina, capacidade de suportar frustrações e estabelecer laços afetivos com a família ou terceiros, além de captar o grau de agressividade, visando à composição de um conjunto de fatores, destinados a construir um prognóstico de periculosidade, isto é, da tendência a voltar à vida criminosa. Em verdade, o exame de classificação, o exame criminológico e o parecer da Comissão Técnica de Classificação não diferiam, na prática, constituindo uma única peça, feita, por vezes, pelos mesmos profissionais em exercício no estabelecimento prisional. Logo, cabia ao magistrado extrair os aspectos interessantes à sua análise no tocante à personalidade, à tendência do sentenciado à delinquência, à sua disciplina e à adaptabilidade ao benefício que almejava conquistar. Nas palavras de Mirabete, “as duas perícias, a criminológica e a da personalidade, colocadas em conjugação, tendem a fornecer elementos para a percepção das causas do delito e indicadores para sua prevenção”. Quando a Comissão Técnica de Classificação se incumbia de elaborar os seus exames ou pareceres, durante toda a execução, desde o início até os momentos de progressão de regime ou para a obtenção de livramento condicional, havia uma única peça (um dos componentes da CTC é o psiquiatra). Passando a Comissão a realizar somente o exame inicial de classificação, quando o Judiciário exigir o exame criminológico, esta avaliação deverá ser realizada pelo psiquiatra forense, por meio de um laudo. Entretanto, em muitos casos, na falta desse profissional, tem-se emitido o exame criminológico em termos variados: ora surge como um parecer da Comissão Técnica de Classificação; ora aparece como um simples laudo psicológico; ora emerge como um parecer de alguns diretores de serviço do presídio, junto com um psicólogo ou com um assistente social. Enfim, inexiste um padrão, na prática. Alguns magistrados aceitam qualquer espécie de avaliação para analisar o direito à progressão ou ao livramento condicional; outros exigem o exame do psiquiatra; porém, na realidade, à falta de profissionais habilitados e custeados pelo Executivo, o Judiciário termina ficando sem opções. Exigir o exame criminológico, feito por um psiquiatra forense, necessariamente, pode significar atraso e prejuízo para o condenado, que não provocou essa situação. Têm os juízes da execução penal trabalhado com o material que o Executivo lhes fornece que, muitas vezes, é deficiente e insatisfatório para uma correta avaliação do mérito para a obtenção do benefício. (NUCCI, 2021. P. 39). 14 2.4. Comissão técnica de classificação A classificação será produzida por uma comissão técnica segundo a redação da lei de execução penal, vejamos os artigos: Art. 6º A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso provisório. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003) Art. 7º A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um) assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade. (BRASIL, 1984). A produção da classificação tem como principal objetivo compor a individualização executória da pena privativa de liberdade, NUCCI trata acerca da importância da comissão técnica: A Comissão Técnica de Classificação, que deve existir nos estabelecimentos penais, é composta pelo diretor da unidade, que a presidirá, por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social (art. 7.º, LEP). Pela própria composição da equipe de avaliação do preso pode-se constatar a sua relevância. Quem pode analisar o condenado com maior profundidade que os profissionais atuando no presídio? O diretor do estabelecimento penitenciário, os chefes de serviço de setores variados (trabalho, lazer, administração etc.), o psiquiatra, o psicólogo e o assistente social são os valorosos observadores dos presos, elaborando não somente o parecer para o início do cumprimento da pena, mas também o parecer para a progressão de regime. O juiz da execução penal, última voz na individualização executória da pena, precisa ser bem informado e dar a cada um o que é seu por direito e justiça. Presos ligados ao crime organizado, por exemplo, podem ser detectados pelos profissionais da Comissão Técnica de Classificação, que atuam no presídio, embora nunca tenham cometido falta grave, logo, podem possuir prontuário “limpo”, mas atividade sub-reptícia no presídio, sem qualquer merecimento para a progressão. (NUCCI, 2021. P. 42). 2.5. O exame criminológico O exame criminológico possui previsão no artigo 8º da lei de execução penal: Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução. 15 Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semiaberto. Também há previsão no artigo 34 do código penal “ art. 34 - O condenado será submetido, no início do cumprimento da pena, a exame criminológico de classificação para individualização da execução. ” (BRASIL, 1940). NUCCI explica acerca do exame criminológico: Reiteramos ser a avaliação do condenado muito importante para o fim de individualizar, corretamente, a execução da sua pena. No entanto, o disposto pelo art. 8.º da LEP entra em choque com o preceituado pelo art. 112, § 1.º, da mesma Lei. Note-se o referido pelo art. 8.º: “o condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução. Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semiaberto”. A contradição é a seguinte: para a individualização executória da pena (progressão de regime e obtenção de livramento condicional) estipula-se, atualmente, bastar a apresentação do atestado de conduta carcerária (art. 112, § 1.º, LEP); porém, o referido art. 8.º indica que, para a individualização da execução, é necessário o exame criminológico. Logo, o ideal seria qualquer individualização executória possuir todo o material abrangente sobre cada um dos presos; no entanto, atualmente, para crimes não violentos tem-se aceitado apenas o atestado de conduta carcerária, enquanto, para crimes violentos, pode o juiz determinar a realização do exame criminológico. O parágrafo único do art. 8.º da LEP está em contradição com o disposto no art. 35, caput, do Código Penal. Enquanto o primeiro aponta ser facultativo realizar o exame criminológico para quem ingressa no regime semiaberto, o art. 35 indica ser obrigatório. Parece-nos indispensável a sua realização, sempre em homenagem ao princípio constitucional da individualização da pena. (NUCCI, 2021. P. 42). 2.6. Identificação do perfil genético e constitucionalidade da medida A identificação do perfil genético possui previsão no artigo 9º A da lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, seguimos com seu inteiro teor: Art. 9º A Comissão, no exame para a obtenção de dados reveladores da personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças ou informações do processo, poderá: I - entrevistar pessoas; II - requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e informações a respeito do condenado; III - realizar outras diligências e exames necessários. 16 Art. 9º-A. Os condenados por crime praticado, dolosamente, com violênciade natureza grave contra pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos no art. 1º da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, serão submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA - ácido desoxirribonucleico, por técnica adequada e indolor. (Incluído pela Lei nº 12.654, de 2012) § 1º A identificação do perfil genético será armazenada em banco de dados sigiloso, conforme regulamento a ser expedido pelo Poder Executivo. (Incluído pela Lei nº 12.654, de 2012) § 1º-A. A regulamentação deverá fazer constar garantias mínimas de proteção de dados genéticos, observando as melhores práticas da genética forense. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º A autoridade policial, federal ou estadual, poderá requerer ao juiz competente, no caso de inquérito instaurado, o acesso ao banco de dados de identificação de perfil genético. (Incluído pela Lei nº 12.654, de 2012) § 3º Deve ser viabilizado ao titular de dados genéticos o acesso aos seus dados constantes nos bancos de perfis genéticos, bem como a todos os documentos da cadeia de custódia que gerou esse dado, de maneira que possa ser contraditado pela defesa. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 4º O condenado pelos crimes previstos no caput deste artigo que não tiver sido submetido à identificação do perfil genético por ocasião do ingresso no estabelecimento prisional deverá ser submetido ao procedimento durante o cumprimento da pena. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 6º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 7º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 8º Constitui falta grave a recusa do condenado em submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019). (BRASIL, 1984) Observa-se que houve algumas alterações em sua redação por leis mais recentes, inclusive pelo “pacote anticrime”, mas antes de tratarmos sobre essas modificações, vejamos acerca da constitucionalidade da identificação do perfil genético: Essa modalidade de identificação é apenas uma espécie de identificação criminal, não constituindo, por si só, constrangimento ilegal ou afronta a qualquer direito individual. A Constituição Federal (art. 5.º, LVIII) estabelece que o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei. Sempre nos pareceu exagerada essa previsão constitucional, pois todos os indiciados ou réus deveriam ser, sempre, identificados criminalmente, sem que isso pudesse representar qualquer vexame ou constrangimento, desde que resguardado o momento e o sigilo do ato. Trata-se da segurança jurídica de não se processar uma pessoa em lugar de outra, gerando um dos piores erros judiciários possíveis. (...). Estipulou-se o procedimento para os condenados por delitos graves (dolosos cometidos com violência contra a pessoa) e aos sentenciados por delitos hediondos. Em verdade, deveria ter fixado para todos os condenados, evitando-se qualquer espécie de erro judiciário, independentemente da gravidade do crime. Mas é um começo. A colheita do material não será invasiva, como já não é no tocante à impressão datiloscópica e à fotografia. Os dados ficam arquivados em banco sigiloso. A eles somente terá acesso o 17 juiz competente, em caso de investigação criminal, a pedido de autoridade policial, de modo a realizar confronto com outros elementos colhidos, permitindo-se estabelecer, com nitidez, a autoria de um delito – ou excluí-la com a mesma segurança. Note-se: não se vai exigir do indiciado ou acusado que faça prova contra si mesmo doando material genético para confrontar com o perfil contido no banco de dados. Na verdade, a polícia poderá extrair da cena do crime todos os elementos necessários para estabelecer um padrão de confronto (ex.: fio de cabelo, sêmen, sangue etc.). Diante disso, havendo dúvida quanto à identidade do autor, pode-se acessar o banco de dados para checar o perfil genético ali constante, a ser estabelecido por laudo pericial. O material encontrado na cena do crime não foi compulsoriamente extraído do autor da infração penal, mas apenas colhido pelo agente estatal. Aliás, o mesmo se dá, hoje, quando uma câmera qualquer filma um crime; valendo-se das imagens, a polícia pode encontrar o suspeito. Ou, ainda, quando se colhe, no local da infração, a impressão datiloscópica, permitindo- se encontrar o agente. Em suma, colher material genético para a identificação criminal de qualquer condenado não é procedimento suficiente para prejudicá-lo; ao contrário, busca-se assegurar a sua perfeita individualização. Se, no futuro, ele tornar a cometer um crime e o Estado, de posse de material colhido no local do delito ou da vítima, puder confrontar com os dados constantes do banco genético, encontrando-se o autor, cuida-se do aperfeiçoamento do sistema investigatório. O acusado não forneceu, obrigatoriamente, material algum para fazer prova contra si mesmo. O ponto de vista é outro: o Estado colheu dados noutras fontes e confrontou com perfil genético já existente. (NUCCI, 2021. P. 43-44) BRITO (2020) discorda, pois, “entende que a forma que o legislador introduz essa mudança radical no sistema é reprovável, por pelo menos três aspectos a serem discutidos iniciando pelo fato de selecionar as pessoas que deverão ser identificadas por determinado método. A mudança seleciona que apenas os “suspeitos” de crime poderão ser identificados e que os “etiquetados” pelo Poder Judiciário como criminosos que praticaram lesão corporal de natureza grave (ainda que decorrente da violência exercida por outro crime) e os hediondos assim relacionados pelo art. 1º da Lei n. 8.072/90 deverão ser submetidos ao método. A finalidade da identificação será apenas mais um constrangimento ao qual será submetido o investigado ou condenado, pois em relação a praticidade pouco poderá auxiliar em futuras investigações, que é a natureza de qualquer tipo de identificação. ” Sobre o método papiloscópio BRITO aborda: O método papiloscópico utilizado atualmente tem alguma chance de funcionar porque todos os habitantes, sem exceção, são submetidos civilmente a tal identificação, o que possibilita a formação de um banco de dados que pode ser utilizado a qualquer tempo. Na prática, esse método não funciona adequadamente, mas não pela sua característica universal, e sim pela deficiência técnica na coleta do material em local de crime ou pela ausência de instrumentos tecnológicos de comparação, já que na maior parte 18 das vezes, quando se consegue coletar uma impressão digital no local de crime, a comparação com o banco de dados é feita manualmente, e não digitalmente como seria o ideal. Por isso, a universalidade é critério indispensável para um banco de dados que não pretenda ser simplesmente discriminatório e sim possuir utilidade prática no procedimento de investigação. Se substituíssemos o sistema civil geral de coleta de dados ou acrescentássemos a ele a identificação do código genético, em futura investigação sobre um determinado crime, poderíamos coletar uma amostra de DNA no local do fato e submetê-la a uma comparação com o banco de dados universal. Se, por um lado, evidentemente essa constatação não seria suficiente para condenar uma pessoa, por outro seria mais um meio de prova a ser analisado e corroborado por outras evidências do delito, o que hoje é exatamente o que representa a coleta e identificação de uma impressão digital no local do crime. Se a finalidade da lei foi não submeter o cidadão a um constrangimento acaba por atuar exatamente ao contrário, pois o caráter discriminatório constrangerá ainda mais o sujeito que for submetido a esse tipo de identificação. (BRITO, 2020. P. 120) BRITO (2020) segue sua explicação acerca dos três aspectos sobre a mudançareprovável sendo o segundo “pelo fato de permitir a coleta e armazenamento de uma identificação tão íntima, talvez escape à própria finalidade do instituto e ultrapasse a possibilidade de intromissão do Estado na vida privada do cidadão, por permitir que se possam manipular dados ou de alguma forma direcionar tão preciosa informação para outras finalidades. ” E em terceiro segue o doutrinador: Terceiro, por ignorar absolutamente o princípio de não autoacusação (nemo tenetur se detegere) consagrado por nossa Constituição Federal (art. 5º, LXIII). A Lei n. 12.037/2009, com a nova redação, prevê no § 1º de seu art. 5º-A que “as informações genéticas contidas nos bancos de dados de perfis genéticos não poderão revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, exceto determinação genética de gênero, consoante às normas constitucionais e internacionais sobre direitos humanos, genoma humano e dados genéticos”. Assim, do ponto de vista constitucional, a previsão legal violaria claramente o mandamento do art. 5º da CF/88. E do ponto de vista internacional, conforme uma dessas regras, especificamente a Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos adotada pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) na sua 29ª sessão, em 11 de novembro de 1997, e endossada pela Assembleia Geral das Nações Unidas na sua Resolução n. 53/152, de 9 de dezembro de 1998, seu art. 10 prevê expressamente que “nenhuma investigação na área do genoma humano ou respectivas aplicações, em particular nas áreas da biologia, da genética e da medicina, deve prevalecer sobre o respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela dignidade das pessoas ou, se for caso disso, dos grupos de pessoas”. Por fim BRITO ainda ressalta: 19 (...) Se o objetivo é concluir uma investigação, pura e simplesmente e não se adotar uma nova forma de catalogação civil, o ideal é que se continue investigando pelos métodos já existentes e não invasivos, como, por exemplo, deferindo mandados de busca e apreensão domiciliar, por meio do qual se poderá apreender material genético expelido pelo investigado naturalmente, como é o caso de coleta de fios de cabe-lo em banheiros ou saliva em escovas de dente etc. e posteriormente se faça uma comparação com material semelhante encontrado no local do crime. Tal previsão, em sede de execução penal, não demonstra qualquer tipo de finalidade. De qualquer forma, o STF reconheceu a repercussão geral do tema no RE 973.837 ainda pendente de julgamento. Construído o banco de dados, a exclusão do perfil genético do condenado poderá ser requerida por ele ou sucessor interessado após o prazo de 20 (vinte) anos do cumprimento da pena (Lei n. 12.037/2009, art. 7o-A, II) (BRITO, 2020. P. 121) No entanto a jurisprudência tem seguido a tendência que NUCCI nos apresenta: TJMG: “Incidente de arguição de inconstitucionalidade – Artigo 9º-A da Lei nº 7.210/84 (Lei de execução penal) – Identificação criminal – Armazenamento de dados em perfil genético – Violação ao princípio da presunção de inocência – Não ocorrência – Constitucionalidade. É constitucional a norma que prevê a extração obrigatória de DNA de condenados, visto que representa avanço científico e a consequente segurança na identificação das pessoas, não comprometendo o princípio constitucional da presunção de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII, da Constituição da República, porquanto já foi reconhecida a culpabilidade do acusado em decisão transitada em julgado. V.V.: É inconstitucional a norma que obriga o condenado a fornecer material para traçar seu perfil genético, o qual será armazenado e colocado à disposição para eventuais investigações policiais, pois constrange o indivíduo a produzir prova contra si mesmo, violando os princípios da presunção de inocência e da não autoincriminação”. (Arg. Inconstitucionalidade 1.0407.16.001151-3/002 – MG, Órgão Especial, rel. Edilson Fernandes, 22.02.2017, m.v.). Comentário do autor: o julgado proferido pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais está correto, pois a colheita de material para compor o perfil genético do condenado, via DNA, não é realizada para determinar se ele cometeu crime; ao contrário, já se encontra sentenciado e o banco de dados permitirá evitar erros judiciários, processando-se pessoa inocente em lugar de culpado. No futuro, se alguém quiser comprovar não ser o autor de determinado crime, por meio do perfil genético, poderá fazê-lo, ao menos no tocante às pessoas já condenadas por aquele delito. Sob outro aspecto, o referido acórdão considerou inconstitucional obrigar o condenado a fornecer material para produzir prova contra si em relação a processo-crime não julgado, o que se afigura acertado, diante do princípio da presunção de inocência. (NUCCI, 2021. P. 49) O perfil genético possui sigilo absoluto, o qual somente o magistrado terá acesso em situações de investigação criminal. Seguimos acerca do artigo 9º-A e suas alterações produzidas através da lei 12.654/2012 e lei 13.964/2019 NUCCI (2021) aduz que “sobre o acesso judicial ao perfil genético foi estabelecido a necessidade de 20 acesso por meio da autoridade judicial competente, apenas quando se tratar de inquérito instaurado e com o devido requerimento da polícia federal ou estadual. A norma veda outra modalidade de investigação criminal que não seja o inquérito, também afasta a legitimidade do Ministério Público para requerer, diretamente, ao juiz a apuração de dados identificadores. É criticado que essa restrição ao MP não pode ocorrer pelos seguintes motivos, primeiro: o magistrado de ofício pode acessar os dados de perfil genético com vistas a garantir a perfeita identificação do acusado, desde que em processo sob sua apreciação, pois sendo ele o destinatário da prova produzida poderá formar a sua convicção como bem quiser, dentro da legalidade. ” Dando seguimento a doutrina de NUCCI, vejamos comentários aos vetos ao caput e aos parágrafos 5.º ao 7.º do art. 9.º-A: A Lei 13.964/2019 deu nova redação ao caput do art. 9.º-A: “o condenado por crime doloso praticado com violência grave contra a pessoa, bem como por crime contra a vida, contra a liberdade sexual ou por crime sexual contra vulnerável, será submetido, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA (ácido desoxirribonucleico), por técnica adequada e indolor, por ocasião do ingresso no estabelecimento prisional”. A atual redação, hoje mantida por conta do veto, é a seguinte: “os condenados por crime praticado, dolosamente, com violência de natureza grave contra pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos no art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, serão submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA – ácido desoxirribonucleico, por técnica adequada e indolor”. A motivação do veto se deu nesses termos: “a proposta legislativa, ao alterar o caput do art. 9º-A, suprimindo a menção expressa aos crimes hediondos, previstos na Lei nº 8.072, de 1990, em substituição somente a tipos penais específicos, contraria o interesse público, tendo em vista que a redação acaba por excluir alguns crimes hediondos considerados de alto potencial ofensivo, a exemplo do crime de genocídio e o de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, além daqueles que serão incluídos no rol de crimes hediondos com a sanção da presente proposta, tais como os crimes de comércio ilegal de armas, de tráfico internacional de arma e de organização criminosa”. Parece-nos correto o veto ao caput, pois a nova redação dada pela referida Lei 13.964/2019 provocou a diminuição da relação de crimes graves (considerados hediondos) para levar à identificação do perfil genético do acusado. Por isso, mantido o veto pelo Congresso, continuará valendo a atual redação do art.9.º-A da LEP, o que nos parece mais adequado. Entretanto, caso derrubado, estreita-se o universo dos delitos, que dão ensejo à identificação do perfil genético por DNA do criminoso, mantendo-se somente crimes contra a vida, contra a liberdade sexual e crime sexual contra vulnerável. Aliás, seria uma incongruência, pois passaria a ser coletado o DNA de quem praticasse, por exemplo, um infanticídio ou aborto (crime contra a vida), de menor importância, retirando-se a identificação de autores de roubo e extorsão, por exemplo. (NUCCI, 2021. P. 47) 21 Continuamos com os comentários e se tratando da redação prevista no § 5º a qual foi vetada, antes a redação era a seguinte: “a amostra biológica coletada só poderá ser utilizada para o único e exclusivo fim de permitir a identificação pelo perfil genético, não estando autorizadas as práticas de fenotipagem genética ou de busca familiar”. (BRASIL, 2019). NUCCI (2021) ao abordar sobre o veto comenta que “o fundamento é sobre a propositura legislativa que ao vedar a utilização da amostra biológica coletada para fins de fenotipagem e busca familiar infralegal, contraria o interesse público por ser uma técnica que possui capacidade para auxiliar no desvendamento de crimes considerados de natureza grave, a exemplo de identificação de irmãos gêmeos, que compartilham o mesmo perfil genético, e da busca familiar simples para identificar um estuprador, quando o estupro resulta em gravidez, valendo-se, no caso, do feto abortado ou, até mesmo, do bebê, caso a gestação seja levada a termo. As razões tratadas no veto parecem acertadas, sem haver necessidade de restringir o uso do perfil genético. ” Ainda é necessário seguir com os comentários acerca dos §§ 6º e 7º. O § 6.º foi inserido pela Lei 13.964/2019 dessa forma: “uma vez identificado o perfil genético, a amostra biológica recolhida nos termos do caput deste artigo deverá ser correta e imediatamente descartada, de maneira a impedir a sua utilização para qualquer outro fim”. O veto vem assim fundamentado: “a proposta legislativa, ao prever o descarte imediato da amostra biológica, uma vez identificado o perfil genético, contraria o interesse público tendo em vista que a medida pode impactar diretamente no exercício do direito da defesa, que pode solicitar a refeitura do teste, para fins probatórios. Ademais, as melhores práticas e recomendações internacionais dizem que após a obtenção de uma coincidência (match) a amostra do indivíduo deve ser novamente testada para confirmação do resultado. Trata-se de procedimento de controle de qualidade com o objetivo de evitar erros”. A previsão feita no § 6.º, prevendo o imediato descarte da amostra colhida, não tem nenhuma razão de ordem prática; ao contrário, termina por impedir eventual produção de contraprova. Parece-nos adequado o veto. O § 7.º teve a seguinte redação: “a coleta da amostra biológica e a elaboração do respectivo laudo serão realizadas por perito oficial”. Essa é a motivação do veto: “a proposta legislativa, ao determinar que a coleta da amostra biológica ficará a cargo de perito oficial, contraria o interesse público, notadamente por se tratar de mero procedimento de retirada do material. Ademais, embora a análise da amostra biológica e a elaboração do respectivo laudo pericial sejam atribuições exclusivas de perito oficial, já existe um consenso que a coleta deve ser supervisionada pela perícia oficial, não necessariamente realizada por perito oficial. Além disso, tal restrição traria prejuízos à execução da medida e até mesmo a inviabilizaria em alguns estados em que o número de peritos oficiais é insuficiente”. A restrição da coleta e da elaboração do laudo apenas ao perito oficial é inadequada, pois há locais em que inexiste esse profissional. Ademais, foge à regra geral das perícias, conforme previsão feita pelo Código 22 de Processo Penal, no art. 159, § 1.º: “na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame”. Parece-nos correto o veto. (NUCCI, 2021. P. 47) 2.7. Crimes que os autores devem ser submetidos a identificação genética Sobre identificação criminal vejamos o ensinamento de MARCÃO: Nos precisos termos do art. 5º, LVIII, da Constituição Federal, o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nos casos previstos em lei. Referido dispositivo constitucional está regulamentado pela Lei n. 12.037/2009, que em seu art. 1º repete a garantia da não identificação criminal como regra, e aponta as exceções em seu art. 3º, que indica taxativamente as hipóteses em que o civilmente identificado poderá ser submetido à identificação criminal. Quando cabível, a identificação criminal será realizada pelo processo datiloscópico (coleta de impressões digitais) e fotográfico (art. 5º, caput), de maneira a evitar, tanto quanto possível, maior constrangimento ao identificado. A Lei n. 12.654/2012 acrescentou um parágrafo único ao art. 5º da Lei n. 12.037/2009, com vista a autorizar a excepcional identificação criminal mediante coleta de material biológico para a obtenção de perfil genético, mesmo em relação ao civilmente identificado, sempre que a identificação criminal for essencial às investigações policiais. Permite a lei, desde a vigência do regramento novo, 3 (três) formas de identificação criminal, a saber: 1) datiloscópica; 2) fotográfica; e 3) pelo perfil genético (DNA). (MARCÃO, 2021. P. 22) A identificação genética torna-se necessária mediante delitos mais graves previstos no ordenamento jurídico penal, pois, são hipóteses, em que as penas são elevadas e regime fechado, nesses casos o erro judiciário, se ocorrer, trará um dano muito mais grave, NUCCI explica: Devem ser submetidos à identificação os autores dos seguintes crimes: a)dolosos, cometidos com violência contra a pessoa. A expressão violência de natureza grave (constante do caput do art. 9.º da LEP) é equivocada e imperfeita. Pode haver lesão de natureza grave, resultante da violência; entretanto, falar em violência grave é ilógico. Todo ato violento contra a pessoa é grave. Seria absurdo pretender distinguir quem cometeu, por exemplo, um roubo com violência leve de quem o cometeu com violência moderada ou mesmo com violência grave. Nem o julgador faz isso na sentença; não caberia ao agente estatal, encarregado de colher o material genético, fazê-lo. Portanto, os condenados por roubo devem ser identificados mediante extração de DNA, assim como outros autores de delitos violentos contra a pessoa. Exclui-se a grave ameaça desse contexto, embora não devesse ter sido afastada; b)delitos hediondos: homicídio (art. 121 do CP), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2.º, I, II, III, 23 IV, V, VI e VII); lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2.º) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3.º), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; roubo circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2.º, V), circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2.º- A, I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2.º-B), qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (157, § 3.º); extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3.º); extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159,caput, e §§ 1.º, 2.º e 3.º); estupro (art. 213, caput e §§ 1.º e 2.º; estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1.º, 3.º e 4.º); epidemia com resultado morte (art. 267, § 1.º); falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e §§ 1.º, 1.º-A e 1.º-B); favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1.º e 2.º); furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum (art. 155, § 4.º-A); genocídio (arts. 1.º, 2.º e 3.º, Lei 2.889/56); posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei n. º 10.826, de 22 de dezembro de 2003, comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003, tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003; organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado, todos tentados ou consumados. Observa-se que há delitos cometidos sem violência (falsificação de remédios, por exemplo), que terminaram incluídos na relação dos passíveis de identificação obrigatória, enquanto outros figuram nas duas relações (tanto violentos quanto hediondos), como o homicídio. Infelizmente, não houve um critério rigoroso para a implantação da lei, pois ficaram fora da previsão crimes importantes como o tráfico ilícito de drogas e a tortura. (NUCCI, 2021. P. 45) 3. DOS DEVERES, DOS DIREITOS E DAS DISCIPLINAS DO PRESO Sobre breve introdução trataremos sobre os direitos e deveres do preso, visto que trataremos nesse tópico mais acerca das disciplinas pois houveram alterações significativas pelo “pacote anticrime”, vejamos as redações da norma que regulam sobre, iniciando acerca dos deveres do condenado: Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu estado, submeter-se às normas de execução da pena. Art. 39. Constituem deveres do condenado: I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença; II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se; III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados; IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina; V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas; VI - submissão à sanção disciplinar imposta; VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores; 24 VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho; IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento; X - conservação dos objetos de uso pessoal. Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto neste artigo. (BRASIL, 1984) Seguindo sobre direitos do preso, há previsão no artigo 5º da Constituição Federal, “III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”; (BRASIL, 1988) e “ XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral” (BRASIL, 1988), vejamos também a previsão no artigo 41 da LEP: Art. 41 - Constituem direitos do preso: I - alimentação suficiente e vestuário; II - atribuição de trabalho e sua remuneração; III - Previdência Social; IV - constituição de pecúlio; V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI - chamamento nominal; XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena; XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento; XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes. XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente. (Incluído pela Lei nº 10.713, de 2003) Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento. (BRASIL, 1984) 3.1. Das disciplinas Se tratando das disciplinas vejamos os artigos responsáveis por sua previsão legal: 25 Art. 44. A disciplina consiste na colaboração com a ordem, na obediência às determinações das autoridades e seus agentes e no desempenho do trabalho. Parágrafo único. Estão sujeitos à disciplina o condenado à pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos e o preso provisório. Art. 45. Não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou regulamentar. § 1º As sanções não poderão colocar em perigo a integridade física e moral do condenado. § 2º É vedado o emprego de cela escura. § 3º São vedadas as sanções coletivas. Art. 46. O condenado ou denunciado, no início da execução da pena ou da prisão, será cientificado das normas disciplinares. Art. 47. O poder disciplinar, na execução da pena privativa de liberdade, será exercido pela autoridade administrativa conforme as disposições regulamentares. Art. 48. Na execução das penas restritivas de direitos, o poder disciplinar será exercido pela autoridade administrativa a que estiver sujeito o condenado. Parágrafo único. Nas faltas graves, a autoridade representará ao Juiz da execução para os fins dos artigos 118, inciso I, 125, 127, 181, §§ 1º, letra d, e 2º desta Lei. (BRASIL, 1984) As faltas disciplinares podem ser classificadas como leves, médias ou graves segundo o artigo 49 da LEP: Art. 49. As faltas disciplinares classificam-se em leves, médias e graves. A legislação local especificará as leves e médias, bem assim as respectivas sanções. Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à falta consumada. (BRASIL, 1984) NUCCI (2021) em seus comentários acerca das faltas leves e médias aduz que “o art. 49 da Lei de Execução Penal classifica as faltas em leves, médias e graves, também preceitua que a legislação local especificará as leves e médias, bem como as respectivas sanções. Para respeitar o princípio da legalidade, regente da execução penal, entende-se que a expressão legislação local deveria dizer respeito ao Poder Legislativo estadual, visto que cada Estado poderia ter o seu código de conduta para os presídios que administrar, mas sempre editado pelo Parlamento. Entretanto, o Judiciário tem aceitado a tipificação de faltas leves e médias através de atos administrativos do Poder Executivo. Outras faltas, que não gerem reflexos no prontuário do condenado, esgotando-se em sanções específicas a elas, podem ser previstas em regulamentos de presídios. É previsto a equiparação entre falta consumada e tentada, e nessa questão se crê haver viabilidade para tal previsão, pois 26 existem vários tipos penais que equiparam a figura tentada à consumada, motivo pelo qual se buscou, no art. 49, parágrafo único, da LEP o mesmo propósito. Sendo assim, fugir ou tentar fugir constitui, igualmente, falta grave. ” MARCÃO comenta acerca de exemplos de faltas leves e médias: (...)São exemplos de falta disciplinar de natureza leve, relacionados no Regimento Interno Padrão dos estabelecimentos prisionais do Estado de São Paulo: transitar indevidamente pela unidade prisional; comunicar-se com visitantes sem a devidaautorização; comunicar-se com sentenciados em regime de isolamento celular ou entregar-lhes quaisquer objetos sem autorização; adentrar cela alheia sem autorização; improvisar varais e cortinas na cela ou alojamento, comprometendo a vigilância, salvo situações excepcionais autorizadas pelo diretor da unidade prisional; ter a posse de papéis, documentos, objetos ou valores não cedidos e não autorizados pela unidade prisional; estar indevidamente trajado; usar material de serviço para finalidade diversa da que foi prevista; remeter correspondência sem registro regular pelo setor competente; mostrar displicência no cumprimento do sinal convencional de recolhimento ou formação. No mesmo regimento padrão encontram-se relacionadas como falta disciplinar de natureza média, entre outras, as seguintes condutas: atuar de maneira inconveniente, faltando com os deveres de urbanidade perante autoridades, funcionários e sentenciados; portar material cuja posse seja proibida por portaria interna da direção da unidade; desviar ou ocultar objetos cuja guarda lhe tenha sido confiada; simular doença para eximir-se de dever legal ou regulamentar; induzir ou instigar alguém a praticar falta disciplinar grave, média ou leve; divulgar notícia que possa perturbar a ordem ou a disciplina; dificultar a vigilância em qualquer dependência da unidade prisional; praticar autolesão, como ato de rebeldia. (MARCÃO, 2021. P. 30) 3.1.1. Das faltas graves Sobre a falta grave insta salientar que seu rol é taxativo, segue sua previsão legal: Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina; II - fugir; III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem; IV - provocar acidente de trabalho; V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas; VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei. VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007) VIII - recusar submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 27 Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório. (BRASIL, 1984) Sobre o rol previsto no artigo 50, houve uma alteração produzida pela Lei nº 13.964, de 2019 que incluiu o inciso VIII, NUCCI (2021) comenta Prevê-se a equiparação entre falta consumada e tentada, cremos haver viabilidade para tal previsão, pois existem vários tipos penais que equiparam a figura tentada à consumada, razão pela qual se buscou, no art. 49, parágrafo único, da LEP o mesmo propósito. Logo, fugir ou tentar fugir constitui, igualmente, falta grave. (...) O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório”. Foi acrescentado, pela Lei 13.964/2019, o inciso VIII ao art. 50, considerando falta grave “recusar submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético”. Como já salientamos, a identificação pelo perfil genético é mais uma forma de individualizar pessoas, como a colheita da impressão digital ou a fotografia. Por isso, é obrigação do condenado que se encaixe nas hipóteses do art. 9.º-A da LEP. A recusa gera falta grave, que vai atrapalhar, no futuro, o recebimento de benefícios, como progressão de regime ou recebimento de livramento condicional. Pode-se indagar quantas vezes o sentenciado, que se recusar a esse procedimento, pode cometer falta grave; segundo nos parece mais lógico, cada vez que ingressar no sistema penitenciário para cumprir pena. Não é viável anotar uma falta grave a cada recusa do preso, se ele não chegou a alterar sua situação no presídio; do contrário, poder-se-ia encaminhá-lo para a colheita do material diariamente e, havendo recusa, seria uma falta grave por dia, resultando em mais de 300 ao ano. Então, é preciso haver solução de continuidade, vale dizer, ele sai do regime fechado e, retornando por qualquer motivo, pode-se cobrar a colheita do material novamente. Havendo recusa, registra-se como falta grave. O rol previsto no art. 50 é taxativo. Não é possível o emprego de analogia para suprir eventual lacuna pelas mesmas razões proibitivas no tocante à ausência de lei penal incriminadora para qualquer situação. É preciso lembrar que a anotação de falta grave pode acarretar vários prejuízos ao condenado, incluindo regressão de regime, perda do livramento condicional, inviabilidade de recebimento do indulto, perda de dias remidos etc. Por outro lado, é incabível a criação de novas faltas graves por meio de Resolução, Portaria ou Decreto, sob pena de ofensa à legalidade. Há dois fundamentos básicos para esse impedimento: a) a própria Lei de Execução Penal houve por bem tipificar e enumerar as faltas graves, razão pela qual cabe somente a lei federal ampliar esse rol; b) o art. 49 da LEP permite que a legislação local edite apenas faltas leves ou médias, excluindo, por via de consequência, as graves. (NUCCI, 2021. P. 94) MARCÃO (2021) critica a alteração feita pelo pacote anticrime “A Lei n. 13.964/2019 acrescentou ao art. 50 da LEP seu inc. VIII, essa adição trata que o condenado pratica falta grave na recusa em submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético. A regra também foi introduzida no art. 9º-A da LEP, § 8º, mas é inconstitucional o fornecimento obrigatório de DNA e punir com falta grave a recusa ao fornecimento de material genético, visto que ofende ao princípio “nemo 28 tenetur se detegere” - ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo - . A recusa será então o exercício de um direito constitucional e certamente não há o que se falar em falta disciplinar, pois não cabe punição no exercício do direito. Nem mesmo a redundância legislativa — que é prova de incapacidade técnica e de ausência de visão sistêmica — se encontra apta a “salvar” a pretensão mal normatizada”. Seguindo acerca das faltas graves MARCÃO (2021) ensina “ O rol de faltas graves é taxativo também se sujeitando aos princípios da reserva legal e da anterioridade. Deve-se observar, que o fato de o Conselho Disciplinar, ao decidir sobre determinada conduta de sentenciado qualificando-a como grave, não impede que o Juiz baseado na Lei de Execução Penal, entenda de modo diferente, pois o Magistrado não está vinculado à classificação feita pela Administração Penitenciária. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave conforme prevê a redação do art. 52, caput, da LEP, pois nesse caso é evidente que o autor possui um elevado grau de desajustamento de seu autor aos padrões de conduta social, e seu descaso com a disciplina a ser mantida no estabelecimento prisional, de cujo dever também é sabedor. Não é necessário aguardar a condenação, tampouco o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, e não há violação ao princípio segundo o qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença condenatória (art. 5º, LVII, da CF). ” Ainda com relação as faltas graves, segue MARCÃO: Basta a prática do crime doloso. Caso fosse necessário aguardar o trânsito em julgado definitivo da decisão no processo de conhecimento respectivo, por certo ficaria sem sentido a previsão legal, que resultaria de nenhum efeito prático, considerando o tempo demandado para a solução do novo processo. Se sobrevier o arquivamento do inquérito ou absolvição, a decisão proferida no processo execucional deverá ser desconstituída e cessados os seus efeitos. Somente a conduta dolosa deve ser considerada falta grave. O atual art. 83, alínea b, do CP, com a redação da Lei n. 13.964/2019, indica que para obter livramento é preciso que o executado não tenha cometido falta grave nos últimos 12 (doze) meses,
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