Segundo minha professora,em regra a lei NÃO RETROAGE, salvo em benefício ao réu. Mas segundo um outro professor, a lei RETROAGE. Quem está certo?
Como é de conhecimento de todos, a lei, em regra, é feita para valer para o futuro.
Segundo Maria Helena Diniz, quando uma lei modifica ou regula, de forma diferente, a matéria versada pela lei anterior, seja em decorrência da ab-rogação (revogação total da lei anterior) ou pela derrogação (revogação parcial da lei anterior), podem surgir conflitos entre as novas disposições e as relações jurídicas já consolidadas sob a égide da velha norma revogada. [2]
Sendo assim, o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves faz o seguinte questionamento: Será que é possível a aplicação da lei nova às situações anteriormente constituídas? [3]
Para solucionar tal questão, a doutrina utiliza dois critérios. O primeiro critério diz respeito às disposições transitórias, às quais são elaboradas pelo legislador, no próprio texto normativo, destinadas a evitar e a solucionar conflitos que poderão surgir do confronto da nova lei com a antiga lei. Tais normas são temporárias e conciliam a nova lei com as relações já definidas pela norma anterior. O segundo critério, como bem explica Maria Helena Diniz, diz respeito ao princípio da retroatividade e da irretroatividade das normas. [4]
A regra adotada pelo ordenamento jurídico é de que a norma não poderá retroagir, ou seja, a lei nova não será aplicada às situações constituídas sobre a vigência da lei revogada ou modificada (princípio da irretroatividade). Este princípio objetiva assegurar a segurança, a certeza e a estabilidade do ordenamento jurídico.
É possível afirmar, ainda, que o referido princípio apresenta duplo fundamento, sendo um de ordem constitucional e outro de ordem infraconstitucional. Vejamos:
O art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal prevê que: “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.” [5] Já o art. 6º, da LINDB diz o seguinte: “A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitando o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.” [6]
Sendo assim, tendo como parâmetro estes dois fundamentos, é possível observar que a regra da irretroatividade não é absoluta, tendo em vista que convive com outro preceito de direito intertemporal, que é o da eficácia imediata e geral da lei nova. Ou seja, em alguns casos a lei nova poderá retroagir. Além disso, Carlos Roberto Gonçalves afirma que a irretroatividade das leis não possui caráter absoluto, por razões de políticas legislativas, que por sua vez podem recomendar que, em determinadas situações, a lei seja retroativa, atingindo os efeitos dos atos jurídicos praticados sob o império da norma antiga. [7]
Nessa perspectiva, é possível se olvidar que a lei nova alcance os casos pendentes e futuros decorrentes de situações pretéritas que se realizem sob a égide da lei revogada, não abrangendo os fatos passados, nos quais se incluem o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
Desta maneira, é possível concluir que a regra é a irretroatividade no que diga respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e a coisa julgada, e a possibilidade da retroatividade no que diga respeito a casos pendentes e futuros. Logo, a regra é que a lei só pode retroagir, para atingir fatos consumados quando não ofender o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, e quando o legislador, expressamente, mandar aplicá-la a casos passados, mesmo que a palavra “retroatividade” não seja usada. [12] Com base em tudo que foi dito, é possível concluir que por mais que haja doutrinadores e julgados de Tribunais de Justiça entendendo que uma lei infraconstitucional não pode retroagir para alcançar o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido, entendo que em vista das recentes decisões a respeito da relativização da coisa julgada feitas pelo STF e pelo STJ, além da previsão contida no art. 2.035 do CC/02, em alguns casos excepcionalíssimos tal retroação da lei será admitida.
Sendo assim, com base em Pedro Lenza, esse cenário pode ser esquematizado da seguinte forma:
“a) As normas constitucionais, por regra, têm retroatividade mínima, aplicando-se a fatos ocorridos a partir de seu advento, mesmo que relacionados a negócios celebrados no passado – ex.: art. 7.º, IV;
b)é possível a retroatividade máxima e média da norma introduzida pelo constituinte originário desde que haja expressa previsão, como é o caso do art. 51 do ADCT da CF/88. Nesse sentido, doutrina e jurisprudência afirmam que não há direito adquirido contra a Constituição.
c)por outro lado, as Constituições Estaduais (poder constituinte derivado decorrente – limitado juridicamente) e demais dispositivos legais, vale dizer, as leis infraconstitucionais, bem como as emendas à Constituição (fruto do poder constituinte derivado reformador, também limitado juridicamente), estão sujeitos à observância do princípio constitucional da irretroatividade da lei (art. 5.º, XXXVI – ‘lei’ em sentido amplo), com pequenas exceções, como a regra da lei penal nova que beneficia o réu (nesse sentido, CF. AI 292.979-ed, rel. min. Celso de Mello, DJ, 19.12.2002).”
Referências
Tartuce, Flávio. “Direito Civil, 1: Lei de introdução e parte geral.” 6 ed. – Rio de Janeiro: Forense – São Paulo: METODO, 2010, pag. 27.
Diniz, Maria Helena. “Conflito de leis.”3. ed. rev. – São Paulo: Saraiva, 1998, pag. 36.
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, Decreto n. 4.657/1942. [Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm> Acesso em: 20 de dezembro de 2013].
Olha a confusão é normal, mas ambos estão certos. Mas tem que se observar o que eles queriam te dizer vou explicar para melhor entendimento.
Lei Penal - NÃO RETROAGE conforme o princípio da IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL. Mas ele tem uma EXCEÇÃO. A exceção é que retroage para beneficiar o réu. Leia tudo com atenção sobre o princípio logo abaixo:
Agora exemplificando temos um agente comete um crime de roubo, em 2006, e é condenado a 8 anos de prisão. Cria-se uma nova lei em 2007 dobrando todas as penas. Logo como essa lei nova de 2007 é mais severa não poderá retroagir NUNCA.
AGORA A EXCEÇÃO - No mesmo exemplo, temos um agente que comete crime de roubo, em 2006, e é condenado a 8 anos de prisão. Cria-se uma nova lei em 2007 mas reduzindo a pena pela metade, logo o agente poderá se beneficiar dessa nova lei, porque no caso de ser mais benefica retroage.
Espero que tenha entendido, qualquer duvida pode perguntar.
Complementando, Já no direito civil, a regra é da irretroatividade da lei, isso permite uma segurança jurídica. A lei produz efeitos apenas para atos futuros.A base disso é o art. 5, inciso XXXVI da Constituição:a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. No aspecto civil existem várias correntes o que leva a confusão de alguns professores porque a corrente minoritaria diz que ela retroage se atingir um maior interesse social, contanto que não recaia sobre o ato juridico perfeito, sobre o direito adquirido e sobre a coisa julgada.
É como dizem, toda regra tem exceção. Veja, a regra é o Princípio da Irretroatividade, isto é, em regra, a lei não retroage. Mas há excessões.
No caso em que você mencionou, direito penal, a lei (mais benéfica) além de retroagir¹ pode ultra-agir².
¹ exemplo: caso eu pratique hoje uma ação e que futuramente esse ato venha ser caracterizada por lei como crime, eu não poderei ser punido, ou seja, a lei não pode retroagir para me prejudicar.
² exemplo: Guilherme praticou o crime na vigência da lei “A”, (mais benéfica), posteriormente revogada pela Lei “B” (prejudicial). Neste caso a lei “A” se projetará no tempo e produzirá seus efeitos na vigência na Lei “B”.
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