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qual a premissa da frase " nada e isolado, ao contrario tudo funciona como um grande sistema"

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Fabricio Neves

https://professoragiseleleite.jusbrasil.com.br/artigos/113729033/liberdade-a-genuina-expressao-humana-ou-a-importancia-da-liberdade

O artigo tenta explicar filosoficamente e juridicamente o conceito e a importância da liberdade e a respectiva relação com outros conceitos como consciência, verdade e poder.

A liberdade é condição daquele que é livre, capacidade de agir por si mesmo. A liberdade é a expressão genuína da essência humana. É para alguns, sinônimo de autodeterminação, independência, autonomia. Spencer definiu a “a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro” assim conferiu cunho político a liberdade, traçando-lhe como possibilidade de o indivíduo exercer, em sociedade, os chamados direitos individuais clássicos, como o direito de voto de liberdade de opinião e de culto.

As liberdades formalmente garantidas figuram sempre no âmbito de alguma prática histórica contingente; essa prática é política no sentido de que impõe objetivos que temos realmente liberdade para analisar, contestar e mudar. A liberdade real encontra-se na dissolução ou mudança das comunidades organizadas que consubstanciam a natureza, tal como é, associal ou anárquica.

A filosofia de focaultiniana é um apelo crítico a essa liberdade real que resulta numa verdade diferente das verdades da ciência. Assim a pesquisa filosófica é mais que uma coleção sistemática de conhecimentos, é uma crítica que não tenta fundar o conhecimento, dotar a teoria de uma justificação. Ou defender a Razão, mas possibilitar novos modos de pensamento. É a liberdade não o fim da dominação ou como remoção da história, mas como a revolta pela qual a história pode ser constantemente mudada.

Não sendo a filosofia de Foucault prescritiva e nem meramente descritiva. É ocasião, desafio, é risco e permanece sempre sem um fim. É a ética do que o filósofo chama se dépendre de soi-même (desprender-se de si mesmo): o questionamento e a transformação constantes do papel do nosso “eu” em nosso próprio pensamento. Inventa assim uma filosofia não de fundação mas de risco, que é a interminável questão da liberdade.

Para Nietzsche, o homem livre é um lutador e a liberdade é algo que se conquista. Segundo o determinismo científico, tudo que existe tem uma causa. Tal mundo é explicado pela necessidade e não pela liberdade. Ora, se a ciência não partisse do pressupostos do determinismo, seria impossível estabelecer qualquer lei.

Não haveria conhecimento científico se tudo fosse contingente; no século XIX, o positivismo, na ânsia de aplicar o mesmo método das ciências da natureza às ciências humanas, estende a estas o determinismo, considerando a escolha livre uma mera ilusão.

A psicologia de Watson e Skinner reflete, no século XX, a influência da visão positivista nas ciências humanas. Um dos mais expressivos deterministas foi taine, discípulo de Comte, principalmente por causa de suas leis da sociologia, segundo as quais toda a vida humana se explicaria por três fatores: raça (força biológica, hereditária determinante do comportamento do indivíduo); meio (fatores geográficos, sociais, culturais); momento (o homem é fruto da época em que vive).

Tal determinismo também encontrará eco na clássica de Lombroso pela qual pela análise das características físicas dos indivíduos, poderíamos indicar o criminoso-nato.

Contrapondo-se ao determinismo surgiram teorias que enfatizam a possibilidade da liberdade humana absoluta, e do livre arbítrio.

Bossuet (século XVIII) no Tratado sobre o livre-arbítrio, diz o seguinte: “ Por mais que eu procure em mim a razão que me determina, mais sinto que não tenho nenhuma outra senão apenas a minha vontade; sinto aí claramente minha liberdade, que consiste unicamente em tal escolha. É isto que me faz compreender que sou feito à imagem de Deus”.

O filósofo personalista Mounier diz: “Enquanto se desconheceram as leis da aerodinâmica, os homens sonhavam voar; quando o seu sonho se inseriu num feixe de necessidades, voaram”.

Não há mágica, há conhecimento dos determinismos. O sonho se concretiza no trabalho do homem como ser consciente e prático. Aliás, uma das grandes contribuições de Freud é ter mostrado que o neurótico não é livre, pois se acha dominado por forças inconscientes que marcam suas ações. A cura da neurose estaria à trazer à consciência a causa oculta, ajudando o paciente a lidar com seu próprio desejo.

Tratar da liberdade do homem situado, do homem enquanto relação é mais propriamente o campo da sociologia que da filosofia. A facticidade (ou imanência) e a transcendência humanas são pólos antitéticos, ou seja, contraditórios, mas indissoluvelmente ligados.

A facticidade é a dimensão de “coisa” que todo homem tem, é o conjunto das suas determinações. São os fatos (donde facticidade) que estão aí, tais como são e sem possibilidade de ser de outra forma.

O fenomenólogo Luijpen diz:” Refletindo sobre sua existência, o homem se encontra, com efeito como já imerso em determinado corpo e já envolvido em determinado mundo.

Tudo isto constitui o que ele já é, a saber, seu passado. Esse já é também chamado de “determinação” do homem. A transcendência é a ação pela qual o homem executa o movimento de se ultrapassar a si mesmo. É a sua dimensão de liberdade.

A liberdade não é uma dádiva e, sim resultado de uma árdua tarefa, de uma conquista. A liberdade não é ausência de obstáculos, mas a conquista da capacidade de superá-los, de transcender.

Gusdorf conta que “um grande pintor tendo feito algumas sessões o retrato de um freguês; teve que ouvir deste, objeção que o preço exigido era muito alto por algumas horas de trabalho”. E ele fez da liberdade seu grande argumento.

A juventude é a fase em que se torna mais forte a reivindicação de liberdade. Também é quando se inicia o exercício desse poder.

Van Riet demonstra a estrutura do homem e o entrelaçamento de responsabilidade, liberdade e necessidade. Destacou Van Riet, o homem possui uma estrutura formada de aspectos distintos, mas ligados entre si, empírico (ou corpóreo), pessoal (ou voluntário) e o aperceptivo (ou intelectual).

O aspecto empírico do homem é o corpo sujeito às leis da física, é o corpo biológico, sujeito as leis da natureza e da genética.

O homem é um ser psicológico e com o tal percebe o mundo, reage emocionalmente a ele e elabora as próprias vivências.

O homem é um ser cultural, vive em meio humanizado, transformado por meio de sua própria ação. É dotado de historicidade, sempre é situado em determinada época, sociedade e cultura.

Se considerarmos apenas o aspecto empírico do homem, concluiríamos que o homem é determinado e não livre.

Aspecto pessoal é também chamado de voluntário, é capaz de transcender, decidir, escolher e ser responsável pelos seus atos e, por isto engajado numa ação.

Exemplo interessante é o da linguagem, que faz parte do aspecto empírico, já que se trata de um fato da cultura herdada. No entanto, as mesmas palavras usadas por todos podem ser organizada de modo original.

É possível então decorrer a originalidade e a criatividade humanas. Se aspecto pessoal justifica a liberdade do homem, e essa é pessoal e intransferível, cabe cada homem decidir o que é melhor para si; logo desejar determinar o que é melhor para todos seria violar a liberdade de cada um.

O extremo individualismo é perigoso, pois o relativismo moral e o solipsismo (o homem voltado para si mesmo e incapaz de comunicar-se com o outro).

Aspecto aperceptivo é o além da percepção, é abstrato e intelectual. É quando as afirmações subjetivas aspiram à objetividade, permitindo o superar da contingência e da própria experiência.

A busca da relação intersubjetiva possibilita a comunicação e retira o indivíduo do seu universo fechado.

Não se pode ter entendido que tais aspectos são isolados e que surgem forçosamente nessa seqüência. A moral é tecida na trama destes três aspectos que embora contraditórios se acham indissoluvelmente ligados.

Privilegiar o aspecto empírico é mergulhar na heteronomia, é regular-se por leis externas e sucumbir ao determinismo. Sublinhar tão somente o aspecto pessoal é negar a dimensão intersubjetiva da moral.

Ater-se somente ao aspecto aperceptivo é tornar a moral e liberdade conceitos abstratos e descarnados. A relação entre tais aspectos é dialética pois supõe a reciprocidade de influências. Só se ruma em direção da autonomia quando se supera a heteronomia, e enfim conseguimos a realização do ato moral livre.

O social é herança cultural, é impossível a liberdade fora da comunidade dos homens. As relações entre os homens não são de contiguidade, mas de intersubjetividade, de engendramento, os homens são feitos uns pelos outros; o homem se humaniza pelo trabalho cuja ação é social.

O caráter social da liberdade se contrapõe ao individualismo associado a liberdade herdada da tradição liberal burguesia.

A escravidão é condenada e o contrato de trabalho se apresenta como uma forma legal de acordo livre entre iguais: o dono do capital paga o salário ao operário que vende a sua força do trabalho.

Aliás, a democracia de direito traduzida pela democracia liberal, não é uma democracia de fato, pois permite a elitização do poder. A decorrência é que os homens não são tão iguais assim e, portanto a liberdade de escolha não é tão livre quanto se poderia imaginar.

Na verdade, as condições de escolha já estão predeterminadas e reduzidas para aqueles que não são proprietários. O princípio do liberalismo é: “A raposa livre no galinheiro livre”

O pensamento liberal burguês não parte da liberdade individual mas sim o interesse coletivo pois é a partir dele que o comportamento individual se regula.

A vida moral só é possível enquanto ação baseada na cooperação, na reciprocidade e no desenvolvimento da responsabilidade e do compromisso.

Só assim torna-se viável a efetiva liberdade de cada um. Não é o outro que é limite da nossa liberdade, mas a condição para atingi-la.

É de Espinosa, filósofo holandês de origem judaica quem afirma:

“ Deve-se notar que, embora a alma humana seja determinada pelas causas exteriores para afirmar ou negar, não é determinada a ponto de ser constrangida por elas, mas permanece sempre livre, pois nenhuma coisa tem o poder de destruir a essência dela.

Portanto, aquilo que afirma e nega, afirma e nega livremente (...) Se, depois disso alguém perguntar: por que a alma quer isto e não quer aquilo? Responderemos: porque a alma é uma coisa pensante, isto é, uma coisa que por sua natureza tem o poder de querer e não querer, de afirmar de negar, pois é isto ser uma coisa pensante.”

Na verdade, não há contradição entre a liberdade e determinismo, mas é possível a complementaridade entre ambos os conceitos.

A liberdade só tem sentido positivo por seu poder de determinação. O homem é princípio determinante, sob os influxos é capaz ainda de dar uma nova dimensão e de um novo valor que decorre de sua ação pessoal.

O homem é assim causa original, fonte de iniciativa que determina pelo que aceita e pelo que impõe. Não é só uma escolha, mas a reelaboração dos dados por uma projeção que vem de si mesmo, bem como dimensiona um processo contínuo de criação.

È indispensável aprender a viver com as coações as necessidades e superá-las através da capacidade criadora e inteligente de ordená-as e submete-las a uma direção determinada, privilégio exclusivo do ser humano como único ser racional.

Todos os filósofos que acreditam na existência de Deus, acreditam na onipotência e onisciência divinas, afirmam a existência de um homem capaz de decisões autônomas, senhor de sua ação livre e independente.

Para Santo Agostinho a liberdade humana e a graça divina são absolutamente compatíveis. A liberdade é salvaguarda e a influência imediata de Deus. Da liberdade plena e perfeita é que advém o ato bom, dotado da graça divina antes de ser resultado de uma atividade humana.

Em Nietzsche e demais existencialistas ateus, como Sartre, CamusHeideggerMerleau-Ponty, a liberdade do homem é afirmada com a “ morte de Deus” e a recusa de um projeto de vida endossado antecipadamente pela graça divina.

Nietzsche afirma categórico: “ Agora esse Deus morreu! Homens superiores, esse Deus foi o vosso perigo. Ressuscitastes desde que ele jaz na sepultura. Só agora torna o Grande Meio-Dia; agora torna-se senhor o homem superior (...)”

E continua bramindo enfurecido: “Homens superiores! Só agora vai dar luz a montanha do futuro humano. Deus morreu: agora nós queremos que viva o Super-Homem.”

Para os tementes a Deus, o homem é dotado de uma natureza humana que lhe foi conferida por um Deus pelo fato de ser criatura Dele.

Para Sartre, no entanto, o homem é o ser pelo qual o nada vem ao mundo, e conseqüentemente pode e deve escolher-se a si mesmo. È um projeto, é um perpétuo fazer-se, é uma escolha a partir da liberdade.

A existência procede a essência eis aí um dos mais importantes primados do existencialismo. O homem em primeiro lugar existe, encontra-se no mundo e só depois se define quanto ao que é ou se faz.

Sartre decreta a morte divina pois entende que a condição humana é incompatível com uma possível realidade divina criadora, onipotente e onisciente. Deus se revela muito inútil diante de um homem abandonado à sua contingência radical.

Em sua obra O ser e o nada, explica Sartre porque o homem é o nada. “Assim, não há natureza, visto que não há Deus para a conceber. O homem não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após esse impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz.”

Para Burrhus Skinner, psicólogo norte-americano contemporâneo, a liberdade é um mito divulgado pelas filosofias e literaturas sobre o comportamento e a cultura dos homens como saída para uma vida plena e feliz.

“O principal efeito da liberdade é evitar ou fugir dos chamados aspectos “adversos” do ambiente. A luta pela liberdade está interessada em estímulos intencionar produzidos por indivíduos. A literatura da liberdade identificou os indivíduos e propôs meios de fuga ou de enfraquecer ou destruir o seu poder (...)” Skinner, B. F., O mito da liberdade, Tradução Leonardo Goulart e Maria Lúcia Ferreira Goulart, 3 ª edição, Rio de Janeiro, Bloch, p.37.

Estamos sós, sem desculpas. O homem está condenado a ser livre. Condenado porque não criou a si mesmo, e como no entanto é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz.

O existencialista não acredita no poder da paixão. Ele jamais admitirá que uma bela paixão seja uma corrente que conduz o homem fatalmente a determinados atos, e que, conseqüentemente, é uma desculpa. Ele considera que o homem é responsável por sua paixão.

O homem é uma espécie de intersecção entre dois mundos: o real e o ideal. Pela liberdade humana, os valores do mundo ideal podem atuar no mundo real. NicolaiHartman

Por tudo isto, podemos caracterizar a liberdade como a genuína expressão da essência humana sem o que não há identidade, pecado ou virtude.

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