Buscar

O que Marx chama de prática revolucionária?

as circunstâncias mudam a educação (de "Teses sobre Feuerbach")

Respostas

User badge image

Miriã Guedes

A prática revolucionária é a PRÁXIS LIBERTADORA, ou seja, a educação teria como função libertar o individuo do padrão social vigente, para uma nova ordem social.
1
Dislike0
User badge image

LR

as circunstâncias mudam a educação (de "Teses sobre Feuerbach")

 

I) Classe por si:

A descrição de proletariado feita por Marx divide-se em duas subcategorias, o “Proletariado, a que Marx atribui uma função revolucionária, e subproletariado (lumpenproletariat), ao qual reconhece um papel contra-revolucionário” (BOBBIO, 1993: 1016). O subproletariado trata-se de uma camada marginal, alheia ao modo de produção capitalista, são tanto os desocupados quanto os ocupados precarizados. O proletariado são os “trabalhadores assalariados e produtivos que, não detendo a propriedade dos meios de produção com que operam, estão sujeitos, no processo de laboração, ao controle do capitalista, por quem, como figura do capital, são expropriados da mais-valia por eles produzida, vindo assim a assegurar a valorização do capital e sua reprodução, como força de trabalho submetida ao capital.” (BOBBIO, 1993: 1016). As contradições do sistema capitalista tornam-no insustentável, e essa insustentabilidade expressa-se em suas crises cíclicas. A resposta burguesa aos períodos de crise é sempre a mesma, expansão do mercado, o que gera aumento da demanda de proletariado disponível, o que provoca a proletarização do substrato médio da população. A práxis revolucionário ao qual o Proletariado está destinado deverá destruir as “cadeias de opressão e da exploração do homem pelo homem” (BOBBIO, 1993: 1017), de modo a produzir a “abolição da propriedade privada”(BOBBIO, 1993: 1017) e instaurar o socialismo, ou seja, uma “sociedade sem classes” (BOBBIO, 1993: 1017), mediada pela “socialização da produção e a concentração da propriedade e do controle das forças produtivas” (BOBBIO, 1993: 1017). É nesse sentido em que esclarecesse que por práxis revolucionária compreende-se ser a própria consciência proletária: “uma consciência de classe que se ajuste à compreensão e finalização da ação política do Proletariado, de acordo com o movimento necessário da história.” (BOBBIO, 1993: 1017). Esta seria a transformação “da classe em si à classe por si” (BOBBIO, 1993: 1017).

Assim, “A Práxis é o ato que realiza a unidade entre o sujeito e o objeto, na medida em que traduz em numa estrutura econômica a consciência das relações entre os homens. Nela coincidem as determinações do pensamento e o desenvolver-se da história. Por isso, a Práxis é a consciência, porém, não procede a ação; pelo contrário, ela funda-se no ato.” (BOBBIO, 1993: 989).

Compreendendo que a práxis revolucionária a qual o proletariado está destinado pelo próprio movimento da história, devemos compreender que todo futuro nasce de um presente e todo presente nasce de um passado, no caso do proletariado, o futuro gerado pela práxis revolucionária diante do ambiente propicio criado pelas inevitáveis crises cíclicas do capitalista, parte da classe em si para conquistar a classe por si.

 

II) Classe em si:

Por ‘trabalho’, Hegel compreende ser o elemento que diferencia o homem do animal. O animal busca na natureza um abrigo ponto, uma caverna em tempos de chuva, uma árvore em tempos de sol, já o homem derruba uma árvore e construí seu abrigo. O animal quando tem fome caça e come sua presa crua, o homem cozinha a carne antes de comer. Nesse sentido trabalho é a modificação da natureza pelo homem, se por um lado os animais, é natural ao homem o trabalho, ou seja, uma ‘mediação entre o homem e seu mundo’” (ABBAGNANO, 2007: 1148 – 1149). Dessa forma a reprodução material da vida do homem deve ser compreendida neste exato termo, o trabalho. A materialidade é indispensável elemento na manutenção da vida. O homem precisa se abrigar e precisa comer, caso contrário padecerá. Sua sobrevivência, a satisfação das necessidades materiais da vida do homem então é mediado pela trabalho, pelo esforço humano de adaptação da natureza. “É só na satisfação das necessidades por meio do T. que o ser humano é realmente humano: porque se educa tanto teoricamente, através dos conhecimentos que o T. exige, quanto na prática, por se habituar à ocupação, adequando sua própria atividade à natureza da matéria e adquirindo aptidões universalmente válidas.” (ABBAGNANO, 2007: 1148 – 1149). Hegel também contempla em sua descrição as particularidades dos marcos culturais de uma sociedade complexa, o que produz no debate categorias como ‘costume’ e ‘ocupação’, “o homem civilizado é educado no costume e na necessidade da ocupação” (ABBAGNANO, 2007: 1148 – 1149), mas é em Marx que encontramos a continuidade teórica dessas categorias. Assumindo em larga medida o conceito Hegeliano de trabalho, Marx vai além. Em Hegel o princípio do trabalho é a sobrevivência, em Marx o trabalho adquire um pesa muito maior pois passa a ser “a própria realização ou produção de sua vida, é um modo de vida determinado” (ABBAGNANO, 2007: 1149), no sentido de que “‘Produzindo seus meios de subsistência, os homens produzem indiretamente sua própria vida material’” (ABBAGNANO, 2007: 1149). Segundo Marx, o homem é em si o seu trabalho e o que o seu trabalho é produz, o que torna também possível afirmar o caráter social do homem, o seu ser social, pois seu trabalho e sua produção está em relação direta com o que lhe é externo (a natureza / a fábrica) e com os demais indivíduos que compartilham este mesmo espaço.

O caráter de classe surge quando o debate sobre o trabalho assume os contornos do trabalho alienante. A condição de sujeito só é possível nos termos da não-alienação, “as relações de T. [ler trabalho] e de produção constituem a trama ou a estrutura autêntica da história, da qual são reflexo as várias formas da consciência” (ABBAGNANO, 2007: 1149). Entretanto a sociedade organizada segundo a lógica capitalista-burguesa é mediada pela existência de um grupo de pessoas que detém os meios de produção e um grupo de pessoas que detém apenas sua capacidade de trabalhar. Assim o trabalho passa a ser encarado como mercadoria e como elemento alienante por ser tratar da “condição de vida que lhe é imposta pelas relações das quais participa como objeto, e não mais como sujeito” (ABBAGNANO, 2007: 1149), e nessa condição o proletariado se despersonaliza e perde sua condição de sujeito da própria história. Se as ideias é condição da consciência humana, também é condição do ser social, do sujeito. Se é verdade que “Até hoje, a história de toda a sociedade é a história das lutas de classe.” (Marx, 1999: ), também é verdade que as ideias, que a consciência, e a condição de sujeito são mediadas pela luta de classes, ou seja, pela exploração, alienação, subjugação de uma classe por outro: “O que demonstra a história das ideias senão que a produção intelectual se reconfigura com a produção material? As ideias dominantes em todas as épocas sempre foram aquelas das classes dominantes.” (Marx, 1999: 66). Aqui trata-se do Proletariado anterior a possibilidade conjuntural da práxis revolucionária, trata-se da classe em si, e não da classe por si, trata-se da condição alienante do proletariado, antes de sua ascensão enquanto sujeito histórico da transformação.

III) O conceito de Práxis presente nas Teses marxistas sobre Feuerbach:

- Primeira tese marxista sobre Feuerbach – “Marx define a  Práxis como atividade prático-crítica, isto é, como atividade humana perceptível em que se resolve o real concebido subjetivamente. O termo atividade nos adverte da superação do velho materialismo naturalístico, de origem iluminista e chegado até Feuerbach, o qual concebia a natureza como um dado intuitivo, passivamente contemplado. Era uma concepção nascida numa economia ainda de tipo agrário, onde homem e natureza constituíam uma identidade imediata. O materialismo histórico de Marx estabelece entre os dois elementos uma relação prática, uma relação ativa. A natureza não existe por si, mas só em relação ao homem; por isso, se pode dizer, como afirma G. Preti, que ela é o nosso passado, pois constitui o acúmulo das atividades dos séculos passados. A natureza só tem sentido para o homem na medida em que foi por ele modificada, na medida em que suportou os fins que lhe foram impostos para a satisfação de necessidades reais. Em Marx, a natureza compreende tanto o material de que o homem se apropria como a sociedade. Portanto, a Práxis medeia entre estes dois elementos assegurando-lhes uma congruência cada vez maior e fazendo entrar a realidade natural num processo produtivo que a priva da autonomia e lhe define a utilidade. Contudo, dentro desta unidade garantida pela Práxis, os dois elementos mantêm uma autonomia parcial. De fato, o homem, cuja obra consiste na mera transformação das formas naturais, não pode modificar a natureza de outro modo senão seguindo as suas leis; por isso se pode dizer que continua a sua ação criadora. Mas isto não autoriza a reconhecer uma natureza original, isto é, uma matéria absoluta estranha ao processo histórico. Uma perspectiva metafísica assim está totalmente ausente da obra de Marx, onde a realidade externa aparece sempre como um complexo de determinações particulares historicamente definidas. A natureza é o corpo inorgânico do homem e, no homem, ela chega à autoconsciência.” (BOBBIO, 1993: 987-988). “Marx analisa a relação entre ambos, usando o conceito de intercâmbio orgânico que foi buscar às ciências naturais e, de um modo particular, aos escritos de Moleschott. Trata-se de um conceito que exprime uma relação imediata com a natureza, ou seja, o processo laborativo produtor de um valor de uso para o consumo. O capitalismo rompeu esta imediação, porquanto inseriu entre a produção e o consumo o momento da troca e alterou profundamente o intercâmbio orgânico, concentrando grandes massas em cidades separadas do campo e impedindo o retorno dos produtos consumidos à natureza.” (BOBBIO, 1993: 988). “O conceito de Práxis exprime precisamente o poder que o homem tem de transformar o ambiente externo, tanto natural como social; é por isso que Marx concebe o real como atividade sensível subjetiva.” (BOBBIO, 1993: 988). “Ele tomou de Feuerbach a perspectiva do processo histórico como resposta contínua à tirania das necessidades; mas superou o seu naturalismo estático, aportando a uma visão historicista, onde a humanidade está, como escreve Mondolfo, em luta consigo mesma, isto é, com as condições ambientais, sociais e naturais, por ela criadas e/ou modificadas. Se, pois, Práxis é identificação da mudança ambiental com a atividade humana, ela surge como autotransformação ou como atividade que se modifica a si mesma (Práxis que se modifica) ao modificar o ambiente. A terceira tese de Feuerbach oferece a este respeito algumas indicações claras: é verdade que os homens são condicionados pelo ambiente e pela educação, mas também é verdade que são justamente eles que modificam as próprias condições ambientais.” (BOBBIO, 1993: 988).

- Segunda tese marxista sobre Feuerbach: “Mas ela não é só o fundamento do pensamento; constitui também o seu critério de verdade (...). Em Engels, este aspecto é particularmente sublinhado. Ele entende como Práxis também a indústria e o experimento científico, que funcionam como instâncias de verificação do processo cognoscitivo. O processo industrial fornece, com efeito, os dados que permitem verificar as hipóteses formuladas: realiza a unificação do fato e da hipótese. Além disso, o experimento científico assinala o fim, segundo Engels, da incognoscibilidade da coisa em si kantiana, uma vez que, se conseguimos reproduzir em laboratório um processo químico ou físico, podemos estar certos de o conhecer (‘conhece-se aquilo que se faz’).” (BOBBIO, 1993: 991)

- Undécima tese marxista sobre Feuerbach: Marx encara o problema da relação da teoria com a Práxis, ao expor a necessidade de mudar o mundo e não apenas de o interpretar (...). Na primeira tese, ao considerar a Práxis como atividade perceptiva (ou seja, como ação que é, ao mesmo tempo, conhecimento) e não como contemplação, ele estabelece um nexo entre teoria e Práxis, nexo que apresenta como existente desde o início, desde o momento da percepção que constitui a base do pensamento teórico. A Práxis é, pois, o fundamento do conhecimento numa concepção rigorosamente monística e dialética. Nada está no intelecto que antes não tenha estado nos sentidos; mas também nada está nos sentidos que antes não tenha estado no intelecto. Os pensamentos de que os homens se servem para a produção prática do mundo são os mesmos de que se servem para o compreender de forma teorética. Os homens só conhecem, de fato, aquilo que fazem. As próprias formas da percepção não são apenas o pressuposto da atividade humana,

mas também o seu produto.” (BOBBIO, 1993: 991). “Escreveu R. Mondolfo que, para Marx, o pensamento é Práxis, como também é Práxis o seu objeto. Na Práxis ambos coincidem.” (BOBBIO, 1993: 991).

  

Referência bibliográfica:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. Rio de Janeiro: Vozes, 1999, 9ª ed.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993.

0
Dislike0

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Responda

SetasNegritoItálicoSublinhadoTachadoCitaçãoCódigoLista numeradaLista com marcadoresSubscritoSobrescritoDiminuir recuoAumentar recuoCor da fonteCor de fundoAlinhamentoLimparInserir linkImagemFórmula

Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta

User badge image

Continue navegando