Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 Sistema Endócrino Objetivo 1: Compreender a morfofisiologia da paratireoide, considerando os hormônios envolvidos. Objetivo 2: Explicar o metabolismo do cálcio no organismo. Anatomia da Paratireoide As paratireoides são 4 diminutas glândulas ovais e achatadas situadas na face posterior da tireoide, estando intimamente associadas a esse órgão. Dessa forma, patologias que afetam a tireoide podem facilmente acometer também as paratireoides, e vice-versa. Elas dividem-se em: glândulas paratireoides superiores direita e esquerda e glândulas paratireoides inferiores direita e esquerda. Cada uma pesa cerca de 40 mg (0,04 g) e apresentam aspecto macroscópico semelhante à gordura, de coloração marrom-escura. Apesar de a maioria das pessoas possuir 4 paratireoides, é possível que um indivíduo apresente um número de glândulas maior do que esse, assim como também existem pessoas que possuem apenas 2 glândulas paratireoides. Por estarem intimamente conectadas, as glândulas tireoide e paratireoides terão irrigação arterial, drenagem venosa, drenagem linfática e inervação relativamente comuns entre si. Durante as intervenções cirúrgicas na tireóide, a localização das glândulas paratireóides não se mostra tarefa fácil, pois muitas vezes elas se parecem com outro lóbulo da glândula tireóide. Por essa razão, antes do reconhecimento da importância de tais glândulas, o procedimento de Tireoidectomia total ou subtotal freqüentemente resultava na remoção também das glândulas paratireóides. A retirada de metade das glândulas paratireóides não costuma provocar grandes anormalidades fisiológicas. Todavia, a remoção de três das quatro glândulas normais causa Hipoparatireoidismo transitório. Até mesmo uma pequena quantidade de tecido paratireóideo remanescente, em geral, é capaz de apresentar hipertrofia satisfatória, a ponto de cumprir a função de todas as glândulas. Histologia As glândulas paratireóides contêm dois tipos de células: as mais numerosas são chamadas de células principais, que secretam grande parte do PTH, se não todo; o outro tipo são as célula oxifílicas, ausentes em muitos humanos jovens e acredita-se que sejam células principais modificadas que não secretam mais o hormônio. Além disso, no câncer de glândulas paratireóides, as células oxificadas secretam PTH em excesso. A química do Paratormônio 1- O PTH foi isolado em forma pura, sendo sintetizado primeiro nos ribossomos na forma de pré-pró-hormônio, uma cadeia polipeptídica de 110 aminoácidos. 2- Esse pré-pró-hormônio passa pela primeira clivagem transformando-se em pró-hormônio com 90 aminoácidos 3- Transforma-se em seguida no próprio hormônio com 84 aminoácidos pelo retículo endoplasmático e pelo complexo de Golgi. 4- Por fim, o hormônio é armazenado em grânulos secretores no citoplasma das células. Fisiologia do Paratormônio A paratireoide é secretora de um dos principais hormônios relacionados ao metabolismo do cálcio - o paratormônio (PTH). Ele é responsável (principalmente) pelo aumento da concentração de cálcio no sangue - por isso, pode-se dizer que ele aumenta a calcemia. Além disso, o PTH é essencial na produção de vitamina D por atuar em uma de suas etapas de conversão, o que também interfere no metabolismo do cálcio pois essa vitamina tem como uma de suas funções o aumento da absorção intestinal desse íon. O PTH é secretado pelas células principais da paratireoide, e sua secreção é regulada principalmente pela concentração de cálcio sérico. A atividade excessiva da glândula paratireoide provoca rápida liberação de sais de cálcio dos ossos, com a consequente hipercalcemia; de modo inverso, a hipofunção gera hipocalcemia, muitas vezes com resultante tetania. Mão com tetania; Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 OBS - A deficiência de Vitamina D no organismo pode dar origem a raquitismo e osteomalácia. Ambas são doenças caracterizadas pelo defeito de mineralização dos ossos. Efeitos do PTH nas concentrações de cálcio e fosfato A figura abaixo mostra os efeitos aproximados da infusão súbita e contínua do PTH nas concentrações sanguíneas de cálcio e fosfato em um animal por várias horas. Note que, no início da infusão, a concentração do cálcio começa a se elevar e atinge um máximo em cerca de 4h. A concentração do fosfato, no entanto, sofre queda e alcança um nível baixo dentro de 1 ou 2 horas. Efeitos do PTH no aumento da concentração do cálcio: (1) aumenta a absorção de cálcio e de fosfato a partir do osso, por meio da atividade dos osteoclastos; (2) diminui a excreção de cálcio pelos rins, através da troca de cálcio por fosfato (aumenta a calcemia e reduz a fosfatemia). Não fosse o efeito do PTH nos rins para aumentar a absorção de cálcio, a perda contínua desse mineral na urina provocaria sua consequente depleção no líquido extracelular e nos ossos. OBS - o PTH não possui receptores para os osteoclastos, apenas para os osteoblastos. Os osteoblastos, quando ativados, sinalizam para os osteoclastos que, então, passam a realizar reabsorção. Efeitos do PTH na redução da concentração do fosfato: (1) eleva a excreção renal desse elemento (perda de fosfato na urina), a ponto de superar o aumento da absorção óssea do fosfato. Fisiologia da Paratireoide Alterações na concentração de íons de cálcio no líquido extracelular são detectadas por um receptor sensível ao cálcio nas membranas das células da paratireoide, que vai atuar estimulando ou inibindo a secreção de PTH. Até mesmo uma insignificante redução da concentração do cálcio iônico no líquido extracelular faz com que as glândulas paratireoides aumentem sua secreção dentro de minutos. Em caso de persistência do declínio da concentração, as elas passarão por hipertrofia, atingindo um tamanho até 5x maior. EXEMPLOS: 1) Raquitismo (onde o nível de cálcio costumar estar deprimido) 2) Gestação (dificilmente essa diminuição é mensurável) 3) Lactação (cálcio é usado na formação do leite) De modo inverso, o aumento da concentração do cálcio iônico acima do normal provoca uma diminuição da atividade e do volume das glândulas. EXEMPLO: 1) Quantidade excessiva de cálcio na dieta. 2) Teor elevado de vitamina D na dieta. 3) Absorção óssea elevada por outros fatores; Essa é a base do potente sistema de feedback corporal para o controle da concentração plasmática do cálcio iônico em longo prazo. Calcitonina A calcitonina, hormônio secretado pela tireoide, tende a diminuir a concentração plasmática do cálcio e, em geral, tem efeitos opostos aos do PTH. No entanto, o papel quantitativo da calcitonina é bem menor que o do PTH na regulação da concentração do cálcio iônico. A síntese da calcitonina ocorre nas células parafoliculares ou células C e o principal estímulo para a sua secreção é a elevação da concentração de cálcio iônico no líquido extracelular. Em contraste, a secreção do PTH é estimulada pela queda na concentração de cálcio. Isso gera um segundo mecanismo de feedback hormonal para o controle da concentração plasmática do cálcio iônico; no entanto, esse mecanismo é relativamente fraco e atua de modo oposto ao sistema representado pelo PTH. Controle na secreção de calcitonina: O nível sanguíneo de cálcio controla diretamente a secreção de calcitonina e paratormônio por meio de alças de feedback negativo que não envolvem a glândula hipófise. 1. O nível sanguíneo de íons cálcio acima do normal estimula as células parafoliculares da glândula tireóide a liberarem mais calcitonina. 2. A calcitonina inibe a atividade dos osteoclastos, diminuindo, dessa forma, o nível sanguíneo de cálcio. 3. O nível sanguíneo de íons cálcio abaixo do normal estimula as células principais da glândula paratireóide a liberarem PTH. 4. O PTH promove a reabsorção de matriz óssea extracelular, o que libera cálcio no sangue e retarda a perda de cálcio na urina, elevando o nível de cálcio no sangue. 5. O PTH também estimula os rins a sintetizarem o calcitrol, que consiste na forma ativa da vitamina D. 6. O calcitrol estimula a absorção mais acentuada de cálcio dos alimentos nosistema digestório, o que ajuda a aumentar o nível sanguíneo de cálcio. Hipocalcemia Significa baixa concentração de cálcio no sangue. Quando essa baixa concentração de cálcio é percebida pelas células principais da paratireóide, elas começam a produzir e liberar o paratormônio que irá ter uma ação de Hipercalcemia. Hipercalcemia Significa alta concentração de cálcio no sangue. O PTH faz a hipercalcemia começando a partir da reabsorção de cálcio na Alça de Henle. E fazendo essa reabsorção, de certa forma, irá Cecília Matos - MEDICINA 2021.1 aumentar então a concentração de cálcio no sangue. Outra ação é a elevação de vitamina D, que facilitará uma maior absorção de cálcio no intestino. O paratormônio atua sobre os osteoblastos ativando ele, que de certa forma ativa os osteoclastos, que tem ação de reabsorção óssea, ou seja, ele tira o cálcio que está no osso e joga no sangue, gerando então a Hipercalcemia. Vitamina D O PTH atua em uma das etapas de síntese da vitamina D e estimula sua ativação, o que se caracteriza como uma ação indireta do hormônio no aumento da absorção de cálcio pelo trato gastrointestinal (mais especificamente, pelo intestino). Além disso, a vitamina D apresenta efeitos significativos na deposição e absorção ósseas. Ações da Vitamina D: 1. O 1,25-di-hidroxicolecalciferol, a forma ativa da vitamina D, atua como um tipo de “hormônio” para promover a absorção intestinal de cálcio. 2. Embora o fosfato geralmente seja absorvido com facilidade, a vitamina D intensifica a absorção dele pelos intestinos. 3. Aumenta a absorção de cálcio e fosfato pelas células epiteliais dos túbulos renais e, dessa forma, tende a diminuir a sua excreção na urina. 4. Desempenha papéis relevantes na absorção e na deposição ósseas: a administração de quantidades extremas dessa vitamina provoca a absorção do osso. Na sua ausência, o efeito do PTH na indução da absorção óssea é bastante reduzido ou até mesmo impedido. Já a vitamina D em pequenas quantidades estimula a calcificação óssea. Remoção acidental das Paratireoides A posição variável das paratireoides no pescoço aumenta enormemente o risco de lesão acidental ou excisão em casos de cirurgias no pescoço. A remoção cirúrgica acidental completa de todas as glândulas paratireoides interfere diretamente no metabolismo do cálcio e, consequentemente, em sua concentração sanguínea. Essa condição dá origem a problemas neuromusculares graves como a tetania (síndrome neurológica que desencadeia espasmos musculares e cãibras). Quando esses espasmos passam a acometer músculos respiratórios ou da laringe, o quadro pode evoluir a óbito se o paciente não for tratado a tempo. Para evitar secção ou excisão cirúrgica acidental das glândulas paratireoides em operações mais agressivas da tireoide (como em casos de remoção completa da glândula), muitos cirurgiões as isolam cuidadosamente (juntamente com seu suporte sanguíneo) antes de começar o procedimento da tireoidectomia. Em alguns casos especiais de cirurgia e radioterapia subsequente, as paratireoides são removidas do pescoço e transplantadas integralmente para outra região do corpo (normalmente os braços).
Compartilhar