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FACULDADE PITÁGORAS Curso de Graduação em PSICOLOGIA Primeiro Período – MATUTINO Disciplina: História da Psicologia PSICANÁLISE Andreia Duarte Brina Guilherme Comini Junior Rafaela Araújo Matos Rafael Fernandes Lordeiro Rafael Miranda da Silva Wilson Domingos Mingote Junior Yngrid Cristina Vianna Costa Belo Horizonte 2020 2 Trabalho PSICANÁLISE INTRODUÇÃO Psicologia é o estudo da mente e do comportamento. Uma área psicológica é onde o psicólogo atua, trabalha, e então, tem-se as seguintes áreas de atuação segundo o Conselho Regional de Psicologia da 9ª região: psicologia escolar ou educacional, psicologia organizacional e do trabalho, psicologia do trânsito, psicologia jurídica, psicologia do esporte, psicologia clínica, psicologia hospitalar, psicopedagogia, psicomotricidade, psicologia social e neuropsicologia (MEZAN, 1996). Uma abordagem psicológica é um referencial teórico e metodológico para se interpretar o comportamento e a mente. Desta forma, o psicólogo para prestar seus serviços precisa de uma área de atuação e uma abordagem para dar base teórica ao seu trabalho. As abordagens são diversas e cada uma pode ser considerada completa em si mesma, entendendo o comportamento e a mente sem a necessidade das outras. Ou seja, não existe uma psicologia, mas várias psicologias. O que une essas psicologias é a história delas e a relação de cada uma com a busca do conhecimento sobre o comportamento e a mente (ABRÃO, 2008). Todo psicólogo realiza um trabalho baseado em uma determinada abordagem, que irá guiar a maneira de atuar com a problemática apresentada e a forma de olhar para o indivíduo. Se trata da linha teórica que o profissional utiliza para conduzir as sessões de psicoterapia. Mas o que vale realmente destacar, é que a psicologia inicialmente foi proveniente da filosofia e, posteriormente, muitas personalidades dentre cientistas, filósofos e médicos, foram desenvolvendo este campo do saber cada um à sua maneira. Alguns se enveredaram mais pelo campo metafísico, enquanto outros pela ciência propriamente dita. A verdade é que por isso, ao longo do tempo, muitas teorias psicológicas foram desenvolvidas criando assim, as abordagens psicológicas tal como se conhece hoje. São variadas abordagens que buscam entender o ser humano, seus processos mentais e comportamentais e que a partir deste entendimento, constroem uma maneira de intervir, de auxiliar o cliente em suas necessidades (CORDEIRO, 2010). 3 As abordagens psicológicas mais praticadas pelos psicólogos em psicologia clínica são a comportamental, a terapia cognitivo-comportamental, a psicanalítica (ou psicanálise), a psicologia analítica, a humanista e a Gestalt. O presente trabalho irá apresentar de uma maneira geral algumas das principais abordagens da psicologia, e de uma maneira mais aprofundada a abordagem psicanalítica, através de um embasamento teórico e de contribuições de um profissional psicanalista, denominado para esta pesquisa de Dr. J., o qual fez inferências importantes acerca da psicanálise e de sua prática na clínica. ABORDAGENS DA PSICOLOGIA A psicologia, ao longo da sua história, foi pensada sob diversas abordagens, de acordo com as pesquisas de intelectuais importantes e alinhada com o zeigeist de cada época, conforme apresentado abaixo: Behaviorismo O nome behaviorismo tem origem no termo em inglês behavior, que significa comportamento. Behaviorismo é uma teoria psicológica que objetiva estudar a psicologia através da observação do comportamento, como embasamento em metodologia objetiva e científica fundamentada na comprovação experimental, e não através de conceitos subjetivos e teóricos da mente como sensação, percepção, emoção e sentimentos. O behaviorismo é também chamado de comportamentismo ou comportamentalismo. Essa teoria psicológica defende que a psicologia humana ou animal pode ser objetivamente estudada por meio de observação de suas ações, ou seja, observando o comportamento (NETO, 2002). Os behavioristas acreditam que todos os comportamentos são resultados de experiências e condicionamentos. As figuras influentes do behaviorismo incluem os psicólogos John B. Watson e B. F. Skinner, que estão associados ao condicionamento clássico e ao condicionamento operante, respectivamente (MATOS, 1995). Entre 1920 até meados de 1950, o behaviorismo se tornou a escola dominante de psicologia, com o propósito de estabelecer a psicologia como uma ciência objetiva e mensurável. Os 4 estudiosos e pesquisadores do behaviorismo estavam envolvidos em criar teorias que pudessem ser descritas e medidas de forma clara e prática (MATOS, 1995). Os estudos do behaviorismo iniciaram-se no século XIX, a partir de um trabalho do psicólogo John B. Watson, intitulado de “Psicology as the behaviorist views it”, traduzindo para o português: “Psicologia como um comportamentista a vê”. Esse estudo teve como referências as teorias dos filósofos russos Vladimir Mikhailovich Bechterev e Ivan Petrovich Pavlov (NETO, 2002). A psicologia comportamental não possui um único conjunto de teorias, seus estudos são debatidos por diversos autores. Os principais tipos de behaviorismo são o behaviorismo metodológico, influenciado pelo trabalho de John B. Watson, e o behaviorismo radical, que foi iniciado pelo psicólogo Burrhus Frederic Skinner. As principais abordagens dessa linha de pensamento são o behaviorismo clássico, metodológico, filosófico, radical de Skinner e o utilizado na educação (MATOS, 1995). Psicanálise Conceituar psicanálise não é uma tarefa simples, mas pode-se defini-la como uma terapia baseada na ideia de conhecer e compreender a origem dos problemas que nos afetam e que, se sanados, podem nos libertar de tensões e de ansiedades. Além de libertar, também de doenças ligadas à mente, como a neurose e a histeria, usando, principalmente a análise. Sendo assim, a psicanálise é o método psicanalítico e tudo que o envolve. É um método de tratamento de transtornos mentais, moldado pela teoria psicanalítica. Fundada por Sigmund Freud (1856-1939), enfatiza processos mentais inconscientes e é algumas vezes descrita como a “psicologia profunda”. É comum a confusão entre psicanálise e psicologia, porém são coisas bastantes distintas, é possível que um psicólogo seja psicanalista, da mesma maneira que um psicanalista pode não ser um psicólogo (CORDEIRO, 2010). A psicanálise promove a consciência de padrões de emoções e comportamentos inconscientes, desadaptativos e habitualmente recorrentes. Isso permite que aspectos anteriormente inconscientes do self se integrem e promovam um ótimo funcionamento da mente, cura e expressão criativa (ABRÃO, 2008). 5 Sigmund Freud é considerado o pai, o fundador, o criador e o alicerce histórico da psicanálise. “Um homem como um deus” para seus seguidores mais fantásticos ou “um judeu com complexos de inferioridade” para seus opositores e difamadores; foi um médico vienense pesquisador e inabalável estudioso dos fenômenos psíquicos. Freud nasceu em 6 de maio de 1856 em Freiberg, hoje Pribor, Morávia, Áustria. Viveu até os 83 anos, falecendo em 1939, na ocasião em que fugia da perseguição aos judeus, imposta por Adolf Hitler (MEZAN, 1996). Gestalt Gestalt, Gestaltismo ou psicologia da forma é uma doutrina da psicologia baseada na ideia da compreensão da totalidade para que haja a percepção das partes. Gestalt é uma palavra de origem germânica, com uma tradução aproximada de “forma” ou “figura”. A teoria da Gestalt, também conhecida como psicologia da Gestalt, faz parte dos estudos da percepção humana, que começaram a se desenvolver entre o final do século XIX e os primeiros anos do século XX (BARRETO, 2017). A Gestalt surgiu como uma doutrina de oposição ao Atomismo, uma filosofia que acreditava serpossível a percepção do todo apenas após a compreensão das diferentes partes. De acordo como o psicólogo austríaco Christian von Ehrenfels, a percepção humana é formada a partir da junção de duas características das formas: as sensíveis (relativo ao objeto em si) e as formas (os ideais e visões de mundo particulares de cada indivíduo) (DUSI; NEVES; ANTONY, 2006). Como principais representantes da Gestalt, tem-se Max Wertheimer, que era um psicólogo de origem tcheca. Era músico e inicialmente estudou direito, mas optou pela psicologia. Passou a parte inicial de sua vida acadêmica entre Praga, Berlim e Viena. Estudou fenomenologia com Carl Stumpf, principal discípulo de Franz Brentano, tendo sido acompanhado por W. Köhler e por Kurt Koffka. Juntos, eles desenvolveram a Escola de Berlin de Psicologia da Gestalt, inspirada na fenomenologia da tradição de Brentano, e que buscava desenvolver uma psicologia de cunho fenomenológico (MULLER-GRAZOTTO; GRANZOTTO, 2004). Kurt Koffka nasceu em Berlim em 1886. Foi um dos mais criativos fundadores da psicologia da Gestalt. Se interessou por ciência em filosofia, frequentando a Univesity of Belin. Estudou 6 psicologia de Carl Stumpf, obtendo Ph.D. em 1909. No ano seguinte começa a se unir a Wertheimer e Köhler, na University of Frankfurt. Köhler foi o porta-voz do movimento da Gestalt. Seus livros eram escritos com cuidado e precisão que acabaram se tornando os trabalhos-padrão da psicologia da Gestalt. Nasceu na Estônia em 1887 e com cinco anos se mudou para o norte da Alemanha. Estudou na universidade de Tübinger, Bonn e Berlin, e doutorou-se orientado por Stumpf, na Universidade de Berlin, em 1909 (BARRETO, 2017). Humanismo O humanismo foi um movimento intelectual iniciado na Itália no século XV, com o Renascimento e difundido pela Europa, rompendo com a forte influência da Igreja e do pensamento religioso da Idade Média. O teocentrismo (Deus como centro de tudo) cede lugar ao antropocentrismo (passando o homem a ser o centro de interesse) (CASTAÑON, 2007). Em um sentindo amplo, humanismo significa valorizar o ser humano e a condição humana acima de tudo. Está relacionado com generosidade, compaixão e preocupação em valorizar os atributos e realizações humanas. O humanismo procura o melhor nos seres humanos sem se servir da religião, oferecendo novas formas de reflexão sobre as artes, as ciências e a política. Além disso, o movimento revolucionou o campo cultural e marcou a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna (BRANCO; SILVA, 2017). Especificamente no campo das ciências, o pensamento humanista resultou em um afastamento dos dogmas e ditames da igreja e proporcionou grandes progressos em ramos como a física, matemática, engenharia e medicina (BRANCO; SILVA, 2017). Abordagem Sócio histórica A Psicologia Sócio Histórica tem como base a teoria de Vygotsky que afirma que o desenvolvimento humano se dá por meio das relações sociais em que o indivíduo mantém no decorrer de sua vida. Neste contexto estende-se que o processo de ensino-aprendizagem também se desenvolve por meio das interações que vão se desenrolando no decorrer da mesma (LIMA; CARVALHO, 2013). 7 Compreende-se que desde que nascemos somos dependentes socialmente das outras pessoas, e entramos em um processo histórico, que de um lado, nos dá o que o mundo oferece e as visões sobre ele e, de outro, permite a construção de uma visão pessoal sobre este mundo que o cerca (LUCCI, 2006). É importante destacar que Vygotsky com sua teoria trouxe muitas contribuições para a educação, pois através de seus estudos pode-se perceber como a cultura e a história de um indivíduo podem interferir no seu processo de ensino-aprendizagem (LIMA; CARVALHO, 2013). O principal expoente da corrente sócio histórica, o psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934) morreu há mais de 70 anos, mas sua obra está em pleno processo de descoberta e debate em vários pontos do mundo, incluindo o Brasil. A parte mais conhecida da extensa obra produzida por Vygotsky em seu curto tempo de vida converge para o tema da criação da cultura. Aos educadores interessa em particular os estudos sobre desenvolvimento intelectual, uma vez que atribuía um papel preponderante às relações sociais nesse processo, tanto que a corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de socio construtivismo ou socio interacionismo (SANTOS, 2017). Terapia Cognitivo Comportamental TCC A TCC é uma abordagem da psicoterapia baseada na combinação de conceitos do behaviorismo radical com teorias cognitivas. A Teoria Cognitivo Comportamental entende a forma como o ser humano interpreta os acontecimentos como aquilo que nos afeta, e não os acontecimentos em si. Ou seja, é a forma como cada pessoa vê, sente e pensa com relação a uma situação que causa desconforto, dor, incômodo, tristeza ou qualquer outra sensação negativa (KNAPP; BECK, 2008). A TCC foi fundada no início dos anos 60 por Aaron Beck, neurologista e psiquiatra norte- americano. Beck propôs, inicialmente, um “modelo cognitivo da depressão” e que posteriormente evoluiu para a compreensão e tratamento de outros transtornos (SOUZA; CÂNDIDO, 2010). Essa abordagem é bastante específica, clara e direta. É utilizada para tratar diversos transtornos mentais de forma eficiente. Seu objetivo principal é identificar padrões de 8 comportamento, pensamento, crenças e hábitos que estão na origem dos problemas, indicando, a partir disso, técnicas para alterar essas percepções de forma positiva. A TCC se destina tanto ao tratamento dos diferentes transtornos psicológicos e emocionais como a depressão, ansiedade, transtornos psicossomáticos, transtornos alimentares, fobias, traumas, dependência química, entre outros. Além disso, a Terapia Cognitivo Comportamental auxilia nas diversas questões que envolvem nossa vida como um todo, como dificuldades nos relacionamentos, escolhas profissionais, luto, separações, perdas, estresse, dificuldades de aprendizagem, desenvolvimento pessoal e muitos outros (KNAPP; BECK, 2008). FONTE: https://www.vittude.com/blog/terapia-cognitivo-comportamental/ (2020). 9 CARACTERÍSTICAS DAS ABORDAGENS DA PSICOLOGIA Abordagem Principais características Behaviorismo Comportamento como uma forma funcional e reacional de organismos vivos. Não aceita qualquer relação com o transcendental, com a introspecção e aspectos filosóficos. Pretende estudar comportamentos objetivos, que podem ser observados. Estuda o condicionamento, resultante da associação entre estímulo (E) e resposta (R), que podem ser reforçadas ou inibidas. Psicanálise Analista adota uma atitude neutra, sentando-se às costas do cliente. Id / Ego / Superego. Livre associação/Neutralidade do terapeuta. Gestalt Significado próximo de forma ou configuração. Início dos estudos da percepção e sensação do movimento. “A maneira que percebemos um determinado estímulo irá desencadear nosso comportamento”. Humanismo Ênfase às relações interpessoais. Homem visto como uma totalidade. Relação Eu-Isso / Eu-Tu. Sócio histórica Considera o indivíduo como essencialmente social. Enfoque do materialismo histórico. Enfatiza aspectos sociológicos. Estudo do cotidiano e seu caráter social e histórico. 10 Terapia Cognitivo Comportamental Como pensamos afeta emoções e comportamentos. Concebe os níveis inconsciente, pré- consciente e consciente. Terapeuta e cliente com papel ativo. Baseada na empatia e de caráter didático. Fonte: Autores (2020). A PSICANÁLISE A psicanálise é uma abordagem da psicologia que trabalha profundamente com o inconsciente, acreditando que ele seja responsável por nossas atitudes e que tem um funcionamento de maneira automática, chegando a desafiaro bom senso e a lógica. Sigmund Freud (1856-1939) é considerado o fundador dessa abordagem e, possivelmente, o psicanalista mais conhecido no mundo, embora haja outras escolas que contribuíram para o movimento psicanalítico (MEZAN, 1996). Freud, em seus anos de pesquisa, descobriu que muitos comportamentos conscientes sofrem a influência de forças inconscientes, tais como a memória, os impulsos e os desejos reprimidos. De acordo com Freud, o modo como pensamos, agimos ou mesmo expressamos as nossas opiniões é resultado de uma memória, uma crença ou um desejo que não se encontra na superfície do psiquismo (ABRÃO, 2008). As principais escolas da psicanálise são as seguintes: Freud Na psicanálise de Freud, ego é a parte do sistema psíquico que se conecta diretamente com a realidade. Embora visto como um vilão, o ego é o mediador entre os impulsos do id e as exigências do superego. Ele é responsável por ajudar o sujeito a ter um comportamento realista e aceitável, em consonância com as demandas da sociedade. O ego, basicamente, regula o desejo de satisfação das necessidades primitivas. Por outro lado, o id armazena os desejos do inconsciente, os quais não são lógicos e, por vezes não seguem as regras sociais pré-estabelecidas. É o ego que coordena o que o id pode ou não fazer, permitindo e às vezes 11 impedindo a sua satisfação. Finalmente, o superego é o aspecto final da personalidade, que contém os valores e as ideias bem como as lições aprendidas com os pais e com a sociedade. O superego funciona como uma espécie de juiz que determina o comportamento de acordo com aspectos morais. Quando muito severo, o superego anula as escolhas do ego e causa conflito psíquico (CORDEIRO, 2010). Associada à descoberta dos três elementos da personalidade, Freud desenvolveu técnica psicanalíticas ao passo que tratava seus pacientes. Uma dessa técnicas, denominada como associação livre, é o método em que o terapeuta fala uma série de palavras e o paciente responde com o que vier à mente a fim de despertar memórias reprimidas. Outra técnica utilizada por Freud foi a análise dos sonhos, em que acreditava que os mesmos eram a estrada para o inconsciente. O alicerce da psicanálise formado por Freud se deu através do estudo da sexualidade da criança, do conceito de dualidade do psiquismo e do fenômeno das resistências (ABRÃO, 2008). Lacan Essa abordagem psicanalítica enfatiza que o indivíduo é formado através da linguagem. De acordo com Lacan, o mundo é constituído de símbolos e de significantes, conceito este que define que um objeto, imagem ou situação podem representar outra coisa. O indivíduo consegue, portanto, identificar esses símbolos por conta da linguagem. Jacques Lacan (1901- 1981) também foi filósofo, por esta razão suas ideias se sustentam em conceitos filosóficos (ABRÃO, 2008). De acordo com esta abordagem, a construção do “eu” é formada no interior, sendo que o que reside no íntimo de cada um tem ligação direta com o exterior. Para compreender o indivíduo faz-se necessário pensar em ambos os aspectos, e não apenas julgá-la sob uma única ótica. Lacan, nessa perspectiva, estabelece a relação existente entre o “eu” e o outro, tendo como instrumento de mediação entre eles, a linguagem (MEZAN, 1996). Winnicott Donald Winnicott (1896-1971) teve como foco do seu trabalho a relação entre a criança e a mãe. Para ele, todos nascemos indefesos, porém com um enorme potencial. Para que o potencial do sujeito se desenvolva, o ambiente precisa ser acolhedor e garantir a satisfação das necessidades básicas (MEZAN, 1996). 12 Os ambientes econômico, social e familiar influenciam a formação do indivíduo de uma forma direta. Mas a mãe é o fator principal. Sua interação e relacionamento com o bebê são fundamentais para ele cresça bem. Desta forma, nasce o conceito de “mãe suficientemente boa”, referindo-se à figura que satisfaz todas as necessidades e carências do bebê. A partir desta teoria, os transtornos mentais seriam resultantes tanto de um relacionamento defeituoso com a mãe quanto de um ambiente desfavorável (ABRÃO, 2008). Klein Melanie Klein (1882-1960) dedicou-se a estudar a mente das crianças a fim de descobrir seus medos, fantasias e angústias. Klein desenvolveu a análise do comportamento das crianças através da brincadeira para ter acesso ao inconsciente delas, uma vez que a associação livre de Freud dificilmente seria utilizada com pessoas de pouca idade (ABRÃO, 2008). Diferente do que fora postulado por Freud, Klein aponta a agressividade como elemento primordial no desenvolvimento da criança ao invés dos aspectos sexuais. A teórica fundou uma teoria da psicanálise referente às fantasias do inconsciente, que são elaboradas pelas crianças sobre suas mães em que se cria uma imagem mais malvada do que a realidade. Para ter acesso a essas fantasias, o psicanalista deve inserir o lúdico no tratamento com crianças para estimulá-las e encorajar determinados comportamentos (MEZAN, 1996). Bion Wilfred Bion (1897-1979) desenvolveu a Teoria do Pensar. Para Bion, o ato de pensar surge como uma forma de lidar com a frustração e criar novas realidades para satisfazer os desejos não satisfeitos. O ódio oriundo da frustração, quando é grande demais para a pessoa suportar, este sentimento encontra alívio na descarga imediata por meio de agitações motoras (ABRÃO, 2008). Segundo Bion, o pensar depende de dois fatores: os pensamentos e a faculdade de pensar. Quando uma pré-concepção do indivíduo não é realizada, acontece o pensamento vazio, consequentemente, a frustração surge, sendo definida como ausência. Então, a pessoa se abre para um universo simbólico construído ao longo da sua existência via pensamentos e interpretações do mundo, de seus sentimentos e da pessoa. Bion desenvolveu também a 13 Teoria do Conhecimento que afirma que a formação do conhecimento da criança é proporcional à capacidade do ego de tolerar a frustração (MEZAN, 1996). ENTREVISTA COM O PSICANALISTA Para o presente estudo foi realizada uma entrevista com um profissional psicanalista, para esta pesquisa denominado Dr. J., a fim de compreender como se dá a prática da teoria psicanalítica na clínica. As quatro perguntas e as respostas dadas pelo profissional estão abaixo, na íntegra: De uma maneira geral, como se dá a abordagem psicanalítica na prática? O tratamento e a prática em si, se dão através das palavras. O paciente costuma levar tudo que ele vê e sente desde a fase uterina, ou seja, desde a fase gestatória, absorvendo tudo da sua progenitora, sua mãe, pois, a psicanálise vai trabalhar o seu inconsciente, trazendo uma análise das falas do seu consciente, mas trazendo também através das intervenções do psicanalista sensações, lembranças, percepções, ou até mesmo comportamentos que possuem relações com reflexos do que foi vivido e está no seu inconsciente. Realizamos a abordagem de todos os sentimentos que atualmente se dá na vida deste paciente, mas que são sentimentos provenientes da sua infância, adolescência e/ou sentimentos que o mesmo herdou de sua própria mãe durante sua gestação. Costumamos nos referir que o paciente vai recalcando todos esses sentimentos, sensações, passando por todas as fases de sua vida, de maneira que essas situações que não o agradou faz com que o mesmo vá guardando-as para si e consequentemente quando se chega à um atendimento psicanalítico, geralmente, o que se busca é a retirada destes vínculos que já não o agregam ou que até mesmo possa estar causando algum tipo de reflexo que interfira em seu comportamento, saúde mental, sua felicidade, sua tranquilidade, em sua relação social e/ou profissional. Ele vai tentar entender o motivo dele supostamente possuir aquele “problema”, sua origem, como resolvê-lo. Contudo, pode-se perceber que é através da palavra, da autoconscientização,porque ele desabafando e ouvindo as intervenções será possível trazer uma abordagem para que o mesmo consiga compreender o seu próprio inconsciente, como o mesmo está funcionando. Muitas vezes nossos hábitos cotidianos possuem relações com a nossa história, com o que trouxemos de recalque, mas como o paciente não possui tal consciência deste fato e vive se questionando o motivo de tal acontecimento. Esta aí é a nossa principal função, ou seja, auxiliamos a conseguir respostas para tais questionamentos que possam ter. 14 Como os pacientes respondem à abordagem aplicada? Quando se trata de psicanálise é difícil ter um padrão ou até mesmo uma linha linear dos fatos, pois cada paciente traz uma história diferente, responde de forma diferente, devido ao fato que sua resposta se dá pela sua trajetória. Há uma interferência também de acordo com a aprendizagem do profissional, de sua técnica, mas é o próprio paciente que se auto cura através do conhecimento aprimorado de si próprio, tomando decisões de mudanças em relação ao que o mesmo conseguir ir identificando. A abordagem psicanalítica é fazer com que tal avaliação conheça através da análise, ou seja, o psicanalista analisa as falas e os relatos do paciente, percebendo que o paciente começa a analisar dentro do seu “mundo”, dentro do seu consciente despertando mensagens dentro do seu inconsciente a maneira correta de lidar com seus traumas, transtornos, seus recalques, sua saúde mental, e com o passar do tempo com esta auto analise realizada, o paciente começa a buscar em si próprio as respostas para suas dúvidas e até mesmo pensamentos. Entretanto, o paciente se compromete consigo mesmo a deixar hábitos, pensamentos e começa enfim o processo de ressignificação onde o dá força à sua autoestima. Quais aspectos a psicanálise possui que as demais abordagens ignoram? O trabalho com o inconsciente é o principal aspecto da psicanálise, pois, muito do que o indivíduo é hoje possui correlação com o que ele foi no passado, possuindo relações com raízes, devido ao fato de que possuímos algumas ramificações da psicanálise que se trabalha até com a hipnose. Desta forma, pode-se perceber que a abordagem psicanalítica por trabalhar o inconsciente traz disso a principal diferenciação das demais abordagens, pelo fato de o paciente trazer suas principais neuroses, seus traumas onde os mesmos são aflorados geralmente em sua vida adulta, devido ao fato do seu inconsciente se favorecer ao longo da maturidade. Seus indícios de mudanças de comportamento, seus incômodos, faz com que o mesmo comece a ter noção ou até mesmo maturidade para visualizar que você está passando possui correlação com o que você possa resolver através de um autoconhecimento e aspectos trabalhados no seu inconsciente, onde será sondado aquilo que está guardado e será tratado através do inconsciente da gênese, pois a maioria dos transtornos são gêneses psíquicos bem específicos, então a psicossomatização está visualizando o inconsciente. Costumasse dizer que são doenças psicossomáticas, onde se acumulam várias coisas, seu corpo começa a expressar surgindo psoríase, havendo a queda de cabelo e etc, desta forma as doenças psicossomáticas são doenças provenientes do seu inconsciente onde se acha que são doenças 15 do corpo físico onde se manifestam e obrigam o indivíduo trabalhar algo que possa estar ocorrendo ou que até mesmo ocorreu no passado, trazendo resposta do motivo do seu corpo estar se manifestando atualmente. Desta forma, o inconsciente é o principal aspecto de abordagem mesmo sendo muitas vezes ignorado pelas demais terapias, um exemplo disto está nas terapias comportamentais onde são abordados fatos do cotidiano e fatos adquiridos na vida adulta. Olhando a abordagem de fora, existe alguma crítica a ela que acha importante ser pontuada? Minha crítica pessoal se leva ao fato de Freud, na época ter descartado a possibilidade de que poderia trazer o inconsciente à tona, por exemplo em crianças, idosos. Porém, outros teóricos que vieram posteriormente trouxeram contribuições cientificamente comprovadas de que existe a possibilidade e que até hoje a psicanálise pode ser atuada nestas demandas. Acredito que seja uma crítica que por muito tempo a psicanálise ignorou, mas a ciência está em constante evolução, em aprimoramento das técnicas. Sou suspeito para levantar tais pontos, devido ao meu amor pela psicanálise. CONSIDERAÇÕES FINAIS Existem inúmeras tendências presentes na psicologia, e sobretudo, na psicanálise contemporânea. Uma destas tendências relaciona-se à investigação das situações clínicas resultantes das regressões para as etapas primitivas do desenvolvimento emocional, como por exemplo a primeira infância. Essa proposta contemporânea vai de encontro às emoções reprimidas para encontrar caminhos para novos encontros e, de alguma maneira, libertá-las. A relação entre o analista e o analisado é muito evidente nesse modo de pensar, em que o paciente pode ser ele mesmo no momento da análise, sem receio de encontrar julgamentos ou pré-conceitos. O analista, neste contexto, desempenha a escuta analítica para deixar o analisado falar à vontade, em que a linguagem não-verbal também é considerada na avaliação do analista. Outra importante tendência é a compreensão dos fatores hereditários no aparecimento dos transtornos mentais, visto que filhos de pais depressivos e ansiosos têm maior chance de desenvolvê-los, havendo, desta forma, uma grande influência da genética. Portanto, a análise 16 das funções do ego abriu-se para outras ciências, como por exemplo a neurociência, a linguística e a psicofarmacologia. Como resultado desta expansão tem-se a noção de que o paciente consegue pensar as suas experiências emocionais e decide se tornar consciente delas e aceita-las ou mesmo ignorá-las. REFERÊNCIAS ABRÃO, Jorge Luís Ferreira. A introdução das ideias relativas à psicanálise de crianças no Brasil através da obra de Arthur Ramos. Memorandum, n. 14, 2008. BARRETO, Carine do Espírito Santo. Um estudo sobre a Gestalt-terapia na contemporaneidade. Psicologia PT, 2017. BRANCO, Paulo Coelho Castelo; SILVA, Luísa Xavier de Brito. Psicologia humanista de Abraham Maslow: recepção e circulação no Brasil. 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