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SUMÁRIO 1. Introdução e conceito ............................................... 3 2. Fisiopatologia .............................................................. 3 3. Etiologia ......................................................................... 5 4. Quadro clínico .............................................................. 7 5. Disfunções do nó sinoatrial .................................... 7 6. Distúrbios de condução atrioventricular .........10 7. Tratamento .................................................................17 8. Indicações de marca-passo cardíaco ...............20 Referências bibliográficos .........................................23 3ESCLEROSE SISTÊMICA 1. INTRODUÇÃO A Esclerose Sistêmica (ES) é uma doença multissistêmica autoimune do tecido conjuntivo, caracteriza- da por disfunção vascular generali- zada e fibrose progressiva da pele e de outros órgãos. A doença tem dois subtipos principais, a forma difu- sa e a forma limitada. A extensão do espessamento da pele é o que as diferencia. Na forma limitada o es- pessamento com endurecimento da pele ocorre principalmente em mãos e dedos, parte distal dos membros inferiores e face. Na forma difusa esse espessamento se estende para a porção proximal os membros, tó- rax e abdome. SUBTIPOS DE ESCLEROSE SISTÊMICA SUBTIPO EXTENSÃO DA PELE CURSO Forma difusa Espessamento cutâneo extenso. Envolve a região central do corpo, como tórax e abdome Evolução rápida e pode afetar toda a pele Forma limitada ou CREST O espessamento da pele é distal, mais em mãos e pés, além da face. Evolução lenta do espessamento da pele. Precedido em anos pelo fenômeno de Raynaud Tabela 1. Subtipos da Esclerose Sistêmica. Fonte: Clínica Médica USP vol. 5, 2009 SE LIGA! Esclerose Sistêmica e Escle- rodermia não são sinônimos! A Escle- rodermia é dividida em dois tipos: a forma sistêmica que é a Esclerose Sis- têmica e a forma localizada, que afeta uma área específica da pele. Em função dos padrões da lesão, a forma limitada da Esclerodermia pode ser classifica- da em três grupos: Morfeia (placas de esclerose bem delimitadas na pele), Es- clerodermia linear (bandas fibróticas longitudinais que geralmente acometem membros) e Lesão em Golpe de Sabre (lesão esclerótica linear geralmente em face). Figura 1. Morfeia Fonte: http://geriderme.com. br/2016/08/o-que-e-morfeia-ou-esclerodermia/ Figura 2. Lesão em Golpe de Sa- bre. Fonte: http://geriderme.com. br/2016/08/o-que-e-morfeia-ou-esclerodermia/ CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 4ESCLEROSE SISTÊMICA Figura 3. Esclerodermia linear. Fonte: https:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0482-50042004000100016 É uma doença rara e alguns estu- dos sugerem uma incidência de 1 a 2 casos por 100.000 habitan- tes. Apresenta um pico de incidência entre 30 e 50 anos e é pelo menos quatro vezes mais prevalente em mulheres. Negros apresentam um maior risco para o desenvolvimento, principalmente na forma difusa e com início mais precoce. A Esclerose Sistêmica é uma doença complexa de etiologia desconheci- da, sendo improvável que um fator isolado, genético ou ambiental, seja a causa da doença. A infecção laten- te por vírus pode precipitar ou pio- rar a doença. Certos retrovírus têm a mesma sequência da proteína To- poisomerase I, que é um alvo na ES, e podem, portanto, ser um fator pre- cipitante. Dentre os fatores ambien- tais associados ao surgimento da ES estão: contato com sílica, solventes orgânicos, drogas, rotura de próte- ses de silicone e fatores mecânicos. MAPA MENTAL: INTRODUÇÃO Esclerose Sistêmica Forma difusa Doença autoimune sistêmica do tecido conjuntivo. Forma limitada Fatores relacionados Epidemiologia Espessamento cutâneo extenso em tórax, abdome e região proximal de membros. Evolução rápida. Espessamento cutâneo distal em mãos, pés e face. Evolução lenta. Infecções virais; Fatores genéticos; Contato com sílica, solventes orgânicos, drogas, rotura de próteses. Incidência de 1 a 2 casos para 100.000 habitantes; Pico entre 30 e 50 anos; Mais prevalente em mulheres; Negros apresentam maior risco. CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 5ESCLEROSE SISTÊMICA na patogênese da Esclerose Sistêmi- ca: lesão vascular, ativação imune e ativação de fibroblastos com pro- dução excessiva de colágeno. 2. FISIOPATOLOGIA A patogênese da Esclerose Sistêmica é complexa e permanece incompleta. Três componentes são importantes Figura 4. Componentes celulares implicados na patogênese da esclerodermia. Fonte: Uptodate Lesão vascular O endotélio é lesado desde as fases iniciais da ES. Os mediadores envol- vidos são o óxido nítrico (vasodila- tador), endotelina 1 (vasoconstric- tor) e ânions superóxido. Os ânions superóxido, liberados pelo endotélio, neutralizam a ação do óxido nítrico e facilitam a oxidação da lipoproteína de baixa densidade (LDL) circulante, que pode ser fonte de citocinas que lesam o endotélio. Outro fator que contribui para a lesão vascular é a deficiência de precursores de células endote- liais, além de sua incapacidade de di- ferenciação e maturação. Ativação imune A atividade celular e humoral pare- cem ter um papel importante na ES. Alguns anticorpos foram identifica- dos na doença, sendo alguns alta- mente específicos, como o anticen- trômero para a forma localizada e o anti-Scl-70 para a forma difusa. A imunidade celular participa da pa- togênese através da produção de ci- tocinas como IL2, IL4, IL6, IL8, além de TGF-beta, importante indutos da síntese de colágeno e fibronectina pelos fibroblastos. CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 6ESCLEROSE SISTÊMICA Lesão fibrótica Um dos achados mais marcantes nos pacientes com ES é o intenso depósito de colágeno, fibronectina e glicosaminoglicanos nos tecidos envolvidos. MAPA MENTAL: FISIOPATOLOGIA Depósito de colágeno, fibronectina e glicosaminoglicanos; Proliferação de fibroblastos que produzem colágeno FISIOPATOLOGIA Lesão fibrótica Lesão vascular Ativação imune Humoral: anticentrômero e anti-Scl-70; Celular: IL2, IL4, IL6, IL8, TGF-beta e mastócitos Endotelina 1, óxido nítrico e ânions superóxido; Deficiência de precursores de células endoteliais 3. SUBTIPOS A Esclerose Sistêmica é classificada em diferentes subtipos que estão as- sociados a diferentes quadros clínicos e evolução da doença. Esclerose Sistêmica cutânea limitada Os pacientes apresentam edema distal às articulações metacarpo- falangeanas e esclerose cutânea distal aos cotovelos e joelhos e em menor grau em face e pescoço, CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 7ESCLEROSE SISTÊMICA enquanto extremidades proximais e tronco são poupados. Esses pacien- tes geralmente apresentam manifes- tações vasculares proeminentes, incluindo o fenômeno de Raynaud grave e telagiectasia mucocutâ- nea, seguidos por um início posterior de hipertensão arterial pulmonar. Muitos pacientes nesse subtipo apre- sentam a síndrome CREST, definida por Calcinose, Fenômeno de Ray- naud, Esofagopatia, Esclerocdactilia e Telangiectasias. C alcinose aynaud sofagopatia clerodactilia elangiectasiaT e R E S Figura 5. Fenômeno CREST. Fonte: Aula SANARFLIX Esclerose Sistêmica cutânea difusa Os pacientes apresentam mãos in- chadas e espessamento da pele proximal dos membros e tronco. Esses pacientes são mais propensos a ter uma rápida progressão do es- pessamento da pele com desenvol- vimento precoce de fibrose pulmo- nar e um risco aumentado de crise renal e envolvimento cardíaco. Esclerose Sistêmica sem Esclerodermia (Sine Escleroderma) É uma situação pouco frequente (menos de 5% dos casos) na qual existe acometimento apenas dos ór- gãos internos, sem envolvimento cutâneo, ou seja, sem esclerodermia.CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 8ESCLEROSE SISTÊMICA 4. QUADRO CLÍNICO Fenômeno de Raynaud O fenômeno de Raynaud caracteri- za-se pela mudança de cor dos de- dos ocorrendo em três fases, inician- do por palidez intensa seguida de cianose e hiperemia reacional. Está presente nos dedos em resposta ao frio ou estresse provocando extre- midades frias, formigamento e dor. Para o diagnóstico de fenômeno de Raynaud são necessárias pelo me- nos duas dessas fases, já que a cia- nose isolada pode ocorrer no frio em indivíduos normais. Na forma limitada da ES esse fenômeno pode ser a úni- ca queixa por longo período de tem- po. Na forma difusa esse fenômeno surge geralmente concomitante a ou- tros sinais da doença. C MAPA MENTAL: SUBTIPOS Edema distal às articulações metacarpofalangeanas e esclerose cutânea distal aos cotovelos e joelhos e em face. SUBTIPOS Cutânea Limitada Sine Escleroderma Cutânea Difusa Mãos inchadas, espessamento da pele proximal dos membros e tronco. Rápida progressão. Desenvolvimento de fibrose pulmonar e risco de crise renal. Rara. Sem envolvimento cutâneo R E S T alcinose aynaud sofagopatia clerodactyly elangiectasia CCE Realce CCE Realce CCE Realce 9ESCLEROSE SISTÊMICA Figura 6. Fenômeno de Raynaud. Fonte: Clínica Médi- ca USP vol. 5, 2009 Manifestações cutâneas O comprometimento de pele na ES é caracterizado por três fases: uma fase inicial edematosa, seguida por uma fase de espessamento cutâneo, e tar- diamente evoluindo para uma atrofia cutânea. O endurecimento da pele co- meça nos dedos e mãos, denominado esclerodactilia. Caso a esclerodactilia seja intensa, ocorre importante retra- ção dos dedos, podendo evoluir para mão em garra, dificultando o manuseio de objetos e até o cuidado pessoal. Figura 7. Esclerodactilia. Fonte: https://www.msdma- nuals.com/pt-pt/profissional/dist%C3%BArbios-dos- -tecidos-conjuntivo-e-musculoesquel%C3%A9tico/ doen%C3%A7as-reum%C3%A1ticas-autoimunes/ esclerose-sist%C3%AAmica A pele se torna seca, brilhante, com perda das pregas naturas e redução dos fâneros. O nariz e lábios se tor- nam afilados e a abertura da boca torna-se reduzida (microstomia). Figura 8. Microstomia. Fonte: https://www.selfmana- gescleroderma.com/lessons/oral-exercises.html A associação de hiper e hipopigmen- tação que ocorre mais comumente em dorso e próxima ao couro cabe- ludo é denominada sal e pimenta ou leucomelanodermia e é característi- ca da ES. Figura 9. Lesão em sal e pimenta. Fonte: https://www. skincarencure.com/?s=scleroderma.htm&search_404=1 Telangiectasias, conhecidas como aranhas vasculares, ocorrem em face, palma das mãos e mucosas, tendem CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 10ESCLEROSE SISTÊMICA a aumentar em número com o passar dos anos e ocorrem com mais frequ- ência na forma limitada. Figura 10. Telangiectasias em face. Fonte: Clínica Mé- dica USP vol. 5, 2009 Calcinose são depósitos anômalos de cálcio que ocorrem em regiões peri-articulares, pontas dos dedos, cotovelos, Bursa, pré-patelar e super- fície extensora do antebraço. Pode le- var a ulceração e infecção locais. Figura 11. Calcinose. Fonte: Clínica Médica USP vol. 5, 2009 Úlceras isquêmicas são comuns na ES, principalmente nas regiões pe- riungueais e maléolos e ocorrem de- vido a diminuição da irrigação arterial. Podem evoluir para gangrena e perda do dedo. Figura 12. Úlcera digital na Esclerose sistêmica. Fonte: Clínica Médica USP vol. 5, 2009 CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 11ESCLEROSE SISTÊMICA SAIBA MAIS! O espessamento da pele pode ser quantificado e para isso é usado o Escore de Rodnan Mo- dificado que avalia a pele em dezessete regiões do corpo (dedos, mãos, antebraços, braços, face, tórax, abdome, coxas, pernas e pés). A graduação é feita através da realização de uma prega na pele e consiste em: 0 (pele normal), 1 (espessamento leve), 2 (espessamento mode- rado e 3 (espessamento grave), com graduação máxima de 51 pontos. Um escore acima de 40 é indicativo de mau prognóstico. Figura 13. Método usado no Escore de Rodnan, com pontuações 0, 1, 2 e 3 para as letras A,B,C, e D, respec- tivamente. Fonte: Uptodate Manifestações musculoesqueléticas Artralgia e rigidez matinal são sin- tomas frequentes em pacientes com Esclerose Sistêmica nas fases iniciais da doença, levando muitas vezes a um diagnóstico inicial de artrite reu- matoide. Fraqueza muscular é co- mum em pacientes com ES, sendo mais frequente na forma difusa. A atrofia muscular pode ocorrer pelo desuso. Osteoporose também é um achado frequente. Manifestações do trato gastrointestinal O trato gastrointestinal é envolvido em 90% dos pacientes. O esôfago é o mais acometido (esofagite), se- guido pela região anorretal, intestino delgado, estômago e cólon. Disfagia, CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 12ESCLEROSE SISTÊMICA odinofagia, dor em queimação retro- esternal, regurgitação e sensação de parada do alimento no esôfago são sintomas comuns. Pacientes com ES que apresentam refluxo gastroeso- fágico têm maior incidência de eso- fagite, constricção de esôfago dis- tal e metaplasia de Barrett do que aqueles que só apresentam refluxo, sem ES. As telangiectasias também podem ser encontradas no estôma- go caracterizando a Ectasia Vascu- lar Antral Gástrica (GAVE), também conhecida como “estômago em me- lancia”, que são vênulas dilatadas que convergem longitudinalmente para o antro gástrico. A desnutrição resul- tante de má absorção é uma impor- tante causa de mortalidade em pa- cientes com ES. Figura 14. Imagem endoscópica da Ectasia Vacsular Antral Gástrica. Fonte: https://www.thompsoncancer. com/barretts/gave/ CONCEITO! O esôfago de Barrett é uma condição patológica adquirida, ca- racterizada pela substituição do epité- lio pavimentoso estratificado do esô- fago por epitélio colunar especializado do tipo intestinal. Ocorre em pacientes com doença do refluxo gastroesofágico e representa uma resposta adaptativa da mucosa à agressão pelo ácido. Na endoscopia o esôfago de Barrett pode ser identificado como uma mancha cor de salmão, contrastando com a mucosa normal. Figura 15. Esôfago de Barrett na endoscopia. Fonte: www.hucff.ufrj.br Manifestações pulmonares O comprometimento pulmonar é a principal causa de morbidade e mortalidade na Esclerose Sistêmi- ca. A doença intersticial pulmonar é a forma de comprometimento pulmo- nar mais frequente e ocorre em cer- ca de 70% dos casos. Se manifesta geralmente nos primeiros cinco anos de doença na forma difusa. Os pa- cientes podem apresentar dispneia aos esforços e tosse seca. Já a Hi- pertensão Arterial Pulmonar é uma alteração quase exclusiva da forma CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 13ESCLEROSE SISTÊMICA limitada da ES e pode levar a cor pul- monale e insuficiência cardíaca. Nes- se caso podem ser identificados no exame físico hiperfonese da segun- da bulha, galope de ventrículo direi- to, sopros de insuficiência tricúspide ou pulmonar, refluxo hepato-jugular e edema de pés. Manifestações cardíacas O miocárdio, pericárdio e sistema de condução podem ser acometidos na ES. Manifestações cardíacas também podem ocorrer secundárias à Hi- pertensão Arterial Pulmonar (com clínica de insuficiência de ventrículo direito) ou à crise renal da Esclero- dermia. O derrame pericárdico é um achado de ecocardiograma em até 50% dos pacientes. Manifestações renais A crise renal é a manifestação mais importante do comprometimento renal na ES. Caracteriza-se por In- suficiência renal aguda oligúrica, hipertensão arterial acelerada ma- ligna, anemia hemolítica microan- giopática e trombocitopenia. Ocor- re em cerca de 10% dos pacientes, principalmente naqueles com a forma difusa da doença. A incidência dessa complicaçãotem diminuído em fun- ção do uso dos inibidores da enzima conversora de angiotensina para con- trole da pressão arterial. CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 14ESCLEROSE SISTÊMICA MAPA MENTAL: QUADRO CLÍNICO QUADRO CLÍNICO Cutâneo 3 fases: Edematosa → espessamento → atrofia • Esclerodactilia; • Nariz e lábios afilados; • Microstomia; • Lesão em sal e pimenta; • Telangiectasias; • Calcinose; • Úlceras digitais. Fenômeno de Raynaud Dedos com palidez → cianose → hiperemia Resposta ao frio ou estresse. Gastrointestinal • Refluxo gastroesofágico; • Ectasia Vascular Antral Gástrica; • Má absorção. Renal Crise renal: IRA oligúrica, Hipertensão arterial acelerada maligna, anemia hemolítica microangiopática e trombocitopenia. Musculoesquelético • Artralgia • Fraqueza e atrofia muscular; • Osteoporose. Pulmonar • Doença Intersticial: principal causa de morbidade e mortalidade; • Hipertensão Arterial Pulmonar (forma limitada). Cardíaco • Secundário à Hipertensão Pulmonar e à crise renal; • Derrame pericárdico é frequente. 15ESCLEROSE SISTÊMICA 5. DIAGNÓSTICO A anamnese e o exame físico em 90% dos casos são suficientes para o diagnóstico. Os exames la- boratoriais e de imagem são im- portantes na avaliação da extensão e acompanhamento da doença. O American College of Rheumatology e a European League Against Rheu- matism (ACR-EULAR) definiram em 2013 novos critérios de classifica- ção para a Esclerose Sistêmica: CRITÉRIOS ACR-EULAR PARA CLASSIFICAÇÃO DA ESCLEROSE SISTÊMICA Espessamento cutâneo nos dedos de ambas as mãos que acomete a região proximal das articulações metacarpofalangeanas 9 pontos Espessamento cutâneo dos dedos Esclerodactilia Dedos edemaciados 4 pontos 2 pontos Lesões na ponta dos dedos Cicatrizes Úlceras 3 pontos 2 pontos Telangiectasias 2 pontos Capilaroscopia ungueal alterada 2 pontos Hipertensão Arterial Pulmonar ou pneumopatia intersticial 2 pontos Fenômeno de Raynaud 3 pontos Autoanticorpos relacionados à ES (Anticentrômero/ Antitopoisomerase I/ Anti-RNA polime- rase III) 3 pontos Tabela 2. Critérios de classificação da Esclerose Sistêmica (ACR-EULAR). Fonte: Uptodate Os critérios de exclusão são espes- samento cutâneo que poupa dedos das mãos e outra doença que ex- plique melhor os sintomas. A pon- tuação é determinada com a soma do número de pontos máximo em cada categoria e pacientes com pontuação ≥9 pontos são classificados como tendo Esclerose Sistêmica definida. O espessamento cutâneo nos dedos das mãos que acomete região proxi- mal da articulação metacarpofalan- geana já soma 9 pontos, por isso é considerado critério patognomônico e suficiente para o diagnóstico. CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 16ESCLEROSE SISTÊMICA SAIBA MAIS! Os critérios de classificação da ES incluem a Capilaroscopia Periungueal. Este é um exame simples e de baixo custo que pode ser usado na avaliação dos capilares ungueias de pacientes com fenômeno de Raynaud ou portadores de doenças do espectro da ES. Pode usar 3 apare- lhos: estereomicroscópio, dermatoscópio ou videocapilaroscópio. Na ES os capilares ungue- ais costumam apresentar dilatações, perda de alças, micro-hemorragias e neoangiogênese. Figura 16. Imagem de capilaroscopia com padrão normal (A) e padrão esclerodérmico com micro-hemorra- gias, capilares ectasiados, megacapilares e áreas avasculares (B). Fonte: Revista Brasileira de Reumatologia, 2015 Entre os exames solicitados na inves- tigação estão: autoanticorpos- FAN, positivo em mais de 95% dos pacien- tes; o anticentrômero, mais frequen- te na doença limitada, sendo encon- trado em 60 a 90% dos pacientes; antitopoisomerase 1 (Scl-70), en- contrado em 40 a 85% dos pacien- tes com a forma difusa; e anticorpos contra RNA polimerase I, II e III e fibrilarina, também encontrados na forma difusa. A radiografia de mãos pode mostrar reabsorção de tecidos moles nas pol- pas digitais, calcificações (calcino- se), osteólise com perda de falanges distais e deformidades. A avaliação do trato gastrointestinal, principalmente do esôfago, deve ser feita de forma rotineira com a manometria, esofa- gograma e endoscopia. A avaliação pulmonar deve ser feita anualmente nos primeiros 5 anos de doença, sen- do a Tomografia Computadorizada mais sensível na detecção de lesões intersticiais (imagens de vidro fosco nas bases pulmonares são as lesões mais encontradas). A espirometria é importante para o acompanhamento e mostra um padrão restritivo, com di- minuição progressiva da capacidade pulmonar. O Eletrocardiograma e o Holter podem identificar arritmias. CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 17ESCLEROSE SISTÊMICA 6. TRATAMENTO O tratamento da Esclerose Sistêmica deve ser uma combinação de medi- das que atuem nos principais alvos da doença, como os vasos, sistema imu- ne, fibrose e órgãos envolvidos. Deve ser instituído o mais precocemente possível para evitar a progressão da doença com fibrose irreversível. En- tre os fármacos usados estão: agen- tes antifibróticos e anti-inflamatórios, terapia imunossupressora e drogas de ação vascular. Fenômeno de Raynaud As medidas não farmacológicas in- cluem interrupção do tabagismo, interrupção do uso de drogas pre- judiciais, como beta-bloqueadores, aquecimento de extremidades com luvas e meias e estabilização da tem- peratura ambiente. Quando essas medidas não são suficientes, os agen- tes mais eficazes são os bloqueado- res de canais de cálcio, como a ni- fedipina (30-120mg/dia) e o diltiazem (120-480mg/dia). Quando úlceras de difícil cicatrização surgem, podem ser usados vasodilatadores em doses altas. Pele A D-penicilamina é capaz de afe- tar a produção do colágeno e tem efeito imunossupressor. Em estudos MAPA MENTAL: DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO Autoanticorpos Radiografia de mãos Esofagomanometria TC de pulmão e espirometria ECG e Holter Critérios ACR-EULAR FAN, anticentrômero, antitopoisomerase 1, anti RNA polimerase, I, II e III e fibrilarina Identifica Calcinose Pontuação ≥ 9: Esclerose Sistêmica definida CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 18ESCLEROSE SISTÊMICA realizados mostrou ser capaz de re- duzir o espessamento da pele, além de diminuir a incidência de lesão de órgãos internos. O principal problema relacionado ao seu uso é o potencial para efeitos adversos, entre eles a síndrome nefrótica, mielotoxicidade e miastenia gravis. Doença pulmonar A doença pulmonar é atualmente a principal causa de óbito nos pacientes com esclerose sistêmica e seu trata- mento ideal ainda permanece incerto. Existem dois mecanismos básicos de lesão pulmonar: a Alveolite Fibro- sante que leva à fibrose intersticial e a vasculopatia que leva à Hiper- tensão Arterial Pulmonar. Se for identificada Alveolite, pode ser ini- ciado tratamento com prednisona (20mg/dia) associada à ciclofosfa- mida (acima de 125mg/dia), duran- te três meses. Para o tratamento da Hipertensão Arterial Pulmonar são usados fármacos antagonistas dos receptores da endotelina-1, esti- mulantes da guanilato ciclase, ini- bidores da fosfodiesterase, entre outros. Trato gastrointestinal Para o controle do refluxo gastroe- sofágico são indicadas mudanças comportamentais: ingerir refeições pequenas e frequentes, evitar deitar após as refeições, perda de peso, e elevar a cabeceira da cama. A terapia farmacológica se baseia no uso de ini- bidores da bomba de prótons, como o omeprazol e lanzoprazol, para re- duzir a acidez gástrica. Nos pacientes com diarreia crônica por estase com hiperproliferação bacteriana é indica- do o uso de antibióticos como cipro-floxacino, amoxicilina e metronidazol. Doença cardíaca A pericardite sintomática tem boa resposta com ainti-inflamatórios não hormonais ou baixas doses de corticosteroides. Em pacientes com grandes derrames, a pericardiocen- tese pode ser necessária. Doença renal O tratamento da crise renal é basea- do no controle adequado da pres- são arterial, sendo os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) os fármacos de escolha. Nos pacientes que evoluem com síndro- me urêmica, métodos dialíticos de- vem ser realizados (hemodiálise ou diálise peritoneal). CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce CCE Realce 19ESCLEROSE SISTÊMICA MAPA MENTAL: QUADRO CLÍNICO QUADRO CLÍNICO Renal Inibidores da enzima conversora de angiotensina. Síndrome urêmica: diálise Cutâneo D-penicilamina (possui efeitos adversos graves) Gastrointestinal Mudanças comportamentais; Inibidor da bomba de prótons, ATB (se hiperproliferação bacteriana) Cardíaco Pericardite sintomática: AINE ou baixas doses de corticoide Fenômeno de Raynaud Interrupção do tabagismo e do uso de drogas prejudiciais; Drogas: Bloqueadores do canal de cálcio e vasodilatadores Pulmonar Alveolite fibrosante: prednisona 20mg/dia + Ciclofosfamida >125mg/dia por 3 meses; Hipertensão Arterial Pulmonar: Ant. receptores de endotelina-1, estimulantes da guanilato ciclase, inibidores da fosfodiesterase 20ESCLEROSE SISTÊMICA MAPA MENTAL: GERAL Cutânea Calcinose Mãos, pés, face Renal Doença autoimune TRATAMENTO DIAGNÓSTICO FISIOPATOLOGIA EPIDEMIOLOGIA CLÍNICA SUBTIPOS DEFINIÇÃO Alteração vascularFibrose Lesão vascular Ativação imune Lesão fibrótica 30-50 anos + Mulheres + Negros De acordo com o envolvimento Imunossupressores Antifibróticos AINEs Critérios ACR-EULAR≥9 pontos Sd CREST Tronco e região proximal de membros Sem envolvimento cutâneo Rara Cutânea limitada Cutânea difusa Sine Escleroderma Microstomia Telangiectasias Lesões em Sal e Pimenta Esclerodactilia Crise renal Hipertensão pulmonar Alveolite Esofagopatia Estômago de melancia Pulmonar TGI 21ESCLEROSE SISTÊMICA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS VARGA, J. Clinical manifestations and diagnosis of systemic sclerosis (scleroderma) in adults. UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 22 de maio de 2020). DENTON, C. Overview of the treatment and prognosis of systemic sclerosis (scleroder- ma) in adults. UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 22 de maio de 2020). DENTON, C. Pathogenesis of systemic sclerosis (scleroderma). UpToDate Inc. http:// www.uptodate.com (Acesso em 22 de maio de 2020). SOUZA, EJR; KAYSER, C. Capilaroscopia periungueal: relevância para a prática reuma- tológica. Revista Brasileira de Reumatologia. 2015;55(3): 264-271. Clínica Médica Vol. 5: doenças endócrinas e metabólicas, doenças ósseas, doenças reuma- tológicas- Barueri, SP: Manole, 2009. IMBODEN, J; HELLMANN, D; STONE, J. Current: reumatologia: diagnóstico e tratamento. 2ed-Porto Alegre: AMGH, 2011. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas. Esclerose Sistêmica. Portaria SAS/MS nº 99, de 07 de fevereiro de 2013. Ministério da Saúde. 22ESCLEROSE SISTÊMICA
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