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Necessito da analise da poesia Afra de souza cruz e broqueis farois

Afra

Ressurges dos mistérios da luxúria,
Afra, tentada pelos verdes pomos,
Entre os silfos magnéticos e os gnomos
Maravilhosos da paixão purpúrea.

Carne explosiva em pólvora e fúria
e desejos pagãos, por entre gnomos
a virgindade - casquinantes momos
Ruído da carne já votada à incúria.

Votada cedo ao lânguido abandono,
Aos mórbidos delíquios como ao sono,
Do gozo haurindo os venenosos sucos,

Sonho-te a deusa das lascivas pompas,
A proclamar, impávida por trompas,
Amores mais estéreis que os eunucos.

💡 3 Respostas

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Andre Smaira

João da Cruz e Sousa foi um poeta brasileiro de origem africana e, por isso, um dos maiores nomes da poesia afrobrasileira do final do século XIX.

Seu poema “Afra”, publixando no livro Broquéis, no ano de 1893, revela muito sobre a situação dos afrodescendentes que viviam no Brasil em seu tempo. Sendo também um dos percussores do simbolismo, podemos ver no poema “Afra” muitas imagens naturais, que são metáforas para acontecimentos e fatos reais.

Pode-se notar, durante o poema, imagens fortes de uma inquietude no espírito do autor, que revela certa angústia pela realidade dos negros em uma sociedade hostil aos afrodescendentes. Isto fica claro nos versos que apontam o abandono, os mórbidos delírios, amores estéreis e os desejos pagãos.

Além disso, mostra-se muito a objetificação sexual das pessoas negras, junto com seus abandonos como pessoas dentro de um contexto social.

“Afra” é um poema que caracteriza o lugar do negro na sociedade do século XIX, assim como seus sentimentos de abandono e marginalização.

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Maria Laura

(parte de uma pesquisa que desenvolvi):

No que diz respeito à exploração de conceitos opostos, dentro da lírica cruziana, o poema “Afra” constitui um exemplo oportuno, representando com excelência o conteúdo dissonante da poesia de Cruz e Sousa. “Afra” difere-se dos demais poemas eróticos de Broquéis por evocar como figura principal e representante do desejo masculino, não só permeada por formas grotescas, mas também por contornos sublimes, uma mulher negra.

            Em relação à mulher negra no século XIX, como bem se sabe, sua condição se distinguia completamente da conjuntura da mulher branca, tanto na sociedade, como em sua representação na arte. Além do preconceito exacerbado alimentado pela cor da pele escura, considerada inferior, sua condição de escrava, servil ao homem branco, contribuiu para que a mulher negra fosse reduzida a mero objeto sexual. Para Bastide, “sem dúvida, sua vida erótica sofreu a coabitação depravante da senzala e os caprichos sexuais do senhor branco” (1943, p. 75), por consequência, a mulher negra foi tida por muito tempo como, em contexto mais “generoso”, como portadora de beleza exótica, em contexto mais degradante, como portadora de uma sexualidade animalizada. Em ambos os casos, exerce sobre o imaginário sexual do Brasil escravagista como detentora de grande tensão erótica, contudo desprovida da elevação e valorização sublime que eram apenas atribuídos às mulheres brancas.  

            A presença do desejo erótico referente ao feminino em Cruz e Sousa se manifesta como uma de suas principais características. Em Broquéis, esse fato se comprova; o desejo expresso pelo poeta é, em sua maioria, claramente em relação à mulher branca e distante, respeitando as convenções advindas da tradição romântica que elevava a musa diáfana, construída de acordo com o modelo de beleza eurocêntrico, a um nível de idealização sublime e superior em relação aos outros tipos de representações femininas nas artes. O poema “Afra”, único poema em verso de Broquéis onde há explicitamente a evocação de uma protagonista negra, oferece um contraponto a esse referencial. Aqui o almejar pelo desejo é intensificado por uma sexualização (que sempre se mantém reprimida na busca da aceitação pela mulher branca) do corpo feminino que é apresentado como síntese do pecado e destinado fatalmente ao sexo, surgindo, assim como a “Lésbia”, como um corpo estranho que se adequa ao panteão das femmes fatales de Cruz e Sousa.

Ao se tratar da exígua aparição da mulher negra na obra inaugural em verso de Cruz e Sousa, é importante frisar que a demonstração de fascinação pela mulher branca teve uma clara tendência a diminuir nas obras subsequentes do autor. A ode a “Vênus Branca” muitas vezes aponta a vontade do eu lírico de transcender amorosamente a esfera ocupada pelo corpo proibido no intuito de adentrar e fixar-se em uma realidade social elevada e desconhecida pelo homem negro do final do século[I1] . Entretanto, muitas vezes, o desejo amoroso parece mais sugerir o enclausuramento, “emparedamento” e o exílio do poeta negro causado por sua cor, do que literalmente um desejo absoluto pela pele clara ou qualquer outra coisa.


 

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