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antropologia...alguem sabe?

Dentre os vários temas abordados na Sociologia de Durkheim, a religião ocupou lugar de destaque. A investigação sobre as religiões totêmicas revelaram uma forte relação do comportamento religioso no âmbito social, com certas especificidades que tornavam a religião um elemento importante do tecido social mais amplo.

 

Considerando os estudos realizados na disciplina, marque a alternativa que melhor explica a função social da religião segundo Durkheim.

 

A

As formas religiosas são traços de um comportamento imaturo, progressivamente superado no processo evolutivo.

 

B

As religiões existem como uma verdade transcendente que se impõe aos homens, mostrando a face do sagrado em meio a natureza

 

C

O comportamento religioso é expressão da arte e da cultura dos povos.

 

D

O fato social religião, funciona como um pretexto inconsciente para mediar a vida coletiva numa esfera singular e simbólica.

💡 2 Respostas

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cicera souza

resposta D.

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LR

Resposta: Está correta a alternativa (D) O fato social religião, funciona como um pretexto inconsciente para medias a vida coletiva numa esfera singular e simbólica.

Justificativa: Vamos aqui compreender a questão da religião segundo dois autores, Durkheim e Levi-Strauss, ambos preocupados com o fazer etnográfico, ou seja, com as observações de campo como o método de comparação empírica de suas teorias.

É inicialmente necessário compreender que representações simbólica, são para Durkheim representações coletivas, e ainda que para o sociólogo, “O primeiro sistema de representações que o homem teria construído para si seria religioso” (MONTEIRO, 2014: 128). A grande contribuição do autor para a sociologia é o método que desenvolve. Tanto em As formas elementares da vida religiosa (1912), quanto em A divisão do trabalho social (1990), há um esforço de retirar da observação empírica regras para tornar possível a classificação, elemento primordial da ciência: “É necessário um método apurado, tal como desenvolveu Durkheim, para que se possa ver, descrever e, o que é mais importante do ponto de vista científico, classificar a(s) realidades(s). Essa nos parece uma das mais notáveis contribuições científicas da sociologia, cujos méritos devem ser prioritariamente creditados a Durkheim.” (RODRIGUES, 2005: 24). A originalidade presente em As formas elementares da vida religiosa é a seguinte: “através da análise das religiões primitivas – o totemismo como sua forma primeira e mais simples –, pode-se perceber como os homens encaram a realidade e constroem uma certa concepção do mundo e, mais ainda, como eles próprios se organizam hierarquicamente, informados por tal concepção” (RODRIGUES, 2005: 21).

No centenário de Durkheim na Sorbone (1960), Levi-Strauss comemora a contribuição metodológica do sociólogo, uma espécie de ‘evolucionismo metodológico’, para a produção de conhecimento: “voltando-se para os dados particulares da observação direta, abandonando os simples compiladores como Tylor e Wundt, a etnologia durkheimiana pôde libertar-se das pretensões histórico-filosóficas, que faziam dos fatos meras ilustrações de hipóteses especulativas, e ganhar autonomia como uma nova ciência experimental.” (MONTERO, 2014: 126).

I) DURKHEIM:

Para Durkheim as representações simbólicas, compreendidas como representações coletivas, são primeiramente sistematizadas através da religião, compreendendo nesse sentido que “as ‘crenças religiosas’ nada têm que ver com a ideia de deus ou de vida eterna, mas diriam respeito a uma representação do mundo6 que tem, universalmente, um caráter dual e oposto.” ( MONTEIRO, 2014: 128). Considera que totemismo é a “forma primeira e mais simples” (RODRIGUES, 2005: 21) dos sistemas religiosos de representação: “O totemismo, essa religião sem deus, seria um caso exemplar para demonstrar a tese de que o traço distintivo do pensamento religioso em toda parte é o de representar o mundo ‘em dois domínios, um que compreende tudo o que é sagrado, e outro que compreende tudo que é profano’” (MONTEIRO, 2014: 128). As categorias ‘sagrado’ e do ‘profano’, funcionam como “pilar que sustenta qualquer classificação do real”, e essa ‘classificação do real’ se dá  “Por meio das crenças, a sociedade define a qualidade das coisas sagradas, e, pelo rito, sanciona institucionalmente as modalidades autorizadas de atitudes do homem diante do sagrado” (MONTEIRO, 2014: 128).

Durkheim finaliza o debate “As formas elementares da vida religiosa (1912), com as seguintes conclusões: “O conceito de “formas elementares” nos remete a duas ordens de realidade distintas, embora conectadas: o mundo das representações coletivas, que se desenvolve no plano das relações sociais e diz respeito aos conteúdos das coisas sagradas, e o das categorias de entendimento, que se desenvolve no plano da mente humana. Durkheim não tem dúvidas quanto ao modo universal de operação dessas categorias, entendidas como ‘um quadro abstrato e impessoal que envolve não apenas a nossa existência individual, mas a da humanidade’.” (MONTEIRO, 2014: 129).

II) Levi-Strauss:

Para Lévi-Strauss não é possível um fazer antropológico desvinculado ao fazer etnográfico. A pesquisa de campo deve ser central na produção de conhecimento feita pelo antropólogo, pois sem ela não é possível constituir o todo, ou seja, compreender a cultura em sai totalidade: “Para ele, ela não é nem um objetivo de sua profissão, nem um remate de sua cultura, nem uma aprendizagem técnica. Representa um momento crucial de sua educação, antes do qual ele poderá possuir conhecimentos descontínuos que jamais formarão um todo, e após o qual, somente, estes conhecimentos se “prenderão” num conjunto orgânico e adquirirão um sentido que lhes faltava anteriormente.” (Lévi-Strauss, 1991: 415 - 416). O antropólogo deve assim ter em mente que “toda sociedade englo‑ ba um conjunto de estruturas que correspondem a diferentes tipos de ordem social, como parentesco, organização social e estratificação econômica” (MONTEIRO, 2014: 129). O Estruturalismo de Levi-Strauss busca compreender que as problemáticas da  Estrutura devem  “se resolve nas propriedades desse mesmo conjunto” (BOBBIO, 1993: 447 – 448). Assim, compreende o exemplo dado, o Parentesco, enquanto uma categoria elementar da estrutura: “a Estrutura elementar da parentela, identificada com as leis internas da inclusão nas, e da exclusão das classes exógamas, expressas na forma simbólica como foi subdividida uma determinada população (v. C. Lévi- Strauss, Le strutture elementari della parentela, Milano 1969).” (BOBBIO, 1993: 447 – 448).

A conexão entre Durkheim e Levi-Strauss se apresenta da seguinte forma: “Como Durkheim, Lévi‑Strauss reconhece que os fatos religiosos devem ser estudados como parte integrante da vida social. O papel da etnologia seria, pois, o de estabelecer correlações entre diversos tipos de religião e diversos tipos de organização social. Mas as relações en‑ tre religião e sociedade não são nem diretas nem imediatas. O pecado de Radcliffe‑Brown e o consequente fracasso de sua sociologia reli‑ giosa deveram‑se, segundo Lévi‑Strauss, a sua tentativa de fazer uma aproximação abstrata entre religião e sociedade. O autor propõe uma etnologia religiosa fundada em estudos concretos de pequena escala. Somente a partir da construção de vários modelos de sociedade seria possível, pela comparação, compreender a série regular de variações con‑ comitantes das crenças. Chamo aqui atenção à importância que o autor dá à noção de modelo. Apenas uma etnologia capaz de construir mo‑ delos poderia equiparar‑se às ciências mais avançadas. Segundo ele, as jovens teorias da comunicação daquele momento, em particular o modelo da linguística estrutural, estariam abrindo novas possibilida‑ des metodológicas para tratar de maneira mais rigorosa esses objetos representacionais que são os signos.” (MONTEIRO, 2014: 130).

Referências bibliográficas:

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 4ed, 1966.

DURKHEIM, Émile. 1999. Da divisão do trabalho social, São Paulo: Martins Fontes:1-109.

RODRIGUES, José Albertino. Émile Durkheim. São Paulo: Editora Ática, 2005.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993.

LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991.

MONTERO, Paula. A teoria do simbólico de Durkheim e Lévi-Strauss. In Novos Estudos, n. 98, março, 2014.

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