Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EDUCAÇÃO SUPERIOR Modalidade Semipresencial Alfabetização e Letramento São Paulo 2017 Alfabetização e Letramento Denise Jarcovis Pianheri Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional PRODUÇÃO EDITORIAL - CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL. CRUZEIRO DO SUL VIRTUAL P643a Pianheri, Denise Jarcovis Alfabetização e letramento. / Denise Jarcovis Pianheri. São Paulo: Cruzeiro do Sul Educacional. Campus Virtual, 2017. 72 p. Inclui bibliografia ISBN: 978-85-8456-201-5 1. Educação. 2. Alfabetização. I. Cruzeiro do Sul Educacional. Campus Virtual. II. Título CDD 370.19 Pró-Reitoria de Educação a Distância: Prof. Dr. Carlos Fernando de Araujo Jr. Autoria: Denise Jarcovis Pianheri Revisão textual: Selma Aparecida Cesarin 2017 © Cruzeiro do Sul Educacional. Cruzeiro do Sul Virtual. www.cruzeirodosulvirtual.com.br | Tel: (11) 3385-3009 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e detentor dos direitos autorais Alfabetização e Letramento Plano de Aula 9 Unidade I – A Escrita: Surgimento e Evolução 17 Unidade II – Alfabetização e Letramento 29 Unidade III – Métodos de Alfabetização 39 Unidade IV – A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento 49 Unidade V – A Escrita no Processo de Alfabetização 61 Unidade VI – A Alfabetização e Jovens e Adultos SUMÁRIO 6 PLANO DE AULA Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. formação acadêmica e atuação profissional, siga Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. 7 Objetivos de aprendizagem Un id ad e I A Escrita: Surgimento e Evolução » Nesta Unidade, o nosso tema será: “A escrita: surgimento e evolução”, na qual apresentaremos um panorama simplificado de como surgiu a escrita e das mudanças pelas quais ela passou, o que é importante para entendermos o processo de aprendizagem. Abordaremos alguns tipos de sistema de escrita e algumas características significativas para o nosso estudo. Un id ad e I I Alfabetização e Letramento » Nesta Unidade, o nosso tema será: “Alfabetização e Letramento”, na qual apresentaremos seus conceitos, um pouco da história do surgimento do termo “Letramento” e a importância de entendermos seu significado no processo de ensino e aprendizagem das crianças e até mesmo dos adultos. Também iremos contextualizar resumidamente como a Alfabetização aparece nos índices de pesquisa em nosso país. Un id ad e I II Métodos de Alfabetização » Nesta unidade, nosso tema será: “Métodos de Alfabetização”, na qual veremos o significado de método e quais são os tipos utilizados pelos educadores. Também abordaremos a questão das hipóteses da escrita e a importância da leitura no processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Un id ad e I V A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento » Nesta Unidade, o nosso tema será: “A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento”. Abordaremos a questão da leitura na alfabetização, a importância da leitura por prazer e de como a prática da leitura colabora na aprendizagem da criança ou do indivíduo que está sendo alfabetizado. Un id ad e V A Escrita no Processo de Alfabetização » Nesta Unidade, estudaremos sobre “A escrita no processo de Alfabetização”. Qual é o papel da escrita e sua função. » Também abordaremos o papel do aluno e do professor nesse processo e a importância de ter um ambiente alfabetizador. Un id ad e V I A Alfabetização e Jovens e Adultos » Nesta Unidade, o nosso tema será: “A Alfabetização de Jovens e Adultos”, em que apresentaremos alguns pontos que acreditamos ser importantes como: qual o perfil dos alunos da Educação de Jovens e Adultos, qual a importância da volta desses adultos aos estudos e principalmente quem foi Paulo Freire e a importância de seus estudos na alfabetização dos Jovens e Adultos. Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Denise Jarcovis Pianheri Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin I A Escrita: Surgimento e Evolução A Escrita: Surgimento e Evolução UNIDADE I 10 Contextualização Para começarmos a Unidade, que tal refletirmos um pouco: A linguagem é inseparável do homem, segue-o em todos os seus atos. É o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade, seus atos. Instrumento ao qual ele influencia, e é influenciado, a base mais profunda da sociedade humana (HJELMSLEV, apud SERGIO, 2010.) Após a leitura da citação, reflita sobre a importância da linguagem em sua vida, mais especificamente, qual a importância da escrita. Pense a respeito de como a utilizamos, de porque a utilizamos e quais as vantagens ao sabermos nos comunicar adequadamente em várias situações com as quais nos deparamos em nosso dia a dia. Essa reflexão é importante para começarmos a pensar a respeito do tema desta Unidade. A Escrita: Surgimento e Evolução 11 Introdução Nesta Unidade, estudaremos a respeito do surgimento e da evolução da escrita, mas para melhor compreendermos quando falamos de Alfabetização e Letramento, ainda surgem dúvidas a respeito de conceitos e definições, A complexidade dos termos é natural, devido às várias mudanças e transformações de ideias e práticas pedagógicas que vêm surgindo há algum tempo, podemos até afirmar que essas mudanças vem ocorrendo há algumas décadas. Sabemos que os conteúdos que as crianças aprendem na Escola não se fazem apenas por memorização. Hoje, vivemos em uma Sociedade que requer mais; exige-se aprender a interpretar, a questionar, a escrever textos e a compreendê-los, ou seja, a refletir sobre a sua própria escrita. É claro que há a necessidade da memorização das letras e sílabas para se poder ter condições de escrever, mas hoje se espera muito mais do educando e a reflexão sobre o funcionamento da linguagem é parte integrante de um bom desenvolvimento da aprendizagem da criança. Percebemos que há um desafio para o educador, como declara Maria Fernandes: O desafio do educador é organizar as atividades de sala de aula a partir dos estudos e pesquisas atuais na área da linguagem, possibilitando uma aprendizagem da língua oral e escrita deacordo com as características da época que está vivendo (FERNANDES, 2008). Para tentarmos superar o desafio proposto pela autora Maria Fernandes, iremos começar pela história da escrita, ou seja, seu surgimento e sua evolução, para iniciarmos a compreensão do processo da língua escrita. Há conhecimento de que o homem passou a fazer os seus registros há milhares de anos e que foi na antiga Mesopotâmia, localizada no Oriente Médio e considerada o berço das civilizações. Então, continuando, nessa região é que foram encontrados os primeiros indícios do surgimento da escrita, mas não podemos afirmar que a escrita surgiu apenas em uma civilização porque há registros de outros povos como os egípcios e os chineses, que também desenvolveram seus sistemas de escrita. Fonte: iStock/Getty Images Assim, podemos perceber que os povos primitivos tiveram a necessidade de registrar seus acontecimentos e seus feitos, como se verifica nas marcas que foram e ainda são encontradas em inúmeras cavernas, com representações variadas por meio de traços e imagens. A Escrita: Surgimento e Evolução UNIDADE I 12 O sistema de escrita mais antigo de que se tem registro foi criado na Suméria, aproximadamente 4.000 anos a.C., em que foram encontradas peças feitas de argila com sinais que são chamados de pictográficos, ou seja, sinais que são baseados em desenhos que representam coisas reais. Com o tempo, esse sistema foi evoluindo, dando-se a ele o nome de sistema cuneiforme. Por que cuneiforme? A palavra cuneiforme origina-se do próprio objeto que os homens da época utilizavam para escrever, que é chamado de cunha. Nesse sistema, cada palavra era representada especificamente por um signo. Como dito anteriormente, não foram apenas os sumérios que desenvolveram um sistema de escrita; os egípcios, bem próximos à época dos sumérios, também criaram seu sistema, conhecido como hieróglifo. Era uma escrita considerada sagrada, pois somente os sacerdotes e os membros da realeza conheciam os sinais. Por esse motivo, a escrita do hieróglifo também era considerada uma arte. Algo bastante interessante a respeito desse sistema é que com os vários estudos e pesquisas em torno dele, descobriu-se que os hieróglifos representavam também sons e, mais tarde, depois dessas descobertas, foi possível decifrar os sinais representados. Com as informações anteriores, temos uma ideia de como a escrita surgiu e podemos afirmar que com o tempo começou a haver transformações e mudanças nesses sistemas de escrita. Os avanços de cada sociedade vão surgindo e com isso aparecem também as necessidades de os povos irem se adaptando e fazendo com que mudanças ocorram e, assim, desenvolvam- se outros meios de escrita, o que irá facilitar a vida dessas sociedades. Fonte: Wikimedia Commons Para melhor compreendermos, vamos definir alguns sistemas de escrita: · Sistema logográfi co – È um sistema que representa uma palavra; esse sistema não representa os sons. Algo interessante para salientarmos é que a China utiliza-se dele até hoje. Outros povos também fizeram uso dele, mas não até os dias atuais. Alguns exemplos de sinais logográficos que utilizamos em nossos dias são: $ que representa o “dinheiro”; @ que significa “em”; A Escrita: Surgimento e Evolução 13 · Sistema ideográfi co – É um sistema que representa palavras completas ou, podemos até dizer, que representa uma ideia, ou seja, são imagens que para compreendermos precisamos de conhecimento cultural e contextual. Por exemplo, uma placa de trânsito é uma linguagem ideográfica. · Sistema silábico – É um sistema que, no Brasil, por exemplo, é representado na combinação de sons de consoantes e vogais, que formam uma sílaba. Agora, no Japão, no sistema silábico, cada sinal realizado representa uma sílaba; · Sistema alfabético – É um sistema que conhecemos e utilizamos no Brasil. Nesse sistema, cada letra corresponde a um som individual. Esses são alguns tipos de sistema de escrita; existem outros, como o Sistema Braile, utilizado por deficientes visuais, no qual a leitura é feita por pontos em relevo, que representam as letras; mas os sistemas citados são suficientes para percebermos a importância do desenvolvimento da escrita. No processo de aprendizagem da escrita, as crianças, num primeiro momento, começam a entender as ideias por meio das representações feitas por desenhos ou figuras; com o tempo, vão descobrindo as letras e seus significados e começam a fazer as combinações, criando, aos poucos, as palavras, as frases e os textos que irão representar o mundo no qual elas vivem. É claro que esse movimento não acontece num período curto; isso irá depender de um longo processo que a criança inicia com seus rabiscos; com o tempo, parte para suas combinações aleatórias e depois com junções mais elaboradas, dando-se aos poucos a oportunidade de conhecer realmente o mundo letrado. A Língua Portuguesa Vamos conhecer um pouco da nossa Língua! A nossa Língua Portuguesa é falada por aproximadamente mais de 200 milhões de falantes nativos. É considerada a sexta língua materna mais falada no mundo. Existem vários países que falam a Língua Portuguesa além do Brasil. Também falam a nossa Língua: Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Angola, Guiné-Bissau, Cabo-Verde e Timor-Leste. A Língua Portuguesa originou-se do Latim, mas, como toda Língua, sofreu influência dos povos e foi modificando-se em cada região em que era imposta. Com as grandes viagens feitas pelo povo português, aproximadamente entre os séculos XIV e XVI, a Língua Portuguesa foi sendo influenciada por várias expressões das línguas originadas de diferentes regiões. A Escrita: Surgimento e Evolução UNIDADE I 14 Pode-se perceber essas influências na Língua Portuguesa falada no Brasil. No início da colonização, a Língua sofreu influência do Tupi; com o passar do tempo e as mudanças ocorridas pela escravidão, isto é, com os negros sendo trazidos como escravos da África, a língua também recebeu a contribuição da influência africana. E as influências não pararam, pois ocorreram mais tarde as invasões de outros povos em terras brasileiras, como os holandeses e os franceses e aos poucos a língua foi se enriquecendo com os novos vocábulos. Também recebemos influências por meio dos imigrantes que se estabeleceram em algumas regiões específicas do país. Para visualizar, veja alguns exemplos que foram incorporados à língua portuguesa do Brasil, citados por Maria Fernandes (2008, p. 15): · tupi: Iracema, Copacabana, Ubatuba, tatu, arara, maracujá, andiroba, mandioca, pipoca etc. · línguas africanas: fubá, moleque, samba, acarajé, caçula; · francês: paletó, boné, batom, crepe, matinê; · alemão: gás, níquel; · italiano: macarrão, piano, partitura, bandido; · espanhol: bolero, castanhola; · japonês: camicase, sushi, sashimi; · inglês: hambúrguer, deletar, show, sanduíche. Um ponto bem interessante em relação à Língua Portuguesa no Brasil é que além das variadas influências dos diferentes povos, há uma variação interna da língua. Isto é, há mudanças na língua nas diversas regiões do país em relação, por exemplo, ao vocabulário e à pronúncia. E essa variedade nas regiões ocorre por diversos fatores como geográficos, socioeconômicos e de faixa etária, entre outros. Por esse motivo observamos e percebemos as diferentes falas das pessoas nas variadas regiões de nosso país. A Escrita: Surgimento e Evolução 15 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos História da Escrita - do papiro ao computador - parte 1 Para aprofundar seus conhecimentos assista ao vídeo disponível no link a seguir, que conta a história da escrita, desde o papiro até o computador https://youtu.be/r7yeiRtc1fA A Escrita: Surgimento e Evolução UNIDADE I 16 Referências FERNANDES, Maria. Os segredos da alfabetização. São Paulo: Cortez, 2008. FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita.Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. SERGIO, Ricardo. Os Sistemas de Escritas. 2010. Disponível em: <http://www. recantodasletras.com.br/gramatica/370335>. Acesso em: 12 jan. 2013. Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Denise Jarcovis Pianheri Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin II Alfabetização e Letramento Alfabetização e Letramento UNIDADE II 18 Contextualização Para começarmos a Unidade, que tal refletirmos um pouco? Vamos ler a citação de Paulo Freire sobre ser analfabeto ou não: Fonte: Wikimedia Commons “Ninguém é analfabeto por eleição, mas como consequência das condições objetivas em que se encontra. Em certas circunstâncias, ‘o analfabeto é o homem que não necessita ler’, em outras, é aquele ou aquela a quem foi negado o direito de ler” (FREIRE apud VALE, 2005, p. 28). Após a leitura da citação, pense e reflita sobre o que é ser analfabeto. Será que podemos considerar analfabeto aquele que não sabe ler e escrever? E aquele que não sabe ler e escrever, mas faz uso das práticas sociais, consideramos analfabeto ou não? Essa reflexão é importante para iniciarmos o assunto sobre Alfabetização e Letramento que iremos estudar nesta Unidade. Alfabetização e Letramento 19 Alfabetização e Letramento Nesta Unidade, estudaremos os conceitos a respeito dos termos “Alfabeti- zação” e “Letramento”. Vamos conhecer um pouco da história da Alfabetização, de como surge o Letramento, o porquê da importância desse termo para os pes- quisadores e, principalmente, para os professores alfabetizadores. Para iniciarmos, vamos entender os vocábulos pelas definições que encontramos no dicionário. As primeiras palavras que precisamos conhecer um pouco melhor são: analfabetismo, analfabeto, Alfabetização e alfabetizar. Assim, teremos maior clareza de como surge o vocábulo Letramento e de sua significação no processo de Alfabetização. Vejamos as definições no dicionário Aurélio: · Analfabetismo – De analfabeto + -ismo: estado ou condição de analfabeto; falta absoluta de instrução; · Analfabeto – Do grego analphábetos, “aquele que não conhece nem o alfa nem o beta”, em latim analphabetus. Que não conhece o alfabeto; que não sabe ler e escrever. Absolutamente ou muito ignorante. Que desconhece determinado assunto ou matéria. Indivíduo analfabeto; indivíduo ignorante sem nenhuma instrução; · Alfabetização – De alfabetizar + -ação; ação de alfabetizar; · Alfabetizar – De alfabeto + -izar; ensinar a ler; dar instrução primária a; aprender a ler por si mesmo. Também temos os termos que são fundamentais e colaboram na compreensão dos termos estudados nesta Unidade. Temos: · Letrado – Do latim literratu; versado em letras; erudito; indivíduo letrado; literato; · Iletrado – Do latim illiteratu; que ou aquele que não tem conhecimento literário; ilteratu; analfabeto ou quase analfabeto. Agora, o termo “Letramento”, não pudemos encontrar no dicionário Aurélio. Entretanto, outro dicionário, o Houaiss, apresenta o vocábulo: · Letramento – Representação da linguagem por meio de sinais; escrita; incorporação funcional das capacidades a que conduz o aprender a ler e escrever. Condição adquirida por quem o faz. Alfabetização e Letramento UNIDADE II 20 Quando pontuamos esses termos pelo dicionário, temos uma visualização e uma ideia dos significados, facilitando nossa compreensão no processo de inserção da palavra Letramento no mundo da Educação. E também percebemos a diferença entre alfabetizar e letrar. Ao falarmos da história da Alfabetização, praticamente direcionamos os métodos utilizados durante as décadas em que visualizamos as mudanças ocorridas nos processos de Alfabetização. A autora Onaide Schartz Mendonça, no artigo “Percurso histórico dos métodos de Alfabetização”, apresenta um resumo dessas mudanças. Seguindo a pesquisa da autora, a história da Alfabetização pode ser dividida em quatro períodos. O primeiro tem início na Antiguidade e se prolonga até a Idade Média. Nessa época, o método utilizado foi o de soletração. O segundo momento vai dos séculos XVI e XVIII até a década de 1960. Nesse período, começam a criar novos métodos sintéticos e analíticos e já nessa época foram criadas as cartilhas. O terceiro período tem início por volta da década de 1980, tendo como divulgação a teoria da Psicogênese da língua escrita. E o quarto momento, considerado o atual, muitos pesquisadores denominam de “reinvenção da Alfabetização”. É nesse período que surge a preocupação mais pontual e aparecem os índices que demonstram o fracasso da Alfabetização no nosso país. Os resultados do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) no período 2011-2012, pesquisado pelo Instituto Paulo Montenegro, mostram que apenas 26% da população são considerados alfabetizados. Os conhecidos como analfabetos funcionais representam 27% e 47% da população possuem nível de Alfabetização básico. O INAF – Indicador de Alfabetismo Funcional: É um indicador que mede os níveis de alfabetismo funcional da população brasileira adulta. O objetivo do INAF é oferecer à sociedade informações sobre as habilidades práticas de leitura, escrita e matemática dos brasileiros entre 15 e 64 anos de idade, de modo a fomentar o debate público, estimular iniciativas da sociedade civil e subsidiar a formulação de política nas áreas de educação e cultura. Ex pl or O Brasil apresenta avanço nos níveis de Alfabetização comparado a épocas anteriores, mas ainda não tivemos progresso considerável referente ao pleno domínio das habilidades de leitura e escrita para o mundo letrado. Alfabetização e Letramento 21 Como podemos verificar na pesquisa, o percentual da população alfabetizada funcionalmente foi de 61% em 2001 e em 2011 a porcentagem foi de 73%, ou seja, para cada quatro brasileiros, apenas um domina plenamente as habilidades de leitura e escrita. O resultado da pesquisa aponta que o avanço se dá pela “universalização do acesso à Escola e do aumento do número de anos de estudo.” Com essa pesquisa, conseguimos visualizar o andamento da Alfabetização no Brasil. Outro ponto importante revelado pelo INAF são os níveis de alfabetismo, que são divididos em quatro: 1. Analfabetos: não são capazes de realizar nem mesmo tarefas simples em relação à leitura; 2. Alfabetizados rudimentares: conseguem identificar pequenas informações em textos curtos e também leem e escrevem números que utilizam no cotidiano; 3. Alfabetizados básicos: têm capacidade de leitura e compreendem textos de média extensão, leem números e resolvem operações simples e têm noção de proporcionalidade; 4. Alfabetizados plenos: conseguem ler textos longos, analisam, interpretam, relacionam, fazem inferências e diferenciam fato de opinião. Resolvem problemas com porcentagem, proporções e cálculos; também conseguem interpretar tabelas, mapas e gráficos. Ao observarmos e analisarmos os resultados da pesquisa, verificamos que, hoje, o Letramento já está inserido no processo de aprendizagem da leitura e da escrita, ou seja, não basta alfabetizar, é necessário letrar. A Alfabetização e o Letramento não podem ser apresentados separadamente, precisam caminhar juntos. Alfabetização: É a ação de alfabetizar, que consiste em tornar o indivíduo capaz de ler e escrever, ou seja, tornar-se alfabeto. Letramento: É a condição do indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas também faz uso competente da leitura e da escrita e de suas práticas sociais. Ex pl or Continuando! O termo Letramento não surge aleatoriamente. É um vocábulo novo que aparece nos estudos de Educação e das Ciências Linguísticas, nos anos de 1980. A palavra Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa literacy, que significa “a condição de ser letrado”, e da palavra literate, um adjetivo que caracteriza a pessoa que domina a leitura e a escrita. Alfabetização e Letramento UNIDADE II 22 Para Magda Soares, com a palavra literacy, implicitamente está inserida a ideia de que A escritatraz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzido, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la. Em outras palavras: do ponto de vista individual, o aprender a ler e escrever – alfabetizar-se, deixar de ser analfabeto, tornar-se alfabetizado, adquirir a “tecnologia” do ler e escrever e envolver-se nas práticas sociais de leitura e de escrita (...) (SOARES, 2001, p. 17-8). É nesse sentido que damos o significado para o “Letramento”, ou seja, é “o resultado da ação de aprender a ler e a escrever.” Vivemos em uma sociedade em que o saber ler e escrever não basta. O adequado e o que se espera é que as pessoas possam saber fazer uso da leitura e da escrita nas diferentes práticas sociais em que o indivíduo está inserido e que serão dele exigidas. Percebe-se a exigência da habilidade nas práticas sociais até mesmo no critério das pesquisas para saber sobre a quantidade de analfabetos e alfabetos no país. Anteriormente, definia-se uma pessoa como analfabeta ou não se ela, indivíduo, era capaz de escrever seu próprio nome. Hoje, quando são feitas as pesquisas relacionadas à Alfabetização, a pergunta fundamental para definir se a pessoa é alfabetizada ou não é se ela é capaz de ler e escrever um bilhete simples. Já existe a preocupação de avaliar o nível de Letramento das pessoas. Em alguns países como Estados Unidos e alguns outros, o objetivo dessa avaliação não é o mesmo que no Brasil. Magda Soares comenta a respeito: [...] Não basta denunciar, como se costuma crer no Brasil, um alto número de pessoas que não sabem ler e escrever (fenômeno a que nos referimos nós, brasileiros, quando denunciamos o nosso ainda alto índice de analfabetismo), mas estão denunciando um alto número de pessoas que evidenciam não viver em estado ou condição de quem sabe ler e escrever, isto é, pessoas que não incorporam os usos da escrita, não se apropriaram plenamente das práticas sociais de leitura e de escrita: em síntese, não estão se referindo a índices de Alfabetização, mas a níveis de Letramento (SOARES, 2001, p. 22-3). Outro ponto interessante é que uma determinada pessoa pode ser analfabeta, ou seja, não saber ler e escrever, mas poderá ser considerada letrada. Como isso pode acontecer? O indivíduo que tem o acesso aos materiais de leitura e escrita e que faz uso indiretamente desse material, de certa forma, é letrado. Melhor dizendo, a pessoa que pede para alguém ler uma carta, por exemplo, não saber ler e escrever, mas sabe e compreende a funcionalidade dessa prática social, ou também aquele que se interessa em ouvir uma história. Alfabetização e Letramento 23 Magda Soares exemplifica muito bem essa questão em seu livro “Letramento: um tema em três gêneros” e não podemos deixar de citar o trecho em que ela explica sobre a criança que não sabe ler e escrever, mas que pode ser considerada letrada. A autora afirma: Da mesma forma, a criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia livros, finge lê-los, brinca de escrever, ouve histórias que lhe são lidas, está rodeada de material escrito e percebe seu uso e função, essa criança é ainda “analfabeta”, porque não aprendeu a ler e a escrever, mas já penetrou no mundo do Letramento, já é de certa forma, letrada (SOARES, 2011, p. 24). Portanto, o Letramento pode ter vários níveis e isso irá depender dos estudos e pesquisas que já pensam em como medir esses níveis. Mas, o importante é termos clareza do significado desse termo, que cada vez mais está presente entre nossos pesquisadores, teóricos, professores e profissionais da área. Também no livro da autora, que já mencionamos, a pesquisadora cita um poema feito por uma estudante norte-americana, chamada Kate M. Chong, que define o que é Letramento para ela. Leia e veja que interessante! Letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado, não é treinamento repetitivo de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramática. Letramento é diversão é leitura à luz de vela ou lá fora, à luz do sol. São notícias sobre o presidente, o tempo, os artistas da TV e mesmo Mônica e Cebolinha nos jornais de domingo. Alfabetização e Letramento UNIDADE II 24 É uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. É viajar para países desconhecidos, sem deixar sua cama, é rir e chorar com personagens, heróis e grandes amigos. É um atlas do mundo, sinais de trânsito, caças ao tesouro, manuais, instruções, guias, e orientações em bulas de remédios, para que você não fique perdido. Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser. (apud Soares, 2001, p. 41) Ao ler o poema, conseguimos perceber claramente os exemplos citados pela escritora e, assim, enxergarmos como o Letramento faz parte de nosso cotidiano. Ou seja, utilizamos a leitura e a escrita praticamente o tempo todo, como no trabalho, na Escola, no lazer e, é claro, em casa. O que precisamos ter consciência é que a Alfabetização e o Letramento não são temas que irão ser estudados e utilizados separadamente. Eles precisam “caminhar” juntos, mas a compreensão dos conceitos de cada termo precisa estar claro porque, nos dias de hoje, em que a sociedade espera muito mais de cada pessoa em relação à leitura e à escrita, ou melhor, exige-se que o indivíduo não só saiba ler e escrever, mas que faça o uso coerente da leitura e da escrita. Alfabetização e Letramento 25 Por isso é necessário engajamento por parte dos profissionais da área da Educação, porque, sem dúvida, esses educadores e pesquisadores são os primeiros que precisam entender, compreender e, o principal, fazer uso da Alfabetização e do Letramento de maneira coerente, que possa levar os educandos também à compreensão do uso da leitura e da escrita no seu dia a dia, ou seja, em suas práticas sociais. Alfabetização e Letramento UNIDADE II 26 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Alfabetização - Telma Weisz (1ª parte) Acesse o link a seguir para saber mais sobre Alfabetização: https://youtu.be/2wK9lw2cehI Alfabetização e Letramento 27 Referências FERNANDES, Maria. Os segredos da Alfabetização. São Paulo: Cortez, 2008. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio. Século XXI: o dicionário da Língua Portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. HOUAISS, Antonio; VELLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. VALE, Maria José. Paulo Freire, educar para transformar: almanaque histórico. São Paulo: Mercado Cultural, 2005. Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Denise Jarcovis Pianheri Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin III Métodos de Alfabetização Métodos de Alfabetização UNIDADE III 30 Contextualização Leia a citação de Maciel (2010): O método é um conjunto relativo a determinados princípios diretivos provenientes de uma das ciências fundamentais da Educação. Os métodos no Brasil foram, infelizmente, durante muitos anos, atrelados a produções de livros didáticos (cartilhas, pré-livros). Desta forma, a concepção de método ficou restrita às orientações metodológicas, melhor dizendo, às técnicas de aplicação descritas no manual do professor (...) (MACIEL apud Perez, 2011, p. 45). Após a leitura da citação, pense e reflita sobre os métodos de Alfabetização. É possível afirmar que um único método é o correto? O que entendemos por método? Reflita para iniciarmos nosso estudo. Métodos de Alfabetização 31 Conteúdo Teórico Nesta Unidade, veremos alguns métodos de Alfabetização que já foram utilizados e que ainda fazem parte das estratégias de ensino de vários alfabetizadores. Para iniciar,existem alguns questionamentos que sempre perpassam por educadores e profissionais na área da Educação. Os questionamentos que surgem no dia a dia do professor e de outros da área da Educação são: • Afi nal! O que é Método?; • É possível afi rmar que existe um único método efi caz?; • O que precisamos para poder alfabetizar?; • Existe uma idade para se alfabetizado? Pensem a respeito dessas perguntas, algumas delas responderemos nessa unidade. Ex pl or De acordo com o dicionário Aurélio, método é: “Maneira de dizer, de fazer, de ensinar uma coisa, segundo certos princípios e em determinada ordem, maneira de agir; obra que reúne de maneira lógica os elementos de uma ciência, de uma arte.” Ao entendermos o conceito literal do vocábulo “Método” fica mais fácil a compreensão de quando ele está inserido no processo de aprendizagem. Para deixar mais claro, vejamos os tipos de métodos de Alfabetização que já foram utilizados e que ainda fazem parte do ensino. Os métodos podem ser divididos em sintéticos e analíticos: Os sintéticos são: Os analíticos são: Método Alfabético Método da Palavração Método Fônico Método Sentenciação Método Silábico Método Global Os métodos sintéticos são definidos por iniciarem o ensino pelos elementos menores, por exemplo, a letra, o fonema ou a sílaba. Assim, partem da unidade mínima para chegar ao todo. Muitos educadores defendem os métodos sintéticos, como podemos verificar com a autora Emília Ferreiro, em seu livro “Psicogênese da língua escrita”, em que explica a respeito: Quaisquer que sejam as divergências entre os defensores do método sintético, o acordo sobre esse ponto de vista é total: inicialmente, a aprendizagem da leitura e da escrita é uma questão mecânica; trata-se de adquirir a técnica para o decifrado do texto. Pelo fato de se conceber a escrita como a transcrição gráfica da linguagem oral, como sua imagem (...) ler equivale a decodificar o escrito em som. É evidente que o método será tanto mais eficaz quanto mais o sistema da escrita estiver de acordo com os princípios alfabéticos, isto é, quanto mais perfeita seja a correspondência som-letra (FERREIRO, 1999, p. 22). Métodos de Alfabetização UNIDADE III 32 Já os métodos analíticos iniciam das partes maiores para as menores, ou seja, da palavra ou texto, e depois passam para as sílabas e letras. Também citando Ferreiro em relação aos métodos analíticos, ela afirma: Para os defensores dos métodos analíticos, pelo contrário, a leitura é um ato “global” e “ideovisual” (...) O prévio, segundo o método analítico, é o reconhecimento global das palavras ou das orações; a análise dos componentes é uma tarefa posterior. Não importa qual seja a dificuldade auditiva daquilo que se aprende, posto que a leitura é uma tarefa fundamentalmente visual (FERREIRO, 1999, p. 22). Assim, percebemos que há uma variedade de métodos, uns defendendo a questão auditiva e outros mais preocupados com a questão visual. Na verdade, o que realmente precisa ser levado em consideração no processo de Alfabetização e Letramento é em relação à competência linguística da criança e a capacidade de conhecimento que ela possui, antes mesmo de saber ler e escrever. A criança já traz muito do entendimento da escrita, ou seja, ela conhece sua língua materna e faz uso dela sem saber que o está fazendo. Na Alfabetização, o método que utilizamos é muito importante para auxiliar em todo o processo, mas não podemos ficar “presos” aos métodos e esquecer-se de outros pontos significativos para o desenvolvimento da aprendizagem do aluno. Esses outros pontos, que são fundamentais para o progresso do educando são: · Reconhecer e utilizar os conhecimentos prévios do aluno; · Observar e acompanhar a aprendizagem do aluno; · Observar e identificar o progresso do aluno; · Proporcionar atividades que abordam situações comunicativas; · Incentivar e aplicar a leitura em sala de aula; · Proporcionar os variados gêneros textuais para o aluno. Os métodos, sem dúvida, são um caminho que podemos seguir para dar andamento no processo da Alfabetização, mas não é necessário apenas seguir o caminho do método que adotamos. É importante refletir e fazer uso dos pontos mencionados anteriormente. Como, por exemplo, reconhecer e utilizar os conhecimentos prévios do aluno. Não podemos supor que a criança ou o adulto que está sendo alfabetizado venha para a sala de aula sem nenhum conhecimento. O indivíduo, mesmo não reconhecendo os códigos linguísticos, traz outros conhecimentos porque a criança, por exemplo, faz uma leitura por meio das imagens. Ela pode não saber determinadas letras, mas reconhece um produto, local ou brinquedo por meio das imagens que são feitas para representá-los. Métodos de Alfabetização 33 Outro ponto fundamental no processo de Alfabetização e Letramento é incentivar e aplicar a leitura em sala de aula. Segundo Maria Fernandes (2008): A leitura é um processo pelo qual o leitor realiza um trabalho ativo da construção do significado do texto a partir do que está buscando nele, do conhecimento que já possui a respeito do assunto, do autor e do que sabe sobre a língua. (FERNANDES, 2008, p. 38). Então, proporcionar a leitura em sala de aula é importante para o desenvolvimento da aprendizagem da criança. Cabe ao professor também dar oportunidades de situações comunicativas para que o aluno possa aos poucos se familiarizar com os diversos gêneros textuais. Fernandes (2008) cita, ainda, outro ponto que precisa ser levado em consideração: Os alunos devem ver na leitura algo interessante e desafiador, uma conquista capaz de dar autonomia e independência. Estar confiante para enfrentar o desafio da leitura é “aprender fazendo” (FERNANDES, 2008, p.39). Assim sendo, a criança faz várias hipóteses em relação a sua leitura; ela vai construindo sua leitura, por meio das ideias e das concepções que ela possui em relação ao que compreende sobre o código linguístico. A leitura é uma parte essencial no desenvolvimento da linguagem escrita, e novamente pontuamos que o professor precisa proporcionar para o aluno variados materiais escritos, como: revistas, livros, gibis, bilhetes, embalagens, nomes de ruas, placas, nomes dos colegas e outros materiais que fazem parte do cotidiano do aluno. É claro que também se faz necessário apresentar para a criança materiais aos quais provavelmente ela não poderá ter acesso, como, por exemplo, algum tipo de texto ou livro que não faz parte do seu mundo letrado. Dessa maneira, a criança, para aprender a ler e escrever, terá de compreender o código linguístico da sua língua e o uso funcional da linguagem que utiliza. O educando, por sua vez, precisa compreender esses dois pontos por meio das hipóteses linguísticas, que são os estudos feitos por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, que nos auxiliam no entendimento em relação sobre como a criança compreende a escrita. As hipóteses podem ser definidas em quatro níveis ou fases: · Pré-silábico; · Silábico; · Silábico-alfabético; · Alfabético. Métodos de Alfabetização UNIDADE III 34 É por meio dessas hipóteses que são realizadas as sondagens. Mas o que é Sondagem? A “Sondagem” da escrita é exatamente uma maneira de observar e investigar sobre a escrita da criança, permitindo ao professor atuar no processo de ensino e aprendizagem de forma eficaz, ou seja, mediando, de acordo com as dificuldades da criança. Fernandes (2008) afirma que: A sondagem não é uma avaliação. É uma observação das características do pensamento dos alunos. O objetivo é verificar como o aluno pensa para poder planejar as intervenções da professora (FERNANDES, 2008, p. 130). A autora também dá uma sugestão importante: Pode-se realizá-la usando lista de palavras do mesmo campo semântico (animais, roupas, comida etc.) ou uma escrita espontânea. Se for uma lista, deve ter palavras polissílabas, trissílabas, dissílabas e monossílabas, nessa ordem. Pede-se que as crianças escrevam do jeito quesouberem. É bom não dizer que é um ditado ou exercício, mas que é uma brincadeira de escrever. As palavras não devem ser pronunciadas silabadas, e sim inteiras (FERNANDES, 2008, p.130). Vejamos os níveis! Pré-silábico Nesta fase, a criança registra as chamadas garatujas, desenhos que não têm definição tão clara. Aos poucos, ela passa a fazer desenhos com traços mais definidos, mas não fáceis de decifrar. Se a criança tem incentivo para a leitura e para materiais escritos, ela também começa a misturar letras ou as chamadas pseudoletras, os rabiscos. Então, em um primeiro momento, ainda nessa fase, a criança não consegue diferenciar letras de números e sua grafia parece não tão definida. Ainda no nível pré-silábico, a criança pode ter o segundo momento, no qual ela consegue colocar uma quantidade significativa de caracteres em relação à palavra dita para ela, mas, mesmo assim, sua escrita ainda não é tão compreensível. Dessa forma, no nível pré-silábico, temos a ausência de relação entre a escrita e os sons da fala. Métodos de Alfabetização 35 Silábico Neste nível, a criança já consegue estabelecer as relações entre o som e as letras. Então, quer representar cada letra por um símbolo e vai utilizar também letras, pseudoletras e números. A criança define as partes das palavras, ou seja, a sílaba, mas, nessa fase, ela representa não a sílaba por completo; algumas vezes, irá colocar mais letras do que necessário, pois acredita ser o correto. O grande desafio para a criança são as palavras monossílabas, porque para ela representar uma palavra, como por exemplo, “mãe”, ela acredita que irá precisar de mais letras do que realmente possui a palavra ditada. Vamos dar um exemplo! Ditamos para uma criança que se chama Camila a palavra “giz”, monossílaba, e ela pode representar da seguinte forma: XiAL. Nesse exemplo, a criança, acreditando não serem suficientes as letras, acaba utilizando outras que, no caso, fazem parte do nome dela, isto é, são letras de seu conhecimento e que, dessa maneira, para ela, fazem a escrita ter mais sentido. O silábico pode ser dividido em: silábico com valor e silábico sem valor. Silábico sem valor tende a estabelecer correspondência sistemática entre a quantidade de letras utilizadas e a quantidade de sílabas que se deseja escrever, sem o valor sonoro correspondente. No silábico com valor, as letras utilizadas pertencem realmente, em todas as ocasiões, à sílaba que se tenta representar. Silábico-alfabético Nesta fase, a criança utiliza dois níveis, o silábico e o alfabético, ao mesmo tempo. Esse momento é o que chamamos de transição. Nesse nível, a criança começa a acrescentar letras em algumas sílabas, como, por exemplo, ditar a palavra CAVALO; a criança poderá escrever da seguinte maneira: CAViO ou também KVALO. A escrita irá variar porque dependerá do conhecimento linguístico de cada criança. Nesse nível, a escrita apresenta sílabas completas e sílabas representadas por uma só letra. Métodos de Alfabetização UNIDADE III 36 Alfabético É o nível em que se pode dizer que a criança já está compreendendo o sistema linguístico e como ele se organiza. Nessa fase, ela já consegue ler e representa graficamente as palavras e pequenas frases. Conhecer esses níveis é fundamental para um bom desenvolvimento no processo de Alfabetização, porque a partir das sondagens realizadas, pode-se refletir a respeito do pensamento da criança, ou seja, entender como ela vê a escrita, permitindo, assim, identificar as dificuldades e as necessidades de cada uma e proporcionar a elaboração de atividades diversificadas, que irão ser utilizadas na reelaboração das hipóteses das crianças, fazendo com que elas se apropriarem da escrita convencional. Nesse nível, as escritas são construídas com base em uma correspondência entre fonemas (sons) e grafemas (letras). Portanto, esses níveis irão auxiliar no processo de aprendizagem das crianças ou de adultos, porque por meio das sondagens conseguimos compreender como o aluno consegue entender a escrita e dessa maneira o educador pode fazer as intervenções necessárias. Métodos de Alfabetização 37 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Simulador Revista Escola — Faça o teste de interpretação de hipótese de escrita http://goo.gl/FPseko Métodos de Alfabetização UNIDADE III 38 Referências FERNANDES, Maria. Os segredos da Alfabetização. São Paulo: Cortez, 2008. FERREIRO, F. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. PEREZ, I. L. Alfabetização e Letramento. São Paulo: UNICID, 2011. Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Denise Jarcovis Pianheri Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin IV A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento UNIDADE IV 40 Contextualização Vamos refletir um pouco! Leia a citação a seguir, de Italo Calvino (1923-1985): Ler significa preparar-se para capturar uma voz que vai surgir quando você menos espera. Uma voz que se deixa ouvir de um lugar inesperado, para além do livro, além do autor, além da escrita: ela vem do que foi dito, daquilo que o mundo ainda não fez a si mesmo porque ele não tinha palavras para dizê-lo. Após a leitura da citação, pense e reflita sobre o processo de leitura na vida escolar da criança ou do adolescente e até mesmo do adulto. Como será que consideramos a leitura? É importante ou não? Reflita para iniciarmos nosso estudo. A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento 41 A leitura no processo de alfabetização e letramento Nesta Unidade, nosso foco central será “A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento”. Um dos pontos fundamentais para a aprendizagem na Alfabetização da criança é o desenvolvimento da linguagem oral. A construção da linguagem oral da criança está vinculada ao contato com as falas dos adultos. Nesse processo, as crianças fazem uso de tentativas, brincadeiras e interações que realizam com os adultos e, dessa maneira, aos poucos, vão construindo sua linguagem oral de forma gradativa. Outros meios que as crianças utilizam no desenvolvimento de sua linguagem falada são os gestos, os sinais e a linguagem corporal. Segundo Maria Fernandes (2008, p. 22): “A aprendizagem se dá por meio de reflexão, pensamento, explicitação de atos, sentimentos, sensações e desejos.” Por meio do convívio com os adultos, as crianças vão adquirindo experiência e conhecimentos sobre a linguagem oral. Assim, imitam as pessoas em várias situações de comunicação, memorizam músicas, parlendas etc., também imitam as entonações, expressões e diálogos que vivenciam e, dessa forma, ampliam sua capacidade oral e aos poucos se familiarizam com a linguagem escrita. Agora, qual a importância da leitura? Uma das atividades mais importantes que é proporcionada na vida escolar das crianças é a aprendizagem da leitura. Luiz Carlos Cagliari (2003, p.148), a respeito da importância da aprendizagem de leitura na Escola, afirma: “A leitura é a extensão da Escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido por meio da leitura fora da Escola. A leitura é uma herança maior do que qualquer diploma”. Um dos pontos a respeito do qual devemos ser conscientes é que as pessoas acabam tendo problemas em seus estudos durante os anos que passam devido a não terem desenvolvido a prática da leitura de maneira adequada. Por exemplo, muitos alunos não sabem resolver problemas de Matemática não porque não saibam solucionar as equações que precisam ser desenvolvidas na atividade, mas porque não sabem ler o enunciado do problema. A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento UNIDADE IV 42 Outro ponto fundamental é que alguns alunos sabem ler, ou melhor, fazem a leitura automática, conhecem as palavras, mas não conseguem compreender aquilo que lêem; é o que podemos chamar de pessoa não letrada.Isto é, o aluno conhece os códigos linguísticos, faz a leitura, mas não consegue assimilar o significado do que lê; não faz a interpretação de determinado texto. A leitura é essencial para o bom desenvolvimento da aprendizagem da escrita. Ela enriquece, fortalece a compreensão e o entendimento dos códigos linguísticos. Citando novamente Cagliari (2003, p. 150): Há um dito popular que diz que a leitura é o alimento da alma. Nada mais verdadeiro. As pessoas que não leem são pessoas vazias ou subnutridas de conhecimento. É claro que a experiência da vida não se reduz à leitura. A vida como tal é a grande mestra. Algumas pessoas analfabetas conseguem, às vezes, se sair bem economicamente, mas nem por isso deixam de ser pessoas vazias. Têm a riqueza externa, sabem se virar na sociedade, mas são pobres culturalmente, porque só a experiência da vida, por mais rica que possa ser, não é suficiente para fornecer uma cultura sólida e geral. Um fator importante para o desenvolvimento da leitura é ensinar as crianças desde bem cedo o gosto pela leitura. A perda do prazer de ler ou não ter aprendido o prazer de ler é um ponto que irá afetar a criança pelo resto de sua vida. Daniel Pennac (1995), em seu livro Como um Romance, aborda essa questão da leitura por prazer. No livro, ele destaca o porquê da perda do gosto da leitura, ou seja, o autor declara que a preocupação de muitos, especialmente da Escola, irá tornar a leitura algo obrigatório para o aluno. O prazer da leitura é apagado pela obrigação e, assim, o aluno começa a pensar na questão do número de páginas, que sempre é muito mais do que imagina; a classificação quanto ao gênero, nunca é o livro que ele gostaria de ler; a solicitação de resumos ou análises referentes ao texto, sendo sempre algo imposto pelo professor. Como Pennac (1995) menciona, o livro passa a ser visto não mais como passagem para outros mundos, mas como um “objeto contundente”, algo que pode ferir. Então, um ponto a salientar, é que o adulto tem um papel fundamental no desenvolvimento da leitura na criança e uma das coisas importantes a serem ensinadas é o prazer da leitura. Daniel Pennac esclarece essa questão do papel do adulto no processo de aprendizagem da leitura de maneira maravilhosamente clara. A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento 43 Ele afirma: Ele é, desde o começo, o bom leitor que continuará a ser se os adultos que o circundam alimentarem seu entusiasmo em lugar de pôr à prova sua competência, estimularem seu desejo de aprender, antes de lhe impor o dever de recitar, acompanharem seus esforços, sem se contentar de esperar na virada, consentirem em perder noites, em lugar de procurar ganhar tempo, fizerem vibrar o presente, sem brandir a ameaça do futuro, se recusarem a transformar em obrigação aquilo que era prazer, entretendo esse prazer até que ele se faça um dever, fundindo esse dever na gratuidade de toda aprendizagem cultural, e fazendo com que encontrem eles mesmos o prazer nessa gratuidade (PENNAC, 1995, p. 55). A leitura é um processo complexo, em que o leitor precisa realizar um trabalho ativo no ato de ler porque irá construir o significado do texto. Essa construção se dá pelo que o leitor está buscando em relação ao texto; também se leva em consideração o conhecimento prévio sobre o assunto que é tratado no texto; as informações sobre o autor colaboram na construção dos sentidos que o leitor busca e a própria linguagem trazida pelo texto que será lido. Podemos afirmar que existe uma idade ideal para ler? Na realidade, não existe idade ideal para o aprendizado da leitura. O que leva a criança a ler é a participação nas atividades de leitura e escrita, e também é importante fazer com ela tenha acesso a vários materiais impressos, como: revistas, livros, jornais, gibis, embalagens etc. que irão proporcionar o conhecimento dos códigos linguísticos e, é claro, tudo junto, com a participação dos adultos que dominam esse conhecimento. É fato que o exemplo dado pelo adulto em relação à leitura e a escrita é fundamental para a aprendizagem da criança. As crianças, no processo da aprendizagem, elaboram hipóteses de leitura da mesma forma como fazem na aprendizagem da escrita, com as hipóteses da escrita. E o que são hipóteses de leitura? As hipóteses de leitura são as concepções ou ideias que as crianças têm referentes ao que está escrito e do que se pode ler, é o que consideramos natureza conceitual. Portanto, a criança irá se desenvolver ou irá fazer suas hipóteses de leitura a partir daquilo que for apresentado para ela, ou seja, com as diversas oportunidades de situações de leitura no entendimento da relação entre a oralidade e os segmentos gráficos. A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento UNIDADE IV 44 Maria Fernandes (2008) aponta o que o professor pode fazer: Oferecer textos que os alunos saibam de cor (músicas, parlendas, poesias etc.) e solicitar que acompanhem a leitura indicando onde estão as palavras lidas. É uma oportunidade para os alunos pensarem sobre o que está escrito e como está escrito. Solicitar que procurem algumas palavras pode ser uma boa intervenção do professor; - realizar o trabalho com listas (animais, comidas, brincadeiras etc.) também é adequado na fase inicial de alfabetização, pois esse tipo de texto permite que as crianças antecipem o significado de cada item (FERNANDES, 2008, p.39). O professor precisa proporcionar várias situações de aprendizagem em que a criança possa ouvir, pensar e refletir sobre a leitura. É muito importante, também, oferecer textos trabalhados impressos. O contato tanto com a leitura quanto com a escrita fará com que a criança desenvolva de forma eficaz sua aprendizagem e sua compreensão em relação ao mundo letrado. Outro ponto relevante na aprendizagem da leitura são as estratégias de leitura, que não podem ser confundidas com as hipóteses de leitura. O que são estratégias de leitura? São os recursos utilizados tanto por leitores iniciantes quanto por leitores fluentes para compreender o texto, ou seja, dar sentido ao que está sendo lido. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, pode-se dizer que estratégia de leitura: Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas (BRASIL,1998, p.69-70). O que é cada uma dessas estratégias? Temos quatro estratégias: antecipação, seleção, inferência e verificação e segundo Maria Fernandes (2008), as estratégias de leitura podem ser definidas como: - antecipação: hipóteses que tornam possível prever o que ainda está por vir com base nas informações explícitas e suposições (...); - seleção: ações que permitem que o leitor se atenha apenas ao que é útil para a compreensão, desprezando itens irrelevantes (...); - inferência: permite captar o que não está dito no texto de forma explícita. É o complemento que o leitor fornece ao texto a partir de seus conhecimentos prévios (...); A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento 45 - verificação: torna possível confirmar ou não as expectativas levantadas, controlando a eficácia das demais estratégias. Essa checagem é inerente à leitura e leva o leitor a repensar as hipóteses levantadas, retomar partes anteriores e fazer as devidas correções (FERNANDES, 2008, p. 65-6). É claro que no início do processo de aprendizagem da leitura, o leitor não irá fazer o uso de todas as estratégias citadas; por isso os textos mais adequados como música, parlendas e embalagens, como mencionado anteriormente, colaboram e possibilitam ao leitor iniciante formular suas hipóteses, ou seja, ouvir, pensar e refletir sobre a leitura, utilizando, também, outros recursos, como as imagens que otexto pode trazer para, assim, fazer sua interpretação e compreender o texto dado. Alguns fatores são fundamentais para as práticas da leitura. Os Parâmetros Curriculares Nacionais afirmam que: “Formar leitores é algo que requer condições favoráveis, não só em relação aos recursos materiais disponíveis, mas, principalmente, em relação ao uso que se faz deles nas práticas de leitura” (BRASIL, 1998, p. 71). Assim, pontuaremos algumas dessas condições: 1. A escola precisa disponibilizar uma biblioteca contendo variados gêneros textuais, sendo para consulta ou empréstimos, além de revistas, gibis, jornais e outros; 2. A sala de aula também deve conter materiais para leitura, com a preocupação de proporcionar um acervo diversificado para que os alunos obtenham variadas situações de leitura; 3. O professor tem o papel de proporcionar e organizar os momentos de leitura, tanto feito por ele próprio como pelos alunos, para que possam trocar ideias, sugestões e experiências; 4. O professor também deve proporcionar atividades de leitura regularmente; 5. Cabe o professor permitir a escolha das leituras pelos próprios alunos, assim, ensinando o prazer da leitura; 6. A Escola como um todo tem o dever de planejar um projeto relacionado à leitura, envolvendo a todos. Não deve pensar que apenas o professor de Língua Portuguesa tem de trabalhar a leitura; todo o professor é responsável por esse processo. O papel do professor, juntamente com a Escola, é de extrema importância para o crescimento da criança ou do adolescente. O professor tem por obrigação proporcionar essas variadas condições de ensino e aprendizagem para seu aluno, possibilitando-o desenvolver suas capacidades e habilidades, tanto de leitura como de escrita. Pensando em atividades sobre leitura, vá até o Material Complementar e veja um tipo de atividade que pode se desenvolvido com as crianças nas séries iniciais para o desenvolvimento da aprendizagem da leitura. É uma sugestão da Revista Nova Escola. A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento UNIDADE IV 46 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Como um romance PENNAC, D. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1995. Exemplo de atividade. http://goo.gl/PzaU0k A Leitura no Processo de Alfabetização e Letramento 47 Referências BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. CAGLIARI, L. C. Alfabetização & Linguística. São Paulo: Scipione, 2003. FERNANDES, Maria. Os segredos da alfabetização. São Paulo: Cortez, 2008. PENNAC, D. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1995. V A Escrita no Processo de Alfabetização Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Denise Jarcovis Pianheri Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin A Escrita no Processo de Alfabetização UNIDADE V 50 Contextualização Para iniciarmos a nossa conversa, assista ao vídeo “Educação e Vida”. Disponível em: https://youtu.be/mNlgV5i7um4 Ex pl or O vídeo possibilita refletirmos sobre o processo de aprendizagem entre as pessoas, o que cada um pode fazer para ajudar o outro, como o professor pode ajudar e qual o seu papel no processo de ensino na Alfabetização. Assista! Pense! Reflita! A Escrita no Processo de Alfabetização 51 Introdução Nesta Unidade, o foco central será o papel da escrita no processo de Alfabetização. A escrita é algo em que tanto a criança como os jovens e adultos estão sempre envolvidos, seja de maneira direta ou indireta. Mas o que é interessante é que muitas vezes os professores estão mais preocupados em como as crianças escrevem do que exatamente com a escrita em si. Por exemplo, preocupam-se mais em ensinar a letra cursiva, que para muitos é o jeito “correto”, em vez de utilizar inicialmente a letra bastão, com a qual a criança tem mais facilidade para escrever, porque a coordenação motora não está tão desenvolvida. Mas nem todos pensam assim, causando mal estar entre os alunos por algumas vezes não conseguirem realizar as atividades propostas pelo professor, ficando, dessa forma, frustrados com a escrita. Dessa maneira, perdem o interesse, a vontade, o desejo de aprender a escrever. Estamos acostumados aos vários tipos de letras e não percebemos que a criança que está aprendendo a ler e a escrever desconhece esse mundo dos tipos variados de letras, ou seja, a primeira letra do alfabeto pode aparecer para o aluno de várias formas, como: Como afirma Luiz Carlos Cagliari: Para nós, adultos, qualquer A é A, seja ele escrito como for. Quando a criança começa a aprender a escrever, ninguém lhe diz isso e, muitas vezes, ela fica admirada diante das coisas que a professora (e os adultos) fazem com as letras. Com o tempo, acaba aprendendo indiretamente o que a escola pretende. O grande problema nesse caso é que a escola ensina a escrever sem ensinar o que é escrever, joga com a criança sem lhe dizer as regras do jogo (CAGLIARI, 2003, p.97). Essa questão da letra cursiva ou bastão é apenas um ponto que leva a criança a ter interesse pela escrita ou não. Não podemos deixar de pensar que a escrita é um dos objetivos mais importantes da Alfabetização, juntamente, é claro com a leitura, e não podemos desvincular uma da outra. Segundo Cagliari, a escrita tem como objetivo principal permitir a leitura. E a leitura nada mais é do que a interpretação da escrita, ou seja, consiste na tradução dos símbolos escritos na fala. A Escrita no Processo de Alfabetização UNIDADE V 52 “Ninguém escreve ou lê sem motivo, sem motivação” (Cagliari, 2003, p.102). É preciso proporcionar para as crianças os variados tipos de materiais impressos; já falamos sobre isso na unidade anterior. O aluno precisa ter acesso à linguagem escrita de diversos tipos, como jornais, livros, revistas, placas de trânsito ou ruas, painéis, bilhetes etc.; todo material que seja possível apresentar para as crianças é válido, por dois pontos a serem levantados. O primeiro é que muitas crianças não terão esse conhecimento, ou melhor, só terão esse contato com os materiais impressos por meio do que é dado para elas na Escola. E o segundo ponto, é mostrar para o aluno e fazer com que ele possa descobrir “o aspecto funcional da comunicação escrita”, fazendo com que ele tenha curiosidade, levando-o a refletir sobre a escrita e, assim, ele irá aprender sobre o significado da escrita. Agora, refletindo a respeito de como as crianças pensam sobre a escrita, precisamos retomar as questões das hipóteses da escrita. Lembrando! O que são hipóteses de escrita? De acordo com Emília Ferreiro e Ana Teberosky, as crianças elaboram diversas hipóteses demonstrando o funcionamento do sistema de escrita. O professor poderá verificar, por meio das hipóteses realizadas pelas crianças, como elas entendem a escrita ou como elas veem esse processo. Então, vejamos as definições de cada nível. Pré-silábico A criança, nessa fase, registra as chamadas garatujas, desenhos que não têm uma definição tão clara. Aos poucos, ela passa a fazer desenhos com traços mais definidos, mas não fáceis de decifrar. No nível pré-silábico, temos a ausência de relação entre a escrita e os sons da fala. A Escrita no Processo de Alfabetização 53 Silábico Nesse nível, a criança já consegue estabelecer as relações entre o som e as letras; então, quer representar cada letra por um símbolo e vai utilizar também letras, pseudoletras e números. A criança define as partes das palavras, ou seja, a sílaba, mas nessa fase ela representa não a sílaba por completo; algumas vezes irá colocar mais letras do que necessário, pois acredita ser o correto. Silábico sem valor Silábico com valor Silábico-alfabético Nessa fase, a criança utiliza dois níveis, o silábico e o alfabético, ao mesmo tempo. Esse momento é o que chamamos de transição. Nesse nível, a criança começa a acrescentar letrasem algumas sílabas, como, por exemplo, ao ditar a palavra CAVALO, a criança poderá escrever da seguinte maneira: CAViO ou também KVALO. A escrita irá variar porque dependerá do conhecimento linguístico de cada criança. Nesse nível, a escrita apresenta sílabas completas e sílabas representadas por uma só letra. A Escrita no Processo de Alfabetização UNIDADE V 54 Alfabético É o nível no qual se pode dizer que a criança já está compreendendo o sistema linguístico e como ele se organiza. Nessa fase, ela já consegue ler e representar graficamente palavras e pequenas frases. Nesse nível, as escritas são construídas com base em uma correspondência entre fonemas (sons) e grafemas (letras). É importante salientar que conhecer o valor sonoro convencional é conhecer a letra, ou seja, o nome, e perceber sua relação com o som. Fazer a correspondência entre o fonema (som) e o grafema (letra). Pode-se dizer que quando isso ocorre, a criança está conseguindo entender o processo da escrita e está entendendo que há uma relação entre a fala e a escrita. A Escrita no Processo de Alfabetização 55 Outro ponto importante é fazer questionamentos para a criança sobre o que ela escreve e anotar as respostas, para depois perceber o desenvolvimento da criança. E como podemos iniciar o processo de Alfabetização? Ou é apropriado partir da aprendizagem por meio dos textos? Maria Fernandes salienta que: Isso leva a uma mudança na prática pedagógica. Iniciar a Alfabetização pelas vogais ou sílabas simples, organizadas numa determinada sequência, em lugar de facilitar, pode dificultar a aprendizagem dos alunos, pois essa escolha desconsidera que, no início do processo de reflexão sobre a escrita, as crianças acreditam que palavras com poucas letras não podem ser lidas. É caminhar na contramão do processo dos alunos. Mais real é apresentar todo alfabeto e permitir que os alunos pensem, comparem, analisem textos e palavras para que percebam o funcionamento do sistema linguístico e possam compreender as partes (letras e palavras) no todo (texto) e o todo (texto) com suas partes (letras e palavras) (FERNANDES, 2008, p.129). Há uma variedade de textos e os educadores precisam proporcionar para os alunos os diversos tipos e, principalmente, trabalhar com eles as funções que cada texto possui e isso deve acontecer na Escola. Na maioria das vezes, a preocupação maior é com a memorização e o que realmente precisa ser levado em consideração e é o mais importante é a compreensão dos significados dos textos. Inicia-se com o contato com a leitura, com a interpretação e com a escrita espontânea dos alunos, preocupando-se em proporcionar para eles situações reais de comunicação. A interação com os mais variados tipos de textos é importante, porque se acredita que mesmo aquela criança que não saiba ler convencionalmente, por meio dessa interação, aprenderá as características da linguagem. Ao disponibilizar diversos tipos de materiais: livros de história, gibis, revistas, jornais, folhetos de propaganda, embalagens e outros materiais que sejam de interesse do aluno, é importante lembrar que as atividades preparadas pelo professor devem ser desafiadoras, aquelas que tragam situações problema, ou seja, devem ser atividades nas quais os alunos precisam pensar, refletir, argumentar, usar todo o conhecimento que possuem para assimilar aquilo que ainda não sabem. Sabemos que o aprendiz é o protagonista para a construção de seu conhecimento, ele irá utilizar todo o seu conhecimento para aprender. O professor tem o papel de transmitir, mediar, orientar e fazer as intervenções necessárias no processo de aprendizagem, mas será o aluno que irá receber as diversas informações e transformá-las em conhecimento. A Escrita no Processo de Alfabetização UNIDADE V 56 Vamos contextualizar? Observe a seguinte sugestão de atividade com texto. Carta Enigmática Crianças cuidem de seu Crinque com ele de Não deixe de dar de dar e, principalmente, de dar A Escrita no Processo de Alfabetização 57 Trabalhar com carta enigmática é interessante porque a criança terá contato com as imagens e também com a escrita. Isso facilita para a criança as relações que fará para o entendimento do texto. É claro que quando for dado esse tipo de texto para as crianças que não sabem ler, ou seja, no início da Alfabetização, a intervenção do professor na interpretação do texto é fundamental. Outro tipo de atividade que pode ser feita com crianças que ainda não sabem escrever é contar histórias. Assim, pode-se pedir para as crianças contarem as histórias e o professor faz a transcrição. Além de fazer os registros, pode-se armazenar as histórias para que as crianças possam observar e fazer as relações entre elas e, principalmente, relacionar o texto oral com o escrito. Como produto final da atividade das crianças contarem histórias, pode-se propor que elas montem um livro com as histórias produzidas por elas. Isso motiva e dá incentivo maior na aprendizagem delas, porque elas conseguem visualizar concretamente aquilo que construíram. É um estímulo para a produção de textos. O importante é incentivar as crianças a escreverem espontaneamente, como afirma Cagliari: Elas precisam escrever o mais livremente possível. Podem-se programar as atividades, por exemplo, pedir que recortem alguma fotografia de revista e escrevam uma história a partir dela. O que não se deve fazer é pedir que contem uma história de cinco linhas, usando só palavras conhecidas, e respondam a perguntas do tipo: quem, quando, onde, como, por que etc. Esse tipo de camisa-de-força é altamente inconveniente, pois quebra a iniciativa da própria criança e limita sua reflexão pessoal. Tende a padronizar a expressão individual literária, com prejuízo futuro para o aprendizado da escrita e da leitura (CAGLIARI, 2003, p.129). A escrita espontânea é essencial e não deve ser deixada de lado nessa fase de desenvolvimento da aprendizagem da escrita da criança, que precisa ser algo prazeroso, ou seja, a brincadeira precisa fazer parte do processo. Devem ser utilizadas brincadeiras, atividades com música, jogos que possam utilizar letras e palavras etc. Assim, a aprendizagem torna-se algo bom, em que a criança irá ter cada vez mais o desejo de aprender e descobrir o mundo da escrita. O professor tem algo para acrescentar para seus alunos; ele é o parceiro no processo de aprendizagem. José Juvêncio Barbosa (1994) expõe que: O papel do professor nos primeiros momentos da aprendizagem não se resume a transmitir conhecimento; seu papel é o de criar situações significativas que deem condições à criança de se apropriar de um conhecimento ou de uma prática (BARBOSA, 1994, p.128) A Escrita no Processo de Alfabetização UNIDADE V 58 E como fazer para o professor realmente proporcionar situações de aprendizagem significativas? Um ponto fundamental para o trabalho do professor nesse processo é ter um ambiente alfabetizador. E o que é um ambiente alfabetizador? É aquele em que há o Letramento ou cultura letrada, como alguns teóricos preferem chamar, tenha livros, revistas, painéis, uma variedade de textos escritos que circulam na Sociedade, ou seja, textos que os alunos possam ter experiências com situações reais de uso da leitura e da escrita. O contato com esses materiais faz com que a criança aprenda mais rápido, tanto a ler quanto a escrever. Fazer com que a sala de aula se torne um ambiente alfabetizador dependerá muito do professor porque sem dúvida ele precisa de muita dedicação, criatividade e inovação na construção desse ambiente. Algo importante é que os materiais estejam sempre ao alcance das crianças. O educador tem um papel fundamental de tornar suas aulas desafiadoras e interessantes, que promovam pesquisas e descobertas: Ao professor compete ajudá-la a conquistar esse comportamento. Essa ajuda concretiza-se através de um ambiente rico e variado, que favoreça o aparecimento ou o desenvolvimentodaquela aprendizagem e através de momentos precisos de organização do conhecimento adquirido (BARBOSA, 1994, p. 129). A aprendizagem acontece de maneira eficaz quanto mais a criança tiver acesso a esses materiais e a situações de usos da leitura e da escrita e, dessa maneira, ela será levada à construção de seu conhecimento. Nesse sentido, Barbosa afirma: É desse modo que a escola proporciona uma experiência rica de situações de uso da escrita, favorecendo especialmente aquelas crianças que não tiveram a oportunidade de viver estas experiências em seu meio social e familiar. As crianças que provêm de ambientes povoados de livros e de leitores encontram maiores facilidades de êxito na aprendizagem da leitura e da escrita, justamente por causa dessas experiências prévias com o mundo da escrita (BARBOSA, 1994, p.129). Portanto, o aluno tem papel importante na construção de seu conhecimento, porque é ele que irá transformar as informações dadas em conhecimento. Mas, não deixa de ser fundamental a participação do professor no processo de aprendizagem da leitura e da escrita; isso porque é o educador que irá planejar, organizar, proporcionar e oferecer as diversas situações de usos da leitura e da escrita. A Escrita no Processo de Alfabetização 59 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Ambiente Alfabetizador Para ampliar seus conhecimentos, consulte, sobre o ambiente alfabetizador http://goo.gl/RiCm2A A Escrita no Processo de Alfabetização UNIDADE V 60 Referências BARBOSA, J. J. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1994. CAGLIARI, L. C. Alfabetização & Linguística. São Paulo: Scipione, 2003. FERNANDES, Maria. Os segredos da Alfabetização. São Paulo: Cortez, 2008. FERREIRO, F. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Denise Jarcovis Pianheri Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin VI A Alfabetização e Jovens e Adultos A Alfabetização e Jovens e Adultos UNIDADE VI 62 Contextualização Para começarmos a Unidade, que tal refletirmos um pouco? Vamos ler citação a seguir: Não devemos chamar o povo à escola para receber instruções, postuladas, receitas, ameaças, repreensões e punições, mas para participar coletivamente da construção de um saber, que vai além do saber de pura experiência feita, que leve em conta as suas necessidades e o torne instrumento de luta, possibilitando-lhe transformar em sujeito de sua própria história (FREIRE, 2001, p.16). Após a leitura da citação, reflita um pouco a respeito do que é realmente ser alfabetizado? Qual o papel da Escola? A Alfabetização e Jovens e Adultos 63 A alfabetização e jovens e adultos Nesta Unidade, abordaremos “A Alfabetização de Jovens e Adultos”. Pontos que iremos discutir: qual o perfil dos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA); qual a importância desses jovens e adultos que retornam aos estudos, quem foi Paulo Freire e como é o seu método. Para iniciarmos, vejamos um breve histórico de como surge a Educação de Jovens e Adultos; não iremos detalhar, será apenas um panorama geral para conseguirmos entender como a EJA que conhecemos hoje surgiu no decorrer dos tempos. Não iremos nos aprofundar. Assim, no ano de 1967, surge o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização). O objetivo do MOBRAL era mais funcional, os adultos adquiriam tecnicamente os processos de leitura, escrita e cálculo. Já nos anos 1970, a Educação de Jovens e Adultos foi instaurada como Ensino Supletivo e assim passou a fazer parte da Legislação brasileira. Mas é em 1988 que a Educação de Jovens e Adultos passa a ter o direito garantido à educação básica e a ser gratuita. Mais tarde, temos, com a LDB 9394/96, a mudança da nomenclatura, que passa de Ensino Supletivo para EJA e com o Parecer CEB/CNE 11/2000 que se baseou na Resolução do CNE de Diretrizes Curriculares. Assim, começam a surgir os fóruns de debates em relação à EJA. Estudiosos, professores e profissionais da área querem e percebem a necessidade de discussões para ajuda e passam a se aprofundar nas questões do educar dos jovens e adultos do nosso país. Para você ter melhor visão do panorama da EJA com outros detalhes, observe a linha do tempo que pode ser visualizada no link: http://goo.gl/SMcpyK Ex pl or Essas discussões são importantes até hoje, porque ainda há dúvidas em relação à Educação de Jovens e Adultos. Um dos pontos que precisa ser levado um consideração quanto às particularidades de cada educando, suas necessidades e suas dificuldades é considerar e trazer para a sala de aula os conhecimentos prévios desses alunos, que são ricos em história e cultura. As pessoas envolvidas na EJA não podem ser preconceituosas ou tratar a Educação de Jovens e Adultos como um ensino indiferente; é preciso enxergar a EJA como uma oportunidade para aqueles que, por algum motivo, não tiveram condições de ter acesso à Educação. A Alfabetização e Jovens e Adultos UNIDADE VI 64 Pensando nesses jovens e adultos, como definimos o perfil do aluno da EJA? A grande parte dos alunos da EJA são homens e mulheres trabalhadoras, pobres, desempregados, moradores de periferias, normalmente pessoas com condições sociais e culturais precárias em relação a outras pessoas da Sociedade. São pessoas que nunca frequentaram um ambiente escolar ou tiveram apenas um único contato e por vários motivos não voltaram à Escola. Também são pessoas com autoestima muito baixa por serem, de certa maneira, excluídas na Sociedade em que vivem, por não fazerem uso da leitura e da escrita em suas vidas. Mas muitas delas decidem mudar, como Solange Gomes da Fonseca comenta em seu artigo: Ao escolherem o caminho da escola, esses alunos optam por uma vida propicia para promover o seu desenvolvimento pessoal e levantar sua autoestima, mesmo dentro da vida cotidiana na sua vivência social, familiar e profissional. Suas visões de mundo estão mais relacionadas ao “ver” e ao “fazer”, uma visão de mundo apoiada numa adesão espontânea e imediata às coisas. Essa atitude de “maravilhamento” com o conhecimento é extremamente positiva e precisa ser cultivada e valorizada pelo professor, porque representa a “porta” de entrada para exercitar o raciocínio lógico, a reflexão, a análise, a abstração e, assim construir outro tipo de saber: o conhecimento científico. Fonte: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2124388 Portanto, essas pessoas, assim como as crianças quando ingressam na Escola, precisam do apoio dos familiares, dos amigos e, especialmente, do professor, porque é ele que levará o jovem ou o adulto a descobrir o fascinante mundo letrado. É o educador que passa as informações para o aluno e o leva a transformá-las em conhecimento, mas também é o professor que conversa, auxilia, orienta, faz as intervenções necessárias, colabora e é parceiro no processo de aprendizagem desses alunos que estão à procura do conhecimento que tanto faltou em suas vidas. Agora! Um dos grandes educadores na Educação de Jovens e Adultos foi Paulo Freire, que se destacou por sua prática didática, inovando com seu método de alfabetização para adultos. Algo interessante é que seu pensamento pedagógico era de cunho político. Isto é, seus pensamentos em relação à Educação foram inovadores para a época, por isso continuaram por tanto tempo e até hoje, em nossos dias, aprendemos com suas experiências, sua maneira de alfabetizar e com suas ideias, que encontramos em um vasto repertório literário que ele deixou. Vamos conhecer um pouco mais sobre Paulo Freire, com a breve biografia a seguir. A Alfabetização e Jovens e Adultos 65 Paulo Freire nasceu em 1921, em Recife, numa família de classe média. Com o agravamento da crise econômica mundial, iniciada em 1929, e a morte de seu pai, quando tinha 13 anos, Freire passou a enfrentar difi culdades econômicas. Formou-se em Direito, mas não seguiu carreira, encaminhando
Compartilhar