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Cuidados Hospitalares da Criança/Adolescente Vítimas de Violência Nomes: Beatriz Gaia, Beatriz Gentile, Marianne Barone e Renato Nakahara Professora: Debora Holanda introdução INTRODUÇÃO De acordo com a Constituição Federal brasileira e a Organização das Nações Unidas: As violências contra crianças e adolescentes são consideradas problemas de saúde pública e violação dos direitos humanos; Tratam-se das formas de abuso sexual, maus-tratos físicos e emocionais e negligência; Principais consequências: distúrbios emocionais, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez não desejada, até a morte da adolescente, que tira sua própria vida ou falece na tentativa de um aborto clandestino, demonstrando a necessidade da identificação precoce para melhor acompanhamento. - Criança: até 12 anos de idade incompletos; - Adolescente: entre 12 e 18 anos de idade; legislação brasileira e cuidados LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E CUIDADOS Em 13 de julho de 1990 foi aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA); É um conjunto de normas com o objetivo de garantir e proteger os direitos básicos de crianças e adolescentes; Direito à vida e à saúde: Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos; LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E CUIDADOS Direito a liberdade, ao respeito e à dignidade: - Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis; - Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor; LEGISLAÇões complementares que aprimoram o eca Lei Menino Bernardo (lei no 13.010, de 26 de junho de 2014): estabelece o direito da criança e do adolescente de serem educados sem o uso de violência/ e ou degradação física, moral ou psicológica; Lei no 13.798, de 3 de janeiro de 2019: instituição da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência; Lei no 13.812, de 16 de março 2019: alterou a idade mínima para viagens de crianças e adolescentes sem acompanhantes ou responsáveis de 12 para 16 anos. 30 anos do eca Em 2020, o ECA completou 30 anos, e desde a sua criação o Brasil vivenciou avanços importantes: - A redução histórica da mortalidade infantil, fazendo com que 827 mil vidas fossem salvas de 1996 a 2017; - Os avanços no acesso à educação. Em 1990, quase 20% das crianças de 7 a 14 anos (idade obrigatória na época) estavam fora da escola. Em 2009, a escolaridade obrigatória foi ampliada para 4 a 17 anos. E, em 2018, apenas 4,2% de 4 a 17 anos estavam fora da escola (1,7 milhão); - E a redução do trabalho infantil. Entre 1992 e 2016, o Brasil evitou que 6 milhões de meninas e meninos de 5 a 17 anos estivessem em situação de trabalho infantil. 30 anos do eca Fonte: UNICEF Brasil (http://youtube.com/watch?v=qQDI9WAYHXs) http://youtube.com/watch?v=qQDI9WAYHXs formas de violência FORMAS DE VIOLÊNCIA Negligência; Violência ou abuso físico; Violência ou abuso sexual; Violência psicológica; Alienação parental; Síndrome de Munchausen. FORMAS DE VIOLÊNCIA Todas as formas de violência doméstica devem ser reconhecidas como enfermidades e são identificados, com os diagnósticos associados, pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10): FORMAS DE VIOLÊNCIA atendimento da vítima COMO FAZER O ATENDIMENTO DE UMA VÍTIMA Anamnese Objetiva entender se o trauma/ferimento é intencional ou acidental; Solicitar a descrição detalhada da história (em separado); Ficar atento para discrepâncias e incompatibilidades entre a história e os achados no exame físico. Buscar entender: condições sociais da família, tratamento inadequado, medos, explicações contraditórias, omissões. COMO FAZER O ATENDIMENTO DE UMA VÍTIMA Exame físico Atitudes como apatia, tristeza, temerosa, indefesa, agressividade chamam atenção; Avaliar desenvolvimento neuropsicomotor e desnutrição; Pele: podem ser encontradas equimoses, queimaduras e escoriações. Deve-se ater a localização, número, tamanho, formato e coloração das lesões; Ossos/Fraturas: são sugestivas de maus-tratos: fraturas múltiplas, bilaterais e em diferentes estágios de consolidação. Outros: sistema nervoso central, tórax, abdome, cabeça. COMO FAZER O ATENDIMENTO DE UMA VÍTIMA Exames complementares Exames laboratoriais: hemograma completo com plaquetas, bioquímicos, urina tipo I; Exames de imagem: caso seja necessário; Quando suspeita-se de violência contra crianças menores de 2 anos e que não se comunicam, todas as radiografias devem ser realizadas. COMO FAZER O ATENDIMENTO DE UMA VÍTIMA Diagnóstico diferencial Considerar os traumas acidentais que podem causar: - Hematomas; - Fraturas; - Hemorragias retinianas; - Hemorragia intracraniana. Diagnóstico Abuso ou violência física. assistência e acompanhamentos Assistência Atendimento integral: equipe multiprofissional (assistente social, saúde mental, enfermagem), capacitada, integrada e institucionalizada; Atribuições dos profissionais: acolher, ouvir atentamente, não julgar e discutir o caso com outros profissionais da equipe. Deve-se garantir proteção, intervenção, prevenção, sigilo e confidencialidade; Atendimento médico: é dever do médico: identificar ou levantar suspeita de violência, prestar o atendimento emergencial e/ou ambulatorial e interagir com os demais membros da equipe interprofissional. Encaminhamentos A conduta varia de acordo com o nível de gravidade do caso suspeito ou confirmado de violência: Todos os casos devem ser notificados ao Conselho Tutelar (CT) do local de moradia da suposta vítima e ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN); Toda vítima de violência deve ser encaminhada para tratamento psicoterapêutico. - Lesões leves ou sem risco de revitimização: orientação sobre as consequências da violência e retorno para a moradia com os responsáveis legais; - Lesões graves ou com risco de revitimização: garantir atendimento, internação sob medida de proteção para afastamento do agressor, avaliação geral da criança, levantamento de ocorrências anteriores e tratamento do agressor; - Violência Gravíssima e Risco de Morte: é preciso realizar o atendimento imediato e internação hospitalar com afastamento do agressor; Encaminhamentos aspectos legais Dever legal do médico previsto no artigo 28 do Código de Ética Médica; Aconselhável que seja feita pelos próprios responsáveis legais ou pela instituição; Artigo 245 do ECA relata como infração administrativa a não comunicação de tais à autoridade; Vale lembrar que a notificação não é uma denúncia policial, tendo apenas a função de solicitar que o Poder Público cumpra com a sua responsabilidade; Notificados ao Conselho Tutelar, e em casos de omissão, a notificação deverá ser encaminhada para a Vara Infância e Juventude do local onde a vítima reside, ou ao Ministério Público, SINAN. aspectos legais Notificação aspectos legais O sigilo (Capitulo 1 - inciso XI e arts, 73, 74 e 78 do Código de Ética Médica, 2010) e confidencialidade (art. 5°, inciso X, da Constituição Federal); As informações contidas no prontuário devem ser resguardadas por todos que tenham acesso a elas; Pode ser rompido em caso de autorização expressa do paciente, justa causa e dever legal. Sigilo médico violência sexual violência sexual Atendimento A violência sexual é definida por "qualquer tipo de atividade de natureza erótica ou sexual que desrespeita o direito de escolha de um dos envolvidos. O direito de escolha pode ser por coação,ascendência ou imaturidade", de acordo com o Manual de Atendimento as Crianças e Adolescente Vítimas de Violência; Existem duas principais classificações: - Violência sexual aguda; - Violência sexual crônica; violência sexual Atendimento O atendimento deve ser multidisciplinar, com registros claros que permitam uma posterior investigação, respeitando a confidencialidade e sigilo do paciente; O atendimento nunca deve ser negado, sendo prioridade dentre todas as áreas que podem estar envolvidas na investigação da violência sexual. violência sexual Atendimento Devem ser feitas as profilaxias para ISTs, dando início aos protocolos, com o preenchimento obrigatório da Ficha de Notificação Individual do SINAN; violência sexual Atendimento Em casos de gravidez infantil, tem-se duas opções: - Caso suspeito: evita-se sua confirmação. É administrado 2 comprimidos de Levonorgestrel de 0,75mg VO em até 72 horas após a relação; - Caso confirmado: tem-se a autorização para a realização do aborto legal, devendo explicar os riscos e benefícios para a vítima, que deve estar acompanhada de um responsável se menor. Deve haver o preenchimento do Termo de Consentimento Livre, registrando de forma clara a decisão da vítima. violência sexual Atendimento Segundo Portaria n° 1.508 de 2005, de Procedimento ao Aborto Legal, é dever: - I. Menores de 18 anos grávidas com direito ao aborto legal, devem ser acolhidas e esclarecidas sobre o seu direito à escolha da opção do abortamento, sendo necessária a autorização de responsáveis ou tutores para a solicitação do procedimento; - II. Menores de 14 anos, necessita adicionalmente de uma comunicação ao Conselho Tutelar e acompanhamento do processo, com sua solicitação de agilização. violência sexual Exame físico Exame físico geral: Exame ginecológico: - Investigar sinais como hematomas, mordidas ou queimaduras; - Sinais de violência física; - Sinais de irritação peritoneal; - Avaliação do hímen (se necessário); - Análise de hematúria; - Inspecionar a região anal; - Colher material para identificação forense. Exame urológico: avaliar a diurese, considerando diferenças na anatomia da criança (maior probabilidade de lesões no trato urinário); Os achados devem ser detalhados e registrados. violência sexual Exame físico violência sexual Profilaxia Devem ser feitas até 72 horas depois do abuso, o mais precocemente possível, sem necessidade de esperar resultado de exames; Após 72 horas ou em casos de abusos repetidos são consideradas ineficazes; As IST's virais como Herpes Simples ou HPV, não tem uma profilaxia pós-exposição eficaz; Em casos de traumatismo físico, deve-se ter a profilaxia para tétano. violência sexual Profilaxia As medidas para IST's não virais são: - Sífilis: penicilina benzatina intramuscular em dose única, e para alérgicos eritromicina via oral por 15 dias; - Clamídia e Cancro mole: azitromicina via oral em dose única; - Gonorreia: ceftriaxona intramuscular em dose única; - Tricomoníase: metronidazol via oral por 7 dias; - Hepatite B: profilaxia deve ser feita somente em casos em que houve exposição a fluidos corporais (sêmen, sangue, muco vaginal). Pacientes que não foram vacinados ou desconhecem sua situação vacinal é necessário a administração de imunoglobulina anti-hepatite B (0.06 ml/ kg, intramuscular em dose única) e complementação do esquema vacinal. violência sexual Profilaxia violência sexual Profilaxia A quimioprofilaxia antirretroviral do HIV na Pediatria apresenta indicações mais específicas, por ser um tratamento longo e com efeitos colaterais. Suas indicações são: - Penetração vaginal ou anal com menos de 72 horas entre a exposição e início da medicação; - Status sorológico do agressor, que se conhecido, deve seguir o fluxograma do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para a Profilaxia Pós-Exposição (PEP). violência sexual Profilaxia violência sexual Profilaxia violência sexual Profilaxia Posologia dos antirretrovirais na Pediatria: violência sexual Profilaxia Por conta da toxicidade dos antirretroviriais, é necessária a coleta dos seguintes exames: hemograma, plaquetas, AST, ALT, bilirrubinas, glicemia, ureia e cratinina. Juntamente, coletam-se algumas sorologias seguindo a tabela abaixo: Fonte: Waksman RD, Hirschheimer MR, coordenadores. Manual de atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência. Sociedade de Pediatria de São Paulo. Brasília, DF: CFM; 2011 acompanhamento acompanhamento O dano será diminuído se as necessidades médicas, psicológicas, sociais e legais forem garantidas; Encaminhamento para tratamento psicoterapêutico; Perda progressiva de seu amor-próprio e autoconfiança, passando a um processo de embrutecimento emocional, com a quebra do desenvolvimento psicossocial; Deve-se acompanhar o caso em todas as suas interfaces; acompanhamento Para avaliar a evolução e o prognóstico clínico e social do caso é necessário protocolos e fluxos definidos, e rede de saúde com reuniões da equipe de saúde e intersetorial; Atuar em equipe multiprofissional; Ressaltar que a família deve ser também avaliada quanto à pertinência do acompanhamento psicológico. Se torne possível quebrar a perpetuação desse problema familiar conclusão conclusão Importância identificar e denunciar casos de violência sexual contra crianças e adolescentes; Estar capacitado para atender as necessidades de amparar a vítima e por meios legais ser um colaborador para uma punição do agressor; A violência contra a criança e adolescente deve sempre ser investigada com cuidado; Atendimento dessas vítimas deve ser feito de acordo com protocolos implementados para trazer segurança a elas; Quatro dimensões: acolhimento, atendimento, notificação e seguimento na rede de cuidados e de proteção social. Competência para os encaminhamentos devidos e a atenção às crianças, adolescentes e suas famílias e orientá-los sobre as dimensões do cuidado. 1. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Lei No 8.069 [S. l.], 13 jul. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 3 out. 2021. 2. Sobre Violência Contra Crianças e Adolescentes e Jovens no Brasil. [S. l.], 2019. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/noticias/posicionamentos-oficiais-abrasco/sobre-a- violencia-contra-criancas-adolescentes-e-jovens-brasileiros/40061/. Acesso em: 3 out. 2021.Nunes, Antonio Jakeulmo e Sales, Magda Coeli VitorinoViolência contra crianças no cenário brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2016, v. 21, n. 3 [Acessado 6 Outubro 2021] , pp. 871-880. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-81232015213.08182014>. ISSN 1678- 4561. https://doi.org/10.1590/1413-81232015213.08182014 3. Pediatras ganham protocolo de abordagem da criança vítima de violência doméstica. Sociedade Brasileira de Pediatria, 27 set. 2018. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/pediatras-ganham-protocolo-de-abordagem-da-crianca-vitima-de-violencia-domestica/. Acesso em: 3 out. 2021. 4. Brasil. Presidência da República. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 [citado em 2017 nov. 7]. Disponível em: bit.ly/1TYdQOXSBP 5. Waksman RD, Hirschheimer MR, coordenadores. Manual de atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência. Sociedade de Pediatria de São Paulo. Brasília, DF: CFM; 2011. 6. Brasil. Departamento Científico de Segurança de Criança e do Adolescente. Protocolo de Abordagem da Criança ou Adolescente Vítima de Violência Doméstica. Sociedade Brasileira de Pediatria. Nº 2, setembro de 2018. Referências https://doi.org/10.1590/1413-81232015213.08182014 Obrigada!
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