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1 LETÍCIA MARABESI FERREIRA CADERNO DE CLÍNICA MÉDICA MEDICINA INTERNA I MEDICINA – 6° SEMESTRE – T1 2 LETÍCIA MARABESI FERREIRA PEDIDO RACIONAL DE EXAMES RASTREAMENTO DE DOENÇAS EM ASSINTOMÁTICOS AULA 1 DE CLÍNICA MÉDICA USO RACIONAL DE EXAMES DIAGNÓSTICOS: De acordo com a faixa etária do paciente que estamos atendendo, temos que ter mais ou menos em mente, quais são as principais patologias, para sabermos direcionar os pedidos de exames. Não sobrecarregando o sistema de saúde, nem o paciente. CRITÉRIOS DE RASTREAMENTO DAS PRINCIPAIS PATOLOGIAS: 3 LETÍCIA MARABESI FERREIRA OBS: No idoso, fazemos o diagnóstico e pedido de exames de acordo com os sintomas apresentados. Sendo muito comum as fraturar e patologias ósseas no geral. EXAMES DE RASTREAMENTO NA SAÚDE DA MULHER: EXAMES DE RASTREAMENTO NA SAÚDE DO HOMEM: O diagnóstico precoce do CA de próstata é crucial para o bom prognóstico do paciente. E, tal diagnóstico só se dá pela realização de um rastreio, o qual é feito a partir do exame PSA + toque retal – que devem ser feitos, anualmente, a partir dos 50 anos de idade. OBS: Pacientes com histórico familiar de CA de próstata, a idade de rastreio baixa para 45 anos de idade. 4 LETÍCIA MARABESI FERREIRA EXAMES DE RASTREAMENTO NA SAÚDE DO IDOSO: Temos sempre que detalhar e definir os nossos pedidos de exames, para não termos problemas, ou seja, quanto mais direcionados eles forem, melhor. EXAMES DE RASTREAMENTO DO CÂNCER DE PELE: Patologias com maior incidência nos idosos, principalmente, nas regiões mais expostas ao sol. EXAMES DE RASTREAMENTO DE CÂNCER DE CÓLON E RETO: A incidência de CA de cólon e reto vem aumentando muito nos últimos anos. Sendo importante conhecermos alguns conceitos como: melena (sangramento digestivo alto ou sangramento em borra de café) e que sangue vivo nas fezes indica sangramento digestivo baixo. CARCINOMA BASOCELULAR CARCINOMA ESPINOCELULAR MELANOMA 5 LETÍCIA MARABESI FERREIRA Um exame laboratorial alterado, por exemplo, com um Hb de 8 + presença de sangue oculto nas fezes, é um forte indicativo para solicitarmos uma colonoscopia para esse paciente (ele está sangrando em algum lugar e temos que descobrir onde). O histórico familiar de CA de cólon e reto é forte fator de risco, por isso, tais pacientes precisam ser rastreados, obrigatoriamente. EXAMES GERAIS NA PRÁTICA CLÍNICA DA UNIDADE DE SAÚDE PÚBLICA: Pólipos que mudam de característica Lesão ulcerada que sangra muito 6 LETÍCIA MARABESI FERREIRA 7 LETÍCIA MARABESI FERREIRA SOLICITAÇÃO RACIONAL DE EXAMES COMPLEMENTARES AVALIAÇÃO LABORATORIAL E DE IMAGEM AULA 2 - PRÁTICA DE CLÍNICA MÉDICA QUANDO SOLICITAMOS EXAMES COMPLEMENTARES? Solicitamos exames complementares com alguns objetivos, que podem ser: ✓ Confirmação ou exclusão de uma hipótese diagnóstica; ✓ Checar uma alteração de estado do paciente; ✓ Monitorar tratamentos e procedimentos; ✓ Acompanhar a evolução clínica do paciente. E, temos que ter algumas reflexões em mente, quando formos solicitar exames, tais como: ✓ Será que este memos exame já está sendo realizado e em andamento? ✓ A realização do exame é segura para o paciente? ✓ Esse exame é coerente com a hipótese diagnóstica? ✓ A condição clínica atual justifica a solicitação/repetição do exame? ✓ O que vier de resultado modificará a conduta? A solicitação racional de exames, também exige um certo conhecimento e atualização sobre algumas variáveis, como as seguintes: ✓ Segurança; ✓ Radiação – pode gerar malformações e oncogênese. ✓ Toxicidade dos meios de contraste – podem gerar reações alérgicas e nefrotoxicidade; ✓ Desconforto respiratório pelo exame ou pelo resultado – cursando com dor, hemorragia e infecção; ✓ Campo magnético intenso – importante risco de trauma pela projeção de estruturas metálicas ferromagnéticas. ✓ Implicações social, legal e ética – CRM e determinação para não utilização de novas tecnologias como ferramentas de marketing pessoal ou para obtenção de vantagem profissional ou financeira indevida. Devendo levar em conta também: • Efetividade: devem ser avaliadas as evidências disponíveis sobre a confirmação ou refutação dos benefícios esperados com a utilização de cada exame. • Custo-efetividade: dado numérico que relaciona custo com o efeito desejado, como por exemplo, cada vida salva pela aplicação de um determinado método de imagem pode custar x reais. • Custo-benefício: dado numérico que relaciona o custo do método com os seus efeitos desejados, como por exemplo, determinado método de imagem poderia economizar 100 reais em diárias hospitalares a cada 1 real investido na sua aplicação. 8 LETÍCIA MARABESI FERREIRA • Desempenho diagnóstico: avaliado através de cálculos de sensibilidade, especificidade e valores preditivos positivos e negativos. E, através desses cálculos, é estimada a proporção em que os exames detectam ou excluem corretamente determinada alteração. Existindo alguns danos potenciais em relação aos resultados falsos, pois, os falsos negativos podem atrasar o diagnóstico e o tratamento, podendo gerar ansiedade, custos e procedimentos desnecessários. E, possíveis efeitos colaterais dos resultados verdadeiros também podem surgir. O verdadeiro positivo é vantajoso quando auxilia o diagnóstico, o monitoramos ou o tratamento de doenças, como também, para estadiar e prever resultados de tratamentos. Enquanto, o verdadeiro negativo, é útil se o resultado proteger contra procedimentos desnecessários. Resultados verdadeiros, mas que não cumpram esses papéis costumam gerar apenas ansiedade e desperdício de recursos. AVALIAÇÃO LABORATORIAL: • Hemograma completo: para avaliação de anemia e trombocitopenia. • Bioquímica sérica: mais comumente utilizada para avaliar a função renal e hepática. • Perfil lipídico: é particularmente relevante em doenças cardiovasculares. • Exame de urina: a presença de células, cilindros, proteína e bactérias nos fornece pistas sobre doenças glomerulares ou tubulares subjacentes. • Infecção: coloração de Gram e cultura de urina, de escarro, e de líquido cérebro espinhal, assim como, hemoculturas, são frequentemente úteis para o isolamento da causa da infecção. AVALIAÇÃO DE IMAGEM: • Radiografia de tórax: extremamente útil na avaliação da área e do contorno cardíacos, do aumento das câmaras, da vascularização pulmonar, de infiltrados e da presença de derrame pleural. • Ultrassonografia: útil na identificação de interfaces fluido-sólido e na caracterização de massas como císticas, sólidas ou complexas. Ela também é útil na avaliação da árvore biliar, do tamanho dos rins e da evidência de obstrução ureteral, podendo ser combinada com Doppler, para identificação de TVP. Não é um exame invasivo e não oferece risco de radiação, mas não pode ser usada para penetração por meio do osso ou ar, sendo menos precisa, portanto, em pacientes obesos. • Tomografia computadorizada: é útil em possíveis sangramentos intracranianos, massas abdominais e/ou pélvicas e processos pulmonares, podendo ajudar a delinear linfonodos e lesões retroperitoneais. Expões o paciente à radiação e exige que ele seja imobilizado durante o procedimento. E, em geral exige a administração de contraste radiográfico. 9 LETÍCIA MARABESI FERREIRA • Ressonância magnética: identifica muito bem os planos de tecidos moles e fornece uma melhor visualização do parênquima cerebral. Quando usada com contraste de gadolínio (que não é nefrotóxico), a angiografia por RM é útil no delineamento de estruturas vasculares. A RM não usa radiação, mas o poderoso campo magnético proíbe seu uso em pacientes com metais ferromagnéticos no corpo, como no caso de muitas próteses. EXAMES NO ÂMBITO DE PROCEDIMENTOS CARDÍACOS: • Ecocardiografia:usa ultrassonografia para delinear tamanho, função, fração de ejeção e presença de disfunção valvular. • Angiografia: um contraste radiopaco é injetado em vários vasos, e as imagens radiográficas ou fluoroscópicas são usadas para determinação de oclusão vascular, função cardíaca e integridade vascular. • Teste de esforço: indivíduos com risco de DAC são monitorados quanto à PA, ritmo cardíaco e à dor torácica, por meio do ECG, enquanto se aumenta a demanda de O2 sob o coração por o paciente estar correndo em uma esteira. A imagem do coração por medicina nuclear pode ser acrescentada para aumentar a sensibilidade e a especificidade do teste. E, indivíduos que não podem correr na esteira, podem receber medicamentos como adenosina ou dobutamina para ´estressar ´o coração. CASO CLÍNICO 1 – AA OBSTRUTIVO: RX CLÁSSICO DE ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO 10 LETÍCIA MARABESI FERREIRA CASO CLÍNICO 2 – CISTITE: R: Eu não pediria nenhum exame, visto que a paciente está com manifestações clássicas de cistite (ITU baixo – bexiga), patologia de diagnóstico essencialmente clínico. Sendo a conduta a prescrição de antibioticoterapia (amoxicilina, por exemplo). E, caso a cistite não melhorasse/fosse resistente e recorrente, deveríamos pedir um exame de urina I e urocultura. 11 LETÍCIA MARABESI FERREIRA CASO CLÍNICO 3: R: Paciente com tosse > 3 semanas, é critério para suspeitarmos de Tuberculose, ou seja, para solicitarmos o exame de escarro. Que somado ao emagrecimento não quantificado e ao fato dele morar em alojamento conjunto, preocupa bastante e diz mais ainda a favor de tuberculose. E, em relação aos exames de imagens, poderíamos solicitar um RX de tórax para uma melhor avaliação pulmonar desse paciente. E, de acordo com a evolução do quadro, iríamos decidindo quais exames solicitar a mais ou não. 12 LETÍCIA MARABESI FERREIRA INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS ROTINEIROS E DE IMAGEM AULA 3 DE CLÍNICA MÉDICA CASO CLÍNICO 1: DISCUSSÃO SOBRE O CASO: -Fezes escurecidas = melena = sangramento digestivo alto, o que justifica a dor em abdome superior. -Paciente com uma provável hepatopatia crônica descompensada com sangramento e ascite. -Cirrose com hipertensão portal devido a presença de circulação colateral + telangiectasias – ambos sinais de cronicidade e gravidade. -Nos exames laboratoriais o que chama atenção é a Hb muito baixa (VR 13-16), plaquetopenia (VR 150.000-400.000) – por provável hiperesplenismo devido ao aumento da circulação portal. -O INR (VR 1.0) e o AP (atividade de protrombina) são importantes exames para avaliar a função hepática. -Aumento das transaminases indicando lesão hepática, devido um quadro de hepatite alcoólica associada ao quadro de cirrose. -Amilase muito alta, indicando um quadro importante de pancreatite alcoólica, que pode evoluir para crônica, se não tratado. 13 LETÍCIA MARABESI FERREIRA -Na urina, o paciente apresenta sinais de icterícia (perda de urobilinogênio) e problemas de coagulação (devido a hematúria). -Síntese de fator de coagulação + síntese de albumina = indicadores de função hepática. Quais exames poderíamos solicitar nesse caso? • Exames radiológicos – USG do fígado (fígado reduzido de tamanho + sinal de ascite) + pâncreas com presença de fibrose + TC de abdome superior (pâncreas muito aumentado com alguns sinais de calcificação) + Radiografia de Tórax (derrame pleural bilateral) + EDA. • Aparente o paciente não sangrou por uma úlcera perfurada, mas sim, por conta da circulação colateral. A EDA é o exame mais importante no caso desse paciente, devido ao sangramento alto que ele estava apresentando. O paciente poderia morrer por insuficiência cardíaca, devido quantidade de sangue ser insuficiente para a realização da sístole. VARIZES DE ESÔFAGO, JUSTIFICANDO O SANGRAMENTO DIGESTIVO ALTO + MELENA. 14 LETÍCIA MARABESI FERREIRA Depois da realização da EDA, o que faríamos no paciente, para restaurar sua condição clínica? • Transfusão sanguínea, visto que o paciente está muito descompensado, com instabilidade clínica importante. • Paracentese – para drenagem dessa ascite + avaliação do líquido da ascite para avaliar se há infecção. Drenar até 5L, mais do que isso, temos que repor 1g/Kg de albumina. • Jejum – para melhorar a pancreatite do paciente, visto que quando o pâncreas é estimulado pela chegada do alimento, ele aumenta o seu trabalho de produzir o suco pancreático para digestão das proteínas e gorduras. Logo, o alimento faz o pâncreas trabalhar demais. – Conduta por uns 2 dias, até o paciente parar de vomitar. Depois ir iniciando gradativamente a dieta do paciente (líquido, pastoso, sólido). OBS: A condição mais comum do cirrótico nessa condição é a infecção, cursando com peritonite aguda bacteriana. O que devemos nos atentar laboratorialmente no caso desse paciente, nos dias seguintes? • Monitorar a Hb do paciente, para ver se ele continua sangrando ou não. Sendo que a cada bolsa de sangue sobe 1-1,5mg/dL a Hb dele. • Se continuar sangrando, repetir a EDA. Como estamos falando de um paciente cirrótico avançado, precisamos nos atentar a função renal, pois ele pode estar fazendo uma agudização por perda sanguínea e/ou uma síndrome hepatorrenal. O tratamento definitivo para cirrose avançada é o transplante hepático. INTERPRETAÇÃO CLÍNICA DOS EXAMES: HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS: 15 LETÍCIA MARABESI FERREIRA CASO CLÍNICO 2: DISCUSSÃO SOBRE O CASO: -Paciente com quadro de síndrome de metabólica PA alta + sobrepeso + glicemia em jejum alterada. -Paciente com clearance de 43 – estágio 3 A da doença renal crônica. -Estágios da nefropatia diabética: 1. Hiperfiltração > 120ml/min; 2. Microalbuminúria (30-300 mg); 3. Proteinúria > 300mg; 4. Proteinúria nefrótica > 3,5g; 5. DRC. Qual seria a nossa conduta com essa paciente? • Solicitar um exame de fundo de olho – para avaliar a presença de retinopatia diabética; • Solicitar uma Radiografia de tórax – bom estratificado de risco par avaliar hipertrofia ventricular por sobrecarga; • Solicitar um ECG. • Solicitar urina 24h – proteinúria 3.2g/24h = paciente está praticamente nefrótica. Resultados: -HAS leva à hipertrofia ventricular concêntrica por aumento da pós-carga. OBS: hipertrofia excêntrica está relacionada a presença de líquido, por exemplo, coração em bota). -Com o passar dos anos essa hipertrofia ventricular concêntrica pode se tornar excêntrica. 16 LETÍCIA MARABESI FERREIRA -Paciente com múltiplas complicações: sobrecarga ventricular + retinopatia diabética avançada + nefropatia diabética (microalbuminuria). -Mecanismo antiproteinúrico (IECA ou BRA) = fazem dilatação da arteríola eferente, fazendo com que a creatinina saia em direção a corrente sanguínea, ao invés de ser excretado pela urina. HIPERTROFIA VENTRICULAR EXCÊNTRICA – CORAÇÃO EM BOTA ONDA P – SÍSTOLE ATRIAL (nos mostra se o ritmo é sinusal ou não). COMPLEXO QRS – DESPOLARIZAÇÃO VENRICULAR. ONDA T – REPOLARIZAÇÃO VENTRICULAR (quando invertida indica isquemia e quando assimétrica indica sobrecarga). FUNDO DE OLHO – presença de um cruzamento patológico dos vasos por conta da pressão elevada nos vasos da retina + infiltrados algodonosos como sinais da isquemia (sinal estádio 2 da retinopatia) + pontos de sangramento (estádio 3 da retinopatia). USG DOS RINS – não conseguimos ver que o paciente tem nefropatia diabética, o rim do diabético não atrofia. Visto que no diabetes, os rins ficam edemaciados. 17 LETÍCIA MARABESI FERREIRA INTERPRETAÇÃO CLÍNICA: CASO CLÍNICO 3: -Paciente bem vulnerável, com tendência a cursar com um quadro de pancitopenia. Devido a somatória de diagnósticos: HIV + hepatite C + gonorreia + sífilis. CANCRO– lesão da sífilis GOTEIRA PURULENTA ORA SANGUINOLENTA – devido gonorreia. 18 LETÍCIA MARABESI FERREIRA -A sífilis e o HIV estão em ascensão nos últimos anos (fator de promiscuidade = >3 parceiros sexuais/ano). -Solicitar CD4 + carga viral do HIV e hepatite C. Exame de escarro. Como tratar esse paciente? • Penicilina benzatina 2.400.000 UI repetida em 15 dias. • Iniciar o tratamento do HIV: TARV (Tratamento antirretroviral) + tratamento da TB (RIPE). INTERPRETAÇÃO CLÍNICA: RX DE TÓRAX – bastante sugestivo de tuberculose pulmonar (infiltrados nodulares + caverna). 19 LETÍCIA MARABESI FERREIRA INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS ROTINEIROS AULA 4 - PRÁTICA DE CLÍNICA MÉDICA CASO CLÍNICO 1: R: O próximo passo seria estabilizar a paciente referenciando-a ao emergencista. E, já na sala de emergência, fazer a expansão volêmica com soro fisiológico e ir avaliando a evolução do quadro + solicitação de exames. 20 LETÍCIA MARABESI FERREIRA ➢ SEPSE: Pode ser definida como uma disfunção orgânica, ameaçadora à vida, causada por uma resposta desregulada do hospedeiro frente a um quadro de infecção. Seu diagnóstico e manejo adequados são extremamente cruciais no prognóstico do paciente. Quaisquer microrganismos seja ele protozoário, helminto, vírus, podem ser causadores de sepse. No entanto, as principais etiologias são: ✓ Bactérias gram negativas: principalmente, as multirresistentes. ✓ Bactérias gram positivas: principalmente o Sthapylococcus aureus, resistente à meticilina, enterococo resistente à vancomicina e S. pneumoniae resistente à penicilina. ✓ Fungos. As manifestações clínicas podem ser: ✓ Taquicardia; ✓ Hipoxemia; ✓ Taquipneia; ✓ Uso de musculatura acessórias; ✓ Febre; ✓ Hipotermia; ✓ Oligúria; ✓ Cefaleia; ✓ Icterícia; ✓ Hipotensão arterial; ✓ Baixa perfusão tissular periférica; ✓ Livedo reticular; ✓ Agitação; ✓ Desorientação. Em relação ao diagnóstico, a sepse pode ser diagnosticada quando o paciente apresenta uma pontuação maior ou igual a 2 no escore de SOFA, o qual avalia o comprometimento orgânico dos diversos sistemas do corpo humano. 21 LETÍCIA MARABESI FERREIRA Os principais diagnósticos diferenciais em relação a sepse são: IC descompensada, choque cardiogênico, embolia pulmonar, síndrome do desconforto respiratório agudo, pancreatite aguda, crise tireotóxica, crise addisoniana, intoxicação aguda, síndromes hipertérmicas, encefalopatia e hemorragia subaracnóidea. O tratamento, por sua vez, se baseia no chamado pacote da 1ª hora, que diz respeito a como deve ser feito o manejo da sepse: Sendo importante ressaltar que o vasopressor de escolha é a Norepinefrina, devendo-se adicionar vasopressina ou epinefrina se a PAM do paciente não for atingida. E, o uso de esteroides deve ocorrer apenas em casos de choque séptico refratário a reposição volêmica e vasopressores. Exames complementares e parâmetros que podem ser utilizados para reavaliação do paciente séptico são: ✓ Exames complementares: hemograma, hemogasometria (com lactato), perfil glicêmico, ureia/creatinina, TP/TTPa, hemoculturas e urocultura, PCR, TGO/TGP e Raio-x de tórax. ✓ Parâmetros para reavaliação: DC (VSxFC), TEC (>3s), PAM (>65mmHg), SvcO2 (>70%), PVC (8-12mmHg ou 12-15 se IOT), lactato (se inicialmente estiver alterado, dosar a cada 2h) e diurese (medir a cada 1h, visando >0,5ml/kg/h). ✓ Outras medidas: cabeceira elevada entre 30-45°, dieta zero somente se instabilidade hemodinâmica, buscar glicemia <180mg/dl, introduzir profilaxia de TVP (caso não haja contraindicação), transfusão sanguínea apenas se Hb<7g/dl – exceto em caso de hemorragia aguda, hipoxemia grave ou isquemia cardíaca -, remover sempre que possível os dispositivos intravasculares e fazer a profilaxia para úlcera de estresse em pacientes com fatores de risco. Para avaliação do prognóstico, por fim, do paciente séptico, podemos utilizar o escore qSOFA, com o objetivo de identificar de forma rápida e objetiva pacientes que possuem um maior risco de desfechos negativos. Uma pontuação maior ou igual a 1 no qSOFA indica maior risco de mortalidade ou permanência prolongada na UTI. 22 LETÍCIA MARABESI FERREIRA Os critérios avaliados no qSOFA são: ✓ PA sistólica < 100mmHg; ✓ FR > 22irpm; ✓ Alteração do estado mental – ECG <15. HEMOGRAMA: D C 23 LETÍCIA MARABESI FERREIRA A - Neutropenia febril B Existem diversas alterações fisiológicas que podem ocorrer no período da gestação, sendo importante orientarmos e acompanharmos essas pacientes. 24 LETÍCIA MARABESI FERREIRA A O hemograma, é um exame que é solicitado quando há uma suspeita clínica de anemia, ou de um distúrbio hematológico primário. Sendo crucial também, na investigação de doenças cujo acometimento sistêmico afeta o hemograma (hemorragias, infecções, artrites, LRS, hepatites, anorexia, etc). A anemia pode ser definida como uma hemoglobina <13g/dl em homens, <12g/dl em mulheres e em crianças de 12-14 anos, <11,5g/dl em crianças de 5-11 anos e <11g/dl, em gestantes e crianças de 6 meses -5 anos, de acordo com a OMS. Devemos ter em mente que a anemia não é um diagnóstico propriamente dito, mas a manifestação laboratorial de uma doença, que deve ser diagnosticada para possibilitar o tratamento adequado. 25 LETÍCIA MARABESI FERREIRA CAUSAS DE POLICITEMIA: A policitemia corresponde a um aumento da quantidade de hemácias/glóbulos vermelhos/eritrócitos no sangue. Podendo ocorrer por diversas causas, tais como: 26 LETÍCIA MARABESI FERREIRA LEUCOPENIA: A leucopenia é definida como a contagem de leucócitos <4.000/mm3. Sendo importante ressaltar que tantos as neutropenias, como as linfopenias, apresentam grande importância na prática clínica. A neutropenia é definida como a contagem absoluta de neutrófilos (bastões e segmentados) <1.500/mm3. Sendo classificada em: ✓ Neutropenia leve: entre 1500/1000/mm3. ✓ Neutropenia moderada: entre 1.000-500/mm3. ✓ Neutropenia grave: <500/mm3, sendo clinicamente muito relevante pelo risco de infecção que tais pacientes apresentam. Estando associada à febre (neutropenia febril), pode ser definida como uma urgência clínica com risco eminente de sepse, portanto, há indicação absoluta de hospitalização, coleta de culturas e antibioticoterapia. A linfopenia, por sua vez, pode ser definida como a contagem de linfócitos <1.000-1.500/mm3. Podendo ser causada, por exemplo, pelo uso de terapia come esteroides e outros agentes imunossupressores (azatioprina, por exemplo). Sendo vista também, na infecção por HIV avançada (AIDS), na tuberculose, na febre tifoide, na malária, nas doenças autoimunes (LES e AR, por exemplo), na sarcoidose, no LNH, no timoma, na LRC, no alcoolismo, na desnutrição grave, na idade avançada e em casos de estresse. E, raramente está associada à doença medular primária. Lembrando que a linfopenia leve é um achado relativamente comum e, na ausência de outros sintomas específicos, não deve desencadear investigação extensiva. 27 LETÍCIA MARABESI FERREIRA LEUCOCITOSE: A leucocitose, pode ser definida como a contagem de leucócitos >11.000/mm3, sendo o primeiro passo na sua avaliação, a definição do tipo de leucócito em excesso, por meio da contagem diferencial do leucograma. A leucocitose pode ser secundária à: ✓ Precursores imaturos ou blastos – leucemia aguda. ✓ Tipos leucocitários maduros – granulócitos, linfócitos e monócitos. Portanto, o esfregaço sanguíneo é o exame recomendado para excluir a possibilidade de leucemia aguda e para classificar o processo como granulocitose (neutrofilia, eosinofilia e basofilia), monocitose ou linfocitose, cada um dos quais pode ser reativo ou neoplásico (clonal). • GRAVIDEZ: A gravidez está associada a leucocitose devido ao aumento de neutrófilos circulantes no segundo mês da gestação.Quadro que se estabiliza no segundo ou terceiro trimestre, variando entre 9.000-15.000/mm3, podendo apresentar um desvio leve de formas jovens. • EOSINOFILIA: A eosinofilia leve é comum em pacientes com asma, rinite e eczema, raramente excedendo 1.000/mm3. E, outras causas comuns são as infecções parasitárias. Na ausência de indícios clínicos que permitam incluir essas hipóteses, devemos pensar em eosinofilias primárias, decorrentes de doenças linfo e mieloproliferativas. • BASOFILIA: A basofilia no sangue periférico é uma condição extremamente rara, que sugere uma leucemia basofílica crônica. E, o achado indica biópsia de medula e referenciamento rápido ao hematologista. • MONOCITOSE: A monocitose pode estar presente em casos de infecção crônica por tuberculose e sífilis, como parte da reação inflamatória da doença de Cohn e colite ulcerativa, após IAM e como resposta a certos carcinomas e à radioterapia. Monocitose relativa é vista na recuperação de quimioterapia e de neutropenia induzida por medicamentos. E, quando persistente e inexplicada, particularmente se associada á anemia ou à trombocitopenia, é altamente sugestiva da doença linfo ou mieloproliferativa. • LINFOCITOSE: A linfocitose é comumente vista em infecções virais, em geral, acompanhada por neutropenia leve e autolimitada, como visto. Já a linfocitose de estresse tem início abrupto e resolução breve após alguns dias e pode ser precipitada por IAM, trauma grave, ou status epilepticus. 28 LETÍCIA MARABESI FERREIRA A linfocitose leve também pode ser vista pós-esplenectomia e em fumantes. E, quando persistente e significativa (>6000/mm³) requer opinião do especialista e exclusão de doença linfoproliferativa crônica. PLAQUETAS – TROMBOCITOPENIA: A trombocitopenia ou plaquetopenia é definida como a contagem de plaquetas inferior a 150.000/mm³. Sendo as principais causas de trombocitopenia por consumo: TROMBOCITOPENIA NA GRAVIDEZ: Gestantes podem apresentar trombocitopenia leve a moderada (>80.000/mm³), condição mais característica do terceiro trimestre, correspondente a 70-80% das plaquetopenias em gestantes, que não acarreta riscos para a mãe ou o feto, com resolução espontânea até 2 meses após o parto, não devendo interferir na conduta obstétrica. As condições graves também cursam com plaquetopenia durante a gestação e devem ser diferenciadas para manejo obstétrico imediato, sendo elas: ✓ Síndrome HELLPO (hemólise, transaminases elevadas, plaquetas diminuídas), que ocorre no terceiro trimestre; ✓ PTT, que pode ocorrer em qualquer trimestre; ✓ CIVD, que pode ser precipitada por descolamento placentário, hemorragia pós-parto, embolia de líquido amniótico ou sepse; ✓ PTI também pode incidir durante a gestação e, o diagnóstico pode ser desafiador. TROMBOCITOSE: A trombocitose ou plaquetose é definida como uma contagem de plaquetas superior a 450.000/mm³. Existindo 2 tipos de trombocitose: 1. Trombocitose primária: ocorrem de maneira isolada, por disfunções raras da medula óssea. E, sua importância clínica está na associação com fenômenos trombóticos e hemorrágicos. 2. Trombocitose secundária: são comuns e não têm associação com maior risco trombótico. Elas ocorrem em associação à anemia ferropriva, à asplenia, às esplenectomia, à hemorragia, à hemólise, a infecções, à inflamação crônica, à neoplasias e a dano tecidual. 29 LETÍCIA MARABESI FERREIRA Fazem parte da avaliação complementar da trombocitose o hemograma completo com esfregaço periférico, a ferritina, um marcador inflamatório e a USG de abdome. Sendo que: ✓ Anemia microcítica e baia ferritina sugerem anemia ferropriva; ✓ A presença de corpos de Howel-Jolly identifica asplenia; ✓ A policromasia sugere hemólise ou hemorragia; ✓ Um marcador inflamatório elevado pode sugerir inflamação crônica ou aguda ou neoplasia; ✓ Esplenomegalia e/ou leucocitose ou policitemia, sugerem doença mieloproliferativa. QUANDOR REFERENCIAR AO HEMATOLOGISTA? 30 LETÍCIA MARABESI FERREIRA 31 LETÍCIA MARABESI FERREIRA BASE DOS DISTÚRBIOS HIDROELETROLÍTICOS E SUPORTE NUTRICIONAL - HIPONATREMIA AULA 5 DE CLÍNICA MÉDICA DEFINIÇÃO: O distúrbio do sódio pode ser definido como um distúrbio no balanço corporal de água dentro do nosso organismo. Sendo que, na hiponatremia ocorre um aumento da quantidade de água em relação a quantidade de sódio corporal. E, outro ponto muito importante, que temos que saber no contexto dos distúrbios hidroeletrolíticos, é que o sódio é o principal componente osmótico plasmático – isso é importante, porque o fato de mantermos a osmolaridade plasmática está diretamente relacionada a uma boa perfusão tecidual, o que é essencial para a manutenção da vida. • COMO CALCULAR A OSMOLARIDADE PLASMÁTICA? Dentro da sua definição, classificamos a hiponatremia em leve, moderada e grave: A gravidade da hiponatremia depende de 2 fatores: 1. Valor do sódio. 2. Velocidade de instalação da hiponatremia. E, em relação ao quadro clínico, a hiponatremia ainda pode ser dividida em aguda (<48horas) e crônica (>48horas). Sendo que a hiponatremia aguda costuma ser mais assintomática, cursando com sintomas neurológicos, por exemplo. VALOR DE REFERÊNCIA DO SÓDIO = 135-145 mEql/L 32 LETÍCIA MARABESI FERREIRA EPIDEMIOLOGIA: A hiponatremia é o distúrbio eletrolítico mais comum na prática clínica, por isso tem grande relevância epidemiológica. Sendo responsável por 15% das admissões hospitalares e 30% dos pacientes em UTI em algum momento cursam com hiponatremia. Por isso, esse distúrbio está diretamente relacionado ao aumento da morbimortalidade. CENTRO OSMORREGULADOR: O distúrbio do sódio é na verdade uma alteração no balanço corporal de água dentro do organismo. No nosso hipotálamo, temos o centro da sede e os núcleos supra ópticos e paraventriculares, os quais produzem o ADH ou vasopressina, que fica depositada na neuro hipófise posterior, tendo sua ação a nível renal (a nível de túbulo coletor) posteriormente – que é a via final para a concentração urinária. O ADH vai agir no ducto coletor, que é a porção final do túbulo renal, fazendo com que o organismo reabsorva água. AÇÃO RENAL DO ADH: Quando o ADH entra em ação, ele se liga a um receptor chamado de receptor V2 presente na membrana basolateral da célula principal do túbulo coletor. E, algo muito crucial em relação a fisiopatologia é que quando o ADH se liga via Adenil ciclase, aumenta AMP cíclico intracelular e incorpora aquaporina 2, tornando a célula permeável a água, com isso o organismo consegue reabsorver água. E, quando esse mecanismo se dá de forma exagerada, temos o quadro de hiponatremia, que nada mais é que um aumento da quantidade de água em relação a quantidade de sódio corporal. 33 LETÍCIA MARABESI FERREIRA DIAGNÓSTICO – CLASSIFICAÇÃO POR VOLEMIA: Em relação a classificação da hiponatremia, usamos a volemia para classificar os pacientes em: • Hipovolêmico: depleção de volume, pode ocorrer em quadros de síndrome cerebral perdedora, pelo uso de diuréticos, em quadros de insuficiência adrenal e em perdas extra-renais (exemplo: quadro de diarreia). • Euvolêmico: volemia normal, presente em quadros de SIAD, potomania (pacientes psiquiátricos que tomam muita água), polidipsia, ecstasy (MDMA), maratona e no hipotireoidismo. • Hipervolêmico: excesso de volume pode ocorrer por cirrose, IC e síndrome nefrótica. SÍNDROME DA ANTIDURESE INAPROPRIADA (SIAD): A SIAD é uma hiponatremia euvolêmica, que é a causa mais relacionada a casos de hiponatremia crônica. Portanto, mesmo com níveis de ADH suprimidos o paciente pode ter muita ação no receptor de ADH (receptor V2), o que acaba provocando um aumento de aquaporina 2 e um aumento da incorporação de água para o organismo. Apresenta diversas etiologias, ou tem mutação,ou tem produção exagerada, uso de medicações que provocam a liberação de ADH na neuro-hipófise, uso de drogas como ecstasy, dentre outras. O diagnóstico da SIAD é clínico, é uma hiponatremia hiposmolar euvolêmica, que acabamos descobrindo por exclusão. As principais causas de SIAD são: ✓ Trauma craniano; ✓ Tumores intracranianos; ✓ Tumores brônquicos (produção ectópica de ADH); ✓ Drogas anestésicas; ✓ Cirurgias extensas; ✓ Drogas. A hiponatremia pode ser induzida por algumas medicações, devido a seus respectivos mecanismos de ações, como por exemplo: ✓ Carbamazepina: droga anti epiléptica. ✓ Fluoxetina: droga receptadora de serotonina. ✓ Hidroclorotiazida: diurético tiazídico. ✓ Sildanefil: viagra, agente inibidor da fosfodiesterase. Todos esses medicamentos aumentam a incorporação de aquaporina 2 e aumenta a absorção de água no organismo. QUADRO CLÍNICO: O quadro clínico da hiponatremia tem uma prevalência de sinais e sintomas neurológicos, uma vez que na hiponatremia temos uma redução na osmolaridade plasmática, o que predispõe a entrada de água nas células do SNC, o que faz com que o paciente possa evoluir com um quadro de edema cerebral. Logo, se temos uma entrada maior de água, vamos ter mais sintomas neurológicos dominando o quadro clínico, tais como: SOLICITAR TOMOGRAFIA DE CRÂNIO E DE TÓRAX 34 LETÍCIA MARABESI FERREIRA ✓ Apatia/fraqueza; ✓ Cefaleia; ✓ Náuseas e vômitos; ✓ Alterações no nível de consciência; ✓ Convulsões; ✓ Coma; ✓ Morte. TRATAMENTO – CRÔNICO E AGUDO: As apresentações clínicas do paciente ajudam a guiar as medidas iniciais em reação ao tratamento. Sendo importante sabermos identificar se é um caso de hiponatremia aguda (<48h) ou crônica (>48h), avaliando se o paciente está ou não sintomático. Existindo diferentes estratégias, para cada um dos quadros de hiponatremia. Quando temos um paciente com um quadro de hiponatremia, não podemos subir essa concentração de sódio bruscamente: ✓ Correção <10mEq/L nas primeiras 24 horas. ✓ Correção <18mEq/L nas primeiras 48 horas. **RISCO DE DESMIELINIZAÇÃO OSMÓTICA** Logo, a faixa de correção deve ser lenta em 24h ou 48h, por isso, usamos a fórmula de Adrogué- Madias, a qual avalia a mudança de sódio para cada litro de solução infundida. Sendo a consequência mais grave da elevação da POsm a desmielinização osmótica, a Mielinólise pontina, o que faz com que o paciente evolua com hemorragias cerebrais, mostrando-se confuso, pode ter convulsões, entrar em coma e até ir a óbito de fato. Portanto, em relação ao tratamento na: • Hiponatremia hipovolêmica: identificar e tratar a doença de base, fazendo a expansão com soro fisiológico 0,9%. E, para os pacientes que apresentam insuficiência adrenal, entramos com Fludrocortisona (0,1 a 0,4mg/dia) com o intuito de aumentar a concentração de mineralocorticoides. A ELEVAÇÃO BRUSCA DA CONCENTRAÇÃO DE SÓDIO PODE GERAR MIELINÓLISE PONTINA – quadro que pode deixar sequelas neurológicas irreversíveis. 35 LETÍCIA MARABESI FERREIRA • Hiponatremia hipervolêmica: identificar e tratar a doença de base, restringir sódio (restrição de água) do paciente e entrar com diuréticos de alça e/ou tiazídicos (espironolactona). E, para os pacientes refratários, que ficam hipervolêmico com tendência a ter água nos pulmões, podemos lançar mão da ultrafiltração ou hemodiálise. • Hiponatremia crônica/assintomática: usamos a terapia múltipla = restrição hídrica, baseada na diurese do paciente + ingesta rica em proteínas, para promover a perda de água livre + ureia oral (15-60g/dia), para promover a perda de água livre (problema é que bem impalatável) + furosemida com cloreto de sódio oral. • Hiponatremia aguda/assintomática: o tratamento é feito com cloreto de sódio 3% (tem 513mEq/ de sódio). COMO PRODUZIR NaCl 3%? R: 850 ml solução glicosada 5% + 150 ml de NaCl 20%. PONTOS MAIS IMPORTANTES DA AULA: A hiponatremia é o DHE mais comum na prática clínica; 48h é o tempo que diferenciar a hiponatremia crônica da aguda; SIAD é a causa mais comum de hiponatremia crônica (etiologias diversas); A hiponatremia hipervolêmica apresenta eliminação de ADH; Os distúrbios neurológicos dominam o quadro clínico; Não aumentar >10mEq/24h e >18mEq em 48h; A hiponatremia sintomática trata-se com NaCl 3% (513 mEq/L de sódio). 36 LETÍCIA MARABESI FERREIRA BASE DOS DISTÚRBIOS HIDOELETROLÍTICOS – DISTÚRBIOS DO SÓDIO AULA 6 - PRÁTICA DE CLÍNICA MÉDICA QUESTÃO 1: Homem, 60 anos, procura atendimento médico por fadiga e dificuldade de concentração. Antecedentes pessoal de CA de pulmão de pequenas células em tratamento. EF: 130x80mm/hg, FC 80bpm, Na 125mEq/L, creatinina 1,0mg/dl, ureia 15mg/dl, osmolaridade urinária 350mmol/Kg. A conduta é: a) Solução salina isotônica. b) Sais de lítio. c) Espironolactona. d) Restrição de ingesta hídrica. COMENTÁRIOS: Paciente de 60 anos, sexo masculino, chega com queixa de fadiga e dificuldade de concentração, ambos sintomas neurológicos decorrentes do quadro de hiponatremia moderada hipervolêmica apresentado. Por isso, a conduta nesse caso é restrição da ingesta hídrica, com o intuito de chegar a normovolemia – alternativa D. QUESTÃO 2: Paciente de 74 anos, com HPB sintomática, submeteu-se a ressecção transureteral de próstata. No pós operatório imediato, houve piora do quadro geral com necessidade de transferência para a UTI. Os exames laboratoriais demonstraram hiponatremia (Na sérico de 112mEqL). Foi prescrita reposição com solução hipertônica (NaCl a 3%). Em relação à hiponatremia, considere as assertivas a seguir: I. O paciente pode apresentar sintomas graves como convulsões, coma e parada respiratória. II. A correção rápida da hiponatremia grave em pacientes com hiponatremia crônica pode causar alteração neurológica grave e, às vezes, irreversível, chamada da desmielinização osmótica (SDO). III. Os fatores de risco para SDO são sódio sérico <ou= 120mEq/L, hiperpotassemia concomitante, uso crônico de excesso de álcool, doença hepática aguda ou crônica e desnutrição. Quais são corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e II. e) I, II e III. 37 LETÍCIA MARABESI FERREIRA COMENTÁRIOS: Paciente de 74 anos, sexo masculino apresentando piora do quadro geral pós ressecção transureteral da próstata devido HPB. Com um sódio de 112mEq/L, ou seja, um quadro de hiponatremia grave/severa. Tratada com reposição de NaCl 3%. Devido ao quadro de hiponatremia grave, o paciente pode apresentar sintomas graves como convulsões, coma e parada respiratória, devido edema cerebral. E, a correção rápida da hiponatremia em pacientes com hiponatremia crônica pode causar alterações neurológicas graves, às vezes, irreversíveis como a Mielinólise pontina ou SDO – alternativas I e II estão corretas. Os fatores de risco para SDO são: além da correção rápida da hiponatremia temos antecedentes de abuso de álcool ou drogas, desnutrição, doença hepática, câncer e doença de Addison – alternativa III está errada. QUESTÃO 3: Uma paciente de 45 anos, sem histórico de doença neurológica prévia, em uso de citalopram há 1 mês para transtorno do humor, deu entrada no pronto socorro com história de duas crises convulsivas nas últimas 4 horas, com duração de aproximadamente 2 minutos. Ao EF apresenta- se consciente, orientada, sem déficit neurológico focal, hidratada, PA 130x88mmHg, FC 90bpm, TEC 2s, ausculta cardiopulmonar sem alterações, peso 80Kg. Exames complementares: glicose 112mg/dL, sódio 120mEq/L, potássio 3,1mEq/L, cloro 90mEq/L, magnésio 1,1mEq/L, ureia 33mg/dL, creatinina 0,8mg/dL, osmolaridade urinária 367mOSm/L; ECG: ritmo sinusal, sem alterações; TC de crânio: sem evidências de lesões. Assinale a alternativa correta: a) A natremia deve ser corrigida com solução de NaCl. b) Deve ser administradaFludrocortisona VO para correção da natremia. c) É recomendada restrição hídrica para a paciente. d) Deve ser administrado KCl a 10% diluído em solução glicosada. COMENTÁRIOS: Paciente de 45 anos, com histórico de doença neurológica prévia, dá entrada com história de 2 crises convulsivas nas últimas 4 horas, com duração de aproximadamente 2 minutos. E, nos exames o que chama atenção é a hiponatremia grave/severa (sódio de 120mEq/L), a hipocalemia (potássio de 3,1) e o fato de ele estar hipervolêmico (osmolaridade urinária de 367mOsm/L). A questão nos pergunta sobre a conduta correta com esse paciente, que seria a restrição hídrica, pelo quadro de uma hiponatremia severa hipervolêmica – alternativa C. QUESTÃO 4: Uma criança de 8 anos, com encefalopatia crônica não evolutiva, internada por ventriculite, encontra-se no segundo dia de pós operatório de derivação ventricular externa em 10mmHg, com funcionamento adequado, em uso apenas de antibiótico. Atualmente, evoluiu com poliúria. Exames laboratoriais mostraram pH 7,35, pCO2 42mmHg, HCO3 21mmol/L, Na 126mEq/L, K 4,2mEq/L, ureia 30mg/dL e creatinina 0,5mg/dL. Está estável clinicamente, sem piora neurológica, e desidratado grau I. em relação à sequência de investigação desse caso hipotético, assinale a alternativa correta: 38 LETÍCIA MARABESI FERREIRA a) Nova dosagem de sódio sérico e, se mantiver o mesmo valor, realizar reposição rápida com NaCl 3%. b) Teste com desmopressina, pois provavelmente se trata de diabetes insípidus central. c) Tomografia de crânio para avaliar correta localização do cateter de derivação e ajustar a pressão da derivação para 8mmHg. d) Dosagem de sódio urinário e, caso aumentado, considerar hipótese de síndrome perdedora de sal. e) Teste com SF 0,9% 20ml/Kg em uma hora, pois provavelmente se trata de síndrome da secreção inapropriada de ADH (SIAD). COMENTÁRIOS: Paciente de 8 anos de idade, com histórico de encefalopatia crônica não evolutiva, internado com ventriculite, evolui com poliúria. Apresentando um sódio de 126mE/L (hiponatremia moderada) e desidratado grau I. E, a pergunta é qual seria a nossa conduta perante o caso, que seria realizar o teste com SF 0,9%ml/Kg em uma hora, devido à suspeita de SIAD (se apresenta como uma hiponatremia hiposmolar euvolêmica) – alternativa D. QUESTÃO 5: Qual é a causa mais comum de hiponatremia euvolêmica? a) Insuficiência adrenal primária. b) Insuficiência adrenal secundária. c) Hipotireoidismo. d) SIAD. e) Potomania. COMENTÁRIOS: A causa mais comum de hiponatremia euvolêmica é a síndrome da antidiurese inapropriada ou SIAD – alternativa D. QUESTÃO 6: A condição associada à hiponatremia e supressão de níveis séricos de hormônio antidiurético é: a) Diabetes insípidus. b) Cirrose hepática. c) Insuficiência cardíaca. d) Polidipsia psicogênica. COMENTÁRIOS: A condição associada à hiponatremia e supressão de níveis séricos de ADH ou vasopressina é a polidipsia psicogênica (gera disfunção no centro de controle da sede, surgindo uma poliúria compensatório para evitar hiper hidratação) – alternativa D. QUESTÃO 7: Deve-se suspeitar de síndrome da secreção inapropriada de hormônio antidiurético, os pacientes que apresentam: a) Hipernatremia, poliúria e desidratação. b) Hipernatremia, poliúria e euvolemia. c) Hiponatremia, hiposmolaridade sérica e osmolaridade urinária acima de 100mOsm/Kg H2O. d) Hiponatremia, osmolaridade sérica normal e osmolaridade urinária acima de 100mOsm/Kg H2O. 39 LETÍCIA MARABESI FERREIRA e) Hiponatremia, hiposmolaridade sérica baixa e osmolaridade urinária <100mOsm/Kg H2O. COMENTÁRIOS: A SIAD é definida como hiponatremia hiposmolar euvolêmica – alternativa C. QUESTÃO 8: Homem de 54 anos, obeso (IMC=32), tabagista, hipertenso, diabético em uso regular de anlodipino e losartana potássica, deu entrada no serviço de emergência com rebaixamento do nível de consciência (ECG=9), FC 89 bpm, PA 130x80mmHgg e edema de MMII. Os exames laboratoriais mostravam creatinina 2,4mg/dL, ureia 67mg/dL, sódio 112mEq/L, potássio 5,2mEq/L e glicemia 203mg/dL. Em relação a este caso clínico, é correto afirmar: a) Trata-se de hiponatremia hipovolêmica. O sódio urinário e a osmolaridade urinária estariam elevados. b) Trata-se de hiponatremia hipervolêmica. O sódio urinário estava baixo e a osmolaridade urinária estaria elevada. c) Trata-se de hiponatremia euvolêmica por provável SIADH. A osmolaridade urinária seria menor que 100mOsm/L. d) Trata-se de hiponatremia hipervolêmica e insuficiência adrenal. O sódio urinário e a osmolaridade urinária estariam baixos. e) Trata-se de hipoaldosteronismo hiporreninêmico, com hiponatremia euvolêmica. O sódio urinário e a osmolaridade urinária estariam elevados. COMENTÁRIOS: Paciente homem, 54 anos, com diversos fatores de risco (tabagista, hipertenso, diabético) cardiovasculares e renais, com quadro de rebaixamento de nível de consciência e edema em MMII (hipervolêmico), creatinina 2,4, sódio 112mEq/L (hiponatremia grave/severa) e uma glicemia de 203mg/dL – alternativa B. 40 LETÍCIA MARABESI FERREIRA BASE DOS DISTÚRBIOS HIDROELETROLÍTICOS - HIPERNATREMIA AULA 7 DE CLÍNICA MÉDICA DEFINIÇÃO: Temos que lembrar que o valor do sódio normal é de 135-145mEq/L e, que a hipernatremia ocorre quando temos sódio >145mEq/L. Além disso, sabemos que o sódio é o principal cátion, o principal determinante da osmolaridade extracelular. E, para a regulação da quantidade de sódio no nosso organismo, precisamos de um hormônio chamado ADH ou vasopressina, de forma funcionante/fisiológica e, que o mecanismo da sede esteja intacto, ou seja, em pleno funcionamento. A hipernatremia ocorre quando temos um déficit de água em relação ao sódio, diferentemente da hiponatremia, que ocorre quando temos um déficit de sódio em relação a água. Usualmente, a hipernatremia está associada a hipovolemia, sendo esta a sua forma mais comum de apresentação (paciente perde água e a quantidade sódio aumenta no plasma). E, essa perda de água pode ser renal ou extrarrenal. Sendo a causa renal mais importante o diabetes insípidus. E, a hipernatremia também se apresenta como uma importante causa de mortalidade. PERDAS DE ÁGUA PELO ORGANISMO: Em situações de normalidade, nós perdemos água – como por exemplo, nas fezes, que perdemos de 100-200ml/dia + no suor, que perdemos de 100-300ml/dia + na respiração, que perdemos de 200-400ml/dia. Sendo a situação de normalidade de perda de água entre 400- 900ml/dia – por isso precisamos tomar cerca de 2-3L de água por dia, para repor a água que perdemos e para nos hidratarmos. CAUSAS: As principais causas de hipernatremia são: ✓ Perda de água livre: por déficit de concentração urinária (diurese osmótica; diabetes insípidus), por problemas no TGI (diarreias de grande volume, por exemplo) ou por perdas insensíveis aumentadas. ✓ Déficit de ingestão de água: por inabilidade de beber água ou acesso limitado (em idosos, principalmente) a esta ou por defeito no mecanismo da sede. ✓ Excesso de sódio: por fluidos hipertônicos, por ingestão de grandes quantidades de sódio ou por excesso de mineralocorticoides (agem reabsorvendo sódio e eliminando potássio). DIAGNÓSTICO: **Para fazemos o diagnóstico temos que saber o valor de referência do sódio normal** 41 LETÍCIA MARABESI FERREIRA A hipernatremia (sódio >145mEq/L) pode ser classificada em: ✓ Leve: sódio entre 145-150mEq/L. ✓ Moderada: sódio entre 150-160mEq/L. ✓ Grave: sódio >160mEq/L. ADAPTAÇÃO DAS CÉLULAS DO SNC: As células do SNC em vigência do aumento do sódio, ou seja, devido ao aumento da osmolaridade plasmática, têm seus mecanismos de adaptação – as células do SNC podem desidratar na hipernatremia, ou seja, podem perder água. Logo, quando a osmolaridade plasmática aumenta, o mecanismo de adaptação dascélulas do SNC é aumentar os osmois intracelulares, evitando desidratação celular. E, se abaixarmos de modo abrupto essa osmolaridade plasmática, a célula que demorou um certo tempo para se adaptar, pode receber água e, com isso, o paciente pode cursar com um quadro de edema cerebral – mecanismo fisiopatológico muito importante para entendermos o tratamento. QUADRO CLÍNICO: As principais manifestações clínicas do quadro de hipernatremia são: ✓ Letargia; ✓ Irritabilidade; ✓ Confusão; ✓ Convulsão; ✓ Coma. ✓ Anorexia; ✓ Náuseas; ✓ Vômitos; ✓ Fraqueza muscular; ✓ Hemorragias intracranianas. E, outras ponto importante, é lembrarmos que essa perda de água pode ser renal. Por isso, temos que saber a definição de poliúria que é = diurese >40ml/Kg/dia ou >3L/dia. DIABETES INSÍPIDUS: É aquele paciente que está urinando bastante, ou seja, com um quadro de poliúria (perda de água renal) importante, com isso, ele acaba apresentando uma certa incapacidade de concentrar a urina, a qual fica com uma osmolaridade <250mOsm/Kg. No diabetes insípidus ocorre uma ausência da produção do ADH, chamada de diabetes insípidus central ou, se o ADH está presente, mas não atua no rim, ou seja, existe uma insensibilidade à ação renal do ADH, temos um quadro de diabetes insípidus nefrogênico. Por isso, é crucial sabermos diferenciar os 2 tipos de diabetes insípidus. Sendo importante lembrar que algumas medicações podem provocar o diabetes insípidus nefrogênico, como por exemplo: o carbonato de lítio, anfotericina B e aciclovir + distúrbios metabólicos como hipercalcemia e/ou hipocalemia. PREVALÊNCIA DE SINTOMAS NEUROLÓGICOS 42 LETÍCIA MARABESI FERREIRA • COMO DIFERENCIAR SE É CENTRAL OU NEFROGÊNICO? R: Teste com DDAVP (análogo do ADH - desmopressina), sendo que se for: ✓ Central: o paciente vai apresentar um aumento da osmolaridade urinária e redução da poliúria. ✓ Nefrogênico: o paciente vai continuar com a poliúria e mesma osmolaridade urinária. **TOMAR CUIDADO COM O TESTE DE DDAVP – NÃO PODEMOS INTERROMPER A INFUSÃO DE SOLUÇÕES HIPOTÔNICAS DO NADA, PARA NÃO BAIXAR MUITO RÁPIDO O SÓDIO** TRATAMENTO: Antes de tratarmos esses pacientes, precisamos ter uma segurança, que é não baixar muito o nível de sódio (em 24h no máximo 12mEq/L), devido ao risco de edema cerebral. Outro fator muito importante é o uso da fórmula de Adrogué, para calcularmos quanto podemos administrar de solução hipotônica para o paciente. Sendo a principal solução hipotônica que administramos ao paciente é a água VO, mas se o paciente não tiver condições de tomar VO, podemos fazer por gavagem com sonda nasoenteral. E, se formos fazer IV, usamos ou SG 5% (que não tem sódio) ou SF 0,45% (77mEq/L) – sempre respeitando os 12mEq/L, evitando edema cerebral. • COMO TRATAMOS O DIABETES INSÍPIDUS? R: Se for central, vamos administrar DDAVP e, se for nefrogênico, tratamos com amilorida 10- 40mg/dia (se a etiologia for o uso de lítio) ou com hidroclorotiazida (se forem outras etiologias). OBS: A hidroclorotiazida é um diurético que aumenta a incorporação de aquaporina 2, de forma independente do ADH. E, em situações de hipernatremia, acaba aumentando a permeabilidade da célula central do túbulo coletor à água. PONTOS MAIS IMPORTANTES DA AULA: A hipernatremia é grave e frequente; Associada ao aumento da mortalidade; O organismo perde água normalmente (até 900ml/dia); A hipernatremia pode ocorrer por perda ou não acesso à água; Se poliúria, devemos investigar DI central ou nefrogênico; DI nefrogênico o ADH não consegue agir; O tratamento é feito com soluções hipotônicas: água, SG 5% ou SF 0,45%; Não reduzir >12mEq/L/24h 43 LETÍCIA MARABESI FERREIRA DISTÚRBIOS DO POTÁSSIO - HIPERCALEMIA AULA 8 DE CLÍNICA MÉDICA O POTÁSSIO: 98% do nosso potássio é intracelular, portanto, trata-se de um cátion muito importante no nosso organismo, para o funcionamento normal das organelas. E, 2% está no espaço extracelular. HIPERCALEMIA – CLASSIFICAÇÃO: A hipercalemia ocorre quando temos K>5mEq/L e, a hipercalemia severa quando temos K>6,5mEq/L ou independente do valor maior que 5mEq/L já temos uma alteração no ECG do paciente. FONTES DE POTÁSSIO: As nossas fontes principais de potássio são as frutas e os vegetais crus (exemplos: frutas cítricas, saladas, banana). BALANÇO TUBULAR FINAL DE POTÁSSIO: O balanço tubular final ocorre no tubo coletor, sendo que 70% do potássio é reabsorvido no túbulo proximal e o que permite mantermos o balanço fino do potássio, ou seja, ele entre 3,5- 5,0mEq/L, é o túbulo coletor, mais especificamente, as células principais deste. E, o principal hormônio envolvido é a aldosterona, que é produzida na zona glomerulosa da suprarrenal e age se ligando ao seu receptor, reabsorvendo sódio por um canal chamado ENaC e eliminar potássio por outro canal. Portanto, a aldosterona entrando em ação reabsorvemos sódio e eliminamos potássio do nosso organismo, por meio da urina. Além disso, eliminamos hidrogênio também. Logo, a aldosterona está associada ao controle corporal de potássio e também de hidrogênio, etapa final da acidificação urinária. Exemplos: ✓ Tem medicações que bloqueiam o receptor de aldosterona, como a espironolactona que é um diurético poupador de potássio, que age na célula principal do túbulo coletor bloqueando o canal da aldosterona, inibindo a célula de reabsorver sódio e de eliminar potássio, poupando potássio e hidrogênio. Com isso, o paciente pode ficar acidótico e hipercalêmico. ✓ Outro diurético poupador de potássio é o amilorida, medicamento que bloqueia o canal ENaC na célula principal do túbulo coletor, com isso não haverá reabsorção de sódio nem excreção de potássio e hidrogênio. Fazendo com que o paciente fique acidótico e hipercalêmico, assim como no uso da espironolactona. ✓ O bactrim (sulfametoxazol trimetropim), também bloqueia o canal ENaC. **A NÍVEL PLASMÁTICO TEMOS → k+ = 3,5-5mEq/L** 44 LETÍCIA MARABESI FERREIRA ✓ Medicação para transplante renal, por exemplo tracolimus e ciclosporinas, medicamentos que também bloqueiam essa troca de sódio com potássio e poupam potássio. **OS DIURÉTICOS POUPADORES DE POTÁSSIO ALDACTONE E ESPIRONOLACTONA, AGEM BLOQUEANDO O RECEPTOR DA ALDOSTERONA PRESENTE NAS CÉLULAS PRINCIPAIS DO TÚBULO COLETOR. E, O AMILORIDA AGE BLOQUANDO O CANAL ENaC** CAUSAS DE HIPERCALEMIA: As principais causas de hipercalemia são: ✓ Aumento da ingesta: temos que ingerir de 1-2mEq/Kg/dia apenas. ✓ Redução da excreção urinária: se o paciente não consegue excretar potássio pela urina, por exemplo, em uma situação de injúria renal aguda ou DRC, ele vai ter níveis de potássio elevados. -Uso de poupadores de potássio: medicamentos como aldactone/espironolactona (bloqueador do receptor de aldosterona) e amilorida (bloqueador do canal ENaC). -Uso de IECA/BRA: medicamentos que também poupam potássio. -Uso de bactrim (sulfametoxazol-trimetropim): medicamentos que também poupa potássio. -Uso de tracolimus/ciclosporinas: medicamentos que também poupam potássio. ✓ Mudança de compartimento: o potássio é mais frequente no ambiente intracelular, logo, quando ele é jogado do meio intra para o extracelular, temos hipercalemia. E, as causas são: acidose (concentração elevada de H+ no sangue, em comparação com a concentração de bicarbonato – a célula capta o H+ e joga pra fora da célula o potássio) e uso de beta bloqueadores (o estimulo adrenérgico joga o potássio para dentro da célula). ✓ Lise celular: a maior quantidade de potássio no nosso organismo está dentro das células, portanto, se houver lise destas, esse potássio é jogado para fora da célula. Como por exemplo, em situações de síndrome de lise tumoral, hemólise, rabdomiólise e síndrome neuroléptica. 45 LETÍCIA MARABESI FERREIRA Uma causa especial de hipercalemia é a insuficiência adrenal, umavez que a aldosterona (hormônio crucial para o balanço final do potássio acontecer) é produzida na suprarrenal, sendo responsável por absorver sódio e eliminar potássio. E, na insuficiência adrenal não temos a produção da aldosterona, com isso, ocorre a hipercalemia/hiperpotassemia. Além disso, o paciente que tem insuficiência adrenal pode ter hiponatremia, hipoglicemia, hipercalemia, hipotensão e acidose metabólica. SINAIS/SINTOMAS DE HIPERCALEMIA: A hipercalemia é perigosa, visto que ela pode cursar com: ✓ Arritmias cardíacas – risco iminente de morte, é uma emergência médica; ✓ Fraqueza muscular; ✓ Paralisia; OBS: O potássio é muito importante para a contração da musculatura esquelética, mas em excesso ele passa a ser prejudicial e perigoso ao organismo. As principais alterações no ECG são: ✓ Onda T apiculada; ✓ Aumento PR; ✓ Onda P achatada; ✓ QRS alargado – paciente pode fazer um bloqueio atrioventricular, fica muito bradicárdico; ✓ Fibrilação ventricular/Taquicardia ventricular – paciente pode evoluir para PCR. TRATAMENTO – COMO FAZER? O tratamento da hipercalemia ocorre de acordo com: ✓ Estabilização da membrana: estabilização do cardiomiócito, para proteger o coração do paciente, por meio da administração de gluconato de cálcio 1 ampola e 100ml de soro em 5min. ✓ Excreção/eliminação: ou pela urina (forma renal) ou pelo TGI (forma extra renal). Portanto, pela administração de diuréticos, como a furosemida (diurético potente de alça) ou pela administração de resina, eliminação gastrointestinal. Ou ainda, hemodiálise ou diálise peritoneal. ✓ Mudança de comportamento: com a administração de algum medicamento que vai jogar o potássio do meio extracelular para o meio intracelular, como por exemplo, o bicarbonato que vai desencadear uma alcalose (1ml/Kg 8,4%). Ou usar um beta 2 agonista ou um polarizante (glicose + insulina), permitindo a entrada de potássio na célula. Depois de 1 hora que fizemos todas as etapas acima, devemos colher um novo potássio do paciente para avaliar se ele é refratário ou não. Se ele for, é indicada a diálise, devido ao risco iminente de vida. *Acidose = joga o potássio para fora da célula provocando hiperpotassemia X Alcalose = coloca o potássio dentro da célula de novo** 46 LETÍCIA MARABESI FERREIRA DISTÚRBIOS DO POTÁSSIO - HIPOCALEMIA AULA 9 DE CLÍNICA MÉDICA DEFINIÇÃO: A hipocalemia é definida por K+ <3,5mEq/L, lembrando que a concentração normal de potássio no nosso organismo é de 3,5-5,5mEq/L. CLASSIFICAÇÃO: A hipocalemia pode ser classificada em: ✓ Leve: K+ 3-3,5mEq/L. ✓ Moderada: K+ 2,5-3mEq/L. ✓ Severa: K+ <2,5mEq/L. MECANISMOS DE HIPOCALEMIA: Os mecanismos de hipocalemia de uma forma geral são: ✓ Ingesta reduzida: a ingesta adequada é de 1-2mEq/dia, menos que isso é prejudicial. ✓ Aumento da excreção renal ou extrarrenal: paciente que usa diuréticos e/ou que tem diarreia crônica, pode cursar com hipopotassemia. ✓ Produção celular: como por exemplo, em um tumor, no qual temos a produção aumentada de células, as quais vão necessitar de potássio – cátion essencial intracelular para o funcionamento da célula. ✓ Mudança de compartimento: quando se tem potássio saindo do extracelular para o meio intracelular. TRANSPORTE TUBULAR FINAL DE POTÁSSIO: Nossos rins filtram por dia cerca de 170L de sangue/dia. E, quando esse sangue é filtrado pelo glomérulo, ele passa pelo túbulo proximal, no qual ocorre 67% da reabsorção de potássio, 30% na porção ascendente da alça de Henle (onde agem os diuréticos de alça, como a furosemida), no túbulo distal também tem uma pequena taxa de reabsorção (onde agem os diuréticos tiazídicos) e no túbulo coletor, por fim, é onde temos o balanço fino/final de potássio, que gira em torno de 5% de excreção de potássio – carga excretada é aproximadamente igual a 45mEq/dia. E, quando falamos em balanço fino do potássio, temos que ter em mente a importância da célula principal presente no túbulo coletor, que é aonde age a aldosterona. Então, quando este hormônio age no seu receptor, temos a reabsorção de sódio e a eliminação/excreção do potássio. No mecanismo de hipopotassemia, se temos muita aldosterona, ou seja, se temos hiperaldosteronismo, vai ter muita reabsorção de sódio e muita eliminação/excreção de potássio – paciente vai ficar hipertenso, hipocalêmico e alcalótico, visto que vai eliminar potássio e H+. 47 LETÍCIA MARABESI FERREIRA Se usamos um diurético, como por exemplo, a furosemida que vai agir na porção espessa ascendente da alça de Henle, esta vai fazer o paciente eliminar sódio e potássio pela urina, podendo cursar com hipopotassemia. CAUSAS DE HIPOCALEMIA: As principais causas de hipocalemia são: ✓ Ingesta inadequada: como por exemplo, em quadros de bulimia. ✓ Aumento da excreção urinária: pelo uso de diuréticos, anfotericina B/aminoglicosídeo (medicações que tem toxicidade tubular), por hipomagnesemia (magnésio baixo elimina potássio), uso de corticoide e/ou hiperaldosteronismo. ✓ Mudança de compartimento: do extra para o intracelular, como por exemplo em casos de alcalose, uso de bicarbonato, uso de beta-2 agonista e/ou excesso de insulina. E, algumas situações especiais que podem causar hipocalemia são: ✓ Hiperaldosteronismo: paciente cursa com hipertensão, hipocalemia e alcalose. ✓ Acidose tubular renal tipo 1 – distal: paciente cursa com acidose, hipocalemia, ânion gap urinário + e litíase/nefrocalcinose. ✓ Acidose tubular renal tipo 2 – proximal: paciente cursa com acidose, hipocalemia, bicarbonatúria e ânion gap urinário -. ✓ Paralisia periódica familiar: presente principalmente em pacientes que apresentam hipertireoidismo, podendo cursar com fraqueza/paralisia muscular e hipocalemia episódica (grande influxo de potássio do meio extra para o intracelular). Explicação acidose tubular O rim como chefe dos distúrbios ácido básico, apresenta algumas ferramentas, são elas: 1. Absorver bicarbonato no túbulo proximal; 2. Eliminação de H+ na forma de amônio, que é eliminado na forma de cloreto de amônio. Não dosamos o amônio na urina, mas sim o cloro que sai junto dele. 48 LETÍCIA MARABESI FERREIRA **LOGO, TODA VEZ QUE TEMOS OU UMA PERDA AUMENTADA DE BICARBONATO (BICARBONATÚRIA) OU UM DÉFICIT DE ELIMINAÇÃO DE H+, PODEMOS PROVOCAR UMA ACIDOSE TUBULAR – por perda de bicarbonato ou por retenção de H+** Na acidose tubular renal tipo 1, que acontece no túbulo coletor, o paciente diminui a sua capacidade de eliminar H+, cursando com acidose, hipocalemia (elimina potássio no lugar do H+), ânion gap urinário+ e, o paciente, além disso, pela acidose pode ter hipocitratúria – o citrato é um protetor da formação de cálculos renais. Então, na ATR1 o paciente pode ter litíase e nefrocalcinose. E, um dos mecanismos da acidose tubular renal tipo 2, é a bicarbonatúria – 80% do bicarbonato é reabsorvido no túbulo proximal, quando temos alguma alteração nele, o paciente também vai cursar com acidose. Além de apresenta um ânion gap urinário -. SINAIS/SINTOMAS DE HIPOCALEMIA: Os principais sinais e sintomas da hipocalemia são: ✓ Fraqueza muscular: o paciente pode ter paralisia respiratória por fraqueza muscular do músculo diafragmático, às vezes necessitando de IOT caso o quadro não seja revertido precocemente. ✓ Íleo paralítico: paciente pode cursar com constipação. ✓ Poliúria: paciente pode urinar mais de 3L/dia pela hipopotassemia, que altera o mecanismo de concentração final da urina, com isso, o paciente não consegue reabsorver água no túbulo coletor e acaba tendo poliúria. ✓ Arritmias: risco eminente de vida para o paciente, tem que ser tratada o mais rápido possível, sendo uma emergência médica. As principais alterações no ECG do paciente hipocalêmico são: ✓ Onda T achatada; ✓ Onda U. Paciente também pode evoluir com fibrilação ventricular se a hipopotassemianão for tratada de maneira adequada e precoce. 49 LETÍCIA MARABESI FERREIRA TRATAMENTO – COMO FAZER? Em relação ao tratamento oral: ✓ Reposição oral de potássio: em casos de hipopotassemia leve, ou seja, K+ 3-3,5mEq/L. ✓ Repor magnésio: importante para a manutenção do potássio em níveis adequados. ✓ Reposição IV: orientada em casos de K+ <3mEq/L., o qual é reposto na forma de KCl 19,1% (2,5mEq/ml). A reposição IV de potássio deve ser feita com muito cuidado, visto que, para o paciente não cursar com arritmias, devemos no atentar a: ✓ Concentração: reposição em via periférica até 50mEq/L e reposição em via central até 100mEq/L. ✓ Velocidade: 20-30mEq/hora. 50 LETÍCIA MARABESI FERREIRA BASE DOS DISTÚRBIOS HIDROELETROLÍTICOS – HIPER E HIPOCALEMIA AULA 10 - PRÁTICA DE CLÍNICA MÉDICA QUESTÃO 1: Paciente cardiopata utiliza diurético e desenvolveu quadro de hipopotassemia. Os exames apresentaram os seguintes resultados: • Gasometria arterial: pH 7,50, pO2 80mmHg, SatO2 97%, HCO3 30mEq/L, pCO2 38mmHg, BE +6,6mEq/L, Na 135mEq/L, K 2,8mEq/L, Cl 92mEq/L, Cl urinário 42mEq/L. Baseado nestes exames, o que o paciente apresenta? a) Alcalose metabólica e alcalose respiratória (distúrbio misto) e o cloro urinário >20mEq/L sugere uso atual de diurético. b) Alcalose metabólica compensada (distúrbio simples) e o sódio sérico elevado sugere contração do compartimento extracelular. c) Alcalose metabólica e acidose respiratória (distúrbio misto) e há indicação de correção rápida de K+ como medida salvadora de vida. d) Alcalose metabólica compensada (distúrbio simples) e o potássio sérico baixo resulta em ganho de HCO3- no compartimento extracelular. e) Alcalose respiratória apenas. QUESTÃO 2: Em relação aos distúrbios de potássio, assinale a alternativa incorreta: a) Hipocalemia grave pode induzir arritmias e rabdomiólise. b) Onda T achatada e QRS estreito ao ECG sugerem hipercalemia. c) O gradiente de concentração transtubular de potássio é capaz de distinguir entre as perdas renais e as pernas não renais de potássio. d) A hipercalemia pode se desenvolver em paciente que tomam IECA e BRA. QUESTÃO 3: Paciente, 68 anos, sexo masculino, hipertenso, foi admitido no pronto socorro com pneumonia grave. Nos exames laboratoriais, constavam creatinina 1,8mg/dL (VR 0,7-1,2), ureia 157mg/dL (VR 10-50) e K+ 7,2mEq/L. Foi então, realizado ECG, que evidenciou presença de onda T apiculada difusamente, encurtamento do intervalo QT e achatamento da onda P. qual é o mecanismo de ação do primeiro medicamento a ser administrado nessa paciente? a) Estimular a diurese. b) Estabilizar a membrana miocárdica. c) Trocar cálcio por potássio no TGI. d) Translocar potássio do meio extra para o intracelular. 51 LETÍCIA MARABESI FERREIRA QUESTÃO 4: Militar, 20 anos, chega à emergência após 12 horas de intenso treinamento em campo, com queixas de dor e fraqueza proximal em MMII, associadas a oligúria. Referiu, ainda, que o pouco de urina produzida tinha cor de ferrugem. Com relação ao caso clínico afirma-se: I- Ocorre acidose metabólica com ânion gap normal. II- A reposição hidrossalina vigorosa é um tratamento adequado. III- Infundir 10ml de gluconato de cálcio em 10-20min juntamente com nebulização com beta-2 agonista é a 1ª conduta terapêutica. Está(ão) correta(s): a) Apenas I. b) Apenas III. c) I e II. d) Apenas II e III. QUESTÃO 5: Paciente, 7 anos, com diagnóstico recente de síndrome nefrítica, em uso domiciliar de furosemida e dieta hipossódica, deu entrada no pronto socorro referindo desconforto torácico. O exame cardíaco demonstrou taquicardia (FC 150bpm) e o exame pulmonar estava normal. Colhidos exames iniciais: Na 146mEq/L, K+ 2,3mEq/L, P 2,9mEq/L, Hb 10g/dL e presença de onda U proeminente no ECG. A conduta inicial mais adequada para este caso é: a) Correção do sódio. b) Reposição de fósforo. c) Adicionar potássio ao soro de manutenção. d) Correção do déficit de água livre. e) Correção de potássio. QUESTÃO 6: Paciente, 78 anos, encontra-se internado para tratamento quimioterápico de neoplasia gástrica avançada. Após receber a última infusão do esquema antineoplásico, o paciente vem apresentando quadro de náuseas, vômitos e hiporexia. Previamente hipertenso, diabético e portador de dor crônica, faz uso de metformina 850mg 2x/dia, enalapril 20mg 12/12h e tramadol 100mg de 6/6h. Os exames colhidos revelaram creatinina sérica 2,1mg/dL, ureia 116mg/dL, Na 146mEq/L e K+ 6,8mEq/L. O ECG é alterado pelo apiculamento e desproporção da onda T em relação ao QRS. Ao exame físico evidencia-se PA 96x55mmHg, ausência de alterações na ausculta cardíaca e pulmonar, abdome globoso e hiper timpânico, com redução dos ruídos hidroaéreos e ausência de edema dos MMII. Além da suspensão do enalapril, o manejo da hiperpotassemia desse paciente deverá incluir: a) Poliestirenossulfonato de cálcio, gluconato de cálcio endovenoso, Fludrocortisona e solução de glicoinsulina. b) Gluconato de cálcio endovenoso, Poliestirenossulfonato de cálcio, solução de glicoinsulina e furosemida. 52 LETÍCIA MARABESI FERREIRA c) Hemodiálise, gluconato de cálcio endovenoso, bicarbonato de sódio e solução de glicoinsulina. d) Gluconato de cálcio, hidratação endovenosa, solução de glicoinsulina e inalação do beta-agonista. QUESTÃO 7: Das causas a seguir, qual é a mais comum de hiperpotassemia? a) Hiperaldosteronismo primário. b) Hiperaldosteronismo secundário. c) Síndrome de Gitelman. d) Diarreia infecciosa. e) Uso de anti-inflamatório. QUESTÃO 8: Uma paciente de 22 anos, portadora de DM1, deu entrada no serviço de pronto atendimento com quadro de CAD devido à descontinuação do uso da insulina e transgressão dietética. Exames laboratoriais evidenciaram elevação significativa dos níveis séricos de glicose e o pH do sangue arterial era 7,27. Qual dos achados relacionados a seguir se espera encontrar no traço eletrocardiográfico dessa paciente? a) Aumento da amplitude da onda P. b) Ondas T apiculadas. c) Ondas U. d) Redução da duração do intervalo PR. QUESTÃO 9: Um paciente com IC e fração de ejeção reduzida é submetido a hemicolectomia esquerda devido a um adenocarcinoma. No 2º dia de pós operatório, apresenta vômitos alimentares e distensão abdominal. O exame físico mostra paciente hipocorado 1+/4+, com as mucosas hidratadas, crepitações nas bases pulmonares, edema periférico 2+/4+ e distensão abdominal moderada, com fezes na ampola retal e ausência de descompressão dolorosa. Observam-se ainda, PA=90x60mmHg, FC=90bpm e FR=20irpm. Houve diurese de 1.200ml nas últimas 24 horas. Os exames laboratoriais mostram Hb 8,5g/dL, leucometria 12.000células/mm³ (5% bastões e 70% neutrófilos), plaquetas 500.000/mm³, ureia 190mg/dL, creatinina 4,8mg/dL, sódio 128mEq/L e potássio 6,5mEq/L. com relação aos distúrbios hidroeletrolíticos, assinale a afirmativa correta: a) Deve-se realizar reposição de sódio com solução salina hipertônica a 3%, a fim de evitar congestão sistêmica. b) Há indicação de hemodiálise imediata. c) Iniciar bicarbonato de sódio, pois é uma opção melhor que a glicoinsulinoterapia. d) Administrar furosemida em dose alta, que corrige tanto o distúrbio de sódio com o do potássio. e) Devem-se iniciar gluconato de cálcio e glicoinsulinoterapia. QUESTÃO 10: Um paciente com IRA tem um K+ de 6,9mEq/L. que outro estudo diagnóstico deve ser feito? 53 LETÍCIA MARABESI FERREIRA a) Nitrogênio ureico no sangue (BUN) e creatinina. b) Eletrocardiograma. c) Dosagem de eletrólitos na urina. d) Magnésio sérico. GABARITO DAS QUESTÕES: 1. Alternativa A. 2. Alternativa B. 3. Alternativa B. 4. Alternativa D. 5. Alternativa E. 6. Alternativa D. 7. Alternativa D. 8. Alternativa B. 9. Alternativa E. 10. Alternativa B.54 LETÍCIA MARABESI FERREIRA TERAPIAS NUTRICIONAIS AULA 11 DE CLÍNICA MÉDICA ATENÇÃO NUTRICIONAL: A atenção nutricional diz respeito aos cuidados relativos à alimentação e nutrição voltamos a promoção e proteção da saúde, a prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento de agravos. Temos 3 formas de alimentar os pacientes, são elas: 1. Oral: dieta feita diretamente pela boca. 2. Enteral: dieta feita através de uma sonda nasoenteral (sonda mais fina, que vai do nariz até o estômago, segunda porção do duodeno mais ou menos) ou através de uma sonda ligada diretamente ao estômago (gastrostomia). Existindo 2 tipos de sondas nesse contexto, a que entra o alimento e a que drena. -A sonda nasogástrica serve para drenar, não serve para dieta. 3. Parenteral: dieta que é feita via corrente sanguínea, já pronta para absorção. É uma dieta industrializada. -Usada, por exemplo, em um paciente em pós-operatório de CA de pâncreas, que não pode receber alimento no TGI diretamente (devido problema anatômico e/ou funcional). Daí usamos a sonda parenteral, que é direto pela corrente sanguínea, não passando pelo TGI. QUAIS SÃO OS OBJETIVOS DAS TERAPIAS NUTRICIONAIS? ✓ Prevenir e tratar desnutrição – no COVID, por exemplo, os pacientes ficam muito tempo internado (principalmente UTI), perdendo de 30-40% da massa magra corpora. Por isso, a importância de um acompanhamento com o nutrólogo; ✓ Preparar o paciente para procedimentos; ✓ Resposta imunológica e cicatrização; ✓ Prevenir e tratar complicações; ✓ Melhorar qualidade de vida; ✓ Reduzir tempo de internação; ✓ Reduzir morbimortalidade; ✓ Reduzir custos hospitalares. EQUIPE MULTIDISCIPLINAR EM TERAPIA NUTRICIONAL: É formada pelos seguintes profissionais: ✓ Médico: responsável por fazer a indicação e prescrição médica. ✓ Nutricionista: responsável por fazer a avaliação do estado nutricional e a prescrição dietética da nutrição enteral. ✓ Enfermeira: responsável pela administração das terapias nutricionais. ✓ Farmacêutico: responsável pela compra, armazenamento, distribuição e controle de qualidade das terapias nutricionais. 55 LETÍCIA MARABESI FERREIRA EPIDEMIOLOGIA DAS DESORDENS NUTRICIONAIS: No brasil, a desnutrição entre idosos representa 50% das internações já com sinais de desnutrição e 30% das crianças internadas, as quais passam a apresentar curvas inadequadas de crescimento e peso. A sarcopenia é a principal causa de mortalidade no idoso, sendo um importante problema de saúde pública, portanto. TRIAGEM NUTRICIONAL: Assim que o paciente dá entrada no hospital, é feita uma triagem para pesquisa de desnutrição. E, através do diagnóstico podemos detectar se ele vai apresentar um quadro de desnutrição ou não durante o período de internação. A triagem nutricional é feita no início da internação e no final – Aplicativo usado via celular chamado Nutritional Risk Screening. A detecção do risco nutricional, na triagem inicial do paciente, é avaliada de acordo com alguns fatores, tais como: E, a triagem final é feita pelos critérios de classificação nutricional estabelecidos no NRS, que são: E, através dos riscos apresentados pelos pacientes, definimos a dieta específica para o paciente. TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL: As principais características da dieta enteral são: ✓ Composição: forma isolada ou combinada, feita com alimentos para fins especiais, especialmente elaborada, permite uma ingestão controlada de nutrientes. Podendo ser especializada ou não. 56 LETÍCIA MARABESI FERREIRA ✓ Vias de uso: oral ou por sondas. ✓ Objetivos: substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou em risco de desnutrição. Permitindo a síntese ou manutenção de tecidos órgãos ou sistemas. ✓ Onde: hospitalar, domiciliar ou ambulatorial. Pode ser usada até 3 meses, sendo melhor em algumas opções escolher fazer a gastrotomia, principalmente se essa nutrição for prevista para >3 meses. Pois, a sonda enteral pode inflamar os seios da face e/ou perfurar e fazer meningite, se usada por tempo prolongado. A terapia nutricional enteral pode ser classificada de acordo com: OBS: Oligomérica ou semi-elementar = dieta quase pronta para absorção. Administrada, por exemplo, para um paciente com doença de Crohn. Sair da condição de catabolismo é um dos principais objetivos da terapia nutricional. As indicações em relação a terapia nutricional enteral são: ✓ Funcionamento normal do TGI; ✓ Ingesta oral insuficiente; ✓ Desnutrição ou risco de desnutrição. A terapia nutricional tem como um dos seus principais objetivos reestabelecer o paciente. E, as contraindicações da terapia nutricional enteral são: ✓ Obstrução gastrointestinal; ✓ Insuficiência intestinal; ✓ Fístula enterocutânea de alto débito (perfuração de alça); ✓ Vômitos ou diarreia intensos; Se o paciente está comendo 75% do que estou oferecendo pra ele comer pela dieta, por exemplo, temos que suplementar essa dieta. Portanto, o suplemento não é uma substituição da dieta, é apenas um complemento. 57 LETÍCIA MARABESI FERREIRA ✓ Hemorragias digestivas. ✓ Instabilidade hemodinâmica - em pacientes muito críticos, não administramos nenhuma dieta, porque senão ele pode entrar em choque. Precisamos estabilizar ele primordialmente. Para definir a necessidade calórica de cada paciente, usamos um cálculo que difere em relação aos pacientes críticos e estáveis: E, por fim, as principais complicações da terapia nutricional enteral são: ✓ Diarreia: devido múltiplas causas, tais como, pouca fibra, intolerância, antibióticos/contaminações, rápida infusão e/ou Hiperosmolaridade. ✓ Síndrome da realimentação: devido a transição rápida do estado catabólico para o estado anabólico – síndrome gravíssima, o paciente pode ir à óbito por conta dessa síndrome, devido a um quadro de arritmia severo. TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL: Pode ser definida como uma oferta de nutrição por via parenteral (venosa) central ou periférica, quando o TGI está comprometido ou obstruído e/ou quando a necessidade diária não está suficiente via enteral/oral. Existem 2 tipos: 1. Terapia parenteral total (NPT) – é a mais usada na prática clínica. 2. Terapia parenteral suplementar (NPS) – mais rara, sendo usada, por exemplo, em pacientes queimados, que necessitam de uma reposição nutricional muito alta. As indicações para terapia nutricional parenteral são: ✓ Condições que impeçam o uso enteral ou oral: pancreatites, fístulas entéricas, síndrome do intestino curto, aporte enteral insuficiente, hemorragia digestiva, colite ulcerativa e trauma abdominal grave. ✓ Adultos > 7 a 10 dias. ✓ Crianças > 5-7 dias. ✓ Neonatos > 1-2 dias. Imagem bem comum de vermos em idosos, indicando desnutrição grave. Úlcera de pressão – não fecha se não tiver uma nutrição adequada. 58 LETÍCIA MARABESI FERREIRA As contraindicações para a realização da terapia nutricional parenteral são: ✓ Paciente crítico, instável hemodinamicamente. ✓ Insuficiência cardíaca grave, hipervolêmico. ✓ Insuficiência renal crônica não dialítica. Em relação as vias de acesso, na terapia nutricional parenteral podemos usar 2 vias, são elas: 1. Central: suporte de 1500 a 2800 mOsm/L. 2. Periférico: suporte de 900 mOsm/L, até no máximo 5 dias. E, as complicações em relação a terapia nutricional parenteral são: ✓ Síndrome da realimentação (desnutridos prévios, perda >10% em 2 meses, jejum prolongado > 7 dias e/ou em casos de grandes perdas de peso em obesos). ✓ Complicações mecânicas – por obstrução e infecção do cateter central. Atentando para infecções fúngicas após período prolongado. ✓ Complicações metabólicas – por hiperglicemia, hiperlipidemia e/ou piora da uremia. ✓ Complicações hepáticas – por esteatose e/ou colestase. ✓ Complicações hidroeletrolíticas – por desequilíbrio global de sódio, potássio,
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