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Qual a diferença de denegação e renegação na Psicanálise ?

💡 5 Respostas

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Augusto Junta

A resposta da Thainá é excelente, mas incide sobre a Verneinung, também traduzida como negativa. 

Complementando, a renegação, ou recusa (Verleugnung) é introduzida por Freud para discutir outra modalidade de negação específica da perversão na sua relação com o objeto fetiche e por vezes aproximada também de um mecanismo próprio à psicose.

A renegação é um mecanismo de defesa no qual há uma recusa de algum elemento da realidade. No caso da perversão, pode-se pensar que a falta de reconhecimento, ou recusa, da ausência de pênis (falo) na mulher e a conseguinte criação do objeto fetiche, caracterizam o fenômeno da renegação.

Assim, enquanto a denegação descreve um modo de negar que aponta para um elemento recalcado, a renegação diz respeito a uma recusa de reconhecimento de um elemento da realidade.

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Thainá Gabs Frazão

Partindo das elaborações feitas de sua prática clínica, Freud observa a possibilidade de desprezar a negação de seus pacientes e de escolher apenas o tema geral de suas associações, é o que nos mostra em seu artigo de 1925, “A NEGATIVA”. Pontua que o conteúdo de uma representação, ou de alguma idéia recalcada, vem de encontro com a consciência desde que seja denegado, ou seja, as denegações surgiriam como meios de se apreender o recalcado, ou seriam uma suspensão deste, uma não aceitação propriamente do que está recalcado.
 
Importante notar, que a ‘função intelectual’ encontra-se nesse caso separada do processo afetivo, dado que na denegação parte do processo de recalque se desfaz. Deste modo se aceita o recalcado mesmo persistindo aquilo que seria o núcleo do recalque. Freud marca de forma sutil que negar algo em um julgamento é dizer o mesmo que “Isto é algo que eu preferia recalcar”, por ser a denegação um artifício, um ‘substituto intelectual’ do recalque.
 
A função do julgamento poderá se relacionar primeiro com a afirmação ou com a desafirmação de um objeto, asseverando, ou não, se uma representação teria uma existência na realidade; e em segundo lugar, se algo, se o objeto representado [no “eu”] poderia ser redescoberto na percepção [realidade]. Demonstra com isso que para o sujeito, não é importante um objeto de satisfação possuir um atributo bom integrado ao eu, mas que este objeto possa estar no mundo externo, podendo ser tomado pelo sujeito sempre que ele deste necessitar.
 
Aqui todas as representações constituiriam garantias da realidade daquilo representado, onde o ‘pensar’ trás aquilo percebido em outro momento, reproduzindo-o como uma representação. O importante não está em encontrar na percepção um objeto que tenha correspondência ao representado e sim em encontrar com o objeto na realidade, o que é de fato, o reencontro dele. Assim uma precondição se faz indispensável: para que se dê tal reencontro é necessário que tais objetos tenham sido perdidos – um esboço daquilo que Lacan formularia com a idéia de objeto a.
 
Em linhas gerais ‘afirmar’ ou ‘negar’ surgem de moções pulsionais primárias onde o eu integra ou expele objetos a si em concordância ao princípio do prazer. A afirmação trabalharia enquanto agregador, ao passo que a denegação funcionaria como elemento de destruição, também, pulsional. O desempenho da função de julgamento, a representação, não se tornaria possível sem o artifício da negativa, no que essa liberta das conseqüências do recalque na coerção do princípio do prazer.
 
Quanto à denegação afirma Freud que jamais se encontra no Inconsciente um “não” e que o reencontro deste no eu se exprime de forma puramente consciente através da negativa.
 
Tratando destas questões levantadas por Freud, Jean Hyppolite nos diz também que a denegação não é apenas algo do juízo, mas uma espécie de julgar ao contrário. A denegação seria assim uma supressão, uma conservação e ao menos uma suspensão do recalque, mas não uma aceitação do recalcado.
 
Postula o estatuto da afirmação enquanto unificação e da denegação enquanto um “símbolo fundamental dissimétrico”, ou seja, a afirmação primordial não é outra coisa senão afirmar, ao passo que a negação é mais do que querer destruir.
 
Hyppolite, afirma que do texto freudiano há que se considerar a negação do “juízo atributivo” e a negação do “juízo de existência” como algo para aquém da negação no momento em que esta aparece em sua função simbólica. Depreende do texto que não há juízo da função simbólica e que há um mito do fora e do dentro, de uma alienação e de uma hostilidade de ambos que é estrutural na própria formação do pensamento do sujeito.
 
Comenta ainda, do texto, que a diferença entre o “estranho” e ele mesmo é uma expulsão que parece ser contraditória por surgir abruptamente, onde o ruim, aquilo estranho ao eu, que é encontrado do lado de fora é inicialmente idêntico, daí o estranho familiar.
 
O sujeito reproduziria suas representações a partir da percepção primitiva que teve e essa seria a prova da representação na realidade, com a possibilidade de reencontrar novamente o objeto. Hyppolite enfatiza assim o papel desempenhado pela negação como fundamental na atitude de simbolicidade explicita.
 
A partir dessa simbolicidade explicita Hyppolite assegura que a dissimetria afirmação-negação sustenta que todo recalcado pode ser novamente retornado na forma do aparecimento do ser sob a forma de não ser – o que se produz com a denegação.
 
Percebemos assim elementos da estrutura do sujeito, da própria fundação do sujeito, de nossas representações e de nossas relações objetais. Principalmente notamos uma reatulização, ao mesmo que o reconhecimento da alteridade do Inconsciente.
 
Em sua explanação sobre a “Verneinung, de Freud”, Hyppolite mostra o reconhecimento do Inconsciente e que este pelo lado do eu, pela via da consciência, mostra sempre como marca o desconhecimento do sujeito. Mesmo pelo conhecimento sempre encontramos do lado do eu – e aqui principalmente com a denegação – a marca da possibilidade de deter, de resistir, de recusar toda a alteridade e o dinamismo próprios do Inconsciente.
 
 
BIBLIOGRAFIA:
 
FREUD, SIGMUND. 1925. “A NEGATIVA”. Em: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro. Vol., Ed. Imago, 1996.
 
__________. 1925. “A NEGAÇÃO”. Em: Letra Freudiana Escola, Psicanálise e Transmissão. Ano VII – Nº.05.
 
LACAN, JACQUES. 1954. “Escritos: Introdução ao comentário de Jean Hyppolite sobre a ‘Verneinung’ de Freud”. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1998.
 
__________. 1954. “Escritos: Comentário falado sobre a Verneinung de Freud, por Jean Hyppolite”. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1998.
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Andre Smaira

Denegação é uma afirmação que, na primeira audiência, parece uma negação direta, clara e inequívoca de alguma alegada acusação, mas a análise cuidadosa acaba por não ser uma negação e, portanto, não é explicitamente falsa se a alegação está de fato correto.


É um caso em que palavras literalmente verdadeiras são usadas para transmitir uma impressão falsa; A análise de se ou quando tal comportamento constitui mentira é uma questão de longa data na ética. É uma declaração sob registro, geralmente feita por um político, repudiando a história de um jornalista, mas de modo a deixar em aberto a possibilidade de que ela seja realmente verdadeira".


A negação, também chamada de complemento lógico, é uma operação sobre proposições, valores da verdade ou, em geral, valores semânticos. Intuitivamente, a negação de uma proposição é verdadeira quando a proposição é falsa e vice-versa. Na lógica clássica, a negação é geralmente identificada com a função verdade que muda seu valor de verdadeiro para falso e vice-versa.

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