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Therezinha de Castro - Geopolítica - princípios, meios e fins

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Prévia do material em texto

A Professora Therezinha 
de Castro, entre vários intelec­
tuais e acadêmicos que no Brasil 
se intitulam conhecedores da 
Geopolítica, está entre os pou­
cos que conhecem essa ciência. 
Seus livros, O Brasil no 
Mundo Atual,· O Brasil da Ama­
zônia ao Prata; África - Geohis­
tória, Geopolítica e Tratados In­
temacionais; Nossa América. -
Geopolítica Comparada e a 
reedição, agora, revista e aumen­
tada de Geopolítica - Princípios, 
Meios e Fins, entre outros, cons­
tituem um precioso relicário de 
cultura especializada. 
Deixou nome acadêmico 
respeitável durante os longos 
anos que lecionou no tradicional 
Colégio D. Pedro II e que mili­
tou no Conselho Nacional de 
Geografia. Atualmente, perten­
ce ao Corpo de Professores da 
Escola Superior de Guerra. 
Prováveis publicações da Coleção 
General Benício para o ano 2000 
SOO Anos de História do Brasil 
Guilherme Andrea Frota 
A Chama da Nacionalidade : 
Ecos da Guerra do Paraguai 
Marco Antonio Cunha 
A Engenharia Militar Portuguesa 
na Construção do Brasil 
Aurélio de Lyra Tavares 
A Estrutura de Defesa do 
Hemisfério 
Stetson Conn e Byron Fairchild 
A Face da Batalha fohnKeegan 
A Sociedade Militar de 18 15 até 
nossos dias 
Raoul Girardet 
Civilização, Guerra e Chefes 
Militares 
f. B. Magalhães 
História Militar do Brasil 
Gustavo Barroso 
Navegantes, Bandeirantes, 
Diplomatas 
Synésio Sampaio Coes Filho 
O Estudo da Batalha 
Ardent du Picq 
O Livro Negro do Comunismo 
Stéphane Courtois e outros 
Poderosos e Humildes 
Vemon Walters 
GEOPOLÍTICA 
Princípios, Meios e Fins 
• 
BIBLIOTHECA DO EXERCITO 
Casa do Barão de Loreto 
- 1881 -
Fundada pelo Decreto n2 8.366, de 17 de dezembro de 1881, 
Por FRANKLIN AMÉRICO DE MENEZES DÓRIA, Barão de Loreto, 
Ministro da Guerra, e reorganizada pelo 
General-de-Divisão VALENTIN BENfCIO DA SILVA, 
Pelo Decreto n2 l.748, de 26 de junho de 1937. 
Comandante do Exército 
General-de-Exército Gleuber Vieira 
Secretário Geral do Exército 
General-de-Divisão Francisco Roberto de Albuquerque 
Diretor de Assuntos Culturais 
General-de-Brigada Paulo Roberto Brum de Moraes 
Diretor da Biblioteca do Exército 
Coronel de Engenharia Luiz Eugênio Duarte Peixoto 
Conselho Editorial 
Presidente 
Coronel de Aralharia e Estãdo-Maior Luiz Paulo Macedo Carvalho 
Benemérito 
Coronel Professor Celso José Pires 
Membros Efetivos 
Embaixador Celso Antônio de Souza e Silva 
Embaixador Francisco de Assis Grieco 
Embaixador Manoel Pio Corrêa 
General-de-Divisão Carlos de Meira Mattos 
General-de-Bngada Ulisses Lisboa Perazzo Lannes 
General-de-Brigada Ancildes de Moraes Mottã 
Coronel de Artilharia e Estãdo-Maior Luiz de Alencar Araripe 
Coronel de Artilharia e Estãdo-Maior Amerino Raposo Filho 
Coronel de Cavalaria e Estãdo-Maior Ni/son Vieira Ferreira de Mel/o 
Professor Doutor Arno Wehling 
Biblioteca do Exército 
Palácio Duque de Caxias, 25-Ala Marcílio Dias -32andar 
20221-260-Rio de Janeiro, RJ -Brasil 
Tel.: (55 021) 519-5707 
Fax (55 021) 519-5569 
DDG: 0800 238 365 
Endereço Telegráfico •BIBLIEX" 
E-Mail: bibliex@ism.com.br 
Home-Page: http://www.bibliex.eb.br 
Therezinha de Castro 
GEOPOLÍTICA
Princípios, Meios e Fins
Biblioteca do Exército Editora 
Rio de Janeiro 
1999 
BIBLIOTECA DO EXÉRCITO EDITORA 
Coleção General Benício 
Copyright © by Therezinha de Castro 
Direitos cedidos para esta edição 
Capa: 
Murillo Machado 
Revisão : 
Renaldo di Stasio 
Ellis Pinheiro 
C355 Castro, Therezinha de, 1 930-
Publicação 686 
Volume 355 
Geopolítica, princípios, meios e fins / There­
zinha de Castro. - Rio de Janeiro : Biblioteca do 
Exército Ed., 1 999. 
392 p. - (Biblioteca do Exército; 686. Coleção 
General Benício; v. 355) 
ISBN 85-70 1 1 -263-7 
1 . Geopolítica. 1. Título . II. Série. 
CDD 320. 12 
Nota da Editora: 
A grafia dos topônimos nesta obra está feita exatamente como 
determina a autora. 
Impresso no Brasil Printed in Brazil 
APRESENTAÇÃO 
A reedição do livro Geopolítica - Princípios, Meios e Fins, agora revisto e aumentado de autoria da Professora Therezinha de Castro virá enriquecer a coleção pre­
ciosa das obras já escritas pela ilustre intelectual e mestra . 
Há trinta anos a Professora Therezinha milita no cam­
po científico da Geografia, da Geopolítica e da História. Foi 
aluna dileta do inesquecível geógrafo brasileiro Professor 
Delgado de Carvalho . Formada pela antiga Faculdade Na­
cional de Filosofia da Universidade do Brasil, continuou ao 
lado de seu Mestre, no Conselho Nacional de Geografia, 
onde colaborou na elaboração dos fascículos do Atlas de 
Relações Internacionais . 
Destacou-se no ramo científico da Geopolítica pela qua­
lidade de seus inúmeros livros, pela excelência de suas pales­
tras e conferências e por sua colaboração valiosa em vários 
jornais e revistas especializados, nacionais e estrangeiros. 
O universo abrangido pela difusão cultural do pensa­
mento da Professora Therezinha não se restringe ao Brasil . 
Convidada especial, profere conferências habitualmente em 
Universidades e Centros de Estudos de Portugal, Argentina, Chile 
e Venezuela. 
Seu livro Geopolítica - Princípios, Meios e Fins, reedita­
do agora pela BIBLIEX, foi durante estes últimos 15 anos a 
fonte preciosa de ensinamentos de geopolítica, de política na­
cional e internacional, consultado por militares estudiosos des­
tes assuntos. Em seus estudos de geopolítica a Professora The-
rezinha levantou o véu do interesse nacional pelo estudo de 
nossa estratégia para o Atlântico Sul e da necessidade de nos­
sa presença no Continente Antártico . 
Nestes últimos anos a Professora Therezinha vem inte­
grando o quadro de professores do Corpo Permanente da nossa 
Escola Superior de Guerra (ESG) . Aqueles que passaram por 
este alto instituto de estudos políticos e estratégicos, nestes S 
anos, saíram conquistados pelas aulas extraordinárias por ela 
proferidas e pela admiração que transcende de sua inteligên­
cia dinâmica e cultivada. 
É um prêmio cultural termos entre nós a Professora The­
rezinha de Castro . 
Rio de Janeiro, RJ, novembro de 1 999 
General-de-Divisão Carlos de Meira Mattos 
Membro do Conselho Editorial 
da Bibliotheca do Exercito 
SUMÁRIO 
1 - GEOPOLíTICA SISTEMÁTICA 
Introdução 
Da Geografia à Geopolítica 
Determinismo e Possibilismo 
O Meio Geográfico e as Criações Políticas 
Fronteira e Estado 
O Movimento Expansionista e as 
Bases do Colonialismo Moderno 
Colonialismo e Satelitismo 
Guerra Fria: Imperialismo, Nacionalismo, 
Neutralismo e Regionalismo 
II - GEOPOLíTICA GERAL 
Problemáticas do Poder Mundial 
Teoria do Poder Marítimo de Alfred 
Thayer Mahan (1840-1914) 
Teoria do Poder Terrestre de 
Halford Mackinder (1861-1946) 
Confronto Mahan-Mackinder 
O Poder Aéreo e Aeroespacial 
Geopolítica e Poder 
Geopolítica e Poder Mundial 
15 
17 
20 
25 
36 
46 
67 
87 
93 
103 
105 
105 
116 
125 
127 
133 
135 
Sincronismo do Confronto 
Oceanopolítica 
Continentalidade-Maritimidade 
Impasse Leste/Oeste 
Terceiro Mundo 
Confronto Populacional 
Multipolaridade 
Europa 
Ásia 
África 
A Nova Ordem e os Novos Bárbaros 
III - GEOPOLtrlCA REGIONAL 
Ilha Americana 
O Eixo Norte-Sul: TIAR 
Dicotomias Norte/Sul e Leste/Oeste 
Atlântico Sul: Contexto Regional 
Bacia do Caribe 
Cone Sul: Conjuntura Internacional 
A Crise das Malvinas e os Seus Reflexos 
Antártica: Suas Implicações 
MERCOSUUNAFT NUE 
IV - CONCLUSÃO 
158 
158 
166 
184 
210 
224 
232 
235 
239 
252 
258 
263 
265 
276 
287 
303 
324 
342 
351 
360 
366 
371 
Nota: A Bibliografia se encontra ao pé da página no momento em 
que é citada. 
ILUSTRAÇÕES 
Esquema: Origem da Geopolítica 
Brasil: consolidação de fronteiras 
Te o ria de Mackinder 
Áreas de domínio aéreo (Seversky) 
Europa após a Segunda Guerra Mundial 
Posicionamento do Brasil no Atlântico 
Pontos naturais de estrangulamento 
Disputas na zona de segurança do TIAR 
Tese de Triangulação Insular no Atlântico Sul 
Tese de Triangulação 
Bacia do CaribePosicionamentos 
Tese Haushofer/Rufin 
18 
55 
119 
129 
140 
180 
186 
282 
310 
325 
328 
350 
388 
PREFÁCIO 
A Professora Therezinha de Castro tem contribuído lar­gamente para o enriquecimento dos estudos geopolíti­cos no Brasil . Os trabalhos publicados em revistas 
especializadas, as palestras eruditas e técnicas, nas Escolas de 
Estado-Maior das Forças Armadas, e a constante atividade do­
cente colocam-na como uma das mais proeminentes e fecunda 
especialista em Geopolítica. Têm, os seus escritos e trabalhos, 
larga aceitação no Brasil e internacionalmente . Situa-se como 
uma das poucas mulheres a desenvolver estudos geopolíticos com 
seriedade, erudição e bem lastreados sociológica, geográfica e his­
toricamente com dados e informações sempre pertinentes. 
Possui visão perspectiva e prospectiva da dinâmica que 
assume o processo geopolítico, nos seus desdobramentos geo­
estratégicos, diplomáticos e no background do jogo de poder 
entre as potências mundiais . 
É despida de estereótipos ou preconceitos. No livro Geo­
política - Princípios, Meios e Fins - lançado pelo Colégio Pedro 
II - demonstra a sua erudição e capacidade de pesquisa e análi­
se, introduzindo classificação inédita nos estudos geopolíticos. 
A denominação de Geopolítica Sistemática, dada ao capítulo 
1, é original. A autora mostra de modo linear e claro como, partin­
do da divisão clássica da Geografia em Geografia Física e Política, 
esta última se desdobra nos conceitos e verificações da humana, 
regional, social, antropogeografia, geohistória, geografia militar e 
da geoestratégia até interagir com a História, fundamentando os 
princípios, as interpretações e projeções geopolíticas. 
Geopolítico - Princípios, Meios e Fins 
Na Geopolítica Sistemática mostra-nos como as raízes do 
pensamento geopolítico se abeberam e derivam da Ciência 
Geográfica . 
Lança mão do pensamento de Alexandre de Humboldt, 
Karl Ritter, Frederico Ratzel, Paul Vidal de la Biache, Jean Bru­
nhes e Camille Vallaux ao levar o leitor ao entendimento das 
relações do Meio Geográfico e as Criações Políticas. 
É importante enfatizar que a autora evita conceituar Geo­
política antes de explicitar, minuciosamente, os pensamentos 
de Ratzel, Kjellen e Haushofer e contrapô-los às restrições de A. 
Demangeon, lsaiah Bowman e Jean Gottmann. 
Poucos autores tiveram a ausência de preconceitos e fo­
ram capazes de retratar Karl Haushofer em verdadeira grandeza 
e sem adjetivações pouco lisonjeiras, fruto do desconhecimento 
dos seus escritos ou da paixão política. As informações forneci­
das neste capítulo mostram-nos como Haushofer hauriu os pen­
samentos de Ratzel e Kjellen e transformou-os num planejamento 
geoestratégico para a Alemanha. Ao abordar o Movimento Ex­
pansionista e as Bases do Colonialismo Moderno e as suas de­
corrências sob a forma de Colonialismo, Satelitismo e Guerra 
Fria, Therezinha de Castro prepara, de modo racional, preciso e 
denso de informações, o entendimento das Problemáticas do 
Poder Mundial e do quadro contemporâneo das Relações Inter­
nacionais, objeto do capítulo II . Descreve as Teorias de Alfred 
Thyler Mahan e Halford Mackinder para, a seguir, estabelecer 
um confronto e paralelismo entre as Teorias do Poder Marítimo 
e do Poder Terrestre . 
Não se limita e parece não desejar exaurir-se somente nos 
aspectos meramente descritivos da Teoria de Mahan e Mackinder; 
introduz na exposição de suas análises a visão da Geopolítica e 
Poder, e num aspecto mais amplo Geopolítica e Poder Mundial. 
No capítulo III, com prioridade, a autora mostra-nos que é 
possível admitir, para fins de análise, correlacionamento e inte­
gração sistémica à existência de Geopolítica Regional . 
12 
Prefácio 
Monta a Geopolítica Regional de forma criativa como se 
fosse um mosaico, justapondo os temas que constituem, no 
momento atual, o caminho crítico de um hipotético diagrama 
PERT das Relações Internacionais . 
Com os conhecimentos geográficos e históricos que detém, 
forneceu os elementos que, através do que chama Geopolítica Sis­
temática, levaram-na a não considerar a Geopolítica Geral como 
simples rol das Teorias do Poder Terrestre, Marítimo e Aéreo, como 
acontece na maioria dos autores que trataram do assunto. Os itens 
que são abordados no capítulo III se interrelacionam e se desenvol­
vem de modo que o dado fornecido é acompanhado de uma análi­
se crítica, que conduz o leitor a tirar ilações e formular projeções 
sobre o mundo, interagindo com a região onde vive. 
Os dados sobre o problema da Bacia do Caribe, visto pela 
ótica da Doutrina do Almirante Gorshkov - flechamento de rotas 
pregado por Mahan e se valendo dos vasos comunicantes geográ­
ficos interoceânicos -, fazem-nos compreender com clareza me­
ridiana a ação dos Estados Unidos em relação à Nicarágua, a inva­
são da Ilha de Granada e a importância da política externa brasilei­
ra em relação ao Suriname e à antiga Guiana Inglesa. 
A Doutrina Gorshkov chega-nos de modo sucinto, mas 
preciso, levando-nos a visualizar o tropismo geopolítico russo 
de buscar os mares quentes e de se contrapor ao Poder Marítimo 
dos Estados Unidos, estabelecendo novo centro de gravidade 
para a ação geopolítica soviética, dentro do binômio continen­
talidade e maritimidade. 
Ao estudar o Cone Sul e a Conjuntura Internacional, leva­
nos a sentir as implicações da ação soviética no Índico, infletin­
do para o Atlântico Sul, realizando o Périplo Africano no senti­
do inverso aos dos navegadores portugueses. Tem posição lúci­
da e realista em relação à África do Sul e não aceita a imagem 
fora de foco do problema, quando, através do emocionalismo, 
algumas potências européias e os Estados Unidos tentam sim­
plistamente, querer explicar a questão pelo apartheid Sensibili-
13 
Geopolítico - Princípios, Meios e Fins 
za-nos para a posição brasileira em face do Cone Sul e do Atlân­
tico, induz o leitor, partindo de premissas verdadeiras, para a 
conclusão do que a segurança e o futuro de potência mundial do 
Brasil - o nosso destino manifesto - está no grande lago que é 
o Atlântico Sul e em a nossa integração com a África Ocidental . 
A crise das Malvinas e os seus reflexos são examinados nas 
suas várias facetas, através de análise crítica bem fundamentada. 
Mostra a posição dos Estados Unidos, a falência do TIAR e o apoio 
dado à Inglaterra, peça chave dos interesses americanos na OT AN. 
A professora Therezinha de Castro, pioneira nos estudos 
antárticos, foi uma voz constante reclamando das autoridades 
brasileiras maior interesse pelo continente gelado. Em face do 
silêncio brasileiro, clamou e difundiu, em conferências, artigos e 
livros a Tese da Defrontação que dá respaldo ao Brasil para exi­
gir sua participação eficaz e efetiva na Antártica. 
O desenvolvimento do item "Antártica: suas Implicações" 
é lapidar. 
Geopolítica: Princípios, Meios e Fins é um manual de Geo­
política moderno, vazado em linguagem clara e cartesiana. 
Será de utilidade inestimável nas Universidades, nas Esco­
las de Estado-Maior e nas estantes de quantos estudam Geopo­
lítica. O livro, escrito por uma professora civil, editado por um 
colégio civil e sesquicentenário, não encontra paralelo em publi­
cações nacionais e estrangeiras; irá enriquecer a bibliografia de 
Estudos Geopolíticos . 
A maior homenagem que o Colégio Pedro II poderia pres­
tar à Therezinha de Castro está em incluir a obra na "Série Del­
gado de Carvalho" . Parodiando Camões, nos seja permitido di­
zer: - de tal Mestre, tal Discípula se esperava. 
14 
Rio de Janeiro, 1 8 de agosto de 1986 
Wilson Choeri 
Colégio Pedro II 
I 
GEOPOLÍTICA SISTEMÁTICA 
INTRODUÇÃO 
Tradicionalmente, a Geografia esteve sempre afeita a duas 
divisões gerais - uma Física e outra Política. Com o transcorrer 
do tempo, à medida que foram surgindo outras versões especi­
alizadas, a Geografia iria evoluindo não somente em seu con­
teúdo como ainda em suas denominações. Os neologismos são 
abundantes em Geografia, como em qualqueroutro setor de 
conhecimentos humanos; e, quando cunhados para satisfazer a 
um novo ponto de vista, nem sempre são acolhidos com o mes­
mo entusiasmo por todos os estudiosos da matéria. No entanto, 
é fato ser, a Geografia, um agregado de ciências. (Fig. 1) 
Assim, em 1796, Jedidiah Morse escrevia uma Geografia 
que dividia em três partes - Astronômica, Física ou Natural e 
Política. Como incluía, além da História, também, uma parte 
sobre navegação, comércio e manufaturas, englobando o que 
hoje se chama de Geografia Econômica. 
A Geografia, porém, evoluiu ante à coordenação dos 
variados fenômenos físicos nos estudos de Alexander Hum ­
boldt, famoso por haver percorrido, só no continente ameri­
cano, cerca de 65 .000km, e que só aos 86 anos, em 1 855, con­
seguiu concluir sua famosa obra - Kosmos. 
Caberia, porém, ao seu contemporâneo e patrício, o ale­
mão Karl Ritter, insistir nas ligações entre os fatores físicos e 
os fenômenos humanos, lançando as bases da moderna Geo­
grafia Humana em seu trabalho A Geografia em Relação com 
a Natureza e a História do Homem. * 
• Do original em alemão - Die Erdkund im Verha!tnis zur Natur und Geschicht des Menchen. 
1 7 
Geopolítica - Princípios, Meios e Fins 
Observamos, assim, que tanto Humboldt quanto Ritter 
se destacaram por ligarem os fenômenos físicos e humanos 
entre si ; e é justamente destacando o elo que une os fenôme­
nos físicos aos humanos que surgirá, em seu papel caracterís­
tico, a Geografia. 
GEOGRAFIA 
� 
FÍSICA 
HISTÓRIA 
Figura 1 
POLÍTICA 
HUMANA 
REGIONAL 
SOCIAL 
ANTROPOGEOGRAFIA 
GEOHISTÓRIA 
MILITAR 
GEOESTRATÉGIA 
GEOPOLÍTICA 
Mas o destaque à parte regional iria ser acentuado por 
Paul Vidal de la Biache, geógrafo francês que estudou as rela­
ções múltiplas que unem os meios físico e humano em seu 
Pnncípios de Geografia Humana*. Para Vidal de la Biache, "a 
Geografia é a ciência dos lugares e não dos homens"; no en-
• Obra publicada em Paris, postumamente, em 1921 , por Emmanuel de Martonne, segun­
do manuscritos do autor sob o título de Prindpes de Géographie Hum aine. 
1 8 
Therezinho de Castro 
tanto, conclui : "Está interessada nos acontecimentos da His­
tória na medida em que eles ponham em ação e esclareçam, 
nos lugares onde ocorram, qualidades e virtudes, já que sem 
esses acontecimentos permaneceriam latentes . " 
O termo Geografia Humana foi criado pelo geógrafo , 
também francês, Jean Brunhes, em 1 920, no tomo 1 da His­
tória da Nação Francesa, de Gabriel Hanoteaux. No ano 
seguinte, publicava, em colaboração com Camille Vallaux, 
La Géographie de l'Histoire, que foi, segundo declarações 
do próprio Brunhes, "a continuação e a expansão lógicas 
da Geografia Humana . " 
Essa continuação e expansão lógicas mostram, sobre­
tudo, que o homem não se pode subtrair, em absoluto, às 
condições naturais , políticas e culturais de seu espaço vital . 
Muito embora essas condições dadas como constantes pos­
sam vir a ser modificadas em seus efeitos no quadro espaci­
al da humanidade de acordo com o seu progressivo desen­
volvimento cultural . 
Assim, enquanto Brunhes-Vallaux extrapolavam para a 
Geografia Social*, os alemães, tendo à frente Friedrich Ratzel, 
formulavam os sólidos princípios da Antropogeografia. 
O 1 º tomo da Antropogeografia de Ratzel apareceu em 
1882 com o subtítulo de "Fundamentos da Aplicação da Geo­
grafia à História"; e o 22, relativo à "Distribuição Geográfica 
do Homem", em 1 89 1 , seguindo-se, em 1 897, a sua célebre 
"Geografia Política" . * * 
Os trabalhos de Ratzel nos levam a pensar que a missão 
da Geografia não é unicamente a de definir condições prévias 
naturais da evolução cultural, mas, sobretudo, incursionar pelos 
• A Geografia Social, com Vallaux, em seu trabalho Les Sciences Géographiques - Paris, 
1925, tomou como base a morfologia social da Geografia Humana, bem como os fatos 
geográficos em Sociologia. 
" Respectivamente, dos originais em alemão: Anthropogeographie Grundzüge der Anwen­
dung der Menschen - Politische Geographie. 
1 9 
Geopolítico - Princípios, Meios e Fins 
caminhos das formas de cultura ao enfrentar critérios distin­
tos da ciência antropológica. 
Da Geografia à Geopolítica 
O pensamento de Ratzel iria aos poucos evoluir, já que 
para ele o homem não se encontrava unicamente frente à na­
tureza; a importância cada vez mais absorvente e dominado­
ra do Estado se impunha. Conseqüentemente, a 2ª edição de 
sua "Geografia Política'� em 1 903, levava como subtítulo "Geo­
grafia dos Estados, do Tráfico e da Guerra".* 
Os ecos do trabalho de Ratzel levariam a Ciência Geo ­
gráfica a buscar apoio em outras disciplinas que se ocupavam 
do Estado . E, no contexto da base geográfica, a Geografia Po­
lítica passaria a se ocupar das relações entre grupos organiza­
dos no espaço ou território. Em razão disto, como nenhum 
Estado pode existir sem território, nenhum território pode se 
transformar num Estado de fato sem a presença do povo. 
Em se tratando de tribos nômades já se pode falar em 
Geografia Política; mas, no momento em que esses grupos 
humanos se tornam sedentários e sob o controle de um go ­
verno criam unidades políticas, a Geografia Política vai toman­
do feições mais complexas. É algo mais do que uma forma 
histórico-social para se destacar dentro do contexto geográfi­
co como uma força que gravita sobre o solo . 
O fato de haver os limites e fronteiras tomado lugar de 
destaque no âmbito da Geografia Política, leva, no evoluir cons­
tante, às rivalidades em territórios contestados, zonas de infiu­
ência, envolvendo episódios históricos do passado e do presen­
te. Nesse contexto surge a Geohistória para a introdução e expli­
cação da Geografia Política. A Geohistória é a ciência geográfica 
das sociedades históricas organizadas sobre o espaço natural. A 
• Do original - Geographie der Staaten, des Verkehrs und Krieges. 
20 
Therezinha de Castro 
noção de espaço vitãl, no qual se realizam todas as relações do 
homem e do solo, leva-nos a compreender melhor a marcha de 
uma detemúnada cultura, os fatos políticos e os sucessos históri­
cos. A Geohistória visa à noção da geografia do mundo em ter­
mos de desenvolvimento histórico. Nestas condições, a Geohis­
tória é susceptível de explicação estática e dinâmica; procura as­
sociar o impulso histórico à inércia geográfica. 
Sabemos que as &onteiras criam no ambiente geográfi­
co uma unidade política historicamente complexa, levando, 
tudo isso, a Geografia Política a um alto grau de objetividade 
e desprendimento. É que não existem dois ambientes idênti­
cos e muito menos dois Estados inteiramente semelhantes . E 
como na extensão da esfera de atividade dos Estados surgem 
esforços para a proteção das &onteiras contra possíveis agres­
sões, o fato leva o estudioso a um outro ramo da Geografia 
Política - a Geografia Militar. Conseqüentemente, aplicando­
se o que Karl von Clausewitz* afirmava em meados do século 
XIX: "Subordinar o ponto de vista político ao militar seria 
absurdo, pois é a política que cria a guerra. A política é a inte­
ligência orientadora e a guerra apenas o instrumento e não 
vice-versa. Não há, portanto, nenhuma outra alternativa se­
não subordinar o ponto de vista militar ao político ." 
A configuração atual dos Estados é diferente da do 
passado e poderá vir a ser diversa da do futuro, visto que 
não há critérios físicos rígidos para sua forma e caráter geo ­
gráficos . O fato de existirem superpotências e Estados s e ­
cundários, mostra a existência do Poder tanto econômico 
quanto militar, sendo difícil dissociar os dois hodiernamen­
te; a despeito de se vir aplicando economicamente a classi­
ficação em Estados desen volvidos e subdesen volvidos. 
Por sua vez, a Geografia Política, que pode ser conside­
rada como termo último senão definitivo da História Política, 
• On War - tradução para o inglês - Nova Jersey, 1976. 
2 1 
Geopolítico - Princípios, Meios e Fins 
é, na realidade, a sua forma presente. Em conseqüência,sua 
importância reflete a evolução do Estado no espaço e no tem­
po, num gerar de conflitos entre a independência política por 
um lado e sua interdependência econômica pelo outro. 
O substancial crescimento da população mundial no sécu­
lo XIX, desenvolvendo uma maior interpenetração de culturas e 
incremento da cooperação internacional, criou pontos de dis­
córdia entre os Estados. Assim, a população se transformou num 
fator de poderio militar, já que os Estados colocavam, via de re­
gra, a conservação de sua individualidade, de sua posição relati­
va de força acima de sua própria prosperidade econômica. Em 
função disto, considerando-se o Estado como uma criação de 
segurança coletiva, que existe para a defesa, para a luta, a Geo­
grafia Política toma nova modalidade na Geoestratégia, reivin­
dicada por certos setores militares como sendo de sua esfera ex­
clusiva. Isto porque as relações internas e externas dos Estados 
modernos, normalmente, não são capazes de separação. 
Sabendo-se que a Política se baseia essencialmente na Histó­
ria e que esta não dispensa a Geografia, que lhe serve de base e 
quadro condicionando seus princípios, impõe-se então a Geo­
política, onde o Estado se apresenta como um organismo vivo. 
Podemos, então, concluir que a Geopolítica é a relação 
entre a Geografia e a Política, enquanto a Geoestratégia é a 
relação entre a Geografia e a Estratégia. Tanto a Política quan­
to a Estratégia se ligam às condições internas e externas de 
um Estado, sendo governadas por fatores geográficos. 
O termo Geopolítica foi criado pelo sociólogo sueco 
Rudolf Kjellen em sua obra de 1 9 1 6 - O Estado como Forma 
de Vida''.* 
• Do original sueco Staten som Lifsfonn. 
22 
Therezinho de Castro 
Ciência da vinculação geográfica dos acontecimentos 
políticos, a Geopolítica tem por objetivo principal o aprovei­
tamento racional de todos os ramos da Geografia no planeja­
mento das atividades do Estado, visando a resultados imedia­
tos ou remotos. Em razão disto, a Geopolítica pode ser consi­
derada como um estudo dos precedentes históricos em fun­
ção dos ambientes geográficos; os resultados deste estudo le­
vam a conclusões práticas aplicáveis ou não à atualidade. Con­
seqüentemente, surgindo problemas históricos no campo da 
Geografia, e interpondo-se fatores geográficos no transcurso 
da História, cabe à Geopolítica coordená-los, investigá-los e 
procurar resolvê-los. 
Definida por Kjellen como a ciência do Estado, como 
organismo geográfico e significativamente como soberania, a 
Geopolítica passou a ser no dizer do alemão Karl Haushofer, 
como a "arte de guiar a Política na prática". 
Torna-se complexo, muitas vezes, traçar-se uma linha 
divisória entre a Geohistória e a Política; sabe-se, no entan­
to, que a primeira trata das relações entre povos e ambien­
tes nos diferentes estágios do passado, enquanto a segun­
da, bem mais dinâmica, se preocupa com a evolução dos 
Estados . 
Muitos confundem Geopolítica com Geografia Políti­
ca; assim, uma das definições da Geopolítica é a de que se 
constitui na Geografia Política com vistas ao futuro . No en­
tanto , para diferençar uma da outra podemos dizer que a 
Geografia Política é como a fotografia, portanto, estática; 
enquanto a Geopolítica é como o filme, tem movimento, é 
dinâmica. 
Em contrapartida, como o auge da Geopolítica vem da 
importância adquirida na guerra total da época moderna, alguns 
confundem-na com a Geoestratégia. Daí Derwent Wittlesey* 
The Earth and the State - Nova York, 1944. 
23 
Geopolítico - Princípios, Meios e Fins 
haver definido a Geopolítica como uma "criação do militaris­
mo e um instrumento de guerra". 
Afirmou Clausewitz que "quando comunidades intei­
ras vão à guerra - povos inteiros e especialmente povos 
civilizados - a razão sempre se encontra em alguma situa­
ção política e a ocasião é sempre devida a determinado 
objetivo político . A guerra é , portanto, um ato de política" . 
Não restam dúvidas que fatores básicos da Geopolítica fi­
guram nos estudos militares estratégicos, e que assim sen­
do essa ciência serve como instrumento de análise tanto 
para fins políticos civis como para militares . Dentro dessa 
dualidade, Griffith Taylor define Geopolítica como 110 es­
tudo dos mais relevantes aspectos da situação e recursos 
de um país, com vistas à determinação de sua posição rela­
tiva na política mundial" . 
Donde se conclui que a Geopolítica relaciona a Geo­
grafia e a Política, podendo ser diferentemente aplicada se­
gundo seus princípiosf meios e fins; afirmando, portanto, 
Jean Gottmann*, que "entre a política e a realidade se cru­
za o abismo da ignorância e a lógica dos homens" . 
É fato notório de que houve um estreito relaciona­
mento entre a Geopolitik e o planejamento expansionista 
na Alemanha de pré-guerra. Daí A. Demangeon, * * geógra­
fo &ancês, haver escrito em 1 932 que "a Geopolítica alemã 
renunciou deliberadamente a todo e qualquer espírito ci­
entífico . . . A Geopolítica foi um golpe montado, uma má­
quina de guerra". Por sua vez, o estadunidense Isaiah Bow­
man afirmava: "A Geopolítica oferece uma visão deforma­
da das relações históricas, políticas e geográficas do mun­
do . . . Contém um princípio p ernicioso e autodestrutivo; 
quando os interesses internacionais entram em conflito ou 
• ú Politique áes Étilts et leur Géographie - Paris, 1952. 
•• Geógraphie Politique - Annales de Géographie - Torno XLI. 
24 
Therezinho de Castro 
se superpõem só o poder, a força decidirá . " Nesse artigo 
escrito em 1 942, citado por Delgado de Carvalho , * B ow­
man mostrava-se pessimista em face do expansionismo na­
zista; no entanto, acreditava numa Geopolítica simples e 
segura, e que em seus princípios, meios e fins, ao revelar as 
teorias e a política alemãs, passou a ser "uma ilusão, uma 
farsa e uma desculpa para o assalto" . 
Convertida na consciência geográfica do Estado, a Geo­
política pode prestar serviços às causas da guerra como tam­
bém às da paz, desde que adequadamente formalizada. Po­
derá, assim, traçar metas para um bom governo fundamen­
tando suas diretrizes no setor da integração, no aproveitamento 
sistemático de seu espaço e posição . Criada a Geopolítica, os 
que inicialmente se valeram dela deixaram sem solução mui­
tos de seus problemas essenciais . Concluo, assim, com meu 
mestre Carlos Delgado de Carvalho: "Os estudos de Geopolí­
tica têm sido feitos um tanto esporadicamente e não sistemati­
camente . Maior atenção é geralmente dada aos princípios ge­
rais desta nova disciplina, com ocasionais exemplos de casos 
concretos, mas com marcada preferência pelas discussões teó­
ricas. O fato não é novo: o mesmo se deu com a Sociologia. " 
Determinismo e Possibilismo 
Não sendo autômato , sem determinação ou vontade 
própria, goza o homem do fator liberdade numa proporção 
que aumenta na razão direta do avanço da Ciência e da T éc­
nica; a esse fato dá-se o nome de possibilismo. 
Dentro do possibilismo, os estudos de Vidal de la Bia­
che, de Jean Brunhes e de lsaiah Bowman não se integram à 
Geopolítica propriamente dita; já que não encontramos neles 
• ln manuscritos inéditos em poder da autora deste livro. Datado de 30 de janeiro de 
1957 - Petrópolis. 
25 
Geopolítico - Princípios, Meios e Fins 
as diretrizes que caracterizam a Política e a Estratégia empre­
gadas pelo Estado-Nação na consecução de seus objetivos. 
Vidal de la Blache concebe, no entanto, dentro do seu 
possibilismo que: "A ação presente e futura do homem, mo­
dernamente senhor das distâncias, sustentado pelo progres­
so da Ciência, ultrapassa de muito a ação de seus antepas­
sados. Felicitemo-nos que assim seja, pois a colonização a 
que assistimos não seria possível se a natureza pudesse 
impor quadros rígidos, ao invés de dar margem às. obras de 
transformação e de restauração do que o homem é capaz 
de realizar. " 
Embora apoiado na História, o ponto de vista geográfi­
co domina o trabalho de Vidal de la Blache que, certamente,teria chegado à Geopolítica. O estudioso francês serviu-se da 
História sem que essa resvalasse para temas que não fossem 
de seu domínio; seu trabalho é rico em sugestões, mas com a 
morte súbita do autor em 1 9 1 8 mostra que lhe foi vedado o 
direito de tirar conclusões. 
Segundo Jean Brunhes, a evolução na superfície da Ter­
ra é "determinada por fatores complexos que afastam para 
bem distante as condições geográficas elementares". Assim 
sendo, notamos que os estudos de Brunhes são bem menos 
afeitos à Geopolítica do que os de Vidal de la Biache e os do 
próprio Isaiah Bowman. 
Separando a Geografia Humana da Geografia Histórica, 
que se caracteriza "como política, militar, administrativa etc." , 
afirma Brunhes que "todos esses fatos dependem, sobretudo, 
das vicissitudes humanas e estão longe de apresentarem um 
verdadeiro valor ou sentido realmente geográfico". 
Por sua vez, Bowman afirma que: "Nunca uma civiliza­
ção declinou por estarem exauridas as possibilidades da Ter­
ra. Por outro lado, nenhuma nação desenvolveu plenamente 
a sua base física. A Terra jamais recuou perante o homem, 
muito embora esse se tenha achado enredado nos efeitos im-
26 
Therezinho de Castro 
previsíveis do seu sistema. O que acontece realmente é que o 
conhecimento humano, em cada momento da civilização, não 
é suficiente para o controle das forças da natureza. " 
Também possibilista, Lucien Fébvre* conclui que "para 
pactuar sobre o meio, o homem não se coloca fora dele . A 
natureza que atua sobre o homem, que intervém na existên­
cia das sociedades humanas para condicioná-las, não é uma 
natureza virgem, independentemente de todo o contato hu­
mano; é uma natureza profundamente trabalhada, modifica­
da e transformada pelo homem. Ações e reações perpétuas. A 
fórmula - relações da sociedade e do meio - serve igualmente 
para os dois casos que se pretende serem diversos. Porque 
nestas relações o homem se apodera e restitui simultaneamen­
te: o meio dá mas também recebe" . 
Dentro do determinismo alemão, sintetizando a Geogra­
fia Política para chegar à Geopolítica, coube a Ratzel o mérito 
de se aproveitar dos estudos político e econômico dentro da 
base geográfica. Conseqüentemente, a Geografia Econômica 
cogitando do presente forma ao lado da Geografia Humana 
conteúdo excelente para a Geopolítica, que une fatos econô­
micos e humanos desde o passado até a época atual, valendo­
se ainda da História. 
Em sua teoria do espaço vital (Jebensraum), sintetizou o 
crescimento orgânico do Estado, afirmando que não haveri­
am de substituir os territórios politicamente organizados, aos 
quais não se "oferecem ao crescimento razões naturais ou eco­
nômicas". Assim, dentro da concepção de Ratzel, só "um ter­
ritório extenso, esparsamente povoado, é um grande Estado 
do futuro" . 
Em essência, o lebensraum parece ter tido base na obra 
de Ratzel intitulada Os Estados Unidos da América, de 1 880. 
• Lã Tierra y la Evolución Humana - lntrodución Geográfica de la História - Barcelona, 
1925 - Traduzido do francês. 
27 
Geopolítico - Princípios, Meios e Fins 
Nesse trabalho são estudados os fundamentos do poder esta­
tal exemplificados na hegemonia estadunidense no seio da 
família americana de nações. No entanto, a teoria do espaço 
vital, propriamente dita toma maior desenvolvimento e pro­
fundidade em Leis do Crescimento Territorial dos Estados 
Unidos (1 896), ampliando-se mais ainda na sua Geografia Po­
lítica (1897) . 
É em Geografia Política que Ratzel formula as suas sete 
leis de crescimento do Estado, criando todo um contexto para 
uma expansão imperialista, visto que todas induzem à conclu­
são de que o planeta Terra é demasiadamente pequeno para 
mais de um Grande Estado unido ou amalgamado. As sete leis 
apresentam o Estado como um organismo dinâmico: 
1 - O espaço dos Estados deve crescer com a sua cultura. 
2 - O crescimento do Estado-Nação segue-se a outras 
manifestações de crescimento do povo, devendo, 
necessariamente, preceder o crescimento do pró­
prio Estado. 
3 - O crescimento do Estado manifesta-se pela adição 
de outros Estados dentro do processo de amalga­
mação . 
4 - A fronteira é o órgão periférico do Estado. 
5 - Em seu crescimento, o Estado luta pela absorção de 
seções politicamente importantes. 
6 - O primeiro ímpeto para o crescimento territorial vem 
de outra civilização superior. 
7 - A tendência geral para a anexação territorial e amal­
gamação transmite o movimento de Estado para Es­
tado e aumenta a sua intensidade. 
As leis de Ratzel tomaram por base a evolução da situação 
mundial desde a formação do império de Felipe da Macedônia, 
concluída com a unificação da Alemanha por Bismarck. 
Como geopolítico, Ratzel influenciou o geoestrategista 
Haushofer, daí haver escrito Derwent Whittlesey: "A Alema-
28 
Therezinha de Castra 
nha foi a primeira nação a compreender o valor da estraté­
gia política como auxiliar da guerra e a reconhecer que ela 
tinha suas raízes na Geografia . A Geopolítica teve, assim, 
como finalidade pôr a Geografia a serviço de uma Alema­
nha militarizada. " 
Isto porque o haushofensmo se transformou numa dou­
trina natural unicamente de poder e estratégia, dentro da con­
cepção fatalista de que o homem nada mais é do que um obje­
to dos fatores geográficos. Para Hans W. Weigert, o hausho­
ferismo é mais do que isso - "é um credo imortal sempre que 
uma elite militante assume a direção de uma nação . Na influ­
ência decisiva que a Geopolítica de Haushofer exerce sobre 
este grupo de poder na Alemanha é que se estriba sua impor­
tância histórica* ." 
Partindo-se, então, de Ratzel veremos que o lebensraum 
representou muito mais como fonte de poder do que propria­
mente como um apetite de matérias-primas. E, nesse contex­
to, o conceito de Poder Nacional se relaciona com a própria 
sobrevivência, ou seja, aquilo que se convenciona definir en­
globadamente como Segurança. 
E só os Estados capacitados para garantir sua segurança 
são considerados grandes potências . Antes da Primeira Guerra 
Mundial eram nove** os Estados considerados como grandes po­
tências, dos quais seis eram europeus; a Segunda Guerra Mun­
dial reduziu praticamente a dois, mas já com o avanço da técni­
ca, na categoria de superpotências, em face do poder mais qua­
litativo do que quantitativo - os Estados Unidos e a Rússia. 
Stephen B. Jones*** enumera os elementos da visão glo­
bal baseados no conceito de Poder Nacional, calcado em dois 
componentes: o inventário e a estratégia. 
• Geopolítica - Generales y Geógrafos - México, 1944. 
•• Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Áustria, Hungria, Itália, Japão e Estados Unidos . 
... The Power lnvenctory and National Strategy World Politic - Nova York, 1954. 
29 
Geopolítico - Princípios, Meios e fins 
O inventário equivale ao que Mackinder chamou de man 
setding, ou composição humana; inclui-se nesse inventário a 
população, a cultura e a base material, associando nesse compo­
nente o que Kjellen chamou de Demopolítica ou Fisiopolítica. Já 
a estratégia é o que se faz com aquilo que se possui; equivalendo 
ao que Mackinder chamou de man travelling, traduzindo-se por 
bens móveis, incluindo assim na estratégia: a atmosfera, os ocea­
nos e as ilhas, os interiores continentais e periferias, além da 
Região Norte. Observa-se, assim, que na estratégia se entrosam 
terra-mar-ar com base no mediterrâneo Ártico, que se insere no 
que Jones chama de Região Norte. 
Justifica-se essa tendência pelo Hemisfério Norte, já es­
boçada na tese de Mackinder, pois é lá que se encontrou, so­
bretudo até 1 990, o fulcro do Poder Mundial com as duas su­
perpotências - Estados Unidos e Rússia - se defrontando no 
âmbito das Relações Internacionais. 
Observamos ainda que o conceito de Poder Nacional 
existe através de uma integração, que extrapolando o meio 
geográfico atinge o fator humano, que tanto Mahan como 
Mackinder destacam em suas respectivas teorias . 
E se hoje a Geoestratégia considera três os Poderes- o 
MarítimoJ o Terrestre e o Aéreo, a Geopolítica também se en­
volve com três tipos de Poderes - o Real, o Latente e o Prestígio. 
O Poder Real é o que pode objetivar tomando-se como 
base o posicionamento, a extensão, os recursos naturais e a 
força. O Poder Latente é aquele que poderá ser mobilizado 
pelo Estado com o empenho total de tudo quanto tem de dis­
ponível. O Poder Prestígio não pode ser calculado nem medi­
do, pois é simplesmente atribuído a um Estado pelos demais 
Estados; e sendo uma incógnita é perigoso, pois uma estimati­
va falsa pode levar um Estado a uma escolha fatal, a uma li­
nha de ação não apropriada. 
Observamos que os padrões geopolíticos são, em inú­
meros casos, semelhantes a "quebra-cabeças" de armar, aos 
30 
Therezinha de Castra 
quais faltam algumas peças. Por isso W. W. Atwood• afirma 
competir ao geopolítico " elaborar profundos estudos prá­
ticos em cooperação com os historiadores e economistas 
de cada uma das zonas em perigo"; e só assim poderá vir a 
ter "uma boa compreensão das causas que podem provo­
car perturbações, bem servindo para eliminar o perigo des­
sas mesmas perturbações" . 
Conseqüentemente, a Geopolítica deve reunir o téc­
nico-político e, no dizer de Haushofer, .. o geopolítico deve 
"possuir os talentos do bom jornalista e seu agudo senso 
noticioso, a instrução de um oficial de estado-maior com 
sua apreciação exata das mais diversas informações e a só­
bria erudição do sábio" . 
Devemos, e m contrapartida, notar que n o passado as 
ações do diplomata e do militar se exerciam em tempos diver­
sos e sobre objetivos diferentes; hoje, o exercício é conjunto, 
em função da cada vez maior interdependência político-es­
tratégica. Por isso, o geopolítico, em seus princípios, meios e 
fins tem hoje que olhar para a frente e não tanto para trás e 
calcular o que irá acontecer e não tanto o que aconteceu. 
Na Alemanha, os possibilistas tenderam para o fatalis­
mo geopolítico de Hans Günter; muito embora, para eles, por 
mais importantes que fossem as leis geopolíticas, não se devia 
ver nelas a única e suprema instância para todo fato histórico . 
Assim, M. G. Schmidt, ••• mostrando que uma peça mu­
sical, embora presa a um tom, podia, não obstante, variar de 
• "The lncreasing Significance of Geographical Conditions in the Growth of Nation States" 
- Annals oi the Amerian Assodation oi Geographers - Volume XXV - Nova York, 1935 . 
•• Las Piedras Angulares de la Geopolítica: Munique, 1928. 
••• Die Raumseiten der Staaten in Geogr. Anzeiger - 1936 - Traduzido: O Tenitório dos 
Estados. 
3 1 
Geopolítico - Princípios, Meios e fins 
tom muitas vezes, o mesmo ocorria com as leis geopolíticas. Con­
cluía então que: "O destino de um Estado não depende exclusi­
vamente do espaço, mesmo que a natureza geográfica perma­
neça invariável e as influências que ela exerce se observem cons­
tantemente no curso da História . . . As limitações impostas pelo 
espaço podem ser atenuadas pela política do Estado." 
Enquanto Heinrich Treitschke diz que "os homens fa­
zem a História", os possibilistas, entre os quais W. Nippoldi*, 
mostram que "o meio ambiente não se impõe . Só oferece pos­
sibilidades que o homem pode ou não aproveitar." 
Mas o "herói" dentre os geopolíticos alemães foi Hau­
shofer, que com seus discípulos dominava o pensamento de 
Hitler, passando a dirigir os planos do Estado-Maior alemão 
para o domínio do mundo. Tornou, Haushofer, a Mackinder 
por base e afirmava que "toda explicação geopolítica para ser 
completa deve incluir o heróico . . . A investigação ou interpre­
tação científica tem seus limites na personalidade, que exerce­
rá sempre uma influência decisiva na cultura. " Seguiu tam­
bém os ensinamentos de Kjellen, fiel à teoria do espaço vital 
de Ratzel. 
Concebeu, Kjellen, o Estado como manifestação bioló­
gica ou forma de vida afirmando textualmente : "Os Estados 
falam, comerciam, promovem congressos ou lutam nos cam­
pos de batalha, invejam-se, odeiam-se ou simpatizam uns com 
os outros, atraem-se ou se evitam, destruindo-se entre si como 
entes vivos de uma comunidade . " 
E m sua concepção d e organismo completo, para Kjellen 
o território é o corpo do Estado; a capital e os centros admi­
nistrativos compõem o coração e os pulmões; os rios e estra­
das, suas veias e artérias; as áreas produtoras de matérias-pri­
mas e produtos alimentícios são os seus membros. 
32 
Umwelt und Rasse ais Kulturfaktore - 1937 - Traduzido: O Meio Ambiente e as Raças 
como Fatores de Cultura. 
Therezinha de Castro 
Ampliando o conceito de Ratzel, Kjellen introduziu a 
idéia do nacionalismo, através do qual o espaço ou território 
passam a ser robustecidos. Afirmava, por isso, que "o Estado 
é um pedaço de humanidade num pedaço de terra organiza­
da". Conseqüentemente, em qualquer lugar em que coexista um 
grupo da mesma raça o Estado poderoso pode e deve ocorrer. 
Eis, então, aí o princípio do expansionismo como um 
dever sagrado que tanto robusteceu o nacional-socialismo ou 
nazismo de Adolf Hitler. No capítulo 14 de Minha Luta* inti­
tulado "Orientação para o Leste ou Política do Leste", escre­
via que "os limites entre os países são criados pelos homens e 
por eles modificados", em função disto, o direito ao solo ou 
espaço vital "pode se tornar um dever sagrado quando um 
grande povo sem possibilidade de aumento territorial parece 
destinado ao desaparecimento". E dentro deste contexto con­
tinua Hitler - "a Alemanha tomar-se-á uma potência mundial 
ou deixará de existir" . Para Hitler, as fronteiras de 1914 nada 
significavam para o futuro da Alemanha por não constituí­
rem proteção no presente, nem significarem força para o 
futuro . O Tratado de Versalhes devia ser anulado, j á que 
sufocava geopoliticamente a Alemanha, pois "somente um 
suficiente espaço na Terra é que assegura a um povo a li­
berdade de existência" . 
A luta contra a Rússia para impedir a bolchevização 
mundial** e contra a França, "o inimigo mortal de nosso povo", 
levava Hitler a defender que a tradição da política da nação 
alemã, na sua atuação externa, deverá e terá que ser sempre 
esta: "Não tolereis jamais a formação de duas superpotências 
continentais na Europa. Divisai em toda tentativa de formar, 
nas fronteiras alemãs, uma segunda potência militar como um 
ataque contra a Alemanha." 
• Mein Kampf- Tradução direta e integral do alemão - São Paulo, 1 983. 
" É o mesmo sentido que alimentam os Estados Unidos, depois da Segunda Guerra Mun­
dial na chamada Guerra Fria. 
33 
Geopolítica - Princípios, Meios e Fins 
Aliás, dentro do detenninismo geopolítico, esse princípio 
fora a base da política externa francesa desde o século XVII atra­
vés dos Tratados de Westfália até 1870, quando não conseguiu 
mais impedir a unificação da Alemanha, e, por conseguinte, a 
implantação de um Estado rival na hegemonia continental. 
Como Bismarck, Hitler desenvolvia uma geopolítica de­
terminista anticolonialista, pois concitava em Minha Luta - "di­
ligenciai para que a força de nosso povo não se baseie em 
colônias e, sim, em territórios na Europa". 
A teoria nacionalista de concepção do Estado, divulga­
da por Kjellen em 1 9 1 8, se resume em quatro pontos: 
1 - O Poder Público apareceu para forçar o restabeleci­
mento da ordem, criada para proteger e garantir o 
cidadão . 
2 - O Estado atua diretamente sobre o indivíduo. 
3 - O Estado é um realizador. 
4 - O Estado toma a si iniciativas de cultura política, de 
previdência social e de gerência de empresas mistas. 
Bem observados e analisados, os quatro pontos da Dou­
trina Kjellen foram seguidos pela Alemanha nazista, para a 
qual o Estado sempre foi "um meio para um fim"; até 1 990, 
porém, foi a Rússia comunista que procurou segui-los, já que 
a vontade do poder estatal substitui a o desejo do enriqueci­
mento individual . 
No entanto, os tempos são outros, e, assim, os russos 
compreenderam que o determinismo pela doutrina da coexis­
tência pacífica exclui a guerra, muitoembora traga em seu 
bojo a esperança da provocação da revolução internacional 
para a expansão do sistema de Karl Marx. 
E como os tempos são outros, a problemática do Poder 
passou do contexto regional para o continental e deste para o 
âmbito mundial . 
E, em se tratando do nacionalismo expansionista, os es­
tudos de Kjellen se ligavam ao Estado como fenômeno de es-
34 
Therezinha de Castro 
paço dentro do sentido de unidade biológica dotada de vitali­
dade que a noção de povo ampliou. Dentro do conceito de 
Poder Mundial, a nacionalidade transformava-se na expres­
são da individualidade. 
Sem fugir da teoria do espaço vital de Ratzel, como adep­
to de Ludendorf e dos principais expansionistas da Primeira 
Guerra Mundial, Kjellen associou o crescimento orgânico do 
espaço à inevitável conseqüência do fato biológico - organis­
mo vivo. 
E, deste organismo vivo, o povo, em face de sua natu­
ral função migratória, poderia vir a cobrir novos e vastos 
territórios . 
Dentro da problemática geopolítica do Poder Mundial, 
Kjellen foi o idealizador de uma Europa Central sob a direção 
da Alemanha, englobando espaços tanto vitais quanto estra­
tégicos, desde as extremidades setentrionais da Noruega até 
Bagdad, já no Oriente Médio . Foi esta posição que desejou 
ocupar a URSS. 
A visão continental na lei dos espaços crescentes foi 
exposta por Haushofer logo no primeiro artigo com que 
iniciou, em 1924, a Revista de Geopolítica. No artigo intitu­
lado "Lei dos Espaços Crescentes" , explica que o "espaço 
engendra o poder dos Estados e determina, por conseguin­
te, os destinos humanos . . . Descobrir as relações entre o 
poder público e o espaço, bem como a dinâmica entre os 
espaços, é, sem dúvida, um mundo digno de ser conquista­
do pela jovem ciência - a Geopolítica . . . Ao contrário, a pró­
pria estrutura e divisão do mundo em continentes e ocea­
nos, zonas climáticas, desertos e regiões habitáveis criam 
uma multiplicidade tal de condições de vida que bem nos 
leva a aceitar a Geopolítica como ciência que se ocupa da 
35 
Geopolítica - Princípios, Meios e fins 
variedade e desigualdade, dos efeitos e da dinâmica dos 
espaços . A variedade desses efeitos é grande porque não 
só variam as condições geográficas, como também as rela­
ções do homem com a terra que habita. " 
Defende ainda esse artigo que "a lei dos espaços cres­
centes se faz visível em todas as suas ramificações, nas múlti­
plas formas, no momento em que as potências em luta se cho­
cam em seus espaços." Ora, se para Mackinder "é o homem e 
não a natureza quem inicia", a aritmética de Haushofer era 
bem mais precisa ao afirmar que ao lado dos 25% de determi­
nismo se encontram 75% de heroísmo. 
O Meio Geográfico e as Criações Políticas 
Embora recusando o determinismo geográfico, devemos 
ressaltar que o meio geográfico nos deu algumas cn"ações cul­
turais e políticas. 
• O clima, associado à menor técnica do homem no pas­
sado, mostra-nos que todos os núcleos geohistóricos das civi­
lizações antigas se estabeleceram entre o Trópico de Câncer e 
60° de latitude norte. Verificamos, então, que as grandes civi­
lizações surgidas nos vales do Nilo e Mesopotâmia foram, em 
seguida, suplantadas pelas civilizações mediterrâneas de Roma 
e da Grécia, implantando-se na Idade Moderna na Europa, 
seguindo o rumo norte-ocidental . 
Assim, o fator climatológico nos permite interpretar a 
rota teórica da civilização, da chamada cristandade ocidental. 
• Os rios e vales exercem a função de unir. Assim, na 
antigüidade o Rio Nilo e o vale da Mesopotâmia deram ori­
gem a formações políticas e culturais uniformes. 
O rio denota movimento, transporte, facilitando as pene­
trações, os avanços e intercâmbios. O povo que domina a foz de 
um rio tem, de um modo geral, maiores chances de dominar o 
seu hinterland Foi esta a política seguida pelos portugueses para 
36 
Therezinho de Castro 
seus avanços no continente americano. Tendo conquistado a foz 
do Amazonas, conseguiram expandir-se através de vasta área 
da planície desta bacia; daí a maior largura no território do Brasil 
ao norte . Já no sul, não tendo conseguido sua hegemonia no 
Prata, através da Colônia do Sacramento, forjaram uma configu­
ração estreita para o Brasil Meridional. 
• Os mares e ilhas contribuem, grosso modo, para a for­
mação de núcleos geohistóricos com tendências para a civili­
zação marítima. 
O povo grego, estabelecendo seu núcleo geohistórico 
numa península do Mar Mediterrâneo, cercada por ilhas, ca­
racterizou-se por sua atividade marítima. Aproveitando como 
trampolim as numerosas ilhas do Egeu, expandiu-se, inicial­
mente, para a Ásia Menor. Ocupando a Ilha de Creta, cami­
nhou para o oeste do Mediterrâneo. Conseqüentemente, a 
falta de rios navegáveis, determinismo da natureza que a Gré­
cia comparte com grande parte dos países mediterrâneos, é 
compensada pela proximidade do mar. 
Assim, tal como os gregos, os fenícios, também isolados 
no litoral pelos Montes Líbano, não possuíam viabilidade de 
uma expansão territorial no continente . Assim sendo, valen­
do-se da Ilha de Chipre, trampolim natural diante de seu lito­
ral, expandir-se-iam também pelo Mediterrâneo . 
Cartago, na "Cintura Mediterrânea", isolada do continen­
te pelo Deserto do Sahara, valeu-se das ilhas da Sicília, Córsega e 
Baleares para sua expansão pelo Mediterrâneo Ocidental. 
Por outro lado, os países estabelecidos em ilhas viram seus 
núcleos geohistóricos transformados numa espécie de refúgio 
de cultura e tradição. Ilhados pelo determinismo geográfico, a 
tendência desses países é, também, a da expansão marítima. 
Assim, no passado remoto, a Ilha de Creta, cuja civiliza­
ção ainda não foi devidamente desvendada, oferece-nos bom 
exemplo, quer pela cultura uniforme que conseguiu manter, 
quer pela talassocracia, domínio do Mediterrâneo, que exer-
37 
Geopolítico - Princípios, Meios e Fins 
ceu anteriormente aos gregos, fenícios e cartagineses. Com­
parativamente, Veneza, cidade sobre ilhas, ofereceu, na Ida­
de Média, outro exemplo, pelo monopólio das especiarias atra­
vés do Mediterrâneo, que conseguiu implantar. 
Em período mais recente, a Inglaterra e o Japão apre­
sentam-se como países ilhados, transformados em nações ori­
entadas para o intercâmbio econômico . O espaço vital que 
possuem não lhes possibilitou por muito tempo o isolacionis­
mo que a natureza lhes impunha; assim, para sobreviverem 
tiveram que se valer de outras áreas, voltando-se para as rela­
ções constantes com outros povos, e, como sociedades comer­
ciantes, tiveram aí a oportunidade de se transformar em po­
tências industriai s . 
J á Portugal, país continental, oferece também excelente 
exemplo de Estado que se desenvolveu buscando no mar ele­
mentos para a sua expansão; seu caso reflete, de certo modo, 
o da Fenícia na antigüidade . Isolado na periferia do continen­
te europeu, numa nesga de terra voltada para o Atlântico, iria 
ser atraído pelo grande Mar-Oceano. Após expandir seu nú­
cleo geohistórico do norte (entre o Minho e o Douro) para o 
sul, conquistando terras aos árabes, o espaço vital português 
transformou-se num retângulo paralelo ao Atlântico, onde os 
estuários dos rios ofereciam bons abrigos. A relativa pobreza 
do solo o transformaria em povo pescador, como mais um 
meio à sua subsistência; era este o primeiro ensaio para se 
transformarem, os portugueses, em navegadores. Trampolins 
nas ilhas, e pontos de contato periféricos de escalas na foz de 
rios ou costas abrigadas, onde estabeleciam suas feitorias, con­
sistiram nas etapas sucessivas da expansão portuguesa em di­
reção à Rota das Especiarias. A dualidade geográfica de Por­
tugal pode assim ser resumida nessa frase: - "Portugal é um 
país mediterrâneo por natureza, atlântico por tradição."* 
• Pequito Rebêlo - A Terra Portuguesa - Lisboa, 1 929. 
38 
Therezinha de Castro 
Portugal pode ser definido como o local "onde a terra se 
acaba e o mar começa" . Daí concluir o geógrafo português,Orlando Ribeiro*: "O mar é o mais poderoso fator de relações 
geográficas remotas. Caminho aberto para todos os lugares 
do mundo, nas suas cidades-porto o exótico cabe sempre en­
tre o local. Mas ele marca também o fim da terra habitada." 
Ao lado dos Estados de tendências marítimas, surgiram 
os Estados Continentais. A única riqueza dos Estados Conti­
nentais é a terra e só há uma maneira de aumentá-la - a con­
quista. Neste caso podemos enquadrar a Alemanha, com a 
Prússia como seu núcleo geohistórico; à sua frente apenas o 
Mar Báltico, gelado grande parte do ano, interiorizado, e não 
oferecendo bons horizontes à livre navegação, transmitindo 
o "destino manifesto" da expansão para o hinterland, a busca 
do espaço vital . Via de regra, o Estado Continental se trans­
forma numa sociedade fechada, onde o indivíduo se subordi­
na por completo ao grupo, mantendo-se intolerante, apoian­
do-se na superioridade racial. Assim, "o Raumsinn, o sentido 
do espaço, tomou-se marca registrada da nação alemã, pres­
sionando num domínio muito restrito o Volk ohne Raum, povo 
sem espaço, para o qual a conquista se impõe". Conquista, 
continua Jacques Ancel, ** em prol do Die echte Grenze, ou 
fronteira justa e natural, buscando seu espaço na unidade das 
bacias fluviais, reivindicando o Rheinstrom nicht Rheingren­
ze, ou seja, o Reno como rio alemão e não como fronteira 
alemã. A partir daí, chegam ao Deutscher Volksboden, num 
território alemão largamente expandido, pois é este o verda­
deiro espaço vital da civilização alemã - Deutscher Kulturbo­
den. É, enfim, a conquista da Europa Central, a Mitteleuropa. 
• A montanha, por sua vez, também leva o grupo aos 
particularismos. Como as montanhas encurralam as popula-
• Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico - Estudo Geográfico, Coimbra, 1945. 
•• Mlmuel Géographique de Politique Européenne - Torne I Europe Centrale - Paris, 1936 
39 
Geopolítico - Princípios, Meios e Fins 
ções, elas se opõem aos elementos externos, muito embora, 
em alguns casos, não apresentem características de conquis­
tas . A montanha desempenha nos acontecimentos geohistóri­
cos e geopolíticos o papel de obstáculo, e, como conseqüên­
cia, o refúgio para os que buscaram defender sua liberdade . 
Foi na região montanhosa do norte de Portugal que Vi­
riato se refugiou para defender a liberdade do povo lusitano 
contra a romanização da Península Ibérica; foi, também, na 
região montanhosa das Astúrias que os cristãos se abrigaram, 
inicialmente, para se defenderem da expansão muçulmana e 
arquitetaram os primeiros planos de reconquista. 
Graças à posição geoestratégica, certos povos monta­
nheses imbuídos da idéia expansionista conseguiram des­
truir, por invasões, grupos estabelecidos nas planícies . Os 
povos montanheses dos Zagros submeteram os Estados do 
Vale Mesopotâmico; os astecas, do Altiplano Mexicano, 
conseguiram conquistar as terras baixas dos maias, na Pe­
nínsula do Iucatan. 
Quando não incutem o movimento expansionista, as 
montanhas favorecem o fenômeno do cantonalismo geopolí­
tico. A Suíça, por exemplo, é um país cantonalista. Dividida 
em cantões, constituem-se estes em verdadeiras comarcas fe­
deradas independentes, agrupadas segundo a língua - france­
sa, italiana ou alemã faladas oficialmente no país . A Grécia 
Clássica, estabelecida na península montanhosa da Acaia, ja­
mais chegou a completar a sua unificação política, vivendo 
sempre dividida em Cidades-Estado . 
A característica desses Estados surgidos em face do 
cantonalismo geopolítico é a pluralidade estatal ou a disper­
são política. Assim explica J. Vicente Vives• que "nas primei­
ras fases da evolução política das sociedades montanhesas é 
típica a constituição de diversos núcleos geohistóricos, mais 
• Tratado General de Geopolítica - Barcelona, 1950. 
40 
Therezinho de Castro 
ou menos afins, numa clara manifestação de cantonalismo 
geopolítico". Resíduos de cantonalismo geopolítico primitivo, 
surgido em núcleos montanheses, podem ainda ser citados no 
caso de Andorra, nos Pireneus; Mônaco, sobre uma elevação 
alpina no Mediterrâneo; San Marino, nos Apeninos, na Pe­
nínsula Itálica; e os Estados do Himalaia, Nepal, Butan e Sikin. 
Foi o cantonalismo geopolítico que impediu, na Améri­
ca Espanhola, a despeito das afinidades culturais, que se insta­
lasse um país único . Cantonalismo geopolítico que, embora 
não venha sendo respeitado, existe nos Pireneus, tanto no lado 
francês quanto no espanhol, através dos "Sete Países Bascos". 
Cantonalismo geopolítico que não vem sendo observado em 
várias regiões da África, e que tem sido, conseqüentemente, 
causa de guerras civis separatistas; para este caso em particu­
lar contribui ainda o tribalismo, fabricando os golpes e con­
tragolpes através de líderes de autênticos territórios nacionais 
negros dentro de países que no todo, sem que na realidade 
haja um todo, se proclamam independentes.* 
Do exposto, nota-se que o que ocorreu na África do Sul 
foi o fenômeno do cantonalismo geopolítico reconhecido pela 
ONU no Lesoto e Ngwane, mas rechaçado nos Batustans, ou 
"Lares Nacionais", que o apartheismo** do governo de Pre­
tória vinha instituindo desde 1 948. 
Os passos exercem influência oposta à das montanhas. 
Se as montanhas separam as sociedades, os passos, em seu 
papel geohistórico e desempenho geopolítico, têm contribuí­
do para unir regiões diretamente afetadas pela montanha. 
Nenhum fator contribuiu individualmente de modo mais po­
sitivo para a unificação de Estados do que a circulação. Con­
seqüentemente, conclui-se que "a facilidade de movimento 
• Entre os vários exemplos podemos destacar - o de Bia&a, na Nigéria; o de Katanga, no 
Zaire; e fora do setor negro, o da Eritréia, na Etiópia. 
•• Apartheismo é palavra sul-africana, cuja definição exata vem a ser desenvolvimento em 
separado. 
4 1 
Geopolítica - Princípios, Meios e Fins 
por terra é questão puramente de declive; daí a utilização dos 
vales e gargantas nas áreas montanhosas" .* 
Assim, se os Alpes se constituem em barreira entre a Fran­
ça, a Suíça e a Itália, os numerosos passos que existem neles 
serviram como portas de invasão para os bárbaros e, posteri­
ormente, para as célebres campanhas de Napoleão . Em tem­
po de paz, transformaram-se em elementos de entrelaçamen­
to geopolítico, como centros de sistemas das comunicações 
terrestres; as rodovias e as ferrovias aproveitam, hoje, esses 
passos para aproximar econômica e culturalmente os três paí­
ses europeus . 
Em alguns casos, os passos servem para unir cultural­
mente populações que a montanhaf transfonnada em frontei­
raf separou politicamente. Cabe aqui, outra vez, o caso dos 
bascos, que apresentam a mesma cultura de ambos os lados 
dos Pireneus e que, embora venham tentando a sua união 
cultural e étnica, encontram-se divididos politicamente entre 
a Espanha e a França, cuja principal rota, ligando os dois paí­
ses, segue o passo costeiro que circunda o Golfo de Biscaia. 
O separatismo basco vem de data remota, já que alguns 
historiadores indicam a Batalha de Roncesvalles (778), quan­
do os bascos derrotaram Carlos Magno. O sentimento seces­
sionista nesta zona dos Pireneus Ocidentais continuaria, tor­
nando-se geopoliticamente mais complicado com a divisão do 
"País Basco" entre a França e a Espanha pelo Tratado de Eli­
zando ( 1765), ratificado pela Convenção de 1 856. No entan­
to, apesar do fato consumado, os bascos além de ignorarem 
tal fronteira política passaram a não aceitar de bom grado as 
leis franco-espanholas, às quais ficaram submetidos; os fran­
ceses e os espanhóis passaram a ser para eles elementos 
estrangeiros, numa reação simultânea que contrapõe o pro­
cesso de congregação cultural histórica, tendo que se sub-
• A. E. Moodie - Geography Behind Politics - Londres, 1963. 
42 
Therezinha de Castro 
meter ante fatos relacionados com a desagregação geográfi­
ca imposta pela fronteira . 
O tipo de vegetação e zonas desérticas representam tam­
bém papel de importânciana formação dos núcleos geohistó­
ricos. Assim, a civilização egípcia, estabelecendo o seu núcleo 
histórico ao longo do Rio Nilo, até a primeira catarata, consti ­
tui sua cultura protegida de elementos estrangeiros, graças 
aos desertos arábico e líbico . Por sua vez, o deserto do Saha­
ra iria, na realidade, dividir o continente africano em dois -
ao norte a África branca de influência árabe, ao sul, a Áfri­
ca negra propriamente dita. Já a civilização interfluvial me­
sopotâmica, protegida apenas no oeste pelo deserto arábi­
co, não escapou à invasão dos povos provenientes dos 
Montes Zagros . 
A estepe é caracterizada como região de comunicação 
aberta contrastando com as florestas. As selvas virgens da Áfri­
ca e da América foram agentes deterministas de oposição à 
penetração no Congo e na Amazônia. Em contrapartida, as 
estepes favoreceram a expansão dos mongóis sob o comando 
de Gengis-Kan e de Tamerlan (séculos XIII e XIV); essas mes­
mas estepes permitiram que o núcleo geohistórico, formado 
pelo Ducado de Moscou, alcançasse, através da Sibéria, a ex­
pansão máxima para a Rússia. No entanto, as mesmas tendên­
cias para obter através da estepe ucraniana uma saída do Mar 
Negro ao Egeu, entre a Europa e Ásia Menor, pelos Estreitos 
de Dardanelos e Bósforo, foram reiteradamente obstadas pe­
las diretrizes geopolíticas das Potências Ocidentais . 
Do exposto, atingimos o conceito de núcleo geohistóri­
co, definido como o espaço natural onde se forjou o ímpeto 
criador de uma cultura, contribuindo para a implantação pos­
terior de um Estado. 
43 
Geopolítica - Princípios, Meios e Fins 
A Ilha de França, espaço vital do território francês, em 
torno de Paris, viu se forjar o ímpeto criador do Estado. No 
entanto, com a partilha do Império de Carlos Magno entre 
seus herdeiros, a França propriamente dita foi se subdividin­
do, com a implantação do regime feudal . Senhorios, Conda­
dos e Ducados eram, na realidade, feudos que as circunstânci­
as políticas criavam, cediam ou transferiam, passando, como 
se fossem propriedades privadas, de um herdeiro para outro. 
Os casamentos entre elementos das Casas Reais francesa e 
inglesa, numa atração continente-ilha, criaram uma difícil si­
tuação geopolítica. Os reis ingleses, vassalos dos reis franceses, 
possuíam em França mais territórios que seu próprio suserano. 
Mas os reis franceses mantiveram-se na Ilha de França; e daí par­
tiria o processo de unificação do país, que se estenderia através 
dos séculos, originando a Guerra dos Cem Anos; findo esse con­
flito, surgia a França unificada como Estado. 
Já os Estados Unidos tiveram vários núcleos geohistóri­
cos, através das 1 3 Colônias que os ingleses instalaram na par­
te média da faixa atlântica do norte; suas instituições e credos 
religiosos diferiam, muito embora a língua e a cultura em ge­
ral os aproximasse. Mas, foi só por ocasião da independência, 
ante o temor contra a intervenção externa, representada pela 
Inglaterra, que se uniriam as 1 3 Colônias. Forjou-se, então, a 
nação que, aos poucos, realizaria a sua expansão para o oes­
te, até atingir o Pacífico. 
Tornava-se país bioceânico, como a França, por exem­
plo, que logo se transformou num Estado cujas "portas" no 
Mediterrâneo se abriram para o Atlântico . E nesse contexto, 
enquanto a cultura mediterrânea avançou logo em direção ao 
Atlântico, transformando, por muito tempo, Paris na "Cidade 
Luz", a influência estadunidense se fez muito mais lentamen­
te através da Ilha Americana. 
E se no norte a rivalidade anglo-francesa determinou 
a existência de duas nações-continentes, pela grandeza de 
44 
Therezinho de Castro 
seus respectivos espaços vitais, no sul da América, a unida­
de centralizadora de Portugal criava o Brasil . Aqui, a faixa 
litorânea de 2 . 800. 000km2, delimitada por Tordesilhas, onde 
Salvador e Rio de Janeiro desempenharam, sucessivamen­
te, o papel de capital, constitui-se o núcleo geohistórico 
brasileiro . Nessa faixa litorânea do Atlântico Sul forjou-se 
a cultura brasileira através do cruzamento do português , 
do negro e do índio, quando o movimento bandeirantista 
partia para a conquista do hin terland, sem, no entanto, 
transformá-lo num país bioceânico . 
Toda a origem, pois, do Estado Brasileiro, encontra 
suas raízes remotas no Condado Portucalense, entre o Dou­
ro e o Minho, núcleo geohistórico de Portugal , de onde 
partiram os cristãos dirigidos pela Dinastia de Borgonha, 
para a formação do Estado que se manteve atlântico, sem 
atingir o Mediterrâneo . 
Via de regra, o mais comum é que cada Estado venha de 
um único núcleo geohistórico; na Itália, porém, nota-se a exis­
tência de dois : o antigo, em Roma, de onde partiu o ímpeto 
criador do Império Romano; e o moderno, no Piemonte, res­
ponsável pela unificação do atual país . 
O ecúmeno estatal, que Whittlesey define "como a por­
ção do Estado que contém a população mais numerosa e a 
rede de comunicações e transportes mais densa", conseqüen­
temente mais desenvolvido economicamente , pode ou não 
coincidir com o núcleo geohistórico . E nesse último contexto 
é J. Vicens Vives quem nos dá o exemplo, mostrando que exis­
te "discrepância entre o núcleo geohistórico antigo (Roma), o 
moderno (Piemonte) e o ecúmeno estatal (Lombardia)" . No 
mesmo caso, a Alemanha com seu núcleo geohistórico na Prús­
sia tem a contextura do ecúmeno estatal na Renânia e região 
45 
Geopolítica - Princípios, Meios e fins 
do Ruhr; assim, foi tônica na diplomacia alemã considerar 
como do Estado toda a Bacia do Reno e vislumbrar a Alema­
nha estrangulada, sem o Ruhr. 
No Brasil, por exemplo, o ecúmeno estatal coincide em 
parte com o núcleo geohistórico . Isto porque se está em nossa 
área litorânea a maior concentração demográfica do país, sob 
o ponto de vista econômico-demográfico, o ecúmeno estatal 
abrange mais o conjunto Rio-S .Paulo-Belo Horizonte, esten­
dendo seus tentáculos na direção sul para se envolver na Ba­
cia do Prata. Nesse contexto se constitui no oposto do ecúme­
no estatal a chamada área geopolítica neutra, bem mais desta­
cada na América e na África do que na Europa e na Ásia. 
No Canadá, por exemplo, coincidem o núcleo geohistó­
rico e o ecúmeno estatal na região dos Grandes Lagos, poden­
do-se afirmar que quase todo o resto do território canadense 
se constitui em área geopolítica neutra. 
Fronteira e Estado 
O núcleo geohistórico possui normalmente uma zona 
de irradiação que o levou a expandir-se para criar o todo cul­
tural que corresponde ao Estado. A periferia desse todo cultu­
ral corresponde à sua fronteira geohistórica, que Jacques An­
cel* batizou como fronteira de civilização. 
O papel da fronteira geohistórica, em sua versão político­
geográfica, é o de constituir limites para Estãdos de uma mesma 
cultura. Por exemplo, Portugal e Espanha, dois países que se for­
maram na Península Ibérica, com culturas semelhantes, oriun­
das do catolicismo romano, traçaram suas fronteiras geohistóri­
cas baseados no fator lingüístico. Na América do Sul, repete-se o 
fenômeno através das fronteiras geohistóricas que o Brasil pos­
sui com as demais repúblicas de língua espanhola. 
• La Polidque des Étõts et /eur Géogrilphie - Paris, 1952. 
46 
Therezinha de Castro 
No entanto, muitas vezes, surge entre dois Estados um nú­
cleo de interesses econômicos, sociais e lingüísticos que interessa 
a ambos. Assim, cada um desses Estados se julga com direitos de 
englobar essa área dentro de suas fronteiras geohistóricas; neste 
caso, forma-se uma zona de fricção que se converte em campo 
de contenda. A Alsácia-Lorena, entre a França e a Alemanha, foi 
disputada durante séculos; sendo este, em parte, o caso do Esta­
do do Acre, onde em princípios do século XX se defrontaram os 
interesses do Brasil e da Bolívia. Do mesmo modo a Coréia, po­
voada por correntes imigratórias de chineses e japoneses, foi no 
passado disputada e conquistada, sucessivamente, pelos dois Es­
tados orientais, como autêntica zona defricção. 
Caso bem semelhante ao da Coréia, o Uruguai de zona 
de fricção transformou-se num Estado-tampão; disputado pe­
los portugueses e espanhóis em face de seu posicionamento 
na foz do Prata, deixou, em 1 828, de girar na órbita do Brasil e 
da Argentina, transformando-se num anteparo geopolítico en­
tre os dois Estados. 
Os limites dos grandes impérios da antigüidade eram fic­
tícios; não podemos precisar a extensão exata do Estado egíp­
cio, dos Estados mesopotâmicos ou do Império Persa. 
Por sua vez, a cidade-estado grega não tinha, também, 
um limite distinto. Esparta e Atenas, por exemplo, se estendi­
am além de suas fronteiras naturais; não possuíam uma linha 
aduaneira nem militar, já que as mercadorias só eram taxadas 
nos portos ou nos mercados e feiras, e os soldados ocupavam 
simplesmente as posições estratégicas de importância, nos mo­
mentos de conflito . O espaço vital ocupado pelas cidades-es­
tado da Grécia era limitado por uma linha convencional, que 
raramente coincidia com os acidentes geográficos, e quase 
sempre com santuários e monumentos. 
47 
Geopolítico - Princípios, Meios e Fins 
Constituído o Império Romano, seus limites variavam 
segundo a vontade de seus governadores; já que os rios Reno 
e Danúbio marcavam um limite vago entre a civilização roma­
na propriamente dita e o mundo bárbaro . Os "limes roma­
nos" não se constituíam, assim, em fronteiras, mas sim nos li­
mites das terras administradas e colonizadas. O Danúbio era, 
na realidade, a única via de ligação entre o Ocidente români­
co e o Oriente bárbaro; por isso, as primeiras invasões de ca­
ráter pacífico realizadas pelos bárbaros demonstraram a inu­
tilidade dos limites. 
Em conseqüência, no âmbito do mundo antigo, destaca­
se a China que, através da ªGrande Muralha f� limitava atra­
vés de autêntica fronteira geohistórica a sua civilização . 
Com as invasões bárbaras, e o conseqüente esfacelamen­
to do Império Romano, tomava-se ainda mais precária a no­
ção de fronteira . 
O Império Romano do Oriente, também conhecido como 
Império Bizantino, conseguiu sobreviver ao do Ocidente ain­
da por um milênio. Aos poucos Bizâncio (depois Constantino­
pla), sua capital, foi adquirindo destaque econômico por ser o 
ponto de encontro e troca das especiarias. Por isso, os búlga­
ros, provenientes das estepes russas, se introduziram para além 
do Danúbio, formando uma espécie de Estado-rota no cami­
nho de Constantinopla, sem limites precisos nem fronteiras 
sólidas . O Estado búlgaro manteve-se, no entanto, à custa do 
tributo que os seus chefes cobravam para permitir que por ali 
transitassem as mercadorias. 
As fronteiras dos Estados bárbaros surgidos na Euro­
pa eram, também, fictícias . Com as novas in vasões - dos 
árabes na Península Ibérica, dos húngaros na Europa Cen­
tral, dos normandos através dos rios Escalda, Sena, Reno e 
48 
Therezi nha de Castro 
Loire - implantar-se-ia no período medieval propriamente 
dito o sistema feudal. 
Os reis não podiam defender seus súditos; os grandes 
senhores ou proprietários construíam castelos-fortes para sua 
defesa própria; em torno desses agrupavam-se os pequenos 
proprietários para obter proteção. Criou-se, assim, uma hie­
rarquia entre os homens livres do reino, e da necessidade da 
defesa surgiram duas classes - a dos senhores ou suseranos e 
a dos vassalos. Alguns vassalos, tornando-se muitas vezes mais 
poderosos que o próprio rei, seu suserano, passaram a gover­
nar com grande independência os seus respectivos territórios . 
Desaparecia o poder central e, com isso, não havia campo pro­
pício ao estabelecimento da fronteira geohistórica; esse fenô­
meno é visto pela Geopolítica como o enlaçamento feudal. 
Além dos feudos, também as cidades medievais tinham 
privilégios militares e administrativos, contidos no Foral e guar­
dados pelas autoridades num cofre, transformando os aglo­
merados urbanos em verdadeiros estados livres. Nas cidades 
viviam os artesãos e os comerciantes, afastados da mentalida­
de feudal guerreira; para escapar à violência, as cidades se 
limitavam por muralhas fortificadas . Nesse meio citadino for­
mava-se aos poucos uma classe social - a dos burgueses, den­
tre os quais, principalmente os que se dedicavam ao comér­
cio, prosperavam dia-a-dia. As guerras constantes fizeram com 
que os diferentes grupos econômicos das cidades se reunis­
sem em sociedades para melhor se defenderem. Por isso, os 
mercadores viajavam em grupos, que evoluíram para as Ligas, 
reunindo cidades que mantinham o comércio entre si . Des­
tacam-se então as Ligas Hanseáticas, Suábica e Renana. As 
principais estradas atravessavam a região dos Alpes pelos 
Passos do Monte Cenis, S . Bernardo, S . Gotardo e Brenner, 
procurando atingir as cidades do norte da Itália, sobretudo 
Gênova e Veneza, que dominavam a rota marítima medi­
terrânea das especiarias . 
49 
Geopolítico - Princípios, Meios e Fins 
Ante o fenômeno do enlaçamento feudal, podemos con­
cluir que a Idade Média não conheceu, na prática, a instituição 
das fronteiras; a mentalidade feudal aniquilava a estrutura esta­
tal, tornando, por isso, bastante fluidos os limites. O próprio Im­
pério Carolíngiof que teve certa unidade política, apresentava­
se com limites imprecisos. No sudeste, para enfrentar os ávaros e 
tchecos, os limites eram constituídos pelas Marcasf espécie de 
territórios militares, governados por margraves ou marqueses; 
para a defesa contra os árabes estabelecidos na Península Ibéri­
ca, foi criada, nos Pireneus, a Marca de Espanha. 
Na Península Ibérica, o período da reconquista criava 
uma espécie de limite de áreas em poder dos cristãos e dos 
muçulmanos, chamado terras de ninguém; autênticas zonas 
geopolíticas neutras, por ser faixa de território quase que des­
povoado, onde se realizavam as algaras, ou seja, a luta entre 
os dois contendores . 
A noção de fronteira propriamente dita surge quando um 
povo, habitando determinado território, adquire a consciência 
nacional - a noção de pátria. Assim, quando um povo reunido 
num determinado território passa a obedecer a um governo pró­
prio, surge o Estado. Portanto, são três os fatores que determi­
nam a existência de um Estado - povo, território e governo. 
A superfície geográfica ocupada por uma sociedade po­
lítica, que se governa, é chamada país, sua extensão maior ou 
menor é determinada por acontecimentos históricos, ocorri­
dos na sociedade política que o ocupa e que os imperativos 
geográficos condicionam. 
O país é a base material do Estado, constituído pelas ter­
ras, águas e ares que abrangem o território, considerado como 
entidade política. Já a nação é a personalidade coletiva que só 
existe quando há Estado; representa uma unidade política 
50 
Therezinho de Castro 
baseada materialmente sobre o território ou país, mas não se 
confunde necessariamente com o povo, embora seja esse a 
verdadeira base da nacionalidade . 
A oposição aparente entre nacionalidade, constituída 
pelo povo e pela nação, reside no fato de se ter desvirtuado o 
emprego do último termo; em certas línguas a palavra nação 
passou a designar um fenômeno de vida pública, política (per 
/is dos gregos - populus em latim), afastando-se assim da ori­
gem natio (do verbo nascer) , que sugere exatamente o laço 
de sangue, de nascimento que une um povo . No entanto, a 
fórmula clássica é de que as nacionalidades tendem, todas, a 
se organizarem em Estados. 
A unificação das propriedades feudais, centralizadas nas 
mãos da realeza, deu origem ao Estado, através das monar­
quias absolutas, que caracterizam a Idade Moderna. 
O Estado surgiu mais por necessidade sociológica do que 
jurídica, muito embora hoje em dia esses dois elementos apa­
reçam associados . Conclui-se, portanto, que a centralização 
do poder e implantação do Estado só foram possíveis graças 
ao aparecimento de uma nova classe que se interpôs entre a 
realeza e a nobreza. A Revolução Comercial, ocasionada pe­
las grandes descobertas, contribuiria para

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