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ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Terapêutica clínica e Fisiopatologia I INTRODUÇÃO CASO CLÍNICO Homem de 45 anos, sedentário, obeso, hipertenso em uso de losartana 100mg/dia, dislipidêmico em uso de sinvastatina 20mg/dia procurou seu cardiologista com queixa de estar urinando muito, boca seca e ter observado presença de formiga perto do vaso sanitário. Desta forma o médico solicitou alguns exames: Glicemia de jejum: 282 mg/dl Hemoglobina glicada: 7,5% O que o paciente apresenta? É necessário mais exame para o diagnóstico? O paciente apresenta Diabetes Mellitus do tipo 2. Com a glicemia a 282 mg/dl e a hemoglobina glicada à 7,5% já é possível considerar o paciente diabético. DIABETES Representa um grupo de doenças metabólicas, com etiologias diversas, caracterizado por hiperglicemia, que resulta da secreção deficiente de insulina pelas células beta, resistência periférica a ação da insulina ou ambas. A palavra "diabetes" tem origem grega e significa "sifão". Recebeu esta designação devido à poliúria intensa que acomete os indivíduos. PREVALÊNCIA DE DM Existem 463 milhões de adultos com DM em todo o mundo, com a previsão de que o número total de diabetes aumente para 578 milhões em 2030 e 700 milhões em 2045. 374 milhões de adultos tem intolerância à glicose pré-diabetes. Está entre as 10 causas de morte (metade sendo em pessoas com menos de 60 anos). Mais de 1,1 milhões de crianças e adolescentes com menos de 20 anos tem DM1. Um em cada 6 nascidos vivos é afetado por hiperglicemia na gravidez. DIAGNÓSTICO Glicemia de Jejum: Normal 79 a 99 mg/dl Pré-diabetes 100 a 125 mg/dl Diabetes Mellitus maior ou igual a 126 mg/dl OBS.: para haver o diagnóstico de DM, é preciso se ter 2 glicemias maiores ou iguais a 126 mg/dl. Prova de tolerância oral à glicose: Paciente vai ao laboratório em jejum, realiza a glicemia em jejum e depois disso toma 75g dextrosol (glicose anidra) e se faz outro exame 2h depois dessa ingestão. Esse exame serve para verificar a estimulação de insulina pelo pâncreas. Normal Menor que 140 mg/dl Pré-diabetes 140 a 199 mg/dl Diabetes Maior ou igual que 200mg/dl Hemoglobina glicada (HBA1C): Diabetes Mellitus Maior ou igual a 6,5% Pré-diabetes 5,7% à 6,4% DIABETES MELLITUS TIPO 1 Corresponde a aproximadamente 10% dos casos de DM1 e estima-se que mais de 88 mil brasileiros tenham DM1, com predomínio em crianças e adolescentes. Caracteriza-se por destruição autoimune e indolente das células beta pancreáticas ocasionando deficiência completa na produção de insulina. ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Terapêutica clínica e Fisiopatologia I A hiperglicemia permanente se manifesta quando 90% das ilhotas são destruídas, ou seja, quando a doença já está bem avançada. E é confirmada pela presença de um ou mais auto anticorpos. Acredita-se que o processo seja desencadeado pela agressão das células beta por um fator ambiental em indivíduos geneticamente suscetíveis. Essa susceptibilidade genética é conhecida pelo sistema HLA: DR3 ou DR4. A agressão inicial da célula beta ocorre indiretamente, ou seja, anticorpos produzidos contra antígenos virais acabam lesionando as células beta, devido a um mimetismo molecular entre antígenos virais e antígenos dessas células. SINTOMAS DA DM1 Cansaço fácil, muita sede, aumento do apetite, urina aumentada e, principalmente, emagrecimento. Como essa doença é muito comum em crianças, é importante que os pais fiquem atentos às queixas e atitudes das crianças, pois na maioria das vezes os sintomas serão observados por eles e não falado por elas. DIABETES MELLITUS TIPO 2 Corresponde a aproximadamente 80 a 90% dos casos de DM e surge habitualmente após os 40 anos. No entanto, ultimamente tem sido encontrado em crianças com obesidade (essa patologia é associada à obesidade e/ou sobrepeso). Aproximadamente 90% dos casos associado a Síndrome Metabólica (doenças associadas que possuem um alto risco para doenças cardiovasculares e, assim, para a morbimortalidade). O tratamento habitualmente é iniciado com hipoglicemiantes orais. GENÉTICA E DM2 40% dos casos apresentam história familiar de DM2 (pai ou mãe diabéticos). O risco de desenvolver DM2 é de 40% se um dos pais for afetado (sendo maior quando a mãe é afetada) e 70% se ambos têm a doença. A prevalência varia em diferentes grupos étnicos que vivem em um mesmo ambiente. Parentes de primeiro grau de indivíduos com DM2 tem anormalidades sutis no metabolismo glicídico com redução de síntese de glicogênio muscular e aumento do conteúdo lipídico muscular e/ou distúrbios leves na secreção de insulina. MORTALIDADE E DM2 Pessoas que tem DM2 tem expectativa de idade reduzida de 5 a 10 anos, com mortalidade 2 à 3 vezes maior do que na população em geral (60% morrem de DAC). Nefropatia diabética representa a principal causa de insuficiência renal crônica (IRC). Retinopatia diabética corresponde a principal causa de cegueira nos países industrializados. SÍNDROME METABÓLICA Presente em aproximadamente 90% dos casos de DM2. Caracterizado por várias alterações que aumentam o risco cardiovascular: obesidade central, dislipidemia, pré- diabetes e/ou DM, HAS, hiperurcemia e esteatose hepática. ETIOPATOGENIA DA DM2 Resistência insulínica periférica no adipócito e sobretudo no músculo esquelético. Deficiente produção de insulina pelo pâncreas. Excessiva produção hepática de glicose secundária a resistência insulínica no fígado. A hiperglicemia prolongada leva ao agravamento da resistência insulínica e do defeito secretório da célula beta (glicotoxidade). Resistência insulínica no adipócito resulta em incremento da lipólise e aumento dos ácidos graxos livres (AGL) circulantes que através da lipotoxidade contribui para o agravamento da hiperglicemia por meio de 2 mecanismos: Inibição da secreção de insulina pelas células beta. Aumento da RI no músculo esquelético (por deposição de AGL) com diminuição da captação de glicose pelo mesmo. O excessivo aporte de AGL ao sistema porta resulta em aumento do débito hepático de glicose e maior síntese hepática de VLDL culminando na dislipidemia diabética. No estado normal de jejum, pequenos aumentos da glicemia levam a supressão do glucagon e ao aumento da produção da insulina. Em suma, na DM2 a disfunção da célula beta não libera a insulina adequada ao ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Terapêutica clínica e Fisiopatologia I estímulo da glicose e a célula alfa não responde com a supressão do glucagon piorando a hiperglicemia. DISFUNÇÃO DAS CÉLULAS ALFA DM2: aumento ou não supressão da secreção do glucagon na presença de hiperglicemia devido a redução da secreção prandial do GLP-1. GLP-1 (peptide like glucagon): estimula a célula beta produzir insulina de forma glicose dependente, inibe a secreção de glucagon e a produção hepática de glicose, diminui o esvaziamento gástrico, tem ação sobre os mecanismos do apetite e saciedade a nível central e sobre a adiposidade. DIABETES MELLITUS E O RIM O rim filtra cerca de 162g/dia de glicose: 90% é absorvido pelo SGLT2 (cotransportador de sódio/glicose) no túbulo proximal. Rins de diabéticos são expostos a níveis mais elevados de glicose ocorrendo maior expressão dos transportadores com reabsorção de aproximadamente 250g de glicose/dia. DM: aumento na reabsorção tubular de glicose (up regulation SGLT2) e aumento na produção renal de glicose por aumento da gliconeogênese. O OCTETO AMEAÇADOR ENVOLVIDO NA FISIOPATOLOGIA DA DM2: TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DO DM2 BIGUANIDAS: METFORMINA 1a medicação na DM2 e no pré-diabetes. Age na diminuição da produção hepática da glicosee aumenta a captação intestinal de glicose (diminuindo a absorção de glicose). Aumento da sensibilidade a insulina, devido maior uso da glicose pelos músculos. Efeitos adversos: dor abdominal, diarreia, gosto metálico na boca. Contraindicação: clearance de creatinina < 50ml/min e em doenças agudas como IAM, pneumonia e AVC (risco de acidose lática). Metformina não atua no pâncreas, logo ele não age nas células Beta pancreáticas. SULFONILURÉIAS Aumenta a produção de insulina pelas células beta pancreáticas. Fechamento dos canais de potássio através da subunidade Kir induzida pelas SU resultando na entrada de cálcio nas células beta e consequente liberação da insulina. Efeitos adversos: hipoglicemia, ganho de peso e exaustão das células beta pancreáticas. ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Terapêutica clínica e Fisiopatologia I Contraindicação: insuficiência renal ou hepática grave, gravidez e amamentação. Medicamentos: clorpropamida, tolburamida (mais seguro para diabéticos idosos) e glibenclamida. GLITAZONA E PIOGLITAZONA Diminui a resistência à ação da insulina. Inibe a lipólise e a redução dos AGL circulantes = diminuindo a RI. Aumentam a proliferação de adipócitos pequenos mais sensíveis a insulina – favorecendo a redistribuição da gordura corporal. Benefício: diminui a aterogênese. Efeitos adversos: ganho de peso, retenção hídrica. Contraindicação: insuficiência cardíaca, hepatopatias graves, gestantes e amamentação. INCRETINAS – INIBIDOR DE DPP-4 O DPP-4 é uma enzima que degrada o GLP-1 endógeno. A sua inibição gera uma estabilização, fazendo com que o GLP-1 realize suas funções. DM2: diminuição dos níveis de GLP-1 pós- prandial contribuindo para a redução da secreção de insulina e não supressão do glucagon. Aumento do GLP-1 ativo em 2 à 3 vezes. Vantagens: segura em relação a hipoglicemia, não leva a ganho de peso, preserva as células beta pancreáticas, poucos efeitos adversos, ajuste de dose na insuficiência renal, principal associação com metformina e pode ser usado associado com sulfonilúreia, glitazona e insulina. ANÁLOGO DO GLP-1 Aumento do nível de GLP-1. Benefícios: redução de peso, controle glicêmico, aumento da saciedade, redução da secreção pós-prandial de glucagon, retarda o esvaziamento gástrico. Desvantagens: injetável e de custo elevado. Efeitos adversos: náuseas, vômitos e diarreia. INIBIDORES DE SGLT2 (ISGLT2) Rins de diabéticos são expostos a níveis mais elevados de glicose ocorrendo maior expressão dos transportadores com reabsorção de aproximadamente 250g de glicose/dia. Aproximadamente 90% da glicose é reabsorvida no túbulo contorcido proximal pelo SGLT2. ISGLT2 bloqueiam o SGLT2 reduzindo a reabsorção tubular da glicose pelo rim, provocando aumento da glicosúria. Por ter um mecanismo independente da insulina, podem ser utilizados em qualquer estágio do DM2. Benefícios: baixo risco de hipoglicemia, perda de peso de 2-3kg devido aumento da excreção urinária de glicose e redução da PAS de 4-6mmHg, pois promove diurese osmótica (glicosúria) e consequentemente redução da volemia. Riscos: risco aumentado de hipotensão quando associado a diuréticos, infecções genitais e infecções do trato urinário. ESTHER ANDRADE | TURMA 85 | Terapêutica clínica e Fisiopatologia I TRATAMENTO MEDICAMENTOSO COM INSULINAS As insulinas podem ser encontradas em canetas de aplicação ou em frascos. Indicações: Único tratamento para DM1. Pode ser utilizado no tratamento para DM2. Glicemia de jejum >300mg/dl e/ou HBA1C > 9% Necessidade de restabelecimento rápido da normalidade da glicemia. Exaustão das células beta pancreáticas. Gestação. Controle glicêmico inadequado com hipoglicemiantes orais. Locais de aplicação da insulina: TIPOS DE INSULINA ULTRA-RÁPIDA Início de ação de 5-15 minutos, com pico de ação de 1 a 1,5h. Dura em torno de 3-4h. Administração é subcutânea. Medicamentos: Lispro, Asparte, Glulisina. RÁPIDA Início de ação de 30 minutos a 1h, com pico de ação de 1,5 a 4h. Dura em torno de 4-6h. Administração é subcutânea. Medicamento: Regular. INTERMEDIÁRIA Início de ação de 2 a 4h, com pico de ação de 4 a 10h. Dura em torno de 10-16h. Administração é subcutânea. Medicamento: NPH-NeutralProtamine Hagedom. ULTRA-LENTA Início de ação de 1 a 2h, sem ter um pico de ação. Dura em torno de 22-24h. Administração é subcutânea. Medicamentos: Glargina, Detemir e Degludeca. BOMBA DE INFUSÃO DE INSULINA Vantagens: Forma mais fisiológica de infusão de insulina exógena. Ajustes constantes de doses conforme necessidade. NOVIDADE Insulina injetável Afreeza.
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