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Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL DIARREIA SANARFLIX 1 1. Definição Tempo de instalação: ❖ Diarreia aguda → alteração na forma das fezes e na frequência de evacuações ocorrendo em 24 horas e durando <14 dias; principal etiologia são os agentes infecciosos (gastroenterite) ❖ Diarreia persistente → persistência das manifestações entre 14-30 dias ❖ Diarreia crônica → diarreia com duração >30 dias Topografia: ❖ Alta (intestino delgado) → grande volume; frequência menor; presença de restos alimentares ❖ Baixa (intestino grosso) → pequeno volume; frequência maior; tenesmo; dor na fossa ilíaca esquerda Fisiopatologia: ❖ Osmótica → acúmulo de elementos osmoticamente ativos (gap osmolar fecal alto >125mOsm/L), geralmente cessa com o jejum ❖ Secretória → distúrbio do transporte hidroeletrolítico na mucosa (gap osmolar fecal baixo <50mOsm/L); não cessa com o jejum ❖ Invasiva → inflamação com possível eliminação de muco, pus ou sangue; aumento de calprotectina ou lactoferrina fecais ❖ Esteatorreica → fezes amareladas, fétidas, oleosas (brilhantes), aderentes ❖ Distúrbio funcional → ausência de doença orgânica justificável; possuem critérios específicos (ROMA IV) 2. Epidemiologia/ etiologia EUA → incidência estimada anual de 47,8mi; incidência por pessoa de 1,6 episódios por pessoa/ano; hospitalização aproximadamente de 0,6% e mortalidade <0,005% Etiologia → Norovírus (50% dos surtos e 26% das consultas de emergência); bactérias Salmonella, Campylobacter e E.coli Mundo → OMS 2004, 4,6bi de casos/ano; mortalidade de <0,05 em crianças de países em desenvolvimento As principais etiologias da diarreia aguda (gastroenterite aguda): ❖ Vírus → Norovírus (principalmente em adultos); Rotavírus; Adenovírus; Astrovírus ❖ Bactérias → Salmonella; Shigella; Campylobacter; E.coli; Clostridium Difficile; Yersinia; S.aureus; V.cholerae; Listeria ❖ Protozoários → Giárdia*; E.histolytica; Cyclospora; Microsporídio; Cryptosporidium; Isospora belli ❖ Helmintos → Ascaris*; Estrongiloidíase; N.americanus; A.duodenalis; Schistosoma; Taenia; Toxocara; Trichuris; Enterobius *Principais envolvidos em diarreias persistentes 5% da população mundial possui diarreia crônica Diarreia crônica → países desenvolvidos (doenças funcionais; medicações como metformina e losartana; doenças inflamatórias intestinais; doenças crônicas com imunossupressão; neoplasias); países em desenvolvimento (infecções crônicas); doenças funcionais; doenças inflamatórias intestinais; síndromes disabsortivas 3. Manifestações clínicas Diarreia Náuseas e vômitos Dor abdominal e cólicas Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL DIARREIA SANARFLIX 2 Flatulência e distensão (bloating) Febre Evacuações sanguinolentas Tenesmo e urgência 4. Fatores de risco X Patógenos Alimentos deteriorados e higiene precária → Salmonella; Shigella; Campylobacter Imunodeficiência → agentes oportunistas Uso recente de antibióticos → colite pseudomembranosa Creche → Shigella; Giárdia; Criptosporidiose; Rotavírus Asilos → colite pseudomembranosas Promiscuidade sexual →patógenos de transmissão fecal-oral Piscina → Giardíase e Criptosporidiose Viajantes* → E.coli; Campylobacter; Vírus; Shigella; Salmonella *Variável quanto ao agente predominante local, meio de viagem (avião, navio...) Alimentos deteriorados e água → E.coli; Vírus; Shigella Carnes e aves → Salmonella; C.perfringens; E.coli; Campylobacter; B.cereus (toxina) Ovos, maionese, cremes → S.aureus (toxina) Mariscos, ostras* → Víbrio vulnificus; Víbrio parahemolytucys; Norovírus *Devem ser evitados em pacientes com hemocromatose Leite não pasteurizado → E.coli; Salmonella; Campylobacter 5. Abordagem do paciente com diarreia crônica Doença orgânica → sinais de alarme Doença não orgânica → sem sinais de alarme História → interpretação da queixa; características das fezes; duração; todos os medicamentos utilizados sejam prescritos ou não; histórico de viagem; diário alimentar; status psicológico; infecções recorrentes Dicas prática na investigação de disabsorção: ❖ As fezes podem ser macroscopicamente normais na esteatorreia E.coli Enterotoxigênica Osteomielite na anemia falciforme Enterohemorrágica Síndrome hemilítico-urêmica (sorotipo 0157:H7 pela toxina “shigga-like”); coite hemorrágica Enteropatogênica Diarreia em crianças e neonatos Enteroinvasiva Diarreia invasiva (desinteria) Enteroagregativa Diarreia persistente em imunossuprimidos e crianças Patógeno Manifestações associadas Salmonella Diarreia do viajante Campylobacter Pseudoapendicite; Síndrome de Guillain-Barré Yersinia Pseudoapendicite S.aureus Vômitos e diarreia iniciados poucas horas após exposição Shigella Alta infectividade (10 bactérias já são suficientes); complicações intestinais e sistêmicas (megacólon, distúrbios metabólicos, convulsões, rebaixamento do nível de consciência) V.vulnificus Sepse C.perfringens Necrose hemorrágica do jejuno (betatoxina) e diarreia volumosa Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL DIARREIA SANARFLIX 3 ❖ Diarreia aquosa, flatulência e distensão abdominal que ocorrem dentro de 90 minutos da ingestão de carboidratos ❖ Dor abdominal é incomum (exceto na pancreatite crônica, doença de Crohn ou pseudo- obstrução intestinal) ❖ Pensar sempre na doença celíaca e parasitoses ❖ Cirurgias abdominais ou úlceras pépticas recorrentes ❖ Valorizar, saber o tipo e quantificar o consumo de álcool Exame físico para diarreia crônica: ❖ Ectoscopia → linfadenopatia; desnutrição; exoftalmia ❖ Pele → flushing; rash; dermografismo; turgor e elasticidade reduzido ❖ Palpação da tireoide ❖ Ausculta pulmonar e cardíaca ❖ Abdome → timpanismo; ascite; hepatomegalia; esplenomegalia; massa ❖ Avaliação perianal e toque retal ❖ Extremidades → unhas; edema 6. Diagnóstico Exames somente → desinteria; episódio moderado/grave; duração >7 dias; paciente com alto risco de complicação (imunossuprimido, etc) Laboratório → depende da clínica do paciente Fezes → antígenos; PCR; cultura; PPF; Colonoscopia → evitar Tomografia → somente para diagnósticos diferenciais Diagnóstico diferencial → incontinência fecal não é diarreia Exames complementares para diarreia crônica: ❖ Doença orgânica ❖ Falha na terapia empírica → laboratoriais (sangue (individualizado); respiratório h2 (disabsorção); análise fecal (pH; gap osmolar fecal; calprotectina; elastase fecal)); endoscópicos (colonoscopia (inflamatória; secretória; biópsia seriadas); endo/entereoscopia (disabsorção)) ; imagem (esteatorreia; diarreia secretória; diarreia inflamatória; buscando identificar possíveis anormalidades anatômicas, extensão da inflamação, pancreatite crônica e neoplasias; trânsito intestinal (pouco útil hoje em dia); USG do abdome (limitações técnicas); tomografia (boa opção; radiação); RNM (boa opção; sem radiação; custo e tempo elevados) *Calprotectina é um teste não invasivo que detecta inflamação intestinal sendo composta por zinco e cálcio ligados a proteínas presentes em células inflamatórias (monócitos e neutrófilos); positivo >50ug/g e negativo <50ug/g *Elastase fecal utiliza anticorpos monoclonais específicos Raciocínio clínico: Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL DIARREIA SANARFLIX 4 Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL DIARREIA SANARFLIX 5 7. Tratamento Hidratação e correção de distúrbios hidroeletrolíticos Controle de sintomas (AINES é contraindicado) Antibioticoterapia empírica → doença grave (febre; >6 evacuações/dia; desidratação com necessidade de internação); desinteria (sangue, pus e muco nas fezes em pacientes com febre e sinais de toxemia); alto risco de complicação (>70 anos; imunossuprimido; multicomorbidades) *Levofloxacino; Ciprofloxacino; Ofloxacino;Azitromicina; Rifaximina sendo contraindicada para infecções relacionadas a Campylobacter, Shigella e Salmonella Probióticos → baixa evidência na diarreia aguada; diarreia pós antibioticoterapia é indicado Antidiarreicos → Loperamida (associado a constipação pós diarreia) ou Racecadotrila + Antibiótico Profilaxia → aconselhamento antes de viagens; saneamento/higiene/lavagem das mãos; álcool gel não elimina esporos do C.difficile
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