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O melanoma cutâneo tem origem neuroectodérmica, formando-se a partir dos melanócitos que migram da crista neural para toda a epiderme, durante a embriogênese, em geral de localização cutânea primária, podendo, eventualmente, surgir em outras áreas (olhos, mucosas, meninges e outros). Essa origem facilita sua capacidade de disseminação, tornando-o tumor maligno da pele com maior agressividade, por apresentar grande capacidade de invasão e metastatização Epidemiologia Predomina ligeiramente no sexo masculino, com maior incidência da quarta a sexta décadas da vida, sendo a cor branca afetada em 95% das vezes, predominando o fenótipo de cabelos ruivos e olhos claros (não brancos e amarelos têm melanoma predominantemente nas superfícies palmo-plantares). Tem incidência com maior frequência em áreas mais próximas à região do Equador (guardadas, é claro, as noções anteriores), o que sugere uma ação etiológica solar, pelo menos na raça branca. Os melanomas tendem a ocorrer depois da puberdade e são mais comuns em adultos jovens, com exceção do lentigo maligno, que surge depois da 5ª década. Fatores de risco Os dois fatores predisponentes mais importantes são os genes herdados e a exposição solar. Os melanomas originam-se com maior frequência nas superfícies expostas ao sol, particularmente na parte superior das costas em homens e nas costas e pernas em mulheres. Além disso, indivíduos de pele clara têm risco maior de desenvolver melanomas que indivíduos de pele mais escura. Contudo, a relação entre a exposição solar e o melanoma não é tão simples quanto os outros cânceres de pele; alguns estudos sugerem que as queimaduras graves de sol no início da vida representam o fator de risco mais importante. Visto que os melanomas ocorrem em indivíduos de pigmentação mais escura e em sítios corpóreos que não são expostos ao sol, a luz solar claramente não é o único fator predisponente e outros fatores ambientais podem, também, contribuir para o risco. Deve-se destacar que as câmaras de bronzeamento artificial também são fontes de radiação UV e estão associadas ao melanoma. Por esse motivo, elas são proibidas para fins estéticos no Brasil desde 2009. De etiologia ainda não completamente esclarecida, sabe-se que alguns fatores, como genética, exposição solar, fototipo, número de nevos e síndrome do nevo displásico (SND) têm grande importância. Exposição solar intermitente, com queimadura, parece ser o fator mais importante entre os caucasianos, assim como bronzeamento artificial e, em menor grau, fototerapia com UVA e UVB. A idade na qual o indivíduo inicia o hábito de se expor ao sol parece ser fundamental na determinação da chance de se desenvolver a doença. Dessa maneira, indivíduos que se expõem ao sol desde a infância, de forma intermitente ou preferentemente com queimaduras, têm maiores chances de desenvolver melanoma na idade adulta. O sistema imunológico também influencia a patogênese do melanoma, principalmente por meio da nevogênese e da modificação do comportamento biológico das lesões malignas. Dessa forma, imunodeficiências congênitas, adquiridas e imunossupressão em transplantados ou por quimioterapia para outras neoplasias constituem fatores facilitadores e agravantes do melanoma. Mais recentemente, a associação do melanoma com a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) tem sido relatada, sendo as lesões frequentemente descritas como atípicas, múltiplas ou metastáticas. Nessa situação, toma-se razoável supor que as alterações provocadas tanto no braço celular como no humoral do sistema imunológico propiciem o surgimento de lesões neoplásicas, em decorrência da falta de um sistema de supervisão específico, mediado por linfócitos T, no controle da proliferação de clones de células malignas. Oncologia Por: ANA CLARA MELO Fisiopatologia Estima-se que 10% a 15% dos melanomas são familiares e muitos (mas não todos) daqueles com melanoma familial também apresentam nevos displásicos. Vários dos genes responsáveis pelo melanoma familial codificam supressores tumorais bem caracterizados e são também mutados em tumores esporádicos. Outros variantes genéticos ligados ao risco de desenvolvimento do melanoma em populações de pele clara controlam a produção de melanina; estes genes de pigmentação têm poucos efeitos, conferindo um risco ligeiramente elevado. Incluem o MC1R, que codifica o receptor de melanocortina-1; ASIP (proteína de sinalização agouti), que codifica um regulador da sinalização do receptor de melanocortina e TYR, que codifica a tirosinase, uma enzima específica de melanócitos que é necessária para a síntese de melanina. As mutações que diminuem a atividade das proteínas supressoras tumorais do retinoblastoma (RB) são comuns tanto no melanoma familial como no esporádico. De todas as alterações genéticas envolvidas na gênese do melanoma, as mais frequentes estão no lócus CDKN2A e no RAS. O CDKN2A é um lócus complexo que codifica três supressores tumorais diferentes, p15/INK4b, p16/INK4a e p14/ARF. Destes, a perda de p16/INK4a é claramente envolvida no melanoma humano e evidências experimentais também sustentam fortemente um papel para a perda de p14/ARF. A p16/INK4a aumenta a atividade das proteínas supressoras de tumor da família RB através da inibição da cinase dependente de ciclina 4 (CDK4) e da cinase dependente de ciclina 6 (CDK6), enquanto p14/ARF aumenta a atividade do supressor de tumor p53 por meio da inibição da atividade da oncoproteína MDM2. A CDKN2A é mutada em aproximadamente 10% dos melanomas esporádicos, e estas mutações anulam uniformemente a produção de p16/INK4a e afetam variavelmente o p14/ARF. Todavia, suspeita-se que essas mutações sejam o topo do “iceberg oncogênico” em relação às lesões moleculares que afetam a função das proteínas RB. O efeito em rede de todas essas alterações é o mesmo: proliferação melanocítica aumentada e escape da senescência celular induzida pelo oncogene. O segundo grupo mais comum de lesões moleculares no melanoma esporádico resulta em aumentos aberrantes na sinalização de RAS e PI3K/AKT, vias que promovem o crescimento e a sobrevida celular. A via RAS, talvez a mais importante, está intimamente ligada ao BRAF, que, por sua vez, participa na via de ativação da MAPK (proteinoquinase mitógeno-ativada). Quando ocorrem mutações no BRAF, principalmente por urna única substituição, a proteína passa a um estado permanentemente ativado, independente da estimulação pelo RAS e, dessa maneira, induz à proliferação celular e à oncogênese, como também à perda de controle da apoptose. Por motivos desconhecidos, os melanomas que se originam em sítios não expostos ao sol têm maior probabilidade de apresentar mutações ativadoras na tirosina cinase receptora de c-KIT que promove a regulação positiva tanto de RAS como de PI-3K/AKT, do que em NRAS ou BRAF. PTEN, um supressor tumoral que atua na regulação negativa da sinalização de PI-3K/AKT, é epigeneticamente silenciado em outros 20% dos melanomas. As lesões moleculares desses dois tipos são provavelmente necessárias, mas não suficientes, para o desenvolvimento do melanoma. Como discutido anteriormente, os nevos melanocíticos têm as mesmas mutações ativadoras em NRAS e BRAF que são encontradas nos melanomas, mas, raramente, se tornam malignas, provavelmente porque a sinalização RAS desenfreada conduz a senescência celular induzida pelo oncogene e na sua ausência a proliferação persiste, colocando os melanócitos em risco de transformação para um melanoma. Contudo, os nevos displásicos algumas vezes possuem lesões tanto em p16/INK4a e RAS ou BRAF, mas se transformam em melanomas apenas com uma frequência maior que os nevos convencionais. Claramente, outras vias que ainda serão identificadas também contribuem para o processo de transformação. Manifestações clínicas O melanoma pode advir de lesão preexistenteou surgir em pele sã. Os precursores são NMC, nevos displásicos, nevus spilus e proliferações melanocíticas de mucosas e extremidades ou névicas. Dentre as lesões precursoras, merecem atenção os chamados nevos atípicos (displásicos), que são pintas normalmente menores que 0,5 cm de diâmetro, com centro mais escuro e periferia mais clara, causando a impressão de “ovo frito” Modificações indicadoras de malignização são: sensação de prurido, alterações da pigmentação e do crescimento assimétrico da lesão, inflamação, ulceração e sangramento; um sinal indubitável é o derrame de pigmento além das bordas da lesão; quando ultrapassa a borda do tecido periungueal tem-se o sinal de Hutchinson. Nos casos que surgem em pele sã, surge uma pequena mancha hipercrômica, com crescimento lento, porém indiscutível, às vezes apenas em superfície, entretanto, outras vezes, também em profundidade, originando-se uma pápula e, depois, um nódulo. O melanoma da pele é geralmente assintomático, embora o prurido ou a dor possam ser manifestações precoces. Os sinais clínicos mais consistentes são as alterações na cor, tamanho ou forma da lesão pigmentada. Ao contrário dos nevos benignos, os melanomas exibem variações notáveis na cor, aparecendo em tons de preto, marrom, vermelho, azul-escuro e cinza. Na ocasião, as zonas de hipopigmentação branca ou da cor da pele também aparecem, algumas vezes devido à regressão focal do tumor. As bordas dos melanomas são irregulares e frequentemente com chanfraduras, não lisas, esféricas e uniformes como nos nevos melanocíticos. No seu comportamento biológico, devem ser considerados dois tipos de crescimento: o horizontal, isto é, a expansão em superfície e que ocorre na maioria das lesões por um tempo que pode ser longo (até mesmo muitos anos); e o vertical, ou seja, a expansão para a profundidade; sendo esta última a mais grave. Em uma fase inicial, limitam-se à epiderme e, eventualmente, a seus anexos, a não ser nos casos metastáticos ou que tenham origem em NMC, ou no nevo azul (origem dérmica). Em uma fase posterior, ocorre perda de maturação dos melanócitos quando estes penetram na derme. As células são volumosas, com núcleos atípicos, hipercromáticos e nucléolos proeminentes. Um infiltrado inflamatório composto por linfócitos costuma estar presente. Na fase de crescimento vertical, as alterações citológicas são mais intensas, diminuindo inclusive a síntese do pigmento melânico que pode estar ausente (melanoma amelanótico) e com exceção do melanoma nodular, os melanomas passam por um período denominado microinvasivo, quando as células tumorais ainda não apresentam capacidade de metastatização. Nesse caso, a confirmação é feita por imuno-histoquímica. Podem ser classificados em 4 tipos: Melanoma extensivo superficial: de todas as formas de melanoma, é o que mais frequentemente se associa a lesões névicas precursoras. Representa a forma mais comum de melanoma, constituindo 70% dos melanomas. Surge com maior frequência na quarta ou quinta décadas da vida e as localizações mais comuns são o tronco, o dorso nos homens e os membros inferiores nas mulheres. Apresenta-se como lesão leve ou francamente elevada, arciforme, pelo menos em parte, cujas margens são denteadas e irregulares e cuja coloração varia muito, desde acastanhada a negra, com áreas azuladas, esbranquiçadas, acinzentadas e até vermelhas. As mesmas variações clínicas são observadas histopatologicamente, em função das áreas examinadas, desde melanócitos atípicos intraepidérmicos, isolados ou em ninhos, até acúmulos nitidamente intradérmicos das células neoplásicas. Melanoma nodular: é a variante mais comum após a forma extensiva superficial, representando de 15 a 30% dos melanomas nas séries estudadas. É uma lesão nodular ou em placa ou mesmo polipoide de coloração negro-azulada ou com laivos acastanhados, de evolução rápida, sendo as localizações preferenciais o tronco nos homens e as pernas nas mulheres. Ocorrem, em geral, na quinta década de vida. Em 5% dos casos, pode ser amelanótico. Histopatologicamente, caracteriza-se por crescimento vertical desde o princípio, com agressão de predomínio dérmico a partir da junção dermoepidérmica, atingindo apenas secundariamente a epiderme. Seu prognóstico mais desfavorável deve-se à considerável espessura decorrente da rápida evolução vertical. Melanoma lentiginoso acral: raro nos indivíduos de pele branca (2 a 8%), é a forma de melanoma mais comum em negros e asiáticos (35 a 60%) e ocorre mais frequentemente em indivíduos idosos, na sexta década de vida. Ocorre nas regiões palmoplantares e falanges terminais, podendo ser periungueais e subungueais. Apresenta uma fase de crescimento horizontal, na qual o diagnóstico histológico pode ser muito difícil, seguida de fase de crescimento vertical, com grande potencial de metastatização. Por vezes, o tumor é amelanótico, o que pode retardar ainda mais o diagnóstico. Lentigo maligno: é a forma clínica menos agressiva e ocorre em idade média de 70 anos, predominantemente no sexo feminino, com duração média de 5 a 20 anos. A principal localização é cabeça, pescoço, dorso e mãos. Sua lesão apresenta-se como maculosa com margem irregular, grandes diâmetros e com cor em diferentes tonalidades, do castanho ao preto, com hiperpigmentação frequente. Apresenta pleomorfismo celular. Os melanomas podem apresentar de formas particulares como: Melanoma de mucosa: representa cerca de 5% dos melanomas. Pode ocorrer na mucosa bucal, nasal, genital ou retal. Na mulher com idade avançada, localiza-se com frequência na vulva. O processo pode ter crescimento lentiginoso ou nodular. Geralmente, o diagnóstico é tardio com má prognóstico. Melanoma amelanótico: sua característica decorre da concentração muito baixa de pigmento melânico. A lesão é rósea ou vermelha e pode simular um granuloma piogênico ou carcinoma espinocelular. Na região plantar, pode simular até mesmo mal perfurante. O diagnóstico clínico é particularmente difícil e, em geral, tardio, o que piora seu prognóstico. Melanoma desmoplástico: forma pouco frequente de melanoma que se desenvolve em áreas fotoexpostas, em indivíduos de pele clara e com idade intermediária ou avançada, cuja localização habitual é na cabeça e no pescoço. Clinicamente, apresenta-se como placa endurada ou nódulo frequentemente amelanótico de difícil diagnóstico. O prognóstico depende da espessura do tumor. Melanoma de origem desconhecida: trata-se de melanoma cutâneo, linfonodal ou visceral, aparentemente primário, provavelmente decorrente de melanoma cutâneo não diagnosticado (destruído sem exame anatomopatológico), de melanoma regredido expontaneamente ou de melanoma de mucosa não diagnosticado. O prognóstico é idêntico ao das formas metastáticas de um melanoma primário identificado. O comprometimento ganglionar caracteriza-se por gânglios duros, palpáveis e aderidos; depois, há invasão dos planos subjacentes e suprajacentes, levando à ulceração; entre a lesão primária e os gânglios regionais, pode haver comprometimento de vasos linfáticos (satelitose). Em raros casos, ocorre uma infiltração linfática maciça da pele, com eritema e enrijecimento cutâneo simulando um quadro infeccioso, denominado melanoma erisipeloide. Diagnóstico Os melanomas ocorrem em qualquer área da pele, particularmente nas plantas e na face, e podem atingir as mucosas, exceto o lentigo maligno melanoma, que ocorre em área exposta à irradiação solar, oriundo do lentigo maligno. Quando surgem pápulas ou nódulos irregularmente pigmentados, deve ser feita a biópsia dessas lesões para verificar se, histologicamente, há invasão da derme. Os outros tipos de melanoma originam- se em área da pele sem nenhuma lesão anterior ou de nevo pigmentado. Quando não há referência à lesão névica anterior, o primeiro sinal é um ponto pigmentado que cresce, torna-se papulonodular,de cor castanha a negra. Em relação aos nevos pigmentares que se alteram, é importante considerar alguns sinais, mnemonicamente ABCDE, que indicam provável transformação em melanoma: A. Assimetria: perda da simetria, ou seja, designa uma lesão cujas metades separadas por um eixo imaginário não são superponíveis. B. Bordas irregulares: presença de reentrâncias e saliências. C. Coloração heterogênea: presença de várias cores em uma mesma lesão. D. Diâmetro superior a 6 mm. E. Expansão em superfície ou modificação do aspecto da lesão (critério dinâmico). Além do ABCDE, outros critérios de avaliação são úteis, como: 1. alteração no sensório; 2. diâmetro maior do que 1 cm; 3. crescimento; 4. pigmentação irregular; 5. inflamação; 6. secreção crosta; 7. sangramento. Outro ponto que tem sido valorizado em relação a lesões suspeitas é o sinal do "patinho feio", que é baseado na apresentação clínica de uma lesão que se torna suspeita por destoar, em aparência, das demais circunvizinhas. Há uma boa comprovação e reprodutibilidade deste sinal. Várias lesões cutâneas, quando pigmentadas, podem exigir diagnóstico diferencial do melanoma maligno, como queratose seborreica, carcinoma basocelular, dermatofibroma, angioma capilar trombosado e tumores vasculares trombosados. Nas formas amelanóticas de melanoma maligno, em que a pigmentação é discreta ou ausente, a lesão assemelha-se ao granuloma piogênico ou a uma lesão sarcomatosa. Na dermatoscopia, realizada por meio de aparelhos especiais (dermatoscópios), observa-se determinados padrões de pigmentação e morfologia, aumentando a acuidade diagnóstica, porém o diagnóstico de certeza é feito pelo exame histopatológico. A exérese total da lesão suspeita (geralmente com margens de 1 a 2 mm), incluindo tecido celular subcutâneo, é mais adequada do que uma simples biópsia parcial. A biópsia parcial deve ser excepcional limitando-se aos casos em que a lesão for muito grande e a retirada se constituir em intervenção cirúrgica de porte significativo. O laudo histológico deve informar elementos essenciais como: a espessura máxima em milímetros, conforme o método de Breslow; o nível de invasão de Clark; a presença ou ausência de ulceração; a presença ou ausência de regressão; e o estado das margens da exérese. São ainda úteis outras informações como: o tipo histológico e suas formas particulares; a existência de lesão preexistente; invasão angiolinfática; neurotropismo; satelitose; as fase de crescimento radial e vertical; a reação do estroma; o infiltrado linfocitário tumoral; o tipo celular e a atividade mitótica. A imuno-histoquímica é um método de extrema valia na identificação da natureza da linhagem celular da lesão e é utilizada, no caso, na identificação de tumores primários ou metastáticos pouco diferenciados, em tumores de células fusiformes, melanomas amelanóticos e no diagnóstico diferencial com linfomas, carcinomas neuroendócrinos e em certos tumores com células pagetoides (p. ex., Paget extramamário). A espessura do tumor, determinada pelo método de Breslow, é o fator mais importante para a classificação do MM, a conduta terapêutica, o risco de recidiva e o prognóstico. Na classificação de Clark, a avaliação é feita consoante à localização do tumor e tem valor de prognóstico menor do que os índices de Breslow. Além dos níveis de Breslow e Clark, há outros fatores que podem ser avaliados. A presença de um infiltrado inflamatório linfocitário indica melhor prognóstico. São fatores desfavoráveis grande número de mitoses, invasão de estruturas vasculares e ulceração. Metástase Os melanomas são tumores com grande potencial de metastatização, em função direta da fase evolutiva, da espessura, do nível de invasão e da presença ou não de ulceração. A incidência de metástases diminuirá em função da precocidade do diagnóstico e da terapêutica. O aparecimento da primeira metástase será tanto mais precoce quanto mais espesso o tumor. As mestástases podem ser locais, regionais e sistêmicas. As primeiras surgem até 2 cm da cicatriz excisional (satelitose) e não devem ser confundidas com recidiva local ou recorrência por ressecção insuficiente, quando ressurgem lesões no leito da cicatriz ou em suas bordas. As metástases em trânsito aparecem além de 2 cm do local da lesão primária, em direção aos linfonodos regionais, que são a sede das metástases regionais. Metástases sistêmicas ocorrem por disseminação hematogênica e atingem a própria pele, subcutâneo ou vísceras como pulmão (33 a 44%), cérebro ou sistema nervoso central (17 a 22%), fígado (7 a 14%) e ossos (7 a 8%) em ordem decrescente de frequência. As lesões metastáticas sanguíneas cutâneas são frequentemente nodulares de início e, muitas vezes, amelanóticas. Raramente pode ocorrer melanose generalizada, inclusive com melanúria, devido à metastatização generalizada. Manifestações metastáticas podem ocorrer até 18 anos após a extirpação do tumor; caracterizando a denominada metástase tardia. Outras vezes tem-se uma reação vitiligoide generalizada ou não, representando a resposta imunológica, não seletiva, ao tumor Exames Após o diagnóstico de melanoma, aparentemente primário, deve-se proceder a um exame clínico completo do paciente com cuidadosa avaliação das cadeias linfonodais. Em indivíduos obesos e nos casos duvidosos, pode- se realizar exame ultrassonografico das áreas linfonodais superficiais. A avaliação dos pacientes com melanoma inclui exame completo da pele, pesquisa de linfonodos e palpação do abdome. Os seguintes exames complementares podem ser solicitados anualmente: radiografia de tórax, ultrassonografia abdominal e estudo da função hepática e desidrogenase láctica (LDH). A dosagem de LDH deve ser sempre realizada, já que faz parte do estadiamento. Estudos de tomografia e cintigrafia óssea devem ser solicitados quando identificados sinais e sintomas clínicos e se os exames estiverem alterados. PET-CT, se disponível, deve ser realizada em pacientes no estágio III e no estágio IV com metástase única por exames de imagem convencionais. Tratamento A cirurgia é o único tratamento efetivo para o melanoma maligno e seu sucesso dependerá da fase em que o tumor for surpreendido e da excisão cirúrgica com margem de segurança adequada. Na profundidade, a exérese deve incluir toda a hipoderme. Os melanomas ungueais podem necessitar de amputação parcial incluindo a última falange do dedo afetado e a articulação interfalangiana adjacente. Nos melanomas de 1,5 a 4 mm, quando comprovada a existência de metástases nos linfonodos, deve ser realizada linfadenectomia regional. A linfadenectomia profilática eletiva regional não é indicada. Em lesões de níveis IV e V, com espessura maior do que 4 mm, a linfadenectomia não é preconizada, pois a possibilidade de metástases a distância é muito grande. Trata-se de processo cirúrgico agressivo e mutilante e há condições gerais que a contraindicam, independentemente do estádio da neoplasia, como doentes muito idosos ou com enfermidades graves. Outra contraindicação para a linfadenectomia regional eletiva é a localização da lesão primária em área que possibilita drenagem linfática para várias estações linfáticas. É o que ocorre, com frequência, no tronco. Outras técnicas empregadas são a detecção e a biópsia do linfonodo sentinela. Seu estudo pela técnica pouco agressiva permite concluir quanto à invasão linfática pelo tumor; no caso de sua negatividade, não se fará linfadenectomia regional em situações em que não se deu tal invasão. Somente se realiza a técnica em lesões de espessura maior que 0,75 mm OU igual ou maior que 0,76 mm (espessura intermediária), ou quando a lesão estiver ulcerada, ou apresentar número de mitoses> 1/mm2. Em pacientes com linfonodo sentinela positivo ou Breslow > 4 mm, o IFN-α 2a em altas doses está indicado. O melanoma não é invariavelmente radiorresistente. Regressõesefetivas são obtidas quando utilizadas doses altas de radiação. Essas respostas aumentam quando é usada hipertermia como coadjuvante. Para os tumores cutâneos primários, é raramente usada, mas pode ser indicada em tumores não ressecáveis cirurgicamente ou em que as margens cirúrgicas são limitadas pela impossibilidade de maior ressecção. Também é recomendada para o lentigo maligno-melanoma, em doentes idosos, não hígidos. A radioterapia está indicada após a linfadenectomia quando há comprometimento de múltiplos linfonodos, particularmente na região cervical e parotídea, e nos casos de recidiva linfonodal. A radioterapia também é orientada em metástases viscerais, como recurso paliativo. A quimioterapia está indicada no tratamento do melanoma metastático e pode ser realizada sistemicamente ou, conforme a localização do tumor, seletivamente, por meio de perfusões. Seguimento e prognóstico Orienta-se que os pacientes sejam avaliados clinicamente a cada quatro meses nos dois primeiros anos, a cada seis meses nos três anos seguintes e anualmente por tempo indefinido. Recomendam-se radiografia de tórax, ultrassonografia abdominal, dosagem sérica de DHL e FA a cada seis meses nos dois primeiros anos de seguimento e anualmente após esse período. O PET tem sido relatado como o exame mais sensível na detecção de doença metastática nos pacientes com melanoma de alto risco, ou seja, tumores espessos e naqueles com doença locorregional. Determinantes de um prognóstico mais favorável neste modelo incluem profundidade do tumor menor que 1,7 mm, pouca ou nenhuma mitose, uma resposta ativa dos LITs, ausência de regressão, sexo feminino e localização em uma extremidade. Melanoma maligno familiar Existem casos de melanoma familiar aparentemente transmitido por herança autossômica dominante com reduzida penetrância. Comparativamente ao melanoma não familiar, ocorre mais precocemente; as formas primárias múltiplas são frequentes e o prognóstico é ligeiramente melhor. Há certa tendência em poupar a face e, em algumas famílias, paralelamente aos melanomas, ocorre grande número de lesões névicas adquiridas atípicas e de nevos displásticos, que podem evoluir a melanomas. Trata-se de síndrome do nevo B-K ou síndrome do nevo displástico.