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Definição de diarreia Aumento do número habitual de evacuações, acompanhado de fezes aquosas ou de pouca consistência. o Considerar ritmo intestinal prévio o Aumento na frequência o Aumento na fluidez o Aumento no volume (> 200g/dia) Pode ou não vir acompanhada de sintomas DIARREIAS AGUDAS o >90%: causa infecciosa - Acompanham náuseas, vômitos, febre, dor abdominal o 10% restantes: - Medicamentos - Ingestas tóxicas - Isquemia - Alimentação inadequada Duração o Aguda: até 2 semanas “GECA” – GastroEnteroColite Aguda o Persistente (subaguda): 2-4 semanas o Crônica: >4 semanas Fisiopatologia A maioria dos casos são decorrentes da alteração do transporte de líquidos e eletrólitos e pouco dependente da motilidade da musculatura lisa. Se houver uma perturbação no transporte de eletrólitos ou a presença de solutos não absorvíveis no lúmen intestinal, em que reduzissem a capacidade de absorção do intestino delgado, poderia resultar em diarreia. Ocorre excesso de líquido no lúmen intestinal quando há deficiência na capacidade de transporte de eletrólitos do intestino delgado ou grosso ou quando cria-se um gradiente osmótico desfavorável. Resposta fisiológica – Estímulo à secreção e motilidade para expelir agentes nocivos Excesso de água nas fezes – Absorção passiva >> transporte osmótico de solutos (eletrólitos e nutrientes) – Regulação complexa Absorção e secreção ocorrem simultaneamente DIARREIA – ↑ da secreção – ↓ da absorção Tipos de diarreia o Diarreia osmótica o Diarreia secretora o Diarreia motora o Diarreia inflamatória o Diarreia disabsortiva DIARREIA OSMÓTICA o Acúmulo de solutos osmoticamente ativos – Retenção de líquidos intraluminais o Exemplo: deficiência de dissacarídeos, alta ingestão de carboidratos pouco absorvíveis (manitol, sorbitol, lactulose) e abuso de laxativos (íons de Mg e fosfato) o Melhora com o jejum Isabelle Maia (aguda) DIARREIA SECRETORA o Transporte desordenado de eletrólitos –Absorção reduzida (Na), secreção ativa e aumentada de íons cloreto, bicarbonato e água para o lúmen. o Grande volume de fezes aquosas o Causa mais comum: infecções – Enterotoxinas o Produção excessiva de hormônios e secretagogos – Gastrina (gastrinoma), síndrome carcinoide (serotonina, prostaglandinas, calcitonina), VIPomas, etc o Secretagogo→ sangue ou interaluminal o Tipo de diarreia que não é interrompida com o jejum. DIARREIA MOTORA o Aceleração do trânsito intestinal – Doenças funcionais – Doenças metabólicas – Doenças endócrinas DIARREIA INFLAMATÓRIA o Processos inflamatórios ou infiltrativos o Lesão de mucosa o Eliminação de sangue e muco o Aumento do volume e fluidez das fezes o DII, neoplasias, shigelose, colite pseudomembranosa DIARREIA DISABSORTIVA o Deficiências digestivas e lesões parietais que impedem a correta digestão ou absorção – síndrome da má absorção o Diarreia de origem pancreática o Esteatorréia: fezes líquidas, volumosas, amareladas, brilhantes; com grande quantidade de gordura que boia no vaso; paciente apresenta perda de peso, fraqueza, fadiga e deficiência associada de Vit. Lipossolúveis A, D, E e K o Presença de restos alimentares Classificação Diarreia aguda – Até 2 semanas – Infecções – Sobrecarga de solutos hiperosmolares (abusos alimentares ou fármacos) Geralmente < 7 dias – Maior parte de vírus e bactérias > 7 dias: possibilidade de protozoários Diarreia crônica – Acima de 4 semanas – Parasitoses – Doenças funcionais – Intolerâncias alimentares – Doenças inflamatórias intestinais – Infecções crônicas (imunocomprometidos) – Neoplasias – Medicamentos Classificação das diarreias quanto a topografia ALTA (delgado) – Grande volume – Poucas evacuações (6) – Sem muco ou pus – Dor em mesogástrio – Sem tenesmo – Restos alimentares BAIXA (cólon) – Pequeno volume – Muitas evacuações (>10) – Pode haver muco ou pus – Dor em hipogástrio – Com tenesmo – Sem restos alimentares Causas infecciosas de diarreia aguda Ingestão de alimentos contaminados com patógenos o Salmonella Frutos do mar, ovos, maionese o Campylobacter o Shigella Frangos o E. coli enterro-hemorrágica Carne mal cozida o Bacillus cereus o S. aureus o Listeria Laticínios o Vibrio o Hepatite A IMUNOSSUPRIMIDOS o Deficiência de IgA, hipogamaglobulinemia comum variável, SIDA, uso de imunossupressores, idosos, infecções concomitantes, desnutrição o Patógenos comuns: clínica mais grave o Infecções oportunistas: Mycobacterium, citomegalovírus, adenovírus, herpes simples; protozoários (Cryptosporidium, Isospora belli, microsporídeos, o Blastocystis hominis) o SIDA / HSH: proctocolite por Neisseria, T. pallidum, Chlamydia DIARREIA DOS VIAJANTES o Exposição a flora diferente da habitual - E. coli enterotoxigênica ou enteroagregante - Campylobacter, shigella, Aeromonas, Salmonella, Coronavírus e norovírus, Giardia, Cyclospora o Início entre 3 e 14 dias da chegada ao destino ANTIBIÓTICOS o Podem deflagrar diarreia por lesar a flora comensal: - Permitir a proliferação de flora patogênica - Perda da capacidade de digestão de determinados alimentos ETIOLOGIAS DAS DIARREIAS AGUDAS Intoxicação alimentar – Substâncias químicas ou toxinas pré formadas – Poucas horas após ingestão – Auto limitada – Staphylococcus aureus Rotavirus – Agente viral mais comum. Principalmente crianças – Febre baixa, vômito – Diarreia aquosa volumosa – risco de desidratação Shigella – Causa mais comum de diarreia bacteriana – Diarreia invasiva – mucosa colônica – Disenteria: febre, cólicas, diarreia aquosa com muco e sangue – Febre, anorexia, mal estar Salmonella – Carnes e ovos – Diarreia infecciosa invasiva – mucosa ileal e colônica – Febre inicial e diarreia (10 dias) – Vômitos, dor abdominal, toxemia QUADRO CLÍNICO Toxinas enteropatogênicas: o Pré-formadas: início precoce, acompanha vômitos e dor abdominal - Bacillus cereus, S. aureus, Clostridium perfringens o Flora produtora de enterotoxinas: incubação por até 72h - Cólera, E. coli enterotoxigênica, Klebsiella pneumoniae, Aeromonas o Flora enteroaderente: incubação até 8 dias, geralmente sem febre ou vômitos - E. coli, Giardia, Cryptosporidium, helmintos - Giardia frequentemente faz quadros prolongados o Produtores de citotoxina: incubação variável (1-3 dias), dor importante, sangue - C. difficile, E. coli enterohemorrágica Organismos invasivos o Inflamação mínima: - Rotavírus e norovírus: incubação até 3 dias, vômitos, dor, febre, o Inflamação grave: - Shigella, E. coli enteroinvasiva, Entamoeba histolytica Incubação entre 12h e 8 dias, dor, febre, sangue o Inflamação variável: - Salmonella, Campylobacter, Aeromonas, Vibrio parahaemolyticus, Yersinia: incubação entre 12h e 10 dias, quadro variável, geralmente com febre o Outras causas: diarreia pode ser o quadro de abertura de hepatites, listeriose, legionelose, síndrome do choque tóxico, doenças inflamatórias intestinais COMPLICAÇÕES o Desidratação, choque hipovolêmico o Artrite reativa: artrite, uretrite, conjuntivite - Sucedem infecção por Salmonella, Campylobacter, Shigella, Yersinia - Yersinia: tireoidite, pericardite, glomerulonefrite o Síndrome Hemolítico-Urêmica - E.coli entero-hemorrágica, Shigella - Alta mortalidade o Sd. de Guillain-Barré - Pós-Campylobacter o Síndromes disabsortivas - Deficiência de lactase, supercrescimento bacteriano MEDICAMENTOS o Principal causa de diarreias não-infecciosas o Associação temporal com o uso o Inúmeros medicamentos associados Antibióticos Antiarrítmicos Antihipertensivos AINH Antidepressivos - Sertralina Quimioterápicos Broncodilatadores Antiácidos Laxativos OUTRAS CAUSAS Isquemia o Geralmente pacientes >50anos o Atentar paraoutros fatores de risco (aterosclerose/ FA) o Dor abdominal baixa precedendo diarreia o Sangramento tardio o Alta mortalidade Diverticulite Hiperproliferação bacteriana Intoxicações Inseticidas, cogumelos, arsênico, toxinas ambientais, anafilaxia por alimentos MANEJO – DIARREIAS AGUDAS Anamnese cuidadosa o Pesquisar ingestas suspeitas, outros casos no ambiente de trabalho / doméstico, viagens recentes, infecções de repetição, exposições de risco o Pesquisar ativamente uso de medicamentos associados o Pesquisa de sintomas de alerta o Características da diarreia (“alta x baixa”) e de invasão/inflamação INVESTIGAÇÃO DAS DIARREIAS AGUDAS História clínica – Início dos sintomas, ingestão de alimentos suspeitos, uso de medicamentos – Número de dejeções, aspecto das fezes, presença de muco ou sangue – Sintomas associados: febre, dor abdominal, náuseas e vômitos – Sinais de desidratação Pesquisar se é diarreia inflamatória ou não inflamatória o Inflamatória – Bactérias invasivas ou produtoras de citotoxinas, parasitas – íleo e colon – Quadro mais grave – Ruptura de mucosa, com perda de líquido, hemácias e leucócitos – Diarreia com muco e sangue, dor abdominal, febre, tenesmo o Diarreia não inflamatória – Vírus e bactérias produtoras de enterotoxinas – Intestino delgado – Não há destruição de epitélio – Diarreia secretora – Fezes aquosas, de grande volume, sem muco ou sangue – Cólica menos intensa – Pode haver perda importante de volume Exame físico – Dor leve difusa à palpação – RHA aumentados – Sinais de desidratação o Sinais de alarme: taquipneia, febre alta, hipotensão, pulsos filiformes o RHA diminuídos, massas, sinais de irritação peritoneal – Investigar outras condições Exames complementares – Hemograma, função renal e eletrólitos, leucócitos fecais – Coprocultura: casos selecionados – Pesquisa de toxinas e antígenos Toxinas A e B do clostridium Antígenos virais (rotavirus) Giardia e criptosporidio – Parasitológico de fezes – pesquisa de parasitas EVOLUÇÃO o Maioria autolimitada e leve o Dependendo da gravidade, duração e imunidade do hospedeiro → investigação: Desidratação em adulto Fezes sanguinolentas Febre ≥38,5ºC Duração >48h sem melhora Uso recente de antibiótico Surto comunitário Dor importante em paciente >50 anos (especialmente se >70) Imunocomprometidos TRATAMENTO DAS DIARREIAS AGUDAS o Reidratação o Dieta o Agentes antidiarreicos o Antimicrobianos MANEJO Diarreias leves: o Reposição hidroeletrolítica (VO) o Sintomáticos o Investigar se persistência após retirada de possíveis desencadeantes Graves: o Reposição hidroeletrolítica (EV) o Sintomáticos o Cultura e pesquisa de patógenos nas fezes - Iniciar tratamento empírico até resultado Casos moderados: o Reposição hidroeletrolítica (EV ou VO) o Sintomáticos o Investigar e tratar se: febre ≥38,5ºC, presença de sangue, leucócitos fecais +, idosos ou imunocomprometidos ANTIDIARREICOS o Loperamida: - Diarreia não infecciosa ou sem febre o Subsalicilato de bismuto - (Peptozil®, Bisuisan®) - Evitar em imunossuprimidos e nefropatas – risco de encefalopatia - Pode ser usado na diarreia do viajante TRATAMENTO COM ANTIBIÓTICOS Empíricos o Ciprofloxacina o Norfloxacina o Metronidazol Chlostridium: - Vancomicina ou metronidazol VO por 10-14 dias INVESTIGAÇÃO o Coprocultura o Pesquisa de leucócitos fecais o Culturas de vírus o Parasitológico de fezes o Pesquisa de toxinas (Clostridium), antígenos virais e protozoários o Endoscopia com aspirado duodenal → giardíase e doença celíaca o Tomografia de abdome o Diverticulite /condições extraintestinais MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS A DIARREIA o Desidratação o Má nutrição o Perda de Peso o Síndromes específicas de deficiência vitamínica (glossite, queilosite, estomatite) o Diarreia parasitária: relativamente assintomáticos ou complicações grave (ex. perfuração intestinal)
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