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Império, entendido como o não-lugar no qual se concentra a soberania que garante o desenvolvimento capitalista no cenário global. Durante a moderni...

Império, entendido como o não-lugar no qual se concentra a soberania que garante o desenvolvimento capitalista no cenário global. Durante a modernidade, o cenário internacional é composto por um conjunto de potências soberanas que, além de limitar reciprocamente sua própria soberania, dominavam as nações e regiões subordinadas. Atualmente, o Estado-nação sucumbe perante o Império que limita a soberania estatal. A soberania imperial, portanto, terá amplitude global (NEGRI, 2003, p. 49-52, 73 e 74)6. A globalização, igualmente, é espaço marcado por disputas entre grupos sociais, países e interesses hegemônicos. Atribui-se à globalização neoliberal a constituição de um modelo imperialista, na qual se apura a hegemonia de algumas nações em detrimento das outras. FMI e Banco Mundial, dentre outras, são instituições acionárias, nas quais predominam os interesses daquelas nações que tem maior poder financeiro e militar. As relações internacionais foram utilizadas para impor a doutrina da globalização que, por detrás, trazia o conteúdo imperialista que busca dividir o mundo em áreas geográficas, explorar recursos naturais e praticar investimento externo em troca da exploração de mão-de-obra a baixo custo. A globalização é uma estratégia para transformar interesses de alguns grupos em interesses supostamente universais. Na América Latina, por exemplo, reformas impopulares, como as da previdência e a trabalhista, não dependem mais de golpes militares. Ao contrário, basta a defesa de uma narrativa propagada por instituições oficiais a respeito da sua necessidade, ocultando a verdadeira razão em atender às demandas do capitalismo internacional. Os golpes não são mais militares, são midiáticos e supostamente democráticos. O capitalismo globalizado se apresenta com grande desenvoltura por meio da dispersão que se materializa pela mobilidade geográfica e pelas repostas flexíveis nos mercados de trabalho e de consumo. Tudo se apresenta sob a égide de inovações tecnológicas que resultam na elevação da informação ao patamar de mercadoria muita valorizada, bem como na reorganização do sistema financeiro global, marcado pela descentralização e desregulação de atividades e fluxos financeiros por meio da criação de instrumentos totalmente inéditos (HARVEY, 2017, p. 150-152). A crise financeira mundial de 2008 traz indícios dos riscos da globalização financeira. Os críticos da globalização estão localizados tanto à esquerda, quando à direita presente no nacionalismo dos EUA, em alguns países da Europa e também no Brasil, pós eleição presidencial de 20187. Atribuem à globalização a responsabilidade pela crise migratória e pelo fluxo de capitais que, dentre outras consequências, aumenta o trabalho precário e o desemprego. A tomada de medidas protecionistas também caracteriza essa narrativa que pretende limitar a livre circulação das mercadorias, um dos marcos da globalização econômica. Por outro lado, questiona-se o modo de vida preconizado pelo capitalismo, marcado pelo consumo em excesso, o que é incompatível com a preservação do planeta. A defesa do meio ambiente objetiva a proteção dessa e das futuras gerações. A globalização também pode atuar de forma deletéria em face das culturas locais. É possível apurar um certo predomínio da cultura norte americana e da cultura europeia sobre os demais países que são engolidos por esse processo. Se o Estado-nação suprimia manifestações culturais minoritárias, por conta de um projeto de unificação do poder, na era da globalização a diversidade das culturais locais tem dificuldade de se impor diante da presença de um modelo cultural unificado, estabelecido de forma vertical. Semelhantemente à xenofobia e ao populismo que fortalecem partidos extremistas, a globalização meramente econômica atenta contra a soberania dos povos e, consequentemente, a democracia. Nos países onde impera a desigualdade e o desrespeito aos direitos humanos, a democracia enfrenta dificuldades para ser implementada. A progressividade dos direitos sociais, dentre outros aspectos, diz respeito à democracia. O retrocesso de conquistas históricas dos trabalhadores não é compatível com regimes democráticos. A precarização das relações de trabalho é incompatível com a democracia. Se os Estados-nação têm enfrentando dificuldades em implementar a democracia plena, não parece que essa lacuna possa ser preenchida pela lógica neoliberal. Santos (2011, p. 65-66) opõe globalização de cima para baixo à globalização de baixo para cima nas formas de localismo globalizado, globalismo localizado, cosmopolitismo e patrimônio comum da humanidade. A forma de globalização localismo globalizado permite que determinado fenômeno local seja globalizado com sucesso. Isso ocorre por meio da atuação das empresas multinacionais, do predomínio da língua inglesa, da consolidação das redes de fast food, da música norte-americana, além da aplicação das leis de propriedade intelectual, de patentes ou de telecomunicações dos EUA. Constata-se, portanto, a universalização da cultura local de determinada nação que impõe sua hegemonia cultural fundada no seu poderio militar e econômico. Essa hegemonia impede o desenvolvimento de outras culturas. Trata-se, portanto, de uma globalização artificial, pois não permite que outras culturas contribuam para o processo de formação de uma cultura universal. O globalismo localizado, por sua vez, consiste no papel atribuído aos países periféricos, diferentemente dos países centrais que se ocupam em desenvolver seu localismo de forma global. O globalismo localizado imposto aos Estados do sul global se materializa pela eliminação do comércio regional, pela criação de zonas de livre comércio, pela destruição dos recursos naturais para pagamento da dívida externa, pelo uso turístico de tesouros históricos, pelo dumping ecológico, decorrente da importação de lixo ecológico pelos países pobres, pela conversão da agricultura de subsistência em agricultura de exportação, bem como pela etnicização do local de trabalho representada pela desvalorização do salário de etnias consideradas inferiores (SANTOS, 2011, p. 66). Em oposição a esse modelo de globalização, Santos (2011, p. 67-70) propõe, primeiramente, a adoção do cosmopolitismo marcado pela resistência de Estados-nação, regiões, classes ou grupos sociais, vitimados pelas trocas desiguais que alimentam os localismos globalizados e os globalismos localizados. No âmbito do cosmopolitismo, o sociólogo propõe a organização internacional dos trabalhadores, localizados em países diferentes, mas contratados pela mesma empresa multinacional. O cosmopolitismo também abrange redes internacionais de assistência jurídica alternativa, organizações transnacionais de direitos humanos, redes mundiais de movimentos feministas, organizações não governamentais transnacionais de militância anticapitalista, redes de movimentos e associações indígenas, ecológicos ou de desenvolvimento alternativo, entre outras. Recorre-se, ainda, ao patrimônio comum da humanidade, materializado pelas lutas transnacionais voltadas à proteção e desmercadorização de recursos, entidades, artefatos e ambientes essenciais para a dignidade humana, cuja a sustentabilidade deve ocorrer em todo planeta (SANTOS, 2011, p. 67-70). Ainda, a globalização neoliberal também repercute sobre o monopólio estatal da produção de normas jurídicas vinculantes. Quando se fala do declínio da soberania, destaca-se a dificuldade do Estado-nação em produzir norma cogente capaz de vincular instituições como as empresas transnacionais e sua relação com os Estados, com os

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LIB SINDICAL - Seminario 6 - ACORDOS MARCO GLOBAIS
304 pág.

Direito do Trabalho I USP - São PauloUSP - São Paulo

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