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FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ES SUMÁRIO 1 SOCIOLOGIA: O QUE É? .................................................................................... 6 1.1 Antecedentes históricos ................................................................................. 6 2 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ................................................................................. 8 2.1 Divisão de classes. ........................................................................................ 8 2.2 As mudanças no mundo do trabalho .............................................................. 9 2.3 O sentido do trabalho ................................................................................... 10 3 HOMEM E NATUREZA ...................................................................................... 12 3.1 Os Séculos XVIII e XIX: Novo caráter do trabalho e suas relações no filme Tempos Modernos ................................................................................................. 13 4 IMAGENS DE INADEQUAÇÃO PARA O TRABALHO NO FILME ..................... 15 5 O PAPEL POLÍTICO DA GREVE ....................................................................... 17 5.1 Revolução Francesa .................................................................................... 19 5.2 Direitos civis ................................................................................................. 20 6 AUGUSTO COMTE: SURGE A CIÊNCIA DA SOCIEDADE............................... 21 6.1 Positivismo ou cientificismo .......................................................................... 21 7 O POSITIVISMO ................................................................................................. 23 7.1 A lei dos três estados ................................................................................... 24 8 A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE ........................................................................ 25 8.1 Ciência e senso comum ............................................................................... 26 9 A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO .................................................................... 28 10 ENTENDENDO O CONCEITO ........................................................................ 29 10.1 Como Durkheim concebe a sociedade ........................................................ 30 11 SOCIEDADE MECÂNICA E ORGÂNICA ........................................................ 31 12 POSITIVISMO E EDUCAÇÃO ........................................................................ 32 13 O POSITIVISMO E A ESCOLA ....................................................................... 33 13.1 A Influência do Positivismo no Brasil ........................................................... 35 14 MARX WEBER: O SOCIÓLOGO DA BUROCRACIA E DA RACIONALIDADE........... .......................................................................................... 36 15 AÇÃO SOCIAL ................................................................................................ 38 15.1 Outro conceito importante de Weber: Os tipos ideais .................................. 42 16 RACIONALIZAÇÃO DO MUNDO SOCIAL ...................................................... 43 16.1 Karl Marx: A Sociologia da luta de classes .................................................. 44 17 CRÍTICA DE MARX AO CAPITALISMO .......................................................... 46 17.1 Continua a crítica de Marx ao capitalismo.................................................... 47 17.2 A atividade humana: A prática ..................................................................... 47 17.3 Atenção no Conceito Importante de Marx .................................................... 48 17.4 O que importava para Marx então? .............................................................. 48 17.5 Ideologia para Marx significa de acordo com o sociólogo Michael Lowy: .... 49 18 A LUTA DE CLASSES ..................................................................................... 50 18.1 Propriedade privada dos meios de produção capitalista .............................. 51 19 A CRÍTICA AO CAPITALISMO NA ARTE ....................................................... 52 20 A INFLUÊNCIA DA TEORIA MARXISTA ........................................................ 55 21 MARX E A EXPANSÃO DO CAPITALISMO ................................................... 57 21.1 O que dizer do proletariado na teoria Marxista? .......................................... 58 22 O ESTADO NA TEORIA MARXISTA .............................................................. 60 22.1 Como o proletário adquire a consciência de classe? ................................... 61 23 REIFICAÇÃO, O QUE É? ................................................................................ 63 23.1 Conhecimento de Marx aplicados à Educação ............................................ 63 24 A TEORIA DE DURKHEIM NA EDUCAÇÃO ................................................... 65 25 O PAI DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO: DURKHEIM ................................. 65 26 WEBER E A EDUCAÇÃO ............................................................................... 68 27 OS GRANDES SOCIÓLOGOS DO BRASIL ................................................... 69 27.1 a) Florestan Fernandes ................................................................................ 70 27.2 O pai da sociologia brasileira ....................................................................... 71 28 DARCY RIBEIRO: O BRASIL COMO MISSÃO ............................................... 73 28.1 Gilberto Freyre: autor de Casa Grande & Senzala ....................................... 74 28.2 Você sabe o que é patrimônio imaterial? ..................................................... 75 28.3 Sergio Buarque de Holanda ......................................................................... 76 29 HOMEM CORDIAL: A IDENTIDADE BRASILEIRA NA VISÃO DE SÉRGIO BUARQUE. ................................................................................................................ 76 29.1 Caio Prado Junior. ....................................................................................... 77 30 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO ............................................................. 79 30.1 No que consiste a teoria do desenvolvimento de Fernando Henrique Cardoso? ................................................................................................................ 79 31 SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO ....................................................................... 80 32 CONCEITO DE EDUCAÇÃO .......................................................................... 84 33 CAMPO DA SOCIOLOGIA .............................................................................. 87 34 DESCOBERTA DA INFÂNCIA ........................................................................ 90 35 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA .................................................................. 93 36 REFLETINDO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO ......................... 96 37 REPRODUÇÃO NA ESCOLA ......................................................................... 99 37.1 Pierre Bourdieu .......................................................................................... 100 38 ESCOLA: DESIGUALDADE LEGÍTIMA? ...................................................... 102 39 A TRANSMISSÃO DO CAPITAL CULTURAL ............................................... 103 40 RENDA E CULTURA: ATRIBUTOS FAMILIAR ............................................. 104 41 A ESCOLHA DO DESTINO E A QUESTÃO DO ETHOS FAMILIAR ............ 106 42 COMO A ESCOLA CUMPRE A FUNÇÃO DE CONSERVAR AS DESIGUALDADES SOCIAIS? ................................................................................109 43 VIOLÊNCIA SIMBÓLICA ............................................................................... 112 44 BOURDIEU E A EDUCAÇÃO ....................................................................... 113 45 CAPITAL CULTURAL .................................................................................... 114 46 A SOCIOLOGIA NA ESCOLA ....................................................................... 116 47 PAULO FREIRE: A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO EDUCACIONAL BRASILEIRO. .......................................................................................................... 118 48 FREIRE E BOURDIEU .................................................................................. 121 49 ESCOLA: UM AMBIENTE POLÍTICO ........................................................... 124 50 ENSINAR É TRANSFORMAR....................................................................... 126 51 A SOCIEDADE NA VISÃO DE FREIRE ........................................................ 129 52 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA PARA OS PIONEIROS DA ESCOLA NOVA.............. ........................................................................................................ 131 53 ENTENDENDO A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO .............................................. 134 54 PARA ENTENDER A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL .............. 137 55 ESCOLA TECNICISTA .................................................................................. 138 56 E COMO FICA A FORMAÇÃO? .................................................................... 142 57 PENSANDO NA AVALIAÇÃO ....................................................................... 144 58 FORMAÇÃO DOCENTE ............................................................................... 145 59 RETRATO DA EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA ........................ 147 60 PARA VOCÊ ENTENDER O QUE SIGNIFICA CAPITAL HUMANO: ............ 150 61 CRÍTICA À TEORIA DO CAPITAL HUMANO ............................................... 152 61.1 Retrospectiva a partir dos clássicos: .......................................................... 153 62 OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA .............................................................. 156 63 FECHANDO COM CHAVE DE OURO .......................................................... 158 64 MORIN E A EDUCAÇÃO .............................................................................. 160 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ............................................................. 164 6 1 SOCIOLOGIA: O QUE É? Fonte: educacaodialogica.blogspot.com.br A sociologia é antes de tudo uma ciência. Uma ciência social. Neste sentido você deve compreender que esta disciplina não pode ser identificada como simplesmente estudo da sociedade como é comumente definida pelo senso comum. Deve-se, perguntar, portanto: que estudo e para qual sociedade? Significa dizer que por ser ciência ela possui um método de investigação. Mas antes de saber sobre os métodos de investigação e o paradigma do conhecimento da sociologia, é necessário reconhecer o universo histórico do seu surgimento. 1.1 Antecedentes históricos A sociologia é parte integrante das ciências sociais juntamente com a antropologia e a ciência política. Isto significa que estes três disciplinas tem em comum tanto o paradigma de sua construção e constituição quanto sua metodologia. A busca do entendimento sobre a sociedade é possível imaginar, é um exercício que sempre esteve presente na vida das relações humanas, vimos que mesmo na http://educacaodialogica.blogspot.com.br/2013/04/o-que-e-sociologia-resenha-do-livro.html 7 Grécia, com os Sofistas, chamados também de pedagogos já se discutiam fatos sociais, políticas e economia. Pode-se dizer, então, que já existia a sociologia como ciência? Fonte: pedagogia2015-anhanguera.blogspot.com.br A sociologia como disciplina científica vai surgir no início do século XIX, como uma resposta acadêmica para o novo desafio da modernidade: o mundo estava se tornando cada vez menor e mais integrado, a consciência das pessoas sobre o mundo estava aumentando e dispersando. Os sociólogos não só esperavam entender o que mantinha os grupos sociais unidos, mas desenvolver um “antídoto” para a desintegração social. O termo sociologia foi criado pelo Francês Auguste Comte, que associou a palavra sócio do latin socius (associação) e o grego lógus (estudo). Ele pretendia juntar todos os estudos sobre a humanidade, incluindo história, economia e psicologia. Dois eventos foram marcantes para o início desta ciência: A revolução Industrial e a Revolução Francesa. http://pedagogia2015-anhanguera.blogspot.com.br/2015/04/teoria-ou-concepcao-essencialista.html 8 2 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Fonte:lingua-bocaberta.blogspot.com.br A Revolução Industrial ocorrida na Europa (principalmente na Inglaterra) no século XVIII, mudou radicalmente a estrutura da sociedade. Homens passaram a ser substituídos por máquinas, que produziam mais e custavam muito menos. Isto fez com que os problemas sociais aumentassem, pois muitas pessoas que antes trabalhavam de forma artesanal, ficaram sem emprego. Eram acostumadas a uma forma mais lenta de vida, no meio rural, trabalhando apenas para sobreviver da terra. Agora passariam a trabalhar muitommais para os empresários, ganhando às vezes menos do que estavam ganhando antes. 2.1 Divisão de classes. A sociedade se dividiu em Burgueses, os que detinham as fábricas e controlavam a economia, e os Proletariados, que tinham a força de trabalho. O capitalismo se fortaleceu quem produzisse mais, estava acima dos outros. http://lingua-bocaberta.blogspot.com.br/2013/05/revolucao-industrial-pioneirismo-ingles.html http://www.infoescola.com/historia/capitalismo/ 9 Fonte: www.cinevest.com.br 2.2 As mudanças no mundo do trabalho Fonte: kdfrases.com A revolução industrial mudou a forma e a estrutura do trabalho e das relações de produção. Da manufatura ao trabalho nas fábricas e nas indústrias. Este ponto é de fundamental importância para o seu entendimento das consequências que esta revolução trouxe para a humanidade de forma geral, mesmo que ainda no seus primórdios é possível visualizar em longo prazo fortes transformações sentidas até hoje na estrutura de produção e reprodução social. http://www.cinevest.com.br/materias/Tempos-Modernos-trabalho-alienado-na-Revolucao-Industrial-Entenda-melhor-o-filme%2C2%2C28 http://kdfrases.com/frase/97315 10 2.3 O sentido do trabalho Fonte: pt.slideshare.net A origem da palavra trabalho tem sido comumente atribuída ao latim tripalium, instrumento de tortura utilizado para empalar prisioneiros de guerra e escravos fugidios. O sentido da palavra trabalho atribuído há séculos passados é responsável por inúmeros preconceitos e padrão relacionados à atividade que tem atribuído uma separação hierárquica de funções, que irá se refletir posteriormente em desigualdades sociais. A origem da palavra trabalho tem sido comumente atribuída ao latim tripalium, instrumento de tortura utilizado para empalar prisioneiros de guerra e escravos fugidios. Assim, em sua própria terminologia, o trabalho carrega uma carga de esforço e desprazer, o que é extremamente compreensível em sociedades onde predominavam o trabalho forçado e que atividades produtivas eram desprezadas e executadas tão somente por escravos como na Grécia e Roma antigas, cabendo aos homens livres a execução de atividades intelectuais ligadas às ciências e às artes. Pode-se afirmar que o trabalho é o ato que o homem executa visando transformar conscientemente a natureza, é uma ação em que o homem media, regula e controla seu metabolismo com a natureza. http://pt.slideshare.net/leticiajahn/sociologia-o-que-trabalho 11 Fonte: kdfrases.com A origem do trabalho encontra-se nanecessidade de a humanidade satisfazer suas necessidades básicas, evoluindo para outros tipos de necessidades, mesmo supérfluas. Assim, trabalhar é produzir riqueza, o que é necessário em todos os modos de produção, seja no comunal primitivo, no escravista, no feudal, no capitalista, e mesmo nas experiências socialistas. O que muda é a forma de produzir, a tecnologia utilizada, e a relação entre o sujeito que produziu e o que se apropria do que foi produzido, que varia de acordo com a forma de organização da sociedade. Uma sociedade não vive sem o trabalho, na verdade, pode-se dizer que o homem evoluiu de sua condição animal até sua condição atual devido ao seu trabalho. Engels (s/d, p. 270) afirma que o homem modifica sua relação com a natureza devido ao trabalho. Se na condição animal ele tinha de submeter-se às leis da natureza, através do trabalho ele busca dominar a natureza, transforma- a em proveito próprio. Passa de ser dominado a ser dominante devido ao desenvolvimento do trabalho. http://kdfrases.com/frase/105389 12 3 HOMEM E NATUREZA O próprio desenvolvimento do seu corpo, do cérebro, da fala, e da relação entre os homens origina-se do trabalho. Desta forma, Engels afirma que o trabalho criou o homem e o homem criou o trabalho, sendo esta uma ação exclusivamente humana, pois assume uma forma consciente, não intuitiva, pois antes de produzir um objeto é necessário ao trabalhador elaborálo inicialmente em seu cérebro para só então partir para a execução. Já as atividades que os animais executam (a aranha e sua teia, o joão-de-barro e sua casa) são meramente intuitivas, daí trabalho ser uma atividade exclusiva da espécie humana. Para Marx, o único bem que o trabalhador possui devido a não ser proprietário de meios de produção é a sua força de trabalho, a sua capacidade de trabalhar, sendo por isso que o trabalhador é obrigado a vender sua força de trabalho ao capital. Ao contrário de sociedades pré-capitalistas como o feudalismo e a escravidão, no capitalismo o trabalhador entrega sua capacidade de trabalhar por um tempo determinado através de um contrato de trabalho. Além do estabelecimento de um contrato de assalariamento que regula as relações capital-trabalho, algumas diferenças podem ser encontradas no trabalho sob o modo de produção capitalista em comparação com sociedades pré- capitalistas. Como já visto, o trabalho era desprezado na Grécia e Roma antigas, fazendo com que a socialização dos indivíduos ocorresse fora do trabalho, enquanto 13 na sociedade capitalista a socialização dos indivíduos ocorre exatamente nas relações de trabalho. Percebe como o sentido atribuído ao trabalho vai sofrer alterações ao longo da história? Para você entender, principalmente o pensamento de Karl Marx, que é o sociólogo do conflito e da luta de classes, é imprescindível que você compreende antes como este autor considerava o trabalho. Para ele o elemento chave para a compreensão da dinâmica da sociedade capitalista. Neste sentido, sugiro que você faça anotação no seu caderno da disciplina porque esta conhecimento lhe será útil mais tarde, tanto para a realização das suas atividades, quanto para entender a sociologia da educação dos autores pós Marx. Fonte: slideplayer.com.br 3.1 Os Séculos XVIII e XIX: Novo caráter do trabalho e suas relações no filme Tempos Modernos A revolução industrial dos séculos XVIII e XIX teve um peso determinante, com a formação de exércitos de trabalhadores que desprovidos de qualquer propriedade são obrigados a abandonar a vida do campo, sendo jogados nas cidades em busca de empregos assalariados junto às nascentes indústrias. 14 O trabalho então assumiria um novo caráter, de atividade indigna no passado, passam a ser vistos como indignos aqueles que não trabalham, taxados como vagabundos os que não se submetem a trabalhar para o capital, mesmo que o próprio capital não tenha interesse em absorver todo o trabalho posto à sua disposição. Assim, os capitalistas sempre encontram um grupo de trabalhadores à margem do processo produtivo, mas sempre ávidos por incorporar-se a ele, a estes trabalhadores Marx denominou de “exército industrial de reserva”. Em “Tempos modernos” (“Modern times”), filme de Charles Chaplin de 1936, o diretor mostra com maestria os efeitos que o desenvolvimento capitalista e seu processo de industrialização trouxeram à classe trabalhadora. Como diz o texto de introdução do filme, “Tempos modernos” é uma história sobre a indústria, a iniciativa privada e a humanidade em busca da felicidade. A temática de “Tempos modernos” custou a Chaplin uma série de perseguições por parte da CIA, juntamente com a acusação de simpatias comunistas. Além disso, havia recusado naturalizar-se norte-americano argumentando ser um “cidadão do mundo” o que agrava ainda mais sua situação. Chaplin passa a constar na “lista negra” de Hollywood durante a perseguição macarthista, o que torna sua situação de trabalho nos EUA insustentável (seus filmes eram proibidos), levando-o a abandonar definitivamente os EUA em 1952. Fonte: mansaodocinefilo.blogspot.com.br http://mansaodocinefilo.blogspot/ 15 No filme “Tempos Modernos”, o vagabundo Carlitos, ironicamente, encontra- se na condição de operário. É ao auge do predomínio do padrão de acumulação taylorista-fordista, em que os trabalhadores têm suas habilidades substituídas por um trabalho rotineiro e alienado. É o predomínio da esteira rolante de Ford, do cronômetro de Taylor, do operário-massa. 4 IMAGENS DE INADEQUAÇÃO PARA O TRABALHO NO FILME A inadequação de Carlitos com o trabalho alienado perpassa o tempo todo do filme. Na condição de operário ele tenta se adaptar, se esforça para inserir- se naquele novo mundo de produção em massa, máquinas gigantescas, exploração do trabalho, mas também de greves e de organização sindical. Esta inadequação fica presente logo no início do filme, quando um bando de ovelhas brancas é mostrado e apenas uma delas tem a cor preta, certamente está representa o próprio Carlitos. A cena do bando de ovelhas é misturada com a cena dos operários entrando na fábrica, como se fossem animais indo para o abate, só que, na verdade, vão para a produção na fábrica. Como operário da fábrica, Carlitos se depara com a esteira de produção fordista que aumenta o ritmo de produção a todo instante, tornando a relação homem-máquina extremamente conflituosa, até o ponto em que o próprio Carlitos é engolido pela máquina, saindo de lá em uma condição de insanidade, momento em que ele abandona a condição de quase um autômato (repetindo um gesto mecânico mesmo quando não está trabalhando, fruto da alienação do trabalho) para uma situação de confronto direto em que ele sabota a produção, insurge-se contra o patrão e é internado como louco. 16 Fonte: historiaeciajg.blogspot.com.br Em outras passagens, a inadequação de Carlitos com o trabalho alienado fica presente nas tantas tentativas de trabalhar que o personagem enfrenta. Quando arranja trabalho no caís após sair do hospício, consegue em um simples gesto lançar um navio ao mar. Quando o personagem vira vigia na loja de departamentos, além, de não conseguir impedir um assalto, consome produtos da loja, leva a amiga para o interior da loja, e dorme no serviço. Trabalhando como auxiliar de mecânico, Carlitos demonstra a todo instante sua inadequação com a simples tarefa de ajudar o mecânico chefe, fazendo com que este seja também engolido pela máquina. Quando assume o papel de garçom, também é nítida a sua incapacidade de servir uma mesa. Na verdade, Carlitos só consegue mostrar sua identificação com atividades nada alienantes e que fogem ao domínio da máquina sobre o trabalho. Quando ele está na loja de departamentos e mostra uma grande habilidade em patinar, e quando está no restaurantetrabalhando como garçom e que improvisa um número musical cômico. Neste momento percebe-se que em ao menos em uma atividade ele é bom, em um tipo de trabalho que requeira criatividade e não uma mera execução de tarefas formulada por terceiros. Só então, ele é aplaudido por todos e inclusive, parabenizado pelo patrão. A voz de Carlitos é ouvida pela primeira vez no cinema quando ele canta. Chaplin opunha-se ao cinema falado, achando que este não duraria muito tempo. Na verdade, seu temor era com seu próprio personagem, adequado muito mais ao gestual do que a fala. Somente depois de 10 anos de existência, é que em “Tempos 17 modernos”, Chaplin faria sua primeira experiência com o cinema falado, ou no seu caso, “semi-falado”. Ouve-se o ruído das máquinas, o som mecânico da “máquina de comer”, do alto-falante em que o patrão dirige-se aos funcionários, mas em nenhum momento um personagem fala, que não seja através de uma máquina. Mesmo quando Carlitos canta ele expressa uma crítica ao cinema falado, quando esquece a letra, sua amiga grita a ele: “Cante! Dane-se a letra!”, e é o que ele faz, mostra que mesmo sem palavras, ou no caso, usando palavras sem sentido, mas caprichando no gestual, faz com que todos consigam compreender uma história. Outro aspecto que chama atenção no filme é o predomínio completo do trabalho abstrato sobre o trabalho concreto, ou seja, ao capital não interessa a forma como está sendo produzido ou que está sendo produzido, somente importa é que está sendo criado valor. Daí não sabermos exatamente qual a mercadoria que Carlitos produz, e certamente, nem mesmo os operários da fábrica o sabem. Assim, não existe qualquer identificação do trabalhador com seu trabalho, nem com a mercadoria produzida por ele. 5 O PAPEL POLÍTICO DA GREVE Fonte: www.youtube.com http://www.youtube.com/watch?v=zOZUKEebvEU 18 Mesmo com toda a crítica social que é feita, a reação do personagem Carlitos ao sistema é feita de maneira individual e não coletiva. Quando eclode a Grande Depressão de 1929, que coincide com a saída do personagem do hospício, é levado à prisão acusado de ser líder comunista por empunhar uma bandeira (pretensamente vermelha) em frente a um grupo de trabalhadores que fazia uma passeata na rua. Carlitos é visto como o cidadão comum, não politizado, mas que pelo simples gesto de buscar devolver a bandeira que tinha caído do caminhão é acusado de líder da revolta operária. Em outro momento, quando eclode uma greve na fábrica em que trabalha, também por acidente é acusado de agressão a um policial que viria reprimir a greve. No final do filme, quando sua amiga indignada com a situação de perseguição, miséria e desemprego pergunta: “para que tudo isso?” ele responde: “levante a cabeça, nunca abandone a luta”. No entanto, a reação dos dois não é o enfrentamento contra o capital, é retirar-se da cidade, indo em direção ao campo. Ao som da belíssima “Smile”, de autoria de Chaplin, Carlitos dá as costas para a para produção em massa, para as gigantescas máquinas que desempregam trabalhadores, para as suntuosas lojas com suas escadas rolantes, para o trabalho alienado. Seria o último filme mudo de Chaplin e também a despedida do personagem Carlitos, que havia se tornado obsoleto em um momento em que o cinema falado tomava conta dos cinemas do mundo todo. Era o sinal dos tempos. Os tais “tempos modernos”. O que representa o tempo da urbanização e do advento dos problemas sociais. O que conhecemos hoje como modernidade foi exatamente marcado por acontecimentos que fundaram e consolidaram o sistema capitalista de produção, ou seja: a relação capital X trabalho, o trabalho assalariado, a propriedade privada dos meios de produção, o consumo, o investimento em tecnologia, enfim, fatos relacionados â revolução científica e industrial. São as consequências destes acontecimentos sobre a sociedade como desemprego, desigualdades, injustiças, prostituição, mendicância, etc, que vai fazer com que Auguste Comte decida por criar a disciplina sociologia. Sugiro que se você ainda não viu o filme, que veja, ou veja novamente com um novo olhar a partir do que lido. 19 5.1 Revolução Francesa A Revolução francesa é o outro evento que junto à Revolução Industrial representa um marco histórico importante para o surgimento da sociologia. A Revolução Industrial é um marco em termos econômicos e tecnológicos, e a Revolução Francesa é importante no aspecto político, com a queda da bastilha inaugurou a passagem de uma sociedade de privilégios para uma sociedade de direitos, sobretudo na dimensão formal, representada pelo documento produzido e bastante significativo que é a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Usualmente observa esta declaração ser apenas citada sem conhecer a fundo o seu teor e a sua importância para o que estamos estudando nestas primeiras aulas que é as consequências dos acontecimentos dos Séculos XVIII e XIX para o surgimento da sociologia. Na revista Nova Escola é possível encontrar uma reflexão acerca deste documento, conforme segue abaixo: A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi anunciada ao público em 26 de agosto de 1789, na França. "Ela está intimamente relacionada com a Revolução Francesa. Para ter uma ideia da importância que os revolucionários atribuíam ao tema dos direitos, basta constatar que os deputados passaram cerca de 10 dias reunidos na Assembleia Nacional francesa debatendo os artigos que aís ainda a ferro e a fogo após a tomada da Bastilha em 14 de julho do mesmo ano", explica o professor Bruno Konder Comparato, professor no Departamento de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares. Havia urgência em divulgar a declaração para legitimar o governo que se iniciava com o afastamento do rei Luís XVI, que seria decapitado quatro anos depois, em 21 de janeiro de 1793. "Era preciso fundamentar o exercício do poder, não mais na suposta ligação dos monarcas com Deus, mas em princípios que justificassem e guiassem legisladores e governantes", diz o professor. 20 5.2 Direitos civis A primeira geração de direitos humanos diz respeito à conquista por direitos individuais e inaugura o marco histórico da sociedade fundada em direitos contra o privilégio. Você pode observar que se trata de direitos de primeira geração, ou seja, direitos civis, que diz respeito ao indivíduo, à pessoa. A importância desse documento nos dias de hoje é ter sido a primeira declaração de direitos e fonte de inspiração para outras que vieram posteriormente, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1948. Prova disso é a comparação dos primeiros artigos de ambas: O Artigo 1º da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, como visto acima, diz: Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundar-se na utilidade comum. O Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Foi também na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que o lema da República Francesa se inspirou: liberdade, igualdade, fraternidade. Dos três, a igualdade era o mais importante para os revolucionários. Fonte: novaescola.org.br http://novaescola.org.br/historia/fundamentos/como-surgiu-declaracao-direitos-homem-cidadao-494338.shtml 21 6 AUGUSTO COMTE: SURGE A CIÊNCIA DA SOCIEDADE Nas aulas anteriores você viu o contexto do surgimento da sociologia, agora você irá conhecer os métodos sociológicos. Atenção, vamos tentar entender de forma sistemática. Não se esqueçade registrar no seu caderno. 6.1 Positivismo ou cientificismo Fonte:articulo.mercadolibre.com.ar Filósofo do Século XIX, Comte tinha na base na sua filosofia uma visão evolucionista, ou seja, acredita que a história evolui para o progresso, que a humanidade caminha para a perfeição. Contudo, como você viu na segunda vídeo aula o horizonte desta perspectiva era a Europa, demonstrando assim uma visão um tanto quanto etnocêntrica. E o que é o etnocentrismo? http://articulo.mercadolibre.com.ar/MLA-613260260-curso-de-filosofia-positiva-auguste-comte-nuevo-_JM 22 Fonte: www.youtube.com Etnocentrismo é a atitude de enxergar o mundo com os parâmetros da sua própria cultura. O objetivo de Comte era reorganizar o conhecimento humano a partir da ideia de ordem e progresso. Como você pode perceber ele teve grande influência na sociologia brasileira, não é por acaso que os dizeres da bandeira nacional são: ordem e progresso. Comte fez uma releitura, digamos assim da realidade da época na França, num período turbulento de revoluções e mudanças como visto. Esta formulação parte do princípio que é possível aplicar as leis naturais ao estudo da sociedade. Hoje esta ideia é rebatida por muitos estudiosos, inclusive pelo próprio Karl Marx, considerado também um clássico da sociologia, No entanto, é fundamento do positivismo é a ideia de que tudo o que se refere ao s a b e r h umano pode ser sistematizado segundo os princípios adotados como critério de verdade para as ciências exatas e biológicas. Este conjunto de ideias descritas acima se refere ao método que Comte irá propor e que mais tarde será aprofundado por Emile Durkheim. Como dito, as leis naturais se aplicaria também aos fenômenos sociais, que deveriam ser reduzidos a leis gerais como as da física. Para Comte, a análise científica aplicada à sociedade é o cerne da sociologia, cujo objetivo seria o planejamento da organização social e política. https://www.youtube.com/watch?v=D6CHJ79jyAg 23 7 O POSITIVISMO Fonte: slideplayer.com.br O método da ciência de Comte consiste em observar os fenômenos por meio da experiência sensível, e como você viu, este é o único, de acordo com o autor, capaz de produzir estados concretos e científicos, tomando como base o mundo físico ou material. Para Augusto Comte, o desígnio único da história é o progresso do espírito humano. Se este dá unidade ao conjunto do passado social, é porque a mesma maneira de pensar deve se impor em todos os domínios. Auguste Comte conclui que o método positivo, baseado na observação, na experimentação e na formulação de leis, deve ser estendido aos domínios que são deixados às explicações por meio de seres transcendentais ou entidades ou ainda as causas últimas dos fenômenos. Para ele há um modo de pensar, o positivo, que tem validade universal, tanto em política como em astronomia. http://slideplayer.com.br/slide/47446/ 24 7.1 A lei dos três estados O estágio final da inteligência humana é o estágio positivo. Observe: 1. No primeiro estado, o teológico tudo se explica pela ação dos deuses, mitos, enfim, de forma não científica; 2. No segundo, já começa a curiosidade e a pergunta sobre os fatos; 3. E, por fim, o último estado é aquele em que a explicação acontece. Tem-se a verdade sobre os fatos, se tem a ciência e seu método. Nesse sentido a humanidade atravessa várias etapas até atingir a etapa final. E o que o positivismo faz é descobrir as leis que agem por traz dos fatos e estas podem ser apreendidas da mesma forma que se apreende o conhecimento de um evento natural. A queda de um corpo, por exemplo, pode ser explicada espontaneamente de forma positiva. Mas a filosofia da observação, da experimentação, da análise e do determinismo, não podia se fundamentar na explicação autenticamente cientifica desses poucos fenômenos. No referido curso de Comte, ele afirma que, em seu conjunto a história é, na essência, o dever da inteligência humana. Assim, o progresso necessário do espírito é o aspecto essencial da história da humanidade. Ou seja, o progresso é uma realidade. Na dinâmica da sociedade quando se passa de uma etapa para outra ocorre uma força que move a contradição entre os diferentes elementos da sociedade. As grandes fases históricas da humanidade são dadas pela forma de pensar; a etapa final é a do positivismo universal, e a impulsão última do dever e nesse sentido o positivismo faz a crítica às sínteses provisórias do da teologia e da metafísica. A história humana é compreendida numa dimensão única. E isto se dá o nome de visão evolucionista. Ou seja, a evolução vai ocorrer fatalmente e todas as sociedades passam pelos mesmos caminhos até o progresso. Auguste Comte justifica essa diversidade enumerando três fatores de variação: a raça, o clima e a ação política. Ele interpretou a diversidade das raças atribuindo a cada uma a predominância de certas disposições. Assim, segundo ele, a raça negra deveria caracterizar-se, sobretudo, pela propensão à afetividade. As 25 diferentes partes da humanidade não evoluíram do mesmo modo porque, no ponto de partida, não tinham os mesmo dons. Mas é evidente que essa diversidade se desenvolve tendo como pano de fundo uma natureza comum. 8 A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE Fonte: slideplayer.com.br A evolução da sociedade em sua diversidade é explicada em relação ao clima da seguinte forma: o conjunto das condições naturais em que se encontra cada parte da humanidade. Cada sociedade conheceu circunstâncias geográficas mais ou menos favoráveis, o que permite explicar, até certo ponto, a diversidade da sua evolução. Estática e dinâmica são as duas categorias centrais da sociologia de Auguste Comte. Uma sociedade se assemelha a um organismo vivo. E aqui, querido aluno e querida aluna você deve parar um pouco e reter o seguinte: Para este autor a sociedade deve ser vista como um organismo e é por isso que ele é também conhecido como sociólogo organicista. Ou seja, a sociedade http://slideplayer.com.br/slide/1251700/ 26 composta por elementos interdependentes formando uma totalidade. Assim como é impossível estudar o funcionamento de um órgão sem situá- lo no conjunto do ser vivo, é impossível estudar a política e o Estado sem situá- los no conjunto da sociedade. Mais tarde Emile Durkheim irá retomar estes conceitos de Comte, e sob a forte influência desta Durkheim será reconhecido também como sociólogo das instituições. Isto quer dizer que as instituições cumprindo cada um sua função contribui para a harmonia social. Compreendendo melhor este ponto acima citado, a sociedade para os autores positivistas tende à harmonia social, ao equilíbrio. Como ocorre então a mudança social? De acordo com Aron (2008), para Comte, 8.1 Ciência e senso comum Neste ponto das aulas é esperado que você já compreenda que para Comte, havia uma grande diferenciação entre o conhecimento científico e o conhecimento do senso comum. Segundo ele, o conhecimento científico representava um estágio mais elevado do desenvolvimento da sociedade. Assim para ele a evolução da ciência, ou seja, do conhecimento, é uma sucessão de estágios, é assim a mente humana se desenvolve se libertando do senso comum. Este é o denominado Sistema de Filosofia Positiva. O estágio positivo da sociedade seria o mais evoluído o pensamento científico e está baseado na observação e na experiência. 27 Iniciando informando que Comte para o desenvolvimento de suas ideias recebe influências de filósofos. Vamos a eles: Condercet (1666-1790), que defendia a ideia de que toda e qualquer ciência da sociedade precisa se identificar com o que ele chamava de matemática social, isto é, precisa realizar um estudo preciso, rigoroso, numérico dos fenômenos sociais. Percebe a origem do pensamento de Comte?Veja: Segundo Condorcet, a ciência estava sendo controlada e submetida aos interesses de senhores feudais, à aristocracia e ao clero e carecia de objetividade. A intenção era libertar a ciência de subjetividades e interesses políticos e individuais. Portanto, de acordo com Condorcet, era necessário tirar o controle das ciências destas classes para que uma ciência natural pudesse se impor. Outra influência foi a de Saint-Simon (1760-1852), este o primeiro a usar o termo positivo na ciência. Então observe que Comte usou o nome sociologia pela primeira vez, mas não foi o primeiro a usar o termo positivo. Para SaintSimon, o raciocínio deveria se basear nos fatos observados e discutidos. “Uma vez que nosso conhecimento está uniformemente fundado em observações, a direção de nossos interesses espirituais deve ser entregue ao poder da ciência positiva” (COMTE In: MESQUIDA, 20001, p.27). Saint- Simon também defendeu a sociedade industrial, dizendo que o que é favorável à indústria também o será para o homem. Portanto, acreditava na visão de progresso trazido pela indústria e a sociedade capitalista. O século XIX recebe então, a formalização do pensamento positivista. É o século de surgimento da ciência positiva, a sociologia. Sintetizando assim e concluindo as características do positivismo podemos citar que: As sociedades, melhor, a sociedade, é considerada um fenômeno natural, podendo ser analisada através dos métodos das ciências naturais. A compreensão da realidade só é possível pela objetividade que é alcançada através do rigor empírico e da coerência teórica. Trata-se de um avanço na capacidade de pensar, da razão. A ação da ciência, ou seja, o conhecimento, é evolutivo e caminha para o progresso. 28 Desta forma se descobre as leis gerais e diante disso o ser humano pode prever ações futuras. 9 A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO Fonte: slideplayer.com.br O pensamento positivista teve grande influência na formação científica de muitos autores que buscavam analisar as transformações da sociedade e a emergência do capitalismo nos séculos XIX e XX. Como já foi citado, Durkheim é um desses autores que foi profundamente influenciado por todo o ambiente intelectual e social de sua época. Embora tenha sido influenciado pelas ideias de Comte, Durkheim, diferentemente de Comte, aprofundou seus estudos na análise da sociedade a partir dos fatos sociais. Procurou explicar o funcionamento da sociedade emergente no século XIX, com base no estudo dos fenômenos sociais vistos de maneira isolada do seu contexto históricocultural. Durkheim foi um dos primeiros a teorizar sobre a sociologia da educação. A ideia central de Durkheim, ao propor a sociologia no campo da educação, era http://slideplayer.com.br/slide/1249087/ 29 preparar as novas gerações para uma nova civilização. A educação, para ele, significava o mesmo que socialização e tinha por objetivo formar o ser social. A sua teoria, embora atualmente bastante contestada pelas teorias críticas da sociedade, serviu de base para o Funcionalismo, corrente de pensamento bastante desenvolvida e valorizada no Século XX. Veja abaixo a influência de Augusto Comte: A teoria Funcionalista de Durkheim Esta é a concepção de funcionalismo de Durkheim. A diversificação de funções vai gerar a solidariedade entre os seres humanos, e a especialidade atribuída a cada um ele vai dar o nome de Divisão social do trabalho social. E aqui podemos conhecer dois conceitos essências em Durkheim: Solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. 10 ENTENDENDO O CONCEITO A solidariedade orgânica é, portanto, uma das características da sociedade capitalista, industriais e a divisão do trabalho é que promove a coletividade, este elo perdido com a fragmentação e o individualismo. Coletividade existente nas sociedades primitivas. Nestas aulas você está conhecendo a base conceitual de cada um dos chamados clássicos da sociologia. Posteriormente você terá estes conhecimentos aplicados à análise das questões da educação, ou seja, como a sociologia pode contribuir para a compreensão dos problemas educacionais. Pois bem, sigamos um pouco mais com Durkheim: Émile Durkheim, nasceu em Epinal, na Alsácia, descendente de uma família de rabinos. Iniciou seus estudos filosóficos na Escola Normal de Paris, indo depois para a Alemanha. Lecionou Sociologia em Bourdieu primeira cátedra desta ciência na França. Durkheim é conhecido como um dos primeiros teóricos da Sociologia, conferindo a esta o estatuto de ciência. Portanto, um clássico, o que quer dizer que o seu trabalho é sempre uma referência no estudo da sociedade. Foi também o primeiro filósofo a sugerir a Sociologia como uma disciplina autônoma, caracterizada pelo método científico. Com base nos ideais positivistas, que tem como princípio 30 fundamental a realidade objetiva dos fatos, dando pouca importância aos fatores históricos e ao papel do indivíduo e dasubjetividade desses na organização social, Durkheim desenvolveu seus estudos tendo como objeto de pesquisa a investigação dos fatos sociais. Mas o que são os fatos sociais? Fique Atento: 1. O que significa que são coercitivos. Independentemente de sua vontade o fato irá exercer uma força sobre o indivíduo. 2. São exteriores porque dizem respeito à cultura, ou seja, como o indivíduo nasce o fato está lá. 3. Gerais porque não diz respeito a um indivíduo apenas mas a uma comunidade. Os estudos de Durkheim tinham como foco principal descobrir as leis de funcionamento da sociedade. E isto você já viu também em Comte, não é mesmo? Nesse sentido, é considerado um dos sistematizadores do funcionalismo, uma corrente de pensamento muito presente até os dias de hoje não apenas nas diferentes ciências sociais, mas também nas teorias educacionais e organizacionais. Você entendeu o que é o funcionalismo? 10.1 Como Durkheim concebe a sociedade Você já deve ter entendido, mas não é demais rever que a sociedade, para Durkheim, é um organismo exterior e superior aos indivíduos e constituída por um conjunto de normas, leis e regras que são responsáveis pela formação moral e social dos indivíduos. Ou seja, ela mesma um fato social, por excelência, da sociologia. Regida por normas, leis e regras que irão determinar a maneira de ser e de agir dos indivíduos, bem como, a formação das instituições sociais. Em seu livro: A Divisão do Trabalho Social, Durkheim descreve o processo de transformação da sociedade primitiva para a sociedade moderna através da divisão social do trabalho, na qual estabelece a passagem de um tipo de organização social com base na solidariedade mecânica (pré-capitalista) para a solidariedade orgânica (capitalista). Por que esta obra é importante? Uma de suas preocupações, nessa obra, é perceber como se dá a relação entre indivíduo e a sociedade. Isso porque, para o 31 autor, o objetivo máximo da vida social é promover a harmonia da sociedade que é conseguida por meio do consenso social. Está fazendo os links possíveis para entender o pensamento de Durkheim? Viu que ele fala da harmonia social que ocorre por meios do consenso entre os indivíduos e é garantido por meio das regras e leis que controlam as ações. Quando você viu os conceitos de solidariedade mecânica e orgânica entendeu que se trata de um processo de mudança: de sociedade simples para mais complexas. Você pode perceber como a questão do consenso é tratada pelo autor, a partir da análise da mudança nas formas de organização social das sociedades "primitivas" para as sociedades modernas. 11 SOCIEDADE MECÂNICA E ORGÂNICA Vamos revisar um pouco: Na solidariedade mecânica a consciência coletiva forte, existe a ideia de coletividade, típica de sociedades primitivas, pré-capitalistas. Pense, por exemplo, numa comunidade indígena. Os integrantes destascomunidades, identificados por laços familiares, tradição, religião, costumes seguiam as regras sociais cegamente, de forma mecânica, ou seja, não existe obrigatoriedade nem burocracia, não tem documento e, no entanto, podiam se manter autônomos e independentes em relação aos outros grupos. A divisão social do trabalho não precisava ir além da sua propriedade e existia para assegurar a subsistência familiar. O consenso se manifesta na semelhança entre os indivíduos. Contudo, na Solidariedade orgânica o que se percebe é a diminuição da consciência coletiva, e o aumento da fragmentação e do distanciamento típicos das sociedades capitalistas. A divisão social do trabalho é obtida por outros meios, espalhada pelos setores econômicos da sociedade, como fábricas, agricultura, comércio, indústrias. E por que o laço não se rompe? De acordo com Durkheim, a solidariedade é assegurada pela interdependência dos indivíduos, mantendo, assim, os laços sociais. O indivíduo escolhe seguir as regras, pois percebe que as mesmas são boas para ele. O consenso se manifesta na diferenciação dos indivíduos. 32 Entendeu a noção de consenso, ou seja, há um acordo entre nós de que seguir as regras e as leis é um bem para o todo, para o coletivo. Você poderia perguntar: mas e quanto há um romper com as regras? Um não respeito às leis? Para Durkheim, a existência de valores e laços morais entre as pessoas era fundamental para a manutenção da harmonia social e da consciência coletiva. Quando uma sociedade não consegue manter esse estado de harmonia, significa que a sociedade está ‘doente’. E para isso Durkheim tem o termo: anomia. Anomia é exatamente quando o consenso se rompe e não há mais possibilidade de manter a ordem e o respeito às instituições. Anomia, neste caso, seria o contrário de harmonia. Pois bem, Augusto Comte e Durkheim são autores expressivos do positivismo e antes de dar início a mais duas vertentes clássicas da sociologia é importante que você compreenda a relação entre o positivismo e a educação. Vamos lá? 12 POSITIVISMO E EDUCAÇÃO A corrente positivista influenciou consideravelmente a sociedade nos séculos XIX e XX. Aqui você poderá se lembrar da disciplina história da educação e o próprio surgimento da escola formal. Fonte: multigolb.wordpress.com 33 O positivismo esteve presente de forma marcante no ideário das escolas e na luta a favor do ensino leigo das ciências e contra a escola tradicional humanista religiosa. O currículo multidisciplinar – fragmentado – é fruto da influência positivista. Certamente você se lembrará. No Brasil esta influência aparece no início da República e na década de 70, com a escola tecnicista. Muitos historiadores ressaltam o pensamento positivista no movimento pela proclamação da república e da elaboração da constituição de 1891. O movimento republicano apoiou-se em ideias positivistas para formular sua ideologia da ordem e do progresso, graças particularmente à atuação de Benjamim Constant (1836-1891). 13 O POSITIVISMO E A ESCOLA fonte: pht.slideshare.net Pode-se inclusive entender que ainda hoje a ênfase nos conteúdos sequenciais, a valorização do pensamento cognitivo, o distanciamento das características emocionais e estéticas do aluno e do processo de aprendizagem tem http://pt.slideshare.net/Paulinha2011/sobre-positivismo-auguste-comte-8468594 34 um viés positivista. A ideia de que o aluno se desenvolve de forma linear à medida que vai se apropriando do raciocínio lógico. Assim apenas o que é observável interessa ao positivismo. O real, inquestionável, aquilo que se fundamenta na experiência. Deste modo, a escola deve privilegiar a busca do que é prático, útil, objetivo, direto e claro. Os positivistas se empenharam em combater a escola humanista, religiosa, para favorecer a ascensão das ciências exatas. Compreenda que o positivismo influenciou a prática pedagógica na área das ciências exatas, influenciando a prática pedagógica na área de ensino de ciências sustentadas pela aplicação do método científico: seleção, hierarquização, observação, controle, eficácia e previsão. Observe. Não é difícil de entender: Fonte: slideplayer.com.br Reflita: Hoje é comum a prática da avaliação baseada nestes princípios. A própria escola em sua prática seleciona, hierarquiza, observa, controla, busca a eficiência e busca a previsão. É neste sentido que no Módulo II você irá conhecer autores críticos do positivismo que apresenta uma perspectiva mais voltada para a sociologia marxista, que se verá nas próximas aulas. Espera-se que você tenha entendido que esta postura dá uma ênfase nas ciências exatas em detrimento das humanas, e a sociologia estaria no ápice da http://slideplayer.com.br/slide/4136919/ 35 classificação de Comte, que seria: Por meio da fundamentação e classificação das Ciências (Matemática, Astronomia, Física, Fisiologia e Sociologia). 13.1 A Influência do Positivismo no Brasil Foi em meados do século XIX que o positivismo de Comte chega ao Brasil. E foi entre os oficiais do exército que estas ideias ganharam força. O currículo voltado para as ciências exatas e para a engenharia denota um distanciamento da tradição humanista e acadêmica, havendo certa aceitação das formas de disciplina típicas do positivismo. Você irá se lembrar da influência do humanismo do século XVI na origem do capitalismo. Contudo, as palavras “ordem e progresso” que fazem parte da bandeira brasileira indicam claramente a influência positivista. No ano de 1870, a escola tecnicista teve uma presença marcante. A valorização da ciência como forma de conhecimento objetivo, passível de verificação rigorosa por meio da observação e da experimentação, foi importante para a fundamentação da escola tecnicista no Brasil. Para esta escola o elemento primordial é a tecnologia. De acordo com Saviani (1993), na escola tecnicista, professores e alunos ocupam papel secundário dando lugar à organização racional dos meios. Professores e alunos relegados à condição de executores de um processo cuja concepção, planejamento, coordenação e controle, ficam a cargo de especialista supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais. Esta objetividade do positivismo vai gerar a noção de que a ciência e a educação devem ser neutras, ou seja, livre de qualquer pré-noção ou posicionamento político. Portanto, pode-se perceber pelas palavras de Saviani que neutralidade e objetividade são típicas do positivismo. Concluindo pode-se dizer que a necessidade de estabelecer uma relação de aproximação entre a ciência e a técnica em nome do progresso foi um grande marco nos primórdios do pensamento social e das políticas de educação que se concretizou de maneira significativa por gerações. De forma racional e não critica. Se você estiver atento/a a discussão hoje no Brasil, inclusive com manifestações de intelectuais e professores, vai observar que tramita uma discussão no congresso nacional que desautoriza o professor ensinar de forma reflexiva e crítica. 36 Se você entendeu até aqui o contexto do surgimento da sociologia e as ideias e os ideais positivistas vá até o fórum da graduação e chame seus colegas para uma roda de conversa virtual, isto irá ajudar você a reconhecer os conteúdos de uma forma mais prática. Não tenha a noção de que está recebendo um conhecimento, mas reflita que o conhecimento é uma produção humana e é nesta dimensão que ele pode ser questionado. 14 MARX WEBER: O SOCIÓLOGO DA BUROCRACIA E DA RACIONALIDADE Max Weber é considerado um dos grandes intelectuais do Século XIX e a sua influência atravessa o Século XX. Na verdade, ele figura na transição do século XIX para o século XX. A sociedade da época de Weber gestava um conhecimento que foi sistematizado de forma brilhante por este autor. Especialista em história,direitos e economia. Não falava de si como sociólogo e isso faz dele um autor diferente tanto de Comte quanto de Marx, isso porque ele não acreditava na força da sociedade sobre o indivíduo. A sociedade por si só não determina as ações humanas, o caminho dele foi outro. Contudo, como Durkheim ele era professor de sociologia, contribuindo para o avanço desta disciplina. Fonte:pt.slideshare.net http://pt.slideshare.net/IvoneBezerra3/max-weber-48235792 37 Entre Weber e Durkheim há uma diferença, quase oposta. Durkheim é o pensador social que está imbuído, no seu universo de estudo, da presença de um Estado nacional e de uma sociedade constituída. Weber vivia numa nação problemática, desafiadora. O grande desafio era pensar a inserção da Alemanha na Europa. Na virada do século já unificada, a Alemanha tinha atravessado um processo rápido de modernização e industrialização com marcar profundas no nível estrutural. As turbulências políticas e econômicas da industrialização da Alemanha era a preocupação de Weber. Observa alguns fatores que contribuíram para o pensamento social de Max Weber: Leia buscando reconhecer a diferença entre Weber e Durkheim. Fonte: slideplayer.com.br Se você leu atentamente o quadro acima encontrou diferença entre o autor francês e Max Weber. Durkheim visava a totalidade, o fato social, enquanto Weber vai se debruçar sobre as motivações humanas para o agir. É neste sentido que ele se aproxima de uma perspectiva cultural. Na época a Alemanha organizou o maior movimento operário do mundo, o partido social democrata. Para weber a constante é a forma de organização da http://slideplayer.com.br/slide/4136919/ 38 sociedade e a consolidação política. Está preocupado com o tema da política: quais são as dificuldades para o surgimento de sujeito histórico, grupos capazes de organizar um projeto de sociedade, assim como o era também de Marx. Este você conhecerá posteriormente. Vale adiantar que enquanto Marx considerava as classes sociais, a luta entre as classes, Weber visualizava que grupo será este. E a primeira resposta de Weber é a constatação de que não existe na Alemanha nenhum grupo que saberá dar um rumo à nação como Estado com projeção internacional. O que propõe então Max Weber? A reflexão de Weber não mostra preocupação com grandes estruturas já montadas. A preocupação deste sociólogo está na ação social. Ou seja, quem age e como age, o que move a ação dos sujeitos e para onde estas ações conduzem na prática e como as ações promovem as mudanças no social. Weber é o autor da burocracia e da razão instrumental. Na sociedade capitalista a organização ocorre de maneira rotineira e repetitiva, mas administração não é a questão política, esta é de outra ordem. Portanto, o pensamento de Weber está entre o corpo administrativo que faz funcionar a sociedade e a questão política que escapa à administração. 15 AÇÃO SOCIAL Formular projetos e objetivos para a sociedade. Weber aposta na capacidade política e neste sentido o seu pensamento é fundamentalmente político. A eficiência e a direção, a orientação da conduta. Quem age? Estas são as questões teóricas de Weber. Diante disso ele formula uma teoria da ação. Assim o conceito de ação social é a unidade básica da sociologia weberiana. Vejamos o conceito 39 Fonte: slideplayer.com.br Teoria da ação Ação social, a atividade orientada para um objetivo que dá sentido a ação. As múltiplas linhas de ação são complexas e tecem o social. Cada ação busca uma meta, ou metas que se cruzam, as ações se cruzam e podem ser ou não significativas uma para outras. Este autor, por exemplo, explicou como a ação do protestante levou (indícios da salvação, está ou não salvo, o protestante se orienta pelo trabalho para a obra no mundo capaz de mostrar resultados), ao surgimento do espírito do capitalismo. O modo de comportamento na área religiosa influenciou a área econômica. Está confuso isso? Continue lendo... Para Weber não existe uma ação que determina a sociedade. O sentido a ação religiosa concedeu importância à ação econômica. Não é uma relação direta, mas a questão é o sentido que é dado pela ação. O que isso quer dizer? Você já ouviu falar no livro clássico de Weber: A ética protestante e o espírito do capitalismo? Ele faz uma interessante análise de como o comportamento de um destes influencia o outro. Veja no esquema abaixo: http://slideplayer.com.br/slide/353415/ 40 Fonte: slideplayer.com.br A ética protestante é diferente da ética católica. Por isso, na visão weberiana, o capitalismo no Brasil é chamado por alguns sociólogos de Capitalismo tardio. A ideia de rede, de ações sociais, e a busca de significados que as ações têm para o agente, é isso que vai construindo a teia social. Observe novamente o esquema acima e certifique-se de que entendeu. Se ainda não compreendeu chamo seus colegas lá no fórum e levanta esta discussão. Max Weber é o único dos três clássicos (Durkheim e Marx), que considera a ação individual é um elemento de análise importante, e que responde a questão fundamental para Weber: o que pode responder pela continuidade da sociedade. A ação individual não é vista sozinha, isto seria caótico. Como você analisou, ela aparece numa teia de relações que se cruzam. Weber traz uma nova reflexão sobre ciência e a sociedade. Vimos que para Durkheim e Comte a sociedade deve ser estudada de forma objetiva. Weber admite que a neutralidade/objetividade total é impossível tendo em vista que o próprio pesquisador está inserido na sociedade. No entanto, a ciência não pode se submeter a interesses particulares e político. Existe fronteira entre a ciência e a política, rigorosa. http://slideplayer.com.br/slide/391006/ 41 O papel do sociólogo é compreender a sociedade e suas múltiplas possibilidades de entendimentos. Para Weber não existe uma causa para um fenômeno social, existe uma pluricausalidades e estas dadas pela ação social. As ideias condicionam o momento histórico, e são essenciais para entender o pensamento de Weber. Vamos fazer uma síntese do que foi visto até aqui. Lembrando que a intenção aqui é que você entenda a base do pensamento dos clássicos, tendo em vista que o pedagogo está habilitado para dar aulas de sociologia no ensino médio e estas noções precisão ser bem compreendidas. Sigamos: PARA ENTENDER UMA SÍNTESE a) O conceito de ação social para Max Weber O conceito de “ação social” foi concebido por Weber como qualquer ação realizada por um sujeito em um meio social que possua um sentido determinado por seu autor. O processo de comunicação estaria, portanto, intimamente ligado ao conceito de ação social. A manifestação do sujeito que deseja uma resposta é feita em função dessa resposta. Em outras palavras, uma ação social constitui-se como ação que parte da intenção de seu autor em relação à resposta que deseja de seu interlocutor. b) Weber estipulou quatro tipos ideais de ações sociais: 1. A ação racional com relação a fins, 2. A ação racional com relação a valores, 3. A ação afetiva e, 4. A ação tradicional. Percebe-se, portanto, que Weber afastou-se dos determinismos sócio históricos de Karl Marx (A história da produção econômica determina a realidade social), e do fatalismo da noção de um sistema externo e independente do indivíduo que Emile Durkheim propôs, elaborando, assim, a noção de um ser humano livre para agir, pensar e construir sua realidade. 42 Para Weber, as estruturas sociais estavam em contato direto com o poder de ação dos indivíduos, o que significa que os sujeitos, seus valores e ideias possuem força de ação direta sobre essas estruturas. A tarefa da Sociologia seria então, segundo o teórico, apreender os significados que norteiam essas ações. Interessante, não acha?Esta perspectiva é muito utilizada nas pesquisas atualmente tanto no campo social, como econômico e político. O que move a ação individual? Weber demonstrou esse princípio em seus estudos comparativos sobre as distinções entre religiões Ocidentais e Orientais. Em seu livro, “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, conforme já foi mencionado acima, o autor buscou esclarecer como a lógica cristã foi responsável pelo desenvolvimento do sistema de produção capitalista. Nisso estaria inserido o contexto cultural e valorativo das sociedades cristãs, e não apenas seu modelo ou situação econômica. 15.1 Outro conceito importante de Weber: Os tipos ideais Outro ponto importante da teoria weberiana é a busca pela construção dos tipos ideais no processo de construção do conhecimento teórico. O estabelecimento de tipos ideais não busca construir tipologias fixas nem mesmo busca classificar de maneira inflexível o objeto em questão. Eles servem como parâmetro de observação, um “boneco” com características delineadas que serve apenas como ponto de comparação entre o observado e sua obra teórica. Trata-se de modelos conceituais que nem sempre, ou quase nunca, existem. Apenas alguns aspectos ou atributos são observáveis. 43 Fonte: slideplayer.com.br Esta construção do tipo ideal faz parte da metodologia de Weber. Observa que neste modelo está inserido também o sentido da ação de cada pessoa. 16 RACIONALIZAÇÃO DO MUNDO SOCIAL Max Weber faz referência a um fenômeno de grande importância do mundo moderno e que está relacionado com as mudanças estruturais, culturais e sociais que as sociedades modernas passaram no decorrer do tempo: “a racionalização do mundo social”. Um dos conceitos essenciais de Weber é o de racionalização. E isso você já sabe. Esse fenômeno refere-se a mudanças profundas, como a gradual construção do capitalismo e a monstruosa explosão do crescimento dos meios urbanos, que se tornaram as bases da reordenação das organizações tradicionais http://slideplayer.com.br/slide/387060/ http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/capitalismo.htm 44 que predominavam até então. Pode-se dizer que o processo de consolidação do capitalismo é sim um processo de racionalização da vida e da sociedade. Ampliando nossa explicação, devemos dizer que a preocupação de Weber estava em tentar apreender os processos pelos quais o pensamento racional, ou a racionalidade, impactou as instituições modernas, como o Estado, os governos e, ainda, o âmbito cultural, social e individual do sujeito moderno. Em sua denominação das diversas formas de racionalidade, Weber fez distinção de quatro principais formas: a racionalidade formal, a racionalidade substantiva, a racionalidade meio finalística e a racionalidade quanto aos valores. A obra de Max Weber é incrivelmente diversa e amplamente utilizada em esforços de compreensão dos fenômenos sociais contemporâneos. Como já foi dito, a sociologia weberiana influenciou e ainda influencia grandes teóricos, que enxergam na visão de Weber uma ferramenta para desvendar os mistérios das relações humanas. 16.1 Karl Marx: A Sociologia da luta de classes Talvez o mais popular entre os clássicos sejam o alemão Karl Marx e isto se deve ao fato de terem as suas ideias não só influenciados gerações mas, sobretudo, fundou as bases para as lutas dos movimentos sociais, especialmente o movimento operário, além de fundamentar as grandes revoluções socialistas do século XX, como a revolução soviética e cubana. 45 Fonte: www.portalconscienciapolitica.com.br No quadro acima é importante que você reconheça a diferença entre o sistema capitalista e o socialista. Assim, você poderá entender as propostas de Marx e também todos os movimentos sociais, partido políticos, enfim, todo o movimento que surgir em torno desta teoria marxista. Na investigação da relação de Marx com a sociologia, não há como subestimar a importância do movimento crítico. E esta palavra é chave para você compreender a influência de Marx, sobretudo na educação. Ele é, digamos o pai do pensamento crítico. Percebeu? Este é de fato o autor que inaugurou o pensamento crítico e o que você verá nesta disciplina é que grandes sociólogos da educação pautaram suas reflexões neste pensamento. http://www.portalconscienciapolitica.com.br/economia-politica/socialismo/ 46 17 CRÍTICA DE MARX AO CAPITALISMO Marx é sem dúvida o que influenciou uma geração de estudiosos da educação, especialmente a maior referência em educação no Brasil, o filósofo Paulo Freire. As reflexões que se seguem foram extraídas do artigo do professor Ricardo Musse, do Departamento de Sociologia da USP. Ao longo de toda sua obra, o exame das diversas teorias sociais prevalecentes desemboca, com base no exercício de uma crítica ao mesmo tempo imanente e transcendente, na delimitação de um território próprio denominado pela posteridade de “materialismo histórico”, “sociologia marxista” ou mesmo “sociologia ou teoria crítica”. Durante o inverno de 1845-1846, refugiados em Bruxelas, Marx e Engels redigiram A Ideologia Alemã. O texto, no entanto, por uma série de motivos, não foi editado e permaneceu assim durante o período em que eles viveram. Numa breve apresentação de sua trajetória intelectual, no Prefácio ao livro Para a Crítica da Economia Política (1859), Marx comenta o manuscrito, destacando que: As ideias apresentadas no artigo, e que se tornaram uma espécie de resumo oficial da teoria marxista da história, retomam quase que literalmente o texto do manuscrito de 1845-1846. Marx é alemão, crítica que ele fez à racionalidade filosófica o fez declarar: 47 17.1 Continua a crítica de Marx ao capitalismo A Ideologia Alemã tornou-se desde então um texto essencial do corpus marxista. Nela delineia-se pela primeira vez de forma nítida o que pode ser considerado o programa do materialismo histórico, gestado por meio de uma crítica incisiva dirigida simultaneamente à filosofia, à teoria política, à historiografia, à economia política, à teoria social etc. Você deve considerar então, que Marx é o sociólogo da crítica ao capitalismo. Para ele a política, economia, cultura, enfim, são na verdade a superestrutura criada para sustentar o capitalismo, a classe burguesa. Até o Estado para ele, é o braço direito da burguesia. 17.2 A atividade humana: A prática A auto compreensão à qual Marx se refere surgiu, em grande medida, de um acerto de contas com filósofo chamado Ludwig Feuerbach, o mais destacado dos filósofos pós-hegelianos. Nos 11 parágrafos das famosas “Teses sobre Feuerbach”, escritas provavelmente em maio ou junho de 1845. Portanto, alguns meses antes do início da redação de A Ideologia Alemã –, Marx, que havia muito já não era idealista, ao contestar o caráter passivo, abstrato e não histórico do materialismo (incluindo o de Feuerbach), destaca que a sensibilidade, a história e a vida social resultam da atividade prática humana. Não se preocupe com os conceitos filosóficos até aqui, o mais importante é que você retenha que Marx criticava uma postura que considera o pensamento o início da reflexão social. Para ele o pensamento nasce na prática, ou seja: Não somos o que pensamos, mas pensamos do jeito que somos, que produzimos e nos inserimos enquanto uma classe social. 48 Um ponto decisivo da divergência de Marx ante Feuerbach consiste na determinação do conceito de “alienação”. Esta palavra se tornou popular hoje em dia, embora o seu sentido muitas vezes tenha se perdido. 17.3 Atenção no Conceito Importante de Marx Viu? O homem no sistema capitalista se distanciou dos seus meios de produção e ficou alienado do seu próprio trabalho. Aliás, não existe mais trabalho próprio, porque agora se trabalha para um patrão.Marx afirma: “a auto alienação religiosa, o desdobramento do mundo em um mundo religioso e um mundo mundano (…) só pode se explicar pela auto dilaceração e pela autocontradição desse fundamento mundano”. Desse modo, a questão da alienação, e assim da própria situação do homem, é deslocada de “um reino autônomo nas nuvens” ou da compreensão do indivíduo singular para a vida efetiva, que se desenrola como um nexo de relações sociais. É dele a frase: a religião é o ópio do povo. Ópio no sentido de uma droga que entorpece o ser e o impede de enxergar a sua verdadeira posição. 17.4 O que importava para Marx então? Era a tarefa de delinear uma nova concepção, materialista, da história e da sociedade. Teoria essa que, não custa repetir, nasceu da convivência com e da crítica à filosofia pós-hegeliana (pode entender aqui pós-idealista), mas que, de certo modo, pode ser estendida a grande parte da tradição cultural e intelectual burguesa. Não mais no mundo das ideias, mas no mundo das condições concretas, materiais, no mundo do trabalho e de suas relações que onde ocorre o processo de produção e reprodução humana. 49 A estratégia de Marx e Engels para submeter à crítica os jovens hegelianos, evitando o risco de recair no jogo especular de uma crítica da “filosofia crítica”, passa pela remodelação do conceito de “ideologia” – concebido como um descompasso entre o que os indivíduos, grupos e sociedades imaginam ser e o que efetivamente são. 1. A teoria social alemã, tal como configurada no idealismo alemão e no movimento dos jovens hegelianos; 2. A teoria social inglesa, consubstanciada na economia política; 3. E as vertentes da sociologia francesa iniciadas por Saint-Simon, com seus desdobramentos no socialismo utópico de Fourier e Proudhon. 17.5 Ideologia para Marx significa de acordo com o sociólogo Michael Lowy: O levantamento das principais determinações da sociedade capitalista tornou- se imprescindível durante a redação do Manifesto do Partido Comunista (1848). Para compreender o momento histórico, Marx expõe a história da gênese e do desenvolvimento do mercado mundial, assim como dos conflitos sociais e das oposições de classe que moldam esse cenário, delineando os principais pontos da sociologia marxista, numa exposição concisa das coordenadas econômicas, sociais, políticas e culturais do mundo moderno. Esteja certo de que: O manifesto comunista de Marx Se tiver curiosidade de conhecer mais um pouco sobre o que Marx escreveu no manifesto Comunista, busque, leia resenhas, ou melhor, leia o texto na íntegra. 50 Não é um texto difícil, talvez seja um dos mais fáceis de apreender o sentido. Veja o que diz o texto abaixo: O Manifesto Comunista e a teoria de Marx O Manifesto pode ser lido então como uma demonstração da contradição entre o movimento do desenvolvimento das forças produtivas e a estática inerente às relações de produção, que reproduzem a cada momento as formas desiguais de apropriação da riqueza e de dominação social. Ou seja, em outras palavras, a relação ente capital e trabalho. Marx apresenta o Manifesto como uma auto exposição do comunismo. Conjugado a essa tentativa de exposição teórica das premissas de um movimento político que mal entrara em cena e já invocava para si o papel de protagonista, Marx compôs um diagnóstico da modernidade que esquematiza, em linhas gerais, tópicos que só serão desenvolvidos detalhadamente em obras posteriores, particularmente no conjunto de textos projetados pelo próprio Marx como uma “crítica da economia política” e cuja formulação mais acabada consiste em O Capital. Este livro influenciou os partidos de esquerda que se espalharam pela Europa e em todo o mundo, sobretudo no pós guerra. Na América Latina, inclusive, no Brasil, influenciou as lutas pelo fim de ditadura militar e a criação dos partidos. 18 A LUTA DE CLASSES Diante de tudo o que você leu até agora já deve estar compreendendo o que é a luta de classes e que classes são estas. A burguesia e o proletariado, ou seja, o dono dos meios de produção e o dono da força de trabalho. Marx tomou como pressuposto no Manifesto apenas um esquema mínimo, a tese de que “a história de todas as sociedades até o presente é a história das lutas de classes”. Observe que em toda a história esta foi a conclusão a que chegou Marx. Trata-se, portanto, de trazer para o centro do relato da história humana o conflito, a “luta ininterrupta, ora dissimulada, ora aberta”, entre oprimidos e opressores. 51 Em uma comunidade primitiva ou indígena não existe Estado, nem trabalho assalariado e, acima de tudo não existe propriedade privada, que é o núcleo da crítica de Marx ao capitalismo. Apesar do tom panfletário, inerente a seus objetivos práticos, políticos e pedagógicos (afinal foi lendo o Manifesto que as lideranças criaram os partidos), o Manifesto mantém a postura crítica em relação à filosofia da história de A Ideologia Alemã, como você viu acima. Em lugar de estabelecer uma teleologia para o desenvolvimento geral da espécie humana, Marx, fez uma analise em conjunto do destino da humanidade e do moderno, apenas aponta duas tendências, extraídas da observação do passado histórico, procurando evitar recair na ideia de uma necessidade inerente ao espírito ou em alguma forma de determinismo: “uma reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou uma derrocada comum das classes em luta”. 18.1 Propriedade privada dos meios de produção capitalista Chamo a sua atenção aqui para a palavra chave do conceito no quadro acima: PROPRIEDADE PRIVADA. Esta é a razão de todo o processo. No momento em que se instaura a propriedade privada está se instalando o conflito entre as classes. É por isso que a proposta socialista e, o comunismo, tem na sua base a eliminação da propriedade privada, os bens não seriam individuais e sim coletivos. Querido aluno, querida aluna, observe bem que Marx associa o desenvolvimento histórico-social da burguesia, em especial sua constituição como força política, a uma série de acontecimentos que marcaram a gênese e os desdobramentos do mundo moderno. Desse modo, essa classe é apresentada como o produto de um longo processo, de uma série de revoluções nos meios de produção, transportes e comunicação, por meio do qual ela se desenvolve, 52 economicamente, multiplicando seus capitais e, politicamente, empurrando para segundo plano as demais classes opressoras. Marx adverte assim que, ainda que as demais classes opressoras não sejam suprimidas, doravante quem dá as cartas nos rumos do desenvolvimento histórico e na luta política é a burguesia. No Manifesto, o mundo burguês é compreendido como uma unidade contraditória entre fatores dinâmicos e invariância estática. O paradoxo de uma sociedade que não pode existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de produção e, com eles, o conjunto das relações sociais é próprio do mundo moderno. Enquanto os antigos modos de produção assentavam-se, à maneira de uma tradição, na manutenção e conservação de relações fixas e cristalizadas, a sociedade burguesa se reproduz, mantendo-se idêntica somente ao preço de uma contínua transformação que, acarretando a obsolescência e uma incessante destruição de toda a estrutura de produção existente em determinado momento, subverte inclusive o cenário histórico e político. 19 A CRÍTICA AO CAPITALISMO NA ARTE Para descontrair um pouco leia a música que Cazuza compôs e perceba também a crítica à sociedade burguesa. Analise a letra a partir do que você estudou até agora. Cazuza: Burguesia A burguesia fede A burguesia quer ficar rica Enquanto houver burguesia Não vai haver poesia A burguesia não tem charme nem é discreta Com suas perucas de cabelos de boneca 53 A burguesia quer ser sócia do CountryA burguesia quer ir a New York fazer compras Pobre de mim que vim do seio da burguesia Sou rico mas não sou mesquinho Eu também cheiro mal Eu também cheiro mal A burguesia tá acabando com a Barra Afunda barcos cheios de crianças E dormem tranqüilos E dormem tranquilos Os guardanapos estão sempre limpos As empregadas, uniformizadas São caboclos querendo ser ingleses São caboclos querendo ser ingleses A burguesia fede A burguesia quer ficar rica Enquanto houver burguesia Não vai haver poesia A burguesia não repara na dor Da vendedora de chicletes A burguesia só olha pra si A burguesia só olha pra si A burguesia é a direita, é a guerra A burguesia fede A burguesia quer ficar rica Enquanto houver burguesia 54 Não vai haver poesia As pessoas vão ver que estão sendo roubadas Vai haver uma revolução Ao contrário da de 64 O Brasil é medroso Vamos pegar o dinheiro roubado da burguesia Vamos pra rua Vamos pra rua Vamos pra ruaVamos pra rua Pra rua, pra rua Vamos acabar com a burguesia Vamos dinamitar a burguesia Vamos pôr a burguesia na cadeia Numa fazenda de trabalhos forçados Eu sou burguês, mas eu sou artista Estou do lado do povo, do povo A burguesia fede - fede, fede, fede A burguesia quer ficar rica Enquanto houver burguesia Não vai haver poesia Porcos num chiqueiro São mais dignos que um burguês Mas também existe o bom burguês Que vive do seu trabalho honestamente Mas este quer construir um país E não abandoná-lo com uma pasta de dólares O bom burguês é como o operário É o médico que cobra menos pra quem não tem E se interessa por seu povo 55 Em seres humanos vivendo como bichos Tentando te enforcar na janela do carro No sinal, no sinal No sinal, no sinal A burguesia fede A burguesia quer ficar rica Enquanto houver burguesia Não vai haver poesia 20 A INFLUÊNCIA DA TEORIA MARXISTA Marx é de fato o mais popular dos sociólogos exatamente por influenciar gerações e continuar influenciando. Você mesmo já deve ter usado os seus conceitos como alienação, ideologia, revolução. Embora seja o mais conhecido, as teorias de Max Weber e Emile Durkheim são teoria ainda vivas, o que justifica a posição que ocupam como clássicos dos estudos da sociedade. São cientistas sociais referências não apenas nas ciências sociais, em vários campos das ciências humanas. Fonte: eumarxista.blogspot.com.br http://eumarxista.blogspot.com.br/2013/12/o-que-sao-as- 56 No manifesto comunista como você perceber, Marx mostra a dinâmica da, característica da modernidade, e apresenta sob a forma de um feixe de expansões que ocorrem simultaneamente, em direções e sobre domínios diferenciados. A descrição do papel “eminentemente revolucionário” desempenhado pela burguesia na história moderna pode ser concebida como uma história dos movimentos do agente histórico dessa expansão, o que explica, entre outras coisas, a forte carga irônica dessas passagens, muitas vezes interpretadas erroneamente como uma apologia da burguesia. Vamos lá: Está se falando que a Revolução Francesa é uma revolução burguesa e, de fato, foi uma grande transformação, na medida em que acabou com aquela sociedade dos senhores feudal, dos vassalos e suseranos e instaurou-se a sociedade capitalista, de trabalho assalariado. Marx descreve os movimentos segundo os quais o capitalismo extravasa o campo das relações puramente econômicas, espraiando-se para outras esferas da vida social. Esse processo caracteriza-se por uma inaudita mercantilização e reificação de todo o domínio social, atingindo inclusive o âmago da subjetividade. O que significa dizer que tudo no capitalismo se transforma em mercadoria. Até o próprio ser humano. Não vê o tráfico de pessoas ou de órgãos? 57 Contudo, ao mesmo tempo em que ressalta o domínio do mercado e da coisificação, reificação sobre o conjunto da vida social, Marx percebe outro movimento de expansão caracterizado pela colonização, ou melhor, pela penetração capitalista sobre áreas e regiões econômicas ainda não capitalistas – o que abrange desde áreas do mundo rural, situadas próximo do centro do capitalismo, até os territórios pré-capitalistas, situados nos confins do planeta. O que ele vai denominar de acumulação primitiva do capital. Fonte: slideplayer.com.br A queda do muro de Berlin significou uma queda do socialismo e a expansão do capitalismo em que a globalização é a maior referência, ou seja, o capitalismo se expandido para todos os cantos da sociedade ocidental. 21 MARX E A EXPANSÃO DO CAPITALISMO Essa expansão, hoje denominada globalização, vincula-se de forma mais estreita, no Manifesto, com a fase do mercado mundial. Por “mercado mundial”, Marx designa tanto uma forma de concentração industrial como o domínio exclusivo do poder pela burguesia. http://slideplayer.com.br/slide/1640741/ 58 Essas duas “expansões” são assinaladas, ao mesmo tempo, como expedientes a que a burguesia recorre para tentar superar as crises do capitalismo. Marx indaga: “Por quais meios a burguesia supera as crises? Por um lado, pelo extermínio forçado de grande parte das forças produtivas; por outro lado, pela conquista de novos mercados e da exploração mais metódica dos antigos mercados”. A frase “exploração metódica dos antigos mercados”, outra vertente da expansão capitalista, fala da reformulação dos meios e das formas de produção, o que abrange desde a tecnologia empregada na produção até as formas de manejo da mão de obra no interior do processo produtivo. Esse processo, no entanto, não pode ser levado adiante sem a derrubada de obstáculos (jurídicos, culturais etc.) e sem uma intensificação da padronização específica da economia capitalista sobre as demais esferas do mundo social. 21.1 O que dizer do proletariado na teoria Marxista? Todo aquele ou aquela que vende a sua força de trabalho, que não é dono/a dos meios de produção. A exposição do proletariado, no decorrer do manifesto, embora possa ser remetida ao quadro histórico-econômico próprio do mundo moderno, não privilegia as mediações econômicas, mas antes a história de sua formação política. De modo geral, Marx salienta que, na mesma medida em que a burguesia, ou melhor, o capital se desdobra, também o proletariado se desenvolve. A proposta de Marx é a tomada do poder político pelo proletariado. 59 Fonte: pt.slideshare.net No livro O Manifesto Comunista, Marx determina, de modo genérico, o proletariado como aqueles que “só subsistem enquanto encontram trabalho e só encontram trabalho enquanto seu trabalho aumenta o capital”. Esse modo de compreender a inserção social do proletariado destaca a submissão do mundo do trabalho à lógica econômica do mercado: os “operários, que têm de vender- se um a um, são mercadorias como qualquer outro artigo de comércio e, por isso, igualmente expostos às vicissitudes da concorrência e às oscilações do mercado”. “A clássica frase: ‘trabalhadores de todos os países, une-vos” retrata a proposta de Marx de libertação. A liberdade só é possível coma revolução e a tomada do poder pelo proletariado. http://pt.slideshare.net/pedagogiauespi2014/seminrio-filosofia-marxista 60 A dinâmica da expansão, própria do capitalismo, afeta o proletariado no âmago da sua inserção (e integração) social, como força de trabalho, consolidando- se como um dos principais obstáculos à sua organização e formação política. Esse processo foi destacado por Marx como uma forma de reificação típica da situação do trabalho no capitalismo. E você já sabe o que significa a palavra reificação. Primeiro, o trabalhador perde sua autonomia, pela via da expansão da máquina e pela ampliação da divisão de trabalho no interior do processo de produção, tornando-sequase um mero acessório da máquina. Mas, sobretudo, ele encontra-se submetido, no interior da fábrica, ao “despotismo” do capital: 22 O ESTADO NA TEORIA MARXISTA Observe que Marx tem uma visão do Estado atrelado aos interesses da burguesia. O Estado como diz Althusser, um teórico marxista é um aparelho ideológico. O que significa dizer que longe de atender aos interesses de todos o Estado existe para manter e proteger a propriedade privada dos meios de produção. 61 Isto não é difícil de entender. O que você deve fazer é ler estes conceitos não como uma atitude de alguém que está recebendo um conhecimento mas numa atitude de reflexão. O objetivo aqui é que você desenvolva a sua autonomia para pensar junto com Marx, concordando ou não com ele. Fonte: produto.mercadolivre.com.br 22.1 Como o proletário adquire a consciência de classe? A formação política do proletariado é, portanto, uma alternativa de superação, seja da alienação própria ao mundo do trabalho, seja dos resultados da incessante concorrência entre os trabalhadores gerada pela recorrente reprodução da mão de obra. Nesse sentido, um dos pressupostos práticos do Manifesto, a tarefa de contribuir para a organização do proletariado em um partido político, não pode ser visto como um objetivo descolado da necessidade de superar esses obstáculos. É neste sentido que você irá compreender os muitos movimentos a favor da escola e sua transformação, e como já dito anteriormente, o próprio Paulo Freira adepto desta corrente de transformação. Em educação como prática de autonomia é possível visualizar estas ideias. Paulo Freire é considerado um dos, se não, o maior educador brasileiro. Isto também você irá ver no Módulo II. Pode-se considerar que a aposta de Marx, recorrente ao longo do Manifesto, atribui ao proletariado a possibilidade de desempenhar na história papel equivalente ao exercido pela burguesia. Vale dizer que, para Marx, a classe operária tem a possibilidade de posicionar-se como agente determinante do destino histórico do mundo moderno. 62 Assim criou-se partidos comunistas e movimentos revolucionários em várias partes do mundo. Por que é importante você se situar em relação ao papel revolucionário da classe trabalhadora? Exatamente porque será esta classe que irá para as escolas públicas e, neste sentido, é a partir dela que se desenvolverá os estudos sociológicos em educação. Para tornar este conteúdo um pouco mais prático, faça você mesmo um retrocesso na sua história de vida e avalie em que medida a sua identidade foi se constituindo a partir das condições materiais de existência da sua família. O que diz Karl Marx é que o povo está alienado, ou seja, não conhece e nem reconhece tais processos históricos. Neste ponto entre a escola como instituição capaz de praticar o exercício crítico e a conscientização do aluno enquanto um ser histórico. No entanto, como você também verá, a escola pode também e quase sempre o faz, reproduzir a situação de classes. Ou seja, a escola pode manter tudo como está atuando em uma educação desprovida do pensamento crítico o que levaria, de acordo com Marx, a um processo de reificação cada vez maior. Esse engajamento da classe operária em um projeto de transformação social não é apresentado como um resultado automático e necessário decorrente das condições econômicas e sociais da sociedade burguesa. Marx adverte que os incessantes esforços para organizar o proletariado em um movimento político são, a cada instante, contrariados pela concorrência entre os próprios operários, bem como pela reificação, condições inerentes a sua situação no capitalismo. O que se vê é que com o processo de globalização acelerado pelo impulso da internet e, sobretudo, pela nova forma de produção e as características do capital hoje, o trabalhador não é mais aquele da fábrica do século XVIII e XIX. Não há o predomínio do coletivo de trabalhadores em um só lugar, o que existe é uma pluralidade de formas de trabalho nem sempre assalariado. Assim a nova dinâmica social coloca em cheque as ideais de Marx, no sentido de que estas conduzirá inevitavelmente à ditadura do proletariado. A generalização da forma-mercadoria dificulta não só a afirmação do proletariado como sujeito histórico, mas a própria reflexão acerca dos problemas inscritos no cerne da sociedade capitalista, uma vez que a reificação, originariamente atuante no mundo do trabalho, estende-se para todos os setores da sociedade. 63 Se você ainda não entendeu o que significa o termo reificação, olha com atenção a citação abaixo. 23 REIFICAÇÃO, O QUE É? Fonte: slideplayer.com.br 23.1 Conhecimento de Marx aplicados à Educação Vamos concluir o pensamento de Marx com uma parte da entrevista do sociólogo Michael Lowy já citado nas aulas anteriores, num trecho em que ele fala da relação do marxismo com a educação. Antes disso é preciso justificar porque um espaço maior aqui para a teoria marxista? O processo de luta pela democracia no Brasil e a luta pela escola pública, universal e gratuita ocorreu, em grande parte, sob as bases da teoria crítica de Marx. http://slideplayer.com.br/slide/5615425/ 64 E os principais teóricos da educação tem como referência esta teoria, a exemplo, já citado, de Paulo Freire. ASSISTA: Revista Histedbr On Line – Como as propostas marxistas podem contribuir para o desenvolvimento de um projeto educacional no Brasil? Fonte: jornalggn.com.br Michael Löwy – Do ponto de vista marxista, a educação é uma das prioridades de qualquer política social. Um primeiro passo seria, como em Cuba ou na Nicarágua, uma grande campanha de alfabetização, mobilizando a juventude escolar para ir a todos os recantos do país, utilizado a pedagogia ativa de Paulo Freire. Recursos enormes que hoje são desperdiçados com compra de armamentos inúteis – porta aviões! – ou na subvenção a banqueiros e usineiros, deveriam ser dedicados ao orçamento da educação, em todos os níveis, desde o primário ao universitário; é fundamental ampliar a rede de ensino público gratuito, e marginalizar as empresas privadas, enorme sistema parasitário que se desenvolveu explorando as falhas da educação pública. É preciso garantir o acesso ao ensino secundário e universitário ao conjunto dos jovens brasileiros. Isto permitirá não só criar centenas de milhares de postos de trabalho, mas contribuirá para elevar o nível cultural da população, aprimorar a qualificação profissional dos trabalhadores, ampliar substancialmente o público leitor e reduzir a criminalidade juvenil. Enfim, seria importante associar os professores e os http://jornalggn.com.br/noticia/curso-sociologia-marxista-da-religiao-de-michael-loewy 65 alunos, assim como seus sindicatos e associações a uma reforma estrutural da educação, buscando superar a herança do elitismo, do autoritarismo e da exclusão social e/ou racial, e introduzindo métodos pedagógicos libertários. Viu? A proposta de educação está vinculada a uma proposta política de transformação social, então neste sentido, não existe uma escola neutra. O que significa dizer que a escola deve optar de que lado está. Ao lado da burguesia ou do lado do trabalhador. Sigamos em frente! 24 A TEORIA DE DURKHEIM NA EDUCAÇÃO Émile Durkheim, nasceu em 1858, França, próximo à fronteira com a Alemanha. Era filho de judeus e optou por não seguir o caminho do rabinato, como era costume na sua família. Mais tarde declarou-se agnóstico. Depois de formar-se, lecionou pedagogia e ciências sociais na Faculdade de Letras de Bordeaux, de 1887 a 1902. Durkheim foi o primeiro professor de sociologia da educação. A cátedra de ciências sociais foi a primeira em uma universidade francesa e foi concedida justamente àquele que criaria a Escola Sociológica Francesa. 25 O PAI DA SOCIOLOGIADA EDUCAÇÃO: DURKHEIM Os alunos de Durkheim eram, sobretudo, professores do ensino primário. Durkheim abordou a educação como um fato social. Você já sabe o que é fato social e se não se lembra, sugiro que volte às aulas anteriores ou veja no seu caderno de anotações. Para ele a verdadeira natureza da educação era esse: o de considera-la um fato social. "Estou convicto de que não há método mais apropriado para pôr em evidência a verdadeira natureza da educação", declarou. Sua preocupação sempre 66 esteve ligada à questão da educação. Dentro da educação moral, psicologia da criança ou história das doutrinas pedagógicas, não há campos que ele não tenha explorado. Suas obras mais famosas são A Divisão do Trabalho Social e O Suicídio. Morreu em 1917, supostamente pela tristeza de ter perdido o filho na Primeira Guerra Mundial, no ano anterior. Em cada aluno há dois seres inseparáveis, porém distintos. Um deles seria o que Durkheim chamou de individual, formado pelo estado mental pessoal. A função da educação então seria o desenvolvimento deste ser individual, posição que predominou até o século XIX. Principalmente por meio da psicologia, entendida então como a ciência do indivíduo, os professores tentavam construir nos estudantes os valores e a moral. Lembra-se das aulas anteriores? O reconhecimento de Durkheim veio com a caracterização do segundo ser: A importância que Durkheim atribuía à educação reforça sua teoria: Segundo ele, "a educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta". E quanto mais eficiente for o processo, melhor será o desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja inserida. 67 Fonte: slideplayer.com.br Na teoria funcionalista de Durkheim, as consciências individuais são formadas pela sociedade. Ela é oposta ao idealismo de acordo com o qual a sociedade é moldada pelo "espírito" ou pela consciência humana. Lembra que também Marx combateu o idealismo? "A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios - sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento - que baliza a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela” (DURKHEIM, 1994). Essa teoria, além de caracterizar a educação como um bem social, a relacionou pela primeira vez às normas sociais e à cultura local, diminuindo o valor que as capacidades individuais têm na constituição de um desenvolvimento coletivo. Aqui você vê claramente a perspectiva sociológica que é o entendimento do ser e das ações coletivas. Embora com Weber você tenha vista o termo ação social, este é utilizado para compreender as ações no seio da sociedade. E por falar em Weber vamos ver um pouco com aplicar sua contribuição teórica é educação? http://slideplayer.com.br/slide/353492/ 68 26 WEBER E A EDUCAÇÃO Você já viu que os conceitos básicos de Weber são racionalidade e burocracia e é neste viés que você deve entender a visão de Weber sobre a educação. Veja abaixo: Fonte: pt.slideshare.net A educação é um caminho de acesso a formas cada vez mais racionais e também uma forma de inserção social, de mudança de uma classe para outra. Estas conclusões não são literais de Weber, o tema da educação nunca foi exaustivamente desenvolvido pelo autor, como o foi em Durkheim. Todavia, no texto conhecido como “A religião da China”, quando Weber trata do papel dos letrados ou mandarins chineses naquela sociedade, encontramos uma explícita menção do pensador a diferentes tipos ideais de educação. Pode-se apresentar os tipos ideais de educação de Max Weber da seguinte forma: http://pt.slideshare.net/IvoneBezerra3/max-weber-48235792 69 Fonte: slideplayer.com.br a) Educação especializada: Aqui você pode observar o foco no treinamento do aluno para finalidades específicas, formando os estratos sociais. Atividades úteis à administração – na organização das autoridades públicas, escritórios, oficinas, laboratórios industriais, exércitos disciplinados. Para Weber qualquer pessoa pode ser treinada para qualquer função. b) Educação humanística: retomando os termos weberianos temos que a pedagogia do cultivo, finalmente procura educar um tipo de homem, cuja natureza depende do ideal de cultura da respectiva camada decisiva. E isto significa educar um homem para certo comportamento interior e exterior. 27 OS GRANDES SOCIÓLOGOS DO BRASIL É muito comum nos cursos de graduação o estudo da sociologia voltado para os grandes clássicos, o que de fato é importante. Contudo é necessário conhecer o http://slideplayer.com.br/slide/9528962/ 70 processo de produção da sociologia brasileira, considerando a relação entre sociologia e os problemas sociais, você aluno/a poderá por meio deste reconhecimento compreender o Brasil em suas especificidades sócio cultuais. É por esta razão e, sobretudo, para contribuir com uma formação próxima da realidade brasileira é que vamos concluir o módulo I, com uma série de abordagens e reportagens sobre o papel que a sociologia brasileira exerceu no processo de construção do pensamento cientifico. Respire fundo e vamos lá! É em 1930 na Era Vargas teve início no Brasil a construção da ideia de nação e dos processos incipientes de industrialização. Foi também neste período que surge a discussão sobre a educação universal, pública e gratuita. 27.1 a) Florestan Fernandes Sempre se mostrou extremamente comprometido com estudos de perspectivas teórico-metodológicas esforçando-se no âmbito da fundamentação da Sociologia enquanto ciência. Foi também crucial sua atuação no desenvolvimento e orientação de pesquisas do processo de industrialização e mudanças sociais no Brasil. 71 27.2 O pai da sociologia brasileira Fonte: nossapolitica.net A obra deixada por Florestan é ampla e variada, abrigando estudos sobre temas diversos. No entanto, seu constante esforço para entender a sociedade brasileira como um todo – sua formação marcada por conflitos, seu desenvolvimento único e suas perspectivas futuras – foi caracterizado por uma perspectiva única que questionava não só a forma de ser da realidade social, como o pensamento sociológico em si. É por esse motivo que Florestan é considerado o fundador da Sociologia crítica brasileira. Você pode compreender pela formação de Florestan Fernandes a sua filiação à teoria marxista. Este diálogo com os clássicos e, principalmente com o pensamento marxista, é um tema central nos escritos de Florestan, que procurou revisitar as principais correntes do passado e do presente, buscando o que existia de mais crítico em cada uma. A necessidade de interpretar uma sociedade como a brasileira – complexa e marcada por grandes desigualdades levantava muitos questionamentos a Sociologia como um todo (uma vez que a disciplina foi forjada principalmente em solo europeu). Algumas das obras onde Florestan reflete sobre o próprio saber sociológico são: Fundamentos empíricos da explicação sociológica, Ensaios de sociologia geral aplicada e A natureza Sociológica. http://nossapolitica.net/2015/07/ha-95-anos-nascia-florestan-fernandes/ 72 Outra fonte importante de Florestan foi o legado deixado por pensadores brasileiros que buscaram interpretar o país elevando a primeiro plano a luta de setores populares nacionais. Para Florestan, era preciso compreender o país a partir da perspectiva dos grupos e classes que formavam a maioria do povo. Por isso, durante alguns anos, dedicou-se a estudar a centralidade da presença dos negros na sociedade brasileira, sua trajetória de povo escravizado a trabalhador marginalizado. Sobre as lutas que marcaram o Brasil – desde a resistência ao colonialismo a conquista de direitos sociais – Florestan pública:A organização sociais dos Tupinambás, A integração do negro na sociedade de classes, O negro no mundo dos brancos e Mudanças sociais no Brasil. Pelos temas de estudos você já é capaz de ver a filiação teórica. A transformação social e as possibilidades revolucionárias de um dado tempo é também um tema recorrente na Sociologia de Florestan. Sobre esse ponto em específico, destacamos os livros: A sociologia numa era de revolução social, A revolução burguesa no Brasil e Da guerrilha ao socialismo: a Revolução Cubana. Florestan era um homem de ação, comprometido a compreender e colaborar com os desafios colocados pela época e pelo local onde vivia: um país periférico vivendo o pleno ápice de seu processo de urbanização. Para ele, o intelectual não deveria se esconder por detrás da máscara da neutralidade científica, uma vez que os movimentos e acontecimentos ao seu redor são grandes fontes que nutrem o pensamento crítico. 73 28 DARCY RIBEIRO: O BRASIL COMO MISSÃO Fonte: pt.slideshare.net Darcy Ribeiro, antropólogo, escritor e político brasileiro, desenvolveu trabalhos importantes na educação, inclusive na LDB9394/96. Sua principal obra “O Povo Brasileiro” traz impressões de um importantíssimo estudioso que observou durante muito tempo as características de nosso povo pensando sua formação e sua organização social. Darcy é muito conhecido também por seus trabalhos desenvolvidos a partir das temáticas voltadas para os povos indígenas, com riquíssimas observações e relatos antropológicos. Foi o relator da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, aprovada no governo Fernando Henrique (1996) http://pt.slideshare.net/blogpa/darcy-ribeiro 74 28.1 Gilberto Freyre: autor de Casa Grande & Senzala Fonte: pt.slideshare.net Gilberto Freyre é um dos mais reconhecidos nomes da Sociologia no Brasil. Você certamente conhece a sua obra Casa Grande & Senzala. A influência de Portugal, o mundo ibérico e a presença portuguesa nos trópicos frequentemente são temas de seus escritos, demostrando o papel desse povo na formação de civilizações modernas nos trópicos. Mais uma vez percebe-se o anseio da compreensão da formação da sociedade e do povo brasileiro, principal questão que move os estudos dos precursores da Sociologia em nosso país. Lembre-se: Neste momento está se pensando no país como uma nação, na construção de uma Nação. http://pt.slideshare.net/blogpa/darcy-ribeiro 75 A análise da vida cotidiana é a grande contribuição de Freire. Teria sido ele, então, um dos primeiros a pensar em "patrimônio imaterial". Ele foi o precursor do conceito de patrimônio imaterial, conceito este que se concretizou com enorme sucesso. 28.2 Você sabe o que é patrimônio imaterial? Fonte: slideplayer.com.br De outra forma: Não é possível de ser tocado, como a dança, a música, a religião. Entendeu? Outra contribuição da obra de Freyre foi a tentativa de desmistificar a noção de determinação racial na formação de um povo, apontando a miscigenação conferida no país como elemento positivo. Em "Casa-Grande", o papel http://slideplayer.com.br/slide/337565/ 76 de índios e negros na formação do povo brasileiro é valorizado de forma praticamente inédita. 28.3 Sergio Buarque de Holanda Fonte: slideplayer.com.br Com Sergio Buarque de Holanda veremos a influência da sociologia de Max Weber. No seu estudo sobre o homem cordial, ele mostrou as motivações das ações social e, sobretudo criou um tipo ideal para entender a característica do brasileiro. Mas o que quer dizer homem cordial? 29 HOMEM CORDIAL: A IDENTIDADE BRASILEIRA NA VISÃO DE SÉRGIO BUARQUE. Vamos ver o diz o próprio sociólogo: http://slideplayer.com.br/slide/2571966/ 77 Fonte: pt.slideshare.net Significa dizer que o brasileiro age mais pelas emoções do que pela razão. A forma de solucionar os problemas é ligada a vínculos familiares ou de amizade. Um de seus principais trabalhos, intitulado “Raízes do Brasil” aborda aspectos centrais da formação da cultura brasileira e do processo de formação da sociedade, que como vimos, é a preocupação mais recorrente dos grandes sociólogos do Brasil. Nesta obra, mais uma vez aparece em lugar de destaque, a importância do legado português no Brasil e a dinâmica de transferências culturais que se dava entre metrópole e colônia. 29.1 Caio Prado Junior. Observe um pouco da biografia deste intelectual e responda qual é a sua influência teórica? Estudou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (1924-1928), formando-se bacharel em ciências jurídicas e sociais aos 21 anos. Na Faculdade de Direito iniciou sua preparação crítica no ensaio político e, logo depois de formado http://pt.slideshare.net/joseweldson/gilberto-freyre-e-srgio-buarque-de-hollanda 78 exerceu a advocacia por alguns anos. Durante sua formação universitária e prática advocatícia, vivenciou toda a efervescência política, social e cultural no Brasil, durante as décadas de 20 e 30.Iniciou suas atividades políticas ingressando no Partido Democrático (1928). Participou ativamente da Revolução (1930) e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro. Fez uma viagem de estudos à União Soviética (1933) e publicou um livro de viagens, URSS, um novo mundo (1934). Assumiu a vice-presidência da Aliança Nacional Libertadora, motivo por que foi preso (1935) por dois anos. Exilou-se na Europa (1937-1939) e de volta ao Brasil (1940), lançou sua obra mais importante: Formação do Brasil Contemporâneo (1942) um clássico da historiografia brasileira, discorrendo sobre a formação histórica do Brasil. Com certeza você acertou. Ele foi um estudioso da realidade brasileira e se dedicou a esta temática tão cara à Sociologia Brasileira, publicando a clássica obra “Formação do Brasil Contemporâneo” que deveria ser parte de uma coletânea dedicada a pensar justamente a evolução histórica brasileira desde o período colonial, tendo mais uma vez como tema central a formação da sociedade e do povo brasileiro desde a chegada dos portugueses. 79 30 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Este é sem dúvida o mais conhecido sociólogo brasileiro. Este é conhecido, foi o presidente da República do Brasil. É o mais reconhecido sociólogo brasileiro. 30.1 No que consiste a teoria do desenvolvimento de Fernando Henrique Cardoso? A Teoria da Dependência surgiu no quadro histórico latino-americano do início dos anos 1960, como uma tentativa de explicar o desenvolvimento socioeconômico na região, em especial a partir de sua fase de industrialização, iniciada entre as décadas de 1930 e 1940. Em termos de corrente teórica, a Teoria da Dependência se propunha a tentar entender a reprodução do sistema capitalista de produção na periferia, enquanto um sistema que criava e ampliava diferenciações em termos políticos, econômicos e sociais entre países e regiões, de forma que a economia de alguns países era condicionada pelo desenvolvimento e expansão de outras. 80 Fonte: pt.slideshare.net Aqui é importante você compreender que embora os estudos sociológicos tenham surgidos entre os anos 1920 e 1930, sem dúvida, foi na década de 1960 que ganham maior fôlego. O Brasil está no momento de investir em grandes projetos industriais e a teoria da dependência busca apreender este momento histórico. Parabéns por ter concluído este módulo I. Se você fez as leituras com atenção certamente agora está capacitado a reconhecer os principais pontos da origem da sociologia como ciência e as ideias centrais dos clássicos desta disciplina. Esta capacitação básica tem por objetivo contribuir para a sua formação de pedagogo/a tendo em vista que a legislação o habilita para dar aulas de sociologia no ensino médio. Sendo assim é muito importante que saiba as bases conceituais desta ciênciasocial. 31 SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Nas aulas anteriores você conheceu os pontos centrais das teorias sociológicas dos clássicos Durkheim, Weber e Marx. Que tal pensá-los na relação com a escola? http://pt.slideshare.net/catetoferraz1/ciencias-sociais-iiantonio-inacio-ferraz-estudante-de-direito-na-unip-assis-sp 81 Não esqueça de registrar no seu caderno de sociologia da educação o resultado de sua leitura. Não deixe passar nenhum conteúdo sem a sua compreensão. A qualquer momento pare, reflita, faço conexões, busque exemplo e, peça ajuda. O ensino à distância oferece um espaço importante de liberdade e autonomia para o estudo que, se não for bem aproveitado poderá trazer prejuízo para a sua formação. Então, encorajo você a criar metas e fazer um plano de estudo. Nestas aulas você irá ter contato com trabalho bastante significativo de autores que se dedicam à sociologia da educação: Professora Marília Freitas de Campos Tozoni-Reis, professora Livre Docente do Departamento de Educação do Instituto de Biociências da UNESP- Botucatu. Trata-se do artigo A Contribuição da Sociologia da Educação para a Compreensão da Educação Escolar; Pierre Bourdieu e a reprodução. Este importante sociólogo apresenta dois conceitos importantíssimos para entender a escola como reprodutora da sociedade. Os conceitos são: violência simbólica e capital cultural. Fique atento/a que você deverá, no final do módulo, compreender e aplicar bem estes conceitos; A pedagogia de Paulo Freire. Este é o autor clássico da educação brasileira. As reflexões freirianas da relação entre escola e sociedade trarão grande contribuição para a sua formação acadêmica. Vamos lá? Primeiramente o artigo da professora Marília Freitas de Campos Tozoni- Reis A Contribuição da Sociologia da Educação para a Compreensão da Educação Escolar. Você já possui conhecimentos suficientes para fazer um diálogo com a autora na medida em que vai identificando e reconhecendo as perspectivas durkheimianas, weberianas e marxistas presente no artigo. 82 Fonte: www.scielo.br A imagem acima tem o objetivo de inspirar a sua leitura e motivar o seu estudo sempre direcionando a sua atenção na sua formação e, como já podemos concluir, uma formação que é essencialmente política, tendo em vista os interesses diversos que são colocados em jogo na complexidade do espaço, tanto da sala de aula quanto da sociedade global em que estamos todos envolvidos. Portanto, antes de seguir em frente, observe e registre no seu caderno as reflexões contidas na imagem. Não se preocupe se encontrar dificuldades no caminho, siga em frente. Leia com atenção as aulas a partir de agora. Estamos na reta final e o seu empenho fará uma grande diferença não só aqui mas em toda a sua vida acadêmica. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222012000100008 83 Fonte: albertovillas.com.br A origem da escola está no contexto do desenvolvimento da sociedade moderna, precisamente na sociedade capitalista. Não é difícil entender que no cenário brasileiro, a partir dos anos 20 e 30 do século XX, a escola surgirá ladeada de problemas sociais, sobretudo das desigualdades sociais. Qual é o papel da escola nesta sociedade emergente, moderna e capitalista? Este papel é permanente ou sofre mudanças com o tempo e as condições históricas? Pensar na relação entre educação, escola e sociedade é o primeiro exercício para se entender a contribuição da sociologia da educação. Antes de conhecer a citação convido você a pensar na sua própria definição de educação e depois verificar em que medida ela se aproxima ou se distancia do conceito de Demerval Saviani. O que é educação para você? Este é o princípio básica que irá definir a sua experiência, ou seja, a sua definição de educação irá ser a base para a sua prática. Por isso importante escolher como quais autores você quer caminhar. A partir das suas leitura e conhecimento com quais você mais se identifica. Tenha isso como meta ao caminhar na sua formação. 84 32 CONCEITO DE EDUCAÇÃO Fonte: slideplayer.com.br Observou a relação entre o indivíduo e a sociedade? Pois bem, esta é a relação mais importante da sociologia. Temos na citação acima que o processo educativo é um processo de formação humana, isto é, um processo em que todos seres humanos - que nascem inacabados do ponto de vista de suas características humanas - são produzidos, construídos, como humanos. É um processo – histórico e social – de tornar humanos os seres humanos. Neste sentido, não nascemos humanos, este é um processo que se consolida nas práticas das relações sociais nos variados campos, seja político, social, econômico, cultural, etc. Para compreender melhor esta definição de educação como um processo histórico e social de formação humana, tomemos como referencial os escritos de Marx (1993) no mais importante de seus textos sobre a concepção de homem: os Manuscritos Econômicos e Filosóficos. http://slideplayer.com.br/slide/334187/ 85 Fonte: www.todocoleccion.net Neste livro, Marx desenvolveu uma concepção de homem como ser natural, universal, social e consciente. Isto é, embora ao nascer, ele conte com uma base biológica, natural, para se objetivar como gênero humano – para vir a ser humano – os homens, todos os homens, necessitam de um processo de humanização, que seja direto e intencional, um processo social e consciente. A finalidade imediata da educação (muitas vezes não cumprida) é a de tornar possível um maior grau de consciência, ou seja, de conhecimento, compreensão da realidade da qual nós, seres humanos, somos parte e na qual atuamos teórica e praticamente. Então, se a espécie humana necessita de um processo de humanização, histórico e social de formação humana – de educação –, a educação tem como objetivo realizar esta tarefa. Isso implica em um processo de conscientização que significa conhecer e interpretar a realidade social e atuar sobre ela, construindo-a. O primeiro processo de socialização, primária, ocorre na família. É neste ambiente que a criança desde o seu nascimento aprende por meio da interação com o meio e com a intervenção de um mediador adulto, as primeiras lições de vida. A noção do certo e do errado, a se comportar, a reconhecer as pessoas, os valores da família. http://www.todocoleccion.net/libros-segunda-mano-derecho-economia/manuscritos-economico-filosoficos-1844- 86 No segundo processo, o secundário, que ocorre principalmente na escola, a criança começa a ter conhecimento do mundo que a envolve e a produção coletiva que forma a estrutura social do seu ambiente. Fonte: pt.slideshare.net Neste processo de humanização, nós, seres humanos, produzimos cultura, e a cultura se expressa por meio de símbolos. Assim, podemos dizer que o ser humano é um produtor de símbolos. Em outras palavras, significamos a nossa existência. Assim, o processo educativo constrói, ao mesmo tempo, o ser humano como humano e a realidade na qual ele se objetiva como tal. Constrói, também, a humanidade do ponto de vista histórico e social. Se os seres humanos não trazem ao nascer os instrumentos necessários para compreender as leis da natureza e da cultura (das sociedades), e não podem contar com a possibilidade de que isso aconteça “naturalmente”, o processo de formação do ser humano tem que ser intencionalmente dirigido, pelos próprios seres humanos que se relacionam socialmente. Ocorre que, na história social da humanidade, diferentes e diversas instituições sociais se responsabilizaram por esse processo de formação humana, pelo processo educativo. http://pt.slideshare.net/joaobalbi/cap-14-homemanimal 87 33 CAMPO DA SOCIOLOGIA Nas sociedades primitivas, por exemplo, vemos a importância dos ritos de iniciação realizadospor diferentes coletivos no processo educativo dos sujeitos mais jovens como expressão da organização do processo de formação humana para a convivência naquelas sociedades que tinham, como tal, características próprias. Muitos estudos no campo da sociologia – e da antropologia – mostram diferentes formas sociais de apropriação dos elementos da cultura nessas sociedades primitivas. Mas, o que temos em comum nesses estudos é o fato de que, mais ou menos sistematicamente, há um processo educativo expresso na vida social dessas sociedades. Nesse sentido, também merece destaque o processo de preparação para o trabalho a que eram submetidos os jovens aprendizes de ofícios nas sociedades pré-industriais. A família como principal instituição social responsável pelo processo de formação humana para convivência naquelas sociedades, em especial, como instituição responsável pela formação para o trabalho: além da família de origem, muitos jovens aprendizes eram encaminhados a outras famílias para a aprendizagem dos ofícios. Fonte: melhorcomsaude.com http://melhorcomsaude.com/aceite-mudancas-algo-aprender/ 88 Com esta referência, podemos buscar a tese de que a escola, tal como a conhecemos hoje, é uma instituição social nova, moderna. E como instituição é a principal responsável pela formação dos jovens para sua integração ao mundo social adulto na modernidade. Fonte: soparamaes.wordpress.com Se, em períodos históricos anteriores, a família foi a principal responsável pelo processo de formação dos sujeitos para a integração na sociedade, a modernidade – com suas profundas transformações – buscou uma nova instituição que se responsabilizasse pela formação humana para este novo modo de organização da vida social: a escola. Lembremos que as profundas modificações nas formas de organização das sociedades, no final da Idade Média, culminaram com as revoluções do século XVIII, caracterizadas pela ascensão da classe social denominada burguesia e a implantação na Europa de um novo modo de produção – base da organização social – o capitalismo. Fonte: blogdaebi.blogspot.com.br 89 Foi a partir da segunda metade do século XVIII, com a Revolução Industrial, que o capitalismo consolidou-se. Do ponto de vista econômico, tem início um processo intenso e contínuo de exploração do trabalho em grandes proporções, geração de lucro e acumulação de capital. Aqui você pode se lembrar também da reflexão do filme Tempos Modernos, de Chaplin, visto no Módulo I. Do ponto de vista político e social, a aristocracia perde o poder político para a burguesia urbano-industrial, surgindo ainda uma outra classe: os trabalhadores (ou operários). Isso tudo implicou em profundas modificações nas práticas sociais, em especial, no modo de produção. Foi a preparação para essas novas relações sociais que modificou também a organização do processo de formação humana, elegendo a escola como principal instituição preparatória para a vida social. Se, desde a antiguidade, temos algumas manifestações de um processo educativo um pouco mais sistematizado, o qual nos acostumamos a chamar de escola, somente na modernidade, a escola assume o papel de uma instituição educativa significativa na sociedade para a organização do processo educativo socialmente representativo. Portanto, a escola é uma instituição da sociedade moderna, assim como a sua correlata: a infância, tal como a entendemos hoje. Você já sabia, não é mesmo? De acordo com o “sentimento da infância”, que “corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem” (1981, p. 156). Na idade média, a infância se limitava ao período inicial da vida no qual a criança dependia do constante cuidado do adulto, mãe ou ama. 90 34 DESCOBERTA DA INFÂNCIA Fonte: pt.slideshare.net A criança ingressava no mundo dos adultos não se distinguindo mais destes. A dilatação do período da infância foi correlata de uma transição da escola que durou do século XV ao século XVIII. A escola foi um meio de isolar cada vez mais as crianças durante um período de formação tanto moral quanto intelectual, de adestrá-las, graças a uma disciplina mais autoritária, e, desse modo, separa-la da sociedade dos adultos. Segundo este autor, na idade média, a escola era destinada a um pequeno número de clérigos de diferentes idades. http://pt.slideshare.net/ElieneDias/pnaic-2015-texto-01-concepo-de-infncia-criana-e-educao 91 Fonte: slideplayer.com.br A abertura da escola aos demais manteve a mistura de diferentes idades e a exclusão das mulheres. Mais tarde, criou-se a separação dos estudantes por classes (o que constituiu a primeira subdivisão no interior da população escolar), mas o critério para formação das classes foi o grau de capacidade, não a idade. A criação das classes por idade ocorreu somente no século XVIII. Observe como vai se construindo o processo de seleção dos estudantes. A regularização do ciclo anual das promoções, o hábito de impor a todos os alunos a série completa de classes, em lugar de limitá-la a alguns apenas e as necessidades de uma pedagogia nova adaptada a classes menos numerosas e mais homogêneas, resultaram, no início do século XIX, na fixação de uma correspondência cada vez mais numerosa entre a idade e a classe. http://slideplayer.com.br/slide/3659722/ 92 Fonte: pt.slideshare.net Até o século XVIII, a distinção entre população escolarizada e não escolarizada não correspondia às condições sociais, embora o núcleo principal da escola fosse constituído de indivíduos oriundos das famílias burguesas de juristas e ligados ao clero. No século XIX, a escola única foi substituída por um sistema de ensino duplo, em que cada ramo correspondia não a uma idade, mas a uma condição social: o Liceu e o Colégio para os burgueses (o secundário) e a escola para o povo (o primário). Existe, portanto, um notável sincronismo entre a classe de idade moderna e a classe social: ambas nasceram ao mesmo tempo, no fim do século XVIII, e no mesmo meio: a burguesia. Se do ponto de vista sócio histórico a escola é uma instituição moderna, e aqui você já compreende o que significa o moderno, então, qual a função da escola no processo de formação humana nas sociedades atuais? Nas aulas de história da educação você viu que o surgimento da escola tal qual a conhecemos hoje coincide com o advento da sociedade capitalista em que a necessidade de ler e escrever atendia às necessidades emergente do universo comercial. http://pt.slideshare.net/rcgcbatista/reunio-com-coordenadoras-e-diretores 93 35 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA Fonte: slideplayer.com.br A professora Tozoni-Reis (2010) pergunta em seu artigo: Se a educação é uma exigência humana – individual e coletiva – e a escola foi, historicamente, a instituição social “escolhida” pela humanidade para cumprir esta tarefa, como podemos considerar a função específica da escola atualmente? Lembremos que os estudos sobre o papel da escola, na sociedade moderna, apontam para o fato de que não existe uma função única, consensual, universal da escola. Se você recordar da sua vida escolar desde o início certamente irá reconhecer que a função da escola mudou. Se vivemos, na modernidade, em uma sociedade contraditória – uma sociedade de classes com interesses antagônicos e contraditórios – cada grupo social compreende este papel segundo seu próprio conjunto de valores e interesses sociais, culturais e políticos. http://slideplayer.com.br/slide/9664947/ 94 Fonte: www.inclusive.org.br A função da escola é vista de forma global, universal e também tem um caráter individual de acordo com o interesses daqueles que dela participa. Isso significa dizer que a escola não é umainstituição social neutra, uma instituição educativa a serviço de todos, igualmente. A forma como se realiza o processo de formação humana na sociedade moderna, portanto, a educação no interior da instituição social chamada escola, diz respeito aos valores, ideologias e intenções dos diferentes grupos sociais que disputam seu lugar na hierarquia social. Assim, os estudos da sociologia da educação apontam para a ideia de que a educação escolarizada nestas sociedades tem, em geral, algumas funções. Vejamos com atenção algumas destas funções. http://www.inclusive.org.br/arquivos/25570 95 (LUCKESI, 1990). Observe bem como estas funções acima citadas são vistas por Demerval Saviani. Para este autor a escola vive o antagonismo destas três funções. Fonte: pt.slideshare.net O estudo empreendido por Saviani (2008) sobre as bases teóricas da educação, apresentado no conhecido Escola e Democracia com todas as polêmicas http://pt.slideshare.net/gens/o-papel-do-professor-nas-diferentes-concepes-de-escola-e-educao-escolar 96 que ainda gera, analisa a impossibilidade teórica e prática das propostas educativas denominadas por ele como “teorias não-críticas da educação”. 36 REFLETINDO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO Fonte: www.egov.ufsc.br Observe bem como Saviani conceitua as três funções da escola. Tozoni- Reis (2010) utiliza-se da categoria desigualdade social para analisar a função social da escola, especialmente para compreender as relações entre educação e sociedade. Assim a autora pergunta: Diante desta característica definidora da sociedade capitalista moderna, como sustentar a tese das teorias não críticas de que a educação escolarizada é um instrumento de equalização social? Teorias não críticas são aquelas que não consideram a escola na relação com a sociedade e seus conflitos. Em outras palavras, como conceber a escola como um instrumento de justiça social analisada por teorias que não fazem a crítica às relações conflituosas que existem na sociedade. Percebe? http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/direitos-e-garantias-fundamentais-uma-an%C3%A1lise-s%C3%B3cio-antropol%C3%B3gica-do-surgimento-e-implanta%C3%A7 97 Neste sentido, “a sociedade é concebida como essencialmente harmoniosa, tendendo a integração de seus membros” (SAVIANI, 2008, p. 4). Lembra da teoria de Durkheim, em que a sociedade tende para a harmonia? Assim, de característica definidora da sociedade capitalista moderna, a desigualdade social – e, consequentemente, a marginalidade – é concebida como uma distorção que, pela educação, pode ser superada. Numa perspectiva durkheimiana a desigualdade social seria uma anomia social. Assim pensada a escola mostra o caráter “redentor” nas relações entre a educação e a sociedade: A marginalidade é, pois, um fenômeno acidental que afeta individualmente um número maior ou menor de seus membros, o que, no entanto, constitui um desvio, uma distorção que não só pode como deve ser corrigida. Fonte: pt.slideshare.net A educação emerge aí como um instrumento de correção dessas distorções. Tozoni-Reis analisa esse papel de “redentora” da sociedade, de instrumento de equalização, de correção das distorções que, eventualmente, encontramos na sociedade moderna. Nesse sentido, a educação escolarizada tem o papel social de http://pt.slideshare.net/gens/o-papel-do-professor-nas-diferentes-concepes-de-escola-e-educao-escolar 98 garantir a construção de sociedades igualitárias, de corrigir essas distorções eventuais. Perguntas: 1. A educação e, particularmente, a escola, como instituição social, define, por si, a superação da desigualdade social? 2. A desigualdade social não é uma das mais importantes características – definidora, fundante – da sociedade capitalista moderna? Nesta questão você consegue perceber a perspectiva marxista? Fonte: tempossafados.blogspot.com.br Tozoni-Reis não conclui que essa tarefa – de superação das desigualdades é impossível para a escola pela sua magnitude, mas compreende que a instituição escolar é uma instituição que emerge desta sociedade, que está a serviço dos interesses contraditórios que definem a constituição da sociedade capitalista moderna como sociedade desigual. Por outro lado, a educação, em particular a escolarizada, como instituição social principal responsável pela formação dos sujeitos sociais na modernidade tem assumido, segundo as análises sociológicas dedicadas ao seu estudo, a função de reproduzir a desigualdade social que caracteriza esta sociedade. http://tempossafados.blogspot.com.br/2012/05/bourdieu-pensando-o-sistema-de-ensino-e.html 99 37 REPRODUÇÃO NA ESCOLA Reprodução: Isso significa dizer que a educação, como instituição social organicamente ligada a esta sociedade, contribui, no que diz respeito à formação dos sujeitos sociais, para reproduzir a contradição de classes inerente à sociedade capitalista moderna. Fonte: praticassocioeducativas.blogspot.com.br A maior contribuição dos sociólogos da educação foi denunciar o papel legitimador da desigualdade social que assume a escola em nossa sociedade. Você já deve ter percebido a perspectiva crítica e já deve ter identificada qual é a corrente teórica que a autora utiliza para compreender a escola na sua relação com a sociedade. Ou seja, é necessário compreender que a escola não tem apenas o papel de formação dos sujeitos sociais, uma formação descomprometida com as formas organizativas da sociedade, mas um papel comprometido com a dinâmica social dominante. http://praticassocioeducativas.blogspot.com.br/2014/09/reproducao-cultural-e-reproducao-social_29.html 100 Fonte: pt.slideshare.net Dessa forma, a escola, em sua tarefa de formar os sujeitos sociais, não é neutra, mas exerce um papel político nesta formação, no sentido de seu comprometimento – do ponto de vista da reprodução ideológica – na formação dos sujeitos. Como dito acima a principal referência nestes estudos é Bourdieu: Contrariando a ideia da escola enquanto espaço social democrático e emancipador, a Sociologia bourdieusiana buscava mostrar que essa instituição legitimava as práticas sociais das classes dominantes. Vamos conhecer um pouco este eminente sociólogo que dedicou boa parte do seu trabalho para entender a relação da escola com a sociedade. 37.1 Pierre Bourdieu Destacado sociólogo francês do século XX. Nascido na cidade de Denguin, França, no dia primeiro de agosto de 1930, era proveniente de uma família campesina Sua publicação entre as décadas de 1960 e 1980 o caracteriza como importante sociólogo do século XX. A repercussão de suas reflexões o leva a lecionar em importantes universidades do mundo. http://pt.slideshare.net/maynaramarques/karl-marx 101 Bourdieu faz uma análise das desigualdades escolares e sua relação com a estrutura das desigualdades sociais, revela o que ele chama de violência simbólica, ao mostrar como as desigualdades e dificuldades dos alunos podem ser compreendidas a partir da observação da estrutura social em que vivem e, o que é o mais importante, como a escola contribui para a reprodução destas desigualdades. No texto, A Escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura, o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1966), desenvolve um de seus principais conceitos teóricos, o capital cultural; através do qual explica o atraso “educacional” das classes populares. Bourdieu (1966) faz uma crítica vigorosa à função desempenhada pelas instituições escolares francesas. Salvo às especificidades da realidade escolar da França, da pesquisa sociológica científica e da época em que Bourdieu escreve, acredito que, a partir de seu texto, podemos ainda pensar algumas questões à política e à educação contemporânea no Brasil. É provavelmente porum efeito de inércia cultural que continuamos tomando o sistema escolar como um fator de mobilidade social, segundo a ideologia da ‘escola libertadora’, quando, ao contrário, tudo tende a mostrar que ele é um dos fatores mais eficazes de conservação social, pois fornece a aparência de legitimidade as desigualdades sociais, e sanciona a herança cultural e o dom social tratado como dom natural. 102 38 ESCOLA: DESIGUALDADE LEGÍTIMA? Você pode perceber aqui que o autor chama a atenção para o fato de que a escola legitima a desigualdade social, na medida em que não questiona as relações de conflito que estão no seu interior. Por que a escola não é um fator de mobilidade social? Bom, para o autor, existe uma série de aspectos culturais que precisam ser levados em conta para explicar a mobilidade social (aquilo que pode fazer com que uma pessoa saia de uma classe social inferior para uma superior). Dentre os aspectos das relações sociais que levam ao êxito escolar e à ascensão social, são perceptíveis algumas formas grosseiras: a) Recomendações, quer dizer, o famoso “Quem Indica”. b) Ajuda no trabalho escolar ou ensino suplementar. Pais, familiares e outros que auxiliam os alunos nas tarefas escolares; e as atividades fora do âmbito da escola, como cursos de idiomas ou de disciplinas específicas como português e matemática (famoso Kumon) e de pré-vestibulares, no atual caso brasileiro. c) Informação sobre o sistema de ensino e perspectivas profissionais. Este ponto se refere ao conhecimento detalhado de profissões e de particularidades de estudos conforme as exigências de uma prova classificatória, como no vestibular ou ENEM. Porém, nenhuma dessas três formas consegue dar conta da sofisticação cultural relacionada à classe social do aluno, que podemos enumerar em dois tipos: 1. Transmissão do capital cultural da família 2. Do Ethos (como proceder) no agir ao capital cultural e à instituição social. Essas duas heranças culturais que diferem entre as classes sociais são responsáveis pela diferença inicial das crianças diante da experiência escolar e pelas suas taxas de êxito. Tento explicar minimamente a seguir os valores culturais sofisticados captados por Bourdieu, que estão implícitos na relação familiar – os modos de aprender e de agir, e as expectativas de futuro. 103 Fonte: eliperochasociologia.blogspot.com.br 39 A TRANSMISSÃO DO CAPITAL CULTURAL As pesquisas do sociólogo Paul Clere mostram que a parcela de bons alunos em uma amostra de 5ª série cresce em função da renda de suas famílias. Entretanto percebe-se que aqueles alunos cujos pais possuem formação superior têm maior sucesso escolar. Você está entendendo a postura de Bourdieu? Ou seja, mesmo utilizando-se de alguns pressupostos marxistas, este autor dá uma ênfase especial ao aspecto cultural. Ainda assim os alunos de famílias que possuem diplomas iguais, muito pouco diferem entre si, mesmo que a renda de uma ou de outra família seja superior. Isto demonstra que dentro das heranças dois fatores são determinantes para o êxito escolar: a renda e o “conhecimento” dos familiares. http://feliperochasociologia.blogspot.com.br/2015/07/capital-cultural-de-pierre-bourdiu.html 104 Fonte: pt.slideshare.net Mas, acima de tudo, o conhecimento dos membros da família. Este está à frente da renda. O que significa que o sucesso da criança na escola está diretamente ligado à cultura. Esta tem um valor maior do que o financeiro, embora geralmente os dois apareçam atrelados. 40 RENDA E CULTURA: ATRIBUTOS FAMILIAR Podemos dizer então que o capital cultural possui uma relação direta com os atributos familiares (cultura e renda), logo, com a rede sociocultural da qual a criança participa. A herança cultural deve levar em conta não somente o nível cultural do pai ou da mãe, mas também o dos demais componentes da família, especialmente, o dos avós. As localidades regionais onde se residiu para os estudos na adolescência e na juventude também precisam ser colocadas nesse cálculo. Pois em determinados lugares existe uma maior disponibilidade de bens simbólicos, como museus, teatros, parques culturais, cinemas, instituições escolares de melhor qualidade, centros de cultura e etc. Soma-se a estes dois aspectos o conjunto das características do http://pt.slideshare.net/camos72/reproduo-e-desigualdade 105 passado escolar, como o tipo de curso secundário e o tipo de estabelecimento – se municipal, estadual, federal ou privado. Você está entendendo? Se não, volte à leitura e faça reflexão, ou pare um pouco de depois retorne. Fonte: marisaserikako.iibnn.com Para a pesquisa sociológica sobre as causas do êxito escolar, é necessário consequentemente, um modelo que leve em conta essas diferentes variáveis – e também as características demográficas do grupo familiar, como o tamanho da família – que permita fazer um cálculo muito preciso das esperanças de vida escolar. É perceptível que Bourdieu atribui um valor muito maior a família do que a escola. Ele conta que os filhos das classes populares com maior propensão a ingressar na faculdade têm famílias diferentes da média de sua categoria, seja por seu nível cultural global ou por seu tamanho. Fonte: wol.jw.org http://marisaserikako.iibnn.com/nao-esta-entendendo-quer-uma-reposta/ http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1102014399 106 Contudo os níveis de instrução da família são apenas indicadores e não mostram quais conteúdos são transmitidos às crianças. Nisso as pesquisas demonstram que o capital cultural mais rentável para o sucesso escolar é constituído pelas informações e conhecimentos relacionados ao mundo universitário, à facilidade verbal e à cultura livre adquirida nas experiências extraescolares. Quer dizer que a transmissão cultural eficaz é a que não está separada da vida comum do aluno e que não se trata de uma tarefa específica que ele fará metodicamente, mas um eixo de relações culturais que participa de sua vida de maneira integral sem parecer forçosa. Neste sentido, os alunos de família rica e culta interagem numa cultura de gostos, de linguagens e de fazeres propícios ao que é cobrado nas instituições formais. Por conta de haver essas relações desde “berço” acredita-se, enganosamente, que as qualidades destas crianças, transmitidas quase por osmose, são dons naturais. Olha que interessante! Ao contrário desta crença, Bourdieu (p. 46) escreve que: “o êxito com os estudos literários está estreitamente ligado à aptidão para o manejo da língua escolar, que só é uma língua materna para as crianças oriundas das classes cultas”, enquanto as crianças das classes populares precisam se desdobrar para fugir do linguajar próprio ao seu cotidiano. Faz sentido para você, estas reflexões? 41 A ESCOLHA DO DESTINO E A QUESTÃO DO ETHOS FAMILIAR Geralmente a atitude de pais e de crianças em relação à escola está relacionada às suas posições sociais. Esse caso é particularmente importante no âmbito do ensino francês estudado por Bourdieu. Os alunos após terminarem o nível básico precisavam mudar para outra escola. Entre as opções, as melhores “públicas” eram concorridas através de exames, de indicações e de regularidades de notas boas no ensino básico. O pai do aluno esperava que ele atingisse um bom desempenho nas séries iniciais, sobretudo, baseado num certo índice medido conforme os incentivos dos 107 professores, para que ele continuasse os estudos e/ou concorresse a uma vaga nas melhores escolas. As pesquisas de Bourdieu mostram que “a escolha da escola e das maneiras do ensino (técnico ou teórico) tem a ver com as lembranças das experiências direta e imediata pela estatística intuitiva das derrotas ou dos êxitos parciais das crianças de seu meio”. A desesperança, não raras vezes, tomam as classes popularese então dizem: “Isso não é para nós”. O que significa: “Não temos meios para isso”. Fonte: ambientalistamarcioluiz.blogspot.com.br As condições econômicas e culturais das classes médias também são diferentes das classes superiores, haja vista que a cada dois alunos das classes superiores que acessam a faculdade, somente um aluno das classes médias consegue. Pare um pouco agora e reflita sobre o seu capital cultural, este que você herdou da sua família. Que tipo de bagagem você trouxe para a escola? Em que medida o seu capital cultural ajudou ou dificultou a sua assimilação da cultura da escola? http://ambientalistamarcioluiz.blogspot.com.br/2012/09/o-vereador-da-educacao-em-niteroi.html 108 O capital cultural e o ethos combinam-se na concorrência para definir as condutas escolares que excluirão os alunos das classes populares. A questão da desesperança e do ethos aparece de modo paradoxal para as crianças pobres, pois se espera que compensem suas carências de capital cultural através de um desempenho melhor que aqueles que possuem melhores condições econômicas e culturais. Fonte: slideplayer.com.br Desta maneira, aponta Bourdieu (p. 50): “o princípio geral que conduz à superseleção das crianças das classes populares e médias estabelece-se assim: as crianças dessas classes sócias que, por falta de capital cultural, têm menos oportunidades que outras de demonstrar um êxito excepcional, devem, contudo, demonstrar um êxito excepcional para chegar ao ensino secundário”. http://slideplayer.com.br/slide/1263382/ 109 42 COMO A ESCOLA CUMPRE A FUNÇÃO DE CONSERVAR AS DESIGUALDADES SOCIAIS? Agora que você compreendeu o que significa capital cultural converse com os seus colegas no fórum ‘do aluno’ e amplie ainda mais o se conhecimento de forma interativa. Este é um ótimo exercício. E, agora? Como o capital cultural interfere no processo de aprendizagem? Fonte: slideplayer.com.br As práticas e os métodos de ensino na escola são homogêneos, ou seja, o mesmo para todos os alunos, não se importando com a diversidade cultural entre eles, não atentam para as especificidades como as carências de cada pessoa associada a uma dada classe social. A escola trata todos “os educandos, por mais desiguais que sejam eles de fato, como iguais em direitos e deveres, assim, o sistema escolar é levado a dar sua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura”. Pode-se afirmar que a escola nega o princípio de isonomia da justiça liberal (inclusive), pois não trata particularmente cada um de maneira adequada às suas necessidades. http://slideplayer.com.br/slide/10349854/ 110 Fonte: educaja.com.br Ou seja, há um tratamento igual (baseado no modelo da cultura formal das classes superiores) que reproduz as desigualdades já existentes tanto nas condições simbólicas (como a linguagem) quanto nas condições materiais (econômicas). Veja nas palavras do próprio Bourdieu: “Ao atribuir aos indivíduos esperanças de vida escolar estritamente dimensionadas pela sua posição na hierarquia social, e operando uma seleção que – sob as aparências da equidade formal – sanciona e consagra as desigualdades reais, a escola contribui para perpetuar uma sanção que se pretende neutra, e que é altamente reconhecida como tal, nas aptidões socialmente condicionadas que trata como desigualdades de ‘dons’ ou de mérito, ela transforma as desigualdades de fato em desigualdades de direito, as diferenças econômicas e sociais em ‘distinção de qualidade’, e legitima a transmissão da herança cultural.” http://educaja.com.br/2012/04/alunos-com-necessidades-especiais-na-escola-e-a-importancia-da-parceria- 111 Segundo a lição de Bourdieu, não é possível haver igualdade diante das desigualdades pré-existentes. Como cobrar as mesmas coisas para pessoas com condições materiais e simbólicas totalmente diferentes? As estatísticas dos vestibulares da UFU mostram que em dez anos nenhum aluno da rede pública conseguiu ingressar no curso de medicina (o mais concorrido desta instituição). Seria porque nasceram burros? Porque estudaram pouco? Ou porque não estudaram nas mesmas instituições e cursinhos que os alunos aprovados? Ou porque não tiveram tempo ($) suficiente para aprenderem inglês no CCA e matemática no Kumon? Talvez seja porque seus professores da rede pública precisaram pegar 32 aulas por semana em 18 salas diferentes, com cerca de 40 112 alunos em cada (360 alunos ao todo), fazendo com que seu tempo fosse bastante pequeno para que pudessem preparar melhor as aulas. Aulas as quais a direção da escola e o governo não deram apoio nenhum além do livro didático de História escrito por um bacharel em Direito. Ou então talvez porque os alunos tiveram que trabalhar de atendente de telemarketing para ajudar nas despesas de casa. Vai saber! 43 VIOLÊNCIA SIMBÓLICA Nas próximas aulas você continuará a ter contato com o conceito de capital cultural, entretanto, aliado a outro não menos importante conceito de Bourdieu: violência simbólica. Desigualdades sociais incorporadas na escola: A violência simbólica Importante iniciar aqui com a compreensão do termo violência simbólica. O adjetivo simbólico adverte que esta violência não é física nem aparente e, de certa forma, é invisível, na medida em que para compreendê-la será necessário desvendar alguns pontos presentes na prática pedagógicas. Examine as suas experiências tanto pessoal quanto o contato com outras pessoas, colega, vizinhos, família e identifique que tipos de violência simbólica é possível lembrar. Será que a violência existente na escola tem alguma relação com a violência simbólica nesta mesma escola? Como visto anteriormente, a escola tende a reproduzir a cultura dominante de forma homogenia sem considerar a diversidade de saberes que a compõe e, neste sentido, exclui alunos que não conseguem incorporar a estrutura dos valores dominantes, considerados legítimos. Contudo, a transmissão de conhecimento não forma pessoas críticas e com autonomia para pensar a partir de categorias que lhes são próximas, construindo sentidos para a aprendizagem. A reprodução das estruturas econômicas e sociais na escola e, consequentemente a exclusão dos alunos menos favorecidos promove a violência simbólica, na medida em que as dificuldades dos alunos são vistas como naturais e inerentes às suas capacidades 113 individuais, quando na prática devem ser compreendidas analisando a exclusão que a própria sociedade impõe. Fonte: nepfhe-educacaoeviolencia.blogspot.com.br 44 BOURDIEU E A EDUCAÇÃO Uma contribuição importante de Bourdieu foi a noção de que o chamado fracasso escolar não é um resultado que depende exclusivamente do aluno, pois a escola não é um ambiente neutro. Existe influência dos agentes que participam das instituições de ensino no processo de desempenho educacional, interferindo diretamente no sucesso ou fracasso escolar. Bourdieu (1998) argumenta que os problemas na educação são de ordem social, que por meio de leis e projetos define quem serão os melhores e, assim, exclui a concorrência justa. Percebe que os problemas da escola estão ligados diretamente à estrutura social e não será com leis e regras internas ou usadas para resolver o problema da e na escola que irá acabar com as dificuldades enfrentadas. É preciso entender que a escola é fruto de uma sociedade e compreender como esta funciona, quais são suas http://nepfhe-educacaoeviolencia.blogspot.com.br/2010/10/estudo-mostra-que-apos-repetencia-aluno.html 114 características, sua história, sua cultura, é essencial para pensar em uma educação transformadora, porque mudar a escola significa também operar mudanças no próprio ambiente escolar. Fonte: ccfjm.blogspot.com.br O termo violênciasimbólica, que na visão de Bourdieu (1998), consiste em uma ação arbitrária imposta por um grupo de poder dominante e imposto a todos como algo natural, é um instrumento importante para compreender a dinâmica da escola e a função do currículo nas práticas escolares. Para a apreensão mais efetiva o conceito de violência simbólica, vamos fazer uma breve revisão no conceito de capital cultural. É o que se apresenta a seguir: 45 CAPITAL CULTURAL Revisando o conceito: O Capital Cultural é a tradução de toda experiência intelectual e cultural que o indivíduo adquire por meio das relações de socialização, sejam socialização primária, no contexto familiar, ou secundária, em outros ambientes de convivência. Este capital irá definir o sucesso ou o fracasso no contexto da meritocracia tanto escolar quanto profissional. Ou seja, por mérito alcançam-se determinados lugares. A discussão, portanto, está na palavra mérito. O termo capital que poderia ser entendido na sua relação econômica, ou seja, tem capital que possui dinheiro investido, ganha outro adjetivo. O que se pode adquirir com o dinheiro: livros, idas à biblioteca, cinema, enfim, o investimento feito http://ccfjm.blogspot.com.br/2009/02/exclusao-social.html 115 pela elite econômica, gera uma relação entre os capitais que se traduz no capital simbólico (cultural) e tem relação de poder sobre os demais, sendo esta influência do capital simbólico chamada de poder simbólico. A relação de dominação do capital simbólico passa a ser vista como legítima e não como um tipo de violência que é imposta pelos valores, condutas e atitudes de uma determinada classe. O pertencimento a um determinado grupo é constituído a partir do capital cultural que cada indivíduo traz consigo. Quando mais capital cultural é assimilado maior é o poder e a visibilidade. Fonte: www.google.com.br Observe a imagem. O universo cultural dos alunos diante de um professor que transmite o conhecimento no lugar de problematiza-lo faz diferença no processo de aprendizagem. Para aqueles que não assimilam os códigos culturais dados pelo professor (Veja: literatura, música e artes plásticas), o ‘aprender’ transforma-se numa atividade angustiante. Agir de acordo com os interesses da classe dominante é o jogo de poder do qual fala Bourdieu, referindo-se ao poder simbólico que, na prática produz o que se viu acima, a violência simbólica. Sucesso para uns e fracasso para outros. Ao entrar http://www.google.com.br/search?q=capital%2Bcultural&espv=2&rlz=1C1ASUT_pt- 116 para a escola o indivíduo traz consigo traços definidores da sua cultura e de seu desempenho. Na perspectiva de Bourdieu, os problemas educacionais não podem ser resolvidos sem antes resolver os problemas sociais para garantir condições de igualdade de oportunidades. Condições em que a escola deixa de ser uma instituição reprodutora da cultural dominante para ser uma instituição produtora do saber. 46 A SOCIOLOGIA NA ESCOLA Essa análise sobre a escola, baseada em volumosas e importantes pesquisas com levantamento de dados empíricos sobre a realidade escolar, criou novos referenciais teóricos para a compreensão da educação escolar na sociedade capitalista dos anos sessenta do século XX. Até hoje, ela se constitui como um dos principais paradigmas para os estudos sociológicos da educação: A grande contribuição da Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu foi, sem dúvida, a de ter fornecido as bases para um rompimento frontal com a ideologia do dom e com a noção moralmente carregada de mérito pessoal. 117 Fonte: alencarcaroline.wordpress.com A partir de Bourdieu, tornou-se praticamente impossível analisar as desigualdades escolares, simplesmente, como frutos das diferenças naturais entre os indivíduos. Se essa Sociologia denunciou o papel de legitimador das desigualdades sociais, trazemos também para análise a proposta transformadora da escola. Mais do que uma realidade existente – como a analisada e denunciada pela sociologia reprodutivista – a educação transformadora consiste em uma proposta que parte do desafio de construir uma escola que esteja, não a serviço dos grupos dominantes da sociedade no que diz respeito à preservação dos privilégios, mas comprometida com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. O ponto de partida da educação transformadora, que tem caráter fortemente crítico, é a constatação de que a escola não transforma diretamente a sociedade, mas instrumentaliza os sujeitos que, na prática social, realizam o movimento de transformação. Isto é, a escola tem a especificidade de, do ponto de vista da formação humana, garantir a apropriação de elementos da cultura que se transformem, na prática social, em instrumentos de luta no enfrentamento da desigualdade social. Em uma perspectiva crítica, que concebe a educação como um processo de instrumentalização dos sujeitos para a prática social transformadora, Saviani define a função da escola como sendo a de uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado. 118 Fonte: pt.slideshare.net Isso significa afirmar que a educação escolar tem como principal função promover a consciência dos educandos para a compreensão e transformação da realidade. Sobre a educação transformadora você aluno e aluna não podem deixar de conhecer mais de perto as grandes contribuições que o educador brasileiro, referência em todo o mundo, Paulo Freire trouxe para o pensamento educacional. Sugiro que registre em seu caderno de notas. Compreender Paulo Freire é aproximar da história de educação brasileira. 47 PAULO FREIRE: A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO EDUCACIONAL BRASILEIRO. A biografia de Paulo Freire revela momentos importantes da educação brasileira, como você verá a seguir: Paulo Régis Neves Freire, educador pernambucano, nasceu em 19/9/1921 na cidade do Recife. Foi alfabetizado pela mãe, que o ensina a escrever com pequenos galhos de árvore no quintal da casa da família. Com 10 anos de idade, a família mudou para a cidade de Jaboatão. Na adolescência começou a desenvolver um grande interesse pela língua portuguesa. Com 22 anos de idade, Paulo Freire começa a estudar Direito na http://pt.slideshare.net/wilfelix5/educao-transformadora 119 Faculdade de Direito do Recife. Enquanto cursava a faculdade de direito, casou- se com a professora primária Elza Maia Costa Oliveira. Com a esposa, tem teve cinco filhos e começou a lecionar no Colégio Oswaldo Cruz em Recife. No ano de 1947 foi contratado para dirigir o departamento de educação e cultura do Sesi, onde entra em contato com a alfabetização de adultos. Em 1958 participa de um congresso educacional na cidade do Rio de Janeiro. Neste congresso, apresenta um trabalho importante sobre educação e princípios de alfabetização. De acordo com suas ideias, a alfabetização de adultos deve estar diretamente relacionada ao cotidiano do trabalhador. Desta forma, o adulto deve conhecer sua realidade para poder inserir-se de forma crítica e atuante na vida social e política. Fonte: www.youtube.com No começo de 1964, foi convidado pelo presidente João Goulart para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização. Logo após o golpe militar, o método de alfabetização de Paulo Freire foi considerado uma ameaça à ordem, pelos militares. Viveu no exílio no Chile e na Suíça, onde continuou produzindo conhecimento na área de educação. http://www.youtube.com/watch?v=WJryIAcbRRE 120 Sua principal obra, Pedagogia do Oprimido, foi lançada em 1969. Nela, Paulo Freire detalha seu método de alfabetização de adultos. Retornou ao Brasil no ano de 1979, após a Lei da Anistia Durante a prefeitura de Luiza Erundina, em São Paulo, exerceu o cargo de secretário municipal da Educação. Depois deste importante cargo, onde realizouum belo trabalho, começou a assessorar projetos culturais na América Latina e África. Morreu na cidade de São Paulo, de infarto, em 2/5/1997 Atualidade de Freire está em colocar o ser humano, aquele que por muito tempo esteve invisível diante da cultura dominante, como uma categoria central da sua pedagogia. Se você observar bem verá que a concepção freirianas se insere nas teorias críticas e pós-críticas, primeiro por denunciar a desumanização e a opressão como estratégia fundamental para a libertação e transformação social. Uma Teoria da educação de inspiração freireana necessariamente deverá contemplar eixos centrais do pensamento de Paulo Freire, quais sejam: o que, como, para que, para quem, a favor de quem? Fonte: sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/2013/10/paulo-freire-educador-e-escritor.html 121 Neste sentido os conteúdos e em termos gerais o conhecimento, são questões centrais que vem dominando as discussões curriculares tanto na ótica de algumas teorias quanto nas políticas públicas, e mesmo nas escolas: quais os conteúdos que são relevantes frente a contemporaneidade, aos desafios postos pela globalização. 48 FREIRE E BOURDIEU Paulo Freire se aproxima de Bourdieu na medida em que os dois estão interessados em denunciar as relações de classe presente na escola e consequentemente, as desigualdades sociais. Para Freire, a escola ensina muito mais que conteúdos, ensina uma forma de ver o mundo. Neste sentido, o que ensinar não poder estar desvinculado de outras questões que precisam ser feitas no ato de educar: quem educa? Por que educa? O que ensina? Como ensina? A quem serve, contra quem e a favor de quem? As dimensões devem ser vistas em seu conjunto. Fonte: sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/2013/10/paulo-freire-educador-e-escritor.html 122 A diversidade é reflexo da nova configuração social em que o acesso à educação fruto de lutas por direitos e do fortalecimento da democracia se constitui uma realidade que não pode ser negada. Para Freire a organização do conhecimento na escola não passa pelo viés dos conteúdos mas pelas relações que se possam estabelecer no entorno do ato educativo; a vida cotidiana da escola como um todo diz respeito ao ato educativo. Um campo vivo de possibilidades e incertezas. A vida cotidiana está no centro do currículo. Freire entende que não se muda a cara da escola por portaria, por pacotes pensados por uma dúzia de iluminados, para ser aplicado nas escolas. Aqui ele aponta para a noção do conhecimento como uma construção teórico/prática, sendo imprescindível a participação, a dialogicidade no processo de elaboração curricular. Freire compartilhou com Giroux a perspectiva de uma pedagogia radical, libertadora. Para ele, a linguagem da educação é contextual e deve ser compreendida em sua gênese e desenvolvimento como parte de uma rede mais ampla de tradições históricas e contemporâneas, de forma que possamos nos tornar autoconscientes dos princípios e práticas sociais que lhe dão significado. Tomando a linguagem como prática de significação, Giroux(1997) coloca a necessidade de se analisar as condições históricas de construção de um discurso. Para ele, nenhum projeto teórico está pronto, e cada ensaio tem que ser lido de novo pela compreensão que pode trazer ao momento presente. Neste sentido, tomando a educação como prática de significação, o pensamento de Paulo Freire 123 pode ajudar a escola a contribuir na construção de outras subjetividades, inconformistas, que pervertam os sentidos impostos pelo capitalismo sob a ótica de valorar a tudo por sua qualidade de troca. Sob a perspectiva freireana, a luta por significados é uma luta política, reafirmando-se portanto a urgente politicidade da educação. Em seu livro A pedagogia da autonomia, Freire (2002), pontua uma questão que nos interessa de perto e veremos a seguir. Ensinar exige respeito aos saberes do educando Ao professor cabe respeitar os saberes do educando e mais do que isto, reconhecer que tais saberes são parte de um processo social construído na prática comunitária e discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. Nas palavras de Freire: Deve-se aproveitar a experiência que tem os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à saúde das gentes. Por que não há lixões no coração dos bairros rios e mesmo puramente remediados dos centros urbanos? Esta pergunta é considerada em si demagógica e reveladora da má vontade de quem a faz. É pergunta de subversivo, dizem certos defensores da democracia. Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Por que não estabelecer uma necessária "intimidade" entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? 124 49 ESCOLA: UM AMBIENTE POLÍTICO Por que não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso dos dominantes elas áreas pobres da cidade? A ética de classe embutida neste descaso? Por que, dirá um educador reaccionariamente pragmático, a escola não tem nada que ver com isso. A escola não é partido. Ela tem que ensinar os conteúdos, transferi-los aos alunos. Aprendidos, estes operam por si mesmos. Exatamente neste ponto há uma crítica à perspectiva freireana, a de enfatizar as relações políticas e sociais presentes na construção e elaboração do conhecimento. A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo. Em meio a uma estrutura social que se constitui como classista e exploratória, diariamente moldando o pensar dos indivíduos, fazendo-os objeto dócil de dominação e negando a sua condição de humano, a emancipação político-social e educacional deve constituir-se como combustível que mova a esperança de libertação de uma opressão cruel e desumana imposta a uma determinada classe. Diante disso, a pergunta que deve ser feita, com base em uma práxis educativa e emancipadora é então, como transformá-la? Para Paulo Freire, uma educação que tenha como viés a conscientização dos educandos-educadores, o engajamento político, a denúncia das estruturas desumanizantes por parte dos oprimidos e a valorização de uma ética universal do ser humano que em seu bojo está a serviço do status quo vigente, são características indispensáveis para se ousar tal transformação, ou nas palavras de Paulo Freire ousar ser mais. Veja uma dica do mestre para você que irá se tornar um educador: 125 Fonte: images.slideplayer.com.br Nesse sentido a educação de que precisamos deve ser capaz de construir humanidade através da efetivação de um processo educacional libertador, crítico e subjetivo, permitindo o diálogo como forma de construção do conhecimento e valorização dos saberes individuais. Excluindo os variados modelos de educação que entende o processo de ensino aprendizagem como depósito e acúmulo de conhecimentos e o educando como recipiente vazio pronto para ser preenchido com conteúdo, regras e fórmulas. A partir dessa necessidade de humanização, afirma Freire: Contudo, tais saberes, bem tipicamente freiriano, devem ser concebidos na prática. Não existe um saber modelar em que como numa cartilha o educador se inspirará para realizar seu ofício. Não. A prática é a principalfonte formadora do educador. http://images.slideplayer.com.br/3/376523/slides/slide_2.jpg 126 Esta prática produz um sujeito autônomo que se convence que ensinar não é transferir conhecimentos mas criar possibilidades para a sua construção. Formação do indivíduo que é uma característica e função da educação é vista por Freire não como uma ação que dá forma ou estilo a uma alma ou a um corpo indeciso e acomodado. O educador e o educando não são, apesar de suas diferenças, objetos um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar. Por isso é que, do ponto de vista gramatical, o verbo ensinar é um verbo transitivo-relativo. Verbo que pede um objeto direto - alguma coisa - e um objeto indireto - a alguém. Do ponto de vista democrático, em que o autor declaradamente se situa, na compreensão do homem e da mulher como seres historicamente inacabados. 50 ENSINAR É TRANSFORMAR A concepção do ensinar de Paulo Freire promove reflexões importantes sobre a dinâmica do currículo na medida em que como foi alertado nas aulas anteriores a dimensão de redes de significados estão presentes assumindo que conhecer é um ato dialógico e humanizador. A experiência que tive nos anos 90 na UFES como monitora e depois como coordenadora do Projeto de Extensão do Centro de Educação para Educação de Jovens e Adultos me ensinou que o diálogo é importante para mediar a aproximação com o mundo, e é a partir desta mediação que acontece a aproximação da cultura do educador e educando, produzindo novos sentidos e significados. Estas lições aprendi na prática tendo Paulo Freire como mestre. 127 Fonte: pensador.uol.com.br O educador brasileiro nos leva a refletir acerca da mudança deste quadro alienador e injusto, o qual se estabelece dentro da nossa sociedade atual, permitindo através de seu trabalho humano-pedagógico-político e social entender a necessidade do despertar de uma consciência crítica nas pessoas para o fato de que não somos seres determinados, mas seres de liberdade, assim Freire em sua busca incessante pela denúncia de uma estrutura social que desumaniza as pessoas, buscou anunciar a boniteza da vida e o inacabamento das pessoas rechaçando os vários discursos deterministas vinculados pela classe opressora, nos quais a ideia central é que a sociedade é assim mesmo e que não pode ser modificada. Freire insistiu veementemente em denunciar as estruturas desumanizantes existentes em nossa sociedade, por entender que os oprimidos ao despertarem de sua situação de opressão que é tida como condição dada e imóvel despertará para uma construção social perfeitamente superável, pois segundo ele é necessário que o oprimido libertando-se de sua situação de opressão liberte também o opressor, que não se percebe cativo da exploração promovida por ele e não tem nenhum interesse em perceber. Campina Grande, REALIZE Editora, 2012 13 Ao observarmos ligeiramente as escolas brasileiras, é possível perceber um silêncio nos espaços https://pensador.uol.com.br/frase/NTI4NjQw/ 128 onde deveriam acontecer calorosas discussões, no entanto falar, em um sistema que oprime falar/questionar é um ato de rebeldia, sujeito a punições. Estaria certo então o educador Moacir Gadotti, ao afirmar que “A educação para a fala, para a formação do orador (no sentido daquele que defende seus direitos), seria um suicídio para a sociedade opressiva.” (GADOTTI, FREIRE e GUIMARÃES, 1995, p. 90). Fonte: www.blogdopedroeloi.com.br O processo de humanização das pessoas através da estrutura educacional perpassa pela conquista da conscientização dos alunos, através do qual estes envolvidos em um processo de alfabetização política como possibilidade de leitura de sua realidade tomam como base a sua experiência para o entendimento da sociedade e o domínio da palavra como instrumento de poder, nesta perspectiva afirma Freire, “Não há palavra verdadeira que não seja práxis”. http://www.blogdopedroeloi.com.br/2015_07_01_archive.html 129 Daí dizer que a palavra verdadeira seja transformar o mundo” (FREIRE, 2005, p.89). Mas, o que Freire entendeu por palavra? Palavra é o ser humano transformando em diálogo, palavra é a comunhão com o outro como testemunho e doação e, consequentemente, como existência, porque existir “humanamente é pronunciar o mundo, é modificá-lo” (FREIRE, 2005, P.90) porque não é no silêncio que os homens se fazem e sim na ação reflexão. 51 A SOCIEDADE NA VISÃO DE FREIRE Como visto a própria dimensão política é tocada tendo em vista que os lugares são ressignificados. O lugar do professor adquire importância histórica tanto quando o lugar do aluno e estes promovem um encontro cultural, ou melhor, multicultural em que aprende-se ensinando e ensina-se aprendendo. Na visão freireana de sociedade, esta constitui um espaço contraditório de relações sociais historicamente tecidas. “Fechada” – é como ele via a sociedade brasileira, nos anos 60. Não tardaria a enfrentar traços semelhantes, em outras sociedades latino-americanas. E para além delas, afinal o Capitalismo se estende pela maior parte das por onde, “andarilho da Utopia”, teve que peregrinar. Sociedade de contradições extremadas, terreno propício para a formação de situações de dualidade, algo como uma esquizofrenia individual e coletiva, a afetar opressores e oprimidos, estes, sobretudo, condicionados a uma situação. 130 Terreno fértil para a fermentação da diversidade de justificativas ideológicas introjetadas pelo opressor e alimentadas pelo oprimido coisificado. Apesar de toda a carga ideológica administrada aos oprimidos, estes, uma vez estimulados a recuperar sua identidade de sujeitos de sua história. Mediante debates, encontros, engajamento nas lutas, passam a se conscientizar, a descobrir a sociedade em que vivem. À medida que constroem ferramenta capaz de romper o véu ideológico em que se acham envoltos os mecanismos de opressão, vão descobrindo o caráter histórico, e portanto mutável, da sociedade. De meros integrantes acríticos de uma classe sofrida (“classe em si”), passam também a identificar-se criticamente enquanto membros de uma classe, sabendo a favor de quê e de quem e contra quê e contra quem são historicamente desafiados a lutar. E aqui, vão percebendo que sempre vale a pena dialogar com os iguais e com os diferentes, com quem vão aprendendo e se completando; nunca, porém, com os antagônicos: é trabalho perdido, além de ameaça de suicídio, é pretender o diálogo do pescoço com a guilhotina. Essa proposta pressupõe que a escola, para exercer sua função transformadora no sentido de contribuir para a democratização da sociedade, não pode abrir mão de sua responsabilidade específica que é a de garantir que os sujeitos sociais se apropriem – de forma crítica e reflexiva – do saber elaborado pela cultura a qual pertencem. Nesse sentido, é importante que o educador compreenda a complexidade da realidade social na qual ele atua. Não basta para isso conhecer a realidade, é preciso pensar sobre ela, tendo as diferentes teorias educacionais como referência. Escola pública e desigualdade social. A escola pública é a maior expressão da escola com instituição social, aquela que tem sua origem na modernidade, exigência do modo de produção capitalista moderno industrial. No Brasil, podemos considerar como marco histórico do surgimento da escola pública o Manifesto dos Pioneiros Pela Educação Nova por seu conteúdo escolanovista. 131 Esse Manifesto foi mais um documento de política educacional do que um documento didático-metodológico, como encontramos muitas vezes na literatura pedagógica. Sua proposta estava plenamente integrada ao contexto social, político e econômico da consolidação do capitalismo industrial no Brasil, cujo papel da escola estava voltado para a formação dos sujeitos sociaispara esse desenvolvimento. Isso explica porque o Manifesto trouxe a público da forma mais veemente na história da educação brasileira a defesa da escola para todos, um dos mais importantes princípios da educação burguesa. A escola para todos - pública - defendida no Manifesto em contraponto à escola da Reforma Francisco Campos, era a escola única (significando igualdade de oportunidades), laica (livre de doutrinas), gratuita (sob a total responsabilidade do Estado), obrigatória (até 18 anos) e para ambos os sexos. 52 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA PARA OS PIONEIROS DA ESCOLA NOVA Nas próximas linhas você fará uma revisão do que viu em história da Educação, agora identificando pontos importantes para compreender a sociologia educacional. Você já sabe que para os Pioneiros, a função social da escola (campo específico da educação) explicitava-se pela sua organização como instituição social limitada na sua ação educativa pela pluralidade e diversidade das forças que concorrem ao movimento das sociedades, considerando que, entre todos os deveres do Estado, a educação é o maior. 132 Fonte: slideplayer.com.br Saviani (2007) faz uma cuidadosa análise do Manifesto dos pioneiros considerando-o heterogêneo e contraditório, pois expressa princípios elitistas e, ao mesmo tempo, princípios igualitaristas. Como documento doutrinário da Escola Nova, o Manifesto traz uma proposta de política educacional em defesa da escola pública e de um sistema nacional de educação pública. No entanto, podemos encontrar nele a marca da dualidade: a escola teria função homogeneizadora dos indivíduos nos níveis primários e secundários de ensino e função diferenciadora no nível superior (universitário). Todos estes embates ocorreram, como você já sabe, no início dos anos trinta do século XX, e durante o Estado Novo (de 1937 a 1945) acirraram-se ainda mais, pois a Reforma Capanema regulamentou um sistema de ensino centralista, burocratizado, dualista (diferenciando fortemente o ensino secundário do profissional) e corporativista (criando no ensino profissional o ensino industrial, agrícola e comercial, além do curso normal para formação de professores). O pacto com a Igreja, que a Reforma Capanema manteve, tinha uma abordagem de “renovação conservadora”, isto é, nos aspectos pedagógicos defendia novos métodos – inspirados na Escola Nova –, mas nos sociopolíticos era extremamente conservador. http://slideplayer.com.br/slide/2751619/ 133 Com o fim do Estado Novo em 1945, as discussões em torno da Constituição de 1946 trouxeram de volta os Pioneiros e, com eles, as forças hegemônicas na comissão para elaboração da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1961. É importante você entender este contexto da criação da primeira LDB. O principal conflito vivido entre Pioneiros e Católicos no processo de elaboração da LDBEN foi entre a escola pública e a escola privada. Centrada na figura de Anísio Teixeira, a defesa da escola pública, universal e gratuita foi fortemente atacada pelos católicos que, identificando-a com a proposta comunista de organização da educação, contrapunham a hierarquia da Família, Igreja e Estado na responsabilidade educacional. Em defesa da escola pública estavam três principais correntes do pensamento pedagógico brasileiro segundo Saviani (2007): liberal-idealista, liberal- pragmatista e socialista. Por outro lado, esse conflito não ficou restrito aos educadores empolgando a opinião pública: a imprensa católica e a imprensa leiga fomentaram as discussões para o conjunto da população. A primeira LDB, a Lei n° 4024/61 – LDBEN – definiu a construção do Plano Nacional de educação em 1962. 134 53 ENTENDENDO A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO Fonte: sociologiadaeducacaouff.blogspot.com.br É importante que à medida em que você revê estes conhecimentos você possa também fazer um link com o pensamento de Bourdieu e Freire, analisando o caráter neutro da escola, ou crítico. Para isto, veja a citação de Florestan Fernandes, que você conheceu um pouco no módulo I. Com a LDB, de 1961 e a criação do Plano Nacional de Educação em 1962, o investimento financeiro na educação subiu para 12% dos recursos da União, a política educacional a esse investimento articulada pretendeu enfrentar o grave problema do analfabetismo, da evasão escolar e do afunilamento do sistema de ensino. A estrutura criada foi a do ensino primário, ensino médio (ginasial e colegial) e ensino superior. Propunha também a valorização da formação de professores, a implantação do tempo integral nas 5a e 6a séries (artes industriais). Essas medidas legais, que consolidaram o ensino público, tomaram ainda mais importância no início dos anos sessenta, desde 1945, vinha vivendo um período de redemocratização, acompanhado pelo crescimento econômico do http://sociologiadaeducacaouff.blogspot.com.br/2014/09/forum-i-sociologos-brasileiros.html 135 capitalismo industrial. O papel dos movimentos sociais sempre marcou uma diferença no pensamento educacional brasileiro. Muitos destes influenciados pelo pensamento do educador Paulo Freire que atuava frente aos Círculos de Cultura, com atenção especial à educação de jovens e adultos, na intenção de discutir a função da educação no sistema de reprodução das desigualdades e injustiças sociais. Fonte: resistenciaemarquivo.wordpress.com Os movimentos sociais populares do início dos anos sessenta trouxeram importantes discussões acerca da organização do ensino e dos processos educativos. As defesas da cultura popular e a da educação popular foram compreendidas como formas de garantir o processo de conscientização necessário para a organização igualitária da sociedade brasileira. Nesse momento, as discussões sobre a escola pública deram lugar a propostas de educação popular vinculadas aos grupos sociais populares. Esses movimentos tiveram também a participação de um novo setor da Igreja Católica, articulado em torno da Teologia da Libertação. 136 Fonte: pt.slideshare.net Como já foi dito, um dos mais importantes representantes desse movimento de educação popular no início dos anos sessenta é Paulo Freire com a pedagogia libertadora. Tendo como referência a escola nova e teologia da libertação, principalmente no que diz respeito à ênfase da atividade sobre os conteúdos – na Pedagogia do Oprimido vemos a valorização da atividade para a conscientização política transformadora –, esses movimentos tiveram fim no golpe militar de 1964. Fonte: pt.slideshare.net http://pt.slideshare.net/AfonsoMurad/10-teologia-da-libertao http://pt.slideshare.net/NILLMELLINE/pedagogia-do-oprimido-15234385 137 54 PARA ENTENDER A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL É importante que você compreenda o contexto que envolveu a criação e a consolidação da escola pública no Brasil para assim estabelecer critérios de análise da educação. Marcado pela contradição entre ideologia e economia, o período anterior ao golpe militar organizava-se sob a ideologia do nacionalismo desenvolvimentista e desnacionalização da economia. Essa contradição no conturbado governo João Goulart foi “resolvida” pelo governo militar que marcou uma ruptura política com continuidade socioeconômica, fundamentando-se na doutrina da interdependência. Fonte: slideplayer.com.br Com a implantação do Regime militar após a derrubada de Jango do poder, o reflexo direto na educação, se expressou pelas reformas implantadas, em busca da “educação que nos convém”: a aprovação da Lei 5540- 69 da Reforma Universitária e da Lei 5692-71 que organizou o ensino básico em 1º e 2º graus. O pano de fundo das reformas foi a teoria do capital humano com seus princípios da racionalidade, http://slideplayer.com.br/slide/5603303/ 138 eficiência e produtividade, isto é,o máximo de resultados com o mínimo de esforços na formação humana (investimento) que interessava ao regime político e ao modelo econômico. Essas reformas, portanto, inspiraram-se na pedagogia tecnicista, articulando a organização racional (taylorista) do sistema de ensino brasileiro com o controle de comportamento nos processos de aprendizagem (behaviorismo). 55 ESCOLA TECNICISTA Fonte: pt.slideshare.net Durante a Ditadura Militar, a escola pública expandiu-se. Essa aparente contradição, por um lado, refere-se ao modelo econômico em desenvolvimento que exigia escolarização da população, e por outro, exigia o controle da escolarização, em especial no que diz respeito ao ingresso ao ensino superior, maior foco de resistência ao regime no interior da sociedade brasileira. O governo autoritário, então, equacionou essa aparente contradição pela expansão controlada, isto é, expandiu a rede pública de ensino, criando um http://pt.slideshare.net/claudineifrutuoso/escola-tradicional-e-escola-nova 139 mecanismo interno de controle. Segundo Romanelli (2009), esse controle recaiu sobre a progressão no sistema e a qualidade da educação. A dualidade, então, cujos reflexos vivemos ainda hoje, expressou-se pela oposição quantidade- qualidade, ou seja, enquanto se expandia o atendimento à educação escolarizada pública pelo estado autoritário (quantidade), privatiza-se, gradualmente, a qualidade. Fonte: kdimagens.com A década de oitenta, com o fim da Ditadura Militar, foi um período muito fecundo nas discussões sobre a educação e a organização do ensino, em especial, sobre a escola pública na perspectiva crítica e transformadora. No entanto, essas posições críticas representavam um setor que, embora tivesse muita penetração entre os educadores, não se consolidou como hegemônico, conferindo uma linha político-pedagógica crítica e transformadora na organização do sistema de ensino. Podemos afirmar que a política oficial centrava-se na expansão do ensino e as forças contra-hegemônicas apontavam duas correntes distintas: 1. A renovação dos processos de ensino propostos pela educação libertadora, principalmente no que diz respeito ao processo de conscientização dos sujeitos educandos e, http://kdimagens.com/imagem/quem-nao-entendeu-levante-a-mao-856 140 2. A valorização da educação escolar das tendências marxistas em defesa da escola pública. No entanto, as forças hegemônicas neoliberais avançavam no campo das políticas púbicas da educação. Essa situação se expressa de forma muito clara no processo de elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – que, iniciado em 1988 com a promulgação da Constituição Federal, consolidou-se na promulgação da Lei no 9394-96. De acordo com a professora Tozoni-Reis a Constituição Federal, elaborada por um Congresso Constituinte apoiado pela população entusiasmada com o fim da Ditadura e o início da redemocratização da sociedade, organizou o sistema de ensino no Capítulo da Educação, expressando algumas vitórias e muitas derrotas nas teses defendidas pela mobilização em defesa da escola pública. O Fórum em Defesa da Escola Pública na Constituinte atuou vigorosamente na elaboração deste capítulo da educação e seguiu mobilizado na difícil elaboração da LDB. O clima de entusiasmo pela redemocratização arrefeceu frente ao avanço da reforma do Estado inspirado na doutrina neoliberal. A nova LDB, instrumento político da organização da educação no Brasil, traz a marca do neoprodutivismo (SAVIANI, 2007), ou seja, a renovação neoliberal da teoria do capital humano. 141 Fonte: slideplayer.com.br Essa abordagem fez com que a LDB aprovada (cuja organização popular sofreu um grande golpe no final de sua elaboração) se tornasse um instrumento para a política educacional marcada pela inclusão-excludente. Os avanços quantitativos necessários na inclusão da população em idade escolar na escola pública, não foram equivalentes à qualidade necessária. Temos que, pelo aprofundamento da crise de qualidade na escola pública, uma enorme parte da população é excluída do processo de apropriação da cultura como instrumento transformador na prática social. Entenda o que diz a professora Tozoni-Reis: http://slideplayer.com.br/slide/379078/ 142 56 E COMO FICA A FORMAÇÃO? Se por um lado, implica na preparação dos sujeitos sociais para esse modo de produção que tem dimensão social, política, econômica e cultural, caracterizando o que a Sociologia identificou como um papel reprodutor das desigualdades sociais, por outro, a educação escolar pode ser considerada como um processo que oferece aos sujeitos em formação um dos mais fundamentais instrumentos para o enfrentamento dessas desigualdades. Esse enfrentamento ocorre quando a escola se organiza de modo a sistematizar a transmissão crítica e reflexiva do saber elaborado historicamente pela humanidade. Isso significa dizer que a escola, como instituição social, tem o papel de garantir aos sujeitos com oportunidades contraditoriamente desiguais a apropriação de conhecimentos, a formação de valores sociais e culturais, a preparação para o mundo do trabalho e para o desenvolvimento da prática social. Fonte: www.ocoracaovermelho.com Esse é o sentido público da escola pública: servir aos interesses públicos, aos interesses da maioria da população, embora essa seja uma tarefa contraditória. Superando o senso comum em relação à escola pública e ao poder estatal, consideremos o importante papel que o Estado tem na formulação e realização da escola pública. Assegurar escolas que facultem o acesso a todas as crianças, jovens http://www.ocoracaovermelho.com/2015/03/05/228/ 143 e adultos, bem como sua permanência em igualdade de circunstâncias, independentemente das suas condições históricas, econômicas, políticas e sociais. Embora seja fundamental reconhecer a importância política e social do avanço quantitativo do ensino público – alguns dados indicam que, de 98% das crianças brasileiras em idade própria para o ensino fundamental, mais de 90% delas estão nas escolas públicas –, as escolhas neoliberais que no Brasil definem as políticas públicas de saúde, educação, moradia e transporte – além de outros “bens comuns” –, desde a última década do século XX, têm definido uma escola pública menos pública. Isso significa uma escola menos democrática, menos inclusiva, pois voltada principalmente para a certificação e o registro estatístico do sucesso quantitativo, em detrimento da socialização do saber sistematizado. Nesse sentido, a escola pública no Brasil, orientada pelas políticas neoliberais, está voltada mais para responder aos interesses dos grandes grupos políticos e economicamente hegemônicos do que aos interesses de formação plena do conjunto da população. Fonte: slideplayer.com.br http://slideplayer.com.br/slide/366631/ 144 É visível o progressivo “desinvestimento” na Educação, nem tanto diretamente pela aplicação de percentuais orçamentários obrigatórios, mas por uma série de outros mecanismos que Romanelli (2009) chamou de “mecanismos internos de controle”. O processo de privatização do ensino, que afirma sua dualidade, é tão sutil quanto eficiente e se expressa pelos mais diferentes indicadores: Os indicadores referentes à consolidação do ingresso da população na escola, encobrem os índices de abandono e fracasso. Embora estes índices, nas últimas décadas, tenham baixado significativamente, sendo dignos de comemoração pelo conjunto da sociedade, eles têm sido manipulados politicamente pelos Governos. 57 PENSANDO NA AVALIAÇÃO Essa manipulação advém do objetivo de realizar uma avaliação essencialmente estatística. Com essa avaliação, posterga-se a urgente necessidade de alcançar níveisde aprendizagem e formação mais consistentes que garantam aos estudantes os instrumentos indispensáveis ao exercício de uma cidadania ativa. O investimento de recursos públicos na educação, cujos “gestores” insistem em se desobrigar do cuidado com a qualidade ao assumir como política pública o ingresso e a permanência das crianças na escola de ensino fundamental (na medida em que o ensino médio no Brasil ainda é quantitativamente insuficiente para atender 145 os jovens e adultos), significa, na prática, uma perda irreparável de dinheiro e uma oportunidade social mal aproveitada no sentido da formação dos sujeitos. 58 FORMAÇÃO DOCENTE Fonte: slideplayer.com.br Ao burocratizar o exercício da profissão docente, a formação e ação educativa dos professores pouco têm a contribuir para a melhoria da qualidade do ensino público. Essa burocratização provém do investimento em processos de formação e ação educativa com tendências a transformar os professores e educadores em profissionais acríticos e simples executores de tarefas pré- estabelecidas. http://slideplayer.com.br/slide/351824/ 146 De impacto muito negativo para a qualidade da escola pública é, também, o ataque neoliberal em curso contra os profissionais da Educação, docentes e não docentes, com a supressão de aspectos fundamentais das suas carreiras. Esse ataque consolida a instabilidade profissional, articulada a uma campanha pública de desvalorização social da sua imagem (para isso colaboram, por exemplo, as campanhas de substituição – direta e indireta – da ação docente na escola). Sugiro neste ponto que você acompanhe as propostas de reforma do Ensino Médio. Essa situação colabora também para o aumento da indisciplina e da violência nas escola. Então, se a escola pública no Brasil tem uma trajetória histórica marcada pela tardia implantação de um sistema nacional de ensino caracterizado, nos diferentes momentos históricos, como excludente e dual, que “lições” essa história nos traz? Lembremos que Lombardi, Saviani e Nascimento (2005) identificou na trajetória histórica da consolidação da escola pública no Brasil três projetos de desenvolvimento da sociedade brasileira em disputa nos dias atuais: 1. O projeto liberal (ou neoliberal), em sua versão mais contemporânea, o neoliberalismo – atravessou praticamente todo o século XX como hegemônico, com poucos períodos de interrupção, derrubando e assimilando teses do projeto mais conservador. 2. Projeto do “desenvolvimento econômico nacional e popular”. 3. O projeto do desenvolvimento popular cresceu no final da ditadura e consolidou-se no início dos anos 1980. A alternativa ao projeto neoliberal – o projeto de desenvolvimento econômico nacional e popular –, ao chegar ao poder pela expressiva votação do atual Presidente Lula, agiu de forma radicalmente diferente daquilo que vinha buscando. Isso significa que aprofundou ainda mais o ajuste neoliberal da economia globalizada, consolidando uma perspectiva flexibilizadora da responsabilidade do Estado em relação às políticas públicas, mesmo se considerarmos as contradições – cada vez menores – que existem nos espaços de gestão das políticas públicas deste governo. 147 59 RETRATO DA EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA Para uma pequena, mas poderosa do ponto de vista econômico e político, parcela da população há uma escola privada de melhor qualidade e, para a grande maioria, uma escola pública de menor qualidade. Lembremos que, segundo os dados do Censo Escolar de 2008, publicados em janeiro de 2009, a rede privada de ensino no Brasil é responsável por 13,3% das matrículas da educação básica, enquanto a rede pública recebe 86,7% dessas matrículas. Então, pensar em políticas públicas de educação escolarizada no nível básico no Brasil significa refletir sobre a estrutura e o funcionamento da escola pública como instituição social responsável pela formação humana que interessa ao projeto de sociedade que queremos – ou não queremos – construir. A situação acima descrita é enfrentada pela sociedade em geral e pelo poder público em particular de forma a consolidar a dualidade histórica da organização da educação brasileira. Compreendida a educação básica – e o ensino – não como direito social, mas como “mercadoria” a ser “adquirida” no mercado, a qualidade de ensino é um “valor agregado” à escola privada, tornando-a mais atrativa para aqueles que podem comprar seu produto. 148 Fonte: pt.slideshare.net Isso não significa que, na escola privada, haja garantia de qualidade na educação como formação humana que pretendemos, antes a qualidade que lhe conferem está diretamente relacionada aos interesses imediatos, aos valores éticos e políticos das elites dirigentes: individualismo, competição, consumismo etc. No que diz respeito à escola pública, vejamos como os professores, de mediadores no processo de apropriação de conhecimentos sistematizados da cultura elaborada, assumem, na lógica hegemônica da organização da sociedade, o papel de prestadores de serviço. Nesse sentido, sua formação plena para dirigir sofisticados processos de ensino e aprendizagem que garantam a apropriação crítica e reflexiva da cultura elaborada na perspectiva de formação para práticas sociais mais conscientes e consequentes, transforma- se em uma formação ligeira e superficial. http://pt.slideshare.net/pactoensinomedioufu/gesto-democrtica-ensino-mdio-ufu-03 149 Fonte: pt.slideshare.net Chauí (2004) faz importante análise do sentido neoliberal e neoprodutivista da proclamada educação continuada desses professores. A política de contratação de professores substitutos, a existência ainda significativa de professores leigos – inclusive em sua mais nova versão, os professores eventuais – e a valorização dos programas com educadores voluntários na escola são reflexos dessas referências na organização da escola pública. Essa pseudoparticipação dos grupos sociais privilegiados na forma do voluntariado em busca de qualidade na escola pública pode ser compreendida, por exemplo, quando buscamos identificar os protagonistas dos tão conhecidos programas como “adote uma escola”; “amigos da escola”, “padrinho da escola” etc. Identificados os protagonistas, reconhecemos sua inserção de classes e interesses econômicos, políticos e sociais que os move. Outra dimensão importante da flexibilização da educação como direito de todos, identificada por Lombardi, Saviani e Nascimento (2005), diz respeito à “privatização do pensamento pedagógico”. Saviani (2007) analisou essa privatização do pensamento pedagógico, identificando quatro categorias (provisórias). http://pt.slideshare.net/larissa2m1/seminrio-cruz-2 150 60 PARA VOCÊ ENTENDER O QUE SIGNIFICA CAPITAL HUMANO: Fonte: slideplayer.com.br O neoprodutivismo, fundamentado na teoria do capital humano, busca organizar o ensino a partir da necessidade de formação humana para as novas formas de produção, também flexibilizadas. Isso significa que a formação escolar pretendida refere-se às capacidades e competências presentes e expressas nos documentos que traçam parâmetros e diretrizes curriculares para a educação básica. Veja bem: Assim, os princípios da Escola Nova, também ressignificados, constituem-se no que ele definiu como neoescolanovismo, isto é, o “aprender a aprender” que, agora também, é “formação permanente” dos sujeitos educandos. Como terceira categoria, encontramos o neoconstrutivismo, expresso particularmente pela teoria do professor reflexivo: os saberes docentes centrados na experiência cotidiana. A reflexão aqui, cujos fundamentos estão na pedagogia das competências, nos comportamentos flexíveis e na responsabilidade individual, diz respeito à compreensão pragmática da experiência docente. http://slideplayer.com.br/slide/84442/151 Se na década de setenta, seus princípios eram de racionalidade, eficiência e produtividade sob o controle direto do Estado, agora, ele aparece sob o controle do mercado, da responsabilidade da iniciativa privada e das organizações não- governamentais, reduzindo os investimentos públicos pelas parceiras público- privadas. Como fica, então, o papel da escola e do profissional da educação diante deste quadro e das exigências do mundo atual? Vamos pensar um pouco, lembrando do último encontro presencial: A escola pública é uma conquista que tem suas origens na Revolução Francesa, isto é, na democratização da sociedade e na origem da modernização das sociedades como capitalistas e industriais. Esse é um fato histórico de enorme importância, pois confere à escola pública o caráter democratizante e democratizador. Contudo, sua origem histórica não a exime de problemas também historicamente incorporados, problemas a serem resolvidos e questões teóricas e práticas a serem exploradas. Fonte: slideplayer.com.br A Revolução Francesa marca o advento da sociedade capitalista e das ideologias liberais, ou seja, centradas no economia e no mercado. Uma das críticas que esta escola enfrenta, concerne à atualidade de seus conteúdos. Se por um lado, http://slideplayer.com.br/slide/9522988/ 152 o avanço neoliberal – e seu componente mais estritamente econômico, a globalização da economia – trouxe novas exigências, a escola inserida neste mundo tem o papel de preparar o aluno para conhecê-lo e nele atuar de forma adaptadora. Isto é, a escola prepara os sujeitos para atuar de forma a se adaptar às exigências desta doutrina de organização da sociedade e contribuir para seu aprimoramento, permitindo, principalmente, que o aluno tenha competência em diversas tecnologias. Fonte: cmapspublic.ihmc.us 61 CRÍTICA À TEORIA DO CAPITAL HUMANO As críticas a essa forma de organização das relações sociais veem na escola, em especial na escola pública, o papel de problematizar esse mesmo mundo atual, seus conteúdos e valores constituintes, visando questioná-lo e transformá-lo de forma a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, mais democrática, mais igualitária. A escola pública é uma instituição social, portanto, política e enquanto tal precisa desenvolver suas funções. Para isso, não significa uma formação instrumental, “interessada” na manutenção do um modo de produção capitalista moderno que, por definição material e histórica, é injusto e desigual. http://cmapspublic.ihmc.us/rid%3D1167173559346_49797337_7274/Compet%C3%AAncias%20e%20Habilidades%20que 153 A escola pública deve contribuir na formação plena – crítica – dos sujeitos sociais. Para tanto, sua “tarefa” filosófico–política é a de assegurar a cultura clássica, em cujo bojo se encontra o que há de mais universal e permanente das produções humanas e que, considerada as condições de desigualdade de nossas sociedades modernas, somente essa escola é capaz de garantir para o conjunto da população. Em síntese, a escola, articulando o novo com a tradição, será efetivamente pública se for capaz de trazer para seu interior a responsabilidade de formação plena dos sujeitos, o que significa garantir a apropriação crítica do conjunto da produção humana, ou seja: Trata-se aqui da produção de ideias, conceitos, valores, símbolos, hábitos, atitudes, habilidades. Numa palavra, trata-se da produção do saber, seja do saber sobre a natureza, seja do saber sobre a cultura, isto é, o conjunto da produção humana. Portanto, trata-se da necessidade da escola pública de assumir sua tarefa, histórica e política, de equalização da sociedade, de superação da desigualdade social, de realização de seu caráter público no sentido amplo e complexo de instituição pública de educação. Concluindo este módulo, desafio você a pensar em tudo que leu e estudou relacionando com os clássicos da sociologia e buscando identificar quais são os fundamentos sociológicos que estão na base nas análises aqui apresentadas. 61.1 Retrospectiva a partir dos clássicos: Agora você já possui informação suficiente para entender as bases sociológicas da educação. Avalie o seu conhecimento e faça uma reflexão sobre os seus valores e sua formação. Tente compreender a sua concepção de educação na relação com a sociedade. Este é um exercício importante para o exercício da sua formação. Vamos rever: No pensamento marxista, a educação é um espaço de reprodução ideológica dos interesses da classe dominante (a burguesia); em Durkheim, a educação é vista como instituição integradora essencial à ordem social; na perspectiva weberiana, a educação é fonte de um novo princípio de controlo. Se em Marx a educação pode oprimir ou emancipar o indivíduo (no sentido de “libertação”). 154 Fonte: slideplayer.com.br Em Durkheim, a educação é o mecanismo pelo qual ele se torna membro de uma sociedade (se torna “um ser novo”). A teoria da educação durkheimiana inspira- se na sua teoria sociológica geral. Durkheim interessou-se desde cedo pela educação enquanto objeto de estudo sociológico; pelo carácter social- histórico do fenómeno educativo; pelos métodos de educação de cada sociedade em determinado período histórico; pela forma como uma sociedade disciplina e integra através da educação; pela forma como favorece a realização dos seus membros. Foi o primeiro autor clássico a afirmar a educação como processo social, como fenómeno social, capaz de ser descrito, analisado e explicado sociologicamente (Sebastião, 2009: 23), como “função essencialmente social” (Durkheim, 2009: 61), como “coisa eminentemente social” (Durkheim, 2009: 94). Este clássico da pedagogia francesa, teórico fundador da sociologia da educação, considera que os fins da educação devem ser determinados pela sociologia. A sua teoria define a educação como ‘bem’ social. http://slideplayer.com.br/slide/7295299/ 155 E EM WEBER? Fonte: kdfrases.com Weber vai mais longe: a educação é fator de seleção e de estratificação sociais. Ou seja, o indivíduo passa de uma classe a outra por meio do processo de racionalização do conhecimento. Marx e Durkheim centraram-se no poder das forças externas ao indivíduo. Fonte: slideplayer.com.br Weber centrou-se na capacidade de ação do indivíduo sobre o exterior. Como sabemos, o capitalismo é, para Weber, a forma mais elevada de racionalização. http://kdfrases.com/frase/123722 http://slideplayer.com.br/slide/3667776/ 156 Numa sociedade capitalista-racional burocrática, os indivíduos distinguem-se pelas suas qualificações (havendo necessidade de “funcionários especializados”, “profissionalmente mais informados”): a educação é o elemento que contribui para a seleção social, é um dos recursos possíveis para se manter ou melhorar – o status (e quanto mais reduzido for o grupo, maior o prestígio social dos seus membros). Margaret Archer, no texto The sociology of educational systems, sintetiza, numa lógica comparativa, o pensamento dos três clássicos: os três autores partilham uma orientação comum, apesar das suas diferentes abordagens teóricas. Em primeiro lugar, unanimemente trataram a educação como instituição social macroscópica, e não como um amontoado de organizações (escolas, faculdades, universidades) ou como um conjunto de coletividades (professores, alunos e diretores), nem como um aglomerado de propriedades separadas (inputs, processos, outputs). 62 OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA Em segundo lugar, Marx, Weber e Durkheim colocaram firmemente a instituição educacional na estrutura social mais ampla e propuseram problemas interessantes sobre a sua relação com outras instituições sociais (economia, burocracia e ação política, respectivamente). Em terceiro lugar, todos os três perceberam quea posição da educação na estrutura social e sua relação com outras instituições eram a chave para compreender a dinâmica da mudança educacional. 157 Fonte: slideplayer.com.br Embora somente Durkheim tenha teorizado profundamente sobre os reais mecanismos de desenvolvimento educacional, sendo chamado de Pai da sociologia da educação, nenhum deles deixou dúvidas de que esta deveria ser uma parte integrante das suas grandes teorias – para Marx, a mudança educacional nasceu do jogo dialético entre infraestrutura e superestrutura; para Weber, ela estava associada à dinâmica de burocratização, embora esta ligação estivesse ‘escondida em algum ponto decisivo’. Fonte: slideplayer.com.br http://slideplayer.com.br/slide/50405/ http://slideplayer.com.br/slide/5652187/ 158 Para Durkheim, ela estaria, e deveria estar, unida à ação política e, deste modo, ao desenvolvimento de uma sociedade orgânica integrada e normativa. Fonte: slideplayer.com.br O pensamento dos clássicos exerce influência por ser a base do pensamento contemporâneo. Só a partir da leitura das teorias clássicas da sociologia se poderá chegar a um entendimento mínimo do que foi dito. 63 FECHANDO COM CHAVE DE OURO Observe bem o que Edgar Morin diz na sua entrevista na Rede Globo: é preciso educar os educadores Vejamos os seus argumentos: http://slideplayer.com.br/slide/353440/ 159 Fonte: pt.slideshare.net O Globo: Na sua opinião, como seria o modelo ideal de educação? Edgar Morin: A figura do professor é determinante para a consolidação de um modelo “ideal" de educação. Através da Internet, os alunos podem ter acesso a todo o tipo de conhecimento sem a presença de um professor. Então eu pergunto, o que faz necessária a presença de um professor? Ele deve ser o regente da orquestra, observar o fluxo desses conhecimentos e elucidar as dúvidas dos alunos. Por exemplo, quando um professor passa uma lição a um aluno, que vai buscar uma resposta na Internet, ele deve posteriormente corrigir os erros cometidos, criticar o conteúdo pesquisado. É preciso desenvolver o senso crítico dos alunos. O papel do professor precisa passar por uma transformação, já que a criança não aprende apenas com os amigos, a família, a escola. Outro ponto importante: é necessário criar meios de transmissão do conhecimento a serviço da curiosidade dos alunos. O modelo de educação, sobretudo, não pode ignorar a curiosidade das crianças. http://pt.slideshare.net/integrandosolucoes/pensamento-complexo-edgar-morin 160 O Globo: Quais são os maiores problemas do modelo de ensino atual? Edgar Morin: O modelo de ensino que foi instituído nos países ocidentais é aquele que separa os conhecimentos artificialmente através das disciplinas. E não é o que vemos na natureza. No caso de animais e vegetais, vamos notar que todos os conhecimentos são interligados. E a escola não ensina o que é o conhecimento, ele é apenas transmitido pelos educadores, o que é um reducionismo. O conhecimento complexo evita o erro, que é cometido, por exemplo, quando um aluno escolhe mal a sua carreira. Por isso eu digo que a educação precisa fornecer subsídios ao ser humano, que precisa lutar contra o erro e a ilusão. Fonte: educarparacrescer.abril.com.br 64 MORIN E A EDUCAÇÃO O Globo: O senhor pode explicar melhor esse conceito de conhecimento? Edgar Morin: Vamos pensar em um conhecimento mais simples, a nossa percepção visual. Eu vejo as pessoas que estão comigo, essa visão é uma percepção da realidade, que é uma tradução de todos os estímulos que chegam à nossa retina. Por que essa visão é uma fotografia? As pessoas que estão longe são pequenas, e vice-versa. E essa visão é reconstruída de forma a reconhecermos http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/melhores-frases-educacao-740713.shtml 161 essa alteração da realidade, já que todas as pessoas apresentam um tamanho similar. Todo conhecimento é uma tradução, que é seguido de uma reconstrução, e ambos os processos oferecem o risco do erro. Existe outro ponto vital que não é abordado pelo ensino: a compreensão humana. O grande problema da humanidade é que todos nós somos idênticos e diferentes, e precisamos lidar com essas duas ideias que não são compatíveis. A crise no ensino surge por conta da ausência dessas matérias que são importantes ao viver. Ensinamos apenas o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas ele também precisa se adaptar aos fatos e a si mesmo. O Globo: O que é a transdisciplinaridade, que defende a unidade do conhecimento? Edgar Morin: As disciplinas fechadas impedem a compreensão dos problemas do mundo. A transdisciplinaridade, na minha opinião, é o que possibilita, através das disciplinas, a transmissão de uma visão de mundo mais complexa. O meu livro “O homem e a morte" é tipicamente transdisciplinar, pois busco entender as diferentes reações humanas diante da morte através dos conhecimentos da pré- história, da psicologia, da religião. Eu precisei fazer uma viagem por todas as doenças sociais e humanas, e recorri aos saberes de áreas do conhecimento, como psicanálise e biologia. O Globo: Como a associação entre a razão e a afetividade pode ser aplicada no sistema educacional? Edgar Morin: É preciso estabelecer um jogo dialético entre razão e emoção. Descobriu-se que a razão pura não existe. Um matemático precisa ter paixão pela matemática. Não podemos abandonar a razão, o sentimento deve ser submetido a um controle racional. O economista, muitas vezes, só trabalha através do cálculo, que é um complemento cego ao sentimento humano. Ao não levar em consideração as emoções dos seres humanos, um economista opera apenas cálculos cegos. Essa postura explica em boa parte a crise econômica que a Europa está vivendo atualmente. 162 O Globo: A literatura e as artes deveriam ocupar mais espaço no currículo das escolas? Por quê? Edgar Morin: Para se conhecer o ser humano, é preciso estudar áreas do conhecimento como as ciências sociais, a biologia, a psicologia. Mas a literatura e as artes também são um meio de conhecimento. Os romances retratam o indivíduo na sociedade, seja por meio de Balzac ou Dostoiévski, e transmitem conhecimentos sobre sentimentos, paixões e contradições humanas. A poesia é também importante, nos ajuda a reconhecer e a viver a qualidade poética da vida. As grandes obras de arte, como a música de Beethoven, desenvolvem em nós um sentimento vital, que é a emoção estética, que nos possibilita reconhecer a beleza, a bondade e a harmonia. Literatura e artes não podem ser tratadas no currículo escolar como conhecimento secundário. Fonte: www.correiodopovo.com.br O Globo: Qual a sua opinião sobre o sistema brasileiro de ensino? Edgar Morin: O Brasil é um país extremamente aberto a minhas ideias pedagógicas. Mas, a revolução do seu sistema educacional vai passar pela reforma na formação dos seus educadores. É preciso educar os educadores. Os professores precisam sair de suas disciplinas para dialogar com outros campos de http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/tag/edgar-morin/ 163 conhecimento. E essa evolução ainda não aconteceu. O professor possui uma missão social, e tanto a opinião pública como o cidadão precisam ter a consciência dessa missão. Assista a Edgar Morin - Os limites do conhecimento na globalização | No vídeo exclusivo, Morin reflete sobre seus interesses enquanto filósofo e sociólogo: os limites do conhecimento e da razão, bem como a relação entre a poesia e a racionalidade. Ainda, questiona a possibilidade da mudança de pensamento em um mundo globalizado e acelerado. É possível sairmos de uma visão fechada em formas particulares para o pensamento complexo, capaz de ver os problemas em sua integralidade? Não deixe deassistir. Acesso para o link: https://www.youtube.com/watch?v=_FmdI-UFW1U Se você se dedicou e chegou até aqui, tenho certeza de que cumpriu com dignidade os compromissos da sua formação. Você está apto a usar os conhecimentos aqui construídos no exercício da sua profissão e da sua vida como cidadão. Parabéns por mais essa conquista! https://www.youtube.com/watch?v=_FmdI-UFW1U 164 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ARIÉS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. Brasil: história e historiografia. Campinas: Autores Associados, 2005. LUCKESI, C. C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1990. MARX, K. Manuscritos económicos-filosóficos. [S.l]: Edições 70, 1993. ENGUITA, M. A face oculta da escola. 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Campinas: Autores Associados, 2007 SAVIANI, D. Escola e democracia. 40. ed. Campinas: Autores Associados, 2008.