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Estudo Bíblico: Gênero Apocalíptico

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Prévia do material em texto

Estudo Bíblico 
Gênero Apocalíptico
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Anderson Oliveira Lima
Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
Introdução à Apocalíptica
• Introdução;
• No Princípio era a Profecia;
• Os Horizontes se Ampliam.
• Introduzir o estudo da literatura bíblica apocalíptica;
• Oferecer um panorama histórico para entender o surgimento da apocalíptica;
• Discutir questões de gênero estudando as características dos livros proféticos.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
Introdução à Apocalíptica
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas:
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de 
aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Introdução à Apocalíptica
Contextualização
Abriremos, com estas páginas, a disciplina Estudos Bíblicos: Gênero Apoca-
líptico. A proposta inicial da disciplina (dentro do curso de Teologia) é o estudo da 
apocalíptica bíblica, isto é, das porções textuais preservadas no cânone cristão 
que lidam com a tradição apocalíptica. Todavia, se temos a pretensão de estudar o 
“gênero apocalíptico”, então teremos que ampliar razoavelmente nossos horizontes 
e dirigir nossos olhos para além da literatura bíblica, passando brevemente por 
questões sobre a história de Israel e sobre algumas produções textuais apócrifas que 
são determinantes na compreensão do tema.
Convidamos você, nosso(a) leitor(a) e estudante, a empreender sua própria via-
gem pelos curiosos estudos da apocalíptica judaico-cristã; esperamos que o mate-
rial que vamos oferecer o(a) auxilie nessa aventura.
Reservamos as primeiras unidades para as questões introdutórias, para as localiza-
ções históricas, para o estudo das características e evolução do gênero, assim como 
para a apresentação de uma bibliografia básica, que você poderá ler paralelamente (ou 
após o curso) em busca de informações mais detalhadas.
Durante essa curiosa viagem, aproveite o conteúdo e a paisagem, isto é, preste 
atenção ao texto que escrevemos e às imagens compartilhadas em seu meio. Estas 
imagens foram produzidas a partir do imaginário apocalíptico e refletem a riqueza 
dessa antiga tradição para a cultura cristã. De fato, a plurissignificação, que é 
própria dos obscuros símbolos apocalípticos, impulsionou a imaginação humana, 
deu motivos à arte cristã e gerou grande número de obras curiosas que ainda nos 
cativam e encontram relevância.
Com tudo isso, esperamos que você aproveite bem a disciplina Estudos 
Bíblicos: Gênero Apocalíptico. Primeiro para ler melhor sua Bíblia (não apenas 
o Apocalipse de João, mas muitas outras porções textuais que foram escritas 
mantendo uma relação estreita com a apocalíptica e que hoje ligam-se a esta 
tradição intertextualmente). Depois, desejamos que você adquira conhecimento 
sobre a apocalíptica em geral e possa avaliar a produção cristã subsequente e a 
marcante influência da apocalíptica antiga na cultura ocidental de todas as épocas. 
Pode parecer exagero, mas a compreensão da apocalíptica judaica ainda nos 
oferece ferramentas interessantes para o diálogo com a cultura em geral.
8
9
Introdução
A apocalíptica é um termo abrangente que empregamos para nos referir a 
diferentes coisas:
• Há uma literatura apocalíptica, um gênero apocalíptico, um estilo de texto 
que se tornou comum entre judeus antigos e que nós conhecemos através da 
Bíblia (especialmente por meio dos livros de Daniel e do Apocalipse de João) 
e de vários outros textos apócrifos;
• Conhecemos também usos mais genéricos para o termo apocalíptica; e le 
pode ser empregado para tratar de uma visão de mundo, de um imaginário 
religioso que, sob influência de tradições mitológicas de outros povos do 
Antigo Oriente, se desenvolveu no meio do judaísmo a partir do período pós-
-exílico e formatou consideravelmente a linguagem religiosa e revolucionária 
dos antigos judeus;
• Também falamos (no senso comum) d e apocalíptica quando queremos falar 
sobre uma coleção de motivos escatológicos que ainda sobrevivem na cultura 
ocidental através de diferentes manifestações artísticas e religiosas. Neste 
caso, o uso é mais impreciso; expressões como “é o apocalipse!” devem ser 
entendidas como “é o fim do mundo!”.
Aprofundemo-nos momentaneamente na problemática que envolve essa 
nomenclatura lendo algumas palavras de John J. Collins:
As pesquisas acadêmicas mais recentes abandonaram o uso do termo “apo-
calíptica” como um substantivo e fazem distinção entre apocalipse como 
um gênero literário, apocalipsismo como uma ideologia social e escatologia 
apocalíptica como um conjunto de ideias e motivos literários que também 
podem ser encontrados em outros gêneros literários e contextos sociais. 
(COLLINS, 2010, p. 18)
Não seremos, durante este curso, tão rigorosos na aplicação dessas variações; 
principalmente porque nosso principal interesse se concentrará, ao longo de toda 
a disciplina, na literatura.
A apocalíptica, seja ela entendida como um gênero, como um padrão regulador 
de certa produção literária ou como visão de mundo, nasceu no seio do judaísmo e 
foi determinante para o desenvolvimento do cristianismo desde suas origens. De fato, 
ainda hoje a presença dos elementos apocalípticos é marcante no imaginário cristão 
e, de maneira recorrente, os encontramos nos livros, nos cânticos, nos filmes, nos 
quadros, nos vitrais etc., especialmente quando estes tratam de temas como fim do 
mundo ou juízo final.
9
UNIDADE Introdução à Apocalíptica
Paulo A. de Souza Nogueira abriu seu livro de caráter introdutório, O que é 
Apocalipse, perguntando ao leitor:
Quais as imagens que nos vêm à mente quando ouvimos a palavra “apocalip-
se”? Imagens de catástrofe, destruição, horror, caos? Mesmo as pessoas não 
religiosas vão associar a palavra a acontecimentos trágicos, sejam de ordem 
ecológica, bélica, social, etc. [...] tudo se resume nesta expressão de descon-
forto, na sensação de que as coisas caminham para o colapso. Sentimos que 
vivemos em tempos apocalípticos. (NOGUEIRA, 2008, p. 7-10)
Mas, será que esse imaginário pessimista, catastrófico, caótico define bem o que 
é a tradição apocalíptica? Quanto desse imaginário moderno advém dos documentos 
bíblicos (e seus contemporâneos não canônicos) e quanto nasceu depois, no cristianismo 
medieval e na exploração cinematográfica hollywoodianado tema, por exemplo?
Por ora, uma informação fundamental precisa ser compartilhada com a 
finalidade de dirimir dúvidas e evitar futuras confusões: o termo Apocalipse 
surgiu bem depois que o imaginário apocalíptico foi desenvolvido e os livros 
que a registraram foram escritos. Provavelmente, os antigos autores que nós 
chamamos de apocalípticos se denominariam apenas profetas. Foi por 
influência do livro neotestamentário que chamamos de Apocalipse de João, 
escrito entre o final do primeiro e início do segundo séculos d.C., que o termo 
apocalipse passou a nomear todo um gênero e uma cultura religiosa. Apocalipse 
é a primeira palavra do livro em seu idioma original, o grego (apokálypsis), e 
significa revelação, motivo pelo qual podemos dizer que a primeira característica 
dos textos apocalípticos é que eles se apresentam como “escritos de revelação” 
(NOGUEIRA, 2008, p. 11-13).
O Apocalipse de João foi o único texto escrito consistentemente a partir dos 
padrões bem conhecidos da literatura apocalíptica que foi selecionado para compor 
o cânone do Novo Testamento (não sem ter gerado inúmeras controvérsias sobre sua 
aceitação), e isso nos dá uma falsa ideia sobre quão difundido foi o gênero apocalíptico. 
O leitor da Bíblia costuma vê-lo como um documento único e exótico, pelo menos 
até descobrir que existiram muitos outros textos semelhantes antes dele (tais como 
os livros de Enoque, o Apocalipse de Abraão, 4Esdras e A ascenção de Isaías). 
Todavia, pela repercussão do Apocalipse de João na história do cristianismo, ele se 
tornou o mais famoso dos livros apocalípticos e suscitou, posteriormente, o interesse 
dos estudiosos pela literatura apocalíptica extracanônica.
10
11
Figura 1 – Hieronymus Bosch, Last Judgment Triptych, 1504-1508
Fonte: Wikimedia Commons
11
UNIDADE Introdução à Apocalíptica
No Princípio era a Profecia
Conhecemos a apocalítica como sendo um fenômeno da cultura, da literatura 
e da religião dos judeus. No entanto, é bastante evidente que essa apocalíptica 
(em suas múltiplas manifestações) se desenvolveu a partir de sincretismos, do 
contato entre judeus e outros povos, outras culturas, outras religiões e suas 
mitologias. Para sermos mais exatos, no Antigo Oriente os judeus fizeram 
contato (por motivos diversos) com culturas mesopotâmicas, com os persas, 
com os egípcios, com os helenistas etc., e isso deixou marcas significativas 
na cultura dos judeus e, como não poderia deixar de ser, na literatura bíblica 
produzida no período.
Importante!
O Exílio dos judeus, também chamado de Cativeiro Babilônico, teve início quando o 
império babilônico, sob comando de Nabucodonosor II, invadiu o Reino de Judá e depor-
tou parte da elite dos judeus para a Babilônia em 609 a.C. Uma segunda leva de depor-
tados partiu de Jerusalém (cidade que ficou devastada) rumo à Babilônia em 589 a.C. 
O tempo de Exílio só teve fim quando a Babilônia foi conquistada pelo império persa e 
seu governante, Ciro, autorizou o retorno voluntário dos judeus para suas terras entre 
538 e 537 a.C. É sabido, todavia, que boa parte dos judeus já estava habituado a à vida 
em terras estrangeiras; muitos deles, nascidos e criados fora de Israel, não quiseram re-
tornar às ruínas do antigo reino de Judá. Isso foi um passo significativo no desenvolvi-
mento de comunidades judaicas na diáspora, isto é, comunidades que se estabeleceram 
não só na Babilônia, mas em diversas localidades e preservaram a cultura judaica em 
diálogo com as culturas locais.
Você Sabia?
Figura 2 – Profeta Ezequiel, 1886
Fonte: jw.org
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13
Por algum tempo, os pesquisadores insistiram em vincular a apocalíptica judaica 
apenas às tradições bíblicas, alegando que bastava descrevê-la como uma espécie 
de evolução da profecia do Antigo Testamento. Todavia, esse tipo de trabalho se 
mostrou limitado, fruto de um preconceito teológico que queria vincular os textos 
apocalípticos à tradição escritural canônica por temer as consequências de se 
admitir que a apocalíptica descendia de culturas pagãs:
Se "apocalítica" é cria da profecia, ela é legítima; se for importação 
da Pérsia, não é autenticamente bíblica. Essa lógica é patentemente 
defeituosa. As fontes a partir das quais se desenvolvem ideias não 
determinam o valor inerente dessas ideias. Muitas das ideias bíblicas 
centrais, de qualquer modo, foram adaptadas da mitologia dos canaanitas 
e de outros povos do Oriente Próximo. (COLLINS, 2010, p. 44.)
Embora atualmente não se duvide da maciça presença estrangeira na composi-
ção do imaginário apocalíptico judaico, não é fácil identificar os elementos da lite-
ratura apocalíptica que são oriundos dessas culturas. Quando se examina a heran-
ça textual dos mencionados povos, encontram-se muitos manuscritos, fragmentos, 
excertos..., mas não há um apocalipse propriamente dito. Isso demonstra que 
os judeus se apropriaram de elementos diversos para compor, partindo de suas 
próprias tradições literárias e religiosas, o gênero apocalíptico que conhecemos 
(NISSINEN; SCHIPPER, 2009, p. 318-321). Ou seja, não se trata de uma simples 
adoção, mas de uma apropriação complexa que se dá através de um processo 
dialógico, de negociações e criações informes que, ao final de um longo processo, 
dão origem a uma coisa nova. A apocalíptica, portanto, preserva muitos traços 
que permitem aos pesquisadores rastrearem suas múltiplas heranças, mas essa 
clara relação de dependência intertextual não vai além disso, pois ao final será 
preciso admitir que os apocalipses são produções originais, criação dos judeus.
Apesar de tudo o que foi dito, não negaremos que a fonte mais evidente para 
compreender as origens da apocalíptica judaica é a profecia bíblica. Seria bom 
poder estudar os fragmentos míticos deixados por cananeus, persas, egípcios etc., 
mas esse é um trabalho que cabe a especialistas em línguas mortas que se dispõem 
a manusear (geralmente por toda a vida) antigos documentos epigráficos. De nossa 
parte, nos contentaremos com algumas poucas observações nesse sentido e nos 
concentraremos no caminho mais simples, que é o estudo dos materiais do próprio 
Antigo Testamento.
Os textos proféticos mais antigos do cânone bíblico, fragmentos pré-exílicos, 
preservaram algo do pensamento de homens como Amós, uma espécie de vidente 
que observava com atenção os rumos da política internacional, os avanços dos 
grandes impérios, os abusos da monarquia local, as injustiças praticadas dentro 
de Israel e interpretava todas essas coisas a partir de um olhar teológico (LIMA, 
2018, p. 820-824). A profecia, noutras palavras, apresentava os diagnósticos dos 
profetas, as leituras teológicas dos fatos, as supostas opiniões da divindade sobre os 
eventos recentes e as expectativas relativas ao futuro da nação.
13
UNIDADE Introdução à Apocalíptica
Assumindo o papel de arautos visionários, os profetas explicaram a seu modo 
o fracasso de Israel como nação e a queda desse povo – que se julgava escolhido 
de Deus – nas mãos dos poderes estrangeiros e idólatras. Hoje, provavelmente 
explicaríamos os mesmos eventos usando outros termos: falaríamos do grande 
poderio militar daqueles impérios emergentes, trataríamos dos interesses ligados 
às rotas economicamente importantes do comércio entre regiões, falaríamos de 
alianças políticas internacionais etc. Mas os profetas, de um modo bem apropriado 
para seu tempo, interpretavam os acontecimentos históricos preferencialmente 
a partir da fé e das opiniões que tinham sobre o seu Deus, seus valores, seus 
interesses, seus planos.
Observemos que, nas páginas bíblicas, os profetas não costumavam se ocupar de questões 
pessoais, dos pecados particulares de pessoas comuns, dos erros morais de pequenos 
camponeses que viviam em suas modestas comunidades agrícolas. O profeta bíblico se 
ocupava, isto sim, dos erros cujos efeitos eram macroestruturais, pecados que teriam 
influências sobre os interesses de toda a nação. Engana-nos, neste sentido, a relação dos 
profetas com os reis de Israel e Judá,que eram observados e julgados moralmente pelos 
profetas que estavam a seu redor. Entretanto, convém lembrar que o rei era ungido, eleito 
por Deus para reger a nação, assim os seus pecados não tinham consequências apenas 
pessoais, mas nacionais. Os profetas eram considerados responsáveis pelo controle religioso, 
pela erradicação da idolatria, pela intercessão pelo povo... Por isso, eles se preocupavam 
de maneira especial com a conduta moral de seus monarcas e eram incitados por Deus a 
chamar-lhes a atenção sempre que necessário, convocando-lhes à imediata conversão.
Ex
pl
or
Antes de seguirmos, vale a pena enumerar algumas das características mais 
marcantes da profecia bíblica típica do período pré-exílico para fins didáticos 
e para que, depois, compreendamos a dimensão das transformações ocasio-
nadas pelo período exílico e pelo surgimento gradual da apocalíptica judaica 
(LIMA, 2011, p. 83-86):
1. A profecia era essencialmente local: Geralmente trata dos problemas 
do país em que reside o profeta e quase nunca se ocupa com o destino do 
planeta, do universo ou da raça humana como um todo. Como escreveu 
Milton Schwantes, “a profecia tem hora e lugar, não sendo doutrinária ou 
eternizante, mas concreta e temporal” (SCHWANTES, 1982, p. 115).
2. A profecia nasceu da oralidade: O profeta anunciava as visões e oráculos 
recebidos misticamente por meio da palavra, isto é, oralmente, e tinha 
como destinatário um único povo ou um grupo ainda mais específico de 
pessoas. Se temos parte de discursos proféticos escritos, isso se deve em 
grande parte à iniciativa de escribas que atuaram após a atuação do profeta, 
à memória coletiva de pessoas que ficaram comovidas pela mensagem e 
cuidaram de preservá-la. Noutras palavras, os profetas mais antigos não 
eram escritores.
14
15
3. A profecia tratava de questões de caráter social, econômico, político e 
religioso. Isto é, ela lidava com a pobreza, com a violência, com a injustiça, 
com os impostos, com a idolatria, com as alianças entre reis locais e 
povos estrangeiros etc. Com base no caráter de Deus (teologicamente 
concebido), os profetas bíblicos previram suas ações, imaginaram que, 
diante das circunstâncias, o Senhor interviria na história para alterar o rumo 
dos acontecimentos e punir os culpados pelos desajustes nacionais.
E a profecia foi assim até que o exílio provocou enormes convulsões no modo 
como os descendentes de Abraão viam as coisas.
Jonas prega em Nínive, 1886: http://bit.ly/2U07bYW
Ex
pl
or
Os Horizontes se Ampliam
No exílio, diante da derrota, da destruição de suas cidades e templos, os judeus 
precisaram rever suas alternativas, tanto em sentido teológico (para a manutenção 
da fé), quanto para a própria sobrevivência. Os profetas não desapareceram, eles 
se adaptaram; e quando tomaram novamente a palavra, o que ofereceram foram 
novas perspectivas sobre o futuro dos judeus. Aqueles visionários que eram antes 
acusadores determinados, anunciadores de catástrofes, agora anunciavam a miseri-
córdia divina, o fim da opressão estrangeira, o retorno dos exilados para sua terra 
natal, a reconstrução de seus lugares sagrados, a restauração de sua dignidade e 
orgulho e a restauração da identidade nacional. A primeira mudança, portanto, foi 
temática; e isso se deve à necessidade de reconstrução da teologia em conformida-
de com as novas circunstâncias empíricas.
Importante!
O discurso profético sofreu modificações por conta do exílio e um bom número de elementos 
inéditos passou a caracterizar uma nova fase na história dessa profecia. E aconteceu assim 
por duas razões: primeiro, porque a profecia, que como vimos tinha os seus pés bem 
fincados no solo e na história política da nação, precisou adaptar seus temas às novas 
circunstâncias; e em segundo lugar, a transição se dá porque até mesmo os profetas foram 
transformados pelas influências advindas das culturas estrangeiras com as quais os judeus 
foram forçosamente postos em contato.
Trocando ideias...
15
UNIDADE Introdução à Apocalíptica
Uma das primeiras novidades no pensamento religioso judeu se dá na ampliação 
dos horizontes abrangidos pela profecia. A partir desse momento, o mundo fica 
maior e todas as regiões conhecidas do globo, e depois do cosmo, passam a ser 
alvos dos discursos proféticos. Ou seja, o universo passa a ser o cenário dos eventos.
Lembre-se de que, estando agora sob o domínio de grandiosos impérios, o 
profeta do exílio e pós-exílio não poderia mais ir à frente de um acessível palácio 
para apontar seu dedo e acusar um monarca local pelos crimes cometidos contra 
o povo. O opressor/dominador agora habitava um local distante e impenetrável, 
falava uma língua que não compreendiam, parecia dominar o mundo inteiro e 
afrontava toda a tradição religiosa judaica por imperar enquanto adorava outros 
deuses. Para derrubá-lo, Deus teria que agir de modo mais radical, teria que abalar 
as estruturas de todo o cosmo.
Transcreveremos, a seguir, algumas linhas do livro do profeta Isaías, linhas que os 
estudiosos datam como tendo sido escritas durante ou após o exílio, e que servem 
como exemplo de que a profecia começava a sofrer mudanças em seus horizontes:
(1) Eis que o SENHOR esvazia a terra, e a desola, e transtorna a sua 
superfície, e dispersa os seus moradores. (2) E o que suceder ao povo 
sucederá ao sacerdote; ao servo, como ao seu senhor; à serva, como à 
sua senhora; ao comprador, como ao vendedor; ao que empresta, como 
ao que toma emprestado; ao que dá usura, como ao que paga usura 
(3) De todo se esvaziará a terra e de todo será saqueada, porque o 
SENHOR pronunciou esta palavra. (ISAÍAS 24.1-3)
Note-se como o texto bíblico lido não faz distinção entre justos e injustos no que 
diz respeito às consequências do juízo divino. Veja que o alcance dos atos de Deus 
se estende por toda a terra, a qual será completamente devastada. Esse traço 
claramente escatológico não é, definitivamente, algo que possamos atribuir a uma 
profecia nos termos de Amós e Oséias (tampouco é uma profecia do primeiro 
Isaías do século VIII a.C.) (LIMA, 2011, p. 87-88). Na apocalíptica, sabemos bem, 
os astros costumam ser abalados, os elementos se misturam e nesse caos as vidas 
humanas são ceifadas. Desse modo, pode-se dizer que as transformações que 
os novos profetas (que depois serão chamados de apocalípticos) anseiam é geral. 
De certo modo, a esperança abandona a terra, a política, os sacrifícios, a Lei e é 
transferida à ideia de que haverá uma nova criação (GUNNEWEG, 2005, p. 338).
A literatura apocalíptica, portanto, envolverá eventos históricos com expec-
tativas escatológicas, relacionará passado, presente e futuro, o mundo de cá 
e o mundo de lá. É preciso saber fazer distinção entre esses dados para bem 
avaliar a leitura que, nos apocalipses, se faz dos eventos históricos e poder 
mensurar a presença de um imaginário religioso e de uma linguagem escatoló-
gica que guia as esperanças apocalípticas.
16
17
Figura 3 – Jan van Eyck, Last Judgment, 1420-1425
Fonte: Wikimedia Commons
17
UNIDADE Introdução à Apocalíptica
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
O que é Apocalipse
NOGUEIRA, P. O que é apocalipse (Coleção primeiros passos, 333). São Paulo: 
Brasiliense, 2008.
A Imaginação Apocalítica: Uma Introdução à Literatura Apocalíptica Judaica
COLLINS, J. J. A Imaginação Apocalítica: Uma Introdução à Literatura Apocalíptica 
Judaica. São Paulo: Paulus, 2010. O livro é uma produção densa e de muita qualidade, que 
certamente deve ser apontada como uma das mais significativas sobre o tema dentre as que 
estão publicadas no Brasil. É, para os interessados, uma obra que precisa fazer parte de sua 
biblioteca particular. Nesta primeira unidade, recomenda-se a leitura do capítulo 1 (O gênero 
apocalíptico, p. 17-73).
 Leitura
Breve História da Profecia Bíblica
A leitura do artigo completo é nossa primeira indicação àqueles que desejam se aprofundar no 
conteúdo da unidadee se dispõem a estudar mais para um melhor aproveitamento do curso. 
Você pode fazer o download do artigo no link abaixo.
https://bit.ly/2GWBYkT
Oracula
O Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São 
Paulo possui um periódico especializado em estudos do cristianismo primitivo que, desde 2005, 
dá ênfase aos estudos ligados à apocalíptica. Trata-se da Revista Orácula, produção do grupo 
de pesquisas de mesmo nome, coordenado pelo prof. Dr. Paulo Augusto de Souza Nogueira.
https://bit.ly/2DN0qo8
18
19
Referências
COLLINS, J. J. A Imaginação Apocalítica: Uma Introdução à Literatura 
Apocalíptica Judaica. São Paulo: Paulus, 2010.
GUNNEWEG, A. H. J. Teologia Bíblica do Antigo Testamento: Uma História 
da Religião de Israel na Perspectiva BÍblico-Teológica. Bão Paulo: Vida Nova, 2005.
LIMA, A. O. Breve História da Profecia Bíblica. Ciberteologia, ano VII, n. 33, 
p. 79-94, 2011.
LIMA, A. O. Introdução ao livro de Amós. In: Bíblia Tradução Brasileira – 
Introduções acadêmicas. São Paulo: Fonte Editorial/Sociedade Bíblica do 
Brasil. p. 820-824, 2018.
NISSINEN, M.; SCHIPPER, B. U. Apocalypses and apocalyptisism - I. Ancient 
Near East. In. Encyclopedia of the Bible and its reception 2. Berlin/New 
York: Walter de Gruyter, p. 318-321, 2009.
NOGUEIRA, P. O que é Apocalipse (Coleção primeiros passos, 333). São Paulo: 
Brasiliense, 2008.
SCHWANTES, M. Profecia e Estado: Uma Proposta para a Hermenêutica Pro-
fética. Estudos Teológicos. Ano 22, n. 2, São Leopoldo: Faculdade de Teologia 
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, p. 107-145, 1982.
19

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