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Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 1 ⁉ Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos O que é a ansiedade? A ansiedade é um estado desagradável de tensão, apreensão e inquietação – um temor que se origina de fonte conhecida ou desconhecida. Os sintomas físicos da ansiedade grave são similares aos do medo (como taquicardia, sudoração, tremores e palpitações) e envolvem a ativação simpática. De que forma a ansiedade se manifesta? A resposta normal a estímulos ameaçadores engloba vários componentes que incluem comportamentos de defesa, reflexos autonômicos, despertar e alerta, secreção de corticosteroides e emoções negativas. Nos estados de ansiedade, essas reações ocorrem de forma antecipatória, independentemente dos estímulos externos. A distinção entre um estado “patológico” e um estado “normal” de ansiedade não é clara, mas representa o ponto em que os sintomas interferem na realização de tarefas produtivas normais. Como os distúrbios de ansiedade podem ser divididos e classificados? O termo “ansiedade” é aplicado a muitos distúrbios distintos. Uma divisão útil dos distúrbios da ansiedade pode ajudar a explicar por que os diferentes tipos de ansiedade respondem de forma distinta a diferentes fármacos (i) distúrbios que envolvem medo (ataques de pânico e fobias) (ii) e aqueles que envolvem um sentimento mais generalizado de ansiedade (muitas vezes classificados como distúrbios de ansiedade generalizada). Os distúrbios de ansiedade reconhecidos clinicamente incluem os seguintes: Distúrbio de ansiedade generalizada (estado permanente de ansiedade excessiva em que falta uma razão ou um foco definido); Distúrbio de ansiedade social (medo de estar e de interagir com outras pessoas); Fobias (medo excessivo de objetos ou situações específicas, p. ex., cobras, espaços abertos, andar de avião); Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 2 Distúrbio de pânico (ataques súbitos de medo aterrador que ocorrem em associação com sintomas somáticos exuberantes, tais como sudação, taquicardia, dor torácica, tremor e sensação de sufocamento). Esses ataques podem ser induzidos, mesmo em indivíduos normais, pela infusão de lactato de sódio, e essa condição parece ter um componente genético; Distúrbio de estresse pós-traumático (ansiedade desencadeada pela recordação de experiências prévias estressantes); Distúrbio obsessivo-compulsivo (comportamentos compulsivos ritualistas desencadeados por ansiedade irracional, p. ex., medo de contaminação). Quais os fármacos utilizados para tratar a ansiedade? Os principais grupos de fármacos são os seguintes: Antidepressivos. Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (5-HT) (ISRSs; fluoxetina, paroxetina e sertralina) e inibidores da recaptação da serotonina/norepinefrina (ISRSNs; venlafaxina e duloxetina) são efetivos no tratamento do distúrbio de ansiedade generalizada, fobias, distúrbio da ansiedade social e distúrbio do estresse pós-traumático. Outros antidepressivos (antidepressivos tricíclicos [ADTs] e inibidores da monoamino-oxidase [IMAO]) são também eficazes, mas um perfil de efeitos secundários mais baixo favorece o uso dos ISRSs. Esses agentes têm a vantagem adicional de reduzir a depressão, que está frequentemente associada à ansiedade. Benzodiazepínicos. Utilizados para tratar a ansiedade generalizada. Aqueles usados para tratar a ansiedade têm uma meia-vida biológica longa. Eles podem ser usados durante a estabilização de um paciente que utiliza ISRSs. Existe alguma evidência de que, no distúrbio de pânico, a combinação de um benzodiazepínico com um ISRS parece ser melhor que um ISRS isoladamente. Buspirona. Esse agonista do receptor 5-HT1A é eficaz no distúrbio da ansiedade generalizada, mas ineficaz no tratamento das fobias e no distúrbio da ansiedade social Gabapentina, pregabalina, tiagabina, valprosto e levetiracetam, fármacos antiepilépticos são também eficazes no tratamento do distúrbio da ansiedade generalizada. Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 3 Alguns antipsicóticos atípicos, tais como olanzapina, risperidona, quetiapina e ziprasidona, podem ser eficazes em algumas formas de ansiedade, incluindo o distúrbio da ansiedade generalizada e o distúrbio do estresse pós-traumático. Antagonistas β-adrenorreceptores (p. ex., propanolol;). Esses são usados para tratar algumas formas de ansiedade, particularmente quando sintomas físicos, tais como sudação, tremor e taquicardia, são incapacitantes. A sua eficácia depende do bloqueio das respostas simpáticas periféricas, mais do que efeitos centrais. Qual é o mecanismo de ação dos benzodiazepínicos? Os alvos para as ações dos benzodiazepínicos são os receptores do ácido γ- aminobutírico tipo A GABAa. (O GABA é o principal neurotransmissor inibitório no SNC.) Os receptores do GABAa são compostos de uma combinação, no somatório de cinco subunidades α, β e γ inseridas na membrana pós-sináptica. Para cada subunidade existem vários subtipos. A fixação do GABA ao seu receptor inicia a abertura do canal iônico central, permitindo a entrada de cloro através do poro. O influxo do íon cloreto causa hiperpolarização do neurônio e diminui a neurotransmissão, inibindo a formação de potenciais de ação. Os benzodiazepínicos modulam os efeitos do GABA ligando-se a um local específico de alta afinidade (distinto do local de ligação do GABA), situado na interface da subunidade α e da subunidade γ no receptor GABAa. (Esses locais de ligação, algumas vezes, são denominados receptores benzodiazepínicos [BZ]. Subtipos de receptores BZ comuns no SNC são designados de BZ1 ou BZ2 dependendo do local de ligação incluir uma subunidade α1 ou α2, respectivamente.) Os benzodiazepínicos aumentam a frequência da abertura dos canais produzida pelo GABA. (A ligação do benzodiazepínico ao seu receptor aumentará a afinidade do GABA por seus locais de ligação, e vice- versa). Os efeitos clínicos dos vários benzodiazepínicos se correlacionam bem com a afinidade de ligação de cada fármaco pelo complexo receptor GABA- canal de íon cloreto. Os pontos periféricos de ligação dos benzodiazepínicos não associados aos receptores GABA estão presentes em muitos tecidos. O alvo é uma proteína conhecida como proteína translocadora localizada primariamente nas membranas mitocondriais. Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 4 Qual o principal antagonista dos benzodiazepínicos? De que forma ele é utilizado? Os antagonistas competitivos dos benzodiazepínicos foram descobertos em 1981. O composto mais conhecido é o flumazenil. Esse composto foi originalmente descrito como não tendo efeitos no comportamento ou na indução de convulsões quando dado por si só, apesar de mais tarde se ter descoberto ter atividade “ansiogênica” e pró convulsivante. O flumazenil pode ser usado para reverter o efeito da intoxicação por benzodiazepínicos (normalmente usado apenas se a respiração está gravemente deprimida) ou para reverter o efeito dos benzodiazepínicos, como o midazolam utilizado para pequenos procedimentos cirúrgicos. O flumazenil age rápida e eficazmente quando injetado, mas o seu efeito dura apenas 2 horas, por isso a sonolência tende a desaparecer. As convulsões podem ocorrer nos pacientes tratados com flumazenil e isso é mais frequente nos pacientes que fazem uso de antidepressivos tricíclicos. Quais os principais efeitos dos benzodiazepínicos? Os principais efeitos dos benzodiazepínicos são: Redução da ansiedade e da agressão Indução do sono Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 5 Redução do tônus muscular Efeito anticonvulsivante Amnésia anterógrada Fale um pouco sobre cada um dos efeitos dos benzodiazepínicos. Redução da ansiedade e agressão Com a possível exceção do alprazolam, os benzodiazepínicos não têm efeitos antidepressivos. Os benzodiazepínicos podem causar, paradoxalmente, um aumento de irritabilidade e agressão em alguns indivíduos. Isto é particularmente pronunciado com o fármaco triazolam, com muitocurta duração de ação e é geralmente mais frequente com os compostos de curta duração de ação. É provavelmente uma manifestação da síndrome de abstinência dos benzodiazepínicos, o que ocorre com todos esses fármacos, mas é mais agudo com fármacos cuja ação desaparece rapidamente. Os benzodiazepínicos são usados principalmente para tratar estados de ansiedade aguda, emergências comportamentais e durante procedimentos como a endoscopia. Eles também são utilizados como pré- medicação antes de cirurgias (médicas e dentárias). Perante estas circunstâncias as suas propriedades ansiolíticas, sedativas e amnésicas podem ser benéficas. O midazolam pode ser usado para induzir a anestesia. Redução do tônus muscular Os benzodiazepínicos reduzem o tônus muscular por uma ação central nos receptores GABAA , primariamente na medula espinhal. O aumento do tônus muscular é um sintoma frequente dos estados de ansiedade e pode contribuir para mal-estar e dores, incluindo cefaleias, que muitas vezes incomodam os pacientes ansiosos. Assim, o efeito relaxante dos benzodiazepínicos pode ser clinicamente útil. A redução do tônus muscular aparente é possível sem considerável perda de coordenação. No entanto, com a administração intravenosa na anestesia e na sobredosagem nos casos de uso abusivo, pode ocorrer obstrução da via respiratória. Efeitos anticonvulsivantes O clonazepam, diazepam e lorazepam são utilizados para tratar a epilepsia. Eles podem ser administrados intravenosamente e salvar a vida ao controlar o estado de mal epiléptico. O diazepam pode ser administrado por via retal Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 6 nas crianças para controlar as crises epilépticas agudas. A tolerância desenvolve-se para as ações anticonvulsivas dos benzodiazepínicos Amnésia anterográda Os benzodiazepínicos induzem amnésia para os eventos que acontecem sob a sua influência, um efeito não observado com outros depressores do SNC. Pequenas cirurgias ou procedimentos invasivos podem assim ser efetuados sem deixar memórias desagradáveis. Flunitrazepam (mais conhecido pelo o público em geral por seu nome comercial, Rohypnol ® ) é conhecido como droga do estupro, uma vez que é utilizado nessas violações e as vítimas frequentemente têm dificuldade em recordar exatamente o que aconteceu durante o ataque. Pensa-se que a amnésia seja causada pela ligação dos benzodiazepínicos aos receptores GABAA que contêm a subunidade α5. Os camundongos sem a subunidade α5 têm fenótipo de elevada capacidade de aprendizagem e de memória. Isso levanta a hipótese de que um agonista seletivo inverso da subunidade α5 poderia aumentar a memória. Quais os principais usos terapêuticos dos Benzodiazepínicos? Distúrbios de ansiedade Os benzodiazepínicos são eficazes no tratamento dos sintomas da ansiedade secundária ao transtorno de pânico, do transtorno de ansiedade generalizada (TAG), do transtorno de ansiedade social e por performance, do transtorno de estresse pós-traumático, do transtorno obsessivo- compulsivo e da ansiedade extrema encontrada, às vezes, em fobias específicas, como o medo de voar. Os benzodiazepínicos também são úteis no tratamento da ansiedade relacionada com depressão e esquizofrenia. Esses fármacos devem ser reservados para a ansiedade grave, e não devem ser usados para lidar com o estresse da vida diária. Devido ao potencial de viciar, eles devem ser usados somente por pouco tempo. Os benzodiazepínicos de ação mais longa, como clonazepam, lorazepam e diazepam, são preferidos nos pacientes com ansiedade que pode exigir tratamento por tempo prolongado. Os efeitos ansiolíticos dos benzodiazepínicos são menos sujeitos à tolerância do que os efeitos sedativos e hipnóticos. (Tolerância – isto é, diminuição da resposta com doses repetidas – ocorre quando o uso se estende por mais de uma ou duas semanas. A tolerância está associada a uma diminuição na densidade de receptores GABA.) Ocorre tolerância cruzada entre benzodiazepínicos e Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 7 etanol. Para o transtorno de pânico, o alprazolam é eficaz para tratamentos curtos ou longos, embora possa causar reações de abstinência em cerca de 30% dos pacientes Distúrbios do sono Poucos benzodiazepínicos são úteis como hipnóticos. Eles diminuem a latência para dormir e aumentam o estágio II do sono não REM. O sono REM e o sono de ondas lentas são diminuídos. No tratamento da insônia, é importante o equilíbrio entre o efeito sedativo necessário na hora de deitar e a sedação residual (“ressaca”) após o despertar. Os benzodiazepínicos comumente prescritos contra os distúrbios do sono incluem os de ação intermediária (temazepam) e os de curta ação (triazolam). O de longa ação (flurazepam) é raramente usado, devido a sua longa meia-vida, que pode resultar em sedação excessiva durante o dia e acúmulo do fármaco, especialmente em idosos. Estazolam e quazepam são considerados de ação intermediária e longa, respectivamente. a. Temazepam: Esse fármaco é útil em pacientes que acordam frequentemente. Contudo, como o efeito sedativo máximo ocorre de 1 a 3 horas após a dose oral, ele deve ser administrado de 1 a 2 horas antes da hora prevista para deitar. b. Triazolam: Enquanto o temazepam é útil contra a insônia causada pela incapacidade de permanecer dormindo, o triazolam é eficaz para tratar indivíduos que têm dificuldade em começar a dormir. Em poucos dias, desenvolve-se tolerância, e a retirada do fármaco, em geral, resulta em insônia de rebote. Por isso, este fármaco não é um dos mais indicados e é mais usado de modo intermitente. Em geral, os hipnóticos devem ser usados por tempo limitado, geralmente menos de 2 a 4 semanas. Amnésia Em geral, os fármacos de ação curta são empregados como pré-medicação para procedimentos desconfortáveis e que provocam ansiedade, como endoscopias e procedimentos odontológicos e angioplastia. Eles causam uma forma de sedação consciente, permitindo ao paciente atender certas instruções durante esses procedimentos. Midazolam é o benzodiazepínico usado para facilitar amnésia e causar sedação antes da anestesia. Convulsões Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 8 Clonazepam é usado ocasionalmente como tratamento adjunto contra certos tipos de convulsões, e lorazepam e diazepam são fármacos de escolha no controle do estado epilético. Devido à tolerância cruzada, clordiazepóxido, clorazepato, diazepam, lorazepam e oxazepam são úteis no tratamento agudo da abstinência do etanol, reduzindo o risco de convulsões associadas à abstinência. Distúrbios musculares O diazepam é útil no tratamento de espasmos dos músculos esqueléticos, como os que ocorrem no estiramento, e no tratamento da espasticidade devida a doenças degenerativas, como esclerose múltipla e paralisia cerebral. Quais as principais características farmacocinéticas dos benzodiazepínicos? Absorção: Os benzodiazepínicos são bem absorvidos quando administrados oralmente, atingindo normalmente o pico de concentração plasmática em cerca de 1 hora. Alguns (como oxazepam, lorazepam) são absorvidos mais lentamente. Eles se ligam às proteínas plasmáticas e a sua alta solubilidade lipídica faz com que muitos se acumulem gradualmente no tecido adiposo. Eles são normalmente administrados por via oral, mas podem ser dados por via intravenosa (p. ex., o diazepam no estado epiléptico, o midazolam na anestesia) ou por via retal. A injeção intramuscular resulta em uma absorção lenta. Metabolização: Os benzodiazepínicos são todos metabolizados e eventualmente excretados como conjugados glicuronídeos na urina. Duração de ação (meia-vida): Eles variam muito na sua duração de ação e podem ser grosseiramente divididos em compostos de ação de curta, média e longa duração. A duração de ação influencia o seu uso: os compostos de ação de curta duração são úteis como hipnóticos com poucos efeitos de ressaca ao acordar, os compostos de ação de longa duração são mais úteis como fármacosansiolíticos e anticonvulsivantes. Muitos são convertidos em metabólitos ativos, como N-desmetildiazepam (nordiazepam) que tem meia- vida de cerca de 60 h, o que contribui para a tendência de muitos benzodiazepínicos terem efeito cumulativo e induzirem ressacas prolongadas quando utilizados repetidamente. Os compostos de ação de curta duração são metabolizados diretamente pela conjugação com glicuronídeo. Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 9 Quais os principais efeitos indesejados do uso de benzodiazepínicos? Toxicidade aguda Os benzodiazepínicos na sobredosagem aguda são consideravelmente menos perigosos que outros fármacos ansiolíticos/hipnóticos. Uma vez que esses agentes são muitas vezes utilizados em tentativas de suicídio, isto é uma vantagem importante. Em sobredosagem os benzodiazepínicos causam sono prolongado com depressão grave das funções respiratória e cardiovascular. No entanto, na presença de outros depressores do SNC, particularmente o álcool, os benzodiazepínicos podem causar grave depressão respiratória, inclusive com sério risco de vida. Este é um problema frequente quando ocorre uso abusivo dos benzodiazepínicos. A disponibilidade de um antagonista eficaz, como flumazenil, significa que os efeitos de uma sobredosagem aguda podem ser revertidos, 6 o que não é possível para a maior parte dos depressores do SNC. Efeitos colaterais durante o uso terapêutico Os principais efeitos secundários dos benzodiazepínicos são: sonolência confusão Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 10 amnésia descoordenação, o que dificulta consideravelmente as habilidades manuais, como desempenho ao volante. aumenta o efeito depressor de outros fármacos, incluindo o álcool, em uma forma mais do que aditiva. A longa e imprevisível duração de ação de muitos benzodiazepínicos é importante na sua relação com os efeitos secundários. Os fármacos de ação de longa duração, como o nitrazepam, não são mais utilizados como hipnóticos e, mesmo os compostos com ação de curta duração, como o lorazepam, podem produzir dificuldade no desempenho laboral e na capacidade de condução Tolerância e dependência Tolerância (i. e., o aumento gradual da dose necessária para produzir o efeito desejado) ocorre com todos os benzodiazepínicos, assim como a dependência, que é o seu principal obstáculo. Eles partilham estas propriedades com outros sedativos. A tolerância parece representar uma alteração em termos do receptor, mas o mecanismo não é bem compreendido. Com relação ao receptor, o grau de tolerância é determinado pelo número de receptores ocupados (i. e., a dose) e da duração de ocupação dos receptores (que pode variar de acordo com o uso terapêutico). Assim, a tolerância grave desenvolve-se quando os benzodiazepínicos são usados continuamente para tratar a epilepsia enquanto ocorre menos tolerância para o efeito indutor do sono quando o indivíduo está relativamente livre do fármaco durante o dia. Não está claro até que grau a tolerância se desenvolve para o efeito ansiolítico. Os benzodiazepínicos produzem dependência e isso é um grande problema. Em indivíduos humanos e em pacientes, a interrupção abrupta do tratamento com benzodiazepínicos causa aumento de ansiedade rebound durante semanas ou meses, com tremor, tonturas, zumbidos, perda de peso e distúrbio do sono devido ao aumento do sono REM. É recomendado que os benzodiazepínicos sejam retirados gradualmente pela diminuição progressiva da dose. A retirada após administração crônica causa sintomas físicos como nervosismo, tremor, perda de apetite e, às vezes, convulsões. A síndrome de privação, tanto em animais quanto em seres humanos, tem início mais lento que na abstinência por opioides, provavelmente pela meia- Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 11 vida plasmática longa da maior parte dos benzodiazepínicos. Com o diazepam, os sintomas de privação podem demorar 3 semanas até se tornarem aparentes. Os benzodiazepínicos de ação de curta duração causam efeitos abruptos de privação. Os sintomas de privação físicos e psicológicos fazem com que seja difícil para os pacientes deixarem de consumir. Abuso potencial Os benzodiazepínicos são fármacos em que ocorre grande uso abusivo, muitas vezes tomados em combinação com outros fármacos opioides ou álcool. O uso ilícito mais frequente resulta do desvio dos benzodiazepínicos prescritos. Eles induzem uma sensação de calma e de reduzida ansiedade, em que usuários descrevem um estado de sonho em que eles se desligam da realidade. O risco de sobredosagem é aumentado com o uso concomitante de álcool. O que é a Buspirona e de que forma ela age como ansiolítico? A buspirona é usada para tratar os distúrbios de ansiedade generalizada. É menos eficaz no controle dos ataques de pânico ou nos estados de ansiedade graves. A buspirona é um agonista parcial dos receptores 5-HT1A e também se liga a receptores dopaminérgicos, mas é provável que as ações relacionadas com os receptores 5-HT sejam mais importantes na supressão da ansiedade, porque compostos experimentais relacionados (p. ex., ipsapirona e gepirona), que são altamente específicos para os receptores 5-HT1A , mostram atividade ansiolítica semelhante em animais experimentais. No entanto, a buspirona demora dias ou semanas para produzir efeitos nos seres humanos, o que sugere um mecanismo de ação mais complexo que a simples ativação dos receptores 5-HT1A. Os ISRSs têm também um início retardado das suas ações ansiolíticas. Os receptores 5-HT1A são expressos no soma e em neurônios que contêm receptores 5- HT, onde eles atuam como autorreceptores inibitórios, assim como sendo expressos em outros tipos de neurônios (p. ex., nos neurônios noradrenérgicos do locus coeruleus), onde, com outros tipos de receptores 5HT, eles medeiam as ações pós-sinápticas da 5HT. Os receptores 5-HT1A pós- sinápticos são altamente expressos nos circuitos córticolímbicos implicados no comportamento emocional. Uma teoria de como a buspirona e os ISRSs produzem o seu efeito ansiolítico retardado é que, ao longo do tempo, eles induzem dessensibilização dos autorreceptores somatodendríticos 5-HT1A , Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 12 resultando em um aumento da excitação serotoninérgica dos neurônios e no aumento da liberação de 5- HT. Isso também pode explicar por que, precocemente no tratamento da ansiedade, pode ocorrer agravamento por esses fármacos devido à ativação inicial dos autorreceptores 5- HT1A e inibição da liberação de 5-HT. Essa teoria de dessensibilização poderia predizer por que um antagonista 5- HT1A que bloquearia a ação do 5-HT nos autorreceptores 5- HT1A e assim aumentaria rapidamente a liberação de 5-HT, poderia ser ansiolítico sem o início de ação retardado. Quais os efeitos secundários causados pela Buspirona? A buspirona inibe a atividade dos neurônios noradrenérgicos do locus coeruleus e assim interfere nas reações de excitação. Tem efeitos secundários muito diferentes dos efeitos dos benzodiazepínicos. Não causa sedação nem incoordenação motora, não foram reportados efeitos de tolerância nem efeitos de privação. Os seus principais efeitos secundários são: náuseas tonturas cefaleias inquietação Geralmente sendo menos incômodos que os efeitos secundários dos benzodiazepínicos. A buspirona não apresenta efeito de síndrome de privação dos benzodiazepínicos, presumivelmente porque ela age através de um mecanismo diferente. Assim, ao mudar do tratamento de um benzodiazepínico para o tratamento com buspirona, a dose de benzodiazepínico tem que ser reduzida gradualmente. Quais são os fármacos utilizados para tratar insônia (fármacos hipnóticos)? Benzodiazepínicos. Benzodiazepínicos de curta duração de ação (p. ex., lorazepam e temazepam) são utilizados para tratar a insônia porque têm pouco efeito de ressaca. O diazepam, como tem um efeito de ação mais longo, pode ser utilizado para tratar a insônia associada a ansiedade diurna.Zaleplon, zolpidem e zoplicona. Apesar de quimicamente distintos, esses hipnóticos de ação de curta agem de forma semelhante aos benzodiazepínicos. Falta-lhes apreciável atividade ansiolítica. Resumo-Neurofarmacologia dos Ansiolíticos 13 Clometiazol. Atua como um modulador alostérico positivo dos receptores GABAa atuando em um ponto diferente dos benzodiazepínicos. Agonistas dos receptores da melatonina. A melatonina e o ramelteon são agonistas nos receptores MT1 e MT2. Eles são eficazes em tratar a insônia nos idosos e em crianças autistas. Antagonista do receptor de orexina. Suvorexant está em desenvolvimento como hipnótico. É um antagonista dos receptores OX1 e OX2 que medeiam as ações das orexinas, transmissores peptídeos no SNC que são importantes no controle do ritmo diurno. Os níveis de orexina são normalmente altos durante o dia e baixos à noite, assim o fármaco reduz o estado de vigília. Anti-histamínicos (p. ex., difenidramina e prometazina) podem ser utilizados para induzir o sono. Eles são incluídos em inúmeras preparações. Doxepina é um antidepressivo ISRSN com propriedades antagonistas dos receptores H1 e H2 de histamina que podem ser usados para tratar a insônia.
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